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DIREITO

EMPRESARIAL
Títulos de Crédito em Espécie

Livro Eletrônico
DIREITO EMPRESARIAL
Títulos de Crédito em Espécie
Tácio Muzzi

Sumário
Títulos de Crédito em Espécie...................................................................................................................................3
Títulos de Créditos: Aspectos Gerais. . ..................................................................................................................3
Constituição, Circulação e Garantia dos Títulos de Crédito. ....................................................................4
Exigibilidade........................................................................................................................................................................5
Títulos de Crédito em Espécie...................................................................................................................................7
Letra de Câmbio.................................................................................................................................................................7
Nota Promissória...........................................................................................................................................................36
Cheque..................................................................................................................................................................................42
Duplicata.............................................................................................................................................................................63
Ação Cambial....................................................................................................................................................................83
Ação de Enriquecimento (Locupletamento) sem Causa..........................................................................84
Ação Causal (Ação de Cobrança – Rito Ordinário) do Cheque. ............................................................85
Ação Monitória................................................................................................................................................................86
Títulos de Créditos Impróprios.. ............................................................................................................................. 88
Títulos de Créditos Vinculados ao Crédito Rural........................................................................................90
Títulos de Créditos Vinculados ao Crédito Bancário. ................................................................................99
Títulos de Créditos Vinculados ao Crédito Industrial............................................................................. 101
Títulos de Créditos Vinculados à Atividade Comercial.......................................................................... 101
Títulos de Créditos Vinculados à Exportação.............................................................................................102
Resumo............................................................................................................................................................................. 103
Questões de Concurso..............................................................................................................................................123
Gabarito.............................................................................................................................................................................127
Gabarito Comentado..................................................................................................................................................128
Referências..................................................................................................................................................................... 140

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Títulos de Crédito em Espécie
Tácio Muzzi

TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE


Olá, amigo(a) aluno(a)!
Vamos estudar nesta aula os títulos de créditos regulados por leis especiais, os denomina-
dos títulos de créditos típicos! Além dos clássicos (letra de câmbio, nota promissória, cheque
e duplicata, também falaremos de títulos disciplinados em outras leis, relacionados ao crédito
rural, bancário, industrial, comercial e à exportação.
Pontos do edital:
• Títulos de crédito em espécie. Títulos de crédito: aspecto gerais. Constituição do cré-
dito. Exigibilidade. Letra de Câmbio. Legislação. Convenção de Genebra e Decreto n.
2044/1908. A  questão das reservas à lei uniforme. Noções Gerais. Requisitos essen-
ciais. Modalidades. Vencimento e pagamento. Lugar de apresentação. Saque. Obriga-
ção do sacador. Aceite. Lançamento e Modalidades. Responsabilidade do Aceitante.
Nota promissória. Cheque. Duplicata. Títulos impróprios. Títulos de créditos vinculados
ao crédito rural, ao crédito bancário, ao crédito industrial, ao comercial e à exportação.

Títulos de Créditos: Aspectos Gerais


Caríssimo(a) aluno(a), conforme já tivemos a oportunidade de estudar na Aula 02, o vocá-
bulo “crédito” traz ínsita a ideia de troca de um bem presente por outro futuro, envolvendo no-
tadamente a disponibilidade de recursos para pagamento futuro. Nesse sentido, enceta uma
relação de confiança, sendo considerado um fator fundamental para o desenvolvimento da
atividade econômica.
Objetivando garantir eficiência e segurança para a mobilização do crédito, de forma a pro-
mover a circulação de riqueza por meio de instrumento apto a garantir os direitos do credor
em caso de não pagamento, os  títulos de créditos foram criados orientados por normas e
princípios jurídicos específicos (sub-ramo denominado direito cambiário ou direito cambial).
Adotando quase na literalidade o conceito do jurista italiano Cesare Vivante, o Código Ci-
vil, em seu artigo 887, definiu título de crédito como o “documento necessário ao exercício do
direito literal e autônomo nele contido”, consignado no final desse artigo que ele “somente
produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”

Extraímos do conceito de títulos de crédito de Cesare Vivante três princípios informadores


do regime cambial (dos quais irão se desdobrar os principais atributos e características dos
títulos de crédito), a saber:

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• Princípio da cartularidade: o credor para exercer o direito de crédito deverá estar na pos-
se legítima do título de crédito (ou seja, da cártula). Mas não nos esqueçamos: com o
desenvolvimento do comércio eletrônico e o surgimento das novas tecnologias, temos
assistido ao que a doutrina chama de desmaterialização do título de crédito, em que o
crédito circula sem propriamente uma cártula, sendo que o próprio Código Civil já permi-
te a emissão de título de crédito a partir de caracteres criados em computador ou meio
técnico equivalente (art. 889, §3º do CC);
• Princípio da literalidade: informa que somente valerá o que estiver efetivamente escrito
no título de crédito;
• Princípio da autonomia das obrigações cambiais: orienta que as relações jurídicas re-
presentadas em um título de crédito são autônomas e independentes entre sim. Sub-
divide-se em dois subprincípios: i) subprincípio da abstração, segundo o qual o título
de crédito, ao  ser colocado em circulação, desvincula-se do negócio originário; e ii)
subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé, que tem
viés mais processual, no sentido de que não será possível discutir em eventual demanda
judicial matéria de defesa estranha à relação direta com o exequente, salvo comprova-
ção de má-fé.

Constituição, Circulação e Garantia dos Títulos de Crédito


Em relação aos títulos de crédito, há a ocorrência de atos próprios regidos pelo regime ju-
rídico cambiário, cabendo-nos destacar os seguintes atos cambiários:
• Emissão/saque: é o ato de emissão do título de crédito;
• Endosso: é ato cambiário abstrato, eventual (não necessariamente ocorrerá) e formal
que permite a circulação do título de crédito com salvaguardas próprias do regime cam-
bial. Enceta uma declaração unilateral de vontade e promove a transferência do título
(e consequentemente o direito nele mencionado) ao endossatário – novo credor do tí-
tulo. Materializa-se com a assinatura do endossante e completa-se com a tradição do
título (art. 910, § 2º, CC). A regra geral em relação aos títulos de crédito próprios (letra
de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata) é circular mediante endosso, sendo
implícita, portanto, a cláusula à ordem (lembre-se: “cláusula à ordem” = ato cambiário
do “endosso”);
• Aval: é o ato cambiário autônomo, eventual e formal, em que uma pessoa (chamada
‘avalista’) se compromete a honrar título de crédito nas mesmas condições que o deve-
dor ‘avalizado’. Assim, o avalista se equiparará ao devedor principal (caso o ‘avalizado’
seja, v.g., o aceitante de letra de câmbio ou o emitente de nota promissória) ou ao coobri-
gado/devedor indireto (por exemplo, se for avalizado o endossante ou sacador de letra
de câmbio);

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• Aceite: é o ato cambiário que se vincula a títulos de crédito que contêm ordem de pa-
gamento (ex., letra de câmbio e duplicata), consistindo no ato por meio do qual o saca-
do (pessoa a quem a ordem é dirigida) se vincula à ordem de pagamento emitida pelo
sacador (pessoa que emite e ordena o título), tornando-se após o aceite o responsável
principal pela dívida inscrita no título de crédito (sacado torna-se ‘aceitante’). Não tem
lugar em título que enceta promessa de pagamento, por exemplo, nota promissória.

Exigibilidade
• Vencimento: poderá ocorrer de forma ordinária (com o transcurso do prazo ou ocorrên-
cia de circunstância prevista no título) ou extraordinária (v.g., pela recusa total ou parcial
do aceite ou falência do aceitante em títulos com ordem de pagamento);
• Pagamento: poderá extinguir todas as obrigações previstas no título (chamado de pa-
gamento extintivo), por exemplo, quando é feito pelo devedor principal; ou extinguir al-
gumas obrigações (caso efetuado por coobrigado ou devedor indireto, cabendo direito
de regresso, sendo chamado de pagamento recuperatório). Poderá haver também o pa-
gamento por intervenção, em que terceiro poderá intervir e pagar letra de câmbio antes
do vencimento ou até o último dia seguinte ao prazo do protesto por falta de pagamento,
podendo ser qualquer pessoa, com exceção do aceitante e seu avalista (art. 59 da LUG);
• Protesto: conforme conceito de Fábio Ulhoa Coelho, é “o ato praticado pelo credor, pe-
rante o competente cartório, para fins de incorporar ao título de crédito a prova de fato
relevante para as relações cambiais, como, por exemplo, a falta de aceite ou de paga-
mento da letra de câmbio.” (negritei).

Feitas essas considerações, é fundamental sabermos que o Código Civil somente se aplica
de forma subsidiária aos títulos de créditos regulados por leis especiais (denominados títulos
típicos ou próprios), como é o caso da letra de câmbio, nota promissória e cheque, duplicata,
por conta do disposto no art. 903 do Código Civil:

Art.  903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código. (negritei)

O Enunciado 464 da V Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal (CJF) (que
revisou o Enunciado 52 da I Jornada de Direito Civil do CJF) materializou esse entendimento:

Enunciado 464. Art. 903: Revisão do Enunciado n. 52 – As disposições relativas aos títu-


los de crédito do Código Civil aplicam-se àqueles regulados por leis especiais no caso de
omissão ou lacuna.

Nesse mesmo sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça (STJ):

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JURISPRUDÊNCIA
DIREITO CAMBIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REVELIA.
EFEITOS RELATIVOS. AVAL. NECESSIDADE DE OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. DISPO-
SIÇÃO RESTRITA AOS TÍTULOS DE CRÉDITO INOMINADOS OU ATÍPICOS.ART. 1.647, III,
DO CC/2002. INTERPRETAÇÃO QUE DEMANDA OBSERVÂNCIA ÀRESSALVA EXPRESSA
DO ART. 903 DO CC E AO DISPOSTO NA LUG ACERCA DOAVAL. REVISÃO DO ENTENDI-
MENTO DO COLEGIADO. COGITAÇÃO DE APLICAÇÃODA REGRA NOVA PARA AVAL DADO
ANTES DA VIGÊNCIA DO NOVO CC. MANIFESTAINVIABILIDADE.
(...)
3. É  imprescindível proceder-se à interpretação sistemática para a correta com-
preensão do art.  1.647, III, do CC/2002, de modo a harmonizar os dispositivos do
Diploma civilista. Nesse passo, coerente com o espírito do Código Civil, em se tra-
tando da disciplina dos títulos de crédito, o  art.  903 estabelece que “salvo disposição
diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”.
4. No tocante aos títulos de crédito nominados, o Código Civil deve ter uma aplicação
apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da
regulamentação dos títulos de crédito, no novel Diploma civilista, foi permitir a criação
dos denominados títulos atípicos ou inominados, com a preocupação constante de dife-
rençar os títulos atípicos dos títulos de crédito tradicionais, dando aos primeiros menos
vantagens.
(...)
6. As normas das leis especiais que regem os títulos de crédito nominados, v.g., letra
de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito, continuam
vigentes e se aplicam quando dispuserem diversamente do Código Civil de 2002, por
força do art. 903 do Diploma civilista. Com efeito, com o advento do Diploma civilista,
passou a existir uma dualidade de regramento legal: os títulos de crédito típicos ou nomi-
nados continuam a ser disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os títulos
atípicos ou inominados subordinam-se às normas do novo Código, desde que se enqua-
drem na definição de título de crédito constante no art.887 do Código Civil.
7. Recurso especial não provido.
[STJ, REsp 1633399 / SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, Data
do Julgamento 10/11/2016]

001. (FCC/JUIZ FEDERAL/TJ-AP/2014/ADAPTADA) Ao dispor sobre títulos de crédito, o Có-


digo Civil estabeleceu que
Ficam revogadas todas as leis especiais sobre títulos de crédito.

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O art. 903 do Código Civil disciplina expressamente a aplicação das leis especiais:

Art.  903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código. (negritei)
Nesse mesmo sentido já se posicionou o STJ, bem como o Conselho da Justiça Federal que
editou o Enunciado 464 na V Jornada de Direito Civil:

Enunciado 464. Art. 903: Revisão do Enunciado n. 52 – As disposições relativas aos títu-


los de crédito do Código Civil aplicam-se àqueles regulados por leis especiais no caso de
omissão ou lacuna.

Errado.

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Letra de Câmbio
Embora a letra de câmbio seja pouco utilizada na atualidade (no Brasil sempre teve pouca
receptividade, havendo preferência pela duplicata), tal título sempre teve destaque no estudo
dos títulos de créditos em virtude da diversidade de atos cambiários que envolve, por conta de
se estruturar como ordem de pagamento, conforme veremos.

Disciplina Legal

A letra de câmbio é regulada pela Lei Uniforme de Genebra (LUG), que agrega convenções
que o Brasil aderiu no plano internacional em 1942 para a adoção de lei uniforme sobre letras
de câmbio e notas promissórias (a LUG foi ratificada pelos países que originalmente a elabo-
raram em 1930).
A LUG foi introduzida no direito pátrio por meio do Decreto 57.663, de 1966, lembrando,
caro(a) aluno(a), que é somente após a publicação de decreto do chefe do Estado brasileiro
internalizando os tratados é que esses passam a valer no plano nacional (a ratificação/adesão
de tratado materializa compromisso do país no plano internacional).
No Anexo I de tal decreto consta propriamente a lei uniforme relativa às letras de câmbio e
notas promissórias, sendo que no Anexo II temos reservas que cada país poderia fazer à refe-
rida lei no momento da ratificação/adesão.
Registro que o Brasil fez 13 das 23 reservas possíveis (artigos 2 – 3 – 5 – 6 – 7 – 9 – 10
– 13 – 15 – 16 – 17 – 19 e 20). Por conta disso, é pacífico o entendimento que o Decreto
2.044, de 1908 – editado anteriormente para disciplinar a letra de câmbio e a nota promissória

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– continua regulamentado parcialmente a matéria quando estivermos diante de reservas ou


omissões da LUG.
Não havendo disposição específica na LUG ou no Decreto 2.044, de 1908, o Código Civil
será aplicado subsidiariamente por força do art. 903.
Por ser regulada especificamente por “lei” especial (de acordo com posicionamento do
STF, os tratados internacionais têm status de lei ordinária), a letra de câmbio é considerada um
título típico ou próprio.

Conforme mencionamos, o  Decreto 57.663, de 1966, simplesmente internalizou no ordena-


mento jurídico brasileiro a Lei Uniforme de Genebra (LUG), dando-lhe vigência. Assim, nobre
aluno(a), em prova a citação tem que ser da LUG e seus respectivos artigos (que constam no
Anexo I do referido decreto) e, quando for o caso, de eventual reserva feita pelo Brasil à LUG
(que são citadas no preâmbulo do decreto e estão no Anexo II).

Estrutura da Letra de Câmbio: ordem de pagamento

Nos termos da doutrina de Marlon Tomazette, a letra de câmbio se caracteriza por ser um
título de crédito:
• Formal: “na medida em que o documento só vale como título de crédito, se obedecer a
todos os requisitos legais”;
• Autônomo e abstrato: já que “que não deriva de nenhum negócio jurídico específico,
sendo as várias obrigações do título, independentes entre si”;
• Completo: por não precisar “ser completado por nenhum outro documento”.

Além disso, a letra de câmbio estrutura-se sob a forma de ordem de pagamento, uma vez
que quem cria o título emite “ordem” para que outra pessoa o pague.

Saque: situações jurídicas

A emissão da letra de câmbio é realizada por meio do ato cambiário denominado saque,
que originará três diferentes situações jurídicas, envolvendo os seguintes personagens:
• Sacador: é o emitente da ordem de pagamento, sendo garantidor da aceitação e do pa-
gamento da letra, ou seja, codevedor (art. 9º da LUG);
• Sacado: destinatário da ordem, que após formalizar o aceite passa a ser o devedor prin-
cipal da letra de câmbio (torna-se ‘aceitante’);
• Tomador: beneficiário da ordem, que poderá cobrar diretamente do sacador se o sacado
se recusar a firmar o aceite.

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Importante saber, caro(a) aluno(a), que sacador, sacado e tomador não necessariamente se-
rão três pessoas distintas. Isso porque o art. 3º da LUG estabelece que:

Art. 3º
“A letra pode ser à ordem do próprio sacador” (ou seja, sacador e tomador serão a mesma pessoa).
“Pode ser sacada sobre o próprio sacador” (sacador e sacado serão a mesma pessoa).
“Pode ser sacada por ordem e conta de terceiros” (aqui, sim, teremos três pessoas distintas).

Saque: requisitos essenciais e não essenciais

Nos termos dos arts. 1º e 2º da LUG, a letra de câmbio deve ser sacada (emitida) obser-
vando os seguintes requisitos, sob pena de não produzir efeito como “letra” (perda da eficiên-
cia cambial):
Requisitos essenciais:
• Expressão “letra” (ou “letra de câmbio”) inserta no próprio título. Lembre-se: a indicação
precisa da espécie do título de crédito, a qual a doutrina chama de ‘cláusula cambiária’,
é importantíssima, a fim de definir o regime jurídico que será aplicado;
• Mandato puro e simples de pagar uma quantia (ou seja, ordem incondicional, sendo ve-
dado o estabelecimento de condição);
• Nome daquele que deve pagar (nome do ‘sacado’);
• Nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga (nome do ‘tomador’);

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• A indicação da data em que a letra é passada (data do saque);


• A assinatura de quem a passou (assinatura do sacador).

Requisitos não essenciais (o próprio art. 2º da LUG apresenta soluções no caso de omissão):
• Época do pagamento: a letra em que se não indique a época do pagamento entende-se
pagável à vista;
• Indicação do lugar em que deve efetuar o pagamento: na falta de indicação especial,
o  lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o lugar do
pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do domicilio do sacado (se não houver tal in-
dicação, o documento não produzirá efeito como letra, perdendo a eficiência cambial);
• Indicação do lugar em que a letra é passada: a letra sem indicação do lugar onde foi
passada considera-se como tendo sido no lugar designado ao lado do nome do sacador
(se não houver tal indicação, o documento não produzirá efeito como letra, perdendo a
eficiência cambial).

Além desses requisitos específicos, há também requisitos intrínsecos, estabelecidos pelo


art. 104 do Código Civil para validade de qualquer negócio jurídico, a saber:
• agente capaz;
• objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
• forma prescrita ou não defesa em lei.

A incapacidade do sacado/aceitante não invalida as obrigações dos outros coobrigados no


título, atingindo somente aquela obrigação. Igual entendimento vale na hipótese de haver as-
sinatura falsa, de pessoas fictícias ou que por outra razão não poderiam se obrigar. Confira a
redação do art. 7º da LUG:

Art. 7º Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem por letras, assinaturas
falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que por qualquer outra razão não poderiam
obrigar as pessoas que assinaram a letra, ou em nome das quais ela foi assinada, as obrigações dos
outros signatários nem por isso deixam de ser válidas.

Vejamos um exemplo de letra de câmbio:

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Fonte: COMETTI (2020, p. 577)

Notemos que no exemplo de letra de câmbio reproduzido o sacador (Neto da Silva do San-
tos) é também o tomador (beneficiário).
Contudo, registro que mesmo em relação aos requisitos essenciais, o Supremo Tribunal
Federal admite o preenchimento de dados em branco ou incompletos pelo credor de boa-fé
antes da cobrança ou do protesto:

Súmula 387-STF. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser
completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

Tal orientação jurisprudencial é hoje reforçada pelo art. 891 do CC, aplicado subsidiaria-
mente aos títulos de crédito próprios:

Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade
com os ajustes realizados.
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participa-
ram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver
agido de má-fé.

002. (TRF2/JUIZ/TRF2/2018/ADAPTADA) A respeito dos títulos de crédito é correto afirmar,


com base na Lei e Súmulas do STF e do STJ, que:

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A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de
boa-fé antes da cobrança ou protesto.

Esse é entendimento do STF, nos termos do Enunciado 387:

Súmula 387-STF. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser
completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

Certo.

Aceite da Letra de Câmbio

A letra de câmbio, após o saque, será entregue ao tomador, que por sua vez deverá provi-
denciar o aceite.
Nos termos do art. 25 da LUG, o aceite “exprime-se pela palavra ‘aceite’ ou qualquer outra
palavra equivalente”, devendo ser firmado pelo sacado (ou por procurador com poderes espe-
ciais, nos termos do art. 11 do Decreto 2.044, de 1908).
Valerá como aceite “a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra”,
ou seja, no anverso da letra. Assim, embora seja um ato formal, não há uma fórmula solene
para o aceite.
Destaco um ponto, que inclusive motiva a pouca aceitação da letra de câmbio no Brasil:
não há qualquer obrigação por parte do sacado em aceitar tal título de crédito. Somente após
o ‘aceite’ é que o sacado passa a ter obrigação cambial (passa a ser chamado de aceitante) e
torna-se o devedor principal da letra de câmbio.
Não por acaso, o art. 21 da Lei 9.492, de 1997 (que regulamenta os serviços concernentes
ao protesto de títulos e outros documentos), estabelece não ser possível tirar protesto por falta
de pagamento contra o sacado não aceitante:

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.


(...)
§ 5º Não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o sacado não
aceitante.

No caso de recusa, o sacado não precisa apresentar qualquer justificativa, mas ocorrerá o
vencimento antecipado do título, podendo ser cobrado do sacador ou outro devedor indireto/
coobrigado (art. 43 da LUG).

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003. (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2013/ADAPTADA) Em relação aos títulos de crédito,


assinale a opção correta.
Havendo prévia obrigação perante o sacador ou o tomador do crédito, considera-se ilícita a
recusa do aceite pelo sacado de uma letra de câmbio.

A LUG não estabelece obrigação de aceite da letra de câmbio (mesmo que o sacado tenha
relação obrigacional com o sacador), sendo a letra de câmbio um título de crédito autônomo
e abstrato (ou seja, não deriva de nenhum negócio jurídico, diferentemente, v.g., da duplicata).
Errado.

Embora seja facultativo o aceite por parte do sacado (ele não é obrigado a aceitar), o acei-
te é irretratável. Contudo, antes de restituir a letra é possível ao aceitante riscar o aceite que
tiver dado, sendo considerado tal aceite como recusado, havendo a presunção relativa que a
recusa foi feita antes da devolução da letra (“salvo prova em contrário, a anulação do aceite
considera-se feita antes da restituição da letra” – art. 29 da LUG).
Contudo, mesmo riscando o seu aceite, se “o sacado tiver informado por escrito o portador
ou qualquer outro signatário da letra de que aceita, fica obrigado para com estes, nos termos
do seu aceite” (art. 29, parte final, da LUG).

004. (CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2019/


ADAPTADA) Quanto aos títulos de crédito, assinale a alternativa correta.
Uma vez riscado o aceite antes da restituição da letra de câmbio, o sacado se desincumbe
da obrigação, mesmo se tiver comunicado o aceite, por outra forma, a  um dos signatários
do título.

Mesmo riscando, se o sacado comunicar o aceite por escrito estará obrigado ao pagamento
da letra de câmbio, nos termos do art. 29, parte final, da LUG:

Art. 29. Se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que tiver dado, tal aceite é consi-
derado como recusado. Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da
restituição da letra.
Se, porém, o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro signatário da letra de
que aceita, fica obrigado para com estes, nos termos do seu aceite. (negritei).
Errado.

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Importante saber que o sacado pode aceitar parcialmente a letra (alguns doutrinadores
chamam de aceite qualificado), passando a se vincular nos exatos termos do seu aceite.
O aceite qualificado (aceite parcial) comporta duas categorias:
• aceite-limitativo: quando se limita somente o valor a ser pago;
• aceite-modificativo: é modificada alguma circunstância relativa ao pagamento do título
(por exemplo, a data do vencimento).

Nesse caso, em que há uma recusa parcial, a  LUG equipara-a a uma recusa de aceite,
acarretando o vencimento antecipado do título (art.  26 da LUG), sendo permitido ao porta-
dor do título exercer o direito de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados
(art. 43, 1º).
Registro que majoritariamente a doutrina entende que mesmo no caso de aceite-limitativo
(em que se limita somente o valor a ser pago) ocorrerá o vencimento antecipado e integral do
crédito constante no título.

005. (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2012) No que se refere aos títulos de crédito, jul-


gue os itens subsequentes.
Considere que Ana emita letra de câmbio cuja ordem seja destinada a Bento e cujo beneficiário
seja Caio. Nessa situação hipotética, se Bento aceitar parcialmente a letra de câmbio, ocorrerá
o vencimento antecipado do título, sendo admissível, então, a Caio cobrar a totalidade do cré-
dito da sacadora.

Com o aceite qualificado ocorre o vencimento antecipado do título e integra do valor a ser co-
brado, nos termos dos arts. 26 e 43 da LUG:

Art. 26. O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada.
Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de
aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite.
(...)
Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sa-
cador e outros coobrigados:
no vencimento;
se o pagamento não foi efetuado;
mesmo antes do vencimento:
1º) se houve recusa total ou parcial de aceite;
(...) (destaquei).
Certo.

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Contudo, a LUG estabelece a possibilidade de o sacador proibir na própria letra a sua apre-
sentação ao aceite antes do seu vencimento (cláusula não aceitável), prevenindo-se do venci-
mento antecipado do título no caso de não haver o aceite (art. 22).
Registro que essa cláusula não será possível:
• em letra pagável em domicílio de terceiro;
• letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado; ou
• letra sacada a certo termo de vista (lembre-se: nessa modalidade, é necessário o aceite
para se definir o vencimento).

006. (CESPE/ADVOGADO/TELEBRAS/2015) Acerca da letra de câmbio, julgue o item a seguir.


A Lei Uniforme admite que uma letra a certo tempo da vista seja sacada com a cláusula não
aceitável, para proibir o aceite do sacado; consequentemente a apresentação dessa letra ao
sacado poderá ser feita apenas na data do seu pagamento.

Nos termos do art. 22 da LUG, não é possível a ‘cláusula não aceitável’ no caso de letra sacada
a certo tempo de vista:

Art. 22. O sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será apresentada ao aceite, com ou
sem fixação de prazo.
Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar de uma letra pagável
em domicílio de terceiro, ou de uma letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado,
ou de uma letra sacada a certo termo de vista.
O sacador pode também estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes de
determinada data.
Todo endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de
prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador. (destacou-se)
Errado.

Com esse mesmo escopo (evitar o vencimento antecipado), de forma limitada, também po-
derá ser estabelecido que a apresentação ao aceite somente seja feita a partir de determinada
data (hipótese também disciplinada no art. 22).
Como regra, a apresentação da letra para o aceite pode ser feita até o vencimento do títu-
lo, nos termos do art. 21 da LUG, sendo que após a letra será apresentada para pagamento (o
aceite não faz mais sentido).
Contudo, em duas hipóteses a apresentação para o aceite será obrigatória antes da apre-
sentação para pagamento:

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• letra de câmbio com vencimento a certo tempo de vista: a letra deverá ser apresentada
ao sacado para aceite dentro de 1 (um) ano, prazo esse que pode ser diminuído ou au-
mentado pelo sacador (art. 23 da LUG), uma vez que a data do vencimento contará após
a “vista” e consequente ‘aceite’;
• por vontade do sacador: o sacador poderá estipular que a letra seja apresentada ao
aceite, com ou sem estipulação de prazo. (art. 22 da LUG).

É interessante mencionar que o sacado tem o direito de solicitar a reapresentação do título


(chamado de ‘prazo de respiro’), com o intuito de confirmar a sua obrigação, conforme precei-
tua o art. 24 da LUG:

Art. 24. O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma segunda vez no dia seguinte ao
da primeira apresentação. Os interessados somente podem ser admitidos a pretender que não foi
dada satisfação a este pedido no caso de ele figurar no protesto.
O portador não é obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada ao aceite. (negritei).

Aceitando a letra de câmbio, o sacado (aceitante) passa a integrar a relação cambial e a


ser o devedor principal do título, devendo pagá-lo independentemente de protesto.
Recusando o aceite, o sacado não terá qualquer obrigação e ocorrerá o vencimento ante-
cipado da letra de câmbio. Os coobrigados (sacador, endossantes e avalistas) podem ser co-
brados a pagar o valor do título, sendo necessário o protesto por falta de aceite para viabilizar
tal cobrança.
Contudo, a regra que o aceite somente pode ser praticado pelo sacado não é absoluta, na
medida em que a LUG estabelece a possibilidade de o aceite ser feito por intervenção (‘aceite
por intervenção’), circunstância em que um terceiro (que não o sacado) se dispõe a aceitar a
letra de câmbio (arts. 55 a 63).
Caso tal pessoa seja expressamente designada na letra, “o portador não pode exercer o
seu direito de ação antes do vencimento contra aquele que indicou essa pessoa e contra os
signatários subsequentes”. Tal direito somente poderá ser exercido se tiver sido apresentada
“a letra à pessoa designada e que, tendo esta recusado o aceite, se tenha feito o protesto.”
(art. 56).
Nos outros casos de intervenção será facultativo ao portador aceitá-la. Em caso positivo,
o portador perderá “o direito de ação antes do vencimento contra aquele por quem a aceitação
foi dada e contra os signatários subsequentes.” (art. 56).

007. (CESPE/ADVOGADO/TELEBRAS/2015) Acerca da letra de câmbio, julgue o item a seguir.


A regra de que o aceite na letra seja somente praticado pelo sacado não é absoluta, uma vez
que a Lei Uniforme acata o aceite por intervenção, diante da falta ou recusa do aceite pelo sa-

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cado, após o protesto; um terceiro, não nomeado pelo sacado, poderá́ aceitar a letra, desde que
o portador da letra concorde.

Embora excepcional, a LUG disciplina o denominado ‘aceite por intervenção’. Nesse sentido,
preceitua o art. 56:

Art. 56. O aceite por intervenção pode realizar-se em todos os casos em que o portador de uma letra
aceitável tem direito de ação antes do vencimento. (*principal exemplo: falta de aceite)
Quando na letra se indica uma pessoa para em caso de necessidade a aceitar ou a pagar no lugar do
pagamento, o portador não pode exercer o seu direito de ação antes do vencimento contra aquele
que indicou essa pessoa e contra os signatários subsequentes a não ser que tenha apresentado a
letra à pessoa designada e que, tendo esta recusado o aceite, se tenha feito o protesto.
Nos outros casos de intervenção, o  portador pode recusar o aceite por intervenção. Se, porém,
o admitir, perde o direito de ação antes do vencimento contra aquele por quem a aceitação foi dada
e contra os signatários subsequentes.
Certo.

Endosso

Conforme já tivemos a oportunidade de expor em aula anterior, o endosso é o ato cambi-


ário eventual e sucessivo vocacionado para a transferência dos títulos de crédito, em que o
endossante transmite o título (e consequentemente o direito nele mencionado) ao endossatá-
rio – novo credor do título –, ao qual são conferidas salvaguardas próprias do regime cambial.
A regra geral em relação à letra de câmbio (como nos demais títulos de crédito próprios,
v.g., nota promissória, cheque e duplicata) é circular mediante endosso, sendo implícita, por-
tanto, a cláusula à ordem.
Nesse sentido, o art. 11 da LUG preceitua que “toda letra de câmbio, mesmo que não envol-
va expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso.”
Contudo, a LUG permite a inserção das palavras “não à ordem” ou uma expressão equiva-
lente na letra (ou seja: proibindo que a transferência do título seja feita por endosso) que impli-
cará a transmissão do título “pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos”:

Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é trans-
missível por via de endosso.
Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não à ordem”, ou uma expressão equivalente,
a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
O endosso pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer
outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar novamente a letra. (negritei).

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Registro que o Código Civil considera ‘não escrita’ a ‘cláusula não à ordem’ (art. 890):

Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a ex-
cludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de
termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos
e obrigações.
No entanto, em relação à letra de câmbio e outros títulos próprios, vale o previsto na lei espe-
cial, uma vez que o CC se aplica somente subsidiariamente a tais cártulas.

008. (VUNESP/JUIZ/TJ-RJ/2016/ADAPTADA) A cláusula “não à ordem”


a) não é admitida na Letra de Câmbio.
b) inviabiliza o aval parcial.
c) inviabiliza o aceite.
d) impede a circulação mediante endosso.
e) implica em aceite do cumprimento da obrigação assumida em Nota Promissória.

A “cláusula não à ordem” impede a circulação do título de crédito por meio do endosso (ato
cambial), sendo que a transmissão do título operará efeitos de cessão ordinária de crédito.
A letra A está errada. A LUG permite a inserção das palavras “não à ordem”, ou uma expressão
equivalente na letra, que implicará a transmissão do título “pela forma e com os efeitos de uma
cessão ordinária de créditos”:

Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é trans-
missível por via de endosso.
Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não à ordem”, ou uma expressão equivalente,
a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
O endosso pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer
outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar novamente a letra.
Lembremos que embora o Código Civil considere ‘não escrita’ a ‘cláusula não à ordem’ (art. 890),
vale o permissivo constante em lei especial, uma vez que o CC se aplica somente subsidiaria-
mente aos títulos próprios.
Letras C, D e E. O endosso é ato hábil a promover a circulação do título de crédito, não se con-
fundindo com o aval e o aceite.
Letra d.

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009. (CEBRASPE/JUIZ/TJ-SC/2019) A aposição de cláusula proibitiva de endosso no título


de crédito é considerada pelo Código Civil como
a) nula de pleno direito.
b) não escrita.
c) anulável.
d) válida, se aceita expressamente pelo tomador.
e) inexistente, se dada no anverso do título.

Lembre-se, caro(a) aluno(a), como regra o Código Civil estabelece como não escrita cláusula
proibitiva do endosso (a chamada ‘cláusula não à ordem’), mas nos títulos próprios será pos-
sível caso haja norma específica (v.g., letra de câmbio, nota promissória e cheque permitem a
‘cláusula não à ordem’):

Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a ex-
cludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de
termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos
e obrigações.
(...)
Art.  903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código.
Letra b.

Ainda em relação à letra de câmbio, além de não ser possível opor ao endossatário ex-
ceções pessoais de negócios dos quais não participou diretamente, salvo má-fé do portador
(subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais, expresso no art. 17 da LUG), “o en-
dossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da
letra” (art. 15 da LUG).
Nesse sentido, devemos salientar os dois principais efeitos do endosso na letra de câmbio
(válido também para a nota promissória e o cheque, este último por conta do art. 21 da Lei
7.357, de 1985):
• transferência do título;
• garantia de pagamento: vinculação do endossante ao pagamento.

JURISPRUDÊNCIA
(...)
O endosso é ato cambial de transferência e de garantia ao mesmo
tempo, porque o endossante, ao  alienar o título, fica, por força de
lei, responsável pela solução da dívida.

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(...) (*no julgado, o título de crédito em exame era a nota promissória)[STJ, REsp 1560576/
ES, Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento
02/08/2016]

No entanto, caso o endossante proíba novo endosso na letra de câmbio ele não garantirá
o pagamento “às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada” (art. 15, parte final).

