Você está na página 1de 28

cadernos pedagógicos do centro

de formação de associação de
escolas dos concelhos de ílhavo,
vagos e oliveira do bairro

publicação não periódica


abril 2018
Excerto de Peinture (Étoile Bleue) - Joan Miró (1927)

A TRANSVERSALIDADE
DA EXPRESSÃO PLÁSTICA
NO JARDIM DE INFÂNCIA
‘‘
ficha
técnica
colaboração neste número
ANA MARIA FERNANDES , ANA ÂNGELO, LAURA ABADE,
MAFALDA CAPUCHO, CELINA MADEIRA, GRAÇA BORRALHO,
ROSÁRIO GONÇALVES, ISABEL GIL, PAULA FIGUEIREDO

direção
MANUEL PINA

coordenação
ALCINA MENDES, ANA MARIA FERNANDES

conceção gráfica
ANTÓNIO NEVES
edição
CFAECIVOB

CENTRO DE FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO DE ESCOLAS DOS CONCELHOS


DE ÍLHAVO, VAGOS E OLIVEIRA DO BAIRRO

ESCOLA SECUNDÁRIA DA GAFANHA DA NAZARÉ - APARTADO 82


3834-908 GAFANHA DA NAZARÉ

TELEFONE 234 390 896

GERAL@CFAECIVOB.PT
WWW.CFAECIVOB.PT

ISSN 2182-1658

ficha
técnica
‘‘
conteúdos
01
apresentação
03 NOTA INTRODUTÓRIA
A L C I N A M E N D E S , C O N S U LTO R A D E F O R M A Ç Ã O D O C FA E C I V O B

