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A terceira cor da bola

Paola Franceschini Giovanolli

Link para o vídeo:

https://drive.google.com/file/d/1P1FKAGqg8bZfwwwwk8P_wfRR58R96Rjc/
view?usp=sharing
Integrantes:
Paola Franceschini Giovanolli
Sinopse da narrativa:
O curta “A terceira cor da bola”, conta a história de uma pessoa que se deparar no
meio de um jogo de futebol e uma brincadeira de bonecas. Em meio a isso, uma
situação acontece no jogo de futebol: policiais aparecem para punir as meninas que
estavam somente de sutiã jogando bola, enquanto os meninos estavam
completamente sem camisa. A partir daí, uma mudança ocorre, e a personagem que,
acaba se direcionando a brincadeira das bonecas, tem uma epifania, um processo de
identificação com o futebol. Ela enxerga nele seu potencial revolucionário,
transformador e unificador entre aquilo que é e não é coibido, entre o masculino e o
feminino, o azul e o rosa e, para além disso, a identificação de que no futebol pode se
constituir uma nova cor, uma nova identidade, a terceira, a outra, a que lhe cabe e lhe
conforta.
Discussão sobre o modo como a questão da identificação é pensada no trabalho
visual:
Neste trabalho audiovisual, a questão da identificação é tratada como um conceito
transformador, contínuo e múltiplo. Se identificar com algo, constituir identidades são
processos que ocorrem constantemente em nossas vidas e, podem constituir caráter
transformador. No entanto, justamente, por, na maioria das vezes, estar ligado a
constituição de identidade, é sempre julgado e revisto pelos “preconceitos” e barreiras
da sociedade. Sendo assim, neste trabalho, busco questionar exatamente isto e, para
além disso, materializo tal questionamento e potencial transformador no futebol (o
objeto de identificação da personagem). Por ser menina, “a princípio” deveria brincar
de boneca, deveria usar rosa, deveria usar blusa enquanto joga futebol. Tal fator é
materializado quando policiais aparecem no jogo de futebol e questionam o porquê
das meninas estarem jogando bola somente de sutiã, enquanto os homens estão sem
camisa. No entanto, a obra questiona, justamente, essas visões maniqueístas onde
futebol e brincar de boneca, rosa e azul são extremos opostos. A personagem usa
rosa, brinca de boneca e, mesmo assim, se identifica com o futebol. O processo de
identificação com o futebol transforma sua identidade, a expande para uma visão não
mais bipolar e maniqueísta. Existe a terceira cor, a junção dos dois, a possibilidade
dos dois e, ela, encontra isso no futebol. Por isso, tamanha identificação.
OBS: Além dessa explicação, gostaria de falar algo adicional. A princípio, no meu
trabalho, não existia a cena em que policiais entravam no meio do jogo de futebol e
mandavam as meninas colocarem suas blusas. No entanto, no meio da gravação, este
episódio aconteceu e isto, além de me despertar um processo ainda maior de
identificação com o futebol como algo revolucionário e transformador, me fez pensar
como era necessário eu trazer neste meu trabalho essa visão “simplista”, maniqueísta
e bipolar da sociedade sobre o futebol, sobre o ser menina, sobre o ser menino. Com
isso, só queria informar que a cena deste conflito foi totalmente não planejada, mas,
com certeza, agregou demais para a formulação do meu trabalho.
Discussão sobre as escolhas formais e estéticas do trabalho visual:
Tive diversas escolhas formais e estéticas durante a formulação deste trabalho.
Queria buscar, através destas escolhas, um questionamento, uma confusão entre “os
dois polos” que são apresentados no meu trabalho.
De início, começamos falando sobre a escolha do tipo de filmagem. A princípio
decidi fazer uma filmagem com a câmera na mão, para que o telespectador se
sentisse junto a personagem, em primeira pessoa. Com isso, temos um telespectador
que participa dos acontecimentos no vídeo: de estar no meio de um jogo de futebol e
uma brincadeira de boneca, de presenciar a confusão a respeito do uso da blusa
feminina e de, principalmente, sentir, junto a personagem, a identificação pelo futebol,
pela sua transformação.
Sendo assim, começamos com uma coloração inicial bem escura, afinal a
personagem se sente confusa e obstante. Além disso, para uma escolha estética
temos uma personagem com uma blusa de futebol do Cristiano Ronaldo, mas que é