Em relação ao endosso, o art. 914 do Código Civil estabelece regra exatamente em contrário


para os títulos atípicos, ou seja, salvo cláusula em contrário, o endossante não é garantidor do
pagamento do título:

Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endos-
sante pelo cumprimento da prestação constante do título.
§ 1º Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário.
§ 2º Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados anteriores. (negri-
tei).

O endosso pode ser feito a favor do sacado (independentemente de ele aceitar ou não a
letra de câmbio), do sacador ou de qualquer outro coobrigado, sendo que tais pessoas por sua
vez poderão endossar novamente a letra.
Nos termos do art. 12 da LUG, o endosso deve ser:
• puro e simples: qualquer condição será considerada não escrita;
• integral: o endosso parcial é nulo.

Tal ato cambiário é materializado pela assinatura do endossante, devendo ser “escrito na
letra ou numa folha ligada a esta (anexo)”. Caso consista na simples assinatura (sem menção
ao beneficiário ou ao ato cambiário praticado, v.g., com a expressão “transfiro a...”) a assinatu-
ra deverá ser lançada no verso da letra ou da folha anexa para o endosso ser válido.
A LUG ainda estabelece que se não for designado o beneficiário (endossatário) o endosso
será considerado ‘endosso em branco’. Nesse caso, poderá se transformar em ‘endosso em
preto’ (com designação do beneficiário) a qualquer momento, bastando que o portador insira
o seu nome ou de terceiros como beneficiário.
Aplica-se à hipótese, de forma subsidiária, o art. 913 do CC:

Art. 913. O endossatário de endosso em branco pode mudá-lo para endosso em preto, completan-
do-o com o seu nome ou de terceiro; pode endossar novamente o título, em branco ou em preto; ou
pode transferi-lo sem novo endosso.

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As Leis 8.021 e 8.088, ambas de 1990, proibiram a emissão de títulos ao portador (os títulos
devem ser emitidos sob a forma nominativa) nos seguintes termos:

Art. 2º, II, da Lei 8.021, de 1990:


Art. 2º A partir da data de publicação desta lei fica vedada:
(...)
II – a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-en-
dossáveis;
Art. 19, caput, da Lei 8.088, de 1990:
Art. 19. Todos os títulos, valores mobiliários e cambiais serão emitidos sempre sob a forma nomi-
nativa, sendo transmissíveis somente por endosso em preto.
Contudo, de forma majoritária, a doutrina tem entendido ser possível praticar o ‘endosso em
branco’ na letra de câmbio e em outros títulos, desde que seja necessariamente convertido em
‘endosso em preto’ na data do vencimento, ou seja, constando o efetivo beneficiário do título
de crédito no momento do pagamento.
Confira a lição de Fábio Ulhoa Coelho:

Assim, nada impede que se pratique o endosso em branco, aquele que não identifica o endossatário
e que transforma a letra de câmbio em título ao portador; nada obsta, também, que a letra circule,
a partir de então, por mera tradição, que é o ato próprio de circulação dos títulos ao portador. Contu-
do, para obedecer ao ditame legal de identificação da pessoa para quem o título é pago, o endosso
em branco deve necessariamente ser convertido em endosso em preto, no vencimento. Esse pro-
cedimento é inteiramente harmonizado com o previsto pela lei uniforme (LU, art. 14), com a lei cam-
bial interna (Dec. n. 2.044/08, art. 3º), o art. 19 da Lei n. 8.088/90 e a Súmula 387 do STF, além de se
traduzir num mecanismo que atende aos objetivos de controle fiscal da lei do Plano Collor. (negritei)
Contudo, registro que o STJ, em decisão da 3ª Turma, já decidiu pela impossibilidade de ‘en-
dosso em branco’ em nota promissória nos seguintes termos:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA PROMISSÓRIA. COMPENSAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. AVAL. ENDOSSO. DÚVIDA SOBRE A LIQUIDEZ DO TÍTULO. PRÁTICA DE
AGIOTAGEM. NÃO COMPROVAÇÃO. CONVOCAÇÃO DE JUIZ PARA SUBSTITUIR DESEM-
BARGADOR. VINCULAÇÃO AO PROCESSO. PREVENÇÃO.
(...)
O endosso é ato cambial de transferência e de garantia ao mesmo
tempo, porque o endossante, ao  alienar o título, fica, por força de
lei, responsável pela solução da dívida.
3. Se há uma nota promissória cujo crédito foi cedido e o título
passado diretamente do beneficiário primário para o cessionário e se
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não há anterior endosso daquele, presume-se que o título não


circulou antes da cessão. Portanto, assinatura de terceiro no verso
desse título, sem indicação de sua finalidade, deve ser considerada
aval, já que, desde a Lei n. 8.021/1990, os  títulos ao portador
foram extintos, de sorte que o endosso “em branco” não mais vigora.
Assim, sendo o avalista dessa nota promissória credor de outra nota
promissória e vindo a cobrá-la do devedor originário, que também é o
cessionário na primeira nota referida, detendo-a em sua posse,
compensáveis são os créditos e débitos, representados em ambas as
notas. [STJ, Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, Data do
Julgamento 02/08/2016].

Nos termos do art. 16 da LUG:


• O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por
uma serie ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco;
• os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como não escritos;
• quando um endosso em branco é seguido de um outro endosso, presume-se que o sig-
natário deste adquiriu a letra pelo endosso em branco;
• se uma pessoa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela,
desde que justifique o seu direito pelas maneiras acima indicadas, não é obrigado a
restituí-la, salvo se a adquiriu de má-fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave.

Além do endosso translativo, a letra também poderá conter as seguintes modalidades de


endosso (chamados de ‘endossos impróprios’):
• endosso mandato: endosso contém a menção “valor a cobrar”, “para cobrança”, “por
procuração”, ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, em que “o
portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la
na qualidade de procurador”. Assim, somente pode ser invocado contra ele “as exceções
que eram oponíveis ao endossante”. E mais: “o mandato que resulta de um endosso por
procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal” do mandante
(por erro de tradução, consta ‘mandatário’ no art. 18 da LUG, mas é ilógico, pois é o man-
datário que vai exercer os poderes do mandato). Será sempre endosso em preto, com a
indicação do mandatário;
• endosso caução (endosso-penhor ou endosso-garantia): o endosso conterá a menção
“valor em garantia”, “valor em penhor” ou qualquer outra menção que implique uma cau-
ção, sendo que “o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um

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endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração”. “Os coobrigados
não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais
deles com o endossante”, salvo má-fé (art. 19 da LUG).

Por fim, o art. 20 da LUG disciplina que o endosso realizado após o vencimento tem os
mesmos efeitos que o realizado anteriormente (igual regra também consta no art. 920 do CC
para os títulos inominados).

A regra constante no art. 20, primeira parte, da LUG e no art. 920 do CC (“o endosso posterior
ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior”) não se aplica ao denominado “endos-
so póstumo” (“endosso tardio” ou “endosso posterior”), em que tal ato cambial somente é
efetivado “posterior ao protesto por falta de pagamento” ou “feito depois de expirado o prazo
fixado para se fazer o protesto” (art. 20, segunda parte, da LUG ). Nessa hipótese, o “endosso”
produzirá os efeitos de uma cessão ordinária de créditos (caso não tenha data, há a presunção
relativa de que o endosso foi feito antes de expirada a data para realizar o protesto).

Aval

O aval é o ato cambiário por meio do qual uma pessoa (avalista) se responsabiliza a pagar
o título na mesmas condições que o devedor do título.

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Nos termos do art. 30 da LUG, o aval poderá ser integral ou parcial, podendo ser prestado
por terceiro ou mesmo por signatário da letra de câmbio:

Art. 30. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval.
Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra. (destaquei).

Em relação aos títulos próprios, notadamente letra de câmbio, nota promissória (art.  30 da
LUG), cheque (art. 29 da Lei 7.357, de 1985) e duplicata (art. 25 da Lei 5.474, de 1968), a legis-
lação especial admite o aval parcial.
Contudo, o art. 897, parágrafo único, do Código Civil veda o aval parcial, proibição que somente
vale para os títulos que não tem disciplina em lei especial (títulos atípicos ou inominados):

Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada,
pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

O aval poderá ser escrito na própria letra ou folha anexa (princípio da literalidade), nos
seguintes termos (art. 31):
• simples assinatura na face anterior da letra (anverso), excluída a assinatura do sacador
e do sacado;
• em qualquer lugar, desde que acompanhado das expressões “bom para aval” ou por
qualquer fórmula equivalente; e assinado pelo dador do aval;
• caso não indique a quem se dá (aval em preto), presume-se que foi dado em favor do
sacado (aval em branco).

Contudo, o aval não terá efeito cambial caso seja lavrado em ‘documento a parte’, por conta
do princípio da literalidade. Assim já decidiu o STJ:

JURISPRUDÊNCIA
AVAL – DOCUMENTO A PARTE. VALIDO O AVAL EM FOLHA ANEXA AO TÍTULO QUE
SE ENTENDE COMO SEU PROLONGAMENTO. NÃO, ENTRETANTO, EM DOCUMENTO A
PARTE, UMA VEZ QUE O BRASIL NÃO SE VALEU DA RESERVA CONSIGNADA NO ARTIGO
4. DO ANEXO II DA CONVENÇÃO DE GENEBRA. [STJ, REsp 4.522/SP, Rel. Ministro EDU-
ARDO RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/12/1990]

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Embora não se possa falar em “jurisprudência” (é uma decisão isolada), a 3ª Turma do STJ já
decidiu que a assinatura no verso do título que não indique beneficiário deve ser considerado
como aval e não endosso em branco, adotando entendimento doutrinário minoritário que o
endosso deve ser sempre ‘em preto’ (com indicação do endossatário):

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA PROMISSÓRIA. COMPENSAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. AVAL. ENDOSSO. DÚVIDA SOBRE A LIQUIDEZ DO TÍTULO. PRÁTICA DE
AGIOTAGEM. NÃO COMPROVAÇÃO. CONVOCAÇÃO DE JUIZ PARA SUBSTITUIR DESEM-
BARGADOR. VINCULAÇÃO AO PROCESSO. PREVENÇÃO.
(...)
2. O aval é uma garantia pessoal, específica para títulos cambiais, do cumprimento da
obrigação contida no título. Trata-se de declaração unilateral de vontade autônoma e
formal. O  avalista não se equipara à figura do devedor principal, nada obstante a soli-
dariedade quanto à obrigação de pagar. O endosso é ato cambial de transferência e de
garantia ao mesmo tempo, porque o endossante, ao alienar o título, fica, por força de lei,
responsável pela solução da dívida.
3. Se há uma nota promissória cujo crédito foi cedido e o título passado diretamente do
beneficiário primário para o cessionário e se não há anterior endosso daquele, presume-
-se que o título não circulou antes da cessão. Portanto, assinatura de terceiro no verso
desse título, sem indicação de sua finalidade, deve ser considerada aval, já que, desde
a Lei n. 8.021/1990, os títulos ao portador foram extintos, de sorte que o endosso “em
branco” não mais vigora. Assim, sendo o avalista dessa nota promissória credor de outra
nota promissória e vindo a cobrá-la do devedor originário, que também é o cessionário na
primeira nota referida, detendo-a em sua posse, compensáveis são os créditos e débitos,
representados em ambas as notas) (destaquei) [STJ, REsp 1560576/ES, Relator Ministro
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 02/08/2016]

010. (TRF4/JUIZ FEDERAL/TRF4/2016/ADAPTADA) Dadas as assertivas abaixo, assinale a


alternativa correta.
Acerca dos títulos de crédito:
O pagamento de uma letra de câmbio, independentemente do aceite e do endosso, pode ser
garantido por aval. Para a validade do aval, é suficiente a simples assinatura do próprio punho
do avalista ou do mandatário especial, no verso ou no anverso da letra.

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A questão foi considerada correta pela banca, ou seja, adotou-se o entendimento de preceden-
te do STJ [REsp 1560576/ES, Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,
Data do Julgamento 02/08/2016] que a simples assinatura não só no anverso (como preceitua
o art. 31) como também no verso da letra de câmbio deve ser considerado aval (desconside-
rando a possibilidade de ‘endosso em branco’, com a simples assinatura do verso, como aceita
majoritariamente a doutrina).
Certo.

O avalista é responsável da “mesma maneira que a pessoa por ele afiançada” (art. 32 da LUG).
Assim, o avalizado poderá responder solidariamente com o devedor principal (caso o avaliza-
do seja o aceitante) ou nos mesmo moldes que o coobrigado (caso o avalizado seja o endos-
sante ou outro avalista), sendo lhe aplicado o mesmo prazo prescricional e a obrigatoriedade
(ou não, caso seja avalista do devedor principal) do protesto.

Outro ponto importante: a obrigação do avalista mantém-se, mesmo no caso de a obriga-


ção que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma. (art. 32, alínea
2 da LUG).
Assim, entende-se que o aval é dotado de autonomia substancial (a existência, validade e
eficácia não estão ligadas à obrigação avalizada) e acessoriedade formal (o aval depende da
existência formal da obrigação avalizada, ou seja, não pode ter vício de forma).
Registro entendimento do STJ que “a autonomia do aval não se confunde com a abstração
do título de crédito e, portanto, independe de sua circulação”:

JURISPRUDÊNCIA
DIREITO EMPRESARIAL. EXECUÇÃO DE AVALISTA DE NOTA PROMISSÓRIA DADA EM
GARANTIA DE CRÉDITO CEDIDO POR FACTORING.
Para executar, em virtude da obrigação avalizada, o avalista de notas promissórias dadas
pelo faturizado em garantia da existência do crédito cedido por contrato de factoring,
o faturizador exequente não precisa demonstrar a inexistência do crédito cedido. Com
efeito, ainda que as notas promissórias tenham sido emitidas para garantir a exigibilidade
do crédito cedido, o avalista não integra a relação comercial que ensejou esse crédito,
nem é parte no contrato de fomento mercantil. Na condição de avalista, questões atinen-
tes à relação entre o devedor principal das notas promissórias e a sociedade de fomento
mercantil lhe são estranhas. Isso decorre da natureza pessoal dessas questões e da
autonomia característica do aval. Assim, na ação cambial somente é admissível defesa
fundada em direito pessoal decorrente das relações diretas entre devedor e credor cam-

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biários, em defeito de forma do título ou na falta de requisito necessário ao exercício da


ação. [REsp 1.305.637-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/9/2013 – Informa-
tivo 532, de 19/12/2013].

Cabe dizer que, nos termos do art. 47 da LUG, o avalista é devedor solidário da letra de
câmbio, podendo ser lhe exigido o pagamento integral, independentemente de o avalizado ter
bens, não podendo invocar o benefício de ordem (ou seja, exigir que primeiro sejam executa-
dos os bens do avalizado.
Confira lição de Marlon Tomazette:

Ao dar um aval eficaz, o avalista se torna devedor solidário do título de crédito (LUG – art. 47), no
sentido de que ele será obrigado a pagar a integralidade da obrigação, mesmo que o avalizado
possua bens. Em outras palavras, o avalista não possui benefício de ordem, isto é, ele não pode
indicar bens livres e desembaraçados do avalizado quando for demandado para honrar sua obriga-
ção. (destaquei).

Por fim, caso o avalista pague a letra, ficará sub-rogado nos direitos emergentes do título
contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtu-
de da letra (art. 32, alínea 3 da LUG).

011. (FCC/JUIZ DO TRABALHO/TRT-20ª REGIÃO/2012) Sendo o pagamento de uma letra de


câmbio garantida por aval,
a) a obrigação do avalista se mantém, mesmo no caso de a obrigação que ele garantir ser nula
por qualquer razão que não seja um vício de forma.
b) a obrigação do avalista não se mantém se a obrigação por ele garantida for nula ou anulável.
c) a obrigação do avalista é acessória e ele pode opor ao credor as defesas pessoais, privati-
vas do sacado e as que forem comuns a ele e ao sacado.
d) a obrigação do avalista é subsidiária, podendo invocar o benefício de ordem, salvo se a ele
houver renunciado ou se tiver se obrigado solidariamente com o sacado.
e) se o avalista pagar a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a
favor de quem foi dado o aval, mas não contra os obrigados para com esta em virtude da letra.

a) Certa. É o que dispõe o art. 32 da LUG:

Art. 32. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada.
A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer
razão que não seja um vício de forma.

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Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a
favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra.
b) Errada. Nos termos do art. 32 acima reproduzido.
c) Errada. Tal assertiva contraria o princípio da autonomia das obrigações cambiais, bem como
um dos seus subprincípios, o da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé.
d) Errada. A obrigação do avalista é solidária, nos termos do art. 47 da LUG:

Art. 47. Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra são todos solidariamente
responsáveis para com o portador.
O portador tem o direito de acionar todas estas pessoas individualmente, sem estar adstrito a obser-
var a ordem por que elas se obrigaram.
O mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma letra quando a tenha pago.
A ação intentada contra um dos coobrigados não impede acionar os outros, mesmo os posteriores
àquele que foi acionado em primeiro lugar. (negritei).
e) Errada. O art. 32, parte final, disciplina de forma contrária:

Art. 32. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada.
A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer
razão que não seja um vício de forma.
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a
favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra.
Letra a.

Avais simultâneos (ou coavais) ocorrem quando duas ou mais pessoas avalizam conjunta-
mente um título, garantindo a mesma obrigação cambial. Tais avalistas respondem como se
fossem uma pessoa só, respondendo entre eles solidariamente (solidariedade essa em conso-
nância com as regras do Direito Civil).
Assim, se um dos avalistas pagar a dívida, terá direito de regresso integral contra o devedor
principal, mas em relação ao outro avalista somente poderá solicitar o pagamento da metade
da dívida (art. 283 do CC).
Avais sucessivos (ou aval de aval) são aqueles em que uma pessoa avaliza um outro avalista.
Nessa hipótese, todos os avalistas terão a mesma responsabilidade do avalizado, sendo que
aquele que pagar a dívida terá direito de regresso integral da dívida em relação aos demais
avalistas (e não somente de quota parte).
Em relação aos avais em branco, superpostos, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que
são simultâneos (e não sucessivos) aplicando-se aos coobrigados a regra da solidariedade.
Confira o Enunciado 189 da súmula do STF:

Súmula 189-STF. Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não


sucessivos.

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Por fim, registro o entendimento de que a exigência de outorga conjugal em aval, previsto
no art. 1.647, III do CC não é aplicável aos títulos de crédito típicos, como é o caso da letra
de câmbio.
Confira a respeito a proposta de alteração de tal artigo elaborado na I Jornada de Direito
Civil do Conselho de Justiça Federal (CJF), registrado no Enunciado 132:

Enunciado 132. Proposição sobre o art. 1.647, inc. III, do novo Código Civil: OUTORGA
CONJUGAL EM AVAL. Suprimir as expressões “ou aval” do inc. III do art. 1.647 do novo
Código Civil.
Justificativa: Exigir anuência do cônjuge para a outorga de aval é afrontar a Lei Uniforme
de Genebra e descaracterizar o instituto. Ademais, a celeridade indispensável para a cir-
culação dos títulos de crédito é incompatível com essa exigência, pois não se pode espe-
rar que, na celebração de um negócio corriqueiro, lastreado em cambial ou duplicata, seja
necessário, para a obtenção de um aval, ir à busca do cônjuge e da certidão de seu casa-
mento, determinadora do respectivo regime de bens.

Mas cuidado, caro(a) aluno(a), no que diz respeito à necessidade de outorga conjugal para
o aval em títulos próprios.
Embora a ausência de outorga conjugal não tenha o condão de invalidar o aval prestado
em títulos típicos (letra de câmbio e notas promissórias), há julgados recentes do STJ no sen-
tido de que, como regra, tal cônjuge não deve suportar com seus bens a garantia dada sem o
seu consentimento, salvo se dela tiver se beneficiado:

JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO
JURÍDICO. AVAL PRESTADO SEM A OUTORGA DA COMPANHEIRA E DO CÔNJUGE DOS
AVALISTAS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.647, III, CC/02. PRINCÍPIOS DE DIREITO CAM-
BIÁRIO. ATO JURÍDICO VÁLIDO. INEFICÁCIA PERANTE A COMPANHEIRA E O CÔNJUGE
QUE NÃO ANUÍRAM.
(...)
2. O propósito recursal é decidir sobre a validade do aval prestado sem a outorga da com-
panheira e do cônjuge dos avalistas.
3. Até o advento do CC/02, bastava, para prestar aval, uma simples declaração escrita de
vontade; o art. 1.647, III, do CC/02, no entanto, passou a exigir do avalista casado, exceto
se o regime de bens for o da separação absoluta, a outorga conjugal, sob pena de ser tido
como anulável o ato por ele praticado.

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4. Se, de um lado, mostra-se louvável a intenção do legislador de proteger o patrimônio


da família; de outro, há de ser ela balizada pela proteção ao terceiro de boa-fé, à luz dos
princípios que regem as relações cambiárias.
5. Os títulos de crédito são o principal instrumento de circulação de riquezas, em virtude
do regime jurídico-cambial que lhes confere o atributo da negociabilidade, a partir da pos-
sibilidade de transferência do crédito neles inscrito. Ademais, estão fundados em uma
relação de confiança entre credores, devedores e avalistas, na medida em que, pelo prin-
cípio da literalidade, os atos por eles lançados na cártula vinculam a existência, o conte-
údo e a extensão do crédito transacionado.
6. A regra do art. 1.647, III, do CC/02 é clara quanto à invalidade do aval prestado sem a
outorga conjugal. No entanto, segundo o art. 903 do mesmo diploma legal, tal regra cede
quando houver disposição diversa em lei especial.
7. A  leitura do art.  31 da Lei Uniforme de Genebra (LUG), em comparação ao texto do
art. 1.647, III, do CC/02, permite inferir que a lei civilista criou verdadeiro requisito de vali-
dade para o aval, não previsto naquela lei especial. 8. Desse modo, não pode ser a exigên-
cia da outorga conjugal estendida, irrestritamente, a todos os títulos de crédito, sobretudo
aos típicos ou nominados, como é o caso das notas promissórias, porquanto a lei espe-
cial de regência não impõe essa mesma condição.
9. Condicionar a validade do aval dado em nota promissória à outorga do cônjuge do
avalista, sobretudo no universo das negociações empresariais, é enfraquece-lo enquanto
garantia pessoal e, em consequência, comprometer a circularidade do título em que é
dado, reduzindo a sua negociabilidade; é acrescentar ao título de crédito um fator de
insegurança, na medida em que, na cadeia de endossos que impulsiona a sua circulação,
o portador, não raras vezes, desconhece as condições pessoais dos avalistas.
10. Conquanto a ausência da outorga não tenha o condão de invalidar o aval prestado
nas notas promissórias emitidas em favor de credor de boa-fé, não podem as recorrentes
suportar com seus bens a garantia dada sem o seu consentimento, salvo se dela tiverem
se beneficiado. (...) [STJ, REsp 1644334 / SC, Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI, TER-
CEIRA TURMA, Data do Julgamento 21/08/2018

Responsabilidade dos Sacadores, Aceitantes, Endossantes ou Avalistas com o


Portador

Nos termos do art. 47 da LUG, são as seguintes as responsabilidades dos sacadores, acei-
tantes (lembre: sacado não tem responsabilidade), endossantes ou avalistas com o portador:
• todos são solidariamente responsáveis com o portador;
• todos poderão ser acionados individualmente, sem estar o portador adstrito a observar
a ordem porque elas se obrigaram;

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• o mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma letra quando a tenha pago (ob-
servado o direito de regresso);
• a ação intentada contra um dos coobrigados não impede acionar os outros, mesmo os
posteriores àquele que foi acionado em primeiro lugar.

Vencimento e Prazo de Apresentação

Nos termos do art. 33 da LUG, a letra de câmbio poderá ser sacada:


• à vista: o vencimento ocorre no dia da apresentação da letra ao sacado, devendo ocorrer
como regra até 01 (um) ano a contar da sua data de emissão (tal prazo pode ser alonga-
do pelo sacador ou diminuído pelo sacador ou endossante);
• a um certo termo de vista: determina-se quer pela data do aceite, quer pela do protesto
(recusa de aceite). O  aceite não datado (caso não tenha havido protesto por falta de
data de aceite) entende-se, no que respeita ao aceitante, como tendo sido dado no último
dia do prazo para a apresentação ao aceite. A letra deverá ser apresentada para aceite no
prazo estabelecido no título ou, caso não haja, dentro de 01 (um) ano, contado da sua
emissão;
• a um certo termo de data: o sacador estipula que a letra não deve ser apresentada a
pagamento antes de uma determinada data (contada da emissão da letra), passando o
prazo para apresentação a contar a partir de tal data;
• pagável num dia fixado (letra com dia certo): vence em dia preestabelecido pelo saca-
dor (ex., 26.12.2020).

Lembremos que, como regra, a  obrigação de pagamento de título de crédito é quesível,


ou seja, o credor deve tomar a iniciativa para recebê-lo, apresentando o título ao devedor para
pagamento ou comprovando publicamente a negativa do devedor (ex., com a realização tem-
pestiva do protesto).
Registro que no caso recusa total ou parcial do aceite ocorrerá o vencimento antecipado
do título, nos termos do art. 43, item I da LUG.
Da mesma forma, sustenta a doutrina que, por conta da reserva feita à aplicação dos itens
2 e 3 do art. 43 (art. 10 do Anexo II), seria aplicável o art. 19, II, do Decreto 2.044, de 1908, que
estipula que ocorrerá o vencimento antecipado também no caso de falência do aceitante.

O art. 5º da LUG permite a pactuação de juros compensatórios nas letras pagável à vista ou a
um certo termo de vista, devendo a taxa de juros ser indicada na letra (se não for, a cláusula é
considerada não escrita). Nas demais hipóteses de vencimento tal cláusula será considerada
não escrita.

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No que diz respeito aos juros moratórios (juros legais), entende-se que a sua aplicação decorre
de lei (art. 406 do Código Civil e art. 161, § 1º do CTN), não estando limitados a 6% por conta
da adoção da reserva prevista no art. 13 do Anexo II.
Registro que o Código Civil estabelece que é considerada não escrita no título “a cláusula de
juros” (art.  890), mas tal dispositivo somente se aplica aos títulos que não são regidos por
lei especial.

Pagamento da Letra de Câmbio

A letra de câmbio pagável no Brasil deve ser apresentada para pagamento no dia do seu
vencimento (exceção: a letra sacada à vista pode ser apresentada a qualquer momento, dentro
do prazo de um ano de sua emissão). Caso o vencimento caia em dia não útil, a apresentação
deverá ser no primeiro dia útil seguinte (aplica-se o art. 20 do Decreto 2.044, de 1908, por conta
de o Brasil ter adotado a reserva prevista no art. 5º do Anexo II).
A letra pagável no exterior deve ser apresentada no dia do vencimento ou nos 02 (dois)
dias úteis seguintes (art. 38 da LUG), ressaltando que a reserva mencionada no parágrafo an-
terior se aplica somente a letras pagáveis em território nacional).
Nos termos do art. 39 da LUG, orientado pelo princípio da cartularidade e da literalidade,
“o sacado que paga uma letra pode exigir que o título lhe seja entregue com a respectiva
quitação.”
Registro que, nos termos do art. 40 da LUG, “o portador de uma letra não pode ser obrigado
a receber o pagamento dela antes do vencimento”. Caso decida pagar antecipadamente, o sa-
cado faz sob sua responsabilidade.
Contudo, o portador não pode recusar qualquer pagamento parcial, devendo fazer menção
na letra, “e que dele seja dada quitação” (art. 39 da LUG).

Protesto da Letra de Câmbio e Outros Títulos Típicos

O protesto é ato solene e formal que tem o objetivo de “incorporar ao título de crédito a
prova de fato relevante para as relações cambiais, como, por exemplo, a falta de aceite ou de
pagamento da letra de câmbio”, nos termos da lição da Fábio Ulhoa Coelho.
Ou seja, o protesto não se presta somente a comprovar o inadimplemento (pode provar
fato relevante, como a recusa do aceite), devendo ser realizado pelo credor perante o compe-
tente cartório.
Marcelo Bertoldi e Márcia Ribeiro identificam duas funções para o protesto:
• “conservatória de direitos”: será obrigatório para exigir dos coobrigados (devedores in-
diretos) o pagamento do título (art. 44 c/c 53 da LUG), bem como possibilitar o venci-

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mento antecipado caso a letra não seja aceita. Lembrando: o protesto não é obrigatório
para a cobrança do crédito do devedor principal – aceitante – e seu avalista (nesse caso
o protesto é facultativo);
• “simplesmente probatória”: sempre o protesto terá tal função, ao fazer prova de deter-
minada situação cambiária, inclusive nos casos para conservação de direitos.

Em relação à letra de câmbio, poderão ocorrer as seguintes modalidades de protesto:


• protesto por falta de aceite: nos termos do art. 44 da LUG, a recusa de aceite deve ser
comprovada pelo protesto (ato formal), devendo ser realizado após o decurso do prazo
legal para o aceite ou a devolução e até a data do vencimento (após somente é cabível o
protesto por falta de pagamento). Tal protesto é necessário para a cobrança antecipada
dos devedores indiretos (sacador, endossante e outros coobrigados). Será cabível não
só na letra de câmbio, como na duplicata;
• protesto por falta de pagamento: nos termos do art. 44 da LUG, a falta do pagamento
deve ser comprovada pelo protesto (ato formal), devendo ser entregue no primeiro dia
útil que se seguir ao do vencimento e tirado dentro de 3 (três) dias úteis, conforme
art. 28 do Decreto 2.044, de 1908 (aplicável por conta da reserva constante no art. 9º
do Anexo II). É necessário para a cobrança dos coobrigados (devedores indiretos), à ex-
ceção do aceitante e seus avalistas (devedores principais). Será cabível em todos os
títulos de créditos, sendo que “após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por
falta de pagamento” (art. 20, § 2º da Lei 9.492, de 1997);
• protesto por falta de devolução: será cabível quando a letra de câmbio for enviada para
aceite e não for devolvida. O protesto será baseado na segunda via da letra de câmbio.
Aplica-se tanto à letra de câmbio, como à duplicata;
• protesto por falta de data do aceite: caso a letra de câmbio com vencimento a “certo
tempo de vista” seja aceita, mas não conste a data de tal ato, o protesto será cabível,
sendo que o dia do aceite será estabelecido como sendo o dia do protesto. Caso não
haja o protesto, o  aceite não datado entende-se, no que respeita ao aceitante, como
tendo sido dado no último dia do prazo para a apresentação ao aceite (art. 35 da LUG).

O lugar em que o protesto será tirado será o indicado pela letra para aceite ou para paga-
mento (art. 28 do Decreto 2.044, de 1908, aplicado subsidiariamente por falta de previsão na
LUG), que na ausência de indicação será considerado o lugar constante ao lado do nome do
sacado, por se presumir ser esse o lugar do seu domicílio (art. 2º da LUG).

Após a edição do Código Civil em 2002, o protesto cambial passou a figurar expressamente
como causa de interrupção da prescrição, nos termos do art. 202, III:

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a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

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Art. 202, CC. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover
no prazo e na forma da lei processual;
II – por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III – por protesto cambial;
IV – pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI  – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito
pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou
do último ato do processo para a interromper. (negritei).

Cumpre reproduzir o art. 21 da Lei 9.492, de 1997 (que regulamenta os serviços concernen-
tes ao protesto de títulos e outros documentos), pelo fato de disciplinar aspectos específicos
das modalidades de protesto da letra de câmbio e de outros títulos de crédito:

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.


§ 1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação
e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.
§ 2º Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento, vedada a recusa
da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial.
§ 3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à
devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio
ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo saca-
dor ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na
Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas.
§ 4º Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e cheques, os saca-
dos nas letras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo apresentante ou credor como
responsáveis pelo cumprimento da obrigação, não poderão deixar de figurar no termo de lavratura
e registro de protesto.
§ 5º Não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o sacado não
aceitante.

012. (IESES/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E REGISTRO/TJ-RN/2012/ADAPTADA) So-


bre o protesto, indique a resposta correta.
I – O  protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da
obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.

É o que dispõe o art. 21, §1º da Lei 9.492, de 1997:

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Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.
§ 1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação
e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.
Certo.

013. (IESES/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E REGISTRO/TJ-RN/2012/ADAPTADA) So-


bre o protesto, indique a resposta correta.
Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder
à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de
câmbio ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lança-
dos pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formali-
dade não prevista na Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas.

É o que dispõe o art. 21, §3º da Lei 9.492, de 1997:

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.


(...)
§ 3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à
devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio
ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo saca-
dor ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na
Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas.
Certo.

Por fim, cabe-me dizer que a LUG, no art. 46, permite que o sacador, endossante e avalista
de letras de câmbio e nota promissória adotem a cláusula ‘sem protesto’ ou ‘sem despesa’
(materializada com o lançamento de tais expressões ou outra equivalente), em que fica dis-
pensado (facultativo) o protesto por falta de aceite ou falta de pagamento para o exercício dos
direitos de ação para a cobrança dos devedores indiretos (lembre-se: em relação ao devedor
principal o protesto é sempre facultativo!). Também é possível a adoção dessa cláusula no
cheque (arts. 49 e 50 da Lei 7.357, de 1985).

Em relação aos títulos atípicos regulados pelo Código Civil, tal cláusula é considerada não
escrita, nos termos do art. 890:

Art.  890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a  ex-
cludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de
termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos
e obrigações.

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Prescrição

O art. 70 da LUG estabelece os seguintes prazos prescricionais para a letra de câmbio, que
também se aplicam à nota promissória, conforme art. 77 da LUG:
• aceitante: todas as ações contra o aceitante relativas a letras de câmbio prescrevem em
3 (três) anos a contar do seu vencimento;
• coobrigados ou devedores indiretos: as ações do portador contra os endossantes e
contra o sacador prescrevem em 01 (um) ano, a contar da data do protesto feito em
tempo hábil (dia do vencimento no caso de título pagável no Brasil) ou da data do venci-
mento, caso o título contenha cláusula “sem despesas”;
• direito de regresso: as ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador
prescrevem em 6 (seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em
que ele próprio foi acionado.

Registro que o art.  71 estabelece que “a interrupção da prescrição só produz efeito em


relação à pessoa para quem a interrupção foi feita.”
Quanto à prescrição da nota promissória, registro o Enunciado 71 da II Jornada de Direito
Comercial do CJF:

Enunciado 71. A prescrição trienal da pretensão à execução, em face do emitente e seu


avalista, de nota promissória à vista não apresentada a pagamento no prazo legal ou
fixado no título, conta-se a partir do término do referido prazo.

Nota Promissória
Disciplina Legal

A nota promissória também é regulada pela LUG, aplicando-se, no que não for contrário à
sua natureza, as disposições relativas à letra de câmbio (art. 77).
Contudo, diferentemente da letra de câmbio (que é uma ordem de pagamento), a nota pro-
missória estrutura-se como promessa de pagamento, em que têm lugar situações jurídicas
tituladas pelas seguintes pessoas:
• sacador (também chamado de promitente ou subscritor): é o emissor da nota, que pro-
mete pagar certa quantia a alguém no vencimento, sendo “responsável da mesma for-
ma que o aceitante de uma letra” (art. 78 da LUG), ou seja, é o devedor principal. Nesse
sentido, se o aval não indicar em favor de quem é dado, presume-se que é ao sacador
(subscritor);
• tomador: é o beneficiário da nota, a quem se promete o pagamento.