fundamentação
04 A EXPRESSÃO PLÁSTICA NO JARDIM DE INFÂNCIA
ANA MARIA FERNANDES, FORMADORA

06 GUIA PARA LEITURA DOS TRABALHOS


ANA MARIA FERNANDES, FORMADORA

práticas
18 TRABALHO 1
ANA ÂNGELO, FORMANDA

19 TRABALHO 2
LAURA ABADE, FORMANDA

20 TRABALHO 3
M A FA L D A C A P U C H O , F O R M A N D A

21 TRABALHO 4
CELINA MADEIRA, FORMANDA

22 TRABALHO 5
GRAÇA BORRALHO, FORMANDA

23 TRABALHO 6
ROSÁRIO NAIA, FORMANDA

24 TRABALHO 7
ISABEL GIL, FORMANDA

25 TRABALHO 8
PA U L A F I G U E I R E D O , F O R M A N D A

recursos
26 BIBLIOGRAFIA COMENTADA
ANA MARIA FERNANDES, FORMADORA

conteúdos
02
cadernos

a transversalidade
da expressão
plástica no
jardim de
infância

apresentação
‘‘
nota
introdutória
TEXTO: ALCINA MENDES

03

Na continuidade do projeto Descobre-se, assim, que a


editorial do CFAECIVOB – formadora selecionou dois
Centro de Formação de contos para ativar a
Associação de Escolas dos concetualização dos projetos
Concelhos de Ílhavo, Vagos e pedagógicos das educadoras.
Oliveira do Bairro – concretiza-se Torna-se então imperativo (re)ler
o número cinco de Cadernos. Sábios como Camelos de José
Agualusa e Os Gnomos de Gnu
Nesta publicação destaca-se a de Umberto Eco.
importância de garantir que a
educação promove o Nestes contos o leitor encontrará
desenvolvimento da expressão as chaves que lhes permite
artística das crianças em idade analisar as opções criativas de
pré-escolar. cada formanda. Mas também,
eventualmente, experimentar o
A revista revela vivências seu próprio percurso reflexivo e
formativas de um grupo de criativo, pois... se fosse eu, que
educadoras que se propôs frase ou ideia escolheria? o que
refletir, aprofundar e experienciar faria? e que técnicas utilizaria?...
os desafios da transversalidade
da expressão plástica no jardim- Sem mais delongas, e tomando
de-infância. as palavras que encerram o
conto de Umberto Eco, porque é
Formadora e formandas são, que não lançamos mãos à obra e
portanto, as autoras dos não começamos a explorar os
conteúdos que se publicam. desafios formativos
A formadora começa por expor documentados neste Cadernos?
qual foi o enquadramento
concetual da ação, assim como
os seus objetivos. Apresenta, em
seguida, uma breve súmula das
técnicas e dos princípios que
orientaram a realização dos
trabalhos da formação.
fundamentação
‘‘
04 a
expressão
TEXTO: A N A F E R N A N D E S *
plástica
introdução
Ana Maria Benardete Fernandes É objetivo Pedagógico da Tendo consciência da
concluiu o curso de Educadores de Educação Pré-escolar
Infância na Escola Normal de
importância da expressão
Educadores de Infância de Coimbra e o desenvolver a expressão e a plástica no jardim-de-infância e
curso de Complemento de Formação comunicação através de da sensibilidade do Educador a
Científica e Pedagógica para linguagens múltiplas como meios esta questão, o programa de
Educadores de Infância na Universidade de relação, de informação, de formação visou o
de Aveiro.
sensibilização estética e de desenvolvimento de saberes e
Desde 1982 tem lecionado em vários compreensão do mundo. competências nesta área,
jardins de infância, sendo, atualmente,
docente do Agrupamento de Escolas de A Educação Pré-escolar é a levando os destinatários da
Ílhavo. Ao longo da sua carreira tem primeira etapa da Educação formação a beneficiar de um
desempenhado funções de Básica no processo de educação enriquecimento pessoal e
Coordenadora do Departamento Pré- profissional e a melhorar as suas
escolar, membro da Comissão de
ao longo da vida e, por isso,
deverá criar condições para o práticas pedagógicas.
Avaliação do Conselho Pedagógico e
membro do Conselho Geral. sucesso da aprendizagem de Com esta formação pretendeu-se
É formadora acreditada pelo Conselho todas as crianças, promovendo a ainda promover momentos de
Científico-Pedagógico da Formação sua autoestima, a sua troca de ideias e experiências
Contínua desde 2014. autoconfiança e desenvolvendo que contribuíssem eficazmente
competências que permitam que para a preparação e
cada criança reconheça as suas desenvolvimento das atividades
possibilidades e progressos. enquadradas no Projeto
É, pois, importante proporcionar Educativo do Agrupamento de
espaços e tempos que Escolas de Ílhavo,
favoreçam a formação integral e designadamente melhorar os
harmoniosa da imaginação níveis de desempenho das
criadora da criança. Neste crianças, de modo a atingir as
contexto a educação artística metas, os valores e os princípios
mostra-se imprescindível. definidos pelo Agrupamento.
fundamentação
no 05

no
jardim de

infância
objetivos gerais
> Dotar os docentes de conhecimentos e
competências essenciais em diversas áreas e
técnicas da expressão plástica;
> Promover a exploração de diferentes técnicas
e materiais;
> Sensibilizar para o desenvolvimento da
dimensão estética e da capacidade de
observação;
> Partilhar saberes, experiências e
sensibilidades;
> Produzir materiais exemplificativos da
aplicação da Expressão Plástica nas diversas
áreas de conteúdo;

fundamentação
‘‘
guia
06

TEXTO: A N A F E R N A N D E S
para
para aa leitura
leitura dos
dos
trabalhos
Desenvolveram-se técnicas de
desenvolvimento da ação pintura, de colagem e de
modelagem com diferentes
Esta ação de formação pastas, a reciclagem de papel e
desenrolou-se ao longo de nove experimentaram-se diferentes
sessões. abordagens plásticas com estes
materiais. Explorou-se
As sessões teóricas
igualmente a arte do origami.
contemplaram a análise e
discussão dos objetivos, Por fim realizou-se um trabalho
metodologia e avaliação, a de grupo que consistiu na
partilha de saberes e ilustração de um pequeno texto.
experiências, a reflexão sobre os Neste propósito foram
assuntos e a análise de proporcionadas duas histórias:
conteúdos. Estimulou-se a Sábios como camelos, de José
sensibilização para o Agualusa, e Os gnomos de Gnu,
desenvolvimento da dimensão de Umberto Eco. Cada formanda
estética e da capacidade de escolheu uma frase de uma das
observação, explorando histórias e ilustrou-a com as
conteúdos através da técnicas exploradas na
visualização de obras de arte de formação, num mínimo de três.
artistas clássicos, modernos e
Os materiais produzidos poderão
contemporâneos e de espaços
ser utilizados com as crianças no
que nos levam a estar atentos às
Jardim de Infância. São
diferentes expressões da Arte.
exemplos de estratégias
Nas sessões práticas fez-se a promotoras da criatividade e da
exploração e utilização de autoexpressividade nas crianças
materiais, assim como a e a aplicabilidade da Expressão
exploração e utilização de Plástica em diferentes áreas de
diferentes suportes. conteúdo.
fundamentação
PINTURA SOBRE
PAPEL VEGETAL
Desenhar com marcador de
cor escura em papel vegetal.
Virar a folha.
Pintar com marcadores os
espaços.

