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I nt r oduçã o à Cr im inologia

Í ndice

Apresent ação 02

Cont ext ualização 02

Relevância 02

Bibliografia 03

Avaliação 05

Aula 1 – Int rodução ao est udo da cri minol ogi a 06

Aula 2 – Hi st óri a da Cri minol ogia 12

Aula 3 - Teorias sociológi cas do cri m e 19

Aula 4 - Teorias sociológi cas do cri m e I I 27

Aula 5 - Movi m ent os cont em porâneos de políti ca penal 36

Aula 6 - I n t rodução ao est u do da Viti mologia 52

Trabalh o final 58

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Apre se n t a çã o:

Você est a inici ando a disciplina I nt rodução à Crim inologia. Esper am os que esse est udo
possa con t ribuir para sua form ação com o profissional da ár ea de Segurança Pública ou
com o est udioso do assun t o.

A propost a d essa di sciplin a é apresen t ar as prin cipais corren t es do pen sam en t o


crim in ológi co. I nicial m ent e ser ão t r abalhados os con ceit os prin cipais da crim inologia
clássi ca de Beccari a n o sécu lo XVI I I , logo após dest aca- se o início dos est u dos científicos
sobre o perfil do crim inoso de Lom broso e a sociologia criminal am erican a qu e inovou na
m et odologia ut ilizada, com o t am b ém nas diferen t es abordagen s propost as.

Em seguida ser ão analisad as as t en dências qu e hoj e perm eiam os deb at es n a


crim in ologi a cont em porânea: a cont ração do direi t o penal e redu ção ou abolição das
pen as e em sent i do opost o, a m axim ização do direi t o penal e das form as punitivas do
Est ado. Por fim a vit i m ologia ser á est ud ad a com o u m novo cam in ho de redução dos
processos de vit im ização, com o t am b ém prevenção do crim e, a p art ir das pesqui sas qu e
h oj e rev elam o perfil e as form as de vi t im ização m ais com un s n a soci edade br asileira.
Esper am os qu e esses est udos e pesquisas qu e você passa a con hecer, possam con t ribuir
de f at o par a sua m elhor com preensão dos problem as relacion ados à violên cia, à
crim in ali zação e à cri min alidade na sociedade brasil eira, e m ais ain da, que est im ule a
produção acad êm ica e cienti fica em di ferent es regiões do país, p erm itin do assim m ai or
t roca ent re os pesqui sadores brasileiros.

Con t ex t ua liz a çã o:

A disciplina Crim inologia ser á nest e curso est u dada em di ferent es con t ext os hist óricos.
Sua origem t em início com os pensadores I lum inist as ( Oci dent ais) do século XVI I I e at é
os dias de h oj e produz diferent es int erpret ações e possi bilidades de discutir os fat ores e
at ores en volvi dos com os conflitos sociais.

Re le vân cia :

A disciplin a Criminologia é de f undam ent al im port ân cia par a a form ação do profission al e
est udioso da área de Seguran ça Pública, poi s perm it e um a an álise das diferent es
v ari áveis envolvidas com o fenôm en o da crim inalidade, al ém de perm i t ir um a
com preensão m aior das quest ões sociais, políticas, econômi cas e cul t urais da sociedade
brasil eira qu e est ão associadas às dif erent es form as de vi olência e m anifest ação do
conflit o.

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BI BLI OGRAFI A BÁSI CA

ANI TUA, Gabriel I gnácio. H ist ória dos pe nsa m e nt os crim in ológicos. Ri o de Jan eiro:
Rev an / I CC, 2 008.
BARATTA, Alessandro. Crim inologia crít ica e crít ica do Dire it o pe na l: int roduçã o à
Sociologia do dire it o. Rio de Jan ei ro: Revan, 1 99 7

BECCARI A. Dos de lit os e da s pe n a s. São Paulo: Mart ins Claret , 20 03 .

BELLI , Benoni. Tole râ ncia Ze ro e a de m ocr a cia no Bra sil: v isõe s da se gura nça
pública n a dé ca da de 9 0 . São Paulo: Perspect iva, 2004 .

BI TENCOURT, Cezar Robert o. Fa lê ncia da Pe na de Prisã o. Ri o de Janeiro: Saraiva,


2 00 4.

DORNELLES, João Ricardo W. Con flit o e Se gura n ça . Ent re pom bos e fa lcõe s. Rio de
Janeiro: Lum en Júris. 2003

DOTTI . René Ariel. Ba se s e Alt e rna t iv a s pa ra o Siste m a de Pe na s. São Paulo:


Revist a dos Tri bu nais, 1998.

GARCI A - PABLOS Molin a. An t onio e Gom es. Luis Flavio. Crim inologia . São Paulo:
Revist a dos Tri bu nais. 2002.

SHECAI RA, Sergio Salom ão. Crim inologia . São Paulo: revist a dos Tribunais, 2004 .

BI BLI OGRAFI A COM PLEM EN TAR

CARVALHO, Salo. Pena e Ga ra nt ia s. Rio de Jan eiro: Lúm en Júris, 2003 .


COELHO, Edm un do Cam pos. A Oficina do Dia bo e out ros e st udos sobre
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HOLLANDA, Crist in a Bu arque de, Polícia e D ire it os H um a nos. Polít ica de Se gura nça
Pú blica no prim e iro gov e rno Brizola ( Rio de Jan ei ro: 198 3-1986 ) . Rio de Jan eiro:
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MI SSE, Michel. Crim e e Violê ncia no Bra sil Cont e m porâ neo. Est u dos de sociologia
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PI NTO, Nalayne Mendon ça. Pe n a s e Alt e rna t iva s: Um e st udo sociológico dos
proce ssos de a g ra va m e nt o da s pe n a s e de de spe n a liza çã o no sist e m a de
crim in a liza çã o bra sile iro ( 1 9 8 4 - 2 0 0 4 ) .Rio de Jan eiro: UFRJ, PPGSA, I FCS, 2 00 6.

PASSETTI , Edson . Curso Livre de Abolicionism o Pe na l. Rio de Janeiro: Revan, 200 4.

THOMPSON, Au gu st o. A que stã o pe nit e n ciá ria . Rio de Janeiro: Forense, 2002.

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WACQUANT, Loic. As prisõe s da Misé ria . Rio de Jan eiro: Jorge Zahar, 2003 .

WACQUANT, Loic. Pun ir os Pobre s. Rio de Janeiro: Revan , 20 01 .

WAI SELFI SZ, Jacobo Julio - M a pa da v iolê ncia I V: os j ove ns do Bra sil. Disponível
em : ht t p: / / www.br asili a.unesco.org/ publicacoes/ livros/ m apaiv. Acesso em 4 de
n ovem bro de 2008.

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Ava lia çã o

Em t odas as disciplinas da pós- gradu ação onlin e exist em :

Av a lia çã o form a t iva


Não valem pont o, m as são im port an t es par a o aprofundam en t o e fixação do con t eú do:

 Atividades de fixação: são at ivi dades d e passag em , pr esen t es


dent ro das aul as; são t est es con t ex t ualizados ao cont eúdo
explorado.
 Exercícios de au t ocorreção: quest ões p ara verificação da
apr endizag em ; são essen ci ais, pois m arcam a sua presença em
cada au la;
Av a lia çã o som a tiva
Form am a su a not a fin al nest a di sciplina:
 Tem as para di scu ssão em fórum : aprofundam e at u alizam os t em as
est udados em aula, além de ser u m espaço par a ti rar suas dúvidas. Su a
part i ci pação vale pon to;
 Prova em dat a especi ficada n o calen dário acad êm ico do cu rso, qu e ser á
realizada n o seu Pólo;

 Trabalho final da disciplina: O t ext o deve ser digit ado em folha A4, let ra
arial ou tim es new 1 2, en t re linhas 1, 5. Desen volver o t em a em at é 2
lau das. Ao u tili zar as cit ações diret as dos aut ores, n ão esqu ecer de colocar
a r efer ência, ex ( SOUZA, 2008, p. 67 ) . De m esm a form a ao fazer
paráfrase do aut or coloqu e seu nom e segu ido do an o. Ex: Segundo Souza
(2 00 8) a cri min ologia. ..
Colocar ao final do t rab alho as r efer ên ci as consult adas con form e o m odelo
de bibliografia qu e con st a da bibliografia geral do curso.

Te m a : No que consist e a Vi tim ologi a ( seu obj et o e suas finalidades) ?


Podem os falar de vitim ização de “ gru pos sociais” no Brasil? ( Dê ex em plos
e an alise casos de vi tim ização no Brasil)

Ori en t ações sobre a realização do t rabal ho podem ser obt idas com o professor on-line no

Fórum de Discu ssã o , no t ópico Orien t ações do Trabalho.

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Au la 1 : I nt r oduçã o a o e stud o da cr im inologia

Ao final dest a aul a, você dever á ser capaz d e:


1) Explicar os fundam en t os da di sciplin a crim inologi a;

2) Com preen der os obj et os de pesqui sa da crim inologia;

3) I niciar o est udo da Teoria do cont role soci al e da Teoria Utilit arist a.

Est udo dirigido da a u la :

1 . Leia o t ex t o con du t or da aul a.


2 . Part icipe do fórum de discu ssão dest a aul a.
3 . Realize a at i vidade propost a.
4 . Leia a sínt ese da su a au la.
5 . Leia a ch am ad a par a a aul a segui nt e.
6 . Realize os ex er cícios de aut ocorreção.

Ol á! Sej a bem - vindo à prim eira aula da disciplina I nt rodu çã o à Crim inologia .

É im port ant e com eçar nosso cu rso esclarecen do quais os cam pos de est udo da
crim in ologi a. O deli to, o delin qü en t e, a vít im a e as form as de cont role soci al são obj et os
de pesquisa qu e t radi cionalm en t e pert en cem aos est udos cri minológicos, ent ret an t o
out ras áreas de conh ecim en t o t am bém se direcionam para esse cam po e di alogam com a
Crimi nologia, a Sociologia, a Psicologia, a Psiquiat ria, o Direit o, o Serviço Social, e com
os est udos sobre Segu ran ça Pública.

Dessa form a, a pesquisa e as t rocas in t erdisciplinares sem pr e fi zeram part e d a


crim in ologi a e são m ui t o valiosas, pois perm it em com preender os acon t ecim ent os e
agent es sociai s de form a m ai s int egrada e dinâm i ca. I sso signifi ca dizer que não
podem os abrir m ão dos est udos de out ras áreas do conh ecim en t o par a am pliar nossas
pesquisas e perm i tir um m elhor ent endim en t o dos fat os sociais que n os cercam .

Algu ns est u diosos ressalt am que o crim e não é um a ent idade em si, ele não exi st e an t es
da sua rot ulação. Nesse sen t ido, sem a exist ência do obj et o em si n ão exist e a ciên cia, a

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pesquisa. No en t ant o, sabem os que para exist ir cri m e é necessário que o grupo social
defina algu m , ou alguns com port am ent os com o ilícit os, e ent ão passaríam os a t er o
obj et o. Pois é aí qu e ent r a nossa disciplina. Só est udam os o cri m e, o crim inoso, a vítim a
e o cont role soci al porque há um a prévia definição social do qu e sej a o crim e, n ão preci sa
n em m esm o ser u m a defini ção l egal/ j u rídi ca, bast a qu e os gru pos sociais defin am que
det erm i nado at o n ão será t olerado que j á t em os assim u m com port am en t o ilícit o e,
port ant o, passível de ser est udado.

Bom est udo!

DELI TO

 No di reit o penal, o crim e é um concei t o form al e norm at ivo, ou j urídico-


form al, port ant o est át ico.

 Já par a a Crim in ologi a, represent a u m conceit o social, m oral, val orat ivo,
em pírico ( real e dinâm i co) . O delit o é um a const rução social dos gru pos e
sociedades e por i sso é relat ivo, ou sej a, v ariável de cult ura para cu lt ura.

 I nt eressa à Crim inologia n ão apenas o con ceit o form al com o t am b ém a


i m agem global do fat o e de seu aut or: a et iologia do f at o real, su a
est rut ura, form as d e m anifest ação, t écn icas de prev enção, et c.

DELI N QUEN TE

 O delinqü en t e é ex am inado em suas int erdependências sociais, com o unidade


biopsicossocial e n ão de um a perspect i va biopsicopat ológica. Assim n ão se
pret ende analisar o crim inoso com o u m port ador de um a doença, nem por ou t ro
l ado com o fruto dos problem as sociais. Mas com preender qu e h á fat ores
biológicos, psi cológicos e sociais qu e int erf er em n as decisões e no com port am en t o
do at or delinqüent e.

 Segun do a t eoria clássi ca da Crim inologia, qu e v er em os m ai s adiant e, os


indivíduos escolhem su as ações, racion alizam e decidem , isso é cham ado de
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e scolha ra ciona l. Por essa perspect iva não há diferença ent r e delin qü ent e e não
delinqüent e, pois sendo t odos os indivíduos considerados i gu ais, qualquer um
pode escolher com o agi r e sabe as con seqü ên cias dos seu s at os.

 Mas p ara o posi tivism o crim in ológi co, o infrat or é um prision ei ro da su a própria
pat ologia ( det erm inism o biológico) ou de processos causais alheios ao m esm o
( det erm inism o soci al) . Verem os p esquisas onde os est u dos dos cri minosos se
direcionaram para o diagn óstico dos fat ores biológicos qu e defin em seu
com port am ent o, com o t am b ém est u dos que analisam os f at ores sociai s que
direcionam as escol has pessoais.

N a crim in ologia cont e m porâ ne a se discut e a norm a lida de do de lit o e do


de linqüe nt e . Norm alidade n o sen t ido de com preen der que em qualqu er sociedade h á
rot ulação de com port am ent os com o ilícit os e qu e t am b ém , em t odas elas, h aver á quem
infrin j a essas regras de proi bição, pois, segun do Durkh ei m , o rom pim ent o dessas r egras
é út il e n ecessário a qualqu er grupo social, pois serve par a reforçar as regr as e lem br ar
da i m port ância de cu m pri-las. O que si gnifica dizer que só lem br am os o valor das r egr as
sociais quan do al gu ém as quebr a e por isso ele afi rm a qu e o cri m e é norm al em qu al quer
sociedade ( não em t ax as exageradas).

VÍ TI M A

A Crim inologia cham a at en ção p ar a a n ecessidade de est udar o processo de vit im ização
que ocorre quando um crim e é com et ido. Durant e m ui to t em po a vít im a sofreu com o
descaso e a desconsideração do seu sofrim ent o.

 No processo pen al há u m abandono da vít im a d evido à sua neut ralização e


dist an ci am en t o.

 A Vitim ologia propõe um a int eração en t re au t or e vít im a, e seus est udos


abarcam : os processos de vi t im ização; a propensão de det erm inados grupos ou su j eit os
de se t ornarem vítim as; as variáveis que int erferem n o processo (sexo, idade, gên ero,
classe) ; os danos que sofrem as vít im as; o com port am ent o das vítim as; os riscos de
vitim ização; a rep aração de danos e a assi st ência a víti m as.

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CON TROLE SOCI AL

O con t role social é en t en dido com o um conj u nt o de in st it ui ções, est r at égias e san ções
sociais qu e pret endem prom over e gar an t ir o subm et im en t o dos indivídu os aos m odelos
e norm as com unit ários. Para alcançar a conform i dade ou a adapt ação do in divíduo aos
seus post ulados norm at ivos, ser v e- se a com unidade de du as in st âncias de con t role
social: inst ân ci as form ais e inform ais.

Du as in st ân cias de cont role social:

 Age nt e s inform a is: fam ília, escola, profissão, opinião pu blica et c..
 Age nt e s form a is: polícias, sist em a j udiciário, adm inist ração peni t en ci ária et c.