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Com exceção do aceite (ato típico de título estruturado como ordem de pagamento), os de-
mais atos cambiários podem se fazer presentes na nota promissória, sendo aplicado o regra-
mento já estudado referente à letra de câmbio.
A despeito dessa ressalva, registro que o art. 78 da LUG expressamente permite que a nota
promissória tenha vencimento a certo termo de vista, circunstância que demandará a apresen-
tação de tal título ao subscritor (emissor) para visto (não é aceite) no prazo de 01 (um) ano,
momento após o qual correrá o prazo estipulado desde a emissão do título. Caso haja negativa
do visto, estabelece a LUG a possibilidade de protesto para comprovar tal circunstância.

014. (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2013/ADAPTADA) Em relação aos títulos de crédito,


assinale a opção correta.
Em virtude do princípio da cartularidade, um aval concedido em instrumento apartado da nota
promissória não produzirá efeitos de aval.

Em relação ao aval, as mesmas regras aplicadas à letra de câmbio se aplicam à nota promis-
sória, por força do art. 77 da LUG.
Nesse sentido, a segunda parte da assertiva está correta, pois de fato o art. 31 preceitua que o
aval deve ser escrito “na própria letra” ou “numa folha anexa”, não tendo força cambiária quan-
do concedido em “instrumento apartado”.

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Contudo, a parte inicial está errada, pois tal proibição materializa o princípio da literalidade
(somente vale o que está escrito no título) e não o da cartularidade (necessidade do título no
original para exercer os direitos nele mencionados).
Errado.

Nos termos dos art. 75 da LUG, a nota promissória deve ser emitida observando os se-
guintes requisitos, sob pena de não produzir efeito como “nota promissória” (perda da eficiên-
cia cambial):
Requisitos essenciais:
• Expressão “nota promissória” inserta no próprio título. Lembre-se: a indicação precisa
da espécie do título de crédito, a qual a doutrina chama de ‘cláusula cambiária’, é impor-
tantíssima, a fim de definir o regime jurídico que será aplicado;
• Promessa pura e simples de pagar uma quantia (ou seja, promessa incondicional, sendo
vedado o estabelecimento de condição);
• Nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga (nome do ‘tomador’);
• A indicação da data em que a letra é passada (data da emissão);
• A assinatura de quem a passou (assinatura do subscritor).

Requisitos não essenciais (o próprio art. 76 da LUG apresenta soluções no caso de omissão):
• Época do pagamento: a nota promissória em que se não indique a época do pagamento
entende-se pagável à vista;
• Indicação do lugar em que deve efetuar o pagamento: Na falta de indicação especial,
o  lugar onde o título foi passado considera-se como sendo o lugar do pagamento e,
ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor da nota promissória (se não hou-
ver tal indicação, o documento não produzirá efeito como nota promissória, perdendo a
eficiência cambial);
• Indicação do lugar em que a letra é passada: considera-se como tendo-o sido no lugar
designado ao lado do nome do subscritor (se não houver tal indicação, o documento não
produzirá efeito como nota promissória, perdendo a eficiência cambial).

Além desses requisitos específicos, há também requisitos intrínsecos, estabelecidos pelo


art. 104 do Código Civil para validade de qualquer negócio jurídico, a saber:
• agente capaz;
• objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
• forma prescrita ou não defesa em lei.

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015. (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-AC/2017) Com relação à nota promissória, assinale


a opção correta.
a) Para que a cartularidade dessa nota seja garantida, é necessário aceite.
b) É vedada, nesse tipo de título, a utilização de cláusula não à ordem.
c) A obrigação constante desse título deve ficar sujeita a uma condicionante.
d) A referida nota é uma promessa de pagamento.
e) A emissão dessa nota exige vinculação a um negócio jurídico.

Nos termos do art. 75, item 2, a nota promissória contém uma “promessa pura e simples de
pagar uma quantia determinada”, materializando, portanto, uma promessa de pagamento:

Art. 75. A nota promissória contém:


(...)
2. a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
a) Errada. Por se tratar de uma “promessa” e não de uma “ordem de pagamento”, não se aplica
o ato cambiário do aceite.
b) Errada. Aplica-se à nota promissória, no que for compatível, as normas relacionadas à letra
de câmbio, em que é permitida a “cláusula não à ordem”:

Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é trans-
missível por via de endosso.
Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não à ordem”, ou uma expressão equivalente,
a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
Art. 77. São aplicáveis às notas promissórias, na parte em que não sejam contrárias à natureza des-
te título, as disposições relativas às letras e concernentes: endosso (artigos 11 a 20);
(...)
c) Errada. Nos termos do art. 75, item 2, deve conter uma “promessa pura e simples”.
e) Errada. A nota promissória é um título autônomo e abstrato, como a letra de câmbio, não
estando vinculado a negócio jurídico específico.
Letra d.

016. (FUNDEP/JUIZ/TJ-MG/2014/ADAPTADA) Com relação à nota promissória, analise a


afirmativa:
A ação cambial contra o endossador e o avalista da nota promissória prescreve em trinta e seis
meses contados do dia em que ação pode ser proposta.
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A regra de prescrição da nota promissória segue o previsto para a letra de câmbio, nos termos
previstos no art. 77 da LUG. Nesse sentido, a prescrição da ação contra os devedores indiretos
ocorrerá em 1 ano, contado do protesto ou da data do vencimento:

Art. 70. Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (três) anos a contar
do seu vencimento.
As ações do portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a contar
da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se trata de letra que contenha
cláusula “sem despesas”.
As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em 6 (seis) meses
a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado.
Errado.

Efeito da Vinculação da Nota Promissória a Contratos

É usual a vinculação da nota promissória a contratos, notadamente contratos bancários.


Apesar de não perder a sua natureza de título de crédito, sobretudo com a possibilidade de
serem firmados atos cambiários típicos como o endosso e o aval, o STJ sumulou entendimen-
to que tal prática acarreta a perda da autonomia da cártula em relação ao negócio que lhe deu
origem (negócio subjacente) quando envolver contrato de abertura de crédito:

Súmula 258-STJ. A  nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não


goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

Em razão disso, embora persista com natureza cambial, a nota promissória passa a ser
“contaminada” por eventuais vícios contratuais.
Confira a lição de Marlon Tomazette:

(...) Em suma, pode-se afirmar que nota promissória vinculada a um contrato continua sendo um
título, mas é contaminada por todos os problemas que envolvam o contrato, no tocante à existência
do direito de crédito, à liquidez, ou à determinação do valor da obrigação. (negritei).

A despeito disso, registro que o STJ também firmou entendimento que “a vinculação da
nota promissória a um contrato retira-lhe a autonomia de título cambial, mas não a sua execu-
toriedade, desde que a avença seja liquida, certa e exigível”:

JURISPRUDÊNCIA
ASSINATURA. CONTRATO. CAMBIAL.

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A falta de assinatura de duas testemunhas no contrato de mútuo não retira da cambial


(no caso, nota promissória emitida em garantia do ajuste) sua eficácia executiva. Anote-
-se que, no plano da validade, não há nada a macular a emissão da nota promissória e
que há o princípio da liberdade quanto à forma a impor que as convenções concluem-se
por simples acordo de vontades (art. 107 do CC/2002). Só excepcionalmente se exige
instrumento escrito como requisito de validade do contrato (arts. 108 e 541 do CC/2002)
e se mostra ainda mais rara a exigência de subscrição de duas testemunhas (arts. 215,
§  5º, e  1.525, III, do mesmo código). Em decorrência disso, o  contrato escrito, quase
sempre, cumpre apenas o papel de prova da celebração do ajuste. Então, a falta de assi-
natura das testemunhas somente retira dele a eficácia de título executivo (art. 585, II, do
CPC), e não a prova quanto ao ajuste de vontades. Se válido o contrato, também o é a nota
promissória que o garante. Por sua vez, a invocação da Súm. n. 258-STJ não se mostra
pertinente na hipótese, pois se está diante de contrato celebrado por valor fixo, de modo
que o consentimento do devedor abrange todos os elementos da obrigação, quanto mais
se a cártula foi emitida no valor previamente consignado no instrumento. Daí a nota ser
apta a aparelhar a execução, mesmo não havendo a assinatura das testemunhas no con-
trato. [STJ, REsp 999.577-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, TERCEIRA TURMA, julgado em
4/3/2010 – Informativo 425, de 1º a 5º de março de 2010]

Ainda em relação à vinculação de título de crédito a contratos, lembremos dos Enunciados


26 e 60 do STJ referentes ao contrato de mútuo:

Súmula 26-STJ. O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também res-
ponde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.
Súmula 60-STJ. É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vincu-
lado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.

017. (TRF-3/JUIZ FEDERAL/TRF-3/2016) Observando-se a legislação e a jurisprudência do-


minante do Superior Tribunal de Justiça, julgue o(s) item(ns) a seguir:
A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em
razão da iliquidez do título que a originou.

Essa é a redação do Enunciado 258 da súmula do STJ:

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Súmula 258-STJ. A  nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não


goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

Certo.

018. (TRF-3/JUIZ FEDERAL/TRF-3/2016) Observando-se a legislação e a jurisprudência do-


minante do Superior Tribunal de Justiça, julgue o(s) item(ns) a seguir:
O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obriga-
ções pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.

Essa é a redação do Enunciado 26 da súmula do STJ:

Súmula 26-STJ. O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também res-
ponde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.

Certo.

Cheque
Disciplina Legal

O cheque é disciplinado pela Lei 7.357, de 1985 (Lei do Cheque), tratando-se, portanto, de
título próprio.
De forma subsidiária, como nos demais títulos regulados por lei especial, aplicam-se as
disposições do Código Civil, consoante o art. 903 do CC.

Características e Requisitos

A principal característica do cheque é ser uma ordem incondicional de pagamento à vista


(art. 1º, I c/c art. 32 da Lei do Cheque).
Nesse sentido, envolve originalmente 03 (três) personagens:
• Sacador (emitente ou correntista): é a pessoa que dá a ordem de pagamento, devendo
ter firmado contrato de conta corrente com o sacado;
• Sacado (instituição financeira): necessariamente vai ser uma instituição financeira (sob
pena de o título não valer como cheque) contra quem será dada a ordem de pagamento
em razão dos fundos que o emitente mantenha em conta bancária. Ao contrário da letra
de câmbio, o cheque não admite aceite, sendo considerada não escrita qualquer decla-
ração nesse sentido;

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• Beneficiário (tomador/credor): será a pessoa que tem o direito de receber o valor cons-
tante no título.

Embora seja necessário que o emitente tenha fundos em conta corrente para o pagamento
do cheque (essa circunstância será verificada quando o cheque for apresentado para paga-
mento), o descumprimento desse preceito não desnatura o título como cheque, nos termos do
art. 4º da Lei de Cheque:

Art. 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles
emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica
a validade do título como cheque.
§ 1º – A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para
pagamento.
(...)

A relação do sacado (instituição financeira) é bem peculiar, não lhe sendo permitido aceitar
(art. 6º da Lei do Cheque) ou avalizar o título (art. 29, caput, da Lei do Cheque).
Da mesma forma, o banco sacado não tem responsabilidade pelos prejuízos causados pela
emissão de cheque sem fundo, nos termos decidido pelo STJ:

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O banco sacado não responde pela emissão de cheques sem fundos que geram prejuízos
a terceiros. [STJ, AgRg no REsp 1581927/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, Julgado em 10/05/2016, entre outros precedentes].

Contudo, em atos de sua responsabilidade, a instituição financeira sacada poderá responder


perante terceiros, como no caso de pagamento de cheque falso ou extravio de talonários
de cheques:

Súmula 28-STF. O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque


falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.
A instituição financeira é responsável pelos danos resultantes de extravio de talonários de che-
ques utilizados fraudulentamente por terceiros. [STJ, AgRg no AREsp 482722/SP, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, Julgado em 02/12/2014,DJE 19/12/2014, entre outros]

019. (TRF-2/JUIZ/TRF-2/2018/ADAPTADA) A respeito dos títulos de crédito é correto afir-


mar, com base na Lei e Súmulas do STF e do STJ, que:
O estabelecimento bancário sempre será responsável pelo pagamento de cheque falso.

Nos termos da Súmula 28 do STF, como regra a instituição financeira sacada responderá pelo
pagamento de cheque falso, mas faz expressa ressalva nas hipóteses de culpa exclusiva ou
concorrente do correntista:

Súmula 28-STF. O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque


falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.

Errado.

Os arts. 1º e 2º da Lei do Cheque estabelece os seguintes requisitos para o cheque:


Requisitos essenciais:
• a denominação “cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este
é redigido (clausula cambiária);
• a ordem incondicional de pagar quantia determinada (não se admite condição, pelo me-
nos para fins cambiário – falaremos adiante do “cheque pré-datado”);
• o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
• a indicação da data de emissão;

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• a assinatura do emitente (sacador) ou de seu mandatário com poderes especiais (po-


dendo ser adotada chancela mecânica ou processo equivalente);
• Identificação do tomador: obrigatória em cheques com valor superior a R$ 100,00
(art. 69 da Lei 9.069, de 1995, que permite ‘cheque ao portador’ abaixo desse valor, sen-
do uma exceção em relação aos títulos próprios).

Requisitos não essenciais:


• Lugar de pagamento: na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento
o lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é
pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar
de sua emissão;
• Lugar de emissão: não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no
lugar indicado junto ao nome do emitente.

O cheque é um título de crédito de modelo vinculado. Isso porque o Banco Central do Brasil
padronizou o seu modelo, que deve ser adotado pelas instituições financeiras sacadas, em que
constam todos os requisitos essenciais.
Registro que em relação ao ‘lugar de pagamento’ (requisito não essencial), estabeleceu-se
como regra o lugar designado ao lado do nome do banco sacado, ou seja, o endereço da agên-
cia bancária.

Mesmo que não estejam presentes todos os requisitos quando da emissão do cheque, ainda
que os essenciais, o STF permite que o credor de boa-fé os preencha antes da cobrança ou
do protesto:

Súmula 387-STF. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser
completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

O cheque não é uma forma de pagamento de “curso forçado”, em outras palavras, é uma op-
ção do comerciante receber ou recusar o cheque como meio de pagamento, conforme já de-
cidiu o STJ:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. CONDUTA DO
COMERCIANTE. LEGALIDADE.

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1. Receber ou recusar cheque é opção do comerciante. Não há Lei que


determine curso forçado dessa forma de pagamento.
2. Não comete ato ilícito o comerciante que, recebendo cheque sem
provisão de fundos, encaminha o nome do emitente para cadastro de
proteção ao crédito. (destaquei)[REsp 831336 / RJ, Relator Ministro HUMBERTO GOMES
DE BARROS, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 06/03/2008]

Contudo, baseado na legislação consumerista, o STJ entende que, se o estabelecimento em-


presarial aceita o cheque de forma geral, somente pode ser negada essa forma de pagamento
a determinado consumidor se for apresentada justa causa:

JURISPRUDÊNCIA
Civil. Recurso Especial. Ação de indenização por danos materiais e
morais. Embargos de declaração. Omissão, contradição ou obscuridade.
Não ocorrência. Recusa indevida de cheque. Alegação de que não há
provisão de fundos. Configuração de danos morais. Compra realizada
por outra forma de pagamento. Irrelevância.
– Após recusa da sociedade empresária em receber cheque emitido pelo
consumidor, sob o falso argumento de que não havia provisão de
fundos, o pagamento da mercadoria foi efetuado mediante cartão de
débito em conta corrente.
– Embora o cheque não seja título de crédito de aceitação
compulsória no exercício da atividade empresarial, a  sociedade
empresária, ao  possibilitar, inicialmente, o  pagamento de mercadoria
por meio desse título, renunciou sua mera faculdade de aceitação e
se obrigou a demonstrar justa causa na recusa, sob pena de violação
ao princípio da boa-fé objetiva.
(...) (destaquei) [STJ, REsp 981583 / PR, Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 23/03/2010]

Atualmente, o STJ entende ser possível a diferenciação de preços em função da forma de pa-
gamento (dinheiro, débito ou crédito) e o prazo, desde que o fornecedor informe tal medida em
local e formato visíveis ao consumidor, por conta de expressa previsão na Lei 13.455, de 2017:

JURISPRUDÊNCIA
ADMINISTRATIVO. CONSUMIDOR. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIFEREN-
CIAÇÃO DE PREÇOS DE ACORDO COM A FORMA DE PAGAMENTO (DINHEIRO, DÉBITO

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OU CRÉDITO). POSSIBILIDADE. PRÁTICA HODIERNAMENTE AUTORIZADA A PARTIR DA


VIGÊNCIA DA LEI N. 13.455/2017. 1. A Lei n. 13.455/2017 passou a autorizar, em seu art.
1º, a diferenciação de preços de bens e serviços ofertados ao público, levando em con-
sideração o prazo ou a modalidade do instrumento utilizado para pagamento pelo con-
sumidor. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento. [STJ, Relator Ministro
OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento 01/06/2020].

Ainda na esfera consumerista, cito o Enunciado 388 do STJ:

Súmula 388-STJ. A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.

Quanto à fixação do dano moral nessa hipótese, o STJ entende que é razoável a fixação de
indenização em até 50 salários mínimos:

JURISPRUDÊNCIA
É razoável o valor da compensação por danos morais fixado em até 50 (cinquenta) salá-
rios mínimos para a hipótese de devolução indevida de cheque.” [STJ, AgRg no AREsp
771453/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, Julgado em
03/05/2016, entre outros precedentes]

Atos Cambiários no Cheque

Embora a única assinatura obrigatória no cheque seja a do emitente, são possíveis outras
assinaturas que podem materializar o endosso ou o aval.

Vedação ao Aceite

Quanto ao aceite, repita-se: o art. 6º da Lei do Cheque preceitua que o “cheque não admite
aceite considerando-se não escrita qualquer declaração com esse sentido.”

Endosso

Em relação ao endosso, o cheque – como os demais títulos – não tem limitação ao número
de endosso que podem ser efetivados.

Uma curiosidade: quando esteve em vigor a CPMF, a lei que instituiu esse tributo permitia so-
mente um único endosso no cheque.
Contudo, tal limitação não vigora mais.

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Com ou sem cláusula expressa “à ordem”, o cheque como regra será transmissível por en-
dosso nos seguintes moldes:
• Deve ser puro e simples, reputando-se não escrita qualquer condição a que seja subor-
dinado;
• É nulo o endosso parcial;
• É nulo o endosso realizado pelo sacado;
• Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento;
• O endossante pode proibir novo endosso; neste caso, não garante o pagamento “a quem
seja o cheque posteriormente endossado” (art. 21, parágrafo único);
• O sacado está obrigado a conferir “a regularidade da série de endossos, mas não a au-
tenticidade das assinaturas dos endossantes” (art. 39), conforme tem decidido o STJ:

JURISPRUDÊNCIA
O estabelecimento bancário não está obrigado a verificar a autenticidade das assina-
turas dos endossantes, mas tem o dever de atestar a regularidade formal da cadeia
de endossos. [STJ, AgRg no AREsp 310201/MS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, Julgado em 06/10/2015, DJE 26/10/2015, entre outros].

• O endosso pode ser “em branco” (sem designar o endossatário), medida que permite
que o cheque circule pela mera tradição (na prática, torna-se um título ao portador),
sendo que no momento da cobrança deverá ser designado o beneficiário final. Confira o
disposto no art. 20 da Lei do Cheque:

Art. 20. O endosso transmite todos os direitos resultantes do cheque. Se o endosso é em branco,


pode o portador:
I – completá-lo com o seu nome ou com o de outra pessoa;
II – endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa;
III – transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar.

020. (CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E DE REGISTROS-REMOÇÃO/TJ-


-MG/2018) Sendo o endosso “em branco” inserido no cheque, assinale a alternativa correta.
a) Ao endossante é vedado proibir novo endosso.
b) Ao portador é proibido transferir o cheque a um terceiro.
c) Ao endossante é proibido endossar novamente o cheque.
d) Ao portador é permitido endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa.

É o que dispõe o art. 20, II da Lei do Cheque:

Art. 20. O endosso transmite todos os direitos resultantes do cheque. Se o endosso é em branco,


pode o portador:
I – completá-lo com o seu nome ou com o de outra pessoa;

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II – endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa;
III – transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar. (negritei).

a) Errada. Nos termos do art. 21, parágrafo único, o endossante pode proibir novo endosso:

Art. 21. Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.


Parágrafo único. Pode o endossante proibir novo endosso; neste caso, não garante o pagamento a
quem seja o cheque posteriormente endossado. (negritei)

b) Errada. O portador pode transmitir o cheque a terceiro e endossar novamente o cheque:

Art. 20. O endosso transmite todos os direitos resultantes do cheque. Se o endosso é em branco,


pode o portador:
I – completá-lo com o seu nome ou com o de outra pessoa;
II – endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa;
III – transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar. (negritei).

c) Errada. Ver comentário da letra B.


Letra d.

A partir da circulação promovida pelo endosso, o cheque desvincula-se do negócio jurídico


originário (subprincípio da abstração, derivado do princípio da autonomia), sendo inoponíveis
exceções pessoais ao terceiro de boa-fé (subprincípio da inoponibilidade das exceções pesso-
ais ao terceiro de boa-fé).
A contrário senso, se não tiver circulado, o STJ tem decidido que “a relação jurídica subja-
cente ao cheque (causa debendi) poderá ser discutida nos casos em que não houver a circu-
lação do título”:

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CHEQUE. PROTESTO. PRAZO PARA A
EXECUÇÃO. CAUSA DEBENDI. DISCUSSÃO. POSSIBILIDADE. FUNDAMENTO CONSTITU-
CIONAL. INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO. REFORMA. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Nos termos do artigo 48 da Lei n. 7.357/1985, o  cheque pode ser
protestado no prazo para a execução.
2. Em situações específicas, é  admissível a investigação da causa
debendi do cheque, tal como na hipótese dos autos em que não houve
circulação da cártula.
(...)
4. Neste recurso especial o Superior Tribunal de Justiça não
reconheceu o protesto do título como indevido. Apenas cassou o

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acórdão do tribunal de origem para reapreciar o tema à luz da


jurisprudência desta Corte.
5. Agravo regimental não provido.
[STJ, AgRg no REsp 1326087 / SP, Relator Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TER-
CEIRA TURMA, Data do Julgamento 07/04/2016]

Ainda em relação à possibilidade de discussão da causa debendi, o STJ também tem deci-
dido que “a investigação da causa debendi é admitida nas hipóteses em que o cheque é dado
como garantia, bem como nos casos em que o negócio jurídico subjacente for constituído em
flagrante desrespeito à ordem jurídica”:

JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARA-
TÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE TÍTULO DE CRÉDITO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULA 282/STF. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF.
REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO
RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. COTEJO ANA-
LÍTICO E SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA.
(...)
Informações Complementares à Ementa
Não é possível conhecer do recurso especial interposto contra
acórdão em que se afastou o princípio da autonomia do cheque para
mitigar o princípio da abstração e da inoponibilidade das exceções
pessoais à cártula dada em garantia de negócio de compra e venda.
Isso porque tal entendimento alinhou-se à jurisprudência do STJ no
sentido de que, se o cheque foi dado em garantia, deve ser admitida
a investigação da causa debendi, e  de que a discussão da relação
jurídica subjacente à emissão do cheque é permitida se houver sérios
indícios de que a obrigação foi constituída em flagrante desrespeito
à ordem jurídica ou se configurada a má-fé do possuidor do título de
crédito. Incide, portanto, a Súmula 83 do STJ.
[AgRg no AREsp 410490/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, Julgado
em 20/05/2014,DJE 05/06/2014]

No entanto, nos termos do art. 17, § 1º da Lei do Cheque, “o cheque pagável a pessoa no-
meada, com a cláusula ‘não à ordem’, ou outra equivalente, só é transmissível pela forma e
com os efeitos de cessão.”

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021. (TRF4/JUIZ FEDERAL/TRF4/2016/ADAPTADA) Dadas as assertivas abaixo, assinale a


alternativa correta.
Acerca dos títulos de crédito:
O cheque pagável à pessoa nomeada, com ou sem a cláusula expressa “à ordem”, é transmis-
sível por via de endosso, diferentemente do cheque pagável à pessoa nomeada com a cláu-
sula “não à ordem” ou equivalente, o qual somente se transmite pela forma e com os efeitos
da cessão.

É o que dispõe o art. 17, caput e § 1º da Lei do Cheque:

Art. 17. O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa “à ordem’’, é transmis-
sível por via de endosso.
§ 1º O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente, só é
transmissível pela forma e com os efeitos de cessão.
(...)
Certo.

Aval

A disciplina do aval no cheque é bem semelhante ao da letra de câmbio/nota promissória,


com uma peculiaridade: é vedado ao sacado avalizar o cheque (art. 30, caput, parte final).
Será materializado com simples assinatura no anverso do título (salvo assinatura do emi-
tente) ou no verso com a designação “por aval” ou fórmula permanente.
Na falta de indicação do avalizado, presume-se que foi dado em favor do emitente.
Da mesma forma que a letra de câmbio, “o avalista se obriga da mesma maneira que o
avalizado”, subsistindo “sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade
resultar de vício de forma” (art. 31, caput da Lei do Cheque).
Caso pague o cheque, o avalista “adquire todos os direitos dele resultantes contra o avali-
zado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque” (art. 31, parágrafo único da
Lei do Cheque).

Responsabilidade do Cotitular do Cheque

Como é cediço, há a possibilidade de cotitularidade no cheque, decorrente de contrato de


conta bancária conjunta.
Nesse caso, os cotitulares da conta conjunta deterão solidariedade ativa dos créditos ape-
nas perante a instituição financeira (relação contratual), não se tornando responsável pelos
cheques emitidos pelo outro correntista (regulado pelo regime jurídico cambial).

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Confira julgado do STJ a respeito:

JURISPRUDÊNCIA
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. REGISTRO EM CADASTRO
DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. CHEQUE SEM PROVISÃO DE FUNDOS. CONTA CONJUNTA.
DANOS MORAIS CONFIGURADOS. SÚM. 83/STJ.
(...)
2. O cotitular de conta conjunta detém apenas solidariedade ativa dos créditos para com
a instituição financeira, não se tornando responsável pelos cheques emitidos pelo outro
correntista. Precedentes. (...).” (destaquei) [STJ, EDcl no AgRg no REsp 1490576/SP, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/08/2015]

Nesse sentido, o STJ consolidou entendimento de que é indevida a inscrição de cotitular


que não assinou o cheque nos órgãos de proteção ao crédito:

JURISPRUDÊNCIA
É indevida a inscrição do nome do cotitular de conta bancária conjunta nos órgãos de
proteção ao crédito se este não emitiu o cheque sem provisão de fundos. [STJ, EDcl no
AgRg no REsp 1490576/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, Jul-
gado em 20/08/2015, entre outros precedentes]

A razão, caro(a) aluno(a), é que a Lei do Cheque não estabeleceu responsabilidade solidá-
ria entre os cotitulares, de forma que essa não pode ser presumida, por força do art. 265 do
Código Civil.

Modalidades de Cheque

Existem as seguintes modalidades de cheque:


• Cheque visado: a pedido do emitente ou do portador legitimado, a instituição financeira
sacada pode “lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endos-
sado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à
indicada no título”. Com o visto, o  sacado obriga-se a “debitar à conta do emitente a
quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do portador legitimado, durante
o prazo de apresentação”, persistindo a obrigação do emitente, endossante e demais
coobrigados (art. 7º da Lei do Cheque). Ou seja, após o visto a instituição financeira re-
tira o valor a ser pago da conta, garantindo que ele será utilizado para o pagamento do
cheque visado;

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• Cheque administrativo: é o cheque sacado pelo próprio banco contra ele mesmo. Obje-
tiva garantir segurança ao beneficiário, uma vez que quem honrará o pagamento será a
própria instituição financeira sacada (art. 9º, III da Lei do Cheque);
• Cheque cruzado: com o cruzamento (feito com aposição de dois traços paralelos no
anverso da cártula), o cheque somente pode ser pago a banco ou a cliente do sacado
mediante o depósito em conta, ou seja, não pode ser descontado na “boca do caixa”.
Pode ser em branco (pode ser depositado em qualquer banco) ou especial/em preto (há
indicação de um banco específico em que pode ser depositado). Será considerada como
inexistente a tentativa de inutilização do cruzamento (arts. 44 e 45 da Lei do Cheque);
• Cheque para ser creditado em conta: com a inscrição transversal no anverso do título
da cláusula “para ser creditado em conta”, o emitente ou o portador pode proibir que o
cheque seja pago em dinheiro. Assim, necessariamente o cheque deverá ser pago me-
diante “lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que vale
como pagamento.” Caso o depósito seja em conta do seu beneficiário será dispensado
o respectivo endosso. Da mesma forma que o cheque cruzado, qualquer tentativa de
inutilização dessa cláusula é considerada inexistente (art. 46 da Lei do Cheque);
• Cheque especial: não há previsão dessa modalidade na Lei do Cheque, sendo decorrên-
cia de contrato de abertura de crédito do banco sacado com o correntista (emitente do
cheque).

Apresentação e Prescrição do Cheque

Nos termos do art. 32, caput, da Lei do Cheque, “o cheque é pagável à vista”, considerando
“não escrita qualquer menção em contrário.”
Por conta disso, o cheque pode ser exigido com a sua simples apresentação à instituição
financeira (sacado), sendo que – pelo menos para fins cambiais (falaremos adiante sobre o
‘cheque pré-datado’) -, qualquer disposição em contrária deve ser desconsiderada.
Nos termos do art. 33 da Lei do Cheque, o cheque tem que ser apresentado para pagamen-
to no prazo de:
• 30 dias: quando emitido no lugar onde houver de ser pago (“na mesma praça”, diga-se,
mesmo município);
• 60 dias: quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.

Se 2 (dois) ou mais cheques forem apresentados simultaneamente, “sem que os fundos


disponíveis bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de emissão mais antiga
e, se da mesma data, os de número inferior” (art. 40).

022. (FCC/JUIZ/TJ-AP/2014) O cheque, quando emitido no lugar onde houver de ser pago,
deve ser apresentado para o pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de

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a) 6 meses.
b) 30 dias.
c) 60 dias.
d) 90 dias.
e) 180 dias.

É o que dispõe o art. 33 da Lei do Cheque:

Art. 33. O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de
30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando
emitido em outro lugar do País ou no exterior.
Letra b.

Pergunto, caro(a) aluno(a): e se o cheque for apresentado após o prazo de 30 (ou 60 dias,
se em praças distintas) disciplinado pelo art. 33 da Lei 7.357, de 1985? Qual a consequência?
Pois é, dileto guerreiro(a), mesmo apresentado fora desse prazo a instituição financeira
sacada deverá pagar o cheque, desde que não esteja prescrita a ação cambial.
Tal prescrição, nos termos do art. 59 da Lei do Cheque, ocorre em 6 meses, contados da
expiração do prazo de apresentação (30 dias se for pagável no mesmo município de expedição
ou 60 dias em municípios diferentes):

Art. 59. Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação


que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.
(...)

Mas qual é a consequência? Embora o cheque possa ser cobrado do emitente e de seu(s)
avalista(s) (devedores principais) dentro do prazo de 6 meses após expirado o prazo de apre-
sentação, o credor perderá o direito de cobrar dos coobrigados (endossantes e seus avalis-
tas), uma vez que o protesto obrigatório para a cobrança dos devedores indiretos pressupõe a
apresentação do título dentro do prazo legal de apresentação, nos termos do art. 47, II da Lei
do Cheque:

Art. 47. Pode o portador promover a execução do cheque:


I – contra o emitente e seu avalista (*o protesto é facultativo);
II – contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de
pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada sobre o che-
que, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara
de compensação.

É o que se depreende do teor da Súmula 600 do STF (a contrário senso em relação aos
coobrigados/devedores indiretos):

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Súmula 600-STF. Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambi-
ária.

No caso de um coobrigado pagar o cheque, também prescreverá em 6 (seis) meses a


ação de regresso contra demais coobrigados, contados do dia em que pagou o cheque ou foi
demandado:

Art. 59. Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação


que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.
Parágrafo único. A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro pres-
creve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi
demandado.

Registro que, nos termos do art. 60 da Lei do Cheque, “A interrupção da prescrição produz
efeito somente contra o obrigado em relação ao qual foi promovido o ato interruptivo.”
SINTETIZANDO

Emitente do cheque e seus ava- – O beneficiário poderá apresentar o cheque ao


listas (devedores diretos) banco sacado no prazo de apresentação (30 dias se
emitido na mesma praça ou 60 dias se emitido em
município diferente);
– Após tal prazo, o beneficiário continua poden-
do apresentar em 6 meses o cheque ao banco saca-
do para pagamento;
– Se for recusado o pagamento, deverá ajuizar
ação executiva cambial dentro desse prazo de 6 me-
ses (para ajuizar a ação, é  imprescindível a prévia
apresentação ao banco sacado);
– Se for recusado o pagamento, o  beneficiário
poderá protestar o título (protesto facultativo).

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Endossante e seus avalistas – O beneficiário deverá apresentar o cheque ao


(Coobrigados/devedores indiretos) banco sacado no prazo de apresentação (30 dias se
emitido na mesma praça ou 60 dias se emitido em
município diferente);
– Apresentando dentro desse prazo e se for re-
cusado o pagamento, o beneficiário deverá protestar
o cheque (protesto obrigatório);
– Se um coobrigado pagar o título, terá 6 meses
contado do dia que pagou o título ou foi demandado
para entrar com ação de regresso contra os demais
coobrigados;
– Expirado o prazo de apresentação ou não pro-
testado o título dentro desse prazo, o  beneficiário
perderá o direito de execução contra o endossante
e seus avalistas.

Ação de Cobrança do Cheque Prescrito (Ação de Enriquecimento Ilícito)

Ainda que ocorra a prescrição da ação de execução do cheque, o art. 61 da Lei do Cheque
permite que o credor ajuíze “ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados,
que se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque.”
Tal ação prescreverá em 2 (dois) anos a contar da data em que ocorreu a prescrição da
ação de execução (a prescrição ocorre em 6 meses contados do término do prazo de apre-
sentação – que será de 30 ou 60 dias, a depender se é pagável no mesmo município da emis-
são ou não).

