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2.ª Aula
O direito tributário ou direito fiscal (vamos utilizar estas duas designações como
sinónimas) trata das normas que visam a obtenção de receitas coativas e unilaterais, que são os
impostos, ou bilaterais, que são as taxas.
Numa perspetiva mais ampla, tendo em conta a estrutura da uma relação jurídica,
diremos que o direito tributário é o conjunto de normas que regula a constituição, modificação
e extinção das relações jurídicas tributárias estabelecidas entre as entidades públicas com
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Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed., Coimbra: Editora
Almedina, 2018. p. 10 e 11.
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poderes tributários (especialmente o Estado, mas não só…) e os sujeitos passivos, e inclui as
normas referentes à constituição da obrigação tributária (incidência, taxa e benefícios fiscais),
bem como à liquidação e à cobrança dos tributos.
Na verdade, o sistema tributário é, entre nós, mais amplo do que o sistema fiscal. Nos
termos da lei, existem três tipos básicos de tributos: os impostos, as taxas e as contribuições
financeiras (art. 3.º, n.º 2, da LGT). Quando se fala em sistema fiscal tem-se em vista apenas
o sistema de impostos, sem incluir as taxas ou quaisquer outros tributos.2
Art. 103.º da CP: “1. O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades
financeiras do Estado e outras entidades públicas e uma repartição
justa dos rendimentos e da riqueza. 2. Os impostos são criados por lei,
que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as
garantias dos contribuintes. 3. Ninguém pode ser obrigado a pagar
impostos que não hajam sido criados nos termos da Constituição, que
tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não
façam nos termos da lei.”
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Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed., Coimbra: Editora
Almedina, 2018. p. 10.
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Assim, nos termos da CRP, as despesas públicas devem, em princípio, ser financiadas
via fiscal. Para além disso, o legislador constituinte confia no potencial redistributivo dos
impostos, donde resulta que o legislador ordinário deve assegurar que o sistema fiscal é apto a
reduzir as desigualdades sociais.3
OS IMPOSTOS
CONCEITO
Nos termos do art. 3.º, n.º 2, da LGT, os impostos são uma das espécies de tributos, a
par com as raxas e as demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas.
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Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed., Coimbra: Editora
Almedina, 2018. p. 11.
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Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Curso de Direito Tributário, 2.ª ed., Coimbra: Coimbra
Editora, 2012.
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O art. 4.º da LGT estabelece que “1 - Os impostos assentam essencialmente na
capacidade contributiva, revelada, nos termos da lei, através do rendimento ou da sua utilização
e do património.”
ELEMENTOS DO IMPOSTO
São traços fundamenais da figura do imposto como receita tributária: (1) haver uma
obrigação legal que tem por objeto uma prestação patrimonial; (2) ser uma receita definitiva;
(3) ser uma receita unilateral.5
Ou seja, imposto pode apresentar três elementos: i) Elemento objetivo; ii) Elemento
subjetivo; iii) Elemento teleológico.
i) Elementos objetivos
1.º Elemento objetivo » uma prestação patrimonial ou pecuniária. O que isso quer
dizer?
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Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed., Coimbra: Editora
Almedina, 2018. p. 11.
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Uma prestação significa que uma pessoa faz algo a favor de outra: neste caso essa
prestação corresponde a uma entrega de dinheiro (pecunia). Essa entrega é obrigatória,
nos termos e nos prazos das diversas normas relativas aos impostos (ou seja, por
exemplo, o CIRS ou CIRC); corresponde, portanto, ao conteúdo de um vínculo
obrigacional (constitui uma obrigação jurídica, nos termos do artigo 397.º do Código
Civil) entre um devedor (sujeito passivo da obrigação) e um credor (sujeito ativo da
obrigação).
Por outras palavras, por força desse vínculo obrigacional de origem legal, o devedor
(normalmente o contribuinte) tem que prestar ao credor (normalmente o Estado) a
quantia correspondente ao imposto.