Segundo o I an Taylor (1 990 ) , a t eoria clássi ca da crim inologia, que t ev e seu s prim eiros
princípios pen sados por Cesar e Beccaria, é a t eoria do con t role social, que se caract eriza
por fi xar em pri m eiro lugar a form a com o o Est ado deve se posi cion ar frent e ao
delinqüent e, para d epoi s pen sar nas at i t udes qu e caract erizam a delin qü ên ci a e a base
social do direito penal. Essa t eori a, com o j á foi dito, t em suas bases na t eoria do cont rat o
social ( t am b ém cham ada de ut ilit arist a) que se alicerça ( segu ndo algu m as int erpret ações
m ui t o criticadas por filósofos e cien tist as políticos) em t rês hipót eses prin cipais: a)
post ul a o consenso ent re hom ens racionais acer ca da m oralidade e da im ut abilidade da
dist ribuição dos bens; b) ent ende que t odo com port am en t o ilegal, produ zido em um a
sociedade onde foi cel ebrado um con t rat o social, é essen cialm en t e pat ológico ou
irracion al e car act eríst i co de hom ens que, pelos seus defei t os pessoai s, não podem
celebrar con t rat os; c) t em com o conseqüência das suposições ant eriores o fat o de que os
t eóri cos do cont rat o social t eriam u m conhecim en t o especial dos crit érios, par a
det erm i nar o nível de racion alidade de um at o, esses seriam os de ut ilidade par a
sociedade, e é dessa i déia que surge a nom e de t eoria utilit arist a ou u tili t arism o.
O u tilit ari sm o, segu ndo Taylor (1 99 0) , não é u ma t eoria qu e pressupõe a igualdade dos
indivíduos em t odos os sent idos, e sim , qu e os hom ens são igu ai s n a su a cap acidade de
raciocínio, j á que essas idéias foram el aboradas n um a sociedade fu ndada na propriedade
privada, n ão poderia a igualdade ser considerad a de form a t ot al . En t en de o aut or que a
t eori a u tili t arist a foi basead a num a cont radição ent re a def esa d a igualdade e a ênfase n a
propriedade, poi s não prest a at en ção ao fat o de qu e a car ência de bens pode aum ent ar a
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probabilidade de um hom em com et er d elitos, e as recom pen sas por não com et ê- los
podem est ar apen as à disposição de qu em j á possui fortu na.
Nesse sen t indo, os t eóricos ut ilit arist as n unca invest i ram no debat e sobre a suprem acia
m oral e racional da burgu esia, e sim , concen t rar am - se n as quest ões at inent es à
l egislação e ao dest ino qu e dev eri a ser dado aos delinqüent es, ou sej a, nos problem as
relacionados à adm inist ração do cont role por part e do Est ado ( TAYLOR, 1990, p.23) .
A aplicação ef et iva das pr em issas – cont rat o social e con t role social – da escola clássica
da crim inologi a ti veram dificuldades em adequ ar - se n a r ealidade dos fat os da Europa do
sécu lo XI X. As cont radições se m an ifest ar am qu an do t en t ar am im plem ent ar m edidas
pen ai s u niversais, foi im possível om itir- se fren t e aos det er m in an t es da ação hum an a e
at u ar com o se o cast igo e o en car ceram en t o pudessem ser m edidos de form a idênticas.
Ent ão, em razão da lim it ação dos princípios cl ássicos, no qu e diz resp eit o à concent r ação
do foco no at o delitivo e o desdém pelas diferenças in dividuais en t re os at ores t idos com o
delinqüent es, ad vogados e penalist as d a época im pri miram esforços e m odificaram os
princípios clássicos da época criando a escola n eoclássica, que foi a base da m aioria dos
regim es j urídicos do Ocident e.
Depois de t er m os con hecido o obj et o da crim inologia, na próxim a aula, contin uarem os
t rabalhando seus asp ect os t eóricos e hi st óricos.

Assist a o vídeo propost o no am bi en t e on line e debat a no Fórum de Di scussão sobre


o t em a “ Psicopat ia e su a relação com a viol ên ci a n as cidades”.

A part ir do est u do da au la, reflit a com o devem ser t rat ados, t an t o pela ciência, qu an t o
pelo Est ado, os casos em qu e sociopat as com et em crim es?

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Assist a aos film es O I lu m inado, de St anley Kubrick, e As duas f aces de u m crim e, de
Gregory Hoblit .

Est a prim eira aula procu rou apresen t ar par a você as possibilidades de pesqu isa e
com preensão da cri mi nologia, an ali sando cada conceito- obj et o de est udo. A partir desse
prim eiro m om en t o, irem os fazer um percorrido hist órico- t eóri co da Sociologi a Criminal e
da Sociologia.

Depois de t erm os conhecido o obj et o da crimi nologia, na próxi m a au la, continuarem os


t rabalhando seus asp ect os t eóricos e hi st óricos.

TAYLOR, I an ; WALTON, Paul; YOUNG, Jock. La nueva crim inología: cont ri bución a u na
t eoría social de l a condu ct a desvi ada. Buenos Aires: Am orrort u edit ores, 1 990 .

PABLOS DE MOLI NA, An t onio Garcia e GOMES, Ant onio Flavio. Crim in ologia . São Paulo
: RT. 2 002 .

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Au la 2 : H ist ória da Crim inologia

Ao final dest a aul a, você dever á ser capaz d e:

1 . Descrev er as prin cipais t eorias sociológi cas qu e est udam o fenôm eno cri minal, desde
as form as d e puni ção da I dade Médi a at é a Bi ologia crim in al e Psi cologia crim inal
cont em porân ea.

Est udo dirigido da a u la

1 . Leia o t ex t o con du t or da aul a.


2 . Part icipe do fórum de discu ssão dest a aul a.
3 . Realize a at i vidade propost a.
4 . Leia a sínt ese da su a au la.
5 . Leia a ch am ad a par a a aul a segui nt e.
6 . Realize os ex er cícios de aut ocorreção.

Ol á! Sej a bem - vindo à aula H istória da Crim in ologia .

Na aula an t erior, fi zem os um a int rodução ao objet o de est udo da crim inologia e
conhecem os os principai s conceit os dessa m at éri a. A part ir daí, iniciam os a abordagem
hist órico- t eórica da Cri mi nologia, qu e darem os continui dade nest a au la, on de
est udar em os as Teorias: Escola Clássica, Escola Positiva – Et apa Ci ent ifica da
Crimi nologia, Positivism o Biológico ( Det erm inism o biológico ) .

Bom est udo!

Um pou co de H ist ória

George Ru she e Ot t o Kirch heim er ( 20 04) est u dar am as form as de pu nição na est rut u ra
social da I dade Média européia e perceberam que as penas e o si st em a puni tivo
est iver am r elacion ados às dem andas econ ôm icas e sociais de am pli ação ou redu ção da
força de t r abalho.

Os aut ores ressalt am qu e at é sécu lo XV as penas previst as na Europa ocident al eram a


fian ça, a in denização e os cast i gos físi cos: m as, no século XVI , a escassez de m ão- de-
obra t ornou a exploração do t rab al ho n ecessár ia e por isso em 1 596 foram criadas as
casas d e correção em Am st erd ã, com o o obj et ivo de disciplinar a força de t r abalho e
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lim par a cidade dos v ag abundos. Out ras penas út eis eram as Gal és ( rem adores dos
n avios m ercant is) ; Deport ação e Ban im ent o para as colônias recém descober t as.

Du ran t e o século XVI I I o aum en t o populacion al e da pobreza t ev e com o conseqüência a


lut a por direito ao t rabalho dos hom ens livres, o qu e acarret ou o ret orno de m ét odos
m ai s du ros de punição: açoit e, m ut il ações e pena d e m ort e. O sist em a inquisitorial
u tili zando- se da t ort ura e da confi ssão forçada foi am plam ent e ut ilizado e a bu sca pelos
“ h ereges” , r ev el ou -se u m a form a cruel de puni ção e elim in ação dos in desej áveis. Vale
l em brar que a I grej a Cat óli ca det inha o poder de j ul gar e con denar em nom e do Rei não
apenas de crim es de heresia ( j u deus, bru xos, isl âm icos, deficient es et c) , com o t am bém
crim es com un s.

Para conhecer um pou co m ais do que foi a I n qui si ção na Europa Medi ev al, faça um a
pesquisa sobre o t em a n a I nt ernet .

Escola Clá ssica

Cesare Beccaria ( 1 738 - 17 94) , em su a obr a Dos Delitos e d as Penas, de 17 64, se in su rgiu
cont ra as form as cruéis de pu nição, escr ev eu um li vro em form a de prot est o e acabou se
t ornando u m dos m aiores críticos da I nqui si ção, def en dendo a abolição da pena d e
m ort e, da t ort u ra e de out ras penas desu m anas. Ob servou que a pr evenção do crim e é
m ai s im port ant e do qu e a própria puni ção.

Sob influência do I lum inism o e do Con t rat u ali sm o f rancês ( liberdade, I gu aldad e e
Fr at ernidade) su a obra pr econizou um novo Di reit o Penal em que t odos os seres
h um an os sendo livres e igu ai s no Est ado cont rat u al devem t er di reit o a um a pu nição
j ust a e proporcion al ao delit o com et ido, porém , nunca ser privado de sua vida, o bem
m aior que o cont rat o social visa preser v ar.

A discussão do Ut ilit ari sm o de Jerem y Bent ham ( 17 48 -183 2) e John St u art Mill (1806-
1 87 3) t am bem m ar cou su a obra. Segun do o ut ilit arism o, os hom ens “ ag em sem pr e d e
form a a produ zi r a m aior qu an tidade de b em - est ar” ( prin cípio do bem - est ar m áxim o) .
Assim , ent ende- se ser o princípio da utilidade, aqu ele segun do o qual t oda ação,
qualqu er qu e sej a, deve ser aprovad a ou rej eit ada em função de su a t en dência de
aum en t ar ou redu zi r o bem - est ar das p art es af et ad as pela ação...” ( Jerem y Bent h am ) .
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Nesse sent ido, se os hom en s calculam su as ações visando bem est ar e r edução dos
prej u ízos, a pen a deve ser u m a form a de coibir o bem est ar e o prazer. Mas p ara t an t o, é
n ecessari o qu e as form as pu niti vas sej am claras e pú blicas, ou sej a, é n ecessário que
t odos con heçam os de lit os e a s pe na s previ st as n a form a de lei , a fim de calcular se
v al e ou n ão in correr no at o delit uoso.

Beccaria se r ebelou cont ra as arbi t rariedades da Just iça Cri minal da sua época e
proclam ou:

 A at roci dade da pena opõe- se ao bem público


 Os crim es e as pen as devem ser previst as em lei
 As pen as dev em ser proporcion ais aos deli tos
 As pen as dev em ser m oder adas
 As acusações não podem ser secr et as
 Não se pode adm i t ir a t ort u ra por ocasião do processo
 O obj et ivo da pena não é at orm ent ar o acusado e sim i m pedir qu e ele rein ci da e
servir de exem plo para out ros
 O réu j am ais poder á ser considerado cul pado ant es da sen t en ça con denat ória
( Devi do Processo Legal)
 Som en t e os m agist rados podem j ul gar acusados
 Aos j uízes não dev e ser dado int erpret ar as leis penais
 Mais útil do que a repr essão é a prev en ção dos deli tos
 Não t em a soci edad e o direit o de aplicar a pen a de m ort e n em de banim ent o

“ É que par a não ser um at o de viol ên ci a cont ra o cidadão, a pena d ev e ser, de m odo
essencial, pú bli ca, pront a, n ecessária, a m en or das p en as aplicáveis n as ci rcu nst ân cias
dad as, proporcion al ao delit o e det erm inada pela lei” ( Beccari a)

Escola Posit iva – Et a pa ( su posta m e n t e ) Cie nt ífica da Crim inologia

Du ran t e o sécul o XI X as pesqu isas cien tificas ganhar am gr ande i m pulso devido à
exp an são do Est ado laico e dos proj et os relacionados à Revolução I ndust rial e Científi ca.
O m ovim en t o Positivism o proclam av a a Razão e Ciência com o font es do con hecim ent o e
do progresso social. At rav és da observ ação d os fat os e da busca pelas leis nat urais,
diferen t es áreas do conhecim ent o foram se desen volvendo e divulgando seus resul t ados.
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Posit iv ism o Biológico ( De t e rm inism o biológico )

Um f am oso m édi co psi qui at ra cham ado Cesare Lom broso ( 1835- 1909) propôs- se a
est udar o crimi noso pela perspect iva biológica e com provar a su a hipót ese de qu e
det erm i nados indivíduos n ascem com u m a d egen er escência gen ét ica qu e o direci ona
par a u m com port am en t o cri minoso. Seu livro O Hom em Delin qüent e foi publicado em
1 87 6, tornando suas pesquisas m un dialm en t e f am osas.

Seu gran de v al or foi inaugurar o m ét odo em píri co de est udo do crim e e do crim inoso.
Sua t eoria do de linqüe nt e na t o foi form ulada com base em 40 0 au t ópsias e 6 .00 0
análises d e delinqüent es vivos.

Segundo Lom broso, o delinqüent e padece d e um a séri e de est igm as degenerat ivos
com port am ent ais, psicológicos e sociais. Usa a frenologia para su as an álises: front e
esqui va e b aixa, gr ande desenvolvim en t o dos ar cos su praciliais, assim et ri a cr aniana,
gran de desenvolvim en t o das m aças do rost o, orelhas em form a de asa, u so freqüent e de
t at uagens, insen si bilidade à dor, inst abilidade afet iva, alt a reincidên ci a et c...

Classificação Lom brosiana


 Crimi noso Nat o: port ador de pat ri m ônio gen ét ico, degen erescên cia genét ica –
at avism o
 Crimi noso louco: port ador de pert urbação m ent al – lou co m oral
 Crimi noso Profission al : Força do m eio, não há pat rim ônio gen ét ico
 Crimi noso Pri m ário: Fat ores circun st anciais, a ocasião
 Crimi noso Passi onal: vitim a do hum or, nervosi sm o, paixão.

As pesqui sas cont em porâneas discordam dos est u dos de Lom broso que afirm ar am o
det erm i nism o biológico do crim in oso. En t ret ant o, o que seu t r ab alho rev elou foi a
n ecessidade de iniciar um a pesqui sa em pírica sobre quem eram os crim inosos, seu s
h ábitos, cost u m es, est ilos de vida, m eio social, problem as p si cológicos e biológi cos en t re
out ros. Com o falam os n o início n ão h á est u do hoj e que d efenda o det erm inism o, que
afirm e o det erm inism o biológi co, ou psicológico, ou soci al, m as gran de part e dos
est udiosos concordam que é n ecessário est u dar os f at ores bio- psico- socia is qu e
envol vem o fenôm eno da crim in alidade.
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Só para ilust rar um pou co a m oderna crim inologi a que se pret en de ci ent ífica ( m as que é
quest ion ada com sev eri dade p el os que consideram as pesqui sas sobre o ser crim inoso
u m a r ei ficação grosseira, preconcei t uosa e con t rária ao próprio reconh ecim en t o de que o
crim e é u m a con st rução sócio- cult ural e hist órica, port ant o variável e relat i va, sendo,
port ant o, ele, o crim e, o obj et o legíti mo de est u do, e n ão “ o crim inoso” , porque não
exi st e “ o ser- cri min oso” corresponden t e a u m a essên ci a n at u ral e invariável) : vale
conhecer asp ect os est u dados pela Biologia crim in al e a Psi cologia criminal
cont em porân ea.

M ode los de Aná li se de cunh o biológico

 N e urofisiologia: bu sca as anom alias cerebr ais a par t ir da descobert a do elet ro


encefalogram a e ressonância m agn ét i ca.
 Endocrinologia: Busca as disfun ções h orm on ais em hom ens e m ulheres.
 Sociobiologia ( Bioquím ica ) : busca as influências ex t ernas: déficit de m inerai s e
vit am i nas; hi poglicem i a; cont am inação am bient al por chu m bo, m ercúrio; fat ores
t ér m i cos, espaciai s, urbaníst icos e acúst icos.
 Ge né t ica Crim ina l: análise de fam ílias crim inais, gêm eos; e m al form ação
crom ossôm ica.

M ode los de cun ho Psicológico

 Psica ná lise : est u da os conflitos psíquicos at ravés da análise do incon scient e.


Fr eu d – os conflit os da infân ci a reap ar ecem na fase adult a at r avés de neuroses.
 Psiqu ia t ria : Cat álogo das p at ologias CI D 10 e DSM I V.
 Sociopa t ia ou psicopa t ia - Person alidade ant i-social.
 Oligofre nia ; ret ardam ent o m ent al.
 Pe rson a lida de Esquizot ípica : Esquizofreni a - in capacidade d e valorar a
realidade.
 Tra nst orn o Bipola r - Psi cose Maníaco- Depr essiva.
 De m ê n cia por de t e r ioriza çã o orgâ nico- cerebral ( velhi ce) .
 De pre ssã o.

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Tra nst orn o por:

 Dependên ci a de álcool e drogas (sín drom e de abst inência)


 Tran st orno por an si edad e
 Tran st orno sexual: exibicionism o, fet ichi sm o, pedofilia, sadi sm o, m asoquism o,
voyeu rism o
 Tran st orno de cont role dos im pul sos: clept om an i a, pirom ania, lu dopat ia

Você pode conh ecer m ai s sobre essas pat ologias con sult ando na WEB o Diagn ost ic an d
St at ist ical Manu al of Ment al Disorders - DSM I V e t am bém o CI D 10. São cat álogos
m édicos que cl assificam as car act erísti cas das d oenças psiquiátri cas e psicológicas.

Fin ali zando, é preci so t er m uit o cui dado para não est igm at izar pessoas com algu m a
pat ologia ou m esm o com algum a car act eríst ica físi ca, com o fez o est u do de Lom broso,
porque o port ador de algum a pat ologia n ão é um crim inoso. Há exem plos de pessoas que
viveram t oda um a vida com problem as psi quiát ri cos e nunca infringiram n en hu m a regra
social, assi m com o m uit a gent e sã perpet rou vári os crim es. Por i sso, caso se in si st a em
est udar o cri minoso ao in vés do crim e, é necessário um t rab alho in t erdisciplinar, com
diferen t es profissionais, par a iden tificar os fat ores que cont ri bu em par a det erm in ado
com port am ent o.

