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Controle da hipertensão arterial

sistêmica: avaliação
 das mudanças de hábitos de vida
em hipertensos
adscritos na Estratégia de Saúde da
Família
Control de la hipertensión arterial sistémica: evaluación de los
cambios en los
hábitos de vida en hipertensos asociados en la Estrategia de
Salud de la Familia
Control of hypertension: evaluation of changes in habits of
life in hypertensive adscript Strategy for Family Health

*Fisioterapeutas graduados pelas


Flávia Ladeia Lima*
Faculdades Unidas do Norte de Minas, FUNORTE. Montes Claros, MG Árlen Almeida Duarte
**Acadêmico do Curso de Graduação em Administração pelas de Sousa*
Faculdades Santo Agostinho, FASA, Montes Claros, Minas Gerais
***Pós graduada em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela
Ana Cláudia Dias
Faculdade de Saúde Ibituruna, FASI e em Psico oncologia pelas Braga*
Faculdades de Ciências Médicas de Minas Gerais Danilo Lima Carreiro**
Pós graduanda em Educação à Distância, pela UNIMONTES
Professora do Curso de Graduação em Psicologia na Faculdade de Saúde Ibituruna,
Laura Tatiany Mineiro
FASI Coutinho***
e dos Cursos de Gestão Empresarial e Química na Faculdade Prisma, FAP Rômulo Fernando
****Acadêmico do Curso de Graduação em Sistema de Informação pela
Faculdade de Ciência da Computação de Montes Claros, FACOMP
Cordeiro de Melo
******Pós graduado em Emergências de Saúde na Educação Inclusiva pelas Júnior****
Faculdades Pitágoras de Montes Claros, FIP Wagner Luiz Mineiro
Pós graduando em Saúde Coletiva com Ênfase na Estratégia de Saúde da Família
pelas Faculdades Pitágoras de Montes Claros, FIP
Coutinho*****
Professor dos Cursos de Graduação em Biomedicina, Fisioterapia, Nutrição wagner.coutinho@funorte.com.b
Membro do Núcleo de Trabalho de Conclusão de Curso nas FUNORTE r
(Brasil)

Resumo
          A Hipertensão Arterial Sistêmica constitui-se num sério problema de saúde pública. Sua terapêutica
compreende tratamento medicamentoso e/ou não medicamentoso fundamentado na adequação
comportamental do estilo de vida. Entre as políticas para seu controle, a Estratégia de Saúde da Família é um
programa favorável pela adesão ao tratamento. O objetivo desse estudo foi avaliar o conhecimento das
necessidades de mudanças de hábitos de vida em hipertensos adscritos na Estratégia de Saúde da Família, e
averiguar se a detenção desse conhecimento propiciou adoção de estilo de vida favorável ao controle dos níveis
pressóricos. Caracterizou-se como estudo descritivo, quantitativo e transversal. A amostra constituiu-se por 20
sujeitos de ambos os gêneros, com idade média de 52,3 anos, adscritos numa Unidade de Saúde da Família do
município de Guanambi - BA. Utilizaram-se como instrumentos o Formulário de Autorização para Realização da
Pesquisa, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Ficha B-HA (Ficha para acompanhamento de
Hipertensos) e Questionário estruturado elaborado pelos autores, alusivo às orientações para tratamento não-
farmacológico preconizado pelo Ministério da Saúde. Analisaram-se os dados através do Coeficiente de Pearson
e análise descritiva. Os resultados encontrados demonstraram que os sujeitos conhecem as necessidades de
mudanças dos hábitos de vida, uma vez que 100% da amostra apontam a importância de diminuir a ingestão de
sal e 90% relatam a necessidade da prática de exercício físico. No entanto apenas 20% afirmaram adotar essa
última orientação. Conclui-se que é necessário melhorar a multidisciplinaridade das Equipes de Saúde, para que
possam ser re-planejados os programas de intervenção favoráveis às mudanças de hábitos de vida,
principalmente em relação á prática de exercícios físicos, e assim, promover melhor adesão à terapia não
medicamentos.
          Unitermos: Hipertensão Arterial Sistêmica. Hábitos de vida. Estratégia de Saúde da Família.

Abstract
          The Sistemic and arterial hypertension constitutes a serious public health problem. His therapy includes
medication and / or non-drug based on the behavioral adjustment of lifestyle. Among the policies for its control,
the Family Health Strategy is a program for favorable treatment adherence. The objective of this study was
evaluate the knowledge of the needs of changing lifestyles in hypertensive ascribed in the Family Health
Strategy, and ascertaining whether the possession of this knowledge led adoption of lifestyles conducive to
control blood pressure levels. It was a descriptive study, quantitative and cross. Consisted of 20 subjects of both
genders, with a mean age of 52.3 years, ascribed a Family Health Unit of the municipality of Guanambi - BA.
Were used as instruments the Authorization Form for Completion of Research, Statement of Consent, card to
accompany the hypertensive, structured questionnaire developed by the authors, alluding to the guidelines for
non-pharmacological treatment. The data were analyzed using the Pearson coefficient and descriptive analysis.
The found results showed the subjects are aware of the need for changes in lifestyle, since 100% of the sample
point to the importance of reducing salt intake and 90% reported the need for physical exercise. However only
20% said adopting this latest guidance. The conclusion was its necessary to improve the multidisciplinary teams
of health so that they can be re-designed intervention programs favorable to changes in lifestyle, especially in
relation to the practice of physical exercises, and thus, promote better treatment adherence non-medicated.
          Keywords: Sistemic Arterial Hypertension. Lifestyle. Family Health Strategy.

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de


2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Estudo publicado por Prata (1992) aponta o perfil morbimortalidade como um indicador
sensível das condições de vida e do modelo de desenvolvimento de uma população que se dá
em função da interação de vários fatores interdependentes, como: produção econômica, fatores
ambientais e sócio culturais e hábitos de vida dentre outros. Com as transições epidemiológica
e demográfica o perfil epidemiológico de morbimortalidade evoluiu progressivamente de alta
incidência e prevalência de doenças infectocontagiosas e parasitárias para o predomínio de
agravos à saúde e óbitos por doenças crônico degenerativas não transmissíveis, principalmente
entre a população adulta. Dentre as doenças crônico degenerativas merece destaque a
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), que por si só constitui-se em um sério problema de saúde
pública, e quando abordada inadequadamente, pode acometer vários órgãos vitais (Péres,
Magna e Viana, 2003). O Ministério da Saúde -MS- (2006) identifica a HAS como a mais
frequente das doenças cardiovasculares e como o principal fator de risco de Acidente Vascular
Encefálico (AVE), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Doença Renal Crônica Terminal. Afirma
ainda que entre nós existam cerca de 17 milhões de hipertensos, correspondendo a 35% da
população acima dos 40 anos de idade. Outro agravante é a baixa adesão por parte dos
sujeitos hipertensos ao tratamento prescrito, seja medicamento ou não medicamentoso, mesmo
havendo diversos protocolos e recomendações, bem como acessibilidade às informações e
medicamentos. Em relação à terapêutica não medicamentosa, Mano e Pierim (2005) afirmam
que a modificação comportamental em relação ao consumo de sal, cigarros e bebidas
alcoólicas, controle dos níveis de estresse e do peso e prática de exercício físico, podem ser
favoráveis no controle dos níveis pressóricos. O atual modelo assistencial de saúde -Sistema
Único de Saúde- com o intuito de reorganizar o sistema de saúde a partir da atenção primária,
implantou a Estratégia de Saúde da Família (ESF) que preconiza por sua vez, a promoção da
saúde e prevenção de doenças, através de ações básicas que se fundamentam na promoção da
qualidade de vida e intervenção nos fatores que colocam a saúde da população em risco (Paiva,
Bersusa e Escuder, 2006). Dentre as políticas para o controle das doenças crônico
degenerativas, inclusive da HAS, a ESF apresenta na educação em saúde, uma das estratégias
favoráveis à adesão ao tratamento em função da proximidade dos profissionais de saúde com a
população alvo e o enfoque nas ações preventivas e promocionais (Péres, Magna e Viana,
2003; Alves, 2005).

    Ao se considerar essa premissa, esse estudo objetivou avaliar o conhecimento das
necessidades de mudanças de hábitos de vida em portadores de hipertensão arterial sistêmica
adscritos na Estratégia de Saúde da Família, bem como, averiguar se a detenção desse
conhecimento propiciou adoção de estilo de vida favorável ao controle dos níveis pressóricos.