Amachucar papel vegetal.


Alisar o papel.
Pintar com lápis de cera toda 07
a superfície do papel (não
usar papéis muito grandes).

As técnicas e os suportes usados na


técnicas e suportes formação foram muito diversificados e
tiveram em conta as capacidades expressivas
e a possibilidade de utilização por crianças
da faixa etária do ensino pré-escolar.

PINTURA COM TINTA EM PÓ


Rasgar jornal aos bocados.
Molhar a folha de papel onde se
vai fazer a pintura.
Colar bocados do jornal na folha.
Deitar tinta em pó de várias
cores sobre toda a folha.

Deitar pingos de tinta na mesa.


Deitar tintas em pó sobre os
pingos de água.
Deslizar uma folha sobre os
pingos.

fundamentação
PASTA DE PAPEL
Rasgar o papel em tiras.
Cortar as tiras em pedaços.
Mergulhar em água quente,
deixar de molho durante
24h e triturar.
Coar a pasta, deixando-a
pouco líquida.
Acrescentar cola (por cada
folha dupla de papel de
jornal, uma colher de cola).
Amassar com as mãos.
Voltar a coar, apertando
com as mãos até que fique
08 uma massa consistente.
A pasta trabalha-se com os
dedos, batendo devagar.
Para cortar e marcar usar
uma espátula ou um palito.
Para pintar esperar que
esteja bem seca.

PINTURA COM
BOLAS DE SABÃO
Misturar detergente líquido com
água e tinta em pó.
Soprar para fazer bolas.
Passar a folha de papel pelas
bolas de sabão.
Repetir várias vezes e com cores
diferentes.

PINTURA MÁGICA
Riscar ou desenhar com
lápis de cera/ cera de vela
na folha de papel.
Passar uma aguada de
marcadores ou de corante
alimentar por cima.
fundamentação
PINTURA EM FOLHA DE ALUMÍNIO
Pintar com os dedos, usando tintas (guache) de
várias cores, sobre a folha de alumínio.

09

PINTURA COM CORDÉIS


Dobrar a folha ao meio.
Colocar cordéis na tinta
(guache). Se for preciso ajudar
com o pincel.
Abrir a folha de papel e deixar
cair os cordéis numa das
metades da folha.
Deixar ficar a ponta dos cordéis
de fora.
Dobrar o papel e fazer pressão
sobre os cordéis.
Desdobrar e retirar os cordéis.
Usar cordéis de várias grossuras
e usar várias cores.
fundamentação
PINTURA COM GIZ
Desenhar com giz sobre cartolina
preta ou de cor escura (também
podemos usar papel de cores).
Para fixar o giz pode usar-se
laca, verniz em spray ou cola.

PLASTICINA
10 Usar plasticina de várias cores,
uma base lisa (um CD, um prato,
um azulejo...).
Utilizando a técnica do rolinho e
da bolinha, com a plasticina,
fazer uma composição em cima
da base escolhida, pressionando
a plasticina para aderir à base.

PASTEL SECO
Desenhar com lápis de pastel
seco sobre papel.
Esbater o desenho com os
dedos.
Para fixar o giz pode usar-se
laca, verniz em spray ou cola
branca aguada.

PINTURA EM ACETATO
Pintar com os dedos sobre o acetato com
tinta (guache).
Fazer desenhos.
Colocar uma folha de papel sobre a pintura
e retirar (monotipia).

fundamentação
PINTURA COM ESPONJAS
Pintar com tintas (guache)
usando esponjas ou outros
materiais sobre papéis ou
cartolinas.

PINTURA COM
LÁPIS DE AGUARELA 11
Desenhar com lápis de
11
aguarela sobre papel branco.
Passar por cima com um
pincel molhado em água.
Deixar secar.
Fazer pormenores com lápis
de várias cores.

PINTURA COM BERLINDES


Colocar a folha numa caixa.
Colocar um berlinde dentro
da tinta (guache).
Tirar o berlinde para a caixa.
Agitar para mover o berlinde
sobre a folha.
Repetir com várias cores.

COLAGEM COM
PAPEL DE SEDA
Pincelar o papel branco com cola
(gel ou branca misturada com um
pouco de água).
Colar pedacitos de papel de seda.
Esta técnica pode ser usada
noutros materiais (vidro, louça).