rosa. Com isso, já início o questionamento que será dado durante todo o curta sobre a
bipolaridade do ser menina e do ser menino.
Mais a frente, escolhi colocar a cena de uma pessoa pintando um papel em
branco de azul, mas com a coloração, editada na pós-produção, roseada para
anteceder a cena da brincadeira de boneca em close, para que então fosse posto um
questionamento, um embaralhamento na cabeça do telespectador. Com isso, tal
intenção se repete na cena que antecede o close nos pés dos meninos com a bola: a
cena do papel branco sendo pintado de rosa está com a sua coloração azulada. Por
fim, temos para finalizar está sessão, a terceira cor sendo posta. E, neste momento, a
cena não sofre nenhuma coloração diferente, apenas um grande realce na sua
iluminação, na sua cor branca. Afinal, é para que fique claro: de que existe uma
terceira cor que mistura azul e rosa e; de que seja esclarecedor.
Em seguida, na cena em que ocorre o conflito principal do curta (os polícias
intervindo no jogo de futebol e pedindo para que as meninas colocassem suas blusas)
eu não editei nenhuma cor ou iluminação. Afinal, aquela situação para mim foi
extremamente imprevista e real, quis mostrá-la do jeito que foi, foi real e, infelizmente,
ainda acontece em muitas quadras da cidade.
Após este conflito, temos o momento em que a personagem se identifica com o
futebol e enxerga nele uma transformação. Primeiramente, é preciso apontar que até
agora não tínhamos visto o rosto da personagem. E, somente quando vemos seu
rosto, vemos sua identidade, vemos que ela olha para o jogo de futebol e se identifica.
Com isso, para deixar explicito esse momento de identificação, além da ajuda da trilha
sonora, fiz com que, neste momento, o brilho, o branco e a iluminação clara desta
cena mudasse explicitamente. A partir daqui, todas as cenas tem seu brilho, seu
branco e sua iluminação no máximo. Ela está esclarecida, ela está num processo de
identificação. E junto a isso, temos um ritmo mais rápido, sequenciado de uma cena
reverse (é a primeira cena de trás para frente numa velocidade rápida), uma cena da
boneca sendo vestida com uma blusa de time e um short, de uma bola sendo
desmontada e uma cena da saída que uma das meninas, que estava na quadra
quando o conflito com os policias aconteceu, tomou (ela colocou seu sutiã em cima de
sua blusa). Todas essas cenas se passam em uma velocidade alta e um brilho
claríssimo para que, então, nos sentíssemos na cabeça da personagem, passando por
um processo de identificação, um insight. Afinal, normalmente, processos de
identificação, acontecessem de forma rápida e esclarecedora, depois deles estamos
transformados. E, foi essa a intenção que tentei passar, na edição do que é formal
nestas cenas.
Por fim, já sem nenhuma trilha sonoro, temos a cena de personagem com a
sua blusa rosa do Cristiano Ronaldo, caminhando até a câmera, com um jeito de se
vestir diferente e com a coloração da imagem azulada. Em seguida, a cena de uma
bola de futebol vindo até a câmera já com a coloração da imagem na “terceira cor da
bola”, o roxo. Junto a isso, temos o poema “Identidade” de Pedro Bandeira. “As vezes,
nem sei quem sou. As vezes sou”. Afinal, se identificar com algo, formular identidades
é um processo repentino e transformador. Não sabemos por que nos identificamos
com algo específico, apenas nos identificamos. Não sabemos o porquê somos de um
jeito ou de outro, apenas somos. E isso, é transformador quando coloca em questão
as cores e os papeis que a sociedade maniqueísta, infelizmente, impõe em cada ser.
Discussão sobre como os conceitos indicados no Briefing são trabalhados na
nova peça:
Os conceitos trazidos no Briefing eram, principalmente, trazer um processo de
identificação de uma menina pelo futebol e questionar o papel da menina entre um
jogo de futebol e uma brincadeira de bonecas (trazendo o peso que a sociedade e
seus julgamentos impõem nisto). Diante disto, acho que consegui trazer os dois
elementos com muita clareza. Isto, principalmente, pela ajuda das escolhas formais e
estéticas que tive na pós-produção, juntamente, com os imprevistos que aconteceram
durante a minha gravação e que, no final, agregaram significantemente.

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