Material e métodos 
    O delineamento do presente estudo caracterizou-o como pesquisa de natureza descritiva, de
abordagem quantitativa e de corte transversal. A população -composta por sujeitos de ambos
os gêneros- independente da etnia e com idade compreendida entre 45 e 55 anos, adscritos na
Unidade de Saúde da Família Giselda Cardoso A. Barros, no bairro Vomitamel, no Município de
Guanambi, Bahia. Para constituição da amostra foram selecionados 20 sujeitos, de forma
intencional e criteriosa. Como critério de inclusão compôs a amostra somente indivíduos que
participam ativamente das atividades de educação em saúde desenvolvidas pelo serviço há no
mínimo um ano, e que estivessem em acompanhamento mensal, através consultas de revisão
médica e/ou de enfermagem. Como instrumentos para coleta dos dados foram utilizados
Formulário de Autorização para Realização da Pesquisa na Unidade de Saúde da Família, Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, Ficha B-HA (Ficha para acompanhamento de
Hipertensos) que serve para o cadastramento e acompanhamento mensal dos hipertensos
adscritos na Unidade Básica de Saúde. Dessa ficha coletaram-se dados referentes à primeira
consulta dos sujeitos na Unidade de Saúde em relação aos níveis pressóricos, ao peso e à
altura. Utilizou-se também questionário elaborado pelos autores, constituído por 30 questões
estruturadas alusivas às orientações para tratamento não-farmacológico prescritos nos
Cadernos de Atenção Básica 15 – Hipertensão Arterial Sistêmica do MS (2006). Com esse
instrumento foi possível avaliar o comportamento dos sujeitos no que se refere ao controle de
peso, adoção de hábitos alimentares saudáveis, redução de bebidas alcoólicas, abandono do
tabagismo e prática de atividade física regular. Para eliminar possível viés nesse momento do
estudo, o instrumento foi aplicado na forma de entrevista por um dos pesquisadores. Coletou-
se ainda por meio desse instrumento, os dados atuais dos sujeitos em relação à idade, ao peso,
à altura e aos níveis pressóricos. A estratégia adotada para obtenção dos dados deu-se a partir
da seleção da amostra. Uma vez selecionado, e com o devido consentimento para participar na
pesquisa, o sujeito respondia ao questionário proposto. Em seguida era mensurada a pressão
arterial, por meio do método auscultatório utilizando-se de esfigmomanômetro marca Missouri,
devidamente calibrado e Estetoscópio Premium. A pressão arterial foi mensurada no braço
direito posicionado à altura do coração, com o indivíduo relaxado na posição sentada, após 5
minutos de descanso prévio. Por fim foram mensurados peso e altura com auxilio da Balança
Filizola Personal PL 200, para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Os valores dos níveis
pressóricos, do peso e da altura coletados nesse momento, foram comparados com os valores
encontrados na Ficha B-HA. Os dados foram analisados pelo SPSS – 18 (Statistical Package for
the Social Sciences), sendo feita análise descritiva dos mesmos. Utilizou-se ainda, o Coeficiente
de Correlação de Pearson para analise das variáveis. O presente estudo foi autorizado quanto à
sua realização pela Secretaria Municipal de Saúde de Guanambi, BA, e aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas, sob o parecer consubstanciado
0485/09.

Resultados e discussão 

A média de idade dos sujeitos foi de 52,3 anos (±3,2). Bastos e Borestein (2004) ao
identificarem os déficits de autocuidado de clientes hipertensos de um centro de saúde no Rio
Grande do Sul encontraram que a faixa etária dos sujeitos compreendia entre 51 a 61 anos. O
que reforça a teoria de que a hipertensão arterial sistêmica é mais prevalente a partir de meio
século de vida. No que diz respeito ao gênero, 80% (n=16) eram do gênero feminino. Os
estudos de Sala, Filho e Eluf-Neto (1996) e Lessa e Fonseca (1997) também verificaram maior
frequência de mulheres, com representatividade de 68,8% e 88% respectivamente. Quanto ao
nível de escolaridade, 100% (n=20) da amostra tinham menos de 8 anos de estudo, sendo que
40% (n=8) eram analfabetos. Baixo nível escolar e/ou analfabetismo também foi encontrado
por Lessa e Fonseca (1997), com 92% da amostra caracterizando-se como analfabeta e/ou com
escolaridade correspondente ao nível primário incompleto. De acordo com Santos et al. (2005),
a prevalência da hipertensão é inversamente proporcional à escolaridade, isto é, quanto menor
o grau de instrução, maior a incidência devido ao menor nível de cuidados com a saúde. Apesar
disso, ao serem questionados sobre a compreensão em relação às orientações que são
passadas pelos profissionais da unidade de saúde, 90% (n=18) afirmaram que compreendem
tais orientações. Em relação à avaliação das medidas antropométricas 100% dos sujeitos
disseram que já foram realizadas medição do peso e altura na unidade de saúde e em apenas
5% (n=1) dos sujeitos, não foi realizada a mensuração da circunferência abdominal. A Tabela 1
descreve os hábitos de vida, as orientações passadas pelos profissionais quanto à necessidade
da adoção de hábitos saudáveis favoráveis ao controle da hipertensão e a frequência de adesão
a tais hábitos pelos sujeitos amostrais:

    Dentre os sujeitos que não adotaram medidas para redução ou controle do peso, os
principais motivos foram falta de orientação e dificuldade para fazer dietas. Em relação à
adoção de hábitos nutricionais favoráveis ao controle da hipertensão, 90% (n=18) foram
informados da necessidade de priorizar a ingestão de frutas, verduras, legumes, cereais
integrais, leguminosas, leite e derivados desnatados, sendo que 70% (n=14) têm adotado essa
prática. Lessa e Fonseca (1997) inferiram na amostra do seu estudo, que 57,5% dos
hipertensos receberam orientação dietética por escrito, dentre os quais, 49,5% aderiram ao
tratamento. Deve-se incentivar o hipertenso a consumir fibras alimentares, frutas, verduras,
legumes, leguminosas, cereais integrais, uma vez que esses alimentos melhoram o trânsito
intestinal, retardam o esvaziamento gástrico, proporcionam maior saciedade, reduzem os níveis
de colesterol e consequentemente, os níveis pressóricos (BASTOS E BORESTEIN, 2004).
    Os que não adotaram dieta favorável ao controle da hipertensão alegaram como fatores
limitantes, a falta de incentivo familiar, falta de recursos financeiros e ainda, falta de acesso a
essa informação. No estudo de Bastos e Borestein (2004) levantaram-se como fatores para a
não adesão em relação à mudança de hábitos alimentares, falta de conhecimento, predileção
por carnes impróprias e ingestão de alimentos não adequados na tentativa de aliviar sintomas
emocionais. Deve-se ressaltar que a mudança de hábitos nutricionais requer a co-
responsabilidade de todos os atores envolvidos, que no caso desta reflexão são os hipertensos,
seus familiares ou pessoas de convívio próximo e os profissionais de saúde (SANTOS et al.,
2005). Entre os sujeitos amostrais, constatou-se que 85% parou de fumar e 80% diminuiu o
consumo de bebidas alcoólicas. Dentre os que não conseguiram reduzir o consumo de bebidas
alcoólicas, a falta de incentivo familiar e de acesso a tal orientação foram apontados como
fatores limitantes para esse comportamento. Santos et al., (2005) constataram em seu estudo
desenvolvido na Liga de Hipertensão Arterial do Hospital de Messejana em Fortaleza, que de 84
a 94% dos sujeitos amostrais reduziram o consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco.
Resultados que corroboram com os encontrados na presente pesquisa. Em contra partida, no
estudo de Perez, Magna e Viana (2003) referente às atitudes, crenças, percepções,
pensamentos e práticas de hipertensos, constatou que apenas 21% dos sujeitos amostrais
conseguiram evitar o álcool e 20% passaram a evitar o tabagismo. É necessário que os
profissionais de saúde envolvidos priorizem a intervenção na prescrição de restrições
frustrantes, como àquelas associadas à fonte de prazeres, tais como abstenção de fumo e
álcool, uma vez que segundo Teixeira et al. (2006) a nicotina além de comprometer a
integridade dos vasos, aumenta a frequência cardíaca, a resistência periférica e
consequentemente, a pressão arterial em função de produzir a liberação de catecolaminas. Já
em relação ao etilismo, Magalhães et al. (2003) afirmam que o consumo de substâncias
alcoólicas pode levar a uma resistência à terapia anti-hipertensiva e Teixeira et al. (2006)
enfatizam que o aumento do nível de álcool no sangue eleva a pressão arterial de forma lenta e
progressiva, na proporção de 2 mmHg para cada 30 ml de álcool ingerido. Falta de
disponibilidade temporal, de motivação e de orientação e problemas de saúde foram apontados
como fatores propiciadores para que 80% da amostra no presente estudo não condescendesse
à prática de exercício físico. Em estudo realizado por Paiva, Bersusa e Escuder (2006), onde se
avaliou a assistência ao paciente com diabetes e/ou hipertensão pela Estratégia de Saúde da
Família em município paulista, verificou que 75% dos sujeitos referiram não ter o hábito de
praticar exercício físico, e alegaram como fatores determinantes a falta de tempo e problemas
de saúde dentre outros fatores. Quanto à orientação do número de vezes por semana para
realizar exercício físico, 40% (n=8) afirmaram ter sido recomendado de 1 a 3 vezes semanais,
25% (n=5) disseram que a recomendação foi de 3 a 5 vezes, 15% (n=3) afirmaram que foi
mais de 5 vezes e 20% (n=4) disseram que não receberam tal informação. No que diz respeito
à duração do exercício físico por dia, 10% (n=2) informaram ser suficientes menos de 30
minutos, 30% (6) disseram 30 minutos de exercício, 35% (n=7) falaram que foram informados
para a necessidade de praticar o exercício em período superior a 30 minutos e 25% (5) não
foram orientados. O Ministério da Saúde (Brasil, 2006) preconiza no Caderno de Atenção Básica
– Hipertensão Arterial que sujeitos hipertensos devem iniciar atividade física regular, pois além
de diminuir a hipertensão arterial, o exercício pode reduzir consideravelmente a
morbimortalidade, além de controlar o peso. A recomendação da atividade física baseia-se em
parâmetros de freqüência, duração, intensidade e modo de realização. Portanto, a atividade
física deve ser realizada por pelo menos 30 minutos, de intensidade moderada, pelo menos 5
vezes por semana e de forma contínua ou acumulada, perfazendo 150 minutos por semana.
Sendo que os 30 minutos podem ser realizados em uma única sessão ou em 2 de 15 minutos.