Revogação (Contraordem) e Sustação (Oposição) do Cheque

Nos termos do art. 35 da Lei do Cheque, o “emitente (somente ele) do cheque pagável no
Brasil pode revogá-lo, mercê de contraordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou
extrajudicial, com as razões motivadoras do ato.”
Contudo, consoante o parágrafo único do referido artigo, tal revogação ou contraordem
somente produzirá efeito após transcorrido o prazo de apresentação do cheque (30 dias se
pagável no mesmo município de expedição ou 60 dias se pagável em outro lugar).
Já a sustação (também chamada de oposição) pode impedir o pagamento do cheque
mesmo durante o prazo de apresentação, desde que o “emitente” ou o “portador legitimado”
apresente oposição “fundada em relevante razão de direito” (art. 36).

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A revogação ou sustação do cheque, caso seja feita de forma dolosa pelo emitente para obter
vantagem ilícita, pode configurar o crime de estelionato mediante fraude no pagamento por
meio de cheque, previsto no art. 171, § 2º, VI do Código Penal (CP):

Estelionato
Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (Vide Lei
n. 7.209, de 1984)
(...)
§ 2º – Nas mesmas penas incorre quem:
(...)
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI – emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o paga-
mento.
(...)
Nos termos da Súmula 521 do STF e 244 do STJ, o foro competente para o julgamento desse
crime será do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo sacado:

Súmula 521-STF. O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelio-
nato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUNDOS, é o do
local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Súmula 244-STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de este-
lionato mediante cheque sem provisão de fundos.

Contudo, caso se trate de “cheque pré-datado”, o STJ tem entendido que, para efeitos penais,
o cheque perde a sua característica de ordem de pagamento à vista, transformando-se somen-
te em um instrumento de garantia da dívida, afastando a incidência do tipo previsto no art. 171,
VI do CP. Mas cuidado: dependendo da situação, tal conduta pode se enquadrar na figura geral
do estelionato (previsto no art. 171, caput, do CP):

JURISPRUDÊNCIA
EMISSÃO DE CHEQUE PRÉ-DATADO. APONTADA INIDONEIDADE PARA CONFIGU-
RAR O CRIME DE ESTELIONATO. AVENTADA ATIPICIDADE DA CONDUTA IMPUTADA
AO PACIENTE. PAGAMENTO DA CÁRTULA QUE TERIA SIDO FRUSTRADO EM FACE DE
SUSTAÇÃO FRAUDULENTA, E NÃO POR INSUFICIÊNCIA DE FUNDOS. NECESSIDADE DE
REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA PARA A ALTERA-
ÇÃO DE TAL ENTENDIMENTO. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO MANDAMUS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. DENEGAÇÃO DA ORDEM.

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1. Não se desconhece o entendimento doutrinário e jurisprudencial no


sentido de que a frustração de pagamento de cheque pós-datado, que
não é dado como ordem de pagamento à vista, constituindo garantia de dívida, não con-
figura o crime de estelionato.
2. Contudo, este Superior Tribunal de Justiça já decidiu que “a
frustração no pagamento de cheque pós-datado, a  depender do caso
concreto, pode consubstanciar infração ao preceito proibitivo do
art.  171, caput, desde que demonstrada na denúncia, e  pelos
elementos de cognição que a acompanham, a  intenção deliberada de
obtenção de vantagem ilícita por meio ardil ou o artifício” (HC
121.628/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em
09/03/2010, DJe 29/03/2010).
3. Há na hipótese dos autos peculiaridade que impede o
reconhecimento, de plano, da atipicidade da conduta atribuída ao
paciente, já que o pagamento do cheque por ele emitido deixou de ser
efetivado não por insuficiência de fundos, mas sim porque teria sido
sustado em razão de notícia de furto não comprovada. (...)
[STJ, HC 167741 / MG, Relator Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Data do Julga-
mento, 27/09/2011]

Cheque “Pré-Datado” (ou “Cheque Pós-Datado”)

Embora para fins cambiais o cheque seja caracterizado legalmente como ordem de paga-
mento à vista (ou seja, deve ser pago pela instituição financeira no momento da sua apresenta-
ção – art. 32 da Lei do Cheque), na prática comercial passou-se a ser utilizado para pagamento
a prazo, seja com a data de emissão “pós-datada” (ou seja, como se tivesse sido emitido em
data futura), seja com a expressão “Bom para...” aposta no anverso ou o verso do título.
Embora a doutrina majoritariamente prefira a expressão “cheque pós-datado” (uma vez que
é colocada no cheque data futura), a expressão “cheque pré-datado” é mais utilizada coloquial-
mente, devendo ser consideradas sinônimas.
Para fins cambiais, deve ser considerada não escrita qualquer menção que desnature a
característica de o cheque ser pagável à vista, mesmo que conste data de emissão posterior
ao dia da apresentação:

Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não escrita qualquer menção em contrário.
Parágrafo único. O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emis-
são é pagável no dia da apresentação.

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Tal preceito é dirigido à instituição financeira sacada, que no âmbito da relação cambial
tem a obrigação de efetuar o pagamento à vista caso exista fundos disponíveis.

023. (CESPE/DPF/PF/2013) De acordo com a legislação empresarial vigente, julgue os


itens a seguir.
O denominado cheque pré-datado, apesar de usual no comércio brasileiro, não está previsto na
legislação, segundo a qual o cheque é uma ordem de pagamento à vista, estando a instituição
bancária obrigada a pagá-lo no ato de sua apresentação, de modo que a instituição não pode
ser responsabilizada pelo pagamento imediato de cheques datados com lembrete de descon-
to para data futura.

É o que preceitua o art. 32 da Lei do Cheque:

Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não escrita qualquer menção em contrário.
Parágrafo único. O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emis-
são é pagável no dia da apresentação.
Certo.

No entanto, o STJ tem entendido que a emissão de “cheque pré-datado” encerra, além da
relação cambial, também um contrato entre o emitente e o beneficiário da cártula.
Nesse sentido, uma vez descumprida essa avença com apresentação do cheque antes
do prazo surgirá para o emitente prejudicado pleitear não só danos materiais que eventual-
mente tenha sofrido (ex., pagamento de juros por não ter dinheiro em conta) como também
danos morais.
Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 370, prevendo a possibilidade de ressarcimento por
dano moral quando tal “contrato” não é cumprido:

Súmula 370-STJ. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-da-


tado.

No entanto, o terceiro de boa-fé – que não tenha participado da pactuação original (pac-
tuação extracartular da pós-datação do cheque) – não será responsabilizado civilmente caso
apresente o cheque antes do prazo, conforme também decidiu o STJ:

JURISPRUDÊNCIA
DIREITO CAMBIÁRIO E RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDE-
NIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CHEQUE PÓS-DATADO. PACTUAÇÃO EXTRACARTULAR.

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COSTUME CONTRA LEGEM. BENEFICIÁRIO DO CHEQUE QUE O FAZ CIRCULAR, ANTES


DA DATA AVENÇADA PARA APRESENTAÇÃO. TERCEIRO DE BOA-FÉ, ESTRANHO AO PAC-
TUADO. LEGITIMIDADE PASSIVA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS
EFEITOS CONTRATUAIS.
1. O  cheque é ordem de pagamento à vista e submete-se aos
princípios, caros ao direito cambiário, da literalidade, abstração,
autonomia das obrigações cambiais e inoponibilidade das exceções
pessoais a terceiros de boa-fé.
2. Com a decisão contida no REsp. 1.068.513-DF, relatado pela
Ministra Nancy Andrighi, ficou pacificado na jurisprudência desta
Corte a ineficácia, no que tange ao direito cambiário, da pactuação
extracartular da pós-datação do cheque, pois descaracteriza referido
título de crédito como ordem de pagamento à vista e viola os
princípios cambiários da abstração e da literalidade.
3. O  contrato confere validade à obrigação entre as partes da
relação jurídica original, não vinculando ou criando obrigações para
terceiros estranhos ao pacto. Por isso, a  avença da pós-datação
extracartular, embora não tenha eficácia, traz consequências
jurídicas apenas para os contraentes.
4. Com efeito, em não havendo ilicitude no ato do réu, e  não
constando na data de emissão do cheque a pactuação, tendo em vista o
princípio da relatividade dos efeitos contratuais e os princípios
inerentes aos títulos de crédito, não devem os danos ocasionados em
decorrência da apresentação antecipada do cheque ser compensados
pelo réu, que não tem legitimidade passiva por ser terceiro de
boa-fé, mas sim pelo contraente que não observou a alegada data
convencionada para apresentação da cártula.
5. Recurso especial provido. [STJ, REsp 884.346/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 06/10/2011]

Quanto ao prazo prescricional do “cheque pré-datado”, a sua contagem tomará como base
a “data consignada no espaço reservado para a emissão da cártula” (mesmo que pós-datada)
ou a data em que for apresentado (caso seja apresentado antes):

Os prazos de apresentação e de prescrição (arts. 33 e 59 da Lei n. 7.357/85) nos che-


ques pós-datados possuem como termo inicial de contagem a data consignada no
espaço reservado para a emissão da cártula. [STJ, Tese julgada sob o rito do art. 1.036
do CPC/2015 – Tema 945]

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Protesto do Cheque

Caso a instituição financeira devolva o cheque sem efetuar o pagamento por alguma razão
(ex., insuficiência de fundos), deverá apor carimbo no título.
Contudo, poderá o beneficiário realizar o protesto do cheque com as seguintes pecu-
liaridades:
• Devedor principal (emitente e seus avalistas): o protesto será facultativo. Contudo, para
ajuizamento da ação de execução dentro do prazo previsto em lei (6 meses depois de
expirado o prazo de apresentação, sob pena de prescrição) será imprescindível a prova
da prévia apresentação do cheque à instituição financeira sacada (comprovação feita
pelo carimbo de devolução);
• Devedores indiretos/coobrigados (endossante e seus avalistas): o protesto é obriga-
tório para o beneficiário promover execução contra os coobrigados, devendo ser feito
antes do término do prazo de apresentação, nos termos do art. 48 da Lei do Cheque.

No caso do protesto facultativo (contra o devedor principal – emitente e seus avalistas),


o STJ entende ser possível o protesto, mesmo que decorrido o prazo de apresentação, desde
que ainda não tenha prescrito o título de crédito:

O protesto de cheque pode ser efetuado após o prazo de apresentação, desde que não
escoado o lapso prescricional da pretensão executória dirigida contra o emitente (pro-
testo facultativo). [REsp 1423464/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA
SEÇÃO, Julgado em 27/04/2016, entre outros]

Nesse sentido, no julgamento do Tema Repetitivo 945, em 27/04/2016, além de deliberar


sobre a data a ser considerada como de emissão no caso de cheque pré-datado (já citamos),
a Segunda Sessão do STJ decidiu que, durante o prazo da execução cambial, sempre será pos-
sível o protesto contra o emitente (devedor principal), com o objetivo de interromper a prescri-
ção (art. 202, III do CC), mas é imprescindível a prévia apresentação do cheque à instituição
financeira sacada para pagamento antes de protestar o emitente:

JURISPRUDÊNCIA
(...)
1. As  teses a serem firmadas, para efeito do art.  1.036 do CPC/2015
(art.  543-C do CPC/1973), são as seguintes: a) a pactuação da
pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de
apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data
de emissão estampada no campo específico da cártula; b) sempre será

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possível, no prazo para a execução cambial, o  protesto cambiário de


cheque, com a indicação do emitente como devedor.
2. No caso concreto, recurso especial parcialmente provido.
Informações Complementares à Ementa
(...)
“[...] como em regra a emissão do cheque não implica novação, e
o seu pagamento resulta na extinção da obrigação fundamental, o
prazo prescricional para a cobrança do crédito oriundo da relação
fundamental conta-se a partir do dia seguinte à ‘data de emissão
estampada na cártula’ – quando, então, é  possível cogitar
(caracterizar) inércia por parte do credor”.
“[...] o protesto do cheque, com apontamento do nome do devedor
principal, é  facultativo e, como o título tem por característica
intrínseca a inafastável relação entre o emitente e a instituição
financeira sacada, é  indispensável a prévia apresentação da cártula;
não só para que se possa proceder à execução do título, mas também
para se cogitar do protesto [...]”.
“[...] caracterizando o documento levado a protesto título
executivo extrajudicial, dotado de inequívoca certeza e
exigibilidade, não se concebe possa o credor de boa-fé se ver
tolhido quanto ao seu lídimo direito de resguardar-se quanto à
prescrição, no que tange ao devedor principal; visto que, conforme
disposto no art.  202, III, do Código Civil de 2002, o  protesto
cambial interrompe o prazo prescricional para o ajuizamento de ação
de execução, ficando, com a vigência do novel Diploma, superada a
Súmula 153/STF [...]”. [STJ, Tese julgada sob o rito do art. 1.036 do CPC/2015 – Tema
945]

No que diz respeito à execução dos coobrigados/devedores indiretos, o protesto será sem-
pre obrigatório, devendo ser realizado dentro do prazo de apresentação:

A pretensão executiva do cheque dirigida contra os endossantes deve ser precedida


de protesto realizado dentro do prazo de apresentação (protesto obrigatório). [STJ,
REsp 1423464/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, Julgado em
27/04/2016, entre outros]

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Duplicata
Disciplina Legal

A duplicata é um título de crédito concebido pelo direito brasileiro, regulado pela Lei 5.474,
de 1968 (Lei de Duplicatas).
Nos termos do art. 25 da Lei de Duplicatas, é aplicada subsidiariamente à duplicata ou tri-
plicata a “legislação sobre emissão, circulação e pagamento das Letras de Câmbio” (ou seja,
a Lei Uniforme de Genebra (LUG), introduzida no direito pátrio por meio do Decreto 57.663, de
1966) e no que for cabível (reservas da LUG), o Decreto 2.044, de 1908.
Ressalto, pela importância, que recentemente a Lei 13.775, de 2018, permitiu a emissão
da duplicata sob a forma escritural, regulamentando-a especificamente. Em relação a esse
formato, somente na ausência de norma específica que será aplicada subsidiariamente a Lei
de Duplicatas, consoante previsto no art. 12 da lei de 2018.
Assim como outros títulos de créditos típicos, o Código Civil também poderá ser aplicado
de forma subsidiária, por força do art. 903 de tal diploma.

Estrutura da Duplicata

A duplicata, assim como a letra de câmbio, também materializa uma ordem de pagamento,
mas com uma peculiaridade: o aceite é obrigatório (aceite presumido) caso se comprove que
o negócio que lhe deu origem foi cumprido.
Além de se estruturar como uma ordem de pagamento, a duplicata caracteriza-se por ser
um título causal (e não abstrato, pelo menos na origem), uma vez que somente poderá ser
emitida para documentar negócios jurídicos previstos em lei, a saber:
• Duplicata mercantil: emitida em decorrência de “compra e venda mercantil” (art. 1º da
Lei 5.474, de 1968);
• Duplicata de prestação de serviços: emitida em decorrência de prestação de serviços
(art. 20 da Lei 5.474, de 1968).

Ambas podem ser emitidas na forma escritural, conforme previsto no art.  2º da Lei
13.775, de 2018.
Quanto à duplicata mercantil, no caso de o contrato de compra e venda mercantil ser entre
partes domiciliadas no Brasil com prazo não inferior a 30 dias (contado da data da entrega
ou despacho da mercadoria), o vendedor deve (obrigação) extrair a respectiva fatura ou nota
fiscal-fatura (documento comprobatório do negócio jurídico), da qual poderá (faculdade) ser
extraída duplicata (art. 1º e 2º da Lei de Duplicata).
Em relação à duplicata de prestação de serviços, registro que o art. 20 da Lei de Duplicata
não limita a sua expedição aos empresários, permitindo que não só empresários individuais,

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empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) ou sociedades empresárias, mas


também fundações ou sociedades simples emitam duplicatas de prestação de serviço. Confi-
ra tal artigo em sua redação original:

Art. 20. As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à


prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata. (sic)

Não se enquadrando o negócio subjacente a essas duas hipóteses, o STJ tem entendido
pela impossibilidade de emissão de duplicata (por exemplo, com base em contrato de leasing
ou locação de bens):

JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL – TÍTULO DE CRÉDITO – NULIDADE -
DUPLICATA – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – CAUSA DEBENDI – AUSÊNCIA -
LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS – RECURSO ESPECIAL – FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA 282/STF E 211/STJ – APLICAÇÃO NA ESPÉCIE.
(...)
III  – Em sendo a duplicata um título de crédito causal, a
relação-jurídica que antecede a sua formação deve se enquadrar nas
hipóteses legais de compra e venda mercantil ou de prestação de
serviços. Não se verifica esta última, quando as partes celebram
entre si um contrato locatício para empréstimo de equipamento. A
emissão da duplicata é legitimada pela existência de vínculo
contratual (entre o emitente e o sacado) consubstanciado na efetiva
prestação de serviço. Interpretação dada ao art.  20 da Lei n.
5.474/68.
IV – Recurso especial não conhecido.
[STJ, REsp 188512 / ES, Relator Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, Data
do Julgamento 23/11/2000]

Os seguintes personagens participam das relações jurídicas encetadas a partir da emissão


da duplicata:
• Sacador/beneficiário (credor): emite a duplicata para que o devedor pague a ele (o emi-
tente também é o beneficiário) uma determinada quantia em decorrência da realiza-
ção de compra e venda mercantil ou prestação de serviço. Ou seja, o sacador terá sua
participação no título de forma ‘duplicada’, uma vez que é ao mesmo tempo sacador e
beneficiário;

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• Sacado (devedor): comprador da mercadoria ou destinatário do serviço a quem é dada


a ordem de pagamento em favor do sacador. Ao contrário da letra de câmbio, caso a
mercadoria tenha sido entregue ou o serviço tenha sido prestado, haverá a obrigação de
aceitar e pagar a duplicata (na letra de câmbio o aceite é facultativo).

Características e Requisitos

Conforme já mencionado, a duplicata caracteriza-se por ser um título causal, uma vez que
é necessariamente emitido com suporte em negócio jurídico previamente definido em lei
(compra e venda de mercadoria ou prestação de serviço), constando expressa referência des-
se negócio no título de crédito.

024. (FUNESP/JUIZ/TJ-SP/2017) Qual dos títulos de crédito a seguir é necessaria-


mente causal?
a) A duplicata.
b) A letra de câmbio.
c) O cheque.
d) A promissória.

A duplicata somente pode ser emitida com suporte em negócio jurídico previamente definido
em lei (compra e venda de mercadoria ou prestação de serviço), constando expressa referên-
cia desse negócio no título de crédito.
Mas atenção: a partir do aceite (passa-se a presumir que o negócio jurídico subjacente foi cum-
prido) e posterior endosso, a duplicata circulará orientada pelo princípio da autonomia, orientada

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pelo subprincípio da abstração e sendo inoponível ao portador de boa-fé exceções pessoais


ligadas ao negócio de compra e venda ou prestação de serviço que deu origem ao título.
É o que se depreende de precedente da 2ª Sessão do STJ:

CIVIL E PROCESSUAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. CON-


TRATO DE FACTORING. DUPLICATAS PREVIAMENTE ACEITAS. ENDOSSO À FATURIZA-
DORA. CIRCULAÇÃO E ABSTRAÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO APÓS O ACEITE. OPOSIÇÃO
DE EXCEÇÕES PESSOAIS. NÃO CABIMENTO.
1. A  duplicata mercantil, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a
circulação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subja-
cente, impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé,
como a ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercado-
rias.
2. Hipótese em que a transmissão das duplicatas à empresa de
factoring operou-se por endosso, sem questionamento a respeito da
boa-fé da endossatária, portadora do título de crédito, ou a
respeito do aceite aposto pelo devedor.
3. Aplicação das normas próprias do direito cambiário, relativas ao
endosso, ao  aceite e à circulação dos títulos, que são estranhas à
disciplina da cessão civil de crédito.
4. Embargos de divergência acolhidos para conhecer e prover o
recurso especial. [EREsp 1439749 / RS, Relator(a) Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, Data do Julgamento 28/11/2018]

Letra a.

No que diz respeito aos requisitos de emissão da duplicata, ressalto que ela, assim como
o cheque, é título de modelo vinculado, cuja emissão tem que seguir padrão estabelecido pelo
Conselho Monetário Nacional, nos termos do art. 27 da Lei de Duplicatas, devendo conter os
seguintes elementos (art. 2º):
• a denominação “duplicata” (cláusula cambiária) e o número de ordem;
• a data de sua emissão (coincidente com a data da fatura) e o número da fatura (“uma só
duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura”);
• a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista (diferentemente
da letra de câmbio, a duplicata não pode ser sacada com vencimento a ‘certo tempo de
vista’ ou ‘certo termo da data’);
• o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
• a importância a pagar, em algarismos e por extenso (a duplicata indicará sempre o valor
total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a qualquer rebate, mencionando o

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vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como obrigação de pagar.
Contudo, “não se incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das
mercadorias feitas pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fa-
tura” – art. 3º);
• a praça de pagamento;
• a cláusula à ordem (ou seja, a circulação será feita por meio do endosso);
• a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assi-
nada pelo comprador, como aceite, cambial;
• a assinatura do emitente (na duplicata virtual, o STJ entende que tal requisito é dispen-
sável, conforme veremos).

O art. 2º da Lei de Duplicata estabelece que

no ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito
comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque
do vendedor pela importância faturada ao comprador.
Tal regra materializa a natureza causal da duplicata, obstando a emissão de outro título para
documentar o saque (ex., emissão de letra de câmbio), mas não impede a emissão de outros
títulos (v.g., cheque ou nota promissória) para documentar o crédito decorrente da compra e
venda ou prestação de serviço.
Confira decisão do STJ:

COMERCIAL. VENDA DE MERCADORIAS. EMISSÃO DE NOTA PROMISSÓRIA E


DUPLICATA. COBRANÇA VIA EXECUTIVA DA PRIMEIRA. POSSIBILIDADE. LEI N.
5.474/68, ART. 2º. INTERPRETAÇÃO.
I– A  restrição contida no art.  2º da Lei n. 5.474/68 refere-se
apenas à emissão de qualquer outro título, que não a duplicata,
“para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao
comprador”, não obstando, todavia, que o devedor emita nota
promissória comprometendo-se a pagar o débito decorrente da compra e venda mer-
cantil realizada entre as partes.
II  – Hígida, pois, a  execução baseada nas notas promissórias assim
emitidas.
III – Recurso especial não conhecido. [STJ, REsp 136637/SC, Relator Ministro ALDIR PAS-
SARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, Data do Julgamento 05/09/2002]

025. (TRF4/JUIZ FEDERAL/TRF4/2016/ADAPTADA) Dadas as assertivas abaixo, assinale a


alternativa correta.

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Acerca dos títulos de crédito:


No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação com efeito
comercial, a qual consiste em título abstrato, não sendo admitida qualquer outra espécie de tí-
tulo de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.

Embora a questão reproduza o teor do art. 2º da Lei de Duplicata (“Art. 2º No ato da emissão
da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não
sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vende-
dor pela importância faturada ao comprador”), a questão está errada pelo fato de a duplicata,
no momento da sua emissão, ser um título causal (decorrente de negócios jurídicos expressa-
mente previstos em lei) e não abstrato.
Errado.

O § 2º do art. 2º proíbe que uma duplicata corresponda a mais de uma fatura, ou seja, “uma
só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura.”
No caso de venda para pagamento em parcela, poderá ser emitida duplicata única com a
discriminação de todas as parcelas ou “série de duplicatas” (correspondentes a uma só fatu-
ra), uma para cada prestação distinguindo-se a numeração pelo acréscimo de letra do alfabeto,
em sequência (art. 2º § 3º).
De qualquer forma, a “duplicata indicará sempre o valor total da fatura, ainda que o compra-
dor tenha direito a qualquer rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador
deverá reconhecer como obrigação de pagar” (art. 3º).
Somente “os abatimentos de preços das mercadorias feitas pelo vendedor até o ato
do faturamento” não se incluirão no valor total da duplicata, “desde que constem da fatura”
(art. 3º, § 1º).

026. (FCC/JUIZ/TJ-SC/2015) Considere as seguintes proposições acerca da duplicata:


Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura.

É o que preceitua o § 2º do art. 2º da Lei de Duplicata:

Art. 2º, § 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura.

No caso de ser duplicata à vista, o título deve ser enviado ao sacado para pagamento, sendo
que na duplicata a prazo deverá ser enviada para o aceite do sacado, que deverá devolver o
título no prazo de 10 dias, contados da sua apresentação.
Certo.

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Aceite

O aceite como regra é obrigatório, salvo se o sacado alegar em declaração por escrito
(art. 8º e 21 da Lei de Duplicatas):
• avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues
por sua conta e risco (duplicata mercantil);
• vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devida-
mente comprovados (duplicata mercantil);
• divergência nos prazos ou nos preços ajustados (duplicata mercantil e de prestação de
serviços);
• não correspondência com os serviços efetivamente contratados (duplicata de presta-
ção de serviços);
• vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados (du-
plicata de prestação de serviços).

Nesse sentido, o aceite da duplicata poderá ser:


• aceite expresso: realizado no próprio título pelo sacado, tornando-se título perfeito e
acabado com o aceitante assumindo a condição de devedor principal (ou seja, a obri-
gação contratual do sacado torna-se obrigação cambial). Para a execução do título o
protesto será facultativo (art. 15, I da Lei de Duplicata);
• aceite presumido: quando se comprova que o sacado recebeu a mercadoria comprada
ou que o serviço foi prestado. Para a execução do título o protesto será obrigatório,
devendo haver a prova da entrega da mercadoria ou da prestação de serviço e de que o
sacado não recusou o aceite, comprovadamente, nos termos previstos nos arts. 8º e 21
da Lei de Duplicata;
• aceite por comunicação: ocorrerá na hipótese prevista no § 1º do art. 7º, em que, caso
haja expressa concordância da instituição financeira cobradora, o  sacado retenha a
duplicata em seu poder até a data do vencimento, “desde que comunique, por escrito,
à apresentante o aceite e a retenção”.

Fora o caso do aceite por comunicação, o STJ entende não ser possível o aceite ser dado
de forma verbal ou documento separado da duplicata, ato que não possuirá eficácia cambial
– embora possa servir de prova da existência do vínculo contratual e ser documento hábil para
instruir procedimento monitório:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. COMERCIAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO
OCORRÊNCIA. EMBARGOS À EXECUÇÃO. TÍTULOS DE CRÉDITO. DUPLICATA MERCAN-
TIL. ACEITE EM SEPARADO. INADMISSIBILIDADE. ATO FORMAL. AUSÊNCIA DE EFICÁCIA

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CAMBIAL. FALTA DE EXECUTIVIDADE. PROVA DA RELAÇÃO NEGOCIAL. INSTRUÇÃO DE


AÇÃO MONITÓRIA.
1. Cinge-se a controvérsia a saber se é possível o aceite em separado na duplicata mer-
cantil.
2. O  aceite promovido na duplicata mercantil corresponde ao reconhecimento, pelo
sacado (comprador), da legitimidade do ato de saque feito pelo sacador (vendedor),
a desvincular o título do componente causal de sua emissão (compra e venda mercantil
a prazo). Após o aceite, não é permitido ao sacado reclamar de vícios do negócio causal
realizado, sobretudo porque os princípios da abstração e da autonomia passam a reger
as relações, doravante cambiárias (art. 15, I, da Lei n. 5.474/1968).
3. O aceite é ato formal e deve se aperfeiçoar na própria cártula (assinatura do sacado no
próprio título), incidindo o princípio da literalidade (art. 25 da LUG). Não pode, portanto, ser
dado verbalmente ou em documento em separado. De fato, os títulos de crédito possuem
algumas exigências que são indispensáveis à boa manutenção das relações comerciais.
A experiência já provou que não podem ser afastadas certas características, como o for-
malismo, a cartularidade e a literalidade, representando o aceite em separado perigo real
às práticas cambiárias, ainda mais quando os papéis são postos em circulação.
4. O  aceite lançado em separado à duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária,
mas o documento que o contém poderá servir como prova da existência do vínculo con-
tratual subjacente ao título, amparando eventual ação monitória ou ordinária (art. 16 da
Lei n. 5.474/1968).
5. A duplicata despida de força executiva, seja por estar ausente o aceite, seja por não
haver o devido protesto ou o comprovante de entrega de mercadoria, é documento hábil
à instrução do procedimento monitório.
6. Recurso especial provido. [STJ, REsp 1334464/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/03/2016]

O Código Penal tipifica a conduta de “emitir fatura, duplicata ou nota de venda” simulada, ou
seja, que não corresponda à mercadoria vendida (em qualidade ou quantidade) ou ao servi-
ço prestado:

Duplicata simulada
Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do
Livro de Registro de Duplicatas.

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Sistemática da Duplicata

Endosso e Aval

Nos termos do art. 2º, § 1º, VII da Lei de Duplicata, a duplicata conterá a “cláusula à or-
dem”, significando que o título circulará por meio do endosso.
Já o art. 12 dispõe que o pagamento da duplicata pode ser garantido por aval, “sendo o ava-
lista equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma
lançar a sua; fora desses casos, ao comprador”.

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Da mesma forma que os demais títulos de crédito, estabelece o parágrafo único do art. 12
que “o aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos que o
prestado anteriormente àquela ocorrência.”

027. (FCC/JUIZ/TJ-SC/2015/ADAPTADA) Considere as seguintes proposições acerca da


duplicata:
É ineficaz o aval dado em garantia do pagamento da duplicata após o vencimento do título.

Nos termos do art. 12, parágrafo único da Lei de Duplicata, o aval dado posteriormente ao ven-
cimento produz os mesmos efeitos que o prestado anteriormente:

Art.  12. O  pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, sendo o avalista equiparado
àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar a sua; fora desses
casos, ao comprador.
Parágrafo único. O aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos
que o prestado anteriormente àquela ocorrência. (negritei).
Errado.

Registro que contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas caberá o processo


de execução referido no art. 15, “quaisquer que sejam a forma e as condições do protesto”,
conforme dispõe o art. 15, § 1º da Lei de Duplicata.
Destaco que o STJ entende ser cabível a cobrança da duplicata do sacador e seus avalistas
(mas não do sacado), mesmo que sem aceite e desprovida de prova de entrega da merca-
doria ou prestação de serviço, na hipótese de o sacador ter realizado a circulação do título
por endosso:

JURISPRUDÊNCIA
DUPLICATA – AUSÊNCIA DE ACEITE E DE PROVA DA OPERAÇÃO COMERCIAL -
EXECUÇÃO CONTRA ENDOSSANTE E AVALISTAS – POSSIBILIDADE.
A duplicata, mesmo sem aceite e desprovida de prova da entrega da
mercadoria ou da prestação do serviço, pode ser executada contra o
sacador-endossante e seus garantes. É  que o endosso apaga o vínculo
causal da duplicata entre endossatário, endossante e avalistas,
garantindo a aceitação e o pagamento do título (LUG, Art.  15 c/c
Arts. 15, § 1º, e 25 da Lei 5.474/68). [STJ, REsp 823151 / GO, Relator Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 17/10/2006]

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Pagamento

A prova do pagamento será o recibo passado no próprio título ou documento separado,


neste último caso excepcionando o princípio da literalidade (art. 9º, § 1º da Lei de Duplicata).
O comprador poderá resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento
(art. 9º), o que não é a regra (por exemplo, no caso da letra de câmbio e da nota promissória,
o portador não é obrigado a receber o pagamento antes do vencimento – art. 40 da LUG).

028. (FCC/JUIZ/TJ-SC/2015/ADAPTADA) Considere as seguintes proposições acerca da


duplicata:
É vedado ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la.

O art. 9º, caput, da Lei de Duplicata permite o resgate antes do aceite ou da data do vencimento:

Art. 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento.
(...)
Errado.

A Lei de Duplicata também permite que sejam deduzidos quaisquer créditos a favor do
devedor, desde que devidamente autorizados (art. 10).
Admite, ainda, reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, “mediante declaração em
separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com
poderes especiais”. Mas um detalhe: para valer para os demais coobrigados (endossantes e
avalistas) será necessária a expressa anuência deles (art. 11).

029. (FCC/JUIZ/TJ-SC/2015/ADAPTADA) Considere as seguintes proposições acerca da


duplicata:
O prazo de vencimento da duplicata é improrrogável.

O art. 11, caput, da Lei de Duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento da


duplicata:

Art. 11. A duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, mediante declaração


em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com
poderes especiais.
(...) (destaquei).
Errado.
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030. (FCC/JUIZ/TJ/MS/JUIZ/2020) De acordo com a Lei n. 5.474/1968, que dispõe sobre as


duplicatas,
a) é vedado ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la.
b) o pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, mas o aval dado posteriormente
ao vencimento do título não produz efeitos.
c) não se incluirão, no valor total da duplicata, os abatimentos de preços das mercadorias fei-
tas pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura.
d) a duplicata não admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento.
e) as fundações, mesmo que se dediquem à prestação de serviços, não podem emitir duplicata.

É o que dispõe o art. 3º, § 1º, da Lei de Duplicata:

Art. 3º A duplicata indicará sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a
qualquer rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como
obrigação de pagar.
§ 1º Não se incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das mercadorias feitas
pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura.
(...)
a) Errada. O art. 9º da Lei de Duplicata permite tal resgate:

Art. 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento.
b) Errada. Nos termos do parágrafo único do art. 12, o “aval dado posteriormente ao vencimen-
to do título produzirá os mesmos efeitos que o prestado anteriormente àquela ocorrência.”

Art.  12. O  pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, sendo o avalista equiparado
àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar a sua; fora desses
casos, ao comprador.
Parágrafo único. O aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos
que o prestado anteriormente àquela ocorrência.
d) Errada. Consoante o art. 11 da Lei de Duplicata, “a duplicata admite reforma ou prorrogação
do prazo de vencimento, mediante declaração em separado ou nela escrita (...)”.

Art. 11. A duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, mediante declaração


em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com
poderes especiais.
e) Errada. A emissão da duplicata de prestação de serviços não é restrita aos empresários, nos
termos do art. 20 da Lei de Duplicata:

Art. 20. As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à


prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.
(...) (destaquei)
Letra c.

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Protesto

A Lei de Duplicatas estabelece 3 espécies de protesto da duplicata (art. 13):


• Protesto por falta de aceite: pode ser realizado enquanto for possível o aceite e neces-
sariamente antes do vencimento. Tal protesto é necessário: i) para configurar a hipótese
do aceite presumido (sendo imprescindível a prova da entrega da mercadoria ou a pres-
tação do serviço); e também ii) para possibilitar a cobrança dos coobrigados (devedores
indiretos) do título;
• Protesto por falta de devolução: ocorrerá quando houver a retenção ilegítima da dupli-
cata pelo sacado. Produzirá os efeitos do protesto por falta de aceite se for feito antes
do vencimento e do protesto por falta de pagamento se realizado após o vencimento;
• Protesto por falta de pagamento: será realizado necessariamente após o vencimento,
comprovando a falta de pagamento. Pode ser feito caso não tenha sido utilizada a fa-
culdade de protestar o título por falta de aceite ou devolução. Em relação ao sacado,
mesmo que ele não tenha aceitado o título, irá configurar a sua condição de devedor na
hipótese de ser instruído com a prova de entrega da mercadoria ou prestação do serviço
que ensejou a emissão do título de crédito. Quanto aos demais coobrigados, será obri-
gatório para viabilizar a execução contra eles.

