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Olavo de Carvalho
O estudante sério, como se sabe, é uma espécie da qual presumo haver salvado da extinção alguns dos
poucos exemplares que ainda restam no Brasil, e até fomentado a geração de uns quantos em proveta, longe
daquela raça temível de predadores que são os pedagogos e os burocratas do Ministério da Educação.
Um daqueles raros sobreviventes envia-me uma pergunta das mais interessantes, merecedora de resposta em
jornal. Quer ele saber se o artista, o poeta, o escritor infectado de mentalidade revolucionária está
irremediavelmente perdido para a criação artística ou pode, pelo gênio pessoal, transcender nela a
mecanicidade grosseira do pensamento revolucionário.
Se aceitamos a definição croceana da arte como “expressão de impressões” – e até hoje não vi motivo para
rejeitá-la –, a resposta à pergunta torna-se auto-evidente. A mentalidade revolucionária é essencialmente a
inversão do sentido do tempo, a arrogância psicótica de interpretar o presente e o passado à luz das virtudes
imaginárias de um futuro hipotético. O futuro enquanto tal não pode ser objeto de impressão, só de
conjeturação imaginativa ou de construção mental. Uso estes dois termos para designar atividades
diametralmente opostas: a primeira consiste em ampliar simbolicamente as impressões do presente e jogá-las
num futuro imaginário, como fizeram George Orwell e Aldous Huxley em “1984” e no “Admirável Mundo
Novo” respectivamente. A segunda inventa o futuro e remolda à luz dele as impressões do presente. É esta a
única via aberta à “arte revolucionária”. Mas é certo que essa arte já não é mais arte e sim mero revestimento
estético de uma construção conceptual. Cabe aí a distinção que Saul Bellow fazia entre os “intelectuais” e os
“escritores”, estes incumbindo-se do ofício propriamente artístico de transmitir as “impressões autênticas”,
aqueles tratando de deformá-las segundo uma construção hipotética.
https://olavodecarvalho.org/tag/arte-revolucionaria/ 1/5
7/6/22, 10:01 PM arte revolucionária – SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA
Isso não quer dizer, no entanto, que todo artista politicamente comprometido com uma causa revolucionária
permaneça escravo dela no exercício do seu mister criativo. A história das artes no século XX – e
especialmente da literatura – é uma galeria de consciências dilaceradas entre a fidelidade ao futuro hipotético
oferecido pelas ideologias e a realidade presente das “impressões autênticas”.
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Olavo de Carvalho
15 horas atrás
“Há exceções, mas a ausência de expressão pessoal no rosto ou na linguagem é a marca inconfundível dos
farsantes. No Brasil virou prova de respeitabilidade.”
Foto: Josias Teófilo
Olavo de Carvalho, no livro “Diário - Volume 2”.
bit.ly/3yf8cUQ
#Vide #Olavo #Professor
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Olavo de Carvalho
1 dia atrás
https://olavodecarvalho.org/tag/arte-revolucionaria/ 2/5