    O índice de massa corporal (IMC) foi calculado dividindo-se o peso (em quilogramas) pela
altura (em metros) elevada ao quadrado e categorizado segundo critérios preconizados pela
Organização Mundial da Saúde: normal (IMC: 18,50 a 24,99), sobrepeso (IMC: 25,00 a 29,99),
obesidade (IMC acima de 30,00) (FEIJÃO et al., 2005). Ao se comparar os valores dos IMCs da
primeira consulta (IMC1) do sujeito na unidade de saúde, com os valores encontrados no dia da
coleta de dados desse estudo (IMC2), verificou-se que não houve alteração dos valores dos
índices entre esses dois momentos. Da amostra total, apenas 30% (n=6) dos sujeitos tiveram o
IMC normal, conforme a Tabela 2:

    Nosso estudo constatou um percentual alto de indivíduos com IMC acima do normal, 70%
(n=14), dos quais 45% (n=9) apresentaram sobrepeso e 25% (n=5) enquadraram-se na
classificação de obesidade. A pesquisa de Sabry, Sampaio e Silva (2002) identificou valores
similares ao estudarem a hipertensão e obesidade em grupo populacional do nordeste
brasileiro, onde 59,9% dos sujeitos tiveram IMC classificado como acima do normal, sendo que
42,9% enquadraram-se como sobrepeso e 17% apresentaram obesidade. A Tabela 3
demonstra a média de IMC por gênero nos dois momentos (IMC1 e 2 ):

    Pode-se observar redução do IMC2 em relação ao IMC1 entre os dois gêneros, no entanto
essa redução não foi expressiva. Verifica-se ainda que ao considerar a média, os dois gêneros
enquadraram-se no parâmetro de sobrepeso nos dois momentos, com os homens apresentando
valores mais expressivos que as mulheres. O estudo de Araujo e Guimarães (2007) com objeto
de estudo o controle da HAS em uma Unidade de Saúde da Família em Salvador revelou
acentuado sobrepeso entre os homens (média de 28±4,9) e obesidade nas mulheres (média
30,1±6,0). Ao considerar o ponto de corte para a pressão diastólica, o presente estudo pode
inferir que no momento da primeira consulta na Unidade de Saúde, 60% (n=12) dos sujeitos
apresentaram valores diastólicos ≥ 90 mmHg e que no dia da coleta de dados deste estudo,
essa frequência havia reduzido para 30% (n=6) da amostra total. Quanto à pressão sistólica,
na primeira consulta 45% (n=9) tiveram valores ≥ a 140 mmHg e quando da avaliação pelos
autores do presente estudo encontrou-se 30% (n=6) dos sujeitos com valores ≥ a 140 mmHg.