031. (FCC/JUIZ/TJ-SC/2015/ADAPTADA) Considere as seguintes proposições acerca da


duplicata:
A duplicata é protestável por falta de aceite, devolução ou pagamento.

É o que dispõe o art. 13, caput, da Lei de Duplicata:

Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento.


(...)
Certo.

Nos termos do art. 13, § 4º, o protesto tem que ser tirado em forma regular e dentro do prazo
de 30 dias, a contar do vencimento, para viabilizar o direito de regresso contra os endossantes
e respectivos avalistas.

Sobre a obrigatoriedade do protesto no caso de duplicata sem aceite para fundamentar


execução contra o sacado, confira a jurisprudência do STJ:

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JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPE-
CIAL – EMBARGOS À EXECUÇÃO – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO
AO RECLAMO – INSURGÊNCIA RECURSAL DA RÉ.
1. Consoante entendimento desta Corte Superior “a duplicata sem aceite que não houver
sido protestada, mesmo quando acompanhada de comprovação de realização do negó-
cio jurídico subjacente, não se revela instrumento hábil a fundamentar a execução.”
(AgInt no AREsp 1481123/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 27/08/2019, DJe 02/09/2019).
2. Agravo interno desprovido. (destaquei)
[STJ, AgInt nos EDcl no AREsp 1487528 / SP, Relator Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, Data do Julgamento 31/08/2020]

No entanto, devo lembrar que o STJ tem entendimento que o protesto indevido de título
de crédito gera dano moral in re ipsa, ou seja, prescinde de prova, mesmo que a vítima seja
pessoa jurídica:

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. DEFICIÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. DUPLICATA. SAQUE. CAUSA
DEBENDI. AUSÊNCIA. REEXAME. SÚMULA N. 7 DO STJ. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL IN
RE IPSA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(...)
A jurisprudência desta Corte firmou entendimento de que, “nos
casos de protesto indevido de título ou inscrição irregular em
cadastros de inadimplentes, o  dano moral se configura in re ipsa,
isto é, prescinde de prova, ainda que a prejudicada seja pessoa
jurídica” (REsp 1.059.663/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de
17/12/2008). (negritei) [STJ, AgRg no AREsp 718767/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, Julgado em 16/02/2016, entre outros].

No caso de o título ser retido de forma ilegítima pelo sacado, o protesto por falta de aceite,
de devolução ou falta de pagamento poderá ser tirado com a emissão de triplicada (segunda
via do título, substituindo para todos efeitos o título principal) ou por simples indicação do cre-
dor (protesto por indicação).
Interessante que, com base no dispositivo que regulamenta o protesto por indicação
(art. 13, § 1º), o STJ tem entendido ser possível o protesto sem a apresentação física da dupli-
cata (duplicata virtual), bastando, para a constituição de título executivo extrajudicial:
i) os boletos de cobrança bancária;
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ii) os protestos por indicação; e


iii) os comprovantes de entrega de mercadoria ou de prestação de serviços, o que permi-
tiu a execução da denominada duplicata virtual, sendo dispensada a assinatura do emitente
no título.
No que diz respeito à duplicata digital, lembremos que a Lei 9.492, de 1997, prevê expres-
samente “indicações a protestos” da duplicata por “meio magnético ou de gravação eletrônica
de dados”:

Art. 8º Os títulos e documentos de dívida serão recepcionados, distribuídos e entregues na mesma


data aos Tabelionatos de Protesto, obedecidos os critérios de quantidade e qualidade.
§ 1º Poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de Prestação
de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabi-
lidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumenta-
lização das mesmas.
(...)

Nesse sentido, o  STJ tem validado a força executiva das duplicatas virtuais, desde que
acompanhadas dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da
mercadoria ou prestação de serviço:

JURISPRUDÊNCIA
As duplicatas virtuais possuem força executiva, desde que acompanhadas dos instru-
mentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria e da
prestação do serviço. [STJ, AgRg no REsp 1559824/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, Julgado em 03/12/2015, entre outros].

Reproduzo detalhada decisão do STJ sobre o tema:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. EMBARGOS À
EXECUÇÃO. DUPLICATAS. REQUISITOS. ART. 2º, §  1º, DA LEI 5.474/68.
ASSINATURA DO EMITENTE. AUSÊNCIA. IRREGULARIDADE SANÁVEL.
LITERALIDADE INDIRETA. TÍTULO CAUSAL. NEGÓCIO JURÍDICO SUBJACENTE.
VINCULAÇÃO. CIRCULAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. INFERÊNCIA. DADOS DO PRÓPRIO
TÍTULO. ENTREGA DAS MERCADORIAS. COMPROVAÇÃO. DOCUMENTO. HIGIDEZ. EXE-
CUTIBILIDADE. MANUTENÇÃO. DESPROVIMENTO.
1. Cuida-se de embargos à execução que impugnam a execução
subsidiada em duplicatas mercantis ao argumento, entre outros, de
estar ausente a assinatura do emitente da cártula, requisito que
seria essencial à existência do título.

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(...)
3. O  propósito recursal consiste em determinar se: a) a assinatura
do sacador da duplicata é requisito essencial ou se sua ausência
pode ser suprida por outro meio; e b) a duplicata sem assinatura do
emitente e que não circula possibilita o ajuizamento de ação de
execução de título extrajudicial.
4. Em regra, o  rigor formal garante a segurança dos envolvidos na
circulação de crédito, razão pela qual, se ausente um dos requisitos
considerados essenciais, um determinado documento não terá valor de
título de crédito.
5. A  Lei Uniforme de Genebra, aplicável subsidiariamente às
duplicatas, prevê, no entanto, que nem todos os requisitos legais
são essenciais, pois, nos termos de seu art.  2º, existem aqueles
cujos defeitos podem ser supridos, desde que exista uma solução
objetiva e segura para a correção da irregularidade.
6. A  duplicata é título de crédito causal no momento da emissão e
adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico
subjacente, com o aceite e a circulação. Precedente da 2ª Seção.
7. Com fundamento no protesto por indicação do art.  13, §  1º, da Lei
5.474/68, a  jurisprudência desta Corte entendeu pela
dispensabilidade da apresentação física da duplicata, bastando, para
a constituição de título executivo extrajudicial i) os boletos de
cobrança bancária; ii) os protestos por indicação; e iii) os
comprovantes de entrega de mercadoria ou de prestação de serviços, o
que permitiu a execução da denominada duplicata virtual.
Precedentes.
8. Se o boleto que subsidia o protesto por indicação é suficiente
para o protesto, o  qual, somado ao comprovante da entrega de
mercadorias, justifica o ajuizamento de ação executiva, deve-se
entender que alguns dos elementos mencionados no art.  2º, §  1º, da
Lei 5.474/68 admitem suprimento, podendo ser corrigidos por formas
que não prejudiquem a segurança na tramitação da duplicata.
9. A  assinatura do emitente na cártula cumpre as funções de
representar a declaração de vontade unilateral que dá origem ao
título de crédito e a de vincular o sacador, na hipótese de
circulação do documento, como um dos devedores do direito nele
inscrito.

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10. A  duplicata, por ser um título causal, permite a incidência da


literalidade indireta, que autoriza a identificação de seus
elementos no documento da compra e venda mercantil ou da prestação
de serviços que lhe serve de ensejo, pois o devedor tem a ciência de
que aquela obrigação também tem seus limites definidos em outro
documento.
11. Na hipótese específica dos autos, não há dúvidas de que houve
vontade expressa da recorrida em sacar as duplicatas, tendo em vista
a comprovação da realização dos negócios jurídicos causais que
autorizam a criação desse título de crédito e, ademais, como as
duplicatas não circularam, existe apenas um devedor principal da
ordem de pagamento nelas inscrita, qual seja, a  recorrente,
adquirente das mercadorias vendidas pelo emitente sacador.
12. Nessas circunstâncias, as  duplicatas devem ser consideradas
perfeitas e, assim, aptas ao ajuizamento da ação de execução, pois a
irregularidade relacionada à ausência de assinatura das cártulas
pelo emitente deve ser considerada perfeitamente sanável e sanada.
13. Recurso especial desprovido.
[STJ, REsp 1790004 / PR, Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, Data
do Julgamento 13/10/2020

Destaco que o STJ entende possível realizar o pedido de falência com base em duplicata
ou triplicata sem aceite, mas protestada para fins de falência, desde que acompanhada da
prova da entrega da mercadoria ou prestação de serviço, por se tratar de título executivo hábil:

JURISPRUDÊNCIA
EMPRESARIAL. FALÊNCIA. PEDIDO FUNDADO EM TRIPLICATAS PROTESTADAS PARA
FINS DE FALÊNCIA. COMPROVAÇÃO DA ENTREGA DAS MERCADORIAS. TÍTULO
EXECUTIVO HÁBIL. PROVA DOS MOTIVOS QUE ENSEJARAM A EMISSÃO DATRI-
PLICATA. DISPENSABILIDADE. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E NÃO PROVIDO.
(...)
2. É  pacífico na jurisprudência que se admitem triplicatas emitidas
em razão da não devolução das duplicatas originalmente enviadas ao
devedor. Interpretação extensiva do art.  23 da Lei n. 5.474/1968
(Lei das Duplicatas).
3. A  triplicata sem aceite, mas protestada para fins de falência e
acompanhada de documentos comprobatórios da entrega da mercadoria constitui título
executivo hábil a embasar a propositura da quebra.

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4. A  retenção das duplicatas deve ser presumida em face da entrega


da mercadoria, cabendo ao devedor a prova da devolução.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. [STJ, REsp 1307016 / SC,
Relator Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 24/02/2015]

032. (TRF-2/JUIZ/TRF-2/2019/ADAPTADA) A respeito dos títulos de crédito é correto afir-


mar, com base na Lei e Súmulas do STF e do STJ, que:
Comprovada a prestação dos serviços, a  duplicata não aceita, mas protestada, não é título
hábil para instruir pedido de falência.

Nos termos da jurisprudência do STJ, a  duplicata ou “triplicata sem aceite, mas protestada
para fins de falência e acompanhada de documentos comprobatórios da entrega da merca-
doria constitui título executivo hábil a embasar a propositura da quebra.” [STJ, REsp 1307016
/ SC, Relator Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 24/02/2015,
entre outros].
Errado.

Duplicata Escritural

A duplicata escritural é aquela que nasce por meio de sistema eletrônico de escrituração,
não tendo cártula nem a assinatura tradicional.
Representa, sem dúvida, o fenômeno da desmaterialização dos títulos de créditos.
Registro que já admitia a duplicata eletrônica mesmo antes da edição da Lei 13.775, de
2018, que regulamentou especificamente a emissão da duplicata sob a forma escritural.
Confira o Enunciado 461 da V Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal (CJF):

Enunciado 461. As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e cons-
tituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de
protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação
dos serviços.

Com a Lei 13.775, de 2018, a emissão de duplicata sob a forma escritural deve ser feita
“mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por quaisquer das entida-
des que exerçam a atividade de escrituração de duplicatas escriturais” (art. 3º).
Nesse sistema também deverão ser inscritos todos os atos cambiais (aceite, endosso,
aval) e não cambiais (cessão de crédito) (art. 4º).

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As entidades que irão gerir tal sistema – chamadas de ‘escrituradoras’ – deverão ser autori-
zadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (BCB), nos termos da Circular BCB 4.016, de 2020.
O sistema eletrônico de escrituração deve viabilizar a apresentação, por meio digital, de
prova da entrega da mercadoria ou prestação de serviço, sendo possível, a pedido de qual-
quer solicitante, a  expedição de extrato do registro eletrônico da duplicata (art.  6º da Lei
13.775, de 2018).
Tanto a duplicata emitida sob a forma escritural, como o extrato do registro são considera-
dos títulos executivos extrajudiciais (art. 7º da Lei 13.775, de 2018).
Oportuno mencionar que os lançamentos no sistema eletrônico da duplicata substituem o
Livro de Registro de Duplicatas (art. 9º da Lei 13.775, de 2018).
Além disso, registro que o art. 10 da Lei 13.775, de 2018, considera nulas de pleno direito
“cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta, a emissão
ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural”.

Prescrição

Nos termos do art. 18 da Lei de Duplicata, a pretensão à execução da duplicata prescreve:


• contra o sacado e respectivos avalistas: em 3(três) anos, contados da data do venci-
mento do título;
• contra endossante e seus avalistas: em 1 (um) ano, contado da data do protesto;
• de qualquer dos coobrigados contra os demais: em 1 (um) ano, contado da data em que
haja sido efetuado o pagamento do título.

Referido dispositivo legal preceitua de forma expressa que a “cobrança judicial poderá ser
proposta contra um ou contra todos os coobrigados, sem observância da ordem em que figu-
rem no título” (art. 18, § 1º).
Da mesma forma, estabelece que os “coobrigados da duplicata respondem solidariamente
pelo aceite e pelo pagamento” (art. 18, § 2º).

033. (VUNESP/JUIZ/TJ-RJ/2016) Dispõe a lei que rege o título de crédito, denominado dupli-
cata, que em todo contrato de compra e venda mercantil, celebrado entre partes domiciliadas
no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 dias, contados da data da entrega ou despa-
cho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador.
A esse respeito, é correto afirmar que
a) em toda venda realizada em tais condições, o vendedor é obrigado a extrair da fatura a res-
pectiva duplicata.

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b) no ato da emissão da fatura, o vendedor extrairá a duplicata para circulação com efeito co-
mercial, sendo admitida, nesse caso, qualquer outra espécie de título de crédito, a exemplo da
letra de câmbio ou da nota promissória, para documentar o saque do vendedor pela importân-
cia faturada ao comprador.
c) uma só duplicata poderá corresponder a mais de uma fatura, nos casos de venda para pa-
gamento em parcelas, situação em que se discriminarão todas as prestações e vencimentos,
distinguindo-se a numeração pelo acréscimo, em sequência, de letra do alfabeto.
d) no valor total da duplicata serão incluídos os abatimentos de preços das mercadorias feitos
pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura.
e) quando a remessa da duplicata for feita por intermédio de representantes, instituições fi-
nanceiras, procuradores ou correspondentes, estes deverão apresentar o título ao comprador,
dentro de 10 dias contados da data de seu recebimento na praça de pagamento.

É o que dispõe o art. 6º, § 2º da Lei de Duplicata:

Art. 6º A remessa de duplicata poderá ser feita diretamente pelo vendedor ou por seus representan-
tes, por intermédio de instituições financeiras, procuradores ou, correspondentes que se incumbam
de apresentá-la ao comprador na praça ou no lugar de seu estabelecimento, podendo os interme-
diários devolvê-la, depois de assinada, ou conservá-la em seu poder até o momento do resgate,
segundo as instruções de quem lhes cometeu o encargo.
§ 1º O prazo para remessa da duplicata será de 30 (trinta) dias, contado da data de sua emissão.
§ 2º Se a remessa for feita por intermédio de representantes instituições financeiras, procuradores
ou correspondentes estes deverão apresentar o título, ao comprador dentro de 10 (dez) dias, conta-
dos da data de seu recebimento na praça de pagamento.
a) Errada. A emissão da duplicata a partir da fatura é uma faculdade, não sendo admitida a
emissão de qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque:

Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como
efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o
saque do vendedor pela importância faturada ao comprador. (destaquei).
b) Errada. Ver comentário da letra A.
c) Errada. Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura, havendo a possibili-
dade da emissão de duplicata única ou “série de duplicatas”, no caso de venda para pagamen-
to em parcelas:

Art. 2º (...)
§ 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura.
§ 3º Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida duplicata única, em que
se discriminarão todas as prestações e seus vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada

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prestação distinguindo-se a numeração a que se refere o item I do § 1º deste artigo, pelo acréscimo
de letra do alfabeto, em sequência. (destaquei)
d) Errada. Não incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das mercadorias
feitos pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura:

Art. 3º A duplicata indicará sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a
qualquer rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como
obrigação de pagar.
§ 1º Não se incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das mercadorias feitas
pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura.
(...)
Letra e.

Ação Cambial
A ação cambial (ação de execução por quantia certa, nos termos do art. 824 e ss do Código
de Processo Civil – CPC) pode ser ajuizada contra o devedor principal do título (v.g., aceitante
da letra de câmbio ou duplicata e sacador do cheque ou nota promissória e seus respectivos
avalistas), bem como contra os coobrigados/devedores indiretos (ex., endossantes e seus
respectivos avalistas).
O não pagamento do título de crédito e a sua higidez (ou seja, não estar prescrito) são
pressupostos para o ajuizamento da ação cambial.
Na ação cambial em desfavor do devedor principal, o protesto será facultativo.
Já contra o coobrigado/devedor indireto haverá a obrigatoriedade do protesto, que deve
ser tirado no tempo hábil previsto na lei específica do título de crédito, salvo se o título contiver
cláusula “sem despesa”, em que o protesto será dispensado (permitido expressamente na letra
de câmbio, nota promissória e cheque).
Registro que, se um coobrigado pagar o título de crédito, ele terá direito de regresso contra
os codevederos anteriores, cuja ação prescreverá no prazo de 6 meses (letra de câmbio, nota
promissória e cheque) ou 1 ano (duplicata), contados do pagamento ou da data em que foi
demandado.
Pelo princípio da cartularidade, como regra a execução deverá ser instruída com o título de
crédito original.
O foro competente para a ação cambial segue como regra o disposto no art. 781 do CPC:

Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será processada perante o juízo competente,
observando-se o seguinte:
I – a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título
ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos;
II – tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles;

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III – sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no
lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio do exequente;
IV – havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de
qualquer deles, à escolha do exequente;

No caso do cheque, o STJ entende que o foro competente é o local onde se situa a agência
bancária do emitente (local de pagamento):

JURISPRUDÊNCIA
O foro competente para a execução do cheque é o local do pagamento – lugar onde se
situa a agência bancária em que o emitente mantém sua conta corrente – sendo irrele-
vantes os locais de domicílio do autor e do réu. [STJ, AgRg no AREsp 485863/MS, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, Julgado em 02/09/2014,
entre outros]

De qualquer forma, registro entendimento do STJ que, mesmo em relação ao título de crédi-
to com força executiva, caberá ao credor escolher a melhor ação para satisfazer sua pretensão:

JURISPRUDÊNCIA
Os títulos de crédito com força executiva podem ser cobrados por meio de processo de
conhecimento, execução ou ação monitória. [STJ, REsp 1423464/SC, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, Julgado em 27/04/2016]

Ação de Enriquecimento (Locupletamento) sem Causa


A ação de enriquecimento ou locupletamento sem causa tem lugar quando não for mais
possível ajuizar a ação cambial (ex., prescrição do título), mas se comprova nexo de causali-
dade de enriquecimento do devedor ocasionado pelo empobrecimento do credor.
Há previsão de tal ação no art. 48 do Decreto 2.044, de 1908 (aplicado de forma subsidiária
à letra de câmbio, nota promissória e duplicata):

Art. 48. Sem embargo da desoneração da responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante fica


obrigado a restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste.
A ação do portador, para este fim, é a ordinária. (negritei).

O art. 61 da Lei do Cheque também traz previsão expressa desta ação:

Art. 61. A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram in-
justamente com o não pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que
se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei.

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Registro que a ação de enriquecimento sem causa pode ser ajuizada não só contra o deve-
dor principal, mas também coobrigados (endossante e seus avalistas), bastando que se verifi-
que nexo causal do seu enriquecimento em detrimento do empobrecimento do credor do título.
Em relação aos devedores indiretos, tal entendimento foi materializado no Enunciado 69 da
II Jornada de Direito Comercial:

Enunciado 69. Prescrita a pretensão do credor à execução de título de crédito, o endos-


sante e o avalista, do obrigado principal ou de coobrigado, não respondem pelo paga-
mento da obrigação, salvo em caso de locupletamento indevido. (destaquei).

Em relação ao cheque, o STJ entende ser desnecessária a comprovação da causa debendi:

A ação de locupletamento ilícito (art. 61 da Lei n. 7.357/1985) não exige comprovação


da causa debendi e deve ser proposta no prazo de até dois anos contados do fim do
prazo prescricional da execução do cheque. [STJ, AgRg no REsp 1090158/ES, Rel. Minis-
tro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, Julgado em 17/03/2016, entre outros]

Ação Causal (Ação de Cobrança – Rito Ordinário) do Cheque


A ação causal é prevista no art. 62 da Lei do Cheque, sendo baseada no negócio jurídico
que deu origem à emissão do cheque:

Art. 62. Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não exclui a ação fundada
na relação causal, feita a prova do não pagamento.

Nesse sentido, o STJ tem entendimento que:

JURISPRUDÊNCIA
A ação de cobrança prevista no artigo 62 da Lei n. 7357/85 está fundamentada na relação
jurídica subjacente ao cheque, sendo imprescindível a comprovação da causa debendi.
[STJ, AgRg no REsp 1090158/ES, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, Julgado
em 17/03/2016, entre outros]

Nesse sentido, as partes na ação causal serão as pessoas que participaram diretamente
do negócio jurídico subjacente que ocasionou a emissão do cheque. Assim, se não tiverem
participado, estarão excluídos os avalistas e endossantes.
Já a prescrição seguirá o previsto para o negócio jurídico subjacente, sendo de 10 (anos),
nos termos do art. 205 do CC, se não houver prazo específico.

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Ação Monitória
A ação monitória é prevista nos arts. 700 a 702 do CPC, sendo cabível no caso de o título
de crédito estar prescrito, na dicção do art. 700, I do CPC, “prova escrita sem eficácia de título
executivo”:

Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita
sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I – o pagamento de quantia em dinheiro;
(....) (negritei).

O STJ tem os seguintes entendimentos consolidados relativos à ação monitória:

Súmula 299-STJ. É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.


Súmula 503-STJ. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão
estampada na cártula.
Súmula 504-STJ. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao venci-
mento do título.
O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do devedor principal do título de
crédito prescrito é quinquenal nos termos do art. 206, § 5º, I, do Código Civil, independen-
temente da relação jurídica fundamental. [STJ, AgRg nos EDcl no REsp 1370373/DF, Rel.
Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, Julgado em 04/02/2016, entre outros]
Súmula 531-STJ. Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emi-
tente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
O negócio jurídico subjacente à emissão do cheque pode ser discutido em sede de
embargos monitórios. (Ou seja, embora seja dispensável mencionar o negócio jurídico
ao propor ação monitória contra o emitente do cheque, o devedor pode discutir tal negó-
cio em embargos monitórios) [STJ, AgRg nos EDcl no REsp 1115609/ES, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, Julgado em 18/09/2014, entre outros]
Os juros moratórios decorrentes de dívidas representadas em cheque devem ser fixados
a partir da data da primeira apresentação do título para pagamento, independentemente
da cobrança ter sido buscada por meio de ação monitória. [STJ, AgRg no AREsp 676533/
SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, Julgado em 01/12/2015]
Súmula 247-STJ. O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do
demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitó-
ria.

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034. (FUNDEP/JUIZ/TJ-MG/2014/ADAPTADA) Com relação à nota promissória, analise a


afirmativa:
O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem
força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

Esse é o teor da Súmula 504 do STJ:

Súmula 504. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota
promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento
do título.

Certo.

035. (FUNESP/JUIZ/TJ-SP/2017) Ação judicial proposta com fundamento em nota promis-


sória vencida e não paga deverá ser
a) extinta, pela prescrição, se proposta ação monitória após três anos do vencimento do título.
b) admitida, qualquer que seja a ação proposta, aplicando-se ao caso o prazo da prescrição
ordinária.
c) admitida, caso seja proposta ação de execução no prazo de até cinco anos do dia seguinte
ao do seu vencimento do título.
d) admitida, se proposta ação monitória até o decurso de cinco anos do vencimento do título.

Esse é o teor da Súmula 504 do STJ:

Súmula 504. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota
promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento
do título.

Letra A, B e C. Erradas. Há prazos prescricionais diversos, a depender da ação que será pro-
posta. No caso da ação de execução será no máximo de 3 anos, no caso de o executado ser o
aceitante (art. 70 da LUG). No caso de ação de cobrança, a prescrição seguirá a regra daquela
aplicada ao negócio jurídico subjacente.
Letra d.

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Títulos de Créditos Impróprios


Os títulos de créditos vinculados ao crédito rural, ao crédito bancário, industrial, comercial
e à exportação são considerados pela doutrina como títulos impróprios, uma vez que não lhes
é aplicado integralmente o regime jurídico cambial dos títulos de créditos propriamente ditos,
embora sejam emitidos e circulem com algumas garantias que caracterizem tais papéis.
A doutrina divide os títulos de créditos impróprios em:
• Títulos Representativos: a finalidade precípua é representar a propriedade de mercado-
ria que se encontra na guarda de terceiros, podendo funcionar como títulos de crédito
(ex., conhecimento de depósito – incorpora o direito de propriedade das mercadorias e
warrant – incorpora o valor das mercadorias, em que seu possuidor investe no direito de
penhor da mercadoria);
• Títulos de Financiamento: são emitidos vinculados a direito creditício decorrente de
financiamento concedido por instituição financeira ou a ela equiparada ao sacado no
título (ex., cédula de crédito rural, cédulas e notas de crédito industrial, comercial ou
destinado à exportação);
• Títulos de Investimento: são destinados à obtenção de recursos por seus emitentes no
mercado financeiro (ex., certificado de depósito bancário).

Todos esses títulos são considerados causais, uma vez que são emitidos baseados em
negócio jurídico específico previsto em lei.
Destaco que com a edição da Lei 13.986, de 2020, que inseriu dispositivos nas principais
leis que regulam os títulos de créditos impróprios, como regra passou a ser possível a emissão
de tais títulos não só sob a forma cartular, mas também escritural.
Destaco que a capitalização de juros das cédulas de crédito rural, comercial e industrial é
admitida pelo STJ, nos termos da Súmula 93:

Súmula 93-STJ. A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite
o pacto de capitalização de juros.

No entanto, embora sejam considerados títulos impróprios, o STJ entende que eles devem
ser considerados títulos típicos, por serem disciplinados por leis especiais, de forma que o
Código Civil somente lhe serão aplicados subsidiariamente e naquilo que não for incompatível:

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO INTERNO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. TÍTULO DE CRÉDITO TÍPICO. AVAL.
NECESSIDADE DE OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. DESCABIMENTO. DISPOSIÇÃO RES-

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TRITA AOS TÍTULOS DE CRÉDITO INOMINADOS OU ATÍPICOS. ART. 1.647, III, DO CC/2002.
INTERPRETAÇÃO QUE DEMANDA OBSERVÂNCIA À RESSALVA EXPRESSA DO ART. 903
DO CC, AO DISPOSTO NA LUG ACERCA DO AVAL E AO CRITÉRIO DE HERMENÊUTICA DA
ESPECIALIDADE. ENTENDIMENTO PACIFICADO NO ÂMBITO DO STJ.
1. Por um lado, o  aval “considera-se como resultante da simples
assinatura” do avalista no anverso do título (art.  31 da LUG),
devendo corresponder a ato incondicional, não podendo sua eficácia
ficar subordinada a evento futuro e incerto, porque dificultaria a
circulação do título de crédito, que é a sua função precípua. Por
outro lado, as  normas das leis especiais que regem os títulos de
crédito nominados, v.g., letra de câmbio, nota promissória, cheque,
duplicata, cédulas e notas de crédito, continuam vigentes e se
aplicam quando dispuserem diversamente do Código Civil de 2002, por
força do art.  903 do Diploma civilista. Com efeito, com o advento do
Diploma civilista, passou a existir uma dualidade de regramento
legal: os títulos de crédito típicos ou nominados continuam a ser
disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os títulos
atípicos ou inominados subordinam-se às normas do novo Código, desde
que se enquadrem na definição de título de crédito constante no art.
887 do Código Civil.” (REsp 1633399/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 10/11/2016, DJe 01/12/2016).
2. Nessa mesma linha de intelecção, o Enunciado n. 132 da I Jornada de Direito Civil do
CJF apresenta a justificativa de que exigir anuência do cônjuge para a outorga de aval
resulta em afronta à Lei Uniforme de Genebra.
3. Com efeito, a  leitura do art.  31 da Lei Uniforme de Genebra
(LUG), em comparação ao texto do art.  1.647, III, do CC/02, permite
inferir que a lei civilista criou verdadeiro requisito de validade
para o aval, não previsto naquela lei especial. Desse modo, não pode
ser a exigência da outorga conjugal estendida, irrestritamente, a
todos os títulos de crédito, sobretudo aos típicos ou nominados,
porquanto a lei especial de regência não impõe essa mesma condição.
(REsp 1644334/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 21/08/2018, DJe 23/08/2018).
4. Agravo interno não provido. [AgInt no REsp 1473462 / MG, Relator Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, Data do Julgamento 23/10/2018]

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Títulos de Créditos Vinculados ao Crédito Rural


Cédulas de Crédito Rural, Nota Promissória e Duplicata Rurais

O Decreto-lei 167, de 1967, tem como rubrica dispor sobre títulos de crédito rural.
No art. 1º desse ato normativo, recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como lei
ordinária, extrai-se que o “financiamento rural concedido pelos órgãos integrantes do sistema
nacional de crédito rural e pessoa física ou jurídica poderá efetivar-se por meio das células de
crédito rural previstas neste Decreto-lei.”
Nesse sentido, o Decreto-lei 167, de 1967, refere-se à cédula de crédito rural como gênero,
que é estruturada como promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real cedu-
larmente constituída, comportando as seguintes denominações e modalidades:
• Cédula Rural Pignoratícia: é a cédula garantida com bens móveis vinculados em penhor
(garantia real), que devem ser indicados “pela espécie, qualidade, quantidade, marca ou
período de produção, se for o caso, além do local ou depósito em que os mesmos bens
se encontrarem.” (art. 14, V);
• Cédula Rural Hipotecária: é a cédula garantida com bem imóvel dado em hipoteca (imó-
veis rurais e urbanos – art. 23), que abrange “as construções, respectivos terrenos, ma-
quinismos, instalações e benfeitorias” (art. 21). Nos termos do art. 22, irão se incorporar
à hipoteca constituída as máquinas, aparelhos, instalações e construções, adquiridos
ou executados com o crédito, assim como quaisquer outras benfeitorias acrescidas aos
imóveis na vigência da cédula, as quais, uma vez realizadas, não poderão ser retiradas,
alteradas ou destruídas, sem o consentimento do credor, por escrito;
• Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária: é a cédula garantida com a hipoteca de bens
imóveis e bens móveis vinculados em penhor;
• Nota de Crédito Rural: nessa modalidade, o título de crédito não possui garantia real,
sendo tratado como crédito com privilégio especial (art. 28).

Registro que a cédula de crédito rural é título causal, uma vez que a sua emissão é decor-
rente de financiamento rural à cooperativa, ao empresário ou ao produtor rural.
Nos termos do art. 10 do Decreto-lei 167, de 1967, a cédula de crédito rural é caracterizada
nos seguintes termos:

Art. 10. A cédula de crédito rural é título civil, líquido e certo, transferível e de livre negociação, exi-
gível pelo seu valor ou pelo valor de seu endosso, além dos juros, da comissão de fiscalização, se
houver, e das demais despesas feitas pelo credor para a segurança, a regularidade e a realização de
seu direito creditório.

De forma expressa, permite-se que a cédula de crédito rural seja “emitida sob a forma es-
critural em sistema eletrônico de escrituração” (art. 10-A).
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O Decreto-lei 167, de 1967, também instituiu os seguintes títulos de crédito rurais:


• Nota promissória rural: pode ser utilizada nas vendas a prazo de bens de natureza agríco-
la, extrativa ou pastoril, quando efetuadas diretamente por produtores rurais ou por suas
cooperativas; nos recebimentos, pelas cooperativas, de produtos da mesma natureza en-
tregues pelos seus cooperados, e  nas entregas de bens de produção ou de consumo,
feitas pelas cooperativas aos seus associados (art. 42). Pode ser emitida sob a forma
escritural, mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração. Gozará de privi-
légio especial, não tendo garantia real;
• Duplicata rural: pode ser utilizada nas vendas a prazo de quaisquer bens de natureza
agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas diretamente por produtores rurais ou por
suas cooperativas (art. 46). Também pode ser emitida sob a forma escritural, mediante
lançamento em sistema eletrônico de escrituração. Gozará de privilégio especial não
tendo garantia real.

Nos termos do art. 60 do Decreto-lei 167, de 1967, são aplicáveis à cédula de crédito rural,
à nota promissória rural e à duplicata rural, “no que forem cabíveis, as normas de direito cam-
bial (v.g., a LUG), inclusive quanto a aval, dispensado porém o protesto para assegurar o direito
de regresso contra endossantes e seus avalistas”. Contudo, são estabelecidas as seguintes
particularidades:
• Art. 60, § 1º: O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural
não tem direito de regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas;
• Art. 60, § 2º: É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo
quando dado pelas pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras
pessoas jurídicas;
• Art.  60, §  3º: são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando
prestadas pelas pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou por
outras pessoas jurídicas;
• Art. 60, § 3º: Às transações realizadas entre produtores rurais e entre estes e suas co-
operativas não se aplicam as disposições dos parágrafos anteriores.

No que diz respeito à vedação de aval contido nos §§ 2º e 3º do art. 60 do Decreto-lei 167,
de 1967, o  STJ tem entendimento que tal vedação aplica-se somente à nota promissória e
duplicata rural, não atingindo a cédula de crédito rural:

JURISPRUDÊNCIA
É válido o aval prestado por pessoa física nas cédulas de crédito rural, pois a vedação
contida no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei n. 167/67 não alcança o referido título, sendo
aplicável apenas às notas promissórias e duplicatas rurais. [STJ, AgRg no REsp 1562179/
RS,Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, Julgado em 15/03/2016,
entre outros]

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036. (FGV/JUIZ/TJ-AP/2022) Armazém Jari Ltda., credor de duplicata rural recebida por en-
dosso translativo do primeiro beneficiário, ajuizou ação de execução por quantia certa em
face do aceitante (pessoa jurídica) e de seu avalista (pessoa física, membro do quadro so-
cial da pessoa jurídica aceitante), bem como em face do endossante (sacador da duplicata).
É fato incontroverso que a duplicata rural não foi submetida a protesto por falta de pagamento.
Ao avaliar a legitimidade passiva dos demandados (aceitante, avalista e endossante), o juiz
concluiu que:
a) o endossatário da duplicata rural não tem ação de regresso em face do primeiro endossan-
te, portanto, deve ser proclamada sua ilegitimidade passiva;
b) nenhum dos devedores tem legitimidade passiva na execução, em razão da ausência de
protesto por falta de pagamento da duplicata rural;
c) é nulo o aval dado em duplicata rural, portanto, deve ser proclamada a ilegitimidade passiva
do avalista do aceitante;
d) todos os arrolados na ação de execução como réus são partes legítimas no processo, em
razão da dispensa do protesto por falta de pagamento e da solidariedade cambiária perante o
endossatário;
e) apenas o aceitante é parte legítima na ação de execução, pois o protesto é facultativo para
os obrigados principais e necessário para os coobrigados (endossante e avalista).