Leia o t ext o A t ort ura n o Brasil e debat a no Fórum de Discussão sobre a


perm an ên ci a da t ort ura no Brasil. Relem bre casos que ocorreram e an ali se o porquê da
t ort ura ai nda ser u m inst rum en t o de revelação da “v erd ad e” presen t e n as prát icas
policiai s brasil eiras.

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I den t ifique argum en t os Lom brosi anos qu e ainda persist em n o nosso senso com um .
Pen se em sit u ações on de eles ap ar ecem .

Procure um caso recen t e d e u so da t ort ura no Brasil e ide nt ifique n a obra de Be cca ria
as críticas a est a f orm a puni tiva e seus argu m ent os.

Assist a aos film es:

Joan a D'Arc, de Luc Besson .


Silêncio dos I nocent es, d e Jonat han Dem m e.
Os Miser áveis, de Billie August .

Est a aula bu scou recu per ar u m pou co da hi st ória da const ru ção do direit o penal
m odern o, identifi cando t ransição ent re o m odel o in quisitorial de punição e a expansão da
ideologi a ilum inist a das gar an t ias individu ais.

Tam bém é im port an t e reconh ecer qu e os t rabalh os de Lom broso am pliaram a


possibilidade d a pesquisa em píri ca sobre o fenôm eno crim in al, cont u do, hoj e são
duram ent e cri ticados pelo seu car át er essen ci alm ent e est igm at izan t e.

Na próxim a aula, est u darem os as principais t eorias da Soci ologi a crim in al. Conhecer em os
as Teorias de En rico Ferri, de Durkheim e Robert Mert on

PABLOS DE MOLI NA, An t onio Garcia e GOMES, Ant onio Flavio. Crim in ologia . São Paulo:
RT. 2002
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Au la 3 : Te or ia s Sociológ ica s do Cr im e

Ao final dest a aul a, você dever á ser capaz d e:

1 . Conh ecer as t eorias sociológicas que est u dam o fen ôm en o crim in al;

2 . I dent ificar as car act eríst i cas da vi olência e da cri min alidade na sociedade brasileira;

1 . Avaliar as possibilidades de int ervenção social e políti ca a fim de reduzir det er m in ados
crim es recorren t es rel acionados a qu est ões urban as, econômicas e sociais.

Est udo dirigido da a u la :

1. Lei a o t ex t o condut or da aul a.


2. Part icipe do fórum de discu ssão dest a au la.
3. Realize a at ivi dade propost a.
4. Lei a a sínt ese d a su a au la.
5. Lei a a cham ada para a au la segu int e.
6. Realize os ex er cícios de aut ocorreção.

Ol á! Sej a bem - vindo à aula Te oria s so ciológica s do crim e .

Nossa t erceira aula t em com o propost a an alisar as t eorias sociológicas qu e est u daram o
crim e e o com port am ent o cri minoso. I m port an t e lem br ar que as p esquisas sociológicas
iniciaram no fin al do século XI X j un t o com as pesquisas d e abordag em biológica. Em
verd ad e, a pesquisa sociológica t am bém é fru t o do Positivism o, grande incent ivador do
desenvolvim en t o ci en tífico na Europa. Ent ão podem os di zer que no cam po da
crim in ologi a t em os agora um a abordag em positivist a m ul tifat orial onde o cri minoso e seu
m eio serão an ali sados.

Bom est udo!

TEORI AS SOCI OLÓGI CAS QUE ESTUDARAM A CRI M I NALI DADE

Enrico Fe r ri

O Professor uni versi t ári o Enrico Ferri (1865-1929) foi considerado o pai da m oderna
sociologia crim inal. Tornou- se con heci do prin ci palm ent e por su a t eoria da cri min alidade,

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por seu program a político- crim in al e sua t i pologia crim in al . Segun do Ferri o deli to não é
produt o de um a p at ologia indivi du al, m as com o qualquer out ro acont ecim en t o nat ural,
produt o de diversos f at ores: individu ai s, físicos e sociai s.

Sua t ese é qu e o deli t o é um fen ôm en o social, com um a dinâm i ca própria e et iologia


específica, n a qual predominam fat ores sociai s. Em conseqüência, a lut a cont ra o delito e
sua pr evenção dev em ser concret izadas por m eio de um a ação realist a e científica de
poderes públicos qu e se an t ecipe a ele e qu e in ci da com ef icácia n os fat ores
crim in ógenos que o produ zem , n as m ais di versas esfer as ( econ ôm ica, políti ca,
l egislat i va, fam ili ar, educat iva, ad m inist rat i va et c.) , n eu t r ali zando-os. Ferri considerava
serem t r ês as cau sas do delit o: biológicas ( heran ça, con st i t uição, et c); físi cas ( o
am bient e, com preen dendo as condições cli mát icas, com o a um idade, o calor, et c) ;
sociais ( ref erent e às con dições am bi en t ais ou m esológicas) .

O est udo da crim inalidade com o um fenôm eno social com o os out ros perm itiria aos
cienti st as ant eci par o núm ero de delitos em um a det erm in ada sociedade, se con t asse
com os fat ores ant es cit ados. Em su a t eoria dos su bst it u tivos penais, sugeriu um
program a polít ico- criminal de lut a e pr ev en ção ao delit o, di spen san do o direito pen al . A
pen a, conform e Ferri, seria ineficaz se não viesse precedida ou acom panh ad a d as
oport un as r eform as econ ôm icas, soci ais, et c., orient adas por u m a análise científi ca e
et iológica do delit o.

Em ile Durk he im

A t eoria f orm ulada por Em ile Durkheim (1 85 8-1917) , considerada u m a explicação


funcionalist a da sociedade, foi form ul ada em um cont ext o de profun das m u danças
sociais, com o enf raqu ecim ent o dos m odelos t radicion ai s de soci edade e o fort alecim en t o
das econ om ias indust rializad as n o fin al do século XI X. Nest e sen t ido, privilegia u m a
com preensão orgânica e sist êm ica da sociedade, p ar a a m an ut enção da ordem e d a
funcionalidade.

Em relação ao fenôm eno da crim inalidade, Durkh ei m se posiciona con t ra as concepções


n at u rali st as e positi vist as qu e iden tificavam as causas d a crim in alidade n as forças
n at u rais ( clim a, r aça) , n as con di ções econôm icas e n a d en sidade popul acional de cert as

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regiões. Dessa form a, discorda dos crim inologi st as qu e est u dam o crim e com o resul t ado
da at uação de um fat or de car át er pat ológico incon t est ável.

Est udando os f enôm enos norm ais e p at ológicos de um a soci edad e, chega à conclusão da
n orm alidade e u t ilidade do cri m e para a sociedade. Poi s, segu ndo Du rkheim , o crim e não
se observa só na m aior part e d as sociedades d est a ou daquela espécie, m as em t odas as
sociedades de t odos os t i pos. Não h á nenh um a em que n ão haj a crim inalidade. Mu dam
de form a, os at os assi m qu alificados, não são os m esm os em t odos os lados; m as
sem pre, e em t oda p art e, exist iram hom ens que se conduziram de m odo a t r an sgr edir
n orm as com unit ári as ou a incorrer na repressão penal.

Não há, port ant o, f enôm eno que apr esent e de m aneira m ai s irrefu t áv el t odos os
sin t om as da norm alidade, d ado qu e apar ece com o est reit am ent e ligado às condi ções de
qualqu er vi da coletiva. Transform ar o cri m e n um a doença social seria adm itir que a
doença n ão é um a coisa aci dent al m as qu e, ao cont rário, deri va , em cer t os casos, d a
const it ui ção fun dam ent al do ser vivo. I st o seria elim inar qualqu er distin ção en t re o
fisiológico e o pat ológi co. Pode, sem dúvida, acont ecer que at é o crim e t om e form as
anorm ais; é o que acon t ece qu ando, por ex em plo, at inge u m a t ax a exagerada.
Efet i vam ent e, n ão há dúvida de que est e excesso é m órbi do. O qu e é n orm al é
sim pl esm ent e qu e exist a um a crim inalidade, con t an t o qu e at inj a e n ão ult rapasse, par a
cada t i po social, u m cert o nível que t alvez não sej a i m possível fixar de acordo com as
regras precedent es. ( DURKHEI M 200 2, p. 82 )

O crim e est á present e em t odas as socied ades, por isso não é algo pat ológico. O delito
faz part e da vi da coletiva, en qu an t o elem ent o fu ncional da fisiologia, e n ão da pat ologia
da vida social . Som en t e em suas form as anorm ais, em caso de crescim en t o ex cessivo,
pode ser considerado pat ol ógico. Ent ão, cl assificar o crim e en t re os fen ôm en os de
sociologia norm al é afirm ar qu e é u m fat or da saúde pú bli ca, um a part e int egran t e de
qualqu er soci edad e sã.

Nesse sen t ido, podem os resum ir os post ulados da t eori a funcionalist a em :

1) As cau sas do desvio n ão dev em ser pesqui sadas n em em fat ores


bioant ropológicos e n at urais (cli m a, r aça) , nem em um a sit uação p at ológica da
est rut ura social.
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2) O desvio é u m fenôm eno norm al de t oda a est rut u ra social.
3) Som en t e quando são ult rapassados det erm inados lim it es, o fenôm en o do desvio é
n egat ivo para a exist ên cia e o desenvol vim ent o da est ru t ura social, segui ndo- se
de u m est ado de desorganização, n o qual t odo um sist em a d e regr as d e con dut a
perde valor ( sit u ação de anom ia) . Den t ro dos seu s lim it es funcionais, o
com port am ent o desviant e é um fat or n ecessári o e út il para o equilíbrio e o
desenvolvim en t o sócio- cult u ral.

O delito cum pre um a fu nção na est rut u ra social, ele provoca e est im ula a r eação social,
est abiliza e m an t ém vivo o sen t im ent o colet ivo que su st ent a a con form idade às n orm as.
“ O Cri m e é necessário e est á ligado às con dições fun dam ent ais de qualqu er vida social,
m as, pr ecisam en t e por isso, é útil; porque est as condições de qu e é solidário são el as
m esm as indispensáveis à evol ução norm al da m oral e do direi t o” . ( DURKHEI M 2002, p.
8 6)

Conclui, en t ão, qu e o crim e cu m pre a fu nção in t egradora e inovadora, e dev e ser


analisado com o um f en ôm en o norm al para o f uncionam ent o da sociedad e. Sen do a pen a
u m a reação soci al e n ecessária, que at ualiza os sen t im ent os colet ivos qu e correm o risco
de fragili zação, recorda a vigên cia de cert os v alores e norm as, e reforça a con vi cção
colet i va sobre o si gnificado dos m esm os.

Além di sso, o desvio individu al t orna possível a t ran sf orm ação e a r enovação social, ou
m esm o prepara o cam inho para essas t r ansf orm ações. Ou sej a, o cri minoso não só
perm it e a m anu t en ção do sen t im en t o coletivo em u m a sit uação suscet ível de m udan ça,
m as ant eci pa o con t eú do m esm o da fut u ra t ransform ação.

A análise fun ci onali st a represen t a u m m ar co na idéia de legitim ação do cast igo. A pena
n ão é an alisada sob o enfoqu e v alorat i vo ( seus fin s) , senão fun cion al ( funções reais qu e
a pena d esem penh a no sist em a) . A pen a cum pre fu nções in t egradoras, é u m a r eação
que reforça os sen t im ent os col etivos lesi onados pelo crim e, im pedindo qu e se
enfraqu eçam , f ort al ece a consciência coletiva e a solidariedade social e d evolve, ao
cidadão honest o, sua confian ça n os sist em a.

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Robe rt M e rt on ( Te oria da Anom ia )

O m ét odo fun cion alist a qu e Mert on ( 1 91 0-2003) aplica ao est udo da anomi a perm it e
int erpret ar o desvio com o um produt o da est rut ura soci al, absolut am ent e norm al com o o
com port am ent o conform e as regr as. Os m ecan ism os d e t r ansm i ssão de est rut u ra social
que produzem as m ot ivações do com port am ent o conform e as regr as e do
com port am ent o desviant e são da m esm a n at u reza.

Segundo Mert on, em t odo cont ext o sociocult ural desenvol vem - se m et as cul t urais. Est as
expr essam os v alores qu e orient am a vida dos in divíduos em sociedad e, repr esent am
m ot i vações par a o seu com port am ent o e são alcan çadas at r av és de m eios socialm ent e
est abelecidos. Trat a- se de recursos in sti t ucionalizados ou legítim os que são socialm ent e
prescrit os. Exist em t am bém out ros m ei os qu e perm it em at in gir est as m et as, os qu ais são
rej ei t ados pelo gru po social . A u tili zação dest es últi mos é con siderada violação das r egras
em vigor.

Mert on observou , est u dando a sociedade n orte- am ericana, que a m et a cult u ral m ais
i m port ant e é o su cesso na vida, abar cando riqueza e prest ígio ( am erican dream ) . Porém ,
apesar d essa m et a cu ltural ser com par t ilh ada por t odos, exi st e u m a im possi bilidade
dest a ser at in gida por um a grande p ar cel a da popul ação. A sociedade é est rut u rada de
t al f orm a que os m eios soci alm ent e ad m i tidos não perm it em a t odos os indivíduos
alcan çar a m et a cul t ural. Dist o result a u m desaj u st e ent re os fins e os m eios. Est e
desaj ust e propicia o ap areci m ent o de condut as desvi ant es. O in su cesso em at ingir as
m et as cu lt urais devido à insuficiên cia dos m eios in st it ucionalizados pode produzir o que
Mert on denomin a anom ia: m anifest ação de um com port am en t o no qual as regr as do j ogo
social são abandon ada ou con t orn adas. O indivíduo não respeit a as r egras de
com port am ent o qu e i ndi cam os m ei os de ação social m ent e aceit os. Surge ent ão o
desvio, o com port am en t o desvian t e.

Exam inando a sit uação conflitiva qu e pode ser est abel ecida ent re as aspirações
cult uralm ent e prescrit as ( m et as cult u rais) e o cam inho socialm en t e i ndi cado para at ingi-
l as (m eios instit ucion alizados) , Mert on f ez um a classificação dos t i pos de
com port am ent o. Trat a- se do que o aut or ch am ou de m odos de ad ap t ação, que exprim em
o com port am en t o de indivíduos em face das regr as sociais. Nest a classifi cação os

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sím bolos positivo e negat ivo são ut ilizados para in dicar se os indivídu os aceit am ou não
as m et as e os m eio socialm ent e est abeleci dos.

M odos de M e t a s Cu lt ura is Me ios


Ada pt a çã o I nstitu ciona liza dos
Conformi dade + +
I novação + -
Ri t ualism o - +
Evasão - -
Rebelião ± ±

Conf orm idade: corresponde a r espost a posi t iv a, t ant o aos fin s quant o aos m eios
instit uci onais e, port an t o, ao típico com port am ent o con form ist a.

I n ovação: corresponde à ad esão aos fin s cult u rais, sem o respeit o aos m eios
instit uci onais.

Rit ualism o: correspon de ao r espeit o som ent e form al aos m eios inst it u cion ais, sem
persecu ção dos fins cultu rais.

Evasão: corresponde a negação t ant o dos fins cult urais qu an t o dos m eios inst itu cion ai s;
Reb eli ão: corresponde não a si m ples n eg ação dos fins e dos m eios in stit ucionais, m as a
afirm ação subst i t utiva de fins alt ernat ivos, m edi an t e m eios al t ernat ivos.

O com port am ent o crim inoso típico corresponde ao segundo m odelo, o da inovação.
Part indo do principio segu ndo o qual o im pul so par a um com port am ent o desviant e deriva
da discrep ância ent r e fin s cult urais e m eios instit u cion ais, Mert on m ost ra com o os
est rat os sociais inferiores est ão subm et idos, na sociedade n ort e- am erican a analisa por
ele, à m áxim a pressão nest e sent ido.

24/59
Leia o t ext o do Professor Michel Mi ss, acesse o Fórum de Discussão e debat a sobre com o
n o senso com um est am os acost u m ados a rel acionar violência com pobreza, o que a caba
por gerar um a const an t e crim inali zação dos pobres.

Assist a ao vídeo no am bient e on lin e de Loïc Wacquan. A part ir do est u do dest a aula,
faça u m a an álise crítica de com o se dá a relação ent re pobreza e violência no Brasil.

Assist a ao film e Zona do Cri m e, de Rodrigo Plá e Crash - No Lim it e, de Paul Haggis.

Suge st õe s de boa s le it ura s:


MI SSE, Mi ch el. Crim e e Pobreza: v elhos enfoqu es, novos problem as. Disponível em :
h t t p: / / www.necvu.ifcs.u frj .br/ arqu ivos/ CRI ME% 20e% 2 0pobreza.pdf
ZALUAR, Alba. Oi t o t em as para d ebat e. Violência e segurança pública. Disponível em :
h t t p: / / loki.isct e.pt : 8 080 / dspace/ bi t st r eam / 10 071 / 378 / 1/ 38 .02 .pdf

A t ercei ra aula apr esent ou part e das t eori as sociológicas que em m uito cont ribu em par a
os est udos da crim inologia. Perceb a que t em os m uit as variáveis qu e est ão present es n o
fenôm eno crim inal, que influenciam diret am en t e n a sua in cidência, esses fenôm enos
dev em ser est udados em diferent es cont ext os soci ais. Ent enda que um a t eoria não ex clui
a ou t ra, podem os realizar t r abalhos de pesquisa e est udos qu e correlacion em dif erent es
v ari áveis e abordagen s.