PINTURA COM PENTE


Deitar tinta de várias cores
(guache) sobre o papel.
Passar um pente sobre a tinta
em várias direções.

fundamentação
José Eduardo Agualusa
Foto de Jorge Simão

12

sábios como Um dia a caravana perdeu-se no


deserto. Os quatrocentos
camelos caminhavam em fila,

camelos
uns atrás dos outros, como um
carreirinho de formigas. À frente
da cáfila, que é como se chama
uma fila de camelos, seguia o
Há muitos anos viveu na Pérsia um grão-vizir e os seus ministros.
grão-vizir – nome dado naquela época Subitamente o céu escureceu, e
um vento áspero começou a
aos chefes dos governos -, que gostava soprar de leste, cada vez mais
imenso de ler. forte. As dunas moviam-se como
se estivessem vivas. O vento
carregado de areia, magoava a
Sempre que tinha de viajar ele pele. O grão-vizir mandou que os
levava consigo quatrocentos camelos se juntassem todos,
camelos, carregados de livros, e formando um círculo. Mas era
treinados para caminhar em demasiado tarde. O uivo do
ordem alfabética. O primeiro vento abafava as ordens. A areia
camelo chamava-se Aba, o entrava pela roupa, enfiava-se
segundo Baal, e assim por pelos cabelos, e as pessoas
diante, até ao último, que atendia tinham de tapar os olhos para
pelo nome de Zuzá. Era uma não ficarem cegas. Aquilo durou
verdadeira biblioteca sobre a tarde inteira. Veio a noite e
patas. quando Sol nasceu o grão-vizir
Quando lhe apetecia ler, o grão- olhou em redor e não foi capaz
vizir mandava parar a caravana e de descobrir um único dos
ia de camelo em camelo, não quatrocentos camelos. Pensou,
descansando antes de encontrar com horror, que talvez eles
o título certo. tivessem ficado enterrados na
fundamentação
quatrocentos livros, então
quatrocentos camelos
transportavam cento e sessenta
mil! Cento e sessenta mil dias
são quatrocentos e quarenta e
quatro anos. Muito antes disso
morreria de velhice na cadeia.
Dois soldados amarraram-lhe os
areia. Não conseguia imaginar braços atrás das costas. Já se
como seria a vida, dali para a preparavam para o levar preso,
frente, sem um só livro para ler. quando Aba, o camelo, se
Regressou muito triste ao seu adiantou uns passos e pediu
palácio. Quem lhe contaria licença para falar:
histórias? - Não façais isso, meu senhor – 13
Os camelos, porém, não tinham disse Aba dirigindo-se ao grão-
morrido. Presos uns aos outros vizir – esse homem salvou-nos a
por cordas, e conduzidos por um vida.
jovem pastor, haviam sido O grão-vizir olhou para eles
arrastados pela tempestade de espantado:
areia até uma região remota do - Meu Deus! O camelo fala!...
deserto. Durante muito tempo
- Falo sim, meu senhor –
caminharam sem rumo, aos
confirmou Aba, divertido com o
círculos, tentando encontrar uma
incrédulo silêncio dos homens –
referência qualquer, um sinal,
Os livros deram-nos a nós,
que os voltasse a colocar no
camelos, a ciência da fala.
caminho certo. Por toda a parte
era só areia, areia e ar seco e Explicou que, tendo comido os
quente. À noite as estrelas quase livros, os camelos haviam
se podiam tocar com os dedos. adquirido não apenas a
capacidade de falar, mas
Ao fim de quinze dias, vendo que
também o conhecimento que
os camelos iam morrer de fome,
estava em cada livro.
o jovem pastor deu-lhes alguns
Lentamente enumerou de A a Z
livros a comer. Comeram
os títulos que ele, Aba, sabia de
primeiro os livros transportados
cor. Cada camelo conhecia de
por Aba, ou seja , todos os títulos
memória quatrocentos títulos:
começados pela letra A. No dia
seguinte comeram os livros de - Liberta esse homem – disse
Baal. Trezentos e noventa e oito Aba -, e sempre que assim o
dias depois, quando tinham desejares nós viremos até ao
terminado de comer os livros de vosso palácio para contar
Zuzá, viram avançar ao seu histórias.
encontro um grupo de homens. O grão-vizir concordou. Assim, a
Eram as tropas do grão-vizir. partir daquele dia, todas as
Conduzido à presença do grão- tardes, um camelo subia até ao
vizir o jovem guardador de quarto para lhe contar uma
camelos, explicou-lhe, chorando, história. Na Pérsia, naquela
o que tinha acontecido. Mas este época, era habitual dizer-se de
não se comoveu: alguém que mostrasse grande
inteligência:
- Eras o responsável pelos livros
- disse -, assim, por cada livro - Aquele homem é sábio
destruído passarás um dia na como um camelo.
prisão. Isto foi há muito tempo. Mas há
O guardador de camelos fez quem diga que, quando estão
contas de cabeça, rapidamente, sozinhos, os camelos ainda
e percebeu que seriam muitos conversam entre si.
dias. Cada camelo carregava Pode ser.
fundamentação
os gnomos
de gnu
14 uma aventura ecológica