Como regra, a duplicata rural segue as normas de direito cambial, mas o art. 60 do Decreto-lei
167, de 1967, estabelece algumas peculiaridades:

Art.  60. Aplicam-se à cédula de crédito rural, à  nota promissória rural e à duplicata rural, no que
forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval, dispensado porém o protesto
para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalistas.
§ 1º O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural não tem direito de
regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas. (Incluído pela Lei n. 6.754, de 17.12.1979)
§ 2º É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras pessoas jurídicas. (Incluído pela
Lei n. 6.754, de 17.12.1979)
§ 3º Também são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurídicas. (Inclu-
ído pela Lei n. 6.754, de 17.12.1979)
§ 4º Às transações realizadas entre produtores rurais e entre estes e suas cooperativas não se apli-
cam as disposições dos parágrafos anteriores. (Incluído pela Lei n. 6.754, de 17.12.1979)
Letra a.

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Registro que o art. 69 estabelece a impenhorabilidade dos bens objeto do penhor ou hipo-
teca da cédula de crédito rural:

Art. 69. Os bens objeto de penhor ou de hipoteca constituídos pela cédula de crédito rural não serão
penhorados, arrestados ou sequestrados por outras dívidas do emitente ou do terceiro empenha-
dor ou hipotecante, cumprindo ao emitente ou ao terceiro empenhador ou hipotecante denunciar a
existência da cédula às autoridades incumbidas da diligência ou a quem a determinou, sob pena de
responderem pelos prejuízos resultantes de sua omissão. (negritei).

Em relação a tal impenhorabilidade, o STJ entende que ela não é absoluta, podendo ser
relativizada quando não houver risco de esvaziamento da garantia:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO. PENHORA. GARANTIA HIPOTECÁRIA. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
VENCIDA. POSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA. APRECIAÇÃO DE TODAS AS
QUESTÕES RELEVANTES DA LIDE PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. (...)DECISÃO MANTIDA.
(...)
5. “Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça,
a impenhorabilidade conferida pelo art.  69 do Decreto-lei n. 167/67
ao bem dado em garantia na cédula de crédito rural não é absoluta,
podendo ser relativizada na hipótese em que não houver risco de
esvaziamento da garantia, tendo em vista o valor do bem ou a
preferência do crédito cedular” (AgInt no REsp 1470352/SP, Rel.
Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 25/09/2018, DJe
01/10/2018).
6. Agravo interno a que se nega provimento. [STJ, AgInt no AREsp 652380 / GO, Relator
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, Data do Julgamento 22/06/2020]

037. (ESAF/PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL/PGFN/2015/ADAPTADA) Assinale a


opção correta.
A “Cédula de Crédito Rural” configura um título de crédito impróprio, destinada ao financiamen-
to do agronegócio, cujo pagamento é garantido por hipoteca ou penhor.

A cédula de crédito rural é considerada um título de crédito impróprio, uma vez que lhe apro-
veitam somente alguns requisitos essenciais e características dos títulos de créditos próprios.
De fato, tal título de crédito pode ser garantido por hipoteca (cédula rural hipotecária), pelo pe-
nhor (cédula rural pignoratícia) ou pelos dois (cédula rural pignoratícia e hipotecária), nos termos do

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art. 9º. I, II e III. Lembro somente que na modalidade ‘nota de crédito rural’ não haverá garantia
real (hipoteca ou penhor).
Certo.

038. (FUNDEP/JUIZ/TJ-MG/2014/ADAPTADA) Com relação à nota promissória, analise a


afirmativa:
Sendo a nota promissória rural, emitida por uma cooperativa em favor de seus cooperados, um
título de crédito de natureza causal, a respectiva execução se encontra vinculada à eficácia do
negócio jurídico subjacente.

A nota promissória rural é título de crédito causal, cuja emissão está vinculada a negócios jurí-
dicos previstos no art. 42 do Decreto-lei 167, de 1967:

Art. 42. Nas vendas a prazo de bens de natureza agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas
diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas; nos recebimentos, pelas cooperativas,
de produtos da mesma natureza entregues pelos seus cooperados, e nas entregas de bens de pro-
dução ou de consumo, feitas pelas cooperativas aos seus associados.
Certo.

Cédula de Produto Rural (CPR)

A cédula de produto rural (CPR) é disciplinada pela Lei 8.929, de 1994, sendo também um
título de crédito causal, representativa de promessa de entrega de produtos rurais (agrícola,
pecuária, de floresta plantada e de pesca e aquicultura e também conservação de florestas
nativas e dos respectivos biomas), com ou sem garantias cedularmente constituídas (art. 1º).
Registro que, no caso da CPR há a promessa de entrega de produtos rurais, diferentemente
da cédula de crédito rural, em que a promessa é de pagamento em dinheiro (art. 9º do Decreto-
-lei 167, de 1967). Nesse sentido, a CPR é considerada um instrumento versátil para financiar
a aquisição de insumos agrícolas.
Registro que o STJ entende que a CPR é regida pelo princípio da autonomia da vontade,
com maior liberdade no estabelecimento das cláusulas pelos contratantes, diversamente da
cédula de crédito rural (considerado por lei “título civil”):

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
CÉDULA DE PRODUTO RURAL. (...) 5. AFASTAMENTO DA MULTA E LIMITAÇÃO DOS JUROS
DE MORA. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. 6. TEORIA DA
IMPREVISÃO AFASTADA. ESCASSEZ DE CHUVAS NÃO É CONSIDERADO FATO EXTRAOR-
DINÁRIO. PRECEDENTES. (...)

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(...)
3.No caso, o  Colegiado estadual, em perfeita harmonia com a
jurisprudência desta Corte, consignou a desnecessidade de pagamento
antecipado da Cédula de Produto Rural, por não consubstanciar
requisito essencial à validade do título. Precedentes.
(...)
5. A  CPR é regida pelo princípio da autonomia privada, com maior
liberdade contratual entre as partes, que poderão estabelecer os
encargos entabulados, bem como fixar prazos de pagamento, com a
finalidade de fornecer recursos financeiros para financiar a
atividade agrícola. Não se mostra possível modificar o entendimento
das instâncias ordinárias que, com apoio nos elementos de prova e
interpretando as cláusulas do pacto entabulado entre as partes,
mantiveram a aplicação da multa e dos juros de mora contratados, na
via do recurso especial, em razão dos óbices dos enunciados n. 5 e 7
da Súmula do STJ.
6. Nos contratos agrícolas, o  risco é inerente ao negócio, de forma
que eventos como seca, pragas, ou estiagem, dentre outros, não são
considerados fatores imprevisíveis ou extraordinários que autorizem
a adoção da teoria da imprevisão.
7. Agravo interno a que se nega provimento. [STJ, AgInt no AREsp 1027435 / GO, Relator
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 24/08/2020]
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – EMBARGOS À EXECUÇÃO – DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DO EMBAR-
GANTE.
(...)
2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a  Cédula de Produto
Rural, diversamente da Cédula de Crédito Rural, é  regida pelo
princípio da autonomia privada, logo, os  juros moratórios não estão
limitados à taxa de 1% ao ano.
(...)5. Agravo interno desprovido. [STJ, AgInt no REsp 1686413 / MG, Relator Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, Data do Julgamento 22/06/2020]

Terão legitimidade para emitir a CPR (art. 2º):


• produtor rural (pessoa natural ou jurídica), a cooperativa agropecuária e a associação de
produtores rurais;
• outras pessoas naturais ou jurídicas que explorem floresta nativa ou plantada ou que
beneficiem ou promovam a primeira industrialização dos produtos rurais.

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A CPR pode ser emitida sob a forma cartular ou escritural, esta última será objeto de lança-
mento em sistema eletrônico de escrituração gerido por entidade autorizada pelo Banco Central
do Brasil a exercer a atividade de escrituração (art. 3-A).
Aplicam-se à CPR, no que forem cabíveis, as normas de direito cambial, sendo que, em
relação à CPR emitida sob forma escritural, a transferência de titularidade da cédula produzirá
os mesmos efeitos jurídicos do endosso. (art. 10).
Assim como na cédula de crédito rural, também na CPR é estabelecida impenhorabilidade
dos bens que garantem tal título:

Art. 18. Os bens vinculados à CPR não serão penhorados ou sequestrados por outras dívidas do
emitente ou do terceiro prestador da garantia real, cumprindo a qualquer deles denunciar a exis-
tência da cédula às autoridades incumbidas da diligência, ou a quem a determinou, sob pena de
responderem pelos prejuízos resultantes de sua omissão.

Registro que o STJ decidiu que tal impenhorabilidade – em virtude de lei e para garantir
o interesse público de estimular o crédito rural – deve permanecer mesmo em detrimento da
penhora realizada para garantir direitos trabalhistas:

RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. SIS-


TEMA PRIVADO DE FINANCIAMENTO DO SETOR AGRÍCOLA. CÉDULA DE PRODUTO
RURAL. TÍTULO DE CRÉDITO. LEI N. 8.929/1994. IMPENHORABILIDADE LEGAL DO BEM
VINCULADO À CPR QUE PREVALECE MESMO DIANTE DA PENHORA QUE GARANTE
O CRÉDITO TRABALHISTA. PRELAÇÃO JUSTIFICADA PELO INTERESSE PÚBLICO.
(...)
2. O  Sistema Privado de Financiamento do Agronegócio identifica-se
pelo patrocínio privado da agricultura comercial profissionalizada e
da agroindústria, assim como por uma política pública de
renegociação das dívidas dos agropecuaristas e pela criação de
bancos especializados e de títulos de crédito do agronegócio.
3. A  Cédula de Produto Rural (Lei n. 8.929/1994) é instrumento-base
do financiamento do agronegócio, facilitadora da captação de
recursos. É  título de crédito, líquido e certo, de emissão exclusiva
dos produtores rurais, suas associações e cooperativas,
traduzindo-se na operação de entrega de numerário ou de mercadorias,
com baixo custo operacional para as partes.
4. Tendo em vista sua função social e visando garantir eficiência e
eficácia à CPR, o  art.  18 da Lei n. 8.929/1994 prevê que os bens
vinculados à CPR não serão penhorados ou sequestrados por outras
dívidas do emitente ou do terceiro prestador da garantia real,
cabendo a estes comunicar tal vinculação a quem de direito.

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5. A  impenhorabilidade criada por lei é absoluta em oposição à


impenhorabilidade por simples vontade individual. A
impenhorabilidade absoluta é aquela que se constitui por interesse
público, e  não por interesse particular, sendo possível o
afastamento apenas desta última hipótese.
6. O  direito de prelação em favor do credor cedular se concretiza no
pagamento prioritário com o produto da venda judicial do bem
objeto da garantia excutida, não significando, entretanto,
tratamento legal discriminatório e anti-isonômico, já que é
justificado pela existência da garantia real que reveste o crédito
privilegiado.
7. Os  bens vinculados à cédula rural são impenhoráveis em virtude de
lei, mais propriamente do interesse público de estimular o crédito
agrícola, devendo prevalecer mesmo diante de penhora realizada para
garantia de créditos trabalhistas.
8. Recurso especial provido. [STJ, REsp 1327643/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, por unanimidade, julgado em 21/05/2019]

Outros Títulos de Créditos Rurais

A Lei 11.076, de 2004, disciplinou os seguintes títulos de créditos rurais:


• Certificado de Depósito Agropecuário (CDA): é título de crédito representativo de pro-
messa de entrega de produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e resíduos
de valor econômico, depositados em conformidade com a Lei n. 9.973, de 29 de maio de
2000 (lei que dispõe sobre o sistema de armazenagem dos produtos agropecuários)
(art. 1º, §1º).
• Warrant Agropecuário (WA): é título de crédito representativo de promessa de pagamen-
to em dinheiro que confere direito de penhor sobre o CDA correspondente, assim como
sobre o produto nele descrito (art. 1º, §2º).

Registro que o CDA e o WA são “títulos unidos”, emitidos (sob a forma cartular ou escritural)
simultaneamente pelo depositário, a pedido do depositante, podendo ser transmitidos unidos
ou separadamente, mediante endosso, sendo ambos títulos executivos extrajudiciais (art. 1º,
§§ 3º e 4º). Segundo Fábio Ulhoa Coelho, quando permanecerem na mesma titularidade “asse-
guram ao titular a plena propriedade da mercadoria depositada no armazém de agronegócio.”
Nos termos do art. 2º da Lei 11.076, de 2004, aplicam-se à CDA e ao WA as normas de
direito cambial, quando cabível e nos seguintes termos:

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Art. 2º Aplicam-se ao CDA e ao WA as normas de direito cambial no que forem cabíveis e o seguinte:
I – os endossos devem ser completos;
II – os endossantes não respondem pela entrega do produto, mas, tão-somente, pela existência da
obrigação;
III – é dispensado o protesto cambial para assegurar o direito de regresso contra endossantes e
avalistas.
• Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio – CDCA: é título de crédito nomina-
tivo, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e cons-
titui título executivo extrajudicial (art. 24, caput). É de emissão exclusiva de cooperativas
agropecuárias e de outras pessoas jurídicas que exerçam a atividade de comercialização,
beneficiamento ou industrialização de produtos, insumos, máquinas e implementos agrí-
colas, pecuários, florestais, aquícolas e extrativos (art. 24, § 1º). Será, portanto, um título
cujo direito creditório originário decorre de negócio jurídico realizado por cooperativas
ou pessoas jurídicas rurais e terceiros (ou seja, título causal).
• Letra de Crédito do Agronegócio – LCA: é título de crédito nominativo, de livre negocia-
ção, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo ex-
trajudicial, sendo de emissão exclusiva de instituições financeiras públicas ou privadas
(art. 26, caput, § 1º).

Os emitentes de CDCA e de LCA respondem pela origem e autenticidade dos direitos credi-
tórios a eles vinculados (art. 29). Podem ser emitidos pela forma cartular ou escritural, sendo
permitidos em ambos que a identificação dos direitos creditórios aos quais se vinculam seja
feita em documento à parte. A cláusula à ordem é a regra.
• Certificado de Recebíveis do Agronegócio – CRA: é título de crédito nominativo, de livre
negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título
executivo extrajudicial, sendo de emissão exclusiva das companhias securitizadoras de
direitos creditórios do agronegócio (art. 36).

Já a Lei 13.986, de 2020, instituiu a Cédula Imobiliária Rural (CIR), título de crédito nomina-
tivo, transferível e de livre negociação, representativa de (art. 17):
• promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de operação de crédito de qualquer
modalidade; e
• obrigação de entregar, em favor do credor, bem imóvel rural, ou fração deste, vinculado
ao patrimônio rural em afetação, e que seja garantia da operação de que trata o inciso I
do caput deste artigo, nas hipóteses em que não houver o pagamento da operação até
a data do vencimento.

Registro que o legitimado para emitir a CIR será o proprietário de imóvel rural, pessoa natu-
ral ou jurídica, que houver constituído patrimônio rural em afetação.

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Sustenta-se que com a instituição do referido patrimônio de afetação (patrimônio que fica-
rá segregado para responder pela dívida) é possível ao produtor rural se financiar sem ter que
dar toda a propriedade rural em garantia.
Nos termos do art. 29 da Lei 13.986, de 2020, serão aplicadas as normas de direito cam-
bial, no que couber, com as seguintes modificações:
• os endossos deverão ser completos; e
• os endossantes responderão somente pela existência da obrigação.

Títulos de Créditos Vinculados ao Crédito Bancário


Nessa categoria, tem destaque a cédula de crédito bancário, instituída pela Lei 10.931, de
2004, que se caracteriza por ser título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em favor
de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada (atenção: a instituição credora deve
pertencer ao Sistema Financeiro Nacional), representando promessa de pagamento em dinhei-
ro, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade (art. 26). Poderá ser emitida,
com ou sem garantia, real ou fidejussória, cedularmente constituída (art. 27).
Destaco que o financiamento realizado por meio de tal título de crédito não decorre de uma
atividade específica (rural, industrial, exportação etc.), podendo ser de qualquer modalidade.
A Cédula de Crédito Bancário pode ser emitida em favor de instituição domiciliada no ex-
terior e em moeda estrangeira, desde que a obrigação esteja sujeita exclusivamente à lei e ao
foro brasileiros. (art. 26, §§ 1º e 2º).
Nos termos do art. 28, a Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e repre-
senta dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo
devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente. Oportuno re-
gistrar que a capitalização dos juros sobre a dívida é uma faculdade da instituição credora (ou
seja, é permitida), nos termos do art. 28, § 1º, I.
No que diz respeito à circulação, estabelece o art. 29, § 1º que tal título será transferível
mediante endosso em preto (ou seja, designando nome do endossatário), ao qual se aplicarão,
no que couberem, as normas do direito cambiário. E atenção: mesmo que o endossatário não
seja instituição financeira, ele poderá exercer todos os direitos por ela conferidos, inclusive co-
brar os juros e demais encargos na forma pactuada na Cédula (ou seja, não precisará obedecer
ao limite legal de juros de empréstimo pessoal).
Destaco o entendimento materializado no Enunciado 41 da I Jornada de Direito Comercial,
de que a cédula de crédito bancário mantém a força executiva mesmo quando representativa
de contrato de abertura de crédito em conta bancária:

Enunciado 41. A cédula de crédito bancário é título de crédito dotado de força executiva,
mesmo quando representativa de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito ban-
cário em conta-corrente, não sendo a ela aplicável a orientação da Súmula 233 do STJ.

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039. (FAURGS/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS/TJ-RS/2015) Assinale a


alternativa que apresenta afirmação correta a respeito da disciplina sobre Cédula de Crédi-
to Bancário.
a) A Cédula de Crédito Bancário é título de crédito emitido por instituição financeira ou por en-
tidade a esta equiparada em favor de pessoa física ou jurídica.
b) A Cédula de Crédito Bancário é transferível mediante endosso em preto, devendo o endos-
satário ser instituição financeira ou entidade a ela equiparada.
c) A Cédula de Crédito Bancário poderá ser emitida, com ou sem garantia, real ou fidejussória,
cedularmente constituída.
d) Na Cédula de Crédito Bancário, poderão ser pactuados juros sobre a dívida, vedada a ca-
pitalização.

É o que dispõe o art. 27 da Lei 10.931, de 2000:

Art. 27. A Cédula de Crédito Bancário poderá ser emitida, com ou sem garantia, real ou fidejussória,
cedularmente constituída.
a) Errada. Nos termos do art. 26, caput da Lei 10.931, de 2000, o  emissor pode ser pessoa
física ou jurídica, mas a beneficiária tem que ser necessariamente instituição financeira ou
entidade a ela equiparada (integrante do Sistema Financeiro Nacional):

Art. 26. A Cédula de Crédito Bancário é título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em
favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada, representando promessa de paga-
mento em dinheiro, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade.
b) Errada. O endossatário não necessita ser instituição financeira, nos termos do art. 29, § 1º,
I da Lei 10.931, de 2000:

Art. 29. A Cédula de Crédito Bancário deve conter os seguintes requisitos essenciais:


(...)
§ 1º A Cédula de Crédito Bancário será transferível mediante endosso em preto, ao qual se aplicarão,
no que couberem, as normas do direito cambiário, caso em que o endossatário, mesmo não sendo
instituição financeira ou entidade a ela equiparada, poderá exercer todos os direitos por ela conferi-
dos, inclusive cobrar os juros e demais encargos na forma pactuada na Cédula.
d) Errada. O art. 28, § 1º da Lei 10.931, de 2000, permite a capitalização dos juros:

Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa dívida em dinheiro,
certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em pla-
nilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto no § 2º.

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§ 1º Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados:
I  – os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os  critérios de sua incidência e, se for o caso,
a periodicidade de sua capitalização, bem como as despesas e os demais encargos decorrentes da
obrigação;
(...)
Letra c.

Também teremos os seguintes títulos de créditos bancários regulados por leis específicas:
• Certificado de depósito bancário: regulado atualmente pela Lei 13.986, de 2020, é título
de crédito nominativo, transferível e de livre negociação, representativo de promessa de
pagamento, em data futura, do valor depositado junto ao emissor, acrescido da remune-
ração convencionada (art. 30). Somente poderá ser emitido por instituições financeiras
que captem recursos sob a modalidade de depósitos a prazo (art. 31). Pode ser transferi-
do por meio de endosso, sendo que o endossante responderá pela existência do crédito,
mas não pelo seu pagamento (art. 34). O CDB é título executivo extrajudicial (art. 36),
sendo lhe aplicado, no que não contrariar a Lei 13.986, a legislação relativa a nota pro-
missória.
• Letra financeira: instituída pela Lei 12.249, de 2010, é título de crédito nominativo, trans-
ferível e de livre negociação, emitido exclusivamente pela forma escritural por institui-
ções financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do
Brasil.

Títulos de Créditos Vinculados ao Crédito Industrial


O Decreto-lei 413, de 1969, estabelece os seguintes títulos de crédito, decorrentes de finan-
ciamento concedidos por instituições financeiras a pessoa física ou jurídica que se dedique à
atividade industrial:
• Cédula de Crédito Industrial: materializa promessa de pagamento em dinheiro, com ga-
rantia real, cedularmente constituída;
• Nota de Crédito Industrial: é promessa de pagamento em dinheiro, sem garantia real.

Ambas são títulos causais obtidos por empresários no mercado financeiro com finalidade
industrial.
Registro que a diferença entre cédula e nota (sejam elas industriais, comerciais ou destina-
das à exportação) é que a primeira terá garantia real e a segunda não.
As normas previstas no Decreto-lei 413, de 1969, são aplicadas subsidiariamente às cédu-
las/notas de crédito comercial e à exportação.

Títulos de Créditos Vinculados à Atividade Comercial


O Decreto 1.102, de 1903 disciplina dois títulos unidos, mas separáveis à vontade, ambos à
ordem (ou seja, transferidos por endosso – juntos ou separados), denominados:

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• conhecimento de depósito: representativo da mercadoria depositada em armazéns-ge-


rais;
• warrant: título constituído de promessa de pagamento, que tem como garantia a merca-
doria depositada.

Já a Lei 6.840, de 1980, disciplina os seguintes títulos de crédito, ambos representativos


de operações de empréstimo concedidas por instituições financeiras a pessoa física ou jurídica
que se dedique a atividade comercial ou de prestação de serviços (ou seja, são títulos causais):
• Cédula de Crédito Comercial: materializa promessa de pagamento, com garantia real
incorporada ao próprio título;
• Nota de Crédito Comercial: materializa promessa de pagamento, sem garantia real.

Títulos de Créditos Vinculados à Exportação


A Lei 6.313, de 1975, permite que pessoas físicas ou jurídicas emitam em favor de insti-
tuições financeiras, com o objetivo de representar operações de financiamento à exportação
ou à produção de bens para exportação, bem como às atividades de apoio e complementação
integrantes e fundamentais da exportação, os seguintes títulos:
• Cédula de Crédito à Exportação: é promessa de pagamento em dinheiro, com garantia
real, cedularmente constituída;
• Nota de Crédito à Exportação: é promessa de pagamento em dinheiro, sem garantia real.

Também terá aplicação subsidiaria, no que couber, o Decreto-Lei 413, de 1969 (que regula-
menta a cédula e nota de crédito industrial).

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RESUMO
• Adotando quase na literalidade o conceito do jurista italiano Cesare Vivante, o Código
Civil, em seu artigo 887, definiu título de crédito como o “documento necessário ao exer-
cício do direito literal e autônomo nele contido”, consignado no final desse artigo que ele
“somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”
• Extraímos de tal conceito três princípios informadores do regime cambial (dos quais
irão se desdobrar os principais atributos e características dos títulos de crédito), a saber:
− Princípio da cartularidade: o credor para exercer o direito de crédito deverá estar,
como regra, na posse legítima do título de crédito (ou seja, da cártula). Contudo esse
princípio vem sendo abrandado por conta do fenômeno desmaterialização do título
de crédito, em que os títulos emitidos sob a forma escritural vêm ganhando espaço,
com expressa previsão legal;
− Princípio da literalidade: informa que somente valerá o que estiver efetivamente es-
crito no título de crédito;
− Princípio da autonomia das obrigações cambiais: orienta que as relações jurídicas
representadas em um título de crédito são autônomas e independentes entre sim.
Subdivide-se em dois subprincípios: i) subprincípio da abstração, segundo o qual o
título de crédito, ao ser colocado em circulação, desvincula-se do negócio originário;
e ii) subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé, que
tem viés mais processual, no sentido de que não será possível discutir em eventual
demanda judicial matéria de defesa estranha à relação direta com o exequente, salvo
comprovação de má-fé.
• Em relação à constituição, circulação e garantia dos títulos de créditos, podem ocorrer
os seguintes atos cambiários: i) Emissão/saque: é o ato de emissão do título de crédito;
ii) Endosso (“cláusula à ordem”): é ato cambiário abstrato, eventual (não é obrigatória a
sua ocorrência) e formal que permite a circulação do título de crédito com salvaguardas
próprias do regime cambial. Materializa-se com a assinatura do endossante e comple-
ta-se com a tradição do título; iii) Aval: é o ato cambiário autônomo, eventual e formal,
em que uma pessoa (chamada ‘avalista’) se compromete a honrar título de crédito nas
mesmas condições que o devedor ‘avalizado’; iv) Aceite: é o ato cambiário constante
em títulos representativos de ordem de pagamento (ex., letra de câmbio e duplicata), por
meio do qual o sacado (pessoa a quem a ordem é dirigida) se vincula à ordem de paga-
mento emitida pelo sacador (pessoa que emite e ordena o título), tornando-se o devedor
principal (passa a ser chamado de ‘aceitante’).
• No que diz respeito à exigibilidade, temos os seguintes elementos: i) Vencimento: pode
ser de forma ordinária (com o transcurso do prazo ou ocorrência de circunstância previs-
ta no título) ou extraordinária (v.g., pela recusa total ou parcial do aceite ou falência do

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aceitante em títulos com ordem de pagamento); ii) Pagamento: pode ser extintivo (ex-
tingue todas as obrigações, ex., quando realizado pelo devedor principal), recuperatório
(quando cabe direito de regresso pelo pagamento ter sido realizado por coobrigado) ou
por intervenção (em que terceiro poderá intervir e pagar o título de crédito); iii) Protesto:
é “o ato praticado pelo credor, perante o competente cartório, para fins de incorporar ao
título de crédito a prova de fato relevante para as relações cambiais, como, por exemplo,
a falta de aceite ou de pagamento da letra de câmbio.”
• O Código Civil (CC) somente se aplica de forma subsidiária aos títulos de créditos regu-
lados por leis especiais (denominados títulos típicos ou próprios) (art. 903 do CC).
• As disposições relativas aos títulos de crédito do Código Civil aplicam-se àqueles regula-
dos por leis especiais no caso de omissão ou lacuna. (Enunciado 464 da V Jornada de
Direito Civil do CJF).
• A letra de câmbio é regulada pela Lei Uniforme de Genebra (LUG), que agrega conven-
ções que o Brasil aderiu no plano internacional em 1942 e internalizou no direito pátrio
por meio do Decreto 57.663, de 1966.
• Por conta de o Brasil ter feito ressalvas à LUG (Anexo II do Decreto 57.663), é pacífico o
entendimento que o Decreto 2.044, de 1908 – editado anteriormente para disciplinar a
letra de câmbio e a nota promissória – continua regulamentado parcialmente a matéria
quando estivermos diante de reservas ou omissões da LUG. Somente na omissão é que
se aplicará o CC.
• A letra de câmbio é título formal, autônomo/abstrato e completo, estruturando-se sob a
forma de ordem de pagamento, uma vez que quem cria o título (sacador) emite “ordem”
para que outra pessoa (sacado, que caso aceite será chamado de aceitante) o pague ao
tomador/beneficiário.
• Sacador, sacado e tomador não necessariamente serão três pessoas distintas.
• Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem por letras, assi-
naturas falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que por qualquer outra
razão não poderiam obrigar as pessoas que assinaram a letra, ou em nome das quais ela
foi assinada, as obrigações dos outros signatários nem por isso deixam de ser válidas
(art. 7º da LUG).
• Assim, por exemplo, a  incapacidade do sacado/aceitante não invalida as obrigações
dos outros coobrigados no título, atingindo somente aquela obrigação.
• A LUG estabelece requisitos essenciais e não essenciais da letra de câmbio.
• Contudo, o STF admite que “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco,
pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.” (Súmula
387-STF).
• O aceite é ato cambial eventual na letra de câmbio e se materializa com “a simples as-
sinatura do sacado aposta na parte anterior da letra”, ou seja, no anverso da letra ou no
verso com a palavra ‘aceite’ ou outra semelhante. Assim, embora seja um ato formal,
não há uma fórmula solene para o aceite.
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• O aceite na letra de câmbio é facultativo (ou seja, não é obrigatório).


• Por isso não é possível tirar protesto por falta de pagamento contra o sacado não acei-
tante (art. 21 da Lei 9.492, de 1997).
• No caso de recusa, o sacado não precisa apresentar qualquer justificativa, mas ocorrerá
o vencimento antecipado do título, podendo ser cobrado do sacador ou outro devedor
indireto/coobrigado (art. 43 da LUG).
• Antes de restituir a letra é possível ao aceitante riscar o aceite que tiver dado, sendo
considerado tal aceite como recusado, havendo a presunção relativa que a recusa foi
feita antes da devolução da letra.
• Se “o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro signatário da letra
de que aceita, fica obrigado para com estes, nos termos do seu aceite” (art. 29, parte
final, da LUG).
• Pode ocorrer o aceite parcial (aceite qualificado) nos seguintes moldes: i) aceite-limi-
tativo: quando se limita somente o valor a ser pago; aceite-modificativo: é modificada
alguma circunstância relativa ao pagamento do título (por exemplo, a data do vencimen-
to). Em ambas as hipóteses ocorrerá o vencimento antecipado da letra de câmbio, uma
vez que a recusa parcial se equipara à recusa de aceite, podendo ser cobrado o crédito
na integralidade.
• O sacador pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite antes do seu ven-
cimento (cláusula não aceitável), exceto em: i) letra pagável em domicilio de terceiro; ii)
letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado; ou iii) letra sacada a
certo termo de vista (lembre-se: nessa modalidade, é necessário o aceite para se definir
o vencimento).
• Como regra, a apresentação da letra para o aceite pode ser feita até o vencimento do
título, nos termos do art. 21 da LUG, sendo que após a letra será apresentada para paga-
mento (o aceite não faz mais sentido).
• Contudo, o aceite será obrigatório em duas hipóteses: i) letra de câmbio com vencimen-
to a certo tempo de vista; ii) por vontade do sacador.
• O sacado tem o direito de solicitar a reapresentação do título (chamado de ‘prazo de
respiro’), com o intuito de confirmar a sua obrigação.
• Aceitando a letra de câmbio, o sacado (aceitante) passa a integrar a relação cambial e
a ser o devedor principal do título, devendo pagá-lo independentemente de protesto. Se
recusar, não terá qualquer obrigação e ocorrerá o vencimento antecipado da letra de
câmbio.
• A regra que o aceite somente pode ser praticado pelo sacado não é absoluta, na medida
em que a LUG estabelece a possibilidade de o aceite ser feito por intervenção (‘aceite
por intervenção’), circunstância em que um terceiro (que não o sacado) se dispõe a
aceitar a letra de câmbio (arts. 55 a 63).

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• A regra geral em relação à letra de câmbio (como nos demais títulos de crédito próprios,
v.g., nota promissória, cheque e duplicata) é circular mediante endosso, sendo implícita,
portanto, a cláusula à ordem.
• A LUG permite a inserção das palavras “não à ordem” ou uma expressão equivalente na
letra de câmbio ou nota promissória (ou seja: proibindo que a transferência do título seja
feita por endosso) que implicará a transmissão do título “pela forma e com os efeitos de
uma cessão ordinária de créditos.”
• De forma diversa, o Código Civil considera ‘não escrita’ a ‘cláusula não à ordem’ (art. 890),
vedação que não se aplica aos títulos próprios que permitam tal cláusula.
• Na letra de câmbio, o endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da acei-
tação como do pagamento da letra ou da nota promissória (art. 15 da LUG).
• De forma diversa, o  Código Civil estabelece regra exatamente em contrário para os
títulos atípicos, ou seja, salvo cláusula em contrário, o endossante não é garantidor do
pagamento do título (art. 914).
• O endosso deve ser puro e simples (considera não escrita qualquer condição) e inte-
gral (o endosso parcial é nulo). Registro que iguais disposições são estabelecidas no
art. 912 do CC.
• O endosso é materializado pela assinatura do endossante, devendo ser “escrito na letra
ou numa folha ligada a esta (anexo)”. Caso consista na simples assinatura (sem men-
ção ao beneficiário ou ao ato cambiário praticado, v.g., com a expressão “transfiro a...”)
a assinatura deverá ser lançada no verso da letra ou da folha anexa para o endosso ser
válido.
• Se não for designado o beneficiário (endossatário), o endosso será considerado ‘endos-
so em branco’. Nesse caso, poderá se transformar em ‘endosso em preto’ (com desig-
nação do beneficiário) a qualquer momento, bastando que o portador insira o seu nome
ou de terceiros como beneficiário.
• A doutrina tem entendido ser possível praticar o ‘endosso em branco’ na letra de câmbio
e em outros títulos, desde que seja necessariamente convertido em ‘endosso em preto’
na data do vencimento.
• Além do endosso translativo, a letra também poderá conter: i) endosso mandato: endos-
so contém a menção “valor a cobrar”, “para cobrança”, “por procuração”, ou qualquer ou-
tra menção que implique um simples mandato, em que “o portador pode exercer todos
os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador”
(somente pode ser invocado contra ele “as exceções que eram oponíveis ao endossan-
te”). O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte
ou sobrevinda incapacidade legal” do mandante (por erro de tradução a LUG fala em
‘mandatário’); ii) endosso caução (endosso-penhor ou endosso-garantia): o endosso
conterá a menção “valor em garantia”, “valor em penhor” ou qualquer outra menção que

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implique uma caução, sendo que “o portador pode exercer todos os direitos emergentes
da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração”.
“Os coobrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as
relações pessoais deles com o endossante”, salvo má-fé.
• O endosso realizado após o vencimento tem os mesmos efeitos que o realizado ante-
riormente (igual regra também consta no art. 920 do CC para os títulos inominados).
• Tal regra não se aplica ao denominado “endosso póstumo” (“endosso tardio” ou “endos-
so posterior”), em que tal ato cambial somente é efetivado posterior ao protesto por falta
de pagamento” ou “feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, que
produzirá efeito de uma cessão ordinária de crédito (art. 20 da LUG).
• O aval poderá ser integral ou parcial, podendo ser prestado por terceiro ou mesmo por
signatário da letra de câmbio ou nota promissória. Registro que a legislação especial
permite o aval parcial também no cheque e duplicata.
• Diversamente, o Código Civil veda o aval parcial para os títulos inominados (art. 897,
parágrafo único).
• O aval poderá ser escrito na própria letra ou folha anexa (princípio da literalidade), com a
simples assinatura na face anterior da letra (anverso) ou em qualquer lugar, desde que
acompanhado das expressões “bom para aval” ou por qualquer fórmula equivalente; e
assinado pelo dador do aval. Caso não indique a quem se dá (aval em preto), presume-
-se que foi dado em favor do sacado na letra de câmbio ou do emitente na nota promis-
sória (aval em branco).
• Contudo, o aval não terá efeito cambial caso seja lavrado em ‘documento a parte’, por
conta do princípio da literalidade (STJ).
• A 3ª Turma do STJ já decidiu que a assinatura no verso do título que não indique bene-
ficiário deve ser considerado como aval e não endosso em branco, adotando entendi-
mento doutrinário minoritário que o endosso deve ser sempre ‘em preto’ (com indicação
do endossatário).
• O avalista é responsável da “mesma maneira que a pessoa por ele afiançada” (art. 32
da LUG).
• A obrigação do avalista mantém-se mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser
nula por qualquer razão que não seja um vício de forma. (art. 32, alínea 2 da LUG).
• A autonomia do aval não se confunde com a abstração do título de crédito e, portanto,
independe de sua circulação (STJ).
• O avalista é devedor solidário da letra de câmbio ou nota promissória, podendo ser lhe
exigido o pagamento integral, independentemente de o avalizado ter bens, não podendo
invocar o benefício de ordem (ou seja, exigir que primeiro sejam executados os bens do
avalizado (art. 47 da LUG).

