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Crimes e infrações

administrativas

O Ministério Público 1
Assim, prevê o artigo 201, do Estatuto da Criança e do Ado-
lescente, o seguinte: “Art. 201. Compete ao Ministério Público:
A atuação do Ministério Público, de acordo com o I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às infra-
Estatuto da Criança e do Adolescente, está nos artigos ções atribuídas a adolescentes; III - promover e acompanhar as
ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destitui-
ção do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curado-
200 ao 205. res e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedi-
mentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a
A competência para atuação do Ministério Público especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de
contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de
está elencada de forma pormenorizada no artigo 2011 bens de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98; V - pro-
mover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos
do Estatuto, salientando-se, pois é de fundamental im- interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância
e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso
II, da Constituição Federal; VI - instaurar procedimentos admi-
portância, que a participação do Ministério Público, nistrativos e, para instruí-los: a) expedir notificações para colher
depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não compare-
mesmo nos processos e procedimentos em que não cimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive
pela polícia civil ou militar; b) requisitar informações, exames,
for parte, será sempre obrigatória quando se tratar de perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e
federais, da administração direta ou indireta, bem como pro-
defesa de direitos de crianças e adolescentes. mover inspeções e diligências investigatórias; c) requisitar in-
formações e documentos a particulares e instituições privadas;
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias
e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração
A falta de intervenção do Ministério Público acarreta de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à ju-
ventude; VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
nulidade ao feito, podendo ser decretada de ofício pelo legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as
medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; IX - impetrar man-
juiz ou por requerimento de qualquer interessado. dado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer
juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e
individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente; X
- representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por
infrações cometidas contra as normas de proteção à infância

O advogado
e à juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade
civil e penal do infrator, quando cabível; XI - inspecionar as en-
tidades públicas e particulares de atendimento e os programas
de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas adminis-
trativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades
Os artigos 206 e 207 do Estatuto sob exame estabe- porventura verificadas; XII - requisitar força policial, bem como
a colaboração dos serviços médicos, hospitalares, educacionais
lecem a necessidade da presença de um advogado para e de assistência social, públicos ou privados, para o desempe-
nho de suas atribuições. §1.º A legitimação do Ministério Públi-
a garantia do direito fundamental de acesso à justiça, de co para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de
terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Cons-
crianças e adolescentes. tituição e esta Lei. §2.º As atribuições constantes deste artigo
não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade
do Ministério Público. §3.º O representante do Ministério Públi-
co, no exercício de suas funções, terá livre acesso a todo local
onde se encontre criança ou adolescente. §4.º O representante
do Ministério Público será responsável pelo uso indevido das

A proteção judicial dos interesses informações e documentos que requisitar, nas hipóteses legais
de sigilo. §5.º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso
VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério Público:

individuais, difusos e coletivos das a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o


competente procedimento, sob sua presidência; b) entender-se
diretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, em dia,

crianças e adolescentes local e horário previamente notificados ou acertados; c) efetuar


recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de
relevância pública afetos à criança e ao adolescente, fixando
prazo razoável para sua perfeita adequação.
Na seara da proteção judicial dos interesses individu-
ais, difusos e coletivos das crianças e adolescentes, os

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artigos 208 ao 224 do Estatuto da Criança e do Adolescente, propõem longa


análise casuística das hipóteses em que os direitos de crianças e adolescen-
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tes não forem respeitados por falta de oferta ou por oferta irregular.
O artigo 208, do Es-
tatuto da Criança e do
Adolescente, contempla
as seguintes hipóteses:
O artigo 2082 do Estatuto elenca as situações em que as ações de respon-
“Regem-se pelas dispo-
sições desta Lei as ações
sabilização por ofensa aos direitos da criança e do adolescente serão cabí-
de responsabilidade por
ofensa aos direitos asse-
veis, observando-se, mormente, os seguintes aspectos principais: a garantia
gurados à criança e ao
adolescente, referentes
do direito fundamental à educação; a assistência social para a proteção fami-
ao não oferecimento ou
oferta irregular: I - do
liar; a proteção ao direito à convivência familiar como direito fundamental.
ensino obrigatório; II - de
atendimento educacional
especializado aos porta-
dores de deficiência; III - de
atendimento em creche e
pré-escola às crianças de Crimes e infrações administrativas
zero a seis anos de idade;
IV - de ensino noturno
regular, adequado às
condições do educando;
V - de programas suple-
mentares de oferta de
Crimes
material didático-escolar,
transporte e assistência
à saúde do educando do Conforme a previsão legal dos artigos 225 ao 244-B do Estatuto da Crian-
ensino fundamental; VI -
de serviço de assistência ça e do Adolescente, no capítulo que dispõe sobre crimes praticados contra
social visando à proteção
à família, à maternidade, à a criança e o adolescente, contemplam-se as hipóteses de cometimento de
infância e à adolescência,
bem como ao amparo às crime por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.
crianças e adolescentes
que dele necessitem; Aplica-se a esses crimes o disposto na Parte Geral do Código Penal e, quanto
VII - de acesso às ações e
serviços de saúde; VIII - de ao processo, aplicam-se as regras pertinentes ao Código de Processo Penal.
escolarização e profissio-
nalização dos adolescen-
tes privados de liberdade;
IX - de ações, serviços e
programas de orientação,
apoio e promoção social
Crimes em espécie
de famílias e destinados
ao pleno exercício do di-
reito à convivência fami-
Destacar-se-á, no estudo dos crimes em espécie previstos no Estatuto da
liar por crianças e adoles-
centes. X - de programas
Criança e do Adolescente, aqueles cuja relevância é significativa. Ademais, e
de atendimento para a
execução das medidas so-
como opção de abordagem desse tema, utilizar-se-á o critério da inovação
cioeducativas e aplicação legislativa, no sentido de que alguns desses crimes foram recentemente de-
de medidas de proteção.
§1.º As hipóteses previs- finidos e alterados por legislações que inseriram novas previsões no ordena-
tas neste artigo não ex-
cluem da proteção judicial mento jurídico brasileiro.
outros interesses individu-
ais, difusos ou coletivos,
próprios da infância e da Em atenção à saúde da gestante, os artigos 228 e 229 do Estatuto da Crian-
adolescência, protegidos
pela Constituição e pela ça e do Adolescente objetivaram coibir as práticas relacionadas a uma moda-
Lei. §2.º A investigação
do desaparecimento de lidade ilícita de adoção, a denominada usualmente “adoção à brasileira”.
crianças ou adolescentes
será realizada imediata-
mente após notificação Decorre que é bastante comum a ocorrência de partos, mesmo em ma-
aos órgãos competentes,
que deverão comunicar o ternidades e/ou estabelecimentos hospitalares, sem o devido registro e
fato aos portos, aeropor-
tos, Polícia Rodoviária e sem respeito à documentação da mãe, tampouco da criança. Não raro são
companhias de transporte
interestaduais e interna- os casos em que mães “adotivas” (à brasileira) saem das maternidades carre-
cionais, fornecendo-lhes
todos os dados neces- gando como seu o filho de outra pessoa, que, pelas mais diversas razões, não
sários à identificação do
desaparecido”. pôde ou não quis criá-lo.

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Foi justamente para coibir tais práticas que o legislador estatutário, previu
nos referidos artigos, penalização para os crimes dessa natureza.

Em seguida, em relação ao artigo 232, percebe-se a proteção à integri-


dade psicofísica de crianças e adolescentes, através da coibição de prá-
ticas de maus-tratos ou constrangimentos desferidos contra crianças e
adolescentes.