Nest a aula, est udam os as t eorias de Enri co Ferri, do sociólogo Em il e Du rkh ei m e de


Robert Mert on ( Teoria da Anom ia) . Na próxim a aula, con tinu arem os est ud an do as t eorias
crim in ológi cas, são elas: da Escola de Chicago, Teoria Ecológi ca, Teorias subcult u rais,

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Teoria da apr en dizagem social ou da Associação Diferen ci al, Teoria do etiqu et am ent o -
Labeling Approach e a Teoria do Conflit o.

BARATTA. Alessandro. Crim inologia Cr ít ica e Críti ca a o dire it o pe na l. Rio de Jan eiro:
Rev an , 20 02.
DURKHEI M. Ém ile. As re gra s do m é t odo soci ológico. São Paulo. Mart in s Claret , 2 002 .
MOLI NA. Ant onio Garcia- Pablos e GOMES, Luz Flavio. Crim inologia . São Paulo: Edit ora
Revist a dos Tri bu nais, 2002. Pg. 19 4-196
SHECAI RA, Sérgio Salom ão. Crim inologia . São Paulo: RT, 20 04 .

26/59
Au la 4 : Te or ia s Sociológ ica s do Cr im e I I

Ao final dest a aul a, você dever á ser capaz d e:

1 . Conh ecer as t eorias sociológicas que est u dam o fen ôm en o crim in al;

2 . I dent ificar as car act eríst i cas da vi olência e da cri min alidade na sociedade brasileira;

1 . Avaliar as possibilidades de int ervenção social e políti ca a fim de reduzir det er m in ados
crim es recorren t es rel acionados a qu est ões urban as, econômicas e sociais.

Est udo dirigido da a u la

1 . Leia o t ex t o con du t or da aul a.


2 . Part icipe do fórum de discu ssão dest a aul a.
3 . Realize a at i vidade propost a.
4 . Leia a sínt ese da su a au la.
5 . Leia a ch am ad a par a a aul a segui nt e.
6 . Realize os ex er cícios de aut ocorreção.

Ol á! Sej a bem - vindo à aula Te oria s sociológica s do crim e I I .

Nest a aula, cont inu arem os est u dando as t eorias sociológi cas relacion adas ao cri m e e ao
com port am ent o criminoso. São elas: da Escola de Ch icago, Teoria Ecológica, Teorias
subcultu rais, Teoria da aprendizag em social ou da Associação Diferencial, Teoria do
et iquet am en t o - Labeling Approach e a Teoria do Confli to.

Escola de Chica go

Berço da m oderna sociologia am erican a, a Escola de Chi cago se dest acou pel a in ovação
n a m et odologi a de pesquisa social, caract erizando- se por seu em pirism o e por sua
finalidade pragm át i ca, ist o é, pelo em prego da observ ação diret a em t odas as
invest igações e pela f inalidade pr át ica a qu e se orient av am , part in do de u m diagnóst ico
confiável sobre os u rgent es problem as sociais da r ealidade nort e- am eri cana de seu
t em po.

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A t em át ica prin cipal era um a sociologia da gr ande cidade, an alisando o im pact o d as
m udan ças sociais das grandes ci dades ( indust rialização, ( i) m igração, conflitos) e
int eressada n os gru pos e cu lt uras m i nori t ários, com o o m un do dos desviant es e a
m orfologia da crim in alidade. O crescim ent o populacion al de Chicago explica o int eresse
da Escola. Em 1 860 a cidade t in ha 11 0 mil habi t an t es, e apenas cin qü en t a anos depois,
em 1 91 0, cerca d e dois m ilhões. Est a explosão dem ográfi ca im pli cava vários probl em as
fam iliares, m orais, urban os, et c.

Te oria Ecológica

O pont o de at en ção das t eorias ecológicas est udadas por aut ores com o Park, Bu rgess,
Mcken zie, Sh aw, Mckay, et c, é a cidade com o u m a unidade ecológica. Suas t eses fazem
u m a r elação ent re o processo de criação de novos cen t ros urban os e a crim in ali dade. A
cidade produz delinqü ên ci a, concen t rad a em ár eas específicas ( delinqu en cy ar eas) .

O efeit o crim inógeno dos aglom erados urbanos é explicado pelos con ceit os de
desorg anização e con t ágio, bem com o pelo debilit am ent o do con t role social n esses
cent ros. A det eriorização dos “grupos pri m ários” ( fam ília), a superfi ci alidade das relações
int erpessoais, a al t a m obilidade, a p erda das raízes, a crise dos valores t r adicionais e
fam iliares, a su perpopulação, a t ent adora proxim idade às áreas com erciais e in dust riais
onde se acum ula riqueza e o enfraquecim ent o do con t role social criam um m eio
desorg anizado e crim inógeno.

O m érit o das t eori as ecológicas foi cham ar at en ção sobre o im pact o crim inógeno do
desenvolvim en t o u rbano, na form a com o se deu nas cidad es n ort e- am erican as no
princípio do século XX.

Te oria s subcult u ra is

As t eorias su bcult u rai s su rgiram na décad a de 195 0 em repost a aos problem as d a


sociedade am ericana com m inorias ét nicas, políticas, raciais, cul t urais et c. El as
sust ent am t r ês idéias fundam ent ais: o car át er pluralist a e at om izado da ordem social; a
rot ulação norm at iva da con dut a desviada; e a sem el hança est ru t ural, em sua gênese, do
com port am ent o regular e irregular.

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A ordem social nest e m odel o é u m m osaico de grupos e subgrupos, fragm en t ados,
conflitivos; on de cada gru po ou subgru po possu i o seu código de v al ores, qu e nem
sem pre coincidem com os v alores m aj orit ários e oficiais. A con du t a delitiva par a as
t eori as su bcul t urais n ão seria produto da desorganização ou ausên ci a de valores, m as o
reflexo e expr essão de ou t ros sist em as d e n orm as e de valores di st int os: os su bcult urai s.

A t eoria das su bcult u ras crim inais nega que o delito possa ser considerado com o
expr essão de um a at it ude con t rári a aos valores e às n orm as sociais gerais, e afi rm a que
exi st em valores e n orm as esp ecíficos dos diversos grupos sociais. Est es valores são
int eriori zados pelos indivíduos at rav és de m ecani sm os de int eração e de apr en dizagem
n o int erior dos gru pos e det erm in am o com port am en t o em concurso com os v al ores e as
n orm as insti t ucion alizadas pelo direit o ou pela m oral “oficial” . Não exist indo, assim , um
ú nico sist em a d e v al ores.

Dessa form a, não só a est r at ificação soci al e o pluralism o de gru pos sociai s, m as t am bém
as reações t ípicas de gru pos socialm en t e im pedidos do pleno acesso aos m eios l egítim os
par a a obt en ção de fins in st i t ucionais dão lu gar a um pluralism o de su bgrupos cult urais,
caract erizados por valores, n orm as e m odelos de com port am en t o alt ern at i vos aos
predom inant es.

O est udo de Cohen sobre a delin qüência j u venil nas classes b ai xas concluiu que as ár eas
de delinqüência n ão são desorgan izad as e carent es de cont role social, m as t err enos n os
quais vigoram n orm as dist int as d as oficiais. O conflit o, segundo Coh en , é produzido
quando os j oven s de cl asses inferiores se identificam com as cl asses m édias e
int eriori zam seu s v al ores. Vincul ados a um a posição social inferior, e em desv ant agem ,
n ão poderão superar as dem andas do gru po a qu e aspiram pert encer sem sofrer grav es
problem as de adapt ação. O conflit o, assim , adm i t e t rês alt ernat ivas: a ad apt ação, a
t ransação e a rebelião.

Nesse sen t ido, a su bcul t ura opera com o evasão da cu lt ura geral ou com o reação negat iva
frent e a ela. É um a espéci e de cul t ura de recâm bio, qu e cert as m in orias m argin alizadas,
pert encen t es às classes m enos favoreci das, criam dent ro da cu ltura oficial para d ar v azão
à an si ed ade e à frust r ação que sent em ao não poderem par t icipar, por m eios legítim os,
das expect at ivas que t eori cam ent e são oferecidas a t odos pela sociedade. A via criminal

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é con siderada um m ecan ism o subst it u to ant e a ausência real de vias legítim as par a fazer
v al er as m et as cult u rai s cu j o alcan ce a sociedad e n eg a às cl asses m enos privilegiadas.

A t eoria das subcult u ras criminais dem onst rou qu e os m ecanism os de apr endi zagem e d e
int eriori zação de regras e m odelos de com port am en t o, qu e est ão na base da
delinqüência, não diferem dos m ecanism os de socialização at rav és dos quais se explica o
com port am ent o norm al. Essa invest igação sociológica, com um a visão relat ivi zant e,
perm itiu m ost rar que no int erior da sociedad e m oderna exist e um a est rut ura plu rali st a
com v al ores e r egras produ zidos por grupos diversos e ant agônicos.

Te oria da a pre ndiza ge m socia l ou da Associa çã o Dife re ncia l

A década de 19 60 viu surgir um grupo de t eorias sociais sobre o cri m e, para as quais
est e é u m a função das i nt erações p si cossoci ais do indivíduo e apenas u m dos diversos
processos de r el acionam ent o vigent es n a sociedade. Segun do Molina, podem os
identifi car ori en t ação conceit ual e analítica dist in t a d as t radicionais no int erior das t eori as
do processo soci al.

Para a t eria da apr endi zagem soci al, o com portam ent o delit uoso é apren dido do m esm o
m odo qu e o indi víduo apren de out ras con dut as ou at i vi dades lícit as, em sua int eração
com p essoas e gru pos, e m edian t e a um com pl exo processo d e com unicação. O indivíduo
apr ende, assim , n ão só a condu t a d elitiva, m as t am b ém os própri os valores criminais, as
t écnicas com issivas e os m ecanism os su bj et ivos de r acionalização ( j u st i ficação) do
com port am ent o desviant e.

Edwin H. Su therland con t ribuiu, nesse sen t ido, com a análise das form as de
apr endizag em do com port am ent o crim inoso, e da dependência dest a apr en dizagem face
às v ári as associações diferenciai s que o indivídu o t em com out ros indi víduos do grupo.
Desen volveu um a crítica r adical às t eorias do com port am ent o crim inoso baseadas em
condi ções econômi cas (pobreza), psicopat ológicas e sociopat ológicas. Essas t eori as,
segun do el e, são errôneas porqu e se b asei am em um a f alsa am ost r a d a crim inalidade, a
crim in alidade oficial e t radi cional, da qual est ão excluídas algum as form as d e
crim in alidade, com o a do “ colarinho branco” , cuj os aut ores, salvo raras exceções, não
são pobres.

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Sut herland chegou à con clusão de qu e a con du t a desviant e n ão pode ser im put ada a
disfun ções ou inadapt ação do indi viduo das classes pobres, senão à aprendi zagem efet iva
dos valores crim inais. A capaci dade ou dest reza e a m ot i vação necessária( s) par a o delit o
apr endem - se m edi ant e o cont at o com valores, at i t udes, definições e paut as d e con du t as
crim in ais n o curso dos processos d e com unicação e int eração dos in divíduos.

O pressupost o da t eori a da aprendizag em consist e na idéia de organização social


diferen ci al, que se con ect a com as concep ções de con flit o social. A associ ação di ferencial
é um a conseqüência lógica do principio de apr endizagem m ediant e associações ou
cont at os em um a sociedad e pluralist a e conflitiva.

Te oria do e tique t a m en to - La be lin g Approa ch

Por vol t a dos an os 1970 , ganh ou dest aqu e u m a expli cação int eracionist a do fat o delit ivo,
cuj o pont o de part ida são con ceit os de condu t a desviant e e reação social . Seus principais
represent ant es são Garf inkel, Goffm an , Eriksan , Becker, Sh ur e Sack. De acordo com a
perspect iva int eracionist a, n ão se pode com preen der o crim e prescin dindo da própria
reação soci al, ist o é, do processo soci al de def inição ou seleção de cert as pesso as e
condu t as, et iqu et adas com o deli tivas. Delit o e reação social são expressões
int erdependent es, recíprocas e inseparáveis. O desvio n ão é u m a propri edad e im anen t e à
condu t a, m as um a qu alidade que lhe é at ribuída por m eio de com pl exos processos de
int eração social - - processos esses selet ivos e discriminat órios.

A et iquet a colada ao delinqüent e m anifest a- se com o um fat or negat ivo que os


m ecanism os de con t rol e social repart em com o m esm o crit ério de di st ri bui ção de bens
positi vos, l ev an do em cont a o st at u s e o pap el das pessoas. Port ant o, as ch ances, ou os
ri scos, de ser et iqu et ado com o delinqüent e não dependem t ant o da con dut a, m as da
posição do in di víduo na pi râm ide social.

Essa t eori a part e d a consi deração de que n ão se pode com pr een der a cri m inalidade se
n ão se est uda a ação do sist em a pen al , que a define e r eage cont ra ela - - com eçando
pel as norm as abst r at as e segu indo at é a ação das inst âncias oficiais. Por isso, o st at u s
social de delin qü en t e pressu põe o efeit o da at i vidade das inst âncias oficiais de con t role
social da delinqüência. Nesse sent ido, o “ Labelin g Approach ” t em se ocupado
principal m ent e com as reações das in st âncias oficiais de con t role social, e sob est e pont o
31/59
de vi st a t em est u dado o efei to est igm at izan t e da at ividade da políci a, dos órgãos de
acusação pú blica e dos j uízes.

O hori zont e den t ro do qual o “ Labelin g Approach ” se sit u a é, em gr ande m edida,


dom inado por du as corren t es d a sociologia am erican a: o int eracioni sm o sim bólico, de
George Mead, e a et n om et odologia, de Harold Garfin kel e out ros, in spirada n o filósofo
fenom enólogo Alfred Schu t z. Segu ndo o in teracionism o si m bóli co, a sociedade é
const it uída por um a infinidade de in t erações concret as ent r e indivídu os, aos qu ai s um
processo de t i pifi cação confere u m significado in dependent e, relat i vam ent e, de si t uações
concret as, o qual se m an t ém e est ende at ravés da li ngu agem . Tam bém segu ndo a
et nom et odologia, a sociedade n ão é u m a realidad e que se possa conh ecer sobre o pl ano
obj et ivo, m as produ t o de um a const ru ção so cial , obtida at r avés de u m processo de
definição e de t ipificação por part e de in divíduos e de grupos diversos.

Um i m port ant e est udo das i dentidades e das carreiras d esvi an t es foi reali zado por
Howard Beck er. Analisando a carrei ra dos usu ários de m aconh a, nos EUA, Beck er
m ost rou que a m ais i m port ant e con seqü ên cia da aplicação de san ções consist e n um a
decisiva m udan ça de iden tidade social do indi víduo, m udança qu e ocorre logo no
m om ent o em qu e é in t rodu zido no st at u s de desvian t e.

Edwin Lem er t prossegue ressalt ando que a reação soci al ou a pu ni ção de um prim ei ro
com port am ent o desviant e acab a por gerar, at r avés de um a m udan ça n a iden tidade social
do indi víduo assim est igm at izado, u m a t endência a perm an ecer no papel social no qu al a
est igm at i zação o in t roduziu. Nesse sen t ido, a int er ven ção do sist em a p en al, ant es de t er
u m efeit o reeducat ivo sobre o delin qüent e, det er m ina um a consolidação da iden t idade
desvian t e do condenado e seu ingresso em u m a verdadeira e própri a carreira cri minosa.

Corresponde ao “ Labelin g Approach” o m érito de t er ressalt ado a im port ância da ação


selet i va e discri minat ória realizada pel as in st âncias e m ecan ism os de seleção do con t role
social. Com preenden do o problem a crimi nal com o um processo soci al de definição e de
seleção de cert as pessoas e condut as et iquet adas com o deli tivas.

Te oria do Conflit o

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Segundo Marx e Engel s, o processo de brut alização das relações sociais, int ensificado
pelo capit alism o in du st ri al, at u ou de form a n egat iva sobre a própri a fibra m oral da cl asse
operária. Esse processo t eri a degradado t an t o os hom ens qu e o cri m e passou a ser um
índice de t al processo. Várias vezes os aut ores fizeram correlações diret as en t r e o
capit alism o, a m i séria soci al e o aum en t o das t ax as de crim es. Um a idéia form ul ada por
Engels poderia ser assim sint et izad a: a propriedade pri vada au m ent aria o grau de
com pet ição en t re os in di víduos dent ro do m ercado de t rab al ho ou m esm o dent ro da
própria fábrica, o qu e con t ribuiria para degener ar a solidariedade ent re eles e,
conseqüent em ent e, aum en t ari a as t en sões qu e resu lt ari am em crim es. Por isso,
afirm av a, não dev eri am ser os in di víduos a sofrer sanções e pu nições por i sso. As
condi ções sociais, por darem origem ao cri m e, é que deveriam ser responsabili zadas.