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• Caso o avalista pague a letra ou nota promissória, ficará sub-rogado nos direitos emer-
gentes do título contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados
para com esta em virtude da letra (art. 32, alínea 3 da LUG).
• Avais simultâneos (ou coavais) ocorrem quando duas ou mais pessoas avalizam con-
juntamente um título, garantindo a mesma obrigação cambial. Tais avalistas respondem
como se fossem uma pessoa só, respondendo entre eles solidariamente (solidariedade
essa em consonância com as regras do Direito Civil, ou seja, terá direito de regresso
integral contra o devedor principal, mas em relação ao outro avalista somente poderá
solicitar o pagamento da metade da dívida).
• Avais sucessivos (ou aval de aval) são aqueles em que uma pessoa avaliza um outro
avalista. Nessa hipótese, todos os avalistas terão a mesma responsabilidade do avali-
zado, sendo que aquele que pagar a dívida terá direito de regresso integral da dívida em
relação aos demais avalistas (e não somente de quota parte).
• Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos (Súmula
189-STF).
• O STJ tem entendido que a exigência de outorga conjugal em aval, previsto no art. 1.647,
III do CC não é aplicável aos títulos de crédito típicos, como é o caso da letra de câmbio,
nota promissória, cheque e duplicata, sendo válido. Contudo, em julgados recentes o
STJ entendeu que, como regra, tal cônjuge não deve suportar com seus bens a garantia
dada sem o seu consentimento, salvo se dela tiver se beneficiado.
• Os sacadores, aceitantes (lembre-se: sacado não tem responsabilidade), endossantes
ou avalistas solidariamente responsáveis com o portador.
• A letra de câmbio poderá ser sacada: i) à vista: o vencimento ocorre no dia da apresen-
tação da letra ao sacado; ii) a um certo termo de vista: determina-se quer pela data do
aceite, quer pela do protesto (recusa de aceite); iii) a um certo termo de data: o sacador
estipula que a letra não deve ser apresentada a pagamento antes de uma determinada
data (contada da emissão da letra); iv) pagável num dia fixado (letra com dia certo):
vence em dia preestabelecido pelo sacador.
• Como regra, a obrigação de pagamento de título de crédito é quesível, ou seja, o credor
deve tomar a iniciativa para recebê-lo, apresentando o título ao devedor para pagamento
ou comprovando publicamente a negativa do devedor (ex., com a realização tempestiva
do protesto).
• O art. 5º da LUG permite a pactuação de juros compensatórios nas letras pagável à vista
ou a um certo termo de vista, devendo a taxa de juros ser indicada na letra (se não for,
a cláusula é considerada não escrita).
• Diversamente, o Código Civil estabelece que é considerada não escrita no título “a cláu-
sula de juros” (art. 890), mas tal dispositivo somente se aplica aos títulos que não são
regidos por lei especial.

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• A letra de câmbio pagável no Brasil deve ser apresentada para pagamento no dia do seu
vencimento (exceção: a letra sacada à vista pode ser apresentada a qualquer momento,
dentro do prazo de um ano de sua emissão) (houve reserva à LUG, sendo aplicado o
art. 20 do Decreto 2.044, de 1908). A letra pagável no exterior deve ser apresentada no
dia do vencimento ou nos 02 (dois) dias úteis seguintes (art. 38 da LUG).
• O portador de uma letra não pode ser obrigado a receber o pagamento dela antes do ven-
cimento. Caso decida pagar antecipadamente, o sacado faz sob sua responsabilidade
(art. 40 da LUG).
• O portador não pode recusar qualquer pagamento parcial, devendo fazer menção na
letra, “e que dele seja dada quitação” (art. 39 da LUG).
• Em relação à letra de câmbio, poderão ocorrer as seguintes modalidades de protesto:
i) protesto por falta de aceite: pode ser realizado após o decurso do prazo legal para o
aceite ou a devolução e até a data do vencimento (após somente é cabível o protesto
por falta de pagamento). É imprescindível para a cobrança antecipada dos devedores
indiretos (sacador, endossantes e seus avalistas), sendo cabível também na duplicata;
ii) protesto por falta de pagamento: o título deve ser entregue no primeiro dia útil que
se seguir ao do vencimento e tirado dentro de 3 (três) dias úteis, conforme art. 28 do
Decreto 2.044, de 1908 (aplicável por conta da reserva constante no art. 9º do Anexo
II). É necessário para a cobrança dos coobrigados (devedores indiretos), à exceção do
aceitante e seus avalistas (devedores principais). Será cabível em todos os títulos de
créditos, sendo que “após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de
pagamento; iii) protesto por falta de devolução: será cabível quando a letra de câmbio
(ou duplicata) for enviada para aceite e não for devolvida.; iv) protesto por falta de data
do aceite: caso a letra de câmbio com vencimento a “certo tempo de vista” seja aceita,
mas não conste a data de tal ato, o protesto será cabível, sendo que o dia do aceite será
estabelecido como sendo o dia do protesto.
• O protesto cambial é causa de interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer
uma vez (art. 202, III do CC).
• A LUG permite que o sacador, endossante e avalista de letras de câmbio e nota promis-
sória adotem a cláusula ‘sem protesto’ ou ‘sem despesa’ (materializada com o lança-
mento de tais expressões ou outra equivalente), em que fica dispensado (facultativo) o
protesto por falta de aceite ou falta de pagamento para o exercício dos direitos de ação
para a cobrança dos devedores indiretos (lembre-se: em relação ao devedor principal o
protesto é sempre facultativo!). Também é possível a adoção dessa cláusula no cheque
(arts. 49 e 50 da Lei 7.357, de 1985).
• Diversamente, o CC considera que tal cláusula é considerada não escrita (art. 890 do
CC).

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• A LUG adota os seguintes prazos prescricionais para o ajuizamento da ação cambial


baseada na letra de câmbio ou nota promissória: i) aceitante: todas as ações contra
o aceitante relativas a letras de câmbio prescrevem em 3 (três) anos a contar do seu
vencimento; ii) coobrigados ou devedores indiretos: as ações do portador contra os en-
dossantes e contra o sacador prescrevem em 01 (um) ano, a contar da data do protesto
feito em tempo hábil (dia do vencimento no caso de título pagável no Brasil) ou da data
do vencimento, caso o título contenha cláusula “sem despesas”; iii) direito de regresso:
as ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em 6
(seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio
foi acionado.
• A prescrição trienal da pretensão à execução, em face do emitente e seu avalista, de nota
promissória à vista não apresentada a pagamento no prazo legal ou fixado no título, con-
ta-se a partir do término do referido prazo. (Enunciado 71 da II Jornada de Direito Co-
mercial do CJF).
• A nota promissória também é regulada pela LUG, aplicando-se, no que não for contrário
à sua natureza, as disposições relativas à letra de câmbio (art. 77).
• A nota promissória estrutura-se como promessa de pagamento (e não ordem de pa-
gamento, como a letra de câmbio, cheque e duplicata). Por isso, não há aceite na nota
promissória.
• O sacador (também chamado de promitente ou subscritor) é o emissor da nota, que
promete pagar certa quantia a alguém no vencimento, sendo “responsável da mesma
forma que o aceitante de uma letra” (art. 78 da LUG), ou seja, é o devedor principal.
• A nota promissória, assim como a letra de câmbio é um título abstrato (ou seja, não
causal, não estando vinculado a um negócio jurídico específico).
• A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em
razão da iliquidez do título que a originou (Súmula 258-STJ).
• Ou seja, a nota promissória passa a ser “contaminada” pelos problemas que maculem o
contrato bancário.
• Contudo, a vinculação da nota promissória a um contrato retira-lhe a autonomia de título
cambial, mas não a sua executoriedade, desde que a avença seja liquida, certa e exigível
(STJ).
• O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obri-
gações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário (Súmula 26-STJ).
• É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante,
no exclusivo interesse deste (Súmula 60-STJ).
• O cheque é disciplinado pela Lei 7.357, de 1985 (Lei do Cheque), tratando-se, portanto,
de título próprio.

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• A principal característica do cheque é ser uma ordem incondicional de pagamento à


vista (art. 1º, I c/c art. 32 da Lei do Cheque).
• Envolve originalmente 03 (três) personagens: i) Sacador (emitente ou correntista): é a
pessoa que dá a ordem de pagamento, devendo ter firmado contrato de conta corrente
com o sacado; ii) Sacado (instituição financeira): necessariamente vai ser uma institui-
ção financeira (sob pena de o título não valer como cheque) contra quem será dada a
ordem de pagamento em razão dos fundos que o emitente mantenha em conta bancá-
ria; iii) Beneficiário (tomador/credor): será a pessoa que tem o direito de receber o valor
constante no título.
• Embora o emitente deva ter fundo quando o cheque for apresentado para pagamento,
a infração desse preceito não prejudica a validade do título como cheque
• A relação do sacado (instituição financeira) é bem peculiar, não lhe sendo permitido
aceitar (art. 6º da Lei do Cheque) ou avalizar o título (art. 29, caput, da Lei do Cheque).
• Além disso, o banco sacado não responde pela emissão de cheques sem fundos que ge-
ram prejuízos a terceiros (STJ).
• Contudo, o estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso, res-
salvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista (Súmula 28-STF).
• A instituição financeira é responsável pelos danos resultantes de extravio de talonários de
cheques utilizados fraudulentamente por terceiros (STJ).
• O cheque é um título de crédito de modelo vinculado, já que o Banco Central do Brasil
padronizou o seu modelo. Em relação ao ‘lugar de pagamento’ (requisito não essencial),
estabeleceu-se como regra o lugar designado ao lado do nome do banco sacado, ou
seja, o endereço da agência bancária.
• Receber ou recusar cheque é opção do comerciante. Não há Lei que
determine curso forçado dessa forma de pagamento (STJ). Ou seja, o cheque não é uma
forma de pagamento de “curso forçado”.
• Embora o cheque não seja título de crédito de aceitação
compulsória no exercício da atividade empresarial, a  sociedade
empresária, ao  possibilitar, inicialmente, o  pagamento de mercadoria
por meio desse título, renunciou sua mera faculdade de aceitação e
se obrigou a demonstrar justa causa na recusa, sob pena de violação ao princípio da
boa-fé objetiva (STJ).
• A diferenciação entre o pagamento em dinheiro, cheque ou cartão
de crédito caracteriza prática abusiva no mercado de consumo, nociva
ao equilíbrio contratual (STJ).
• A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral (Súmula 388-STJ).
• É razoável o valor da compensação por danos morais fixado em até 50 (cinquenta) salá-
rios mínimos para a hipótese de devolução indevida de cheque (STJ).

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• O cheque – como os demais títulos – não tem limitação ao número de endosso que
podem ser efetivados.
• O cheque como regra será transmissível por endosso, devendo ser puro e simples (repu-
ta-se não escrita qualquer condição a que seja subordinado) e integral (o endosso par-
cial é nulo). Além disso, será nulo o endosso realizado pelo sacado (ou seja, a instituição
financeira sacada não pode endossar o cheque).
• O endossante, salvo estipulação em contrário, garante o pagamento do cheque. O en-
dossante pode proibir novo endosso; neste caso, não garante o pagamento “a quem seja
o cheque posteriormente endossado” (art. 21, parágrafo único).
• O estabelecimento bancário não está obrigado a verificar a autenticidade das assinaturas
dos endossantes, mas tem o dever de atestar a regularidade formal da cadeia de endos-
sos (STJ).
• O endosso no cheque pode ser “em branco” (sem designar o endossatário), medida que
permite que o cheque circule pela mera tradição (na prática, torna-se um título ao por-
tador), sendo que no momento da cobrança deverá ser designado o beneficiário final.
• Se o endosso é em branco no cheque, pode o portador: i) completá-lo com o seu nome ou
com o de outra pessoa; ii) endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa;
iii) transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar (art. 20
da Lei do Cheque).
• O cheque é título de crédito abstrato, ou seja, a sua emissão não está vinculada a negó-
cio jurídico predeterminado (título não causal).
• Contudo, a relação jurídica subjacente ao cheque (causa debendi) poderá ser discutida
nos casos em que não houver a circulação do título (STJ).
• No mesmo sentido, a investigação da causa debendi é admitida nas hipóteses em que o
cheque é dado como garantia, bem como nos casos em que o negócio jurídico subjacente
for constituído em flagrante desrespeito à ordem jurídica (STJ).
• O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula “não à ordem”, ou outra equivalente,
só é transmissível pela forma e com os efeitos de cessão (art. 17, § 1º da Lei do Cheque).
• A disciplina do aval no cheque é bem semelhante ao da letra de câmbio/nota promissó-
ria, com uma peculiaridade: é vedado ao sacado avalizar o cheque (art. 30, caput, parte
final).
• Na falta de indicação do avalizado, presume-se que foi dado em favor do emitente.
• Da mesma forma que a letra de câmbio, “o avalista se obriga da mesma maneira que o
avalizado”, subsistindo “sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a
nulidade resultar de vício de forma” (art. 31, caput da Lei do Cheque).
• Caso pague o cheque, o  avalista “adquire todos os direitos dele resultantes contra o
avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque” (art. 31, parágrafo
único da Lei do Cheque).

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• O cotitular de conta conjunta detém apenas solidariedade ativa dos créditos para com
a instituição financeira, não se tornando responsável pelos cheques emitidos pelo outro
correntista (STJ).
• É indevida a inscrição do nome do cotitular de conta bancária conjunta nos órgãos de
proteção ao crédito se este não emitiu o cheque sem provisão de fundos (STJ).
• Existem as seguintes modalidades de cheque: i) Cheque visado: com o visto, o sacado
obriga-se a “debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la
em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação”, persistindo a
obrigação do emitente, endossante e demais coobrigados (art. 7º da Lei do Cheque);
ii) Cheque administrativo: é o cheque sacado pelo próprio banco contra ele mesmo; iii)
Cheque cruzado: o cheque somente pode ser pago a banco ou a cliente do sacado me-
diante o depósito em conta; iv) Cheque para ser creditado em conta: o emitente ou o
portador proíbe que o cheque seja pago em dinheiro.
• “O cheque é pagável à vista”, considerando “não escrita qualquer menção em contrário.”
(art. 32 da Lei do Cheque).
• O cheque tem que ser apresentado para pagamento no prazo de: i) 30 dias: quando emi-
tido no lugar onde houver de ser pago (“na mesma praça”, diga-se, mesmo município); ii)
60 dias: quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.
• Mesmo apresentado fora desse prazo a instituição financeira sacada deverá pagar o
cheque, desde que não esteja prescrita a ação cambial.
• A prescrição ocorre em 6 meses, contados da expiração do prazo de apresentação (30
dias se for pagável no mesmo município de expedição ou 60 dias em municípios diferen-
tes) (art. 59 da Lei do Cheque).
• Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o
cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária (Súmula 600-
STF).
• Mas se estiver espirado o prazo de apresentação, o credor perderá o direito de cobrar
dos coobrigados (endossantes e seus avalistas), uma vez que o protesto obrigatório
para a cobrança dos devedores indiretos pressupõe a apresentação do título dentro do
prazo legal de apresentação (art. 47, II da Lei do Cheque).
• No caso de um coobrigado pagar o cheque, também prescreverá em 6 (seis) meses a
ação de regresso contra demais coobrigados, contados do dia em que pagou o cheque
ou foi demandado.
• Ainda que ocorra a prescrição da ação de execução do cheque, o art. 61 da Lei do Che-
que permite que o credor ajuíze “ação de enriquecimento contra o emitente ou outros
obrigados, que se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque.”, que
prescreverá em 2 (dois) anos a contar da data em que ocorreu a prescrição da ação de
execução.

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• O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a moda-
lidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUNDOS, é o do local onde se deu a
recusa do pagamento pelo sacado (Súmula 521-STF).
• Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de fundos (Súmula 244-STJ).
• Caso se trate de “cheque pré-datado”, o  STJ tem entendido que, para efeitos penais,
o cheque perde a sua característica de ordem de pagamento à vista, transformando-se
somente em um instrumento de garantia da dívida, afastando a incidência do tipo pre-
visto no art. 171, VI do CP.
• Para fins cambiais, deve ser considerada não escrita qualquer menção que desnature
a característica de o cheque ser pagável à vista, mesmo que conste data de emissão
posterior ao dia da apresentação (ou seja, o “cheque pré-datado” deve ser pago pela ins-
tituição financeira sacada no momento da sua apresentação).
• No entanto, o STJ tem entendido que a emissão de “cheque pré-datado” encerra, além
da relação cambial, também um contrato entre o emitente e o beneficiário da cártula.
• Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado (Súmula 370-
STJ).
• No entanto, o terceiro de boa-fé – que não tenha participado da pactuação original (pac-
tuação extracartular da pós-datação do cheque) – não será responsabilizado civilmente
caso apresente o cheque antes do prazo (STJ).
• Os prazos de apresentação e de prescrição (arts. 33 e 59 da Lei n. 7.357/85) nos cheques
pós-datados possuem como termo inicial de contagem a data consignada no espaço re-
servado para a emissão da cártula (STJ).
• O protesto de cheque pode ser efetuado após o prazo de apresentação, desde que não es-
coado o lapso prescricional da pretensão executória dirigida contra o emitente (protesto
facultativo) (STJ).
• O protesto do cheque, com apontamento do nome do devedor
principal, é  facultativo e, como o título tem por característica
intrínseca a inafastável relação entre o emitente e a instituição
financeira sacada, é indispensável a prévia apresentação da cártula; não só para que se
possa proceder à execução do título, mas também para se cogitar do protesto (STJ).
• A pretensão executiva do cheque dirigida contra os endossantes deve ser precedida de
protesto realizado dentro do prazo de apresentação (protesto obrigatório) (STJ).
• A duplicata é um título de crédito concebido pelo direito brasileiro, regulado pela Lei
5.474, de 1968 (Lei de Duplicatas).
• Nos termos do art. 25 da Lei de Duplicatas, é aplicada subsidiariamente à duplicata ou
triplicata a “legislação sobre emissão, circulação e pagamento das Letras de Câmbio”
(ou seja, a Lei Uniforme de Genebra (LUG), introduzida no direito pátrio por meio do De-
creto 57.663, de 1966) e no que for cabível (reservas da LUG), o Decreto 2.044, de 1908.

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• A duplicata, assim como a letra de câmbio, também materializa uma ordem de paga-
mento, mas com uma peculiaridade: o aceite é obrigatório (aceite presumido) caso se
comprove que o negócio que lhe deu origem foi cumprido.
• A duplicata caracteriza-se por ser um título causal (e não abstrato, pelo menos na ori-
gem), uma vez que somente poderá ser emitida para documentar negócios jurídicos
previstos em lei: i) Duplicata mercantil: emitida em decorrência de “compra e venda mer-
cantil”; ii) Duplicata de prestação de serviços: emitida em decorrência de prestação de
serviços.
• Ambas podem ser emitidas na forma escritural, conforme previsto no art.  2º da Lei
13.775, de 2018.
• Não se enquadrando o negócio subjacente a essas duas hipóteses, o STJ tem entendido
pela impossibilidade de emissão de duplicata (por exemplo, com base em contrato de
leasing ou locação de bens).
• Em relação à duplicata de prestação de serviços, o art. 20 da Lei de Duplicata não limita
a sua expedição aos empresários, permitindo que não só empresários individuais, em-
presa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) ou sociedades empresárias, mas
também fundações ou sociedades simples emitam duplicatas de prestação de serviço.
• Os seguintes personagens participam das relações jurídicas encetadas a partir da emis-
são da duplicata: i) Sacador/beneficiário (credor): emite a duplicata para que o devedor
pague a ele (o emitente também é o beneficiário) uma determinada quantia em decor-
rência da realização de compra e venda mercantil ou prestação de serviço; ii) Sacado
(devedor): comprador da mercadoria ou destinatário do serviço a quem é dada a ordem
de pagamento em favor do sacador.
• A duplicata mercantil, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a circu-
lação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subjacente,
impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé, como a
ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercadorias (STJ).
• A duplicata, assim como o cheque, é título de modelo vinculado, cuja emissão tem que
seguir padrão estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional.
• Diferentemente da letra de câmbio, a duplicata não pode ser sacada com vencimento a
‘certo tempo de vista’ ou ‘certo termo da data’, devendo ser emitida à vista ou com data
certa do vencimento.
• No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação
como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito
para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador (art. 2º,
caput, da Lei de Duplicata).
• A restrição contida no art.  2º da Lei n. 5.474/68 refere-se apenas à emissão de qual-
quer outro título, que não a duplicata, “para documentar o saque do vendedor pela

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importância faturada ao comprador”, não obstando, todavia, que o devedor emita nota
promissória comprometendo-se a pagar o débito decorrente da compra e venda mercan-
til realizada entre as partes (STJ).
• Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura (art. 2º, § 2º da Lei de
Duplicata).
• A duplicata indicará sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito
a qualquer rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá re-
conhecer como obrigação de pagar.
• Contudo, não se incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das mer-
cadorias feitas pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura
(art. 3º da Lei de Duplicata).
• Embora a assinatura do emitente seja requisito previsto em lei, STJ entende que tal re-
quisito é dispensável na duplicata virtual.
• O aceite como regra é obrigatório na duplicata, salvo se o sacado alegar em declara-
ção por escrito: i) na duplicata mercantil: avaria ou não recebimento das mercadorias,
quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; vícios, defeitos e diferen-
ças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; diver-
gência nos prazos ou nos preços ajustados; ii) na duplicata de prestação de serviços:
divergência nos prazos ou nos preços ajustados; não correspondência com os serviços
efetivamente contratados; vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devi-
damente comprovados.
• O aceite da duplicata poderá ser: i) aceite expresso: realizado no próprio título pelo sa-
cado, tornando-se título perfeito e acabado com o aceitante assumindo a condição de
devedor principal; ii) aceite presumido: quando se comprova que o sacado recebeu a
mercadoria comprada ou que o serviço foi prestado. Para a execução do título o protes-
to será obrigatório, devendo haver a prova da entrega da mercadoria ou da prestação
de serviço; iii) aceite por comunicação: ocorrerá na hipótese prevista no § 1º do art. 7º,
em que, caso haja expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado
retenha a duplicata em seu poder até a data do vencimento.
• Fora o caso do aceite por comunicação, o  STJ entende não ser possível o aceite ser
dado de forma verbal ou documento separado da duplicata.
• A duplicata conterá a “cláusula à ordem”, significando que o título circulará por meio do
endosso.
• A duplicata pode ser garantida por aval, “sendo o avalista equiparado àquele cujo nome
indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar a sua; fora desses ca-
sos, ao comprador”.
• Assim como na letra de câmbio e nota promissória, bem como nos títulos inominados
previstos no CC (art. 900 do CC), na duplicata o aval dado posteriormente ao vencimento
do título produzirá os mesmos efeitos que o prestado anteriormente àquela ocorrência.

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• A duplicata, mesmo sem aceite e desprovida de prova da entrega da mercadoria ou da


prestação do serviço, pode ser executada contra o sacador-endossante e seus garantes
(STJ).
• O comprador poderá resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do venci-
mento (art. 9º da Lei de Duplicata).
• A Lei de Duplicata permite que sejam deduzidos quaisquer créditos a favor do devedor,
desde que devidamente autorizados, bem como reforma ou prorrogação do prazo de
vencimento, mediante declaração em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor
ou endossatário, ou por representante com poderes especiais.
• A duplicata é protestável por falta de aceite, devolução ou pagamento.
• As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título execu-
tivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanha-
do do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços (Enunciado
461 da V Jornada de Direito Civil do CJF).
• O protesto tem que ser tirado em forma regular e dentro do prazo de 30 dias, a contar
do vencimento, para viabilizar a ação cambial contra o sacado (que não aceitou) o di-
reito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas (art. 13, § 4º da Lei de
Duplicata).
• A duplicata sem aceite que não houver sido protestada, mesmo quando acompanhada
de comprovação de realização do negócio jurídico subjacente, não se revela instrumento
hábil a fundamentar a execução contra o sacado (STJ).
• Nos casos de protesto indevido de título ou inscrição irregular em
cadastros de inadimplentes, o  dano moral se configura in re ipsa,
isto é, prescinde de prova, ainda que a prejudicada seja pessoa
jurídica (STJ).
• Na duplicata digital, é possível o protesto sem a apresentação física da duplicata, bas-
tando, para a constituição de título executivo extrajudicial: i) os boletos de cobrança
bancária; ii) os protestos por indicação; e iii) os comprovantes de entrega de mercadoria
ou de prestação de serviços, o que permitiu a execução da denominada duplicata virtual,
sendo dispensada a assinatura do emitente no título (STJ).
• As duplicatas virtuais possuem força executiva, desde que acompanhadas dos instru-
mentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria e da
prestação do serviço (STJ).
• É possível realizar o pedido de falência com base em duplicata ou triplicata sem aceite,
mas protestada para fins de falência, desde que acompanhada da prova da entrega da
mercadoria ou prestação de serviço, por se tratar de título executivo hábil (STJ).
• Com a Lei 13.775, de 2018, a emissão de duplicata sob a forma escritural deve ser feita
“mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por quaisquer das
entidades que exerçam a atividade de escrituração de duplicatas escriturais (art. 3º).

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• Nesse sistema também deverão ser inscritos todos os atos cambiais (aceite, endosso,
aval) e não cambiais (cessão de crédito).
• Tanto a duplicata emitida sob a forma escritural, como o extrato do registro são consi-
derados títulos executivos extrajudiciais (art. 7º da Lei 13.775, de 2018).
• São nulas de pleno direito “cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de
forma direta ou indireta, a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma
cartular ou escritural” (art. 10 da Lei 13.775, de 2018).
• A pretensão à execução da duplicata prescreve: i) contra o sacado e respectivos avalis-
tas: em 3(três) anos, contados da data do vencimento do título; ii) contra endossante e
seus avalistas: em 1 (um) ano, contado da data do protesto; iii) de qualquer dos coobri-
gados contra os demais: em 1 (um) ano, contado da data em que haja sido efetuado o
pagamento do título.
• O não pagamento do título de crédito e a sua higidez (ou seja, não estar prescrito) são
pressupostos para o ajuizamento da ação cambial (ação de execução por quantia cer-
ta).
• Na ação cambial em desfavor do devedor principal, o protesto será facultativo. Já con-
tra o coobrigado/devedor indireto haverá a obrigatoriedade do protesto, que deve ser
tirado no tempo hábil previsto na lei específica do título de crédito, salvo se o título con-
tiver cláusula “sem despesa”.
• O foro competente para a execução do cheque é o local do pagamento – lugar onde se
situa a agência bancária em que o emitente mantém sua conta corrente – sendo irrelevan-
tes os locais de domicílio do autor e do réu (STJ).
• Os títulos de crédito com força executiva podem ser cobrados por meio de processo de
conhecimento, execução ou ação monitória (STJ).
• A ação de enriquecimento ou locupletamento sem causa tem lugar quando não for mais
possível ajuizar a ação cambial (ex., prescrição do título), mas se comprova nexo de
causalidade de enriquecimento do devedor ocasionado pelo empobrecimento do credor.
• Prescrita a pretensão do credor à execução de título de crédito, o endossante e o avalista,
do obrigado principal ou de coobrigado, não respondem pelo pagamento da obrigação,
salvo em caso de locupletamento indevido (Enunciado 69 da II Jornada de Direito Co-
mercial).
• A ação de locupletamento ilícito (art. 61 da Lei n. 7.357/1985) não exige comprovação da
causa debendi e deve ser proposta no prazo de até dois anos contados do fim do prazo
prescricional da execução do cheque (STJ).
• A ação causal é prevista no art. 62 da Lei do Cheque, sendo baseada no negócio jurídico
que deu origem à emissão do cheque.
• A ação de cobrança prevista no artigo 62 da Lei n. 7357/85 está fundamentada na rela-
ção jurídica subjacente ao cheque, sendo imprescindível a comprovação da causa de-
bendi (STJ).

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• A ação monitória é prevista nos arts. 700 a 702 do CPC, sendo cabível no caso de o título
de crédito estar prescrito, na dicção do art. 700, I do CPC, “prova escrita sem eficácia
de título executivo”.
• É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito (Súmula 299-STJ).
• O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força
executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula
(Súmula 503-STJ).
• O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória
sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título (Sú-
mula 504-STJ).
• O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do devedor principal do título de
crédito prescrito é quinquenal nos termos do art. 206, § 5º, I, do Código Civil, independen-
temente da relação jurídica fundamental (STJ).
• Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensá-
vel a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula (Súmula 531-STJ).
• O negócio jurídico subjacente à emissão do cheque pode ser discutido em sede de em-
bargos monitórios (STJ).
• Os juros moratórios decorrentes de dívidas representadas em cheque devem ser fixados
a partir da data da primeira apresentação do título para pagamento, independentemente
da cobrança ter sido buscada por meio de ação monitória (STJ).
• O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de
débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória (Súmula 247-
STJ).
• Os títulos de créditos vinculados ao crédito rural, ao crédito bancário, industrial, comer-
cial e à exportação são considerados pela doutrina como títulos impróprios, uma vez
que não lhes é aplicado integralmente o regime jurídico cambial dos títulos de créditos
propriamente ditos, embora sejam emitidos e circulem com algumas garantias que ca-
racterizem tais papéis.
• Os títulos de créditos impróprios podem ser divididos em: i) Títulos Representativos: a
finalidade precípua é representar a propriedade de mercadoria que se encontra na guar-
da de terceiros, podendo funcionar como títulos de crédito (ex., conhecimento de depó-
sito e warrant); ii) Títulos de Financiamento: são emitidos vinculados a direito creditício
decorrente de financiamento concedido por instituição financeira ou a ela equiparada
ao sacado no título (ex., cédula de crédito rural, cédulas e notas de crédito industrial,
comercial ou destinado à exportação); iii) Títulos de Investimento: são destinados à
obtenção de recursos por seus emitentes no mercado financeiro (ex., certificado de de-
pósito bancário).

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• Todos esses títulos são considerados causais, uma vez que são emitidos baseados em
negócio jurídico específico previsto em lei.
• A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capi-
talização de juros (Súmula 93-STJ).
• A cédula de crédito rural é disciplinada como gênero, estruturando-se como promessa
de pagamento em dinheiro, sem (Nota de Crédito Rural) ou com garantia real cedular-
mente constituída (Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Hipotecária e Cédula Rural
Pignoratícia e Hipotecária).
• A Nota promissória rural pode ser utilizada nas vendas a prazo de bens de natureza
agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas diretamente por produtores rurais ou por
suas cooperativas; nos recebimentos, pelas cooperativas, de produtos da mesma nature-
za entregues pelos seus cooperados, e nas entregas de bens de produção ou de consumo,
feitas pelas cooperativas aos seus associados.
• Duplicata rural: pode ser utilizada nas vendas a prazo de quaisquer bens de natureza
agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas diretamente por produtores rurais ou por
suas cooperativas.
• São aplicáveis à cédula de crédito rural, à nota promissória rural e à duplicata rural, “no
que forem cabíveis, as normas de direito cambial (v.g., a LUG), inclusive quanto a aval,
dispensado porém o protesto para assegurar o direito de regresso contra endossantes
e seus avalistas”.
• É válido o aval prestado por pessoa física nas cédulas de crédito rural, pois a vedação
contida no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei n. 167/67 não alcança o referido título, sendo
aplicável apenas às notas promissórias e duplicatas rurais (STJ).
• Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça,
a impenhorabilidade conferida pelo art.  69 do Decreto-lei n. 167/67
ao bem dado em garantia na cédula de crédito rural não é absoluta,
podendo ser relativizada na hipótese em que não houver risco de esvaziamento da ga-
rantia, tendo em vista o valor do bem ou a preferência do crédito cedular (STJ).
• A cédula de produto rural (CPR) é disciplinada pela Lei 8.929, de 1994, sendo também
um título de crédito causal, representativa de promessa de entrega de produtos rurais
(diferentemente da cédula de crédito rural, em que a promessa é de pagamento em
dinheiro).
• O STJ entende que a CPR é regida pelo princípio da autonomia da vontade, com maior
liberdade no estabelecimento das cláusulas pelos contratantes, diversamente da cédula
de crédito rural (considerado por lei “título civil”).
• Aplicam-se à CPR, no que forem cabíveis, as normas de direito cambial, sendo que, em
relação à CPR emitida sob forma escritural, a transferência de titularidade da cédula pro-
duzirá os mesmos efeitos jurídicos do endosso.