- Que espécie de Imperador serei Mas só encontrava planetas


eu – bradava ele -, se os meus cheios de vulcões que cuspiam
navios não descobrirem um novo fogo para o céu, mas nem
continente, onde abundem o vestígios de planetas aprazíveis
ouro, a prata e as pastagens, e e habitados.
para onde eu possa levar a Até que um dia, nos confins da
nossa civilização? galáxia, para onde tinha
Os seus Ministros responderam- apontado o seu megatelescópio
lhe: - Mas, Majestade, já não megagalático, o EG viu uma
existe nada para descobrir aqui coisa maravilhosa...
na Terra. Veja o globo! Um lindo planetazinho, com um
- E aquela ilha pequenina, ali? – céu muito azul salpicado de
perguntava ansiosamente o leves nuvens fofas e brancas,
Imperador. com vales e florestas tão verdes
- Bem, se a puseram no globo, é que era um prazer olhar para
porque já foi descoberta há muito eles.
tempo – retorquiram os Ministros. Ao aproximar-se do planeta, viu
– Talvez até já lá tenham que nos seus vales saltitavam
construído um complexo graciosos animais das mais
turístico. E, além disso, os variadas espécies, enquanto uns
navegadores hoje já não viajam homenzinhos minúsculos, um
pelos mares à procura de novos bocadinho ridículos mas muito
continentes e ilhas! Hoje visitam engraçados, andavam a podar as
galáxias em astronaves! árvores, a dar de comer aos
- Nesse caso – insistiu pássaros, a desbastar as ervas,
teimosamente o imperador -, ou então nadavam
enviem um explorador Galático tranquilamente em rios e regatos
que me descubra pelo menos um de águas tão transparentes que
pequeno planeta habitado! se podia ver lá no fundo uma
E assim o Explorador Galático infinidade de peixes multicolores.
(EG para os amigos) vagueou O EG aterrou, desceu da sua
durante muito tempo pelo espaço astronave e viu aproximarem-se
imenso em busca de um planeta alguns daqueles homenzinhos,
que pudesse ser civilizado. que lhe sorriam e se
fundamentação
15

