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JOIAS DE CRIOULA

 As jóias de crioula, adornos confeccionados em ouro e prata, presentes na comunidade afro
descendente escrava e liberta brasileira dos séculos XVIII e XIX, se subdividem em três ramos. O
primeiro das jóias, confeccionadas pelos senhores escravocratas que adornavam as escravas que
serviam como empregadas domesticas a residência colonial, como símbolo de opulência e poder.
O segundo, das jóias de axé, confeccionadas por razoes devocionais as matriarcas das casas de
santo, da cultura das religiosidades afro brasileiras. O terceiro, as jóias confeccionadas pelos
escravos de ganho, auxiliares dos oficiais de ourives, para adorno das ex - escravas alforriadas
como símbolo de afirmação de liberdade na sociedade, por prestigio e poder. Usadas
abundantemente durante as festas dentro da comunidade da época.
Entre os círculos de confecção das famosas jóias de crioulas, muito romantizados existem alguns
hiatos pouco abordados pelos historiadores. O primeiro é quanto ao material, pois a prata por
não ter extração no Brasil Colonial era mais nobre que o ouro. Outro seria sobre a confecção
delas pelos escravos de ganho pois não eram feitas pelos oficiais ourives portugueses, pois os
mesmo produziam os utensílios religiosos católicos e estavam impedidos a confeccionar adornos
para animais. Por mais dramático que pareça, era está a posição oficial religiosa católica da
época, seres sem alma, inventariados e comercializados como tal. A humanização aparece por
alguns autores com o estudo posterior deste período nefasto escravocrata brasileiro.
As jóias de crioula produzidas no período escravocrata brasileiro dos séculos XVIII e XIX, tem
por confecção e acabamento quase formas de artesanato e de forjaria de ferreiros, já que eram
produzidas pelos escravos de ganho. Isto explica a simplicidade das formas e a repetição dos
elementos, que não resultavam das técnicas da joalheria européia da época, aprimoradas dos
prateiros e oficiais ourives portugueses. Em sua grande parte são de pratas, algumas com vermeil
combinadas a elementos naturais de adorno, como o coral baiano, a casca do coco, o jacarandá, o
marfim de diversos tipos de animais e o casco de tartaruga. O ouro quando aparece costuma ser
de baixo teor e sobretudo em pequena quantidade, como detalhe.
Ainda sobre o capitulo das " jóias de crioula" é importante ressaltar e esclarecer que a Igreja
Católica no Brasil dos séculos XVIII e XIX, não era uma religião somente, ela se chamava de
Clero e fazia parte do estado. A exemplo disto temos o artigo primeiro do Código Comercial
Brasileiro, que proíbe a mercancia, o ato de praticar comercio entre outros os clérigos que fazem
parte do estado e as mulheres casadas sem a permissão do marido. Isto bem recente, nos
primeiros anos da republica no inicio do século XX. Sendo assim, mesmo que veladamente coube
ao clero, imputar a idéia que o povo negro escravizado, não tinha alma e fortalecendo o poder
produtivo das Fazendas Coloniais, a um custo baixo para que os Barões do Café, da Borracha e da
Cana de Açúcar, pudessem ter muito lucro, afinal eram eles que bancavam literalmente o
Império. Mesmo que o Estado Brasileiro, tenha assumido pelo fim da escravidão e o nefasto
comercio de pessoas, após a independência em 1822, perante varias nações européias, foi a partir
deste período até 1850, que foram feitos os maiores e perversos contrabandos de escravos no
Brasil, a sua maior parte no Estado do Rio de Janeiro, inclusive realizados por negros libertos,
também, que traiam e vendiam os melhores e mais fortes trabalhadores de seu próprio povo. A
exemplo disto, temos a figura folclórica de Dom Obá, um negro que possuía diversos escravos e
estava ligado ao comercio imoral de escravos junto aos coronéis.

Texto original de Ricardo Vianna Barradas.

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