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• Os bens vinculados à cédula rural (CPR) são impenhoráveis em virtude de lei, mais pro-
priamente do interesse público de estimular o crédito agrícola, devendo prevalecer mes-
mo diante de penhora realizada para garantia de créditos trabalhistas (STJ).
• Certificado de Depósito Agropecuário (CDA): é título de crédito representativo de pro-
messa de entrega de produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e resíduos
de valor econômico, depositados no âmbito do sistema de armazenagem dos produtos
agropecuários.
• Warrant Agropecuário (WA): é título de crédito representativo de promessa de pagamen-
to em dinheiro que confere direito de penhor sobre o CDA correspondente, assim como
sobre o produto nele descrito.
• Aplicam-se à CDA e ao WA as normas de direito cambial, quando cabível.
• Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio – CDCA: é título de crédito nomina-
tivo, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e cons-
titui título executivo extrajudicial (art. 24, caput). É de emissão exclusiva de cooperativas
agropecuárias e de outras pessoas jurídicas que exerçam a atividade de comercialização,
beneficiamento ou industrialização de produtos, insumos, máquinas e implementos agrí-
colas, pecuários, florestais, aquícolas e extrativos.
• Letra de Crédito do Agronegócio – LCA: é título de crédito nominativo, de livre negocia-
ção, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo ex-
trajudicial, sendo de emissão exclusiva de instituições financeiras públicas ou privadas.
• A Cédula Imobiliária Rural (CIR), título de crédito nominativo, transferível e de livre nego-
ciação, representativa de: i) promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de opera-
ção de crédito de qualquer modalidade; e ii) obrigação de entregar, em favor do credor,
bem imóvel rural, ou fração deste, vinculado ao patrimônio rural em afetação, e que seja
garantia da operação referida no item i.
• A cédula de crédito bancário, instituída pela Lei 10.931, de 2004, caracteriza-se por ser
título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em favor de instituição financeira
ou de entidade a esta equiparada, representando promessa de pagamento em dinheiro,
decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade, com ou sem garantia, real
ou fidejussória cedularmente constituída.
• A cédula de crédito bancário é título de crédito dotado de força executiva, mesmo quando
representativa de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário em conta-cor-
rente, não sendo a ela aplicável a orientação da Súmula 233 do STJ (Enunciado 41 da I
Jornada de Direito Comercial).
• Certificado de depósito bancário: regulado atualmente pela Lei 13.986, de 2020, é título
de crédito nominativo, transferível e de livre negociação, representativo de promessa de
pagamento, em data futura, do valor depositado junto ao emissor, acrescido da remune-
ração convencionada (art. 30). Somente poderá ser emitido por instituições financeiras
que captem recursos sob a modalidade de depósitos a prazo (art. 31).

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• Letra financeira: instituída pela Lei 12.249, de 2010, é título de crédito nominativo, trans-
ferível e de livre negociação, emitido exclusivamente pela forma escritural por institui-
ções financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do
Brasil.
• Temos também as cédulas (promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real, ce-
dularmente constituída) e as notas (promessa de pagamento em dinheiro, sem garantia
real, cedularmente constituída) de crédito industrial, comercial e destinado à exporta-
ção.

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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2019/
ADAPTADA) Quanto aos títulos de crédito, assinale a alternativa correta.
a) São títulos e crédito causais, a letra de câmbio, a duplicata e a cédula de crédito industrial.
b) O endosso próprio transmite a propriedade do título de crédito e se completa com a assina-
tura do endossante.
c) A obrigação do avalista se mantém, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser
nula, exceto se essa nulidade for decorrente de vício de forma.
d) Uma vez riscado o aceite antes da restituição da letra de câmbio, o sacado se desincumbe
da obrigação, mesmo se tiver comunicado o aceite, por outra forma, a  um dos signatários
do título.

002. (CONSUPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2019) De


acordo com as normas de Direito Cambiário, assinale a opção que NÃO espelha um ato cambial:
a) Saque.
b) Fiança.
c) Intervenção.
d) Aceite parcial.

003. (CESPE/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS/TJ-RR/2013) Acerca de letra


de câmbio e nota promissória, assinale a opção correta.
a) Sendo o aceite da letra de câmbio uma faculdade do sacado, não é necessário que ele
justifique a sua recusa, mas esta produzirá efeitos para o sacador e para o tomador, uma vez
que ocorrerá o vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir do sacador o seu
imediato pagamento.
b) De acordo com o STF, a  letra de câmbio e a nota promissória emitidas ou aceitas com
omissões, ou em branco, não poderão ser completadas pelo credor antes da cobrança ou do
protesto, ainda que de boa-fé.
c) Para promover a execução contra o aceitante da letra de câmbio ou contra o emitente da
nota promissória, bem como contra seus respectivos avalistas, o credor deverá, ainda que pre-
sentes os requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade, promover o protesto da cártula, por se
tratar de uma ação direta, e não de regresso.
d) A letra de câmbio a certo termo da data vence após determinado prazo, que é estipulado
pelo sacador quando da emissão da letra de câmbio e começa a correr a partir do aceite.
e) Por serem aplicáveis às notas promissórias as regras sobre aceite, tais como, prazo de res-
piro e cláusula não aceitável, poderá a nota ser sacada.

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004. (CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2016) Se-


gundo o Decreto n. 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra), são requisitos da nota promissó-
ria, EXCETO:
a) A expressão “nota promissória” e o nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga.
b) A indicação do lugar em que se efetuar o pagamento.
c) A época do pagamento.
d) O aval e aceite do título.

005. (FCC/JUIZ/TJ-RR/2015) João subscreveu uma nota promissória em favor de Paulo.


Além da denominação “nota promissória”, a cártula, devidamente assinada por João, contém
a promessa pura e simples de pagar a Paulo a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a indi-
cação da data em que foi emitida e do lugar onde foi passada, mas não prevê nem a época do
pagamento, nem o lugar onde este deve ser realizado. Nesse caso, a cártula
a) não vale como nota promissória, pois a indicação da época do pagamento é requisito es-
sencial do título.
b) não vale como nota promissória, pois a indicação do lugar onde o pagamento deve ser rea-
lizado é requisito essencial do título.
c) vale como nota promissória, sendo que, à falta de indicação da época do pagamento, con-
sidera-se o título à vista.
d) vale como nota promissória, sendo que, à falta de indicação do lugar do pagamento, consi-
dera-se como tal o domicílio de Paulo, independentemente de onde o título foi passado.
e) vale como nota promissória, sendo que, à falta de indicação da época do pagamento, este
só poderá ser exigido trinta dias após a sua apresentação ao subscritor do título.

006. (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2015) Julgue os próximos itens, relacionados


aos títulos de crédito em espécie.
Perde o atributo da abstração a nota promissória em cujo corpo haja referência ao contrato que
a tenha ensejado, de modo que defesas decorrentes da falta ou falha de execução contratual
poderão ser opostas, pelo sacador, a terceiro de boa-fé a quem tenha sido a nota endossada.

007. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014) No que diz respeito aos títulos de crédito, mais especifica-
mente, aos cheques, assinale a opção correta.
a) A cláusula “não à ordem” impede a circulação do cheque.
b) Por ser o cheque ordem de pagamento à vista, a apresentação antecipada do cheque pré-da-
tado não caracteriza dano moral.
c) O protesto do cheque devolvido por ausência de fundos é condição necessária para o ajui-
zamento da ação cambiária.

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d) Se o cheque for apresentado ao sacado fora do prazo legal de apresentação, torna-se inca-
bível a ação executiva contra o emitente e seus avalistas, mesmo que não prescrita ainda a
ação cambiária.
e) Ao cheque aplicam-se institutos como o protesto, o aval e o endosso; mas não o aceite.

008. (FCC/JUIZ/TJ-CE/2014) Antônio emitiu um cheque nominativo a José contra o Banco


Brasileiro S.A. No mesmo dia, José endossou o cheque a Ricardo, fazendo constar do título
que não garantiria o seu pagamento e que a eficácia do endosso estava subordinada à condi-
ção de que Maria, irmã de Ricardo, lhe pagasse uma dívida que venceria dali a dez (10) dias.
Vinte (20) dias depois da emissão do título e sem que Maria tivesse honrado a dívida para com
José, Ricardo apresentou o cheque para pagamento, mas o título lhe foi devolvido porque João
não mantinha fundos disponíveis em poder do sacado. Nesse caso,
a) Ricardo não poderá endossar o cheque a terceiro, pois o cheque só admite um único endosso.
b) o endosso em preto de cheque nominativo exonera o emitente do título de responsabilidade
pelo seu pagamento.
c) por força de lei, o emitente do cheque deve ter fundos disponíveis em poder do sacado, e a
infração desse preceito prejudica a validade do título como cheque.
d) José responderá perante Ricardo pelo pagamento do cheque, porque se reputa não escrita
cláusula que isente o endossante de responsabilidade pelo pagamento do título.
e) a despeito do inadimplemento de Maria, Ricardo ostenta legitimidade para cobrar o pagamen-
to do título porque se reputa não escrita qualquer condição a que o endosso seja subordinado.

009. (FCC/JUIZ/TJ-AL/2019) Em pagamento de serviços que lhe foram prestados, Antônio


emitiu cheque nominal em favor de Bianca, que o endossou a Carlos, que, por sua vez, o endos-
sou a Débora. Após, Eduardo lançou aval no cheque, porém sem indicar quem seria o avaliza-
do. Nesse caso, de acordo com a Lei do Cheque (Lei n. 7.357/1985),
a) consideram-se avalizados Antônio, Bianca e Carlos.
b) considera-se avalizado Antônio, somente.
c) considera-se avalizado Carlos, somente.
d) considera-se avalizada Bianca, somente.
e) o aval é nulo, pois a indicação do avalizado é requisito essencial de validade.

010. (IESES/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E REGISTRO/TJ-RN/2012/ADAPTADA) So-


bre o protesto, indique a resposta correta.
O protesto de título vencido sempre será efetuado por falta de pagamento, sendo excepcional-
mente possível a recusa justificada da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto
na lei cambial.

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011. (IESES/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E REGISTRO/TJ-RN/2012/ADAPTADA) So-


bre o protesto, indique a resposta correta.
Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e cheques, os saca-
dos nas letras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo apresentante ou credor
como responsáveis pelo cumprimento da obrigação, poderão deixar de figurar no termo de
lavratura e registro de protesto.

012. (CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF-5/2017) Em relação aos títulos de crédito, assinale a op-


ção correta.
a) A duplicata tem prazo prescricional de execução estipulado em seis meses, contados do
pagamento, para os coobrigados exercerem o direito de regresso.
b) A cláusula “sem garantia” pode ser aposta em qualquer fase da circulação do título e proíbe
a realização de endosso a partir do momento de sua introdução no título.
c) A duplicata e o cheque são classificados como causais, e a nota promissória e a letra de
câmbio como não causais.
d) A cláusula “não aceitável” é cabível somente nos títulos de crédito com vencimento a certo
termo de vista.
e) A cláusula “sem despesas” transforma em facultativo o protesto necessário contra quais-
quer devedores.

013. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015) A respeito da atividade empresarial e do estabelecimento co-


mercial, assinale a opção correta.
Se um contrato de compra e venda mercantil for celebrado entre partes domiciliadas no terri-
tório brasileiro, ainda que com prazo não inferior a trinta dias, ao vendedor será facultado ter e
escriturar o livro de registro de duplicatas.

014. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2013) Em relação à duplicata, é correto afirmar:


a) Em seu pagamento não podem ser deduzidos créditos a favor do devedor, ainda que relati-
vos ao mesmo negócio jurídico, tendo em vista sua origem causal.
b) Não admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, uma vez que se trata de tí-
tulo formal.
c) Uma só duplicata pode corresponder a mais de uma fatura, desde que todas correspondam
a dívidas vencidas.
d) Indicará ela sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a qualquer
rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como
obrigação de pagar.
e) O comprador só pode resgatá-la após aceitá-la e a partir de sua data de vencimento.

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GABARITO
1. c
2. b
3. a
4. d
5. c
6. C
7. e
8. e
9. b
10. E
11. E
12. e
13. E
14. d

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GABARITO COMENTADO
001. (CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2019/
ADAPTADA) Quanto aos títulos de crédito, assinale a alternativa correta.
a) São títulos e crédito causais, a letra de câmbio, a duplicata e a cédula de crédito industrial.
b) O endosso próprio transmite a propriedade do título de crédito e se completa com a assina-
tura do endossante.
c) A obrigação do avalista se mantém, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser
nula, exceto se essa nulidade for decorrente de vício de forma.
d) Uma vez riscado o aceite antes da restituição da letra de câmbio, o sacado se desincumbe
da obrigação, mesmo se tiver comunicado o aceite, por outra forma, a  um dos signatários
do título.

É o que dispõe o art. 32 da LUG:

Art. 32. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada.
A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer
razão que não seja um vício de forma.
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a
favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra.
a) Errada. A duplicata e a cédula de crédito industrial são títulos de crédito causais. Contudo,
a letra de câmbio é título de crédito autônomo e abstrato, não derivando de nenhum negócio
jurídico específico, sendo as várias obrigações do título independentes entre si.
b) Errada. Nos termos do art. 910, § 2º do CC, a transferência por endosso se completa com a
tradição (entrega) do título:

Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.
§ 1º Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do
título, é suficiente a simples assinatura do endossante.
§ 2º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.
§ 3º Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente.
d) Errada. Mesmo riscando, se o sacado comunicar o aceite por escrito estará obrigado ao
pagamento da letra de câmbio, nos termos do art. 29, parte final, da LUG:

Art. 29. Se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que tiver dado, tal aceite é consi-
derado como recusado. Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da
restituição da letra.
Letra c.

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002. (CONSUPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2019) De


acordo com as normas de Direito Cambiário, assinale a opção que NÃO espelha um ato cambial:
a) Saque.
b) Fiança.
c) Intervenção.
d) Aceite parcial.

A fiança é contrato tipicamente civil, sendo regulado no Capítulo XVIII do Título IV (Das Várias
Espécies de Contratos) do Código Civil.
a) Certa. Saque é ato típico cambiária de emissão do título de crédito.
c) Certa. A ‘intervenção’ é prevista na LUG (aceite por intervenção e pagamento por interven-
ção, art. 55 e seguintes), em que “o sacador, um endossante ou um avalista, podem indicar
uma pessoa para em caso de necessidade aceitar ou pagar.”
d) Certa. Aceite parcial é ato cambiário vinculado a título de crédito estruturado como ‘ordem
de pagamento’, sendo permitido pela LUG em relação à letra de câmbio.
Letra b.

003. (CESPE/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS/TJ-RR/2013) Acerca de letra


de câmbio e nota promissória, assinale a opção correta.
a) Sendo o aceite da letra de câmbio uma faculdade do sacado, não é necessário que ele
justifique a sua recusa, mas esta produzirá efeitos para o sacador e para o tomador, uma vez
que ocorrerá o vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir do sacador o seu
imediato pagamento.
b) De acordo com o STF, a  letra de câmbio e a nota promissória emitidas ou aceitas com
omissões, ou em branco, não poderão ser completadas pelo credor antes da cobrança ou do
protesto, ainda que de boa-fé.
c) Para promover a execução contra o aceitante da letra de câmbio ou contra o emitente da
nota promissória, bem como contra seus respectivos avalistas, o credor deverá, ainda que pre-
sentes os requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade, promover o protesto da cártula, por se
tratar de uma ação direta, e não de regresso.
d) A letra de câmbio a certo termo da data vence após determinado prazo, que é estipulado
pelo sacador quando da emissão da letra de câmbio e começa a correr a partir do aceite.
e) Por serem aplicáveis às notas promissórias as regras sobre aceite, tais como, prazo de res-
piro e cláusula não aceitável, poderá a nota ser sacada a certo termo da vista.

Nos termos do art. 43 da LUG, o portador (tomador) da letra de câmbio poderá exercer seu
direito de ação contra o sacador e outros no caso de falta de aceite:

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Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sa-
cador e outros coobrigados:
no vencimento;
se o pagamento não foi efetuado;
mesmo antes do vencimento:
1º) se houve recusa total ou parcial de aceite;
(...)
b) Errada. De acordo com o Enunciado 387 do STF, o credor pode completar de boa-fé o título
de crédito:

Súmula 387-STF. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser
completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

c) Errada. Em relação ao devedor direto ou principal, é pacífico na doutrina que não é necessá-
rio o protesto, que somente é obrigatório para o exercício de ação contra os coobrigados ou
devedores indiretos. Confira lição de Marlon Tomazette:

O protesto não é essencial para a cobrança do devedor principal (aceitante e respectivos avalistas),
mas, para os indiretos, sim.
d) Errada. A doutrina entende que na letra de câmbio a certo termo da data (diferentemente
da letra a certo termo de vista) vence após determinado prazo, que é estipulado pelo sacador
quando da emissão da letra de câmbio e começa a correr a partir da data de emissão. Confira
lição de André Santa Cruz:

(...) Já a letra a certo termo da vista é a que vence após um determinado prazo, estipulado pelo sa-
cador quando de sua emissão, que começa a correr a partir da vista (aceite) do título. Pode se pre-
ver, pois, que a letra vence dois meses após o aceite. Por fim, a letra a certo termo da data também
vence após um determinado prazo estipulado pelo sacador, mas que começa a correr não a partir
do aceite, mas a partir da própria emissão (saque) do título. (destaquei).
e) Errada. A nota promissória é promessa de pagamento, diferentemente da letra de câmbio
que é uma ordem de pagamento. Nesse sentido, as regras sobre o aceite não se aplicam à nota
promissória, por não ser cabível tal ato cambiário (aceite). É o que se extrai do art. 77 da LUG:

Art. 77. São aplicáveis às notas promissórias, na parte em que não sejam contrárias à natureza
deste título, as disposições relativas às letras e concernentes: endosso (artigos 11 a 20);
(...)
Letra a.

004. (CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/TJ-MG/2016)


Segundo o Decreto n. 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra), são requisitos da nota promissó-
ria, EXCETO:

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a) A expressão “nota promissória” e o nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga.
b) A indicação do lugar em que se efetuar o pagamento.
c) A época do pagamento.
d) O aval e aceite do título.

O aval é ato cambiário eventual, não sendo cabível aceite em nota promissória.
Todos os demais itens constam no art. 75 da LUG:

Art. 75. A nota promissória contém:


1. denominação “nota promissória” inserta no próprio texto do título e expressa na língua emprega-
da para a redação desse título;
2. a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
3. a época do pagamento;
4. a indicação do lugar em que se efetuar o pagamento;
5. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
6. a indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada;
7. a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).
Letra d.

005. (FCC/JUIZ/TJ-RR/2015) João subscreveu uma nota promissória em favor de Paulo.


Além da denominação “nota promissória”, a cártula, devidamente assinada por João, contém
a promessa pura e simples de pagar a Paulo a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a indi-
cação da data em que foi emitida e do lugar onde foi passada, mas não prevê nem a época do
pagamento, nem o lugar onde este deve ser realizado. Nesse caso, a cártula
a) não vale como nota promissória, pois a indicação da época do pagamento é requisito es-
sencial do título.
b) não vale como nota promissória, pois a indicação do lugar onde o pagamento deve ser rea-
lizado é requisito essencial do título.
c) vale como nota promissória, sendo que, à falta de indicação da época do pagamento, con-
sidera-se o título à vista.
d) vale como nota promissória, sendo que, à falta de indicação do lugar do pagamento, consi-
dera-se como tal o domicílio de Paulo, independentemente de onde o título foi passado.
e) vale como nota promissória, sendo que, à falta de indicação da época do pagamento, este
só poderá ser exigido trinta dias após a sua apresentação ao subscritor do título.

É o que dispõe o art. 76 da LUG:

Art. 76. O título em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito
como nota promissória, salvo nos casos determinados das alíneas seguintes.

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A nota promissória em que se não indique a época do pagamento será considerada à vista.
Na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi passado considera-se como sendo o lugar
do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor (*João) da nota promissória.
A nota promissória que não contenha indicação do lugar onde foi passada considera-se como ten-
do-o sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor.
Letra c.

006. (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2015) Julgue os próximos itens, relacionados


aos títulos de crédito em espécie.
Perde o atributo da abstração a nota promissória em cujo corpo haja referência ao contrato que
a tenha ensejado, de modo que defesas decorrentes da falta ou falha de execução contratual
poderão ser opostas, pelo sacador, a terceiro de boa-fé a quem tenha sido a nota endossada.

Nesse caso, o endossatário terá ciência do vínculo do título com o negócio subjacente, per-
dendo a nota promissória sua autonomia e abstração, com a possibilidade de ser oponível
ao endossatário, embora permaneça presente a exequível o título. Nesse sentido tem enten-
dido o STJ:

JURISPRUDÊNCIA
ASSINATURA. CONTRATO. CAMBIAL.
A falta de assinatura de duas testemunhas no contrato de mútuo não retira da cambial
(no caso, nota promissória emitida em garantia do ajuste) sua eficácia executiva. Anote-
-se que, no plano da validade, não há nada a macular a emissão da nota promissória e que
há o princípio da liberdade quanto à forma a impor que as convenções concluem-se por
simples acordo de vontades (art. 107 do CC/2002). Só excepcionalmente se exige instru-
mento escrito como requisito de validade do contrato (arts. 108 e 541 do CC/2002) e se
mostra ainda mais rara a exigência de subscrição de duas testemunhas (arts. 215, § 5º,
e 1.525, III, do mesmo código). Em decorrência disso, o contrato escrito, quase sempre,
cumpre apenas o papel de prova da celebração do ajuste. Então, a falta de assinatura
das testemunhas somente retira dele a eficácia de título executivo (art. 585, II, do CPC),
e não a prova quanto ao ajuste de vontades. Se válido o contrato, também o é a nota
promissória que o garante. Por sua vez, a invocação da Súm. n. 258-STJ não se mostra
pertinente na hipótese, pois se está diante de contrato celebrado por valor fixo, de modo
que o consentimento do devedor abrange todos os elementos da obrigação, quanto mais
se a cártula foi emitida no valor previamente consignado no instrumento. Daí a nota ser
apta a aparelhar a execução, mesmo não havendo a assinatura das testemunhas no con-
trato. [STJ, REsp 999.577-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, TERCEIRA TURMA, julgado em
4/3/2010 – Informativo 425, de 1º a 5º de março de 2010]

Certo.

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007. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014) No que diz respeito aos títulos de crédito, mais especifica-
mente, aos cheques, assinale a opção correta.
a) A cláusula “não à ordem” impede a circulação do cheque.
b) Por ser o cheque ordem de pagamento à vista, a apresentação antecipada do cheque pré-da-
tado não caracteriza dano moral.
c) O protesto do cheque devolvido por ausência de fundos é condição necessária para o ajui-
zamento da ação cambiária.
d) Se o cheque for apresentado ao sacado fora do prazo legal de apresentação, torna-se inca-
bível a ação executiva contra o emitente e seus avalistas, mesmo que não prescrita ainda a
ação cambiária.
e) Ao cheque aplicam-se institutos como o protesto, o aval e o endosso; mas não o aceite.

O protesto, o aval e o endosso são previstos e permitidos pela Lei do Cheque. Já o aceite é
expressamente vedado:

Art.  6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração com esse
sentido.
a) Errada. A cláusula “não à ordem” não impede a circulação do cheque, mas confere a essa
transmissão o efeito de “cessão” de créditos:

Art. 17. O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’ à ordem’’, é transmis-
sível por via de endosso.
§ 1º O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente, só é
transmissível pela forma e com os efeitos de cessão.
(...)
b) Errada. O STJ tem entendido que a emissão de “cheque pré-datado” encerra, além da rela-
ção cambial, um contrato entre o emitente e o beneficiário, que impede (entre tais partes) que
o título seja apresentado antes do prazo combinado. Por conta disso, o STJ editou a Súmu-
la 370, prevendo a possibilidade de ressarcimento por dano moral quando tal “contrato” não
é cumprido:

Súmula 370-STJ. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-da-


tado.

c) Errada. Em relação ao emitente e seus avalistas (devedores principais), o protesto é faculta-


tivo, nos termos do art. 47, I da Lei do Cheque e jurisprudência do STJ:

JURISPRUDÊNCIA
(...)

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1. As teses a serem firmadas, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art.  543-C do
CPC/1973), são as seguintes: a) a pactuação da pós-datação de cheque, para que seja
hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a
data de emissão estampada no campo específico da cártula; b) sempre será possível,
no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque, com a indicação do
emitente como devedor.
2. No caso concreto, recurso especial parcialmente provido.
Informações Complementares à Ementa
(...) “[...] o protesto do cheque, com apontamento do nome do devedor principal, é facul-
tativo e, como o título tem por característica intrínseca a inafastável relação entre o emi-
tente e a instituição financeira sacada, é indispensável a prévia apresentação da cártula;
não só para que se possa proceder à execução do título, mas também para se cogitar do
protesto [...]”.
(...) [STJ, Tese julgada sob o rito do art. 1.036 do CPC/2015 – Tema 945]

d) Errada. Em relação ao emitente e seus avalistas (devedores principais), pode ser promovida
execução cambial pelo prazo de 6 meses, a contar da expiração do prazo de apresentação,
consoante Súmula 600 do STF:

Súmula 600-STF. Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambi-
ária.

Letra e.

008. (FCC/JUIZ/TJ-CE/2014) Antônio emitiu um cheque nominativo a José contra o Banco


Brasileiro S.A. No mesmo dia, José endossou o cheque a Ricardo, fazendo constar do título
que não garantiria o seu pagamento e que a eficácia do endosso estava subordinada à condi-
ção de que Maria, irmã de Ricardo, lhe pagasse uma dívida que venceria dali a dez (10) dias.
Vinte (20) dias depois da emissão do título e sem que Maria tivesse honrado a dívida para com
José, Ricardo apresentou o cheque para pagamento, mas o título lhe foi devolvido porque João
não mantinha fundos disponíveis em poder do sacado. Nesse caso,
a) Ricardo não poderá endossar o cheque a terceiro, pois o cheque só admite um único endosso.
b) o endosso em preto de cheque nominativo exonera o emitente do título de responsabilidade
pelo seu pagamento.
c) por força de lei, o emitente do cheque deve ter fundos disponíveis em poder do sacado, e a
infração desse preceito prejudica a validade do título como cheque.
d) José responderá perante Ricardo pelo pagamento do cheque, porque se reputa não escrita
cláusula que isente o endossante de responsabilidade pelo pagamento do título.

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e) a despeito do inadimplemento de Maria, Ricardo ostenta legitimidade para cobrar o pagamen-


to do título porque se reputa não escrita qualquer condição a que o endosso seja subordinado.

É o que dispõe o art. 18, caput, da Lei do Cheque:

Art. 18. O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não escrita qualquer condição a que seja
subordinado.
a) Errada. Atualmente não há limitação legal ao número de endossos.
b) Errada. Como regra, a Lei do Cheque estabelece que o endossante garante o pagamento:

Art. 21. Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.


c) Errada. O art. 4º da Lei do Cheque prevê o inverso:

Art. 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles
emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica
a validade do título como cheque.
d) Errada. O  art.  21 da Lei do Cheque permite que o endossante não garanta o pagamento
do cheque:

Art. 21. Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.


Letra e.

009. (FCC/JUIZ/TJ-AL/2019) Em pagamento de serviços que lhe foram prestados, Antônio


emitiu cheque nominal em favor de Bianca, que o endossou a Carlos, que, por sua vez, o endos-
sou a Débora. Após, Eduardo lançou aval no cheque, porém sem indicar quem seria o avaliza-
do. Nesse caso, de acordo com a Lei do Cheque (Lei n. 7.357/1985),
a) consideram-se avalizados Antônio, Bianca e Carlos.
b) considera-se avalizado Antônio, somente.
c) considera-se avalizado Carlos, somente.
d) considera-se avalizada Bianca, somente.
e) o aval é nulo, pois a indicação do avalizado é requisito essencial de validade.

Nos termos do art. 30, parágrafo único, na falta de indicação presume-se que o emitente foi
avalizado:

Art. 30. O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por
aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da sim-
ples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do
emitente.

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Parágrafo único. O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o
emitente. (negritei).
Letra b.

010. (IESES/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E REGISTRO/TJ-RN/2012/ADAPTADA) So-


bre o protesto, indique a resposta correta.
O protesto de título vencido sempre será efetuado por falta de pagamento, sendo excepcional-
mente possível a recusa justificada da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto
na lei cambial.

Nos termos do art. 21, §2º da Lei 9.492, de 1997, é vedada a recusa da lavratura e registro do
protesto por motivo não previsto na lei cambial.

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.


(...)
§ 2º Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento, vedada a recusa
da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial.
Errado.

011. (IESES/TITULAR DE SERVIÇO DE NOTAS E REGISTRO/TJ-RN/2012/ADAPTADA) So-


bre o protesto, indique a resposta correta.
Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e cheques, os saca-
dos nas letras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo apresentante ou credor
como responsáveis pelo cumprimento da obrigação, poderão deixar de figurar no termo de
lavratura e registro de protesto.

Consoante o art. 21, §4º da Lei 9.492, de 1997, tais pessoas não poderão deixar de figurar no
termo de lavratura e registro de protesto:

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.


(...)
§ 4º Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e cheques, os saca-
dos nas letras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo apresentante ou credor como
responsáveis pelo cumprimento da obrigação, não poderão deixar de figurar no termo de lavratura
e registro de protesto.
Errado.

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012. (CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF-5/2017) Em relação aos títulos de crédito, assinale a op-


ção correta.
a) A duplicata tem prazo prescricional de execução estipulado em seis meses, contados do
pagamento, para os coobrigados exercerem o direito de regresso.
b) A cláusula “sem garantia” pode ser aposta em qualquer fase da circulação do título e proíbe
a realização de endosso a partir do momento de sua introdução no título.
c) A duplicata e o cheque são classificados como causais, e a nota promissória e a letra de
câmbio como não causais.
d) A cláusula “não aceitável” é cabível somente nos títulos de crédito com vencimento a certo
termo de vista.
e) A cláusula “sem despesas” transforma em facultativo o protesto necessário contra quais-
quer devedores.

A cláusula “sem despesas”, permitida nos títulos próprios (o art. 890 do CC proíbe para os tí-
tulos inominados), dispensa a necessidade de protesto para a execução dos coobrigados ou
devedores indiretos do título (lembre-se: em relação ao devedor principal e seu avalista não é
necessário o protesto para ajuizar a ação cambial). Confira o teor do art. 46 da LUG:

Art. 46. O sacador, um endossante ou um avalista pode, pela cláusula “sem despesas”, “sem protes-
to”, ou outra cláusula equivalente, dispensar o portador de fazer um protesto por falta de aceite ou
falta de pagamento, para poder exercer os seus direitos de ação.
a) Errada. A ação para exercício do direito de regresso prescreve em 1(um) ano, nos termos do
art. 18, III da Lei de Duplicata:

Art. 18. A pretensão à execução da duplicata prescreve:


I – contra o sacado e respectivos avalistas, em 3(três) anos, contados da data do vencimento do
título;
II – contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto;
III – de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 (um) ano, contado da data em que haja
sido efetuado o pagamento do título.
b) Errada. A cláusula “sem garantia” apenas exonera o endossante da garantia de pagamento
do título, não proibindo a circulação do título por meio do endosso (ou seja, não se confunde
com a proibição de novo endosso). Confira exemplificativamente o art. 15 da LUG:

Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamen-
to da letra.
O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a
quem a letra for posteriormente endossada.
c) Errada. Somente a duplicata é considerada título causal.

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d) Errada. É proibida inserir a cláusula “não aceitável” em títulos de crédito com vencimento a
certo termo de vista, pelo fato de o vencimento depender do ato do aceite. Confira o disposto
no art. 22 da LUG:

Art. 22. O sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será apresentada ao aceite, com ou
sem fixação de prazo.
Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar de uma letra pagável
em domicílio de terceiro, ou de uma letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado,
ou de uma letra sacada a certo termo de vista.
(...) (negritei).
Letra e.

013. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015) A respeito da atividade empresarial e do estabelecimento co-


mercial, assinale a opção correta.
Se um contrato de compra e venda mercantil for celebrado entre partes domiciliadas no terri-
tório brasileiro, ainda que com prazo não inferior a trinta dias, ao vendedor será facultado ter e
escriturar o livro de registro de duplicatas.

Quanto à duplicata mercantil, no caso de o contrato de compra e venda mercantil ser entre
partes domiciliadas no Brasil com prazo não inferior a 30 dias (contado da data da entrega
ou despacho da mercadoria), o vendedor deve extrair a respectiva fatura ou nota fiscal-fatura
(documento comprobatório do negócio jurídico), da qual poderá ser extraída duplicata (art. 1º
e 2º da Lei de Duplicata).
Nos termos do art. 19 da Lei de Duplicata, “a adoção do regime de vendas de que trata o art. 2º
desta Lei obriga o vendedor a ter e a escriturar o Livro de Registro de Duplicatas.”
Errado.

014. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2013) Em relação à duplicata, é correto afirmar:


a) Em seu pagamento não podem ser deduzidos créditos a favor do devedor, ainda que relati-
vos ao mesmo negócio jurídico, tendo em vista sua origem causal.
b) Não admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, uma vez que se trata de tí-
tulo formal.
c) Uma só duplicata pode corresponder a mais de uma fatura, desde que todas correspondam
a dívidas vencidas.
d) Indicará ela sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a qualquer
rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como
obrigação de pagar.
e) O comprador só pode resgatá-la após aceitá-la e a partir de sua data de vencimento.

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É o que preceitua o art. 3º, caput, da Lei de Duplicata:

Art. 3º A duplicata indicará sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a
qualquer rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como
obrigação de pagar.
a) Errada. O 10 da Lei de Duplicata permite a dedução de créditos, desde que autorizada:

Art. 10. No pagamento da duplicata poderão ser deduzidos quaisquer créditos a favor do devedor
resultantes de devolução de mercadorias, diferenças de preço, enganos, verificados, pagamentos
por conta e outros motivos assemelhados, desde que devidamente autorizados.
b) Errada. O art. 11 da Lei de Duplicata admite reforma ou prorrogação, desde que haja anuên-
cia do vendedor, endossatário e demais coobrigados:

Art. 11. A duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, mediante declaração


em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com
poderes especiais.
Parágrafo único. A reforma ou prorrogação de que trata este artigo, para manter a coobrigação dos
demais intervenientes por endosso ou aval, requer a anuência expressa destes.
c) Errada. O § 2º do art. 2º da Lei de Duplicata veda:

Art. 2º (...)
§ 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura.
e) Errada. O art. 9º, caput, da Lei de Duplicata autoriza:

Art. 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento.
Letra d.

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REFERÊNCIAS
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 10
ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 1. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

COMETTI, Marcelo Tadeu. Manual de Direito Empresarial. 2 ed. Jus Podivm: 2020.

CRUZ, André Santa. Direito empresarial. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito, vol. 3. 10 ed. São Paulo:
Atlas, 2018.

MARTINS, Fran. Curso de Direito comercial. 40 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

MENDONÇA. José Xavier Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. Atualizado por
Ricardo Negrão. Campinas: Bookseller, 2000.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 24 ed. São Paulo, 2000.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: títulos de crédito, vol. 2. 9ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.

Tácio Muzzi
Delegado de Polícia Federal. Doutor e mestre em Direito Empresarial pela Universidade Federal de Minas
Gerais. É professor da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro e da Academia Nacional de
Polícia. Atualmente, é superintendente regional da Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro. Foi diretor-
geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e diretor-adjunto do Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Chefiou a Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da Superintendência Regional da
Polícia Federal no Rio de Janeiro, coordenou o Grupo de Trabalho da Lava-Jato no RJ e comandou diversas
operações especiais de repressão a corrupção, crimes financeiros, lavagem de dinheiro e criminalidade
organizada. Foi procurador do Banco Central do Brasil de 2000 a 2003.

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