Umberto Eco
Fonte: https://en.wikipedia.org/

apresentaram: - Bom dia, - Se é grátis – responderam os


forasteiro, nós somos os gnomos gnomos muito contentes -,
de Gnu, que é o nome do nosso ficamos já com ela. Mas,
planeta. E o Senhor, quem é? desculpe-nos se insistimos...
- Eu – disse o EG, - sou sabemos que a cavalo dado não
Explorador Galático do Grande se olha o dente... mesmo assim
Imperador da Terra e vim gostaríamos de fazer uma
descobrir-vos! pequena ideia de como é a
-Olha que coincidência – vossa civilização. Com certeza
respondeu o chefe dos gnomos -, que compreende.
e nós que julgávamos que O EG resmungou um bocado,
tínhamos sido nós a descobri-lo! porque na escola tinham-lhe
- Não – replicou EG -, sou eu que ensinado que quando os
vos estou a descobrir, porque exploradores de outros tempos
nós, lá na Terra, não sabíamos levavam a civilização a uma nova
da vossa existência, e sendo terra, os indígenas aceitavam-na
assim tomo posse deste planeta sem protestar. No entanto, como
em nome do meu Imperador, se sentia muito orgulhoso da
para vos trazer a civilização. civilização da Terra, foi buscar o
seu megatelescópio
- Para dizer a verdade – megagalático à nave, apontou-o
respondeu por sua vez o chefe na direção do nosso planeta e
dos gnomos -, nós também não disse:
sabíamos que vocês existam.
Mas não vamos discutir por uma - Venham e vejam com os
coisa tão insignificante, para não vossos próprios olhos!
estragarmos este dia. Diga-nos - Que máquina! Que tecnologia!
antes, que civilização é essa que – exclamaram os gnomos
nos quer trazer e quanto custa? deslumbrados, admirando o
- A civilização – respondeu o EG, megatelescópio megagalático e,
- é uma quantidade de coisas à vez todos eles espreitaram lá
maravilhosas que os terrestres para dentro para ver a Terra.
inventaram e que o meu - Mas eu não vejo nada – disse o
Imperador está pronto a oferecer- primeiro gnomo de Gnu -, só vejo
vos inteiramente de graça. fumo!
fundamentação
O EG também olhou, depois deitar fora sacos de plástico,
desculpou-se: caixas de bolachas e frascos de
- Enganei-me e apontei para uma doce...
cidade. É que, com todas - Que pena – disse o terceiro
aquelas chaminés de fábricas, os gnomo.
escapes dos camiões e dos - E o que são todas aquelas
automóveis... há um bocado de caixas de metal enfileiradas na
fumo. estrada?
- Compreendo – disse o gnomo -, - São automóveis, um dos
nós aqui também não nossos melhores inventos.
conseguimos ver os cumes Servem para irmos muito
daquelas montanhas quando o depressa de um lugar para
tempo está nublado... Mas talvez outro...
amanhã esteja bom tempo e se
12
16 consiga ver essa coisa a que o
- E porque é que estão parados?
– perguntou o gnomo.
senhor chama cidade.
- Aa... – respondeu o EG
- Receio que não – respondeu o embaraçado, - é que há muitos
EG -, hoje em dia o fumo já nem automóveis a mais e muitas
aos domingos desaparece. vezes o trânsito fica
- Que pena – disse o gnomo. engarrafado...
- Que água é aquela, tão negra - E aquelas pessoas estendidas
no centro e tão castanha nas na berma da estrada, quem são?
margens? – perguntou o – perguntou ainda o gnomo.
segundo gnomo. - São pessoas que ficaram
- Oh! – respondeu o EG. – Devo feridas quando o trânsito não
ter apontado para o mar. Sabem, estava engarrafado, por irem
é que os petroleiros naufragam demasiado depressa...
no mar alto e o petróleo espalha- - Já percebi – disse o gnomo -,
se à superfície, e perto das quando aquelas vossas caixas
margens fazem-se todas aquelas são de mais, não andam, quando
descargas que ninguém controla andam, as pessoas que vão lá
e que acabam por ir ter ao mar... dentro magoam-se. É realmente
como hei de dizer... todas uma pena...
aquelas coisas horríveis que os
homens deitam fora... O chefe dos gnomos interveio
então:
- Quer dizer que o vosso mar
está cheio de caca? – perguntou - Desculpe, senhor Descobridor –
o segundo gnomo, e todos os disse -, acho que não vale a
outros gnomos se riram, porque, pena vermos mais nada. Talvez a
quando um dos gnomos de Gnu sua civilização tenha muitos
dizia “caca”, todos os outros se aspetos muito interessantes, mas
riam. se a trouxer para aqui
perderemos os nossos prados,
O EG ficou calado e o segundo as nossas árvores, os nossos
gnomo murmurou: rios, e ficaremos pior do que
- Que pena! estamos. Não se importava de
