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   O Familiar organiza sua vida ao redor do dependente, tentando controlar ou


manejar os comportamentos e problemas do usuário. Tenta esconder o problema de
outros membros da família que moram na mesma casa. Este segredo não deve ser
mantido. O problema deve ser encarado e confrontado de forma clara, transparente e
objetiva.
Não há qualquer problema em querer ¨ajudar¨ um membro da família ou amigo
em dificuldades, enfrentando as mais variadas situações adversas. O comportamento
de ¨ajuda¨ deve ser constantemente estimulado, tendo em vista a sociedade
individualista em que nós vivemos. No entanto, ¨Ajudar¨ requer SABER como
¨Ajudar¨. As pessoas insistem em ¨ajudar¨ através de formas erradas, acabando por
afetar negativamente ou fomentando ainda mais o uso de drogas, por desconhecer as
formas de ¨ajuda¨ engajam-se de forma errada num processo de cura que apenas
potencializará um processo devastador e cada vez mais patológico da doença dele e
da sua.
O consumo da droga é um problema que não envolve apenas o uso desta ou
daquela substância, o ¨uso¨ pode ser até uma questão secundária, o problema é
mais profundo e está ligado à sua personalidade, a sua essência interior. O fato de
consumir a droga o faz reagir a questões mais profundas, as atitudes, ao seu caráter,
as suas frustrações, seus medos. O Adicto apenas reage à droga, ela não cria
atitudes.
 Existem muitos outros fatores que levam a esta compulsão, a esta doença:
fatores íntimos, sociais, culturas, pessoais, interpessoais, educacionais, patológicos.
Questões comportamentais que são inerentes de seu Eu, são complexos, fracassos,
fobias. O usuário não é aquilo que se mostra a nossa frente porque faz uso de drogas.
A droga é apenas o escape, a forma de aumentar, liberar característica de sua
individualidade, de sua índole.  Nesta liberação ele se permitirá ser, realizar, ter
atitudes que sem seu uso da droga, sem seu apoio a coragem de realizar, ser ou ter
não existirá. 
O Familiar erra quando faz comparações do usuário com outras pessoas que são
tidas como ¨modelos de comportamentos¨ ou de ¨seres humanos¨.  Este paralelo
serve apenas de confronto e não traz qualquer benefício para mudanças de
comportamentos. Apenas aumentará a irritabilidade, as diferenças, as distâncias já
existentes entre vocês, a aversão mútua será quantificada cada novo
desentendimento. 
A adoção de uma postura baseada em brigas constantes, críticas severas, castigos,
ameaças existentes quando o Familiar descobre que uma pessoa faz uso de
substâncias obsessivas, compulsivas não o impedirá de continuar usando.  Apenas
fará com que o usuário esconda os fatos da família, as falsidades imperem, aumente
o grau de agressões e mais desculpas sejam criadas e necessárias para seu uso
continuo. O usuário nega sua dependência sempre e vai usar de todas as justificativas
para perdoar seu hábito, sua síndrome. Os culpados serão sempre fatores externos,
nunca internos.  
Existe um processo natural do Familiar de Negação também, aonde fingem que
não existe nada de errado, continuam a fornecer dinheiro, financiando de alguma
forma o usuário, o consumo da droga e sua dependência da pessoa, num processo,
chamado de Facilitação. Aonde permissões são concedidas como:  o uso de
substâncias dentro da própria casa, porque é mais seguro do que usar na rua ou com
os amigos. Se junta a este processo a Manipulação que é numa tentativa de Controle
de seu vício. Esta Negação, Facilitação, Manipulação são artimanhas que trarão um
resultado extremamente destrutivo a ambos.
O Familiar precisa de orientação. Não reconhece os problemas advindos do uso
inadequado das drogas, o que estes estão causando em suas vidas, o que já causou
no seu passado, a causa no seu presente e o que poderá causar no futuro. O que
vemos é o passado perdido, o presente perdido, o futuro perdido. Apenas ¨perdas¨
fazem parte de mim agora, de nós.  
 As tragédias que tanto o Familiar tem medo estão sendo descritas a cada
momento. Basta para isto ele olhar para o comportamento cada dia mais dominador,
agressivo que suas relações se tornaram.  As batalhas travadas em nome do Poder
estão se tornando mais e mais abusivas, destrutivas e as consequências mais
devastadoras. 
  O Familiar do dependente infelizmente comporta-se de maneira que, direta ou
indiretamente, apoiando, facilitando ou perpetuando o uso de drogas por seu Adicto.
Consciente ou inconscientemente recusam-se a confrontar ou, até mesmo,
reconhecer que o problema existe, que ele não tem solução através de seu
intermédio, que ¨ele¨ não tem força para ¨parar¨, ¨sanar¨, curar esta ¨loucura¨.
Recusa-se a acreditar que ele é portador ou desenvolveu uma doença progressiva,
destrutiva, tão poderosa quanto à dependência química dele. Ele precisa de ajuda e a
nega a todo instante, prefere infernizar o outro a procurar curar seu inferno interior.
O Familiar não suporta tamanha descoberta de seus lados mais indefesos,
impotentes, fracos, covardes, desonestos e repulsivos de seu caráter.  Então, é
melhor continuar a olhar para o dependente, do que ter que admitir que é mais
compulsivo, obsessivo e que suas, minhas, nossas drogas causam muito mais
dependências do que as dele. A droga dele permite seu desprender da realidade, a
minha droga impõe a dura realidade da minha vida. A doença da adição no outro dá
ao outro Prazer no seu uso, à doença da adição no Familiar, em mim, leva este ao
desespero total.   