Alerte-se, desde já, para o facto de, ao lado da obrigação fiscal principal (pagamento do
imposto) existirem muitas outras obrigações fiscais secundárias ou acessórias (entregar
a declaração periódica, possuir contabilidade organizada, prestar informações, efetuar
retenções de imposto, etc.). Por isso se diz, como iremos estudar mais à frente, que a
obrigação tributária é complexa quer porque não se trata apenas de pagar o imposto,
quer porque, como veremos, não é só o contribuinte que tem obrigações perante as
finanças.
Leia-se, a este propósito, o artigo 40.º da LGT: «as prestações tributárias são pagas em
moeda corrente ou por cheque, débito em conta, transferência conta a conta e vale postal
ou por outros meios utilizados pelos serviços dos correios ou pelas instituições de
crédito que a lei expressamente autorize».
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É, no entanto, possível, excecionalmente, o cumprimento da obrigação tributária através
de dação em cumprimento (entrega de bens no valor da dívida, artigo 847.º do CC) quer
quando esse pagamento é obtido de forma coativa, através de um processo executivo
(artigo 201.º do CPPT), quer quando é voluntário.
Não se pode pagar o imposto prestando um serviço, como é o caso do serviço militar
obrigatório ou do serviço cívico, ou cedendo bens que em certas circunstâncias podem
ser exigidos aos particulares, como acontece na requisição administrativa ou na
expropriação por utilidade pública (estas distinguem-se ainda dos impostos por darem
lugar a uma indemnização).
2.ª Elemento objetivo » prestação definitiva – é definitiva porque o “pagador” não tem
direito a qualquer reembolso ou restituição do imposto devido.
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3.ª Elemento objetivo » prestação coativa. Uma prestação coativa, ou seja, é imposta
por lei (artigo 36.º LGT) e ao seu incumprimento corresponde uma sanção, ainda que o
facto ou situação tributada dependam da vontade do contribuinte (por exemplo: comprar
ou não um automóvel, pagando, consequentemente o Imposto sobre o Valor
Acrescentado (IVA) e o Imposto sobre Veículos (ISV); exercer ou não uma atividade
empresarial, pagando IRS ou IRC, são opções dos contribuintes mas que, uma vez
tomadas, originam, necessariamente, obrigatoriamente, o dever de pagar imposto).
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5.º Elemento objetivo » prestação estabelecida por lei - o imposto é estabelecido por
lei. É o que estabelece o art. 36, n.ºs 1 e 2 da LGT: “1 - A relação jurídica tributária
constitui-se com o facto tributário. 2 - Os elementos essenciais da relação jurídica
tributária não podem ser alterados por vontade das partes.”
É o que dispõe o art. 103 da CRP: “Artigo 103.º (Sistema fiscal) O sistema fiscal
visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras entidades
públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza. Os impostos são
criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as
garantias dos contribuintes. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que
não hajam sido criados nos termos da Constituição, que tenham natureza
retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei”.
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É o que prevê, também, o art. 4.º da LGT: “1 - Os impostos assentam
essencialmente na capacidade contributiva, revelada, nos termos da lei, através
do rendimento ou da sua utilização e do património.”
2.º Elemento subjetivo » a prestação deverá ser a favor de entidades que exerçam
funções ou tarefas públicas.
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missão o financiamento de tarefas públicas muito especiais (interesses
peculiares aos membros das referidas associações), são financiadas pelos
chamados impostos especiais (“impostos associativos”).
Além disso, como refere o art. 103, n.º 1, da CRP: “o sistema fiscal visa a
satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras entidades públicas e
uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza”.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed.,
Coimbra: Editora Almedina, 2018. p. 9-13.
Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Curso de Direito Tributário, 2.ª ed.,
Coimbra: Coimbra Editora, 2012. p. 7-13.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
José Casalta Nabais, Direito Fiscal, 7.ª Edição. Coimbra: Editora Almedina. p. 29-90.
Américo Fernando Brás Carlos, Impostos – Teoria Geral, 3.ª Edição. Coimbra: Editora
Almedina. p. 25-64.
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J.L. Saldanha Sanches, Manual de Direito Fiscal, 2ª Edição. Coimbra: Coimbra Editora. p. 9-
30.
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