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[...] "O que é uma teoria do currículo? Quando se pode dizer que se tem uma
"teoria do currículo"? Onde começa e como se desenvolve a história das teorias
do currículo? O que distingue uma "teoria do currículo" da teoria tradicional mais
ampla? Quais são as principais teorias do currículo? O que distingue as teorias
tradicionais das teorias críticas do currículo? E o que distingue as teorias críticas
do currículo? E o que distingue as teorias críticas do currículo das teorias pós-
críticas?" SILVA (2002, p. 11)
Isso nos leva a refletir sobre a relação de poder que o currículo possui, pois
através dele existe a formação de seres, por isso no fundo das teorias do currículo,
existe um caráter subjetivo, pois ele acaba por formar ou revelar aquilo nos
tornaremos ou somos, a nossa identidade.
Tomaz nos diz que a palavra chave do modelo educacional de Bobbit era
“eficiência”, onde “o sistema educacional deverão ser tão eficiente quanto qualquer
outra empresa econômica.” (SILVA, 2002. p. 23), claramente Bobbit propunha que a
escola funcionasse da mesma forma que uma fábrica, seguindo os princípios da
administração científicas de Taylor, onde a formação educacional tem por objetivo
atender as demandas das classes dominantes.
John Dewey afirmava ainda que “a educação não era tanto uma preparação
para vida ocupacional adulta, como um local de vivência e prática direta de
princípios democráticos.” (SILVA, 2002. p. 23). Contudo, o modelo proposto por
Dewey não refletiu da mesma forma que a de Bobbit na constituição do currículo
como campo de estudo.
De acordo com Bobbit, “a educação, tal como a usina de fabricação de aço, é
um processo de moldagem”. Sendo assim, no modelo de currículo de Bobbit é
importante de padrões para que seja funcional. Este modelo consolida-se
definitivamente com a publicação do livro de Ralph Tyler em 1949, onde estabeleceu
um paradigma que influenciou diversos países centrando na organização e no
desenvolvimento.
Para Tomaz, "A seleção que constitui o currículo é o resultado de um processo que
reflete os interesses particulares das classes e grupos dominantes." (SILVA, 2002. p.
46), o que nos remete a visão marxista de Michael Apple da ligação entre a
educação e a economia, onde as duas são organizadas por mediação humana para
atender as necessidades capitalistas.
“... por que esse conhecimento e não outros? Por que esse conhecimento é
considerado importante e não outros? Quais os interesses guiaram a seleção desse
conhecimento particular? Quais são as relações de poder envolvidas no processo de
seleção que resultou nesse currículo particular? (p. 47)
Para ele, o currículo não pode ser entendido se não fizermos perguntas sobre suas conexões
com as relações de poder.
Giroux traz sua contribuição, apontando a questão do currículo como uma política cultural.
Para ele, “o currículo envolve a construção de significados e valores culturais.” (p.55) O
currículo é um lugar onde se produzem e se criam significados sociais, que estariam presentes
no nível da consciência individual ou pessoal, estando estreitamente ligados à relações sociais
de poder e desigualdade.
O autor Tomaz Tadeu traz ainda as contribuições de Paulo Freire, embora ele não tenha
desenvolvido uma teorização específica sobre currículo. Suas ideias estão associadas às
críticas sobre “o que ensinar?”, questão essa indissociável de currículo. A crítica que Freire
desenvolveu em seus livros iniciais (“Educação como prática da liberdade” - 1967, e
“Pedagogia do Oprimido” - 1970) vem atingir ao modelo de “educação bancária”, termo este
difundido pelo autor e modelo vigente na época, onde o currículo era explicitado a partir de
conhecimentos tidos como informações e fatos, transmitidos de professor para aluno, de
forma impositiva, como num ato de “depósito” bancário. Estando esse conhecimento muito
distante da realidade das pessoas, que o recebem de forma passiva, sem reflexão alguma.