O Familiar desenvolve comportamentos destrutivos como:

a) Minimização – O Familiar ignora, racionaliza ou tenta explicar o uso de drogas,


atribuindo-o a uma fase passageira, já que ¨muitas pessoas usam drogas hoje
em dia¨, ¨ou¨ ¨ele (o usuário) está passando por uma fase difícil e a droga lhe
dá algum alívio¨, ¨ou¨ ele teve uma vida difícil, com vários traumas. Ele
precisa melhorar de vida antes de conseguir parar de usar drogas¨. São nossos
¨Ou¨, desculpas para não encarar verdades.

b) Controle – tentar controlar ou manipular o uso de drogas pelo dependente;


fazer barganhas com o dependente, propondo prêmios, trocas. As mentiras, as
chantagens passaram a ser uma constante nas relações, o ¨ jogo do poder¨ se
fortalece.  O Familiar propõe ao usuário ¨consumir apenas um baseado por
dia¨, ¨ou¨ ¨usar somente à noite, antes de dormir¨ ¨ou¨ ¨usar aos finais de
semana apenas¨. Tudo isto é tentar governar o que não tem governo. 

c) Proteção inadequada – tentar proteger o usuário das consequências


negativas do uso. Desculpando o usuário, negando a responsabilidade do
mesmo pelos seus próprios atos. Proteção acaba com limites.

d) Assumir responsabilidades do usuário – pagar contas do usuário,


desempenhar as tarefas domésticas atribuídas ao membro familiar dependente,
sem cobrá-lo; defendendo-o de problemas externos e assumindo a
responsabilidade e consequências por eles.

e) Conluio – ajudar o usuário a obter as drogas, já que ¨ele sente falta e pode
passar muito mal sem elas ¨ou¨ ficar violento sem o uso delas¨. Faço parte do
processo. Impeço seu envolvimento com traficantes, polícia, com os
perigos. Passando a ser seu fornecedor de tudo.  
Desligamento Emocional