- E o que é aquela enorme área não nos descobrir?
cinzenta com coisas - Mas temos montes de coisas
esbranquiçadas, sem árvores e fantásticas! – disse o EG
cheia de embalagens vazias? – melindrado. – Por exemplo,
perguntou o terceiro gnomo. quantos hospitais é que vocês
Depois de ter dado uma têm aqui? Nós temos hospitais
olhadela, o EG explicou: estupendos!
- É o nosso campo. Bom, admito - E para que servem os
que cortámos demasiadas hospitais? – perguntou o chefe
árvores e é verdade que as dos gnomos, depois de ter
pessoas têm o mau hábito de espreitado pelo megatelescópio.
fundamentação
práticas
- Vê-se logo que vocês são pessoas da Terra como é bom
primitivos! Servem para curar os passear sem ir sempre de carro, e
que estão doentes. assim por diante, e talvez dentro
- E porque é que as pessoas de alguns anos a vossa Terra
ficam doentes? – perguntou o pudesse ficar tão bonita como o
chefe dos gnomos. planeta Gnu.
O EG estava muito irritado: O EC estava mesmo a ver os
- Ora francamente! Vê aquele gnomos de Gnu em ação, e não
senhor ali? Fumou demasiados podia deixar de imaginar como a
cigarros e agora vamos sua (e a nossa) Terra ficaria de
transplantar-lhe os pulmões novo bonita.
porque os dele estão - Está bem – concordou. – Volto
completamente negros. E aquele para o meu planeta e falo com o
outro? Tomou uma coisa a que meu Imperador.
17
nós chamamos droga, e no Regressou então à Terra e contou
hospital estão a tentar curá-lo de a sua história ao Imperador e aos
todas as infeções que apanhou Ministros.
por usar seringas sujas. E Mas o Primeiro-Ministro levantou
àqueles ali, estão a pôr-lhe uma logo um problema: - Quanto a
perna de plástico porque foi deixar vir esses gnomos de Gnu,
atropelado por uma mota. E a temos que pensar muito bem. É
este estão a fazer uma lavagem necessário que tenham
ao estômago porque comeu passaporte, que paguem o imposto
alimentos contaminados. É para de imigração, o papel selado, e
tudo isto que servem os além disso precisam da
hospitais! Não vos parece uma autorização da polícia urbana, dos
excelente invenção? guardas florestais e da capitania
- Como invenção – respondeu o do porto...
chefe dos gnomos -, não tenho Mas, enquanto falava, o Ministro
nada a dizer. Mas como nós não escorregou numa pastilha elástica
fumamos cigarros, não tomamos que o outro Ministro tinha deitado
drogas nem usamos seringas, para o chão, partiu as pernas, os
não andamos de mota e dentes, o queixo, o nariz, o ombro,
comemos alimentos a cabeça e os dedos ficaram tão
fresquíssimos que crescem nas profundamente enfiados nas
nossas hortas e nas nossas orelhas que nunca mais ninguém
árvores, entre nós muito poucas conseguiu tirá-los. Na grande
pessoas ficam doentes e basta confusão que se seguiu, o Ministro
um bom passeio nas montanhas foi atirado para a rua, onde caiu no
para se curarem. Ouça lá, senhor passeio, no meio dos sacos do lixo
Descobridor, tive uma ideia que que há muito não eram recolhidos,
me parece ótima. Porque não e ali ficou a cobrir-se de poluição e
vamos nós descobrir-vos lá na a respirar os gases dos escapes
Terra? dos automóveis.
- E depois? – perguntou o EG, De momento a nossa história
que no fundo começava a sentir- termina aqui e pedimos desculpa
se um tanto embaraçado. por não podermos dizer que desde
- E depois nós somos excelentes então todos viveram felizes e
a cuidar de prados e jardins, a contentes. É que ninguém sabe se
plantar árvores novas e a tratar alguma vez os gnomos de Gnu
das velhas que estão quase a obterão permissão para vir à Terra.
cair, púnhamo-nos a recolher Mas mesmo que não venham,
todo aquele plástico e todas porque é que não lançamos mãos
aquelas latas, e dávamos um à obra e não começamos nós a
jeito nos vossos vales. Fazíamos fazer aquilo que teriam feito os
filtros de folhas para as vossas gnomos de Gnu?
chaminés, explicávamos às
fundamentação
trabalho
ANA ÂNGELO, FORMANDA
1
técnicas utilizadas
Pinturas mágicas:
fundo e nuvem superior
Pintura com giz sobre cartolina preta:
megatelescópio (no canto superior esquerdo)
Pintura com tinta em pó:
nuvem inferior e olhos e pés do EG
18
12 Pintura de pente sobre acetato:
boca do EG e arbusto do planeta
Pintura com berlindes:
arbustos do planeta
Colagem com papel de seda:
árvores do planeta
Pintura com esponjas:
corpo do EG
Plasticina sobre CD:
planeta

