As teorias de currículo têm como objeto de estudo, como o nome indica,
o currículo, que, de forma simplificada, é o que define o que deve ser ensinado. Segundo Silva (2010), o currículo
é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais
amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currículo. As teorias do currículo, tendo decidido quais conhecimentos devem ser selecionados, buscam justificar por que esses conhecimentos e não aqueles devem ser selecionados.
De certa forma, as teorias pedagógicas e educacionais são também teorias
a respeito de currículo. As diferentes filosofias educacionais e as diferentes formas de tratar a Pedagogia, em diferentes épocas, bem antes da institucionalização do estudo do currículo como campo especializado, não deixaram de fazer especulações sobre o currículo, ainda que não utilizassem o termo. As teorias de currículo propriamente ditas, como campo específico, surgiram no início do século XX nos Estados Unidos. Em 1918, Bobbitt escreveu o livro The curriculum. Nessa concepção, buscava-se a eficiência na aquisição de habilidades e conhecimentos considerados necessários. De acordo com Silva (2010), o modelo de Bobbitt
estava claramente voltado para a economia. Sua palavra-chave
era eficiência. O sistema educacional deveria ser tão eficiente quanto qualquer outra empresa econômica. Bobbitt queria transferir para a escola o modelo de organização proposto por Frederick Taylor. Na proposta de Bobbitt, a educação deveria funcionar de acordo com os princípios da administração científica propostos por Taylor.
Na segunda metade do século XX, sob influência do pensamento de Marx,
Gramsci, Althusser, Foucault e outros, ganham força as teorias críticas, que veem o currículo como um instrumento de ideologia, inserido nas relações sociais de poder. No século XXI, as teorias pós-críticas ganham espaço ao apontar o currículo como reprodutor de visões que desvalorizam os grupos minoritários (referentes ao gênero, à sexualidade, à etnia) e propor mudanças nessa perspectiva, de modo que o multiculturalismo seja considerado. De forma geral, podemos apontar os elementos-chave de cada linha de pensamento da forma a seguir. • Teorias tradicionais: ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos. • Teorias críticas: ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto, resistência. • Teorias pós-críticas: identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação-discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade e multiculturalismo.
1.2 O currículo nas teorias críticas
Para as teorias críticas, o currículo é um espaço de poder, pois ele reproduz
as estruturas sociais. Trata-se de uma forma de transmitir ideologia, no sentido marxista. Devemos lembrar que, para Marx, ideologia é um conjunto de proposições que fazem parecer que os interesses da classe dominante são interesses coletivos. Trata-se de uma forma de pensar que mascara as relações de poder e mantém o status quo com menor uso da violência. Segundo Silva (2010), as teorias críticas
começam por colocar em questão precisamente os pressupostos
dos presentes arranjos sociais e educacionais. As teorias críticas desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas desigualdades e injustiças sociais. As teorias tradicionais eram teorias de aceitação, ajuste e adaptação. As teorias críticas são teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical. Para as teorias críticas, o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo faz. Em 1970, algumas obras são consideradas marcos do pensamento educacional crítico: • A pedagogia do oprimido, de Paulo Freire; • Os aparelhos ideológicos do Estado, de Louis Althusser; • A reprodução, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron. Na concepção crítica, o pensamento da classe dominante é transmitido, de forma explícita ou implícita, por meio do currículo. Dessa forma, o currículo não é neutro, é resultado das relações de poder.