Esta é umas das Ferramentas mais importantes e mais difíceis de entendermos e aplicarmos
na nossa Recuperação.
Nos ¨Desligarmos Emocionalmente¨ do nosso Adicto é nos permitir despir de todos os nossos
preconceitos, pré-conceitos que fomos anexando ao nosso modo de pensar e viver e que
foram se enraizando dentro de nós.
Desligarmos é nos permitir ter limites, é permitir termos liberdade, termos direito, sermos
felizes, pois, agora temos opções, temos escolhas e não mais obrigações somente.
É compreendermos, é termos compaixão, é sabermos que a nossa felicidade agora não
depende de terceiros, do bem-estar do Adicto, do bem-estar do patrão, do vizinho. Esta
felicidade agora está sobre nosso Controle, em nossas mãos.
Quando ¨Desligo-me Emocionalmente¨ do meu Adicto coloco seu problema como sendo seu,
somente seu e permito analisar as minhas atitudes de forma mais clara, racional, pura.
Desligando-me do meu emocional passo a colocar na minha vida um novo lema, ¨Pensar¨.
Foco meu Adicto agora com um olhar que me permite ver tudo que está a minha volta, com
uma nova concepção, um novo horizonte. Vendo-o agora como portador de uma doença e
não mais como um pobre coitado ou um ser cheio de falhas de caráter, desonesto, imoral,
amoral.
Com o Desligamento Emocional sentimentos negativos como Raiva, Frustrações, Auto
piedade, Controle desaparecem e fica em mim a certeza de que não sou mais responsável
pelo adicto, que não tenho culpa por sua doença e não tenho o poder de curar sua insanidade
e que preciso apenas agora procurar a minha ¨Sanidade¨ e a ¨Recuperação¨ da minha
doença. Para que quando meu Adicto solicite a minha ajuda, eu possa saber julgar se minhas
atitudes não são facilitadoras ou uma forma de manipulação minha ou dele.
Começo a dar a mim oportunidades para minha recuperação e a permitir que o outro tenha
chance para sua recuperação, pois, agora eu deixo que o outro dirija a sua própria vida, que
seja responsável por ela e que saiba que arcará com as consequências das suas atitudes.
Ao me ¨Desligar Emocionalmente¨ passo a ter ¨Serenidade, Coragem e Sabedoria¨.
Desligar-me é conseguir o verdadeiro Amor por si e pelo ou outro.
Desligar-me é encontrar a liberdade.
Desligar-me é exercer o Amor verdadeiro, o ¨Amor incondicional¨.
Amar é não impor condições para este Amor. Amar é opção, é escolha sem me preocupar se
é preto ou branco, se é feio ou bonito, se gostam ou não gostam, se cheira ou se fuma.
Desligar-me é dar aos outros a liberdade de se responsabilizarem por si.
O familiar do ¨Adicto¨ tem uma grande dificuldade em compreender este conceito, pois,
ainda tem o conceito de que tem o ¨Poder¨ pelo outro.
¨Desligar-me Emocionalmente¨ do Adicto não é deixar de se importar com ele, não é deixá-lo
de amá-lo, nem é ser cruel, mas sim, exercer o verdadeiro Amor.
É verdadeiramente ¨Ajudar¨, pois agora, exercito o ¨Viva e Deixe Viver¨, tendo o outro a
¨Liberdade¨ de escolha e de assumir seu lugar neste mundo, aprendendo com os erros e
fortalecendo-se com os acertos.
Desligar-me do Adicto é vê-lo não como ¨Príncipe¨ e nem como um ¨Sapo¨ de um conto de
fadas, mas sim, ver o outro como um ser humano cheio de qualidades e contradições assim
como eu também sou.
É vermos nele, no outro o nosso próprio reflexo de simples seres humanos que somos.
É retirar o foco do Adicto e colocarmos em nós, é ver as nossas ¨adicções¨, nossas
deficiências, nossos complexos, erros e compreender que acima de tudo temos o direito e a
escolha de sermos feliz.
É ver o meu ¨EU¨ para que eu não julgue mais o ¨EU¨ do outro.
Desligar-me é me desprender, é desatar nós, é soltar minhas asas para que junto com outro;
se ele assim o quiser; aprendamos a voar; juntos ou não; mas aprendamos.
Facilitação é uma Ferramenta de ¨Ajuda¨ irresponsável que praticamos como forma de diminuir as consequências
da Adicção deles e as dores causadas por elas em nós. Nossa insegurança, dúvida, falta de fé, nossa própria
arrogância faz-nos colocar sobre nós à obrigação de sermos donos da sua Recuperação.
Ao Facilitar a vida do meu Adicto tento diminuir seu sofrimento, na esperança de que abrandando a desordem o
faça ver o quanto de mal ele esta fazendo a si e aos que o rodeiam. Esqueço eu, que a Adicção os leva a
insanidade, a perda da razão, conceitos de moral, conceitos de ética, respeito, não fazem mais parte da sua
doença. Na vida deles agora só existe confusão, instabilidade, insanidade, abusos, desonestidade, manipulações,
mentiras, falsidade.
