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Brazilian Journal of Health Review 4498

ISSN: 2595-6825

Analise das técnicas de extração de vítimas na restrição de movimentos da


coluna

Analysis of victim extraction techniques in spinal motion restriction


DOI:10.34119/bjhrv6n2-002

Recebimento dos originais: 02/02/2023


Aceitação para publicação: 01/03/2023

Ednei Fernando dos Santos


Doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL)
Instituição: Escola de Educação Física da Policia Militar do Estado de São Paulo
Endereço: Rua Cisplatina, 1522, Vila Vioria, Santo Andre - SP
E-mail: edneifernando81@gmail.com

Myrna Marques Lopes


Mestranda em Neurointensivismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN)
Instituição: Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASELVI), Universidade Paulista
(UNIP)
Endereço: Rua Poços de Caldas, 1875, Natal - RN
E-mail: myrnaakm23@hotmail.com

Marcelo Donizeti Silva


Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP)
Instituição: Escola de Educação Física da Policia Militar do Estado de São Paulo
Endereço: Avenida Cruzeiro do Sul, 548, São Paulo - SP
E-mail. marcelods@alumni.usp.br

RESUMO
O objetivo do presente estudo é comparar a técnica de extração rápida e o emprego do
dispositivo kendrick device extrication durante os processos de extração veicular realizados
pelas equipes de emergências. Método: Trata-se de um estudo com análise biomecânica
exploratória de movimento da coluna durante diferentes técnicas de extração veicular em 26
voluntários, saudáveis, de ambos os sexos, com estatura e peso variados, inseridos dentro de
um veículo e que foram separados para a coleta de forma aleatória. Resultados: O tempo de
extração foi significativamente menor usando a técnica de extração rápida para todos os
voluntarios (vítimas). Os ângulos de giros da cabeça foram ligeiramentes maiores usando
extração rápida, exceto nos voluntários obesos e de grandes estaturas. Conclusão: Concluímos
que a escolha da técnica de extração está diretamente associada com a condição da vítima pós
acidente e que as equipes de atendimento pré-hospitalares devem estar preparadas para
realizarem a escolha correta da técnica de extração para cada vítima, e não empregar um padrão
corriqueiro, engessado e desatualizado, pois cada paciente apresenta sua individualidade
biológica, anatomica, clínica e lesiva.

Palavras-chave: acidente de trânsito, Traumatismos da Coluna Vertebral, serviços médicos de


emergência.

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ABSTRACT
The objective of this study is to compare the rapid extraction technique and the use of the
kendrick device extrication during vehicle extraction processes performed by emergency teams.
Method: This is a study with exploratory biomechanical analysis of spine motion during
different vehicular extraction techniques in 26 healthy volunteers, of both sexes, with varied
height and weight, inserted inside a vehicle and that were randomly separated for collection.
Results: Extraction time was significantly shorter using the rapid extraction