Os artigos 238 e 239, do Estatuto sob exame, contemplam as hipóteses de


penalização ao tráfico de crianças. Inclusive, o governo federal tem feito diver-
sas campanhas nesse sentido, exigindo-se, por exemplo, que nos processos
de adoção internacional a criança somente possa sair do país após a sentença
constitutiva da adoção e de toda a documentação brasileira necessária.

Importante conteúdo do Estatuto da Criança e do Adolescente, e que


sofreu a recente alteração da Lei 11.829, de 25 de novembro de 2008, foi o
dos artigos 240 e 241-E, que tratam da penalização dos crimes sexuais na
internet.

É uma realidade bastante frequente a utilização da imagem de crianças


e adolescentes para pornografia, pedofilia, exploração sexual, prostitução
infanto-juvenil e abuso sexual, de forma virtual e também real. Nesse senti-
do, e com um texto bastante adequado à sociedade contemporânea, é que
esses artigos do Estatuto em comento abordaram a tipificação das condutas
criminosas dessa natureza.

O artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente foi expresso ao


penalizar aquele que oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, pu-
blicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de infor-
mática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança ou adolescente, com
pena de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

E ainda, sofre a penalização aquele que fornecer meios para a armazena-


gem desse material fotográfico.

O artigo 244-A do Estatuto prevê a proteção contra a prostituição e explo-


ração sexual infanto-juvenil.

As infrações administrativas
Quanto às infrações administrativas, os artigos 245 ao 258-B do Estatuto
da Criança e do Adolescente previram-nas de forma bastante casuística, e,

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portanto, far-se-á menção às mais inovadoras, em termo de legislação, sem


pretensão de esgotamento do tema.

Assim, o artigo 247 do referido Estatuto prevê a proibição da divulgação


sem autorização e em qualquer meio, de nome, imagem, ato ou documen-
to de procedimento judicial, administrativo ou policial, relativo a crianças e
3
Nesse sentido, o artigo adolescentes, em respeito, inclusive, aos mandamentos da Lei 10.764/20033.
1.º: “O parágrafo único do
art. 143 da Lei nº 8.069, de
13 julho de 1990, passa a
vigorar com a seguinte
Ademais, e em atenção às recentes alterações legislativas, a Lei 12.010/2009
redação: “Art. 143 – [...].
Parágrafo único. Qualquer
exige que as famílias pretendentes à adoção, e também as pessoas que uni-
notícia a respeito do fato
não poderá identificar a lateralmente desejam adotar uma criança ou adolescente, estejam cadastra-
criança ou adolescente,
vedando-se fotografia, re- das em um banco nacional e estadual. Assim, também, as crianças e adoles-
ferência a nome, apelido,
filiação, parentesco, resi- centes que estão postos à adoção devem estar cadastrados. O artigo 258-A
dência e, inclusive, iniciais
do nome e sobrenome.” do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê pena de multa (de R$1.000,00
a R$3.000,00) para os casos em que os cadastros estaduais e nacionais de
crianças e adolescentes aptos para a adoção e de possíveis pais não tenham
sido feitos.

Dicas de estudo
 Competência para a atuação do Ministério Público: artigo 201, do Es-
tatuto.

 Análise dos crimes em espécie e as inovações introduzidas pela Lei


11.829, de 25 de novembro de 2008.

 Os desafios propostos pelo artigo 245 do Estatuto para a garantia de


direitos fundamentais.

Referências
ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. ( Coleção Curso e Concurso – v. 31 – Coordenação Edílson Mouge-
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Paulo: Saraiva, 2005.

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13 de Julho de 1990. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. São Paulo: Revista
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FACHIN, Luiz Edson.Teoria Crítica do Direito Civil: à luz do novo Código Civil
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______. Questões do Direito Civil Brasileiro Contemporâneo. Rio de Janeiro:


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ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurispru-


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PENA JUNIOR, Moacir César. Direito das Pessoas e das Famílias: doutrina e juris-
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de 3 de Agosto de 2009 e outras disposições legais: Lei 12.003 e Lei 12.004. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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de Direito das Famílias e das Sucessões. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008.

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