Ao Facilitar e ser co-dependende deles potencializo em mim os mesmos sintomas da sua doença e os mesmos
conceitos.
Facilitação faz parte da minha fraqueza de caráter.
Este processo de ¨Ajuda¨ faz com que não permitamos que nossos adictos adquiram maturidade e que nós
também não adquiramos. Impedimos seu crescimento como seres humanos, sua independência para que
construam suas próprias vidas.
Por educação e cultura somos levados a acreditar que facilitar é uma forma de Amar o outro. Facilitação faz parte
da nossa natureza, achamos que amar é assumir responsabilidades, fazer do impossível o possível, é não possuir
regras, nem limites.
Partilhamos suas vidas, vivenciamos suas dores, nas horas de prazer somos banidos de seu meio, nas horas de
apuros somo lembrados como salvadores. Esta Facilitação impede que seus caminhos sejam traçados por quem
realmente é de direito. Por nos colocarmos como sábios, mentores, deuses e eles incapazes, imaturos, fracos, nós
determinamos, controlamos seus passos não permitindo a eles a liberdade de arcarem com suas verdades, com
suas insanidades, com sua vida. Esquecemos que só aprendemos com desacertos, falhando reconhecemos
valores, sofrendo aprendemos a encontrar a nossa felicidade.
A sua doença os leva a usar sentimentos de amor, medo, culpa, frustrações, sonhos, responsabilidade como forma
de nos dominar e tornarmos desesperados, mantendo assim, o Poder sobre nós. Passamos a não medir
conseqüências por atos, não medimos perigos, esforços, tornamo-nos escravos deles e para eles.
Nossos Adictos sabem que somos Facilitadores e que isto faz parte da nossa natureza humana, se aproveitando
deste conhecimento manipulam os nossos atos para que estejamos sempre presos aos seus anseios e sonhos.
Deixando de viver suas vidas, passam a viver em prol do que facilitamos para suas vidas.
Este comportamento compulsivo nos torna prisioneiros de vontades alheias, perdemos individualidade e direitos.
Passamos termos apenas deveres para com eles. Somos humilhados, violentados em todos os sentidos
fisicamente e emocionalmente. Somos peças prontas a serem acionadas quando da sua necessidade, não
importando nossas vontades, nosso amor, carinho, compaixão, sofrimento ou vontade. Colocando-se sempre
numa situação confortável de vítima sabem exatamente à hora em que irão ter a sua disposição todas as
Ferramentas de auxilio e estas Ferramentas somos nós.
¨Meu Adicto¨ esta com sua vida esta fora de controle, porém, não fora do controle da minha vida. Imploro, choro,
chantageio, suborno, violento, uso de todas as Ferramentas num processo insano de ¨ajuda¨. Este processo de
¨ajuda¨ gera em mim sentimentos de ódio, de intolerância, tristezas, mágoa, ressentimento, por saber que a
¨ajuda¨ que dei hoje não trará melhorias na sua vida nem na minha, muito pelo contrário, sei que será apenas
um remédio paliativo para ambos, até que uma nova tensão, uma nova crise apareça. E novamente lá estarei Eu
pronto para facilitá-lo.
Na Facilitação herdo a sua vida e vivo todas as minhas 24h servindo aos seus caprichos. Anulando-me como ser
vivo. Sendo um instrumento somente a espera de ser acionada num novo conflito que certamente virá..
Minha compulsão em Facilitar só aumenta mais a sua doença e a minha. A minha proteção ao Adicto retira dele a
obrigação por seu Eu.
Preciso aprende que para Amar meu adicto preciso me Desligar do seu Controle e deixar de ser uma peça de
Facilitação. Ao deixar de ¨Facilitar¨ ou como gosto de dizer ¨Ajudar¨, admito que ele sinta agora as dores da sua
insanidade, que assuma suas decisões e assim quem sabe sentindo todos os males que ele causa a si, possa ele,
então procurar uma ¨Recuperação¨ ou a ¨Ajuda¨ para sua Vida.
Preciso aprender a deixar que ele assuma as conseqüências de suas ações, minhas dúvidas e medos devem ser
deixados de lado, preciso deixá-lo Viver a sua Vida, as causas do que acontecer serão a partir de agora suas
causas e não mais de minha responsabilidade ou de minha culpa.
Tenho que hoje Viver a minha vida, deixando de ser Facilitador, o outro tem seu livre pensar, suas opções de
caminhar. Ao deixar de ser Facilitador percebo que posso andar de mãos dadas com ele ¨ajudando-o de verdade¨,
sem limitar seu caminhar nem ultrapassar meus limites. Juntos poderemos aprender que agora temos a faculdade
de atravessarmos pela vida cada um com seu próprio passar e quem sabe juntos se Eu, Ele e Deus assim o quiser

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