Até que um dia, nos confins da galáxia, para


onde tinha apontado o seu megatelescópio
megagalático, o EG viu uma coisa maravilhosa...

práticas
trabalho
LAURA ABADE, FORMANDA
2
técnicas utilizadas
Pintura mágica
Pintura de berlindes
Pintura em acetato
Pintura com esponjas
Modelagem
19

À noite as estrelas quase se podiam


tocar com os dedos.

práticas
trabalho
M A FA L D A C A P U C H O , F O R M A N D A
3
técnicas utilizadas
Pintura com tinta em folha branca, recorte e
colagem em cartolina preta
Tinta em tubo: lava
Pintura com giz em cartolina escura
Recortar em papel formas de nuvens, colocá-las
20
12 sobre o papel, esfregar os bordos do papel
recortado com pó de giz, ou esfregar o giz e
esbatê-lo com os dedos
Recorte e colagem: pedaços de papel; papel
canelado e de pasta de papel
Origami em papel
Pintura com esponja: folhas das árvores

Mas só encontrava planetas cheios de vulcões


que cuspiam fogo para o céu….
Um lindo planetazinho, com um céu muito azul
salpicado de leves nuvens fofas e brancas, com
vales e florestas tão verdes que era um prazer
olhar para eles.

práticas
trabalho
CELINA MADEIRA, FORMANDA
4
técnicas utilizadas
Pintura mágica
Pintura com berlindes
Pintura com pente
Pintura com esponja
Modelagem
Origami
21

À noite as estrelas quase se


podiam tocar com os dedos.

práticas
trabalho
GRAÇA BORRALHO, FORMANDA
5
técnicas utilizadas
Pintura mágica
Desenho/ pintura em papel vegetal
Pintura com bolas de sabão
Desenhos/ pinturas com giz
Pintura de pente
22
12 Pintura em acetato
Colagem com papel de seda
Pasta de papel

Um lindo
planetazinho, com
um céu muito azul
salpicado de leves
nuvens fofas e
brancas, com vales e
florestas tão verdes
que era um prazer
olhar para eles.

práticas
trabalho
ROSÁRIO NAIA, FORMANDA
6
técnicas utilizadas
CD decorado com plasticina:
nave espacial
Pintura com lápis de aguarela:
céu e floresta
Pintura com tinta em pó:
flores
Papel reciclado: 23
encosta
Decalque com lápis de cera:
copas das árvores
Água sobre pintura com caneta de feltro:
troncos das árvores
colagem de papel de seda, pintura com café,
barro/ terracota:
extraterrestre

Um lindo
planetazinho, com
um céu muito azul
salpicado de leves
nuvens fofas e
brancas, com vales e
florestas tão verdes
que era um prazer
olhar para eles.

práticas
trabalho
MARIA ISABEL GIL, FORMANDA
7
técnicas utilizadas
Desenho e pintura com giz, sobre cartolina preta:
gnomo
Colagem de tecido:
botas, botões e bolsos
Papel reciclado colado:
24
12 fato, saltos e pontas das botas
Pintura com esponja:
cabelo

... uns homenzinhos


minúsculos, um
bocadinho ridículos
mas muito
engraçados.

práticas
trabalho
PA U L A F I G U E I R E D O , F O R M A N D A
8
técnicas utilizadas
Caixa de sapatos, pintura com pincel, graffiti e dobragem de arame:
exterior do planeta
Pintura com esponjas em cartolina preta, pintura com lápis de cera
e recorte, folha com pintura de pente:
interior do planeta
Pintura por salpico:
árvores 25
Desenho/ pintura com lápis de aguarela
peixes
Pasta de papel:
vales

Ao aproximar-se do planeta, viu que nos seus


vales saltitavam graciosos animais das mais
variadas espécies, enquanto uns homenzinhos
minúsculos, um bocadinho ridículos mas muito
engraçados, andavam a podar as árvores, a dar de
comer aos pássaros, a desbastar as ervas, ou
então nadavam tranquilamente em rios e regatos
de águas tão transparentes que se podia ver lá no
fundo uma infinidade de peixes multicolores.
práticas
‘‘
bibliografia
TEXTO: ANA MARIA FERNANDES
comentada
12
26
RODRIGUES, DALILLA D`ALTE. A Infância da Arte, a Arte da Infância.
Lisboa, Asa, 2002. ISBN 9789724127477
Este livro é um estudo que nos fornece informação sobre a História da Arte
desde a Pré-História aos dias de hoje. A autora alerta-nos para os aspetos
da imaginação criadora da criança e do adolescente e dedica espaço à
experimentação de técnicas.

DESNOETTES, CAROLINE. Olhar a Pintura através dos séculos.


Lisboa, Kalandraka, 2007. ISBN 9789728781644
Uma obra para olhar 18 obras de arte. Cada página revela-nos uma obra
de arte de forma lúdica. Observar, descobrir e brincar, levar as crianças a
criar gosto pela arte e a saberem pormenores sobre cada uma das obras
abordadas.

Cadernos de Educação de Infância - APEI. ISSN 2182-8369


(n.º 49, n.º 93, n.º 23, n.º 99, n.º 96, n.º 89, n.º 95).
Apontamentos e artigos sobre educação e arte no Jardim de Infância, fruto
de vivências e experiências feitas em contexto de sala.

Foto: Livros científicos na biblioteca do Merton


College, Oxford
Fonte:
http://gallery.spacebar.org/f/a/photo/viewpic/1/
519/1/

práticas
recursos

Você também pode gostar