Freire, com sua pedagogia libertadora, antecipou-se, de certa forma, à definição que iria
caracterizar depois a influência dos Estudos Culturais sobre os estudos curriculares, e ainda
traz muito presente a ligação entre educação e política, dizendo que toda educação é um ato
político.
Trazendo outras questões ainda presentes no que se refere às teorias críticas do currículo,
posso ressaltar que o autor Tomaz Tadeu contextualiza o nascimento da nova sociologia da
educação, que contribuiu e muito pra que se pensasse em construir “um currículo que
refletisse as tradições culturais e epistemológicas dos grupos subordinados e não apenas dos
grupos dominantes.” (p.69) Que abriu um leque de novas discussões acerca de temas como
raça, gênero, etnia. Sua idéia central, representada através da noção de “construção social”,
continua a influenciar fortemente na atualidade nas análises do currículo que hoje são feitas
com inspiração nos Estudos Culturais e no Pós-estruturalismo.
Tomaz Tadeu ainda traz contribuições de Bernstein, a partir de uma teoria sociológica do
currículo, sob um outro enfoque: as relações estruturais entre os diferentes tipos de
conhecimento que constituem o currículo, e também fazendo uma importante distinção entre
poder e controle:
“O poder está essencialmente ligado à classificação (o que é legítimo ou ilegítimo incluir no
currículo)..por outro lado, o controle diz respeito essencialmente à forma de transmissão. O
controle está associado ao enquadramento, ao ritmo, ao tempo, ao espaço da transmissão.”
( p.73)
O currículo oculto, outra questão importante ressaltada por Tomaz Tadeu, não aparece
enquanto uma teoria. Porém, ele já vinha sendo estudado de forma implícita pelos autores
desse período, estando relacionado à ideologias:
“O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem
fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens
sócias relevantes.” (p.78)
Entre tantas coisas o currículo oculto, numa perspectiva crítica, ensina o conformismo, a
obediência, o individualismo (subordinação). Aprendem-se também atitudes e valores
próprios de outras esferas sócias... Nas análises que consideram também as dimensões de
gênero, de sexualidade ou de raça, aprende-se a como ser homem ou mulher, como ser
heterossexual ou homossexual, assim como a identificação com determinada raça ou etnia.
O importante a ser considerado quando nos deparamos com elementos do currículo oculto é
tornar esses elementos conscientes, explicitá-los. Essa foi uma importante contribuição das
teorias críticas do currículo. Analisar esse elemento é expressar uma operação fundamental da
análise sociológica, que interferem nos processos sociais que moldam a subjetividade do ser
humano, de maneira inconsciente.
Para finalizar essa parte que abordou o período das teorias tradicionais às teorias críticas,
ressalto as principais tensões da teoria crítica sobre currículo, fundamentadas no marxismo:
• Questionou os arranjos sociais e educacionais;
• Desconfiou do statos quo;
• Propôs uma teoria de desconfiança;
• Propôs questionamentos e transformações radicais;
• Procurou compreender o que o currículo faz;
• Centrou seu pensamento na crítica à sociedade capitalista;
• Afirmou que a escola seria o aparelho reprodutor do Estado capitalista.
AS TEORIAS PÓS-CRÍTICAS
As teorias pós-críticas têm sua ênfase centrada no conceito de discurso e nas representações
como determinantes no processo curricular. Algumas expressões que traduzem um pouco
dessa concepção são: identidade, alteridade, diferença, subjetividade, imaginário, significação
e discurso, multiculturalismo, (representação, cultura, gênero, raça e etnia).
Elas são mais recentes e são visões ampliadas, com algumas modificações, das teorias
críticas.
O currículo, numa perspectiva crítica, era visto como um aparelho ideológico do Estado, um
território político; na visão pós-crítica, ele é parte inerente do poder, o mapa do poder é
ampliado e passa a incluir os processos de dominação centrados na raça, na etnia, no gênero e
na sexualidade.
Algumas disjunções existentes entre a teoria crítica e a teoria pós-crítica, ambas
fundamentadas no marxismo: