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QUESTÃO 4 - Introdução teórica

1.1 As teorias de currículo

As teorias de currículo têm como objeto de estudo, como o nome indica,


o currículo, que, de forma simplificada, é o que define o que deve ser ensinado.
Segundo Silva (2010), o currículo

é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais


amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela parte
que vai constituir, precisamente, o currículo. As teorias do
currículo, tendo decidido quais conhecimentos devem ser
selecionados, buscam justificar por que esses conhecimentos e
não aqueles devem ser selecionados.

De certa forma, as teorias pedagógicas e educacionais são também teorias


a respeito de currículo. As diferentes filosofias educacionais e as diferentes
formas de tratar a Pedagogia, em diferentes épocas, bem antes da
institucionalização do estudo do currículo como campo especializado, não
deixaram de fazer especulações sobre o currículo, ainda que não utilizassem o
termo.
As teorias de currículo propriamente ditas, como campo específico,
surgiram no início do século XX nos Estados Unidos. Em 1918, Bobbitt escreveu
o livro The curriculum. Nessa concepção, buscava-se a eficiência na aquisição de
habilidades e conhecimentos considerados necessários. De acordo com Silva
(2010), o modelo de Bobbitt

estava claramente voltado para a economia. Sua palavra-chave


era eficiência. O sistema educacional deveria ser tão eficiente
quanto qualquer outra empresa econômica. Bobbitt queria
transferir para a escola o modelo de organização proposto por
Frederick Taylor. Na proposta de Bobbitt, a educação deveria
funcionar de acordo com os princípios da administração científica
propostos por Taylor.

Na segunda metade do século XX, sob influência do pensamento de Marx,


Gramsci, Althusser, Foucault e outros, ganham força as teorias críticas, que veem
o currículo como um instrumento de ideologia, inserido nas relações sociais de
poder.
No século XXI, as teorias pós-críticas ganham espaço ao apontar o
currículo como reprodutor de visões que desvalorizam os grupos minoritários
(referentes ao gênero, à sexualidade, à etnia) e propor mudanças nessa
perspectiva, de modo que o multiculturalismo seja considerado.
De forma geral, podemos apontar os elementos-chave de cada linha de
pensamento da forma a seguir.
• Teorias tradicionais: ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia,
didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos.
• Teorias críticas: ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe
social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação
e libertação, currículo oculto, resistência.
• Teorias pós-críticas: identidade, alteridade, diferença, subjetividade,
significação-discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia,
sexualidade e multiculturalismo.

1.2 O currículo nas teorias críticas

Para as teorias críticas, o currículo é um espaço de poder, pois ele reproduz


as estruturas sociais. Trata-se de uma forma de transmitir ideologia, no sentido
marxista. Devemos lembrar que, para Marx, ideologia é um conjunto de
proposições que fazem parecer que os interesses da classe dominante são
interesses coletivos. Trata-se de uma forma de pensar que mascara as relações
de poder e mantém o status quo com menor uso da violência.
Segundo Silva (2010), as teorias críticas

começam por colocar em questão precisamente os pressupostos


dos presentes arranjos sociais e educacionais. As teorias críticas
desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas
desigualdades e injustiças sociais. As teorias tradicionais eram
teorias de aceitação, ajuste e adaptação. As teorias críticas são
teorias de desconfiança, questionamento e transformação
radical. Para as teorias críticas, o importante não é desenvolver
técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos
que nos permitam compreender o que o currículo faz.
Em 1970, algumas obras são consideradas marcos do pensamento
educacional crítico:
• A pedagogia do oprimido, de Paulo Freire;
• Os aparelhos ideológicos do Estado, de Louis Althusser;
• A reprodução, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron.
Na concepção crítica, o pensamento da classe dominante é transmitido,
de forma explícita ou implícita, por meio do currículo. Dessa forma, o currículo
não é neutro, é resultado das relações de poder.

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