De acordo com a an áli se m ar xi st a, o delit o é sem pre um produt o hi st órico e contingent e


da sociedade capi t alist a. Essa concep ção t eórica cont em pla a ordem social com o
confron t ação de cl asses ant agônicas ( bu rgu esia X prol et ariado) , por m eio da qu al u m a
del as se sobrepõe e explora a out ra, ser vin do- se do direito e da j u st iça pen al. O conflit o
inerent e à sociedad e capit alist a é u m confli to de classes, en raizado no m odo de produção
e na in fra- est ru t ura econ ôm ica.

As t eori as m arxist as do conflito apel am par a a est rut ura classi st a da sociedade capi t alist a
e concebem o sist em a l egal com o u m m ero inst rum en t o a serviço da classe dom inant e
par a oprim ir a classe t r abalh adora. Os in t egrant es e agen t es da j u st i ça pen al não
est ariam organizados p ar a lut ar cont ra o deli t o, m as para i dentifi car e punir o segm en t o
desvian t e den t r e as com ponent es das classes t rabalhadoras que const ituem o obj et o por
excelên cia de seu con t rol e.
Seus pri ncipais post ulados são:
1) A ordem social da m oderna soci edad e in dust ri ali zada não t em por base o
consen so, m as o dissen so.
2) O conflito n ão expressa um a r ealidade pat ológi ca, senão a própria est rut ura e
dinâm ica do processo social.
3) O Direit o represent a os valores e in t eresse das classes ou set ores sociais
dom inant es. Não corresponde –com o i dealm ent e seria definido- - aos v al ores e à
visão con sensual gerada em harm onia pela sociedade.
4) O com port am ent o delitivo é um a reação à desi gu al e in j ust a dist ribuição de poder
e riqueza na sociedade.
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As diferent es int erpret ações sociológicas sobre a definição e a “ produ ção” do crim e
abriram um cam po fért il de an álises n o cam po j urídico para os est udos do crim e, a
crim in ologi a. A sociologia criminal dem onst rou que o crim e e a pen a est ão relacion ados
aos fenôm enos soci ais e, ainda, que é a própri a sociedade qu e cria o cri m e ao det er m in ar
as regr as – as qu ai s são escrit as ( segun do cert a t radição sociológica, de cort e m arxi an o)
par a a prot eção das classes m ais favorecidas e de seu pat rim ônio, sen do, dessa form a,
direcionadas para crim inalizar os com port am ent os das classes b aixas, rot uladas e
et iquet ad as com o “ perigosas” .

Essas con t ribuições da sociologia para os est u dos do cri m e perm iti ram que, a part ir da
segun da m et ade do século XX, duras e profundas criti cas fossem di rigidas ao si st em a
pen al das sociedades indust riais. A crise das pr opost as d e ressoci alização dos crim inosos
e os infinitos problem as dos sist em as pen ais der am l ugar a m últi plos e prof undos
deb at es acer ca d a i nutilidade d a p en a e da form a sel et iva e est i gm at izant e que
caract erizaria, para as visões críticas, boa part e da at uação o sist em a penal .

h t t p: / / novo.vi vafav el a.com .br/ publique/ cgi/ cgilua. exe/ sys/ st ar t .ht m ?infoid= 46306 &sid=
87
h t t p: / / www.fun kderaiz.com .br/ 20 09_ 08 _01_archive.h t m l

A part i r das notícias nos links acim a, o que você ent ende por cri minalização de um a
cult ura do funk? Sabe- se que as let ras das m ú sicas se r efer em a t em as com o a
violên cia, a crim in alidade, as prát i cas sexu ais e drogas. Mas essa n ão é a r ealidade
vivida pelas pessoas qu e criam e gost am do f u nk? A m úsica n ão é a expressão de
n ossa r ealidade? Poderá ser ent endi do com o crim e algu ém falar da realidade que vive?

Vam os di al ogar! Acesse o Fóru m de Di scu ssão e opin e.

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I den t ifique um a si t uação on de ocorreu a in cri min ação do indivi duo baseado n a
e t ique t a m e n to, ou sej a, f at ores com o cor da pele, roupa, classe soci al foram
det erm i nant es p ar a suspeição e incrim inação.

Leia: A Máquin a e a Revolt a, de Alba Zalu ar

Assist a ao docu m ent ário Raízes da Violência ( Be hind t he H a tre d - The Root of
Conflict ) .

Est a aula deu segui m ent o à apr esent ação das t eorias soci ológi cas qu e em m uit o
cont ribuem p ar a os est udos da cri min ologia. A propost a foi com preender qu al a
i m port âncias d essas t eori as par a ent en derm os o papel do crim e n a sociedade. Com o j á
foi dito, um a t eoria não ex clui a ou t ra, podem os realizar t rab alhos de pesqu isa e est udos
que correl acionem diferen t es variáveis e abordagens.

Na próxim a au la ver em os os m ovim en t os de políti ca pen al crim inal cont em porâneos.


Conh ecer em os a propost a das Teorias do Gar an t ism o e do Abolicionism o Penal
represent ando um a per spect iva da g arant ia dos direi t os fundam ent ais e a aplicação do
direit os penal com o ult im a rat io. Eem out ra per sp ect iva o recrusdecim ent o penal
present es n os m ovim ent os de Lei e Ordem e Toler ân ci a Zero.

BARATTA. Alessandro. Crim inologia Cr ít ica e Críti ca a o dire it o pe na l. Rio de Jan eiro:
Rev an , 20 02.
DURKHEI M. Ém ile. As re gra s do m é t odo soci ológico. São Paulo. Mart in s Claret , 2 002 .
MOLI NA. Ant onio Garcia- Pablos e GOMES, Luz Flavio. Crim inologia . São Paulo: Edit ora
Revist a dos Tri bu nais, 2002. Pg. 19 4-196
SHECAI RA, Sérgio Salom ão. Crim inologia . São Paulo: RT, 20 04 .
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Au la 5 : M ov im e nt os con t e m por â ne os de política pe na l

Ao final dest a aul a, você dever á ser capaz d e:

1 . Com preender as t endên ci as con t em porân eas que nort eiam as políticas pen ais;

2 . I dent ificar com o essas t en dên cias t em produzido em nossa legislação pen al al t erações
significat ivas;

3 . An ali sar em que m edi da o discu rso dos apar elhos repressi vos do est ado e o cont role
social realizado pelas in sti t uições policiais são influenciados pelos argum ent os punitivos
ou garant ist as na at u alidade.

Est udo dirigido da a u la

1 . Leia o t ex t o con du t or da aul a.


2 . Part icipe do fórum de discu ssão dest a aul a.
3 . Realize a at i vidade propost a.
4 . Leia a sínt ese da su a au la.
5 . Leia a ch am ad a par a a aul a segui nt e.
6 . Realize os ex er cícios de aut ocorreção.

Ol á! Sej a bem - vindo à aula M ovim e nt os cont e m porâ n e os de polít ica pe na l.

A propost a dessa quint a aula da disciplina de I nt rodução à Crim in ologia é an alisar as


principai s t endências da política crimi nal contem porân ea. Agora que você j á con hece
as prin ci pais t eorias qu e an alisam o fenôm eno criminal, vam os conh ecer os m ovim en t os
at u ais de cont role social da cri min alidade at ravés de du as corret es opost as: di reito penal
m ínim o e direit o penal m áxim o.

Esses m ovim en t os t êm produ zi do i m pact os ef et i vos n as políti cas penais, t ant o na esfer a
l egislat i va com o nas políti cas de segu rança pública. I m port ant e ressalt ar qu e sob
orient ações t eóricas bast ant e dist int as essas t endências est ão sendo elaboradas em
diferen t es cont ext os soci ais, políticos e econôm icos. O m ovi m ent o conh ecido com o Lei e
Ordem é de orien t ação nort e- am eri cana, a ab ordagem crítica encon t ra seu s principais
adept os na Am érica Lat ina e t en dência Abolicioni st a e Gar ant ist a na Europa Ocident al.

Boa aula!

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DI REI TO PEN AL M Í N I M O

Crim inologia Crít ica , Ga ra n ti sm o Pe n a l e Abolicionism o

A t eori a crítica do direi to penal t eve su a origem n os an os 70 e su rgiu na m esm a época


n os Est ados Unidos e na I ngl at err a, os doi s prim ei ros m ovi m ent os que nascer am foram o
da Uni versi dade de Berkeley qu e se denom inou Union of Radical Crim inologist s e o
m ovim en t o inglês organizado em t orn o da Nat ional Deviance Conference.

Segundo a persp ect iva crítica, a crim in alidade não é m ais um a qualidade ont ológica de
det erm i nados com port am ent os e de det er m in ados in divíduos, m as se r ev ela,
principal m ent e, com o um st at u s at ri buído a det erm in ados in divíduos, m edi an t e um a
dupla seleção: em prim eiro lu gar, a sel eção dos ben s prot egidos penalm en t e e dos
com port am ent os of en sivos dest es ben s descritos nos t ipos pen ai s; em segundo lu gar a
seleção de in di víduos est i gm at izados en t re t odos os que reali zam in frações a n orm as
pen al m ent e sancionadas. Nest e sen t ido, as classes su balt ern as são aquel as selecion adas
n egat ivam ent e pelos m ecanism os de crim in alização e as est at íst icas i ndicam qu e a
gran de m aiori a da população carcer ária é de ext r ação prol et ária, de set ores do
subprolet ariado e, port ant o, das zonas sociai s margin alizadas.

Um a das princi pais críticas ao di reit o penal burguês se r efer e ao m it o da igualdade social,
o mi t o liberal de qu e o direit o pen al prot ege a t odos igualm ent e e d e qu e a lei pen al é
igual para t odos. Opost as a est as proposi ções, a abordagem crítica afirm a que o direit o
pen al n ão defende a t odos e som ent e os b en s essenciais, a lei pen al n ão é igual para
t odos e o st at us de crim inoso é dist ribuído de m odo desigu al en t re os indivíduos. Dessa
form a, o si st em a penal de con t rol e do desvi o, revela assim , com o t odo direito burguês, a
cont radição fundam ent al ent re igu aldade form al dos suj eit os de direit o e desigualdade
subst an ci al dos indi víduos.

De acordo com a cri minologia crít ica, o direito penal t en de a privilegiar os in t eresses d as
classes dom in ant es e a i m u nizar do processo de criminalização, com port am en t os
socialm en t e d an osos t ípicos dos indivíduos a elas pert en cent es, e li gados fu ncionalm ent e
à exist ên cia da acum ulação capit alist a, e t ende a di rigir o processo de cri min alização,
principal m ent e para f orm as de desvio típicas das classes subalt ernas.

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Segundo Alessandro Barat t a, as est rat égias para um a política criminal das classes
subal t ern as deve ser:
* inserção do probl em a do desvio e da crim inalidade n a an álise da est ru t ura g eral
da soci ed ade capit alist a;
* am pliação e reforço da t u t ela pen al em áreas de int eresse essencial para a vida
dos indivíduos e da com u nidade: saú de, segurança no t rabalho, in t egridade ecológi ca,
crim in alidade econ ôm ica;
* radical e coraj osa despenalização, de cont ração ao m áxim o do si st em a pu nit ivo,
com a ex clusão, t ot al ou parcial , de inum eráveis deli tos de cost um es, de m oral, et c;
aliviando a pressão negat iva do sist em a pu niti vo sobre as classes su balt ern as
( despen alização significa t am b ém a su bst it uição de sanções penais por form as de
cont rol e legal n ão est igm at i zant es - sanções adm ini st rat ivas ou civi s) ; derru bada dos
m uros dos cárceres e abolição da inst it uição carcerária. As et apas de aproxim ação desse
obj et ivo podem ser con st i t uídas pelo alargam ent o do sist em a de m edidas alt ernat ivas,
pel a am pliação da su sp en são con di cional da pen a, pel a in t rodução de form as d e
execução da p en a det en t iva em regim e de sem i-liberdade, assim com o aber t ura do
cárcer e par a a soci edade at r avés de par cerias e associ ações com organi zações civis.
* Avaliação do papel da m ídi a e sua influ ên cia no senso com u m no reforço aos
est ereót ipos, que legitim am a ideologia das classes dom in an t es. Di scussão am pl a sobre o
efeit o da m ass- m edi a n a i ndu ção do al arm e social ( Cam pan has de lei e ordem ).

Est as propost as defen dem u m “ direi t o penal m ínim o” , negando a legit imidade do si st em a
pen al , m as propondo um a al t ernat iva m ínim a “que considera com o m al m en or
n ecessári o” . De acordo com Zaffaroni est a propost a d ev e basear - se na m axim ização do
sist em a de garant i as l egais, colocando os direi t os hum an os com o obj et o e lim it e da
int ervenção pen al . O propósit o é dim inuir a quant i dade d e con dut as t ípicas procurando
pen alizar som ent e as m ais danosas, prescin dindo bagat elas e fazendo cu m prir
ri gorosam en t e as gar an t ias legais. Segun do ele “ o direit o penal mínim o, é, de m an ei ra
inquest ionável, um a propost a a ser apoiada por t odos os qu e desl egitim am o si st em a
pen al, n ão com o m et a in su peráv el e, sim , com o passagem ou t rânsito para o
abolicioni sm o, por m ais inalcançáv el que est e hoj e par eça” (ZAFFARONI , Eugenio Raul.
Em busca d as penas perdidas. Ob.Cit .. Pg. 106)

Sobre a defesa do di reit o penal mínim o t am bém escreve Ferr aj oli, qu e defen de o que
ficou conheci do com o Ga ra n tism o. Segun do ele a m ínim a in t erven ção significa que o
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Est ado deve in t ervir unicam en t e nos casos m ais grav es, prot eg endo os bens j urídicos
m ai s im port ant es, sendo o di reito penal o úl tim o recu rso qu an do j á cessaram as
alt ernat ivas rest an t es.

Concebe- se o program a políti co- cri minal mi nim alist a com o est rat égia par a m aximi zar os
direit os e reduzir o im pact o penal na sociedade, dim inuin do o volum e de pessoas n os
cárcer es at r avés de processos de descri min alização e desp en alização. Tr at a- se de u m
crit ério de economi a qu e procura obst acu lizar a expansão pen al , legitim ando proibi ções
som ent e qu ando absolut am ent e necessárias. Os direitos fundam en t ais, n est e caso,
corresponderiam aos li mi t es do direi t o penal.

Ferraj oli indica t rês classes de delit os que dev eriam ser am plam en t e d escri minalizadas
sob o am p aro const it u cion al. Em t erm os qu ant it at i vos, dev eri am ser ex cluídos os d elitos
de bagat ela ( con t rav en ções, delitos pu nidos com penas pecu niárias ou rest ri tivas d e
direit os) qu e n ão j ust ificariam o processo pen al e m uit o m en os a p en a. Ao ver sar sobre
as t ipi ficações de condut as qu e n ão af et am ben s j u rídi cos, com o por exem plo, o con su m o
de drogas, o in cest o, a sodomi a e/ ou homossexu alism o, Zaffaroni afirm a qu e est as
n orm as penais t ut elam pau t as ét icas, norm as m orais, e não ben s j urídicos. Confront ando
com o pressupost o da lai ci zação do direit o penal, o aut or se opõe a j un ção da m oral com
direit o, e ainda a im posição de um a m oral det er m inada.

Para Ferraj oli, a deslegitim ação do sist em a p en al não correspon de à i déia de


irracion alidade de nossos sist em as pen ais vi gent es e operan t es, e a im possi bilidade
radical de legit im ar qu alquer si st em a pen al. Ele recusa essa radicali zação afirm an do que
m esm o em um a sociedade m ais dem ocr at izad a e i guali t ária seria necessário um di reit o
pen al m ínim o com o m eio de serem evi t ados dan os m aiores. O direi t o penal m ínim o
l egitim a- se unicam en t e at r avés d e razões ut ilit árias, ou sej a, pela prev en ção de u m a
reação form al ou inform al m ais violent a con t ra o delito, funcionando esse direit o penal
com o um inst ru m ent o im pediti vo de vingança.

Esse pensam en t o se opõe à corrent e de pensam ent o orient ada par a abolição das pen as e
dos sist em as p enais. O grupo de pensadores qu e pode ser adst rito a essa orient ação não
se int eressa por u m a políti ca criminal alt ern at iva, m as si m , por u m a al t ernat iv a à políti ca
crim in al. O a bolicionism o n ega a legitim idade do sist em a p enal t al com o at ua n a
realidade social cont em porânea e, com o prin cípio geral, nega a legitim ação de qu al quer
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out ro si st em a p enal que se possa im aginar no fut u ro com o alt ernat iva a m odelos form ais
e abst r at os d e solução de con flitos, post ulando a aboli ção radi cal dos sist em as penais e a
solução dos conflit os por inst ân cias ou m ecan ism os inform ais.

Os ch am ados “ abolicioni st as” afirm am qu e o sist em a p en al só t em servido para legi tim ar


e reprodu zir as desigualdades e inj ustiças sociai s, e o direit o penal é considerado um a
inst ân ci a sel et iva e elitist a. São m u it as as suas razõ es par a abolir o sist em a pen al Aqui
são li st adas algum as delas: - vi vem os num a sociedade sem direit o pen al , porque a cifra
n egra é altíssim a; - o si st em a é anôm ico, e o di reito pen al não prot ege a vida, a
propriedade e n em as rel ações sociai s, não at ingindo seu int ent o; - o sist em a é selet ivo e
est igm at i zant e, e visivel m ent e cria e reforça as desigualdades, é discri minat ório; - o
sist em a pen al é um a m áquina par a produzir dor inu tilm ent e, a ex ecu ção d a pen a é um
m eio de sofri m ent o e dor m oral e física; - a pena de prisão é ilegítim a, só se pode falar
em p ena quando há “acordo ent re as par t es”. Ela não reabilit a o preso, ao con t rário,
causa ef ei t os dev ast adores sobre su a p erson alidade.

Hulsm an conclui ser o si st em a p en al um problem a em si m esm o e, diant e de su a


crescen t e inut ilidade na solução d e con flit os, t orn a- se pr eferível aboli-lo t ot al m ent e com o
sist em a repr essivo. Sua propost a é subst i t uição diret a do sist em a penal não por um
m acro-nível est at al, m as sim por inst âncias int erm ediárias ou indi vidualizadas de solução
de conflit os qu e at end am às n ecessi dades reais das p essoas en volvidas. Par a ele os
conflit os podem en cont rar soluções efet ivas ent re as p art es envol vidas at rav és de
m odelos de solução de conflitos ( m edi ação, conciliação) e propõe u m a recon st ru ção de
vín culos solidários de si m pat ias hori zont ais ou com unit árias, qu e p erm it am a resolução
dos conflitos sem a necessi dade d e apelar par a o m odelo punit ivo form alizado
abst r at am ent e.

I m port an t e ci t ar ain da ou t ros aut ores dest a t en dência: Mat h iesen e Nils Ch ristie. O
prim eiro vincula a exist ên cia do sist em a penal à est ru t ura produ tiva capit ali st a, su a
propost a parece aspirar não apen as a abolição do sist em a penal, com o t am bém a
abolição de t odas as est ru t uras repr essiv as da sociedad e. Já Nils Christie acredit a que a
possibilidade d e su bst it uição dos i ndivíduos/ papéis no si st em a “ orgânico” , t orna os
excluídos do m ercado os can didat os ideai s par a o sist em a pu niti vo, dest e m odo,
cent raliza su a argum ent ação em f undam en t os ét icos ori ent ados a redu zi r o sist em a penal
com o sofrim en t o i m post o às pessoas de m odo in t en cion al .
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Essas t eori as críticas surgidas no cam po da crim inologi a, ain da que t enham represen t ado
i m port ant e av an ço na discussão acerca dos sist em as penais, est iveram nos últim os an os
circun scrit as ao cam po acad êm ico e pou co poder d e influ ên ci a t iver am n a al t eração ou
reform ul ação de leis pen ais nos últim os anos n o Brasil. O único m ovi m ent o que no Brasil
gan hou not ori edade n os an os 90 por propor reav ali ar a at u ação do si st em a j urídico foi o
Movi m ent o do Direit o Alt ernat ivo. Est e m ovim ent o propõe u m a ru pt u ra com o di reit o
liberal / posit ivi st a qu e est ru t ura o “direito burguês” e m ant ém o esquem a de dom in ação
n a soci edade capit alist a.

O qu e se pode not ar no caso brasileiro, é que os argu m ent os na defesa de ideai s de


despen alização ou deslegiti m ação do direit o pen al assu m i dos por pesquisadores, j u rist as
ou in t el ect uais são desconst ruídos sob a t ese da alt a cri minalidade br asileira. Fr ases do
t i po “quem def ende i sso, nun ca passou por u m assalt o! ” ou “ depois qu e você p assar por
i sso você vai defender a pen a de m ort e! ” pode ser facilm en t e ouvida; poi s esse é o tipo
de discurso que con st rói o m edo e se confron t a com t odas as propost as
descrim inalizadoras e d espen alizadoras qu e n os últi mos anos foram produzidas, m as qu e
surt iram pouco efeito na discussão e n a produção da legislação penal brasileira.

A im port an t e cont ri buição das pesqu isas nas ci ên ci as sociais de Cohen, Sut h erl and e
Becker se r eproduziram n o Brasil em m uit as out ras p esqu isas e t r ab alhos rev eladores
das form as crim in ali zadoras e selet ivas que oper a o sist em a p en al brasileiro ( polícia,
t ri bun ai s e cár ceres) , qu e at u a n a verdade sob a form a de u m filt ro. A sel et ividade do
sist em a se di reciona para àqueles indivíduos que se acham em est ado de vuln erabilidade
ao poder pu nit ivo, e est a selet ividade se corresponde com est erióti pos crim inais
const ruídos socialm en t e, col ocan do al gun s indivídu os e com port am ent os em si t uações de
ri sco cri min alizan t e.

Malagut i em su a p esquisa sobre as drogas e a j u vent u de pobre do Rio de Jan ei ro


observou a visão sel et iva do sist em a pen al para adolescent es infrat ores e a diferen ciação
n o t rat am ent o dado aos j oven s pobres e aos j ovens ricos. Segun do ela, est a form a
selet i va, “ apont a para um a política de perm an en t e genocídio e viol ação dos direitos
h um an os cont ra as classes sociais vulneráv ei s: sej am eles j ovens negros e pobres d as
fav elas do Ri o de Jan eiro, sej am cam poneses colom bianos, sej am i migran t es
indesej áveis do Hem isfério Nort e”. A vu lnerabilidade de j ov en s pobres t am bém é
analisada por Zalu ar, qu e cham a at enção para o recru t am en t o de j oven s pel o m ercado
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de drogas n as f av el as e bairros pobres, onde é com um o uso de arm as de fogo, e as
oport unidades educacionais e econôm icas são inadequ ad as ou in exist en t es.

Os dados da pesqui sa de Musu m eci e Ram os sobre quem é o elem ent o suspeit o escolhido
pel a poli ci a para ser abordado n o Rio de Janeiro rev el am qu e ser par ado( a) andando a pé
na ru a ou em t ransport e colet i vo é uma experiência que de fat o i ncide
desproporcion alm ent e sobre negros e, no caso da abordagem de pedest res, t am bém
sobre os j ovens e pessoas de baixa escolaridade. A qu est ão r acial t am bém é est udad a
por Silva. Segundo ele, no Brasil , um dos com ponent es m ais im port ant es do preconceit o
social é o preconcei t o raci al ( de cor) .

A e x pa nsã o do sist e m a pe na l com o um a nov a ide ologia de cont role : M ov im e nt o


Le i e Orde m e Tole râ ncia Ze ro

Se cont rapondo ao program a de direit o penal m ínim o, do direit o pen al con sti t ucional,
que se baseia n a prot eção in t egral dos di reit os fu ndam ent ais, t em - se o eficien tism o
pen al , u m di reito pen al de em erg ên ci a qu e se expressa at ravés de políti cas crim inais
repressivas e crim in alizant es, basean do- se n o discurso da “ lei e da ordem ” ; um
fundam en t alism o penal crim inalizador dos conflitos sociais.

Sob o discu rso de “ gu erra à crim inalidade” , d e com bat e a viol ên ci a, o efi ci en tism o vai na
cont ra m ão das conven ções int ern acionais de prot eção aos direit os hum anos e dos
princípios constit ucionais m odernos e in st i tui um sist em a pen al repressivo e si m bólico de
Tol erância Zero. Essa é a t endência ideológica que passou a i m perar nos Est ados Unidos
e qu e se espalhou pela Europa e Am érica Lat ina.

A fim de gar an t ir a segu rança urban a, surgiu nos anos 8 0, n o pan oram a político cri minal,
o Movim ent o “ Lei e Ordem ” . O discurso j urídico-pen al de “ lei e ordem ” con cebe a p en a
com o um cast igo e propõe, al ém da supressão de di reit os e garant i as in di viduais,
punições cad a vez m ais sev eras p ar a com b at er o au m ent o da crim in alidade, incluin do a
aplicação da p ena de m ort e e prisão perp ét ua p ara cri m es gr aves, const rução de
pen it enciári as de segur ança m áxim a e im posição de sev eros regim es prisionais,
dim inuição dos poderes do j ui z de execução penal e a at ribuição dest es à aut oridade
pen it enciári a.

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At relado ao discurso da Lei e Ordem , a política de Tol erância Zero da prefeit ura de Nova
York no m an dat o de Rudolph Giuliani f oi bast an t e difun dida com o um novo m odelo de
com bat e ao crim e. A propost a da “ Tolerância Zero” propõe um a repr essão in t en sa e
intolerant e com relação a pequ en os delit os com o form a de reforço da segu ran ça pú bli ca.
Nest e cam inho, nos anos 90 , Nova York exp andiu seus recu rsos d est in ados à
m an ut enção da ordem e em 5 anos aum ent ou seu orçam en t o par a a poli ci a em 40 % ,
quat ro vezes m ai s do que as v erb as dos hospit ais pú bli cos.

O program a Tolerância Zero se baseia, em gran de m edi da, na cham ada t eoria das
j an elas qu ebr ad as (broken win dows) . Essa t eoria foi divul gada pelo fam oso art igo do
m esm o n om e d e aut oria de Jam es Q. Wilson em parceria com George Kellin g e pu blicado
em 198 2, n a revi st a nort e- am erican a At lan t ic Mon tly. O argum en t o principal da t eoria é o
de que u m a pequena infração, quando t olerada, pode l ev ar a u m clim a de anom ia que
ger ará as condições propícias par a qu e crim es m ai s graves acon t eçam . Segundo a
m et áfora das j an el as qu ebr ad as, se algu ém qu ebra u m a j an el a de u m a casa ou edifício e
est a n ão é con cert ad a, ou t ros virão t am bém quebrar, e t odos que por ali circulam
adm it irão qu e nin guém se im port a com os at os de i ncivilidade e o abandono local,
ger ando um sent im ent o de decad ência de d esordem social . De acordo com a t eoria, a
desordem vai t om ando cont a daqu el a região, o que dem onst r a aos cidadãos qu e aqu ela
zona é insegura e pront a a se con ver t er em t errit ório do crim e.

Qu an t o à viol ên ci a, os au t ores afirm am que os crim es m ais graves são f rut os de um a


série de pequ en os delit os n ão punidos e qu e levam a form as m ais gr aves d e
delinqüência. Nas p alavras de Wil son e Kellin g “os crim es grav es florescem em áreas em
que os com port am en t os d esordeiros perm anecem sem respost as. O pedin t e qu e ag e
livrem ent e é, com ef eit o, a prim eira j anela quebrada” .

A t eoria das j anelas quebradas p assou a ser obj et o de discussões em v ários instit u t os de
pesquisa e cen t ros vol t ados p ar a r eflexão e sobre políticas de segurança pú bli ca n os
Est ados Unidos. Um dos in stit ut os que popul arizar am as idéias de Wilson e Kelling foi o
Manh at t an I nst it u t e, cuj os sem in ários con t av am com a freqü en t e presen ça de Rudolph
Giuli ani, ant es de ser pr efeit o de Nova York. As palest ras e d eb at es t i nham o obj et ivo de
buscar alt ern at ivas d e políticas de segu ran ça pú bli ca qu e l evassem em cont a as
preocu pações d a t eori a das j anelas quebr ad as.

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Após assum ir a prefeit u ra de Nov a York Rudolph Giuli ani, em 19 94 , colocou o chefe da
policia de t r ânsit o William Brat t on no post o de Com issári o de Policia da cidade. Brat t on
foi o prin ci pal responsável pela aplicação da t eoria das j an el as qu ebradas, qu e forn eceu
u m v erniz de resp ei t abilidade pret ensam en t e cient ífica às políti cas que foram col ocadas
em pr át ica. Em bora j am ais t en ha sido validada em piricam en t e, a t eoria das j anelas
quebradas alcan çou st at us de v erdadeira form ula con t ra o crim e.

Belli ressalt a que alguns dados básicos sobre os índices de crim inalidade devem ser
considerados nos Est ados Unidos, segu ndo ele: a) os índices de crim in alidade de Nova
York j á est av am em queda h avia t r ês an os quando Giuliani iniciou seu m and at o, não
sendo port an t o um fat o t ot alm ent e n ovo; b) a baixa dos índices de criminalidade foi um
fenôm eno observ ado no pais in t ei ro , e não privilegio de Nova York; c) os índices
sem elhant es aos alcan çados em Nova York foram obt idos em varias cidades sem que se
t enh a feit o u so de t át icas do t ipo Tolerân cia Zero. De acordo com dados col et ados p elo
crim in ologi st a Alfred Blum st ai n, da Universidade de Carnegie Mellon de Pit t sbu rgh de
1 99 1 a 1998 , a t axa d e hom icídios caiu 7 6,4 % em San Diego, 7 0,6% em Nova York e
6 9, 3 % em Bost on . E as t rês ci dades em preg ar am est rat égias diferen t es, enqu an t o Nova
York enfat izou as políticas de Tolerância Zero, San Diego foi pioneira n o policiam en t o
com u nit ário e Bost on procu rou envolver os lideres r eligiosos n a prevenção do cri m e.
Ou t ras cidades t am bém t iver am redu ção nas t ax as d e homi cídios sem que qu al quer
est rat égia coer en t e t enh a sido im plem ent ada, com o Houst on 6 1,3% e Los Angel es
5 9,3% .

Segundo pesquisas de Wacquant , a dout rina d a Tolerân ci a Zero, inst rum en t o de


l egitim ação da gest ão policial e j udiciária da pobreza que in com oda, propagou- se at r av és
do globo a um a v elocidade alu cinant e, e com a ret órica m ilit ar da guerra ao cri m e e d a
reconquist a do espaço publico, qu e assim ila os delinqüent es, sem - t et o, m en digos, e
out ros m argi nais. Charl es Mu rray , do Man hat t an I nst it ut e, apoiado em est at íst i cas do
Minist ério da Just iça, con cl uiu que a t riplicação da população car cerária nos EUA ent re
1 97 5 e 1989 t eria, por seu efeit o neu t ralizan t e, evi t ado 3 90.000 assassinat os, est u pros e
roubos com violência; e lança a idéi a de que na au sência da pena de m ort e, a reclu são é
o m eio m ais ef icaz de im pedir os crim in osos com provados e not órios de m at ar, est uprar ,
roubar e f urt ar. Segundo a nova t eori a, o Est ado não deve se pr eocupar com as causas
da crim in alidade das classes pobres, à m argem de su a “ pobreza m oral” , m as apenas com
suas conseqüên cias, qu e ele deve pu nir com eficácia e int ransigên cia.
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Wacquant ch am a at enção p ara a propagação t am bém n a Europa de u m novo sen so
com u m pen al neoliberal , art iculado em t orno da m aior repressão aos delitos m enores e
às das sim ples inf rações, o agravam ent o das pen as, a erosão da especificidade do
t rat am en t o da d elinqüência j uven il, a vi gil ân ci a em cim a das populações e dos t errit órios
considerados de “ risco” , a desregu lam ent ação d a adm ini st ração pen it enciári a e a
redefinição da divisão do t rabalho ent re pú bli co e privado. Segundo ele, esse n ovo
m odelo penal se apr esent a em perfeit a h arm onia com o sen so com um neoliberal em
m at éria econ ôm ica e social , qu e ele com plet a e confort a “ desden hando qu al quer
consideração de ordem políti ca e cívica par a est ender a linh a de raci ocínio economi ci st a,
o im perat ivo da respon sabilidade indi vidual – cu j o avesso é a i rresponsabilidade colet iva
– e o dogm a da efi ci ên ci a do m ercado ao domínio do crim e e do cast igo” .

Suas pesqu isas rev elam que v em se obser vando nos Est ados Un idos e n a Europa um a
redefinição das m issões do Est ado, que, em t oda part e, se ret ira da ar en a econôm ica e
afirm a a necessidade d e r edu zi r seu papel social, am pliando e en durecendo sua
int ervenção pen al . Represent a assim , um en fraquecim ent o do Est ado soci al e o
fort al ecim en t o e glorificação do Est ado p en al . Os r esult ados dem onst r am , ai nda, que não
obst ant e as desi gualdades sociais e a insegurança econômi ca t erem se agrav ado
profundam en t e no cu rso dos dois últim os decênios, o Est ado carit at ivo am ericano não
parou de diminuir seu cam po de i nt erv en ção e de com prim ir seus m odest os orçam en t os,
a fim de sat i sfazer a du pli cação das d esp esas m ilit ares e a redi st ri bui ção das ri quezas em
direção às classes m ais ab ast ad as. A t al pont o que a gu erra cont ra a pobreza foi
subst it uída por um a guerra con t ra os pobres.

