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PROPONENTE
Ricardo Martins Geraldes
http://ricardomgeraldes.weebly.com
ricardomgeraldes@gmail.com
DURAÇÃO
6 meses
SUMÁRIO
«No suor do teu rosto comerás pão, até que voltes ao solo, pois dele foste tomado. Porque tu
és pó e ao pó voltarás». (Génesis 3:19) Num fragmento bíblico dedicado à origem, anuncia-
se o destino do homem: A Terra - do nascimento à morte, o Homem está impregnado e
cravado na matéria do planeta.
Pensar a existência humana implica reflectir a Terra. É nela que se delimita toda a
experiência, e dela toda a experiência provém. Pois, se é com os pés assentes na terra que o
Homem deverá pensar e ser pensado, desde logo se ancora a algo, à Terra, e tal fixação
pressupõe uma relação, encadeada e somática: uma aesthesis.
Friedrich Nietzsche na sua obra Humano, Demasiado Humano (1878) numa tentativa de
romper com o romantismo, indica que um dos maiores riscos para o homem é cair no
pequeno mundo provincial da humanidade. Este erro, segundo o filósofo alemão, poderá
levar o Homem a fechar-se dentro de si próprio, levando-o a crer que é a coroa da evolução.
Nietzsche exorta uma ruptura com esta estrutura demasiadamente humana e mundana,
propondo a saída da caverna (platónica) e tomar o mundo como um jardim. Esta proposta é
uma proposição geoestética e geofilosófica. A Terra deverá ser lida como uma laje única, ou
Pangeia, e não mais como um mero suporte histórico de promessa transcendentes, ou
motivações nacionalistas.
Este jardim que é a Terra, instalando a natureza como um “grande artista”, concede-nos
uma miríade de sensações estéticas, no quais os processos geológicos são os seus
instrumentos. Exemplo de uma reflexão geoestética é o trabalho do artista Robert Smithson,
pioneiro do conceito artístico Land Art, ou Earthworks. Este autor apresentou uma resposta
crítica à incessante circulação e produção de objectos, obrigando a repensar o lugar da obra
de arte. E como forma de responder a centralidade do museu como espaço fechado, este
artista regressa à Terra valorizando a imanência estética fornecida pela natureza. Sendo
assim, podemos considerar a geoestética como um ponto de viragem na reorientação para a
relação entre seres humanos, a arte e a natureza.
Em Mil Planaltos, Capitalismo e Esquizofrenia 2 (1980) , no capítulo intitulado: 10 000 antes
de Cristo – A geologia da moral (a terra, quem é que ela julga que é?), Gilles Deleuze e Félix
Guattari, advertem que quando perdemos a capacidade de sermos sensibilizados, ou
tocados, pela expressividade não-humana, há a indicação de uma obsessão pelo mundo
humano, e isso irá levar à perda da outridade que é a geologia, a química, a biologia.... Para
este dois autores, todo o mundo natural e geológico funciona num princípio de
expressividade.
A relação entre arte e geologia tem sido abordada pela pintura, fotografia, escultura, poesia,
etc.. Posto isto, a partir de uma leitura de Nietzsche, de que a terra deve ser tomada como
um jardim, a proposta deste trabalho irá incidir na expressividade não-humana, ou seja, na
expressividade geológica.
Para uma análise crítica deste expressividade não-humana, é colocado o desafio de abordar
um dos pontos da expressividade não-humana ou geoestética: o fóssil. O fóssil cuja origem
etimológica deriva do termo latino fossilis, que significa “extraído da terra”, será o fio
condutor desta abordagem geoestética. Os fósseis que permitem correlacionar os estratos,
inscrevem uma espécie de assinatura da longa evolução da vida, quer biológica, quer
geológica. Ou seja, inscrever o fóssil como uma espécie de expressão de identidade
paleontológica e geológica, de maneira a trazer à luz (através da fotografia) a expressividade
não-humana da vida.
OBJECTIVOS
«Da Pangeia à Actualidade – a geoestética do fóssil», terá como propósito enquadrar teórica
e artisticamente os fósseis na geoestética, isto é, procurar-se-á aproximar a expressividade
geológica e paleontológica da noção de sentido da Terra (sinn der erde) nietzscheano e como
tal desígnio assenta na figura do artista.
O método aponta para duas linhas de investigação. A teórica que compreende a leitura, e
interpretação de uma extensa bibliografia especializada. E prática que passa pelo trabalho
de campo na orla costeira da Lourinhã, que devido à riqueza do ponto de vista geológico e
paleontológico optámos como área de intervenção. Como resultado desta investigação
propomo-nos à criação de um ensaio a publicar numa revista de artes, e à produção de três
imagens fotográficas de expressão artística que o acompanham.
BIBLIOGRAFIA
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O’Sullivan, S. 2005. «From Geophilosophy to Geoaesthetics: The Virtual and The Plane of
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http://www.simonosullivan.net/articles/geophilosophy.pdf
Shapiro, G. 1995. «Earthwards – Robert Smithson and Art after Babel». Berkeley: University
of California Press.
RESULTADOS
Produção de um ensaio e submissão em revista de artes.
Produção fotográfica de três imagens (100x70 cm) em moldura de madeira pinho e vidro de
museu.