    Nosso estudo mostrou ainda que a PAD1 teve média de 91 mmHg (± 16,5) e a PAD2 reduziu
para 84,5 mmHg (± 9,9). Já a PAS1 obteve média de 141 mmHg (± 24,0) e a PAS2 reduziu
para 130 mmHg (± 15,2). O estudo de Mano e Pierin (2005) que teve como sujeitos amostrais,
pacientes hipertensos acompanhados pelo Programa de Saúde da Família em um Centro de
Saúde Escola no município de São Paulo verificou que a média da PAD no momento da primeira
consulta era de 92 mmHg (± 15) e a média da PAD após 4 meses de tratamento no PSF, era de
85 mmHg (±13). Verificou também que a PAS reduziu de 152 mmHg (±24) para 142 mmHg
(±21). Valores esses que corroboram com os encontrados no presente estudo, principalmente
em relação à PAD (Tabela 4):

    De acordo com Amadei e Silva (2009) a Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial,
consideram como hipertenso, o individuo acima de 18 anos com duas ou mais medidas de
pressão diastólica em 2 visitas subseqüentes igual ou acima de 90 mmHg ou a pressão sistólica
maior que 140 mmHg. No estudo de Lima et al. (2009) referente à utilização de diretrizes
clínicas e resultados na atenção básica em relação à hipertensão arterial no Rio de Janeiro,
verificou também migração de sujeitos com níveis pressóricos mais elevados para os mais
baixos, uma vez que na primeira consulta 21% dos sujeitos apresentaram hipertensão na forma
grave e 33,3% a forma moderada. Já no segundo momento da coleta, os sujeitos que se
enquadraram a níveis pressóricos grave correspondiam a 12,3% e os com indícios de forma
moderada, 16,3%. O Coeficiente de Correlação de Pearson demonstrou correlação positiva e
significativa a 1% entre as variáveis de PAD2 e PAS2, o que indica que os sujeitos que
conseguiram reduzir a PAD, também conseguiram redução da PAS (r=0,76).

    Por fim, perguntou-se aos sujeitos se nas revisões com médicos e enfermeiros, esses
indagam sobre a adoção das recomendações prescritas e verificou-se que 80% (n=16)
afirmaram que tal questionamento é realizado pelos profissionais. Esse mesmo número de
entrevistados afirmaram que os profissionais reforçam a necessidade das mudanças de
comportamento, quando lhes é colocado que as orientações prescritas previamente não foram
adotadas.

Conclusão

    A partir da metodologia empregada no presente estudo, os resultados obtidos mostraram


que os hipertensos participantes da amostra detêm conhecimento das necessidades de
mudanças de hábitos de vida para controle dos níveis pressóricos, uma vez que todos os
envolvidos sabem da necessidade de diminuir a ingestão de sal e um número significativo
reconhece a importância da prática de exercício físico, do controle do peso, do abandono e/ou
diminuição do tabagismo e da abstenção de bebidas alcoólicas. No entanto verificou-se que
apenas em relação à redução sódica houve 100% de adesão pelos sujeitos, seguida da
abstinência de cigarro, redução do consumo de álcool e controle do peso. Merece atenção o
número de hipertensos que passaram a praticar exercício físico, pois dentre as recomendações
essa foi a que obteve menor adesão por parte dos sujeitos. Essas conclusões norteiam para a
necessidade de melhor integralidade multidisciplinar das Equipes de Saúde da Família, para que
possam ser planejados administrados e avaliados programas comunitários e individuais que
contribuam para implementar mudanças de hábitos de vida dos sujeitos, sobre tudo em relação
á pratica de exercícios físicos, e com isso, promover uma melhor adesão ao tratamento não
medicamentoso, melhorar o controle da hipertensão e prevenir complicações que
comprometem a saúde dos hipertensos. Alguns limites desse estudo merecem atenção, dentre
eles o tamanho amostral comprometido pelo fato do não consentimento em participar da
pesquisa, expressado por grande parte da população envolvida.

Referências

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