Para sust ent ar a redução dos gast os sociais os ideólogos am erican os con servadores
afirm aram que a depen dência pat ológi ca dos pobres r esult aria de seu desam p aro m oral e
am eaçaria a civilização oci dent al . Sob esse argu m ent o a reform a dos servi ços soci ais foi
vot ada pelo Congresso Am eri cano em 199 6, no governo Clin t on . Est a r eform a con sist iu
em abolir o direi t o à assist ên ci a social par a as crian ças m ais desf avoreci das e subst i t uí-lo
pel a obrigat oriedad e do salário desqu ali ficado e su bpago para seus pais. A nova
l egislação revogou o direit o à assist ência de qu e as crianças desfrut avam em
conseqüência do Social Secu rit y Act de 193 5, em seu lu gar ela in st au rou a obrigação
par a os pai s assist idos de t rabalhar ao cabo de dois anos, assim com o a duração
acum ulada m áxi m a de cinco an os de assist ên cia por u m a vida.

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Wacquan t af irm a qu e sob o m ant o da “ reform a” a l ei sobre responsabilidade in dividual do
t rabalho de 1 996 , confirm a a su bst it ui ção de um ( sem i) est ado – providência por um
est ado carcer ário e policial n o seio do qu al a cri min alização d a m arginali dade e a
cont en ção punitiva das cat egori as deserdadas fazem às v ezes d e polít ica social. A nova
ideologi a difu ndida afi rm a qu e a assist ên cia aos pobres só ser ve para m an t er n a
ociosidade e n o vício os h abit ant es do gu et o, nos quais encoraj aria os com port am en t os
ant i -soci ais.

E cont inu a:
A ut opia neoliberal carrega em seu boj o, para os m ais pobres,
m as t am bém para t odos aqu el es qu e cedo ou t arde são forçados a
deixar o set or do em prego prot egido, não u m acr éscim o de
liberdade, com o cham am seu s ar aut os, m as a redu ção e at é a
supressão dessa liberdade, ao cabo de um ret rocesso par a um
pat ern alism o repressivo de ou t ra época, a do capit alism o
selvagem , m as acr escido dessa v ez de um Est ado puni tivo
oniscien t e e onipot en t e. A “ m ão in visível” t ão car a a Adam Sm it h
cert am ent e volt ou, m as dessa vez vest ida com u m a “ lu va de
ferro” ( WACQUANT, 2001 , p. 151 ) .

A dest ru ição deliberada do Est ado social e a hi pert rofia súbi t a do est ado penal no ultim o
quart o de século são dois desen volvi m ent os concom it ant es e com plem ent ar es. El es
represent am o abandono do con t rat o soci al fordist a e do com promi sso keyn esian o em
m eados dos anos 7 0 e t am bém a crise do guet o com o inst rum ent o de confin am ent o dos
n egros. Ju ntos, eles part icipam do novo gover n o da m iséria, n o seio do qu al a prisão
ocupa um a posição cent r al .

O qu e as pesqui sas recent es de Wacquant v êm d em on st r ando é que n a au sência d as


políticas sociais, a t en dência verificada nos Est ados Unidos n as úl tim as décad as é d e um a
contínua exp an são do sist em a car cer ário. Com um cr escim en t o ful gurant e d as
populações apri si onadas nos t rês escalões do aparelho carcerário. Em 19 75 eram
3 80 .000 presos que salt ou em 1998 para 2 m ilhões. O assom broso cresci m ent o do
n um ero de presos explica- se p elo en carcer am ent o dos pequ en os delinqüent es e,
part i cularm ent e, dos t oxicôm an os. Pois, cont rariam en t e ao di scurso político e m idiát ico
dom inant e, as pri sões am eri can as est ão repl et as n ão de crim inosos perigosos e
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violen t os, m as de vu lgares conden ados pel o direit o com u m por n egócios com drogas,
fu rto, rou bo, ou sim pl es at en t ado à ordem pú bli ca, em ger al oriundos das p ar celas
precari zadas d as cl asses t r abalh adoras e, sobret udo das f am ílias do subprolet ariado de
cor nas cidades at ingidas pela t ransform ação co nj unt a do t r ab alh o assalariado e prot eção
social.

O aut or dest aca as fun ções da prisão no novo governo da m iséria; em prim ei ro lu gar o
sist em a penal cont ri bui diret am ent e par a r egul ar os segm en t os inf eriores do m ercado d e
t rabalho. El e com prim e o nível de desem pr ego ao subt r air à força de m ilhões de hom en s
da população em busca de um em pr ego e secun dariam ent e, produ z u m au m ent o do
em pr ego no set or de bens e serviços carcerários. Est im a- se que durant e a d écad a de 9 0
as prisões t i raram 2 pont os do ín dice de d esem prego am ericano. A segun da fun ção do
sist em a carcer ário é su bst it uir o guet o com o inst ru m ent o de en car ceram ent o de um a
população considerada t an t o desvi ant e e perigosa com o supérflua, no plano econ ôm ico e
político. Por fim , al ém de subst i t uir o direito à assi st ência das crian ças i ndigent es p ela
obrigação im post a a seus pai s de t r abalhar ao cabo de dois anos, a r eform a de w elfare
avalizada por Clin ton em 1996 subm et eu os ben eficiários da aj ud a pública a u m
fich am ent o int rusivo, inst au ran do u m a rígida su pervi são das su as con dut as, em m at éria
de edu cação, t rab al ho, drogas e sexu alidade.

Todavia, com r elação aos índices de crim in alidade violent a nos EUA, a t axa nacional de
h om icídios est acionou ent re 8 e 10 para cada 100 mil habit ant es d e 1 975 a 19 95 e a
freqü ên ci a de rou bos qu alificado oscilava ent re 2 00 e 250 para 10 0 m il. A t axa d e
vítim as d e agr essões e l esões corporais perm an eceu est ável por todo o período, cerca de
3 0 por 100 m il, a freqüência de violências caract erizadas con t ra a pesso a baixav a d e 1 2
par a 9 em cada 10 0 m il. Quan t o aos crim es con t ra os bens, el es di minuíram nit idam ent e,
poi s o ín di ce acu m u lado de vi tim ização por roubos e arrom bam ent os caiu de 550
incident es para 1 00 , mil habi t an t es em 1 975 para m enos de 3 00 , 20 an os m ais t arde.

O qu e se obser vou nos Est ados Unidos é que, a quadru pli cação em du as décadas d a
população encarcer ad a se explica não pelo aum ent o da crim inali dade violent a, m as pel a
ext ensão do recu rso à prisão par a u m a gam a de cri m es e d eli tos que at é ent ão não
incorriam em conden ação e reclusão, a com eçar pelas in frações m enores à legi sl ação
sobre os est u pefacient es e os at en t ados à ordem pú bli ca. A causa- m est r a dest e
crescim en t o ast ronômico da popul ação car cer ári a é a política de gu erra à droga, políti ca
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que desm er ece o próprio nom e, pois desi gna na verdade u m a gu errilh a de p er seguição
pen al aos vend edores de rua, dirigida cont ra a j uv en t ude dos guet os p ara quem o
com ér ci o do var ej o é a font e de em pr ego m ais acessível. Foi est a políti ca qu e ent u piu as
celas e escureceu seus ocupan t es.

As m edidas pen ais adot adas cont ribuíram ai nda m ais para o alongam en t o das pen as, que
revela o endureci m ent o da políti ca j udiciária no EUA, são algun s exem plos: o aum ent o do
quant u m i m post o t ant o aos delitos sem gr avidade quant o aos cri m es violent os, a
m ul tiplicação das infrações m ot i vando encar ceram ent o fech ado, e perpet u idade no
t er ceiro cri m e (t hree st rikes you ’ re out ) , aplicação da legislação adu lt a aos m en ores d e
1 6 anos. Assim , na m edida em qu e se d esf az a rede de segu rança do Est ado carit at ivo
( saf et y net ) , vai se t ecendo a m alh a do Est ado disciplinar ( dragnet ) ch am ado a subst it uí-
lo n as regiões in feriores do espaço social am ericano.

Se forem con t abilizados os indivíduos col ocados em liberdade vi giada ( probat ion ) e soltos
em liberdade condi ci on al ( parol e) por falt a de lugar nas peni t en ci árias, são cerca de 5
m ilhões de am eri canos, ou sej a, 2,5 da popul ação adul t a do país que caem sob j u risdição
pen al . A t radução fin an ceira desse gran de en carcer am ent o da m arginali dade não é difícil
de im aginar. Enqu an t o a part e dos recursos n acionais dest inada à assist ência social
dim inuía, o orçam en t o da j ust iça criminal do govern o federal foi m ul tiplicado por 5 , 4
ent re 19 72 e 1 990 .

A ext ensão do sist em a p en al se exerce prioritari am en t e sobre as fam íli as e os bairros


deserdados, p art icularm en t e os enclaves negros das m et rópol es. Os afro- am ericanos são
m aioria nas prisões em bora r epr esent em apen as 1 2% da população do país. Um h om em
n egro t em m ais de um a ch ance sobre quat ro de purgar pelo m enos um an o de prisão e
u m l at i no um a chance sobre seis con t ra u m a ch an ce sobre 2 3 de u m br an co. I sso m ost r a
o car át er di scrim in at ório das prát icas poli ci ais e j udiciais im plem ent adas n a política “ l ei e
ordem ” das du as ú ltim as décad as.

Os EUA recorreram n o cu rso de sua hi st ória, não a um a, m as a m uit as in st itui ções


peculiares par a definir, confinar e cont rol ar os afro- am erican os. A prim eira foi a
escr avidão, a segun da, o ch am ado sist em a Jim Crow ( sist em a legal de discrim inação e
segregação) , o t erceiro di spositi vo especial graças ao qual a Am érica cont eve os
descen dent es de escr avos n as m et rópoles do n ort e indust rial é o guet o. Para o Wacqu ant
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a qu art a in stit ui ção peculi ar da Am érica é o novo com pl exo in st i t ucional com post o por
vest ígios do gu et o negro e pelo aparat o carcer ário - a prisão se t orn ou o su bst it u t o do
guet o.

A con clusão de Wacqu an t é que a clien t el a das pri sões nort e am ericanas é recru t ad a
priori t ariam en t e nos set ores m ais deserdados da cl asse oper ária, e not adam ent e en t re
fam ílias do subprolet ariado de cor n as cidades profun dam ent e abaladas pel a
t ransform ação con j un t a do t rabal ho assalari ado e da prot eção social; o encarceram en t o
serve bem ant es à regu lação da m iséria, quiçá à sua perp et u ação, e ao arm azen am en t o
daqueles qu e est ão f ora do j ogo do m ercado. Os indi víduos que enchem os cár ceres
m unicipais são essencialm ent e os m em bros da rabble cl ass, i st o é, pessoas debilm ent e
int egradas à sociedad e e per cebi das com o de m á reput ação: gat unos e v agabu ndos,
m arginali zados, t oxi côm anos e p sicopat as, est r angeiros. São par a est es indivídu os que
se direcionam as políticas da Tol erância Zero, o discurso da Lei e a Ordem ser ve par a
gar ant ir o cont role sobre aqueles que n ão est ão int egrados à um det erm i nado “ m odelo
de sist em a social” .

No caso brasilei ro, cont ra t odas as propost as produ zidas no âm bit o acadêm i co de
redu ção do direito pen al e t odas as crít icas qu e o desl egitim am , com o descrit o n a sessão
ant erior, assist e- se no Brasil um a crescen t e expan são da esfer a penal, qu e se apresent a
com o u m a (apar en t e) solu ção fácil aos problem as sociais, at uando no plano si m bóli co,
par a t ranqüilizar a opinião pú bli ca e produ zi ndo um aum ent o v ert iginoso na população
carcer ária brasileira, sem , no ent ant o, se di scu t ir os reais probl em as sociais qu e assolam
a sociedade br asileira.

Vale dest acar br evem en t e o im pact o desse m ovim ent o de Recrudescim ent o Pen al na
Legislação Brasil eira:

 Crim es Hediondos - Con st it ui ção de 1 988 ( I nafiançáveis e I n su scet íveis de graça e


ani sti a: Tort u ra, Tráfi co de drogas e Terrori sm o e os d efinidos com o Crim es
Hedi on dos) .
 On da de seqü est ro em São Paulo e Rio de Janeiro produ zi u a Lei de Crim es
Hedi on dos 8 .07 2 de 1 99 0

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 Modificação na LCH Lei 8 .93 0/ 94 . Mort e da at riz Dan iel a Peres e as Chaci nas da
Can delária e Vigário Geral. I nclu são do Homicídio ( por gru pos de ext erm ínio ) e
Hom icídio qualifi cado.
 On da de Falsificação de Rem édios em 199 8. Lei 9695 / 1998. Fal sificação,
corru pção, adult eração ou alt eração de produt os t er apêu t icos e m edicin ai s.
 Lei cont ra o Crim e Organizado 9 .03 4/ 19 95
 O Regi m e Disciplinar Diferenciado RDD. Rebeliões em Presídios organizadas por
facções crim inosas - Lei 1 0.7 92 / 2003
 Resul t ado: aum ent o v ert iginoso no sist em a penit enciário 1990 h avia 90 mil
presos no país, n úm ero que salt ou par a cerca de 4 42,5 m il em 2 007 ,
represent ando u m aum en t o de 4 6 8 % no pe ríodo.

Leia o t ex t o disponível n o am bient e on-line, acesse o Fórum de Discu ssão e di scut a


em que m edi da o recru descim en t o pen al cont ribui para a redu ção da crim in ali dade. Ser á
que en du recer as leis penais produzirá ef eit os na redução dos crim es n o Brasil?

Tex t os par a pesquisa:

FOLHA DE SÃO PAULO. A políti ca de " t ol erância zero" par a cri m es, qu e foi adot ad a com
sucesso em Nova. York, é aplicável ao Brasil?
h t t p: / / www.nevu sp.org/ port u gu es/ index.php?opt ion= com _cont ent &t ask= vi ew&i d= 396&I
t em i d= 29

TORRES, Douglas Di as. O Direito Penal n a At ualidad e.


h t t p: / / www.direitonet .com .br/ art i gos/ exibir/ 333/ O- Direit o-Penal- na-At ualidade

DI CI ONÁRI O DE DI REI TOS HUMANOS. Gar ant ism o Pen al . Disponível em :


h t t p: / / www.esm pu. gov.br/ dicionario/ tiki-in dex.php?pag e= Gar an t ism o

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Na aula de hoj e vim os com o o debat e at u al das políticas pen ai s t em segu ido em
cam inhos opost os. De um lado t em os a defesa dos direit os indi viduais e a per spect iva
que defen de qu e a redução da crim inalidade não virá com endureci m ent o penal, m as ao
cont rário, som ent e com políticas que gar an t am os direi t os hu m anos e realizem a
prev en ção da crim in alidade. En t ret ant o, seguin do um di scurso repressi vo am eri cano,
t em o aqueles que defendem um recrudescim ent o penal, t ant o da legi sl ação penal com o
das políticas de con t role social, com o por exem plo, Tolerân cia Zero. É preciso lem brar
que no Brasil sem pre t ivem os políticas repr essivas e violent as de cont rol e social, viem os
de u m a dit adura m ilit ar on de as con st ant es violações de direit os h um an os eram
freqü en t es, e esse discu rso repressivo só faz aum ent ar e legitim ar prát icas an t igas qu e
ain da persist em n o Brasil.

Na próxim a aula você con hecer á os est udos da vitim ologia. A propost a é recon hecer os
processos de vitim ização que ocorrem com diferen t es gru pos soci ais e qu e sej a possível
pen sar polít icas pu bli cas qu e possam reduzir a vi tim ização conh ecendo os perfi s das
vítim as.

BARATA. Alessandro. Crim in ologia Crit ica e Cr itica a o D ire ito Pen al. Rio de Janeiro:
Revan . 2002.

BATI STA, Vera MAlaguti. D ifíceis g anh os fá ceis: d roga s e j uv en tu de pob re no Rio de
Ja n eiro . Rio de Janeiro: Revan , 2 ª . 2003 .

BELLI . Benoni . Tole râ n cia Zer o e a de m ocra cia no Br asil: v isões da segu ra n ça p ública
n a d é cada de 9 0 . São Paulo: Perspect iva, 20 04. Pg. 64.

CARVALHO . Salo de. Pe n a e Ga r an tia s. Rio de Janeiro : Lúm en Jú ris, 2003. Pg. 92.

CARVALHO, Am ilt on Bueno e CARVALHO, Salo de. Aplica ção da pe n a e Ga ra n t ism o. Rio de
Janeiro: Lúm en Júris. 2004.

HULSMAN. Louk. Pen a s Pe rdida s; o sist em a pen al e m qu e stã o. N ite r ói: Lua m . 2 ª e d.
1997.

MUSUMECI . Leon arda e RAMOS. Silvia. Ele m e n to Su speito .: a borda ge m p olicia l e


d iscrim ina ção na cidad e d o Rio d e Jan e iro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 20 05.

PI NTO, Nalayn e Mendonça. En t revist a. “ Tolerância Zero” e Est ad o Mínim o Geram I n flação
Carcerária. Pun ição. Com Ciê n cia.
Revista Elet rônica De Jornalism o Científico.

51/59
Au la 6 : I nt r od uçã o a o Est udo d a Vitim ologia

Ao final dest a aul a, você dever á ser capaz d e:

1 . Conh ecer os est udos da Vi tim ologia;

2 . An ali sar est u dos de viti mi zação e pen sar políti cas direcion adas p ara r edução da
vul nerabilidade de det erm i nados grupos;

1 . Discutir quais gru pos no cenário nacional est ão em sit uação de risco e vulneráv eis a
vitim ização.

Est udo dirigido da a u la

1 . Leia o t ex t o con du t or da aul a.


2 . Part icipe do fórum de discu ssão dest a aul a.
3 . Realize a at i vidade propost a.
4 . Realize o t rabalh o final
5 . Leia a sínt ese da su a au la.
6 . Realize os ex er cícios de aut ocorreção.

Ant es de com eçarm os o est udo dest a aul a, assist a no am bi en t e on-line ao vídeo com a
professora con vi dada Miriam Guin dani.

Ol á! Sej a bem - vindo à aula I nt roduçã o a o e st udo da Vit im ologia .

O últim o t em a a ser analisado nest a di sciplin a ser á a Viti mologia. Est es est udos são
i m port ant es par a su a form ação, pois at r av és das pesquisas de viti mi zação podem os
conhecer dados r ecolhidos sobre grupos e t ipos de vítim as m ais recorrent es. I st o im plica
dizer que as pesqu isas de vitim ização fornecem su bsídios para a form ulação de políticas
e est r at égias que possam ser direcion adas a redu ção dos ri scos em det erm inados casos
freqü en t es.

I m port a ressalt ar que as pesquisas est at íst icas e qu alit at ivas par a o m apeam en t o dos
índices de crim inalidade e violência são fun dam ent ais para a form ulação das polít icas
publicas de segurança.

Est ej a on de você est i ver nesse im enso Brasil , valorize e est im ule a pesqu isa e o
l evan t am en t o dos dados em sua região, pois a part ir deles poderem os pensar quais são
as m elhores est rat égias de ação e conhecer m elhor quem são os gru pos m ai s at in gidos
pel as di ferent es form as de viol ên ci a.

Boa aula!

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O holocaust o ocorrido du ran t e a I I Guerr a Mundial cham ou a at enção para o processo
brut al de vitim ização colet iva sofri da por j udeu s, cigan os, deficient es ent r e out ros. Em
1 94 7 Ben j am im Men delsohn, sobreviven t e do Holocaust o, propõe a vitim ologi a para
com preensão dos processos de vitim ização. Su a qu est ão inicial foi: Por qu e algum as
pessoas ou grupos t em t end ên ci as m aiores de se t ornarem vít im as?

Dessa form a Men delsohn inaugurou a preocupação de prev en ir processos vit im izan t es,
pesquisan do personalidades, com port am en t os, ocasião e form as de repar ação.

Rev en do um pouco o papel da vitim a na hist óri a do Ociden t e d est aca- se qu e em algum as
sociedades houve o prot agonism o da vítim a, ocorrendo a j ust iça privada. Mas a part ir do
Fin al da I dade Médi a, no Oci dent e i nicia- se u m a neut r alização d a vítim a, pois ocorre a
t ransf erência par a a I grej a e p ar a o Rei da punição. De i gu al m odo a form ação do Est ado
Moderno represent ou o afast am ent o da vít im a do processo pen al . O Est ado ch am ou par
si a adm ini st ração da j ust iça, e a vítim a passou a t er um papel subal t erno.

O t erm o vít im a do lati m Vict im a, qu e significa pessoa ou ani m al sacrifi cado, t alvez sej a
por i sso que a colet ivi dade en xerga a vít im a co m o perdedora, sofredora e co- responsável
pelos danos.

Ent ret an t o a vítim a é a aqu ela pessoa qu e sofre danos de ordem física, m ent al e
econôm ica, b em com o a que perde direit os fun dam ent ais, sej a em rel ação à violações de
direit os hum an os ou em razão de at os crim inosos.

Ben j am im Mendel sohn criou um a Tipologi a da Víti m a que sofreu du ras cri ticas porém é
u tili zada por est u diosos e advogados de d efesa, são el as:

1 - Vítim a com plet am ent e in ocen t e ou víti m a ideal = nada fez ou nada provocou ( ex:
in cêndio)
2 - Víti m a de culpabilidade ou por ign orância = im pulso involunt ário ( ex: abort o)
3 - Vítim a t ão culpável com o o infrat or ou volunt ária = consci ên ci a do at o (ex: sui cídio,
pact o de m ort e, eu t an ásia)
4 - Víti m a m ais culpável qu e o in frat or
Víti m a provocadora = incit ou o infrat or ( ex: adult ério explícito)
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Víti m a por im pru dência = aciden t e por falt a de cuidados ( ex: ál cool e direção)
5 - Víti m a unicam en t e cul pável
Víti m a i nfrat ora = com et e a infração por legít i m a defesa (ex: assassinat o do seu
est u prador)
Víti m a si m uladora = prem edit ou o at o e colocou a culpa no acusado ( ex: plan ej a
homi cídio do m arido com am ant e e si m ula u m roubo)

As críticas à Tipologi a da Vít im a refer em - se a form a est igm at izant e qu e a rot ul ação
produz, t ais com o:
 “ Culpa é da vít im a! ”
 “ Pediu para ser vit im izada! ”
 “ Algu m a coisa ela fez para m er ecer isso! ”
 “ On de há fum aça a fogo! ”

Há um a su bj et ividade dos concei t os de provocadora, colaboradora, volun t ária e a


t ransf erência da responsabili dade ou a co- responsabilidade par a a vítim a é ger adora d e
discri minação. O corret o seri a analisar suas caract eríst i cas para di minuir a
vul nerabilidade; essa t ipologi a é ut ilizada por ad vogados para am enizar a punição dos
réus.

Conce it o de Vít im a ( Decl aração dos Prin cípios Básicos de Just iça Relat ivos às Vítim as
da Crim inalidade e de Abusos de Poder da ONU) .

 “ Ent ende- se por vítim a as pesso as que individu al ou coletivam en t e, t enh am


sofrido dan os, inclu si ve l esões físicas ou m ent ais, sofri m ent o em ocion al, perda
financei ra ou dim inuição su bst an ci al de seus direit os fundam ent ais, com o
conseqüência de ações ou om issões que violem a legislação pen al vigent e n os
Est ados- m em bros, in cluída a que prescr ev e o abuso cri min al de poder” .
(.. .)

 “ Na expr essão víti m a est ão incluídos t am bém , quando apropriado, os fam iliares
ou pessoas d ep en dent es que t enh am r el ação im ediat a com a vítim a e as pessoas
que t en ham sofrido danos ao int ervir para dar assi st ência à vít im a em p erigo ou
par a prevenir a ação dan ifi cadora” ( ONU, 1 985)

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 Lem brando qu e há crim es sem viti m as apar ent es: am bient as e econômicos por
exem plo.

VI TI M I ZAÇÃO
A viti mização pode ocorrer devido às caract eríst icas das p essoas ( sexo, cor, idade, local
de m oradia, et c) . Mas t am bém por aciden t es, exclu são social, guerras. No Brasil é
preciso dest acar qu e h á um a grande viti mização at é/ e principalm ent e no seio fam iliar.

As vít im as sofrem não apenas fisicam en t e, m as t am bém , psicologicam en t e e


m oralm en t e, e som am - se ainda os est igm as i mpost os pel o grupo. Al em di sso, no si st em a
de j ust iça crim in al são m eros obj et os de invest igação.

Cont ribuindo para essa est igm at ização a m ídia, por ex em plo, em det erm inados casos
invade a privacidade e produz um a r epercu ssão social da violência sofrida o que reforça
ain da m ais a viti mização.

Nos casos de crianças ou m ulheres qu e sof rer am abusos sexu ais ou est upro há ain da a
revi t im ização, pois a cada vez que a vít im a t em que con t ar, e recon t ar inúm eras vezes a
violên cia que sofreu, ela sofre relem bran do o ocorrido.

Há t am bém u m a vit im ização ant erior, qu e m uit os crim in osos carreg am em su as vidas,
com o por exem plo, casos de adul tos pedófilos que sofreram abusos sexuais na infância,
delinqüent es que t i veram um a in fân ci a m ar cad a pela violência e pelo abandono
( exem plo: vitim ização an t erior dos in frat ores: nos lares, na t raj et ória de vida – vej a o
docum ent ári o Ônibu s 174 )

Fina lida de s da Viti m ologia


 Prot eção da vít im a
 Recon heci m ent o do seu papel com o suj eit o de direit os
 Agregar a víti m a o at ri bu to da dignidade h um an a a colocá- l a com o part ícipe da
j ust iça crim inal
 Est udo dos processos de viti mi zação
 Est udo das agr essões aos direi tos fun dam ent ais
 Criação de políticas públicas par a assist ên cia as víti m as
 Reform ulação n a l egislação par a at ender as vít im as
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Vitim iza çã o de Jove ns n o Bra sil

I m port an t e ch am ar a at enção para a vitim ização de j ov ens no Brasil. Dados


preocu pant es r evelam qu e o gru po social qu e m ais sofre h oj e com a violência é o de
j ovens hom ens n a f aixa et ária de 1 5 a 2 4 anos. A m aior part e desse processo de
vitim ização est á r elacion ado ao uso de drogas, aos acident es d e t r ânsit o, e ao
envol vim ent o com gru pos crim inosos. É preciso que políticas pú bli cas est ej am
direcionadas par a esse gru po que hoj e possui um a t ax a d e m ort alidade altíssim a.
Com o é possível v erifi car n a t ab el a abaixo, segundo dados do Mapa da Violên ci a I V
( UNESCO) , a t ax a d e m ort alidade de j ovens é bem m aior do qu e a t ax a d e m ort alidade
n acional; e se com p ararm os a t ax a nacion al em 2002 com o Est ado do Rio de Janeiro o
n úm ero torn a- se alarm ant e.
Vit im iza çã o de Jov e ns no Bra sil
M a pa da V iolê n cia I V ( UN ESCO)
1993* 2 002*

Tax a d e óbi t os da 20 ,3 2 8 ,4
população ( t odas
as f aixas) - Brasil
Tax a d e óbi t os da 34 ,5 5 4 ,7
população j uven il
( 1 5 a 24 anos) -
Brasil
Tax a d e óbi t os da 41 ,2 5 6 ,5
população ( t odas
as faixas) – Rio de
Janeiro)
Ta x a de óbit os 7 3 ,2 1 1 8 ,9
da popula çã o
j uv e nil ( 1 5 a 2 4
a nos) – Rio de
Ja ne iro
( Font e: JACOBO, 2 00 7)
* Tax a cal culada por cem m il habit ant es.

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Algu m as experiên cias t êm sido realizad as com a fi nalidade d e prom over políticas públicas
direcionadas par a a j uvent ude vul nerável, vale dest acar al gum as.

Ca so Be lo H orizont e

A referên cia t eórica que o proj et o “ Fi ca Vivo” ut iliza é a Teoria da desorganização social
ou Ecológi ca ( am bien t e desorden ado e fal t a de vínculos pri m ários de socialização e
instit uições f orm ais/ Escol a de Chicago) . Nesse sent ido a propost a é int erf erir n os
processos de socialização das com unidades vi olent as = prevenção social.
Proj et os de redu ção de vul nerabilidade
 “ Fica vivo” = proj et o de pr evenção social redu ção da m ort alidade de j ovens em
agl om erados de BH. Em ár eas onde h á m aior concen t ração de crim es j uv enis e
h om icídios foram desenvol vidos proj et os de inserção at r av és de esport es, oficin as
e in serção no m ercado de t r abal ho.

Conh eça os dados do Mapa d a Viol ên ci a nos m uni cípios brasileiros e identifique que
políticas seri am m ais eficazes p ar a redução da vi tim ização j uvenil.
WAI SELFI SZ. .Julio Jacobo. M a pa da violê ncia dos m unicípios b ra sile iros Fever eiro
de 2 007. Di sponível em
h t t p: / / bvsm s.sau de. gov.br/ bvs/ pu bli cacoes/ m apa_ da_ viol enci a_bai xa1.pdf

WAI SELFI SZ. .Julio Jacobo. M a pa da Violê n cia I V . Os j ov en s do Brasil. Disponível em :


h t t p: / / un esdoc.unesco.org/ im ages/ 001 3/ 001351/ 135104 porb.pdf

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O t ex t o dev e ser digit ado em folha A4, let ra arial ou tim es new 12 , ent re linhas 1 ,5.
Desen volver o t em a em at é 2 laudas. Ao ut ilizar as cit ações diret as dos aut ores, n ão
esquecer de colocar a ref erência, ex ( SOUZA, 20 08 , p. 67) . De m esm a form a ao fazer
par áfrase do au t or coloque seu nom e segu ido do an o. Ex: Segundo Sou za ( 20 08 ) a
crim in ologi a...
Colocar ao fi nal do t rabalho as refer ências consult adas conform e o m odelo de bibliografia
que const a da bi bliografia geral do curso.

Te m a : No que consist e a Vitim ologia (seu obj et o e suas f inalidades) ? Podem os f alar de
vitim ização de “ grupos sociais” no Brasil ? ( Dê ex em plos e an alise casos de vit im ização n o
Brasil)

Ori en t ações sobre a realização do t rabalho podem ser obt i das com o professor on -line

n o Fórum de Discu ssã o , no t ópico Orien t ações do Trabalho.

Conh eça program as direcionados a j ovens com a int enção de proporcion ar u m a redução
vul nerabilidade, oferecen do program as edu cat ivos e de acom panh am en t o soci al.

FI CA VI VO:
h t t p: / / www.seds.m g.gov.br/ in dex.php?opti on= com _ cont ent &t ask= view&id= 2 83&I t em id
= 1 17
LUTA PELA PAZ: ht t p: / / www.figh t forpeace.net / hom e_pt .ph p
AFROREGGAE: ht t p: / / www.afroreggae.org.br/

A propost a da au la foi apresent ar a Vi tim ologia a fim de di scu tir a necessidade de


est im ular cada v ez m ais est u dos de viti mização no Brasil. Preci sam os conh ecer quais as
violên cias m ai s present es em nossa realidade e quem são aqu el es vit im izados. Assim , a
aul a levan t ou a discu ssão sobre a vitim ização de j ovens, pois dent re os grupos de risco,
são aqu eles j á i dentificados em pesquisas qu e m ai s facilm ent e se envolvem com o crim e
e t am b ém os qu e m ais m orrem devi do a esse en volvim ent o.

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REFERÊN CI AS PARA ESTUDOS DE VI TI M I ZAÇÃO DE JOVEN S:

CESEC. Form a ndo um a Tropa de Elite na Polícia pa ra Tra ba lha r com Jov e ns:
Proj e t o Juve nt ude e Polícia - Ca pa cit a çã o 2 0 0 7 . Disponível em :
h t t p: / / www.ucam cesec. com .br/ pb_ t xt _ dwn.php
CESEC. Pe rfil dos Jove ns e m Conflit o com a Le i n o Rio de Ja ne iro. Di sponível em :
h t t p: / / www.ucam cesec. com .br/ pb_ t xt _ dwn.php
COMUNI DADE SEGURA. Cria nça s e j ove ns e m violê ncia a rm a da orga niza da .
Di sponível em :
h t t p: / / www.com uni dadesegu ra.org/ ?q= pt / t axonom y_m en u/ 15 / 157 / 21 8
DECLARAÇÃO DOS PRI NCÍ PI OS BÁSI COS DE JUSTI ÇA RELATI VOS ÀS VÍ TI MAS DA
CRI MI NALI DADE E DE ABUSOS DE PODER DA ONU.
h t t p: / / www.dh net .org.br/ direitos/ sip/ onu/ fpena/ pbasic2.h t m
DOWDNEY, Luke . N e m gue rra ne m pa z: Com pa ra çõe s int e rna ciona is de Cria nça s
e Jove n s e m Violê ncia Arm a da Orga niza da . Disponível em :
h t t p: / / www.com uni dadesegu ra.org/ ?q= pt / t axonom y_m en u/ 15 / 157 / 21 8
DOWDNEY, Luke. Cria nça s do t rá fico.
h t t p: / / www.necvu.ifcs.u frj .br/ arqu ivos/ livrolu kecri an cas_do_t rafico.pdf
FEFFERMANN, Marisa. Vida s Ar risca da s. O cot idia n o de j ove ns tra ba lha dore s do
t rá fico. Pet rópolis: Vozes, 20 06 .
ZALUAR, Alba. A m á qu ina e a Re volta . São Paulo: Brasilien se, 1 985.
ZALUAR, Alba. Droga s e Cida da n ia . São Paulo: Brasiliense, 1999.
ZALUAR, Alba. I nt e gra çã o pe rv e r sa : pob re za e t rá fico de droga s. Rio de Janeiro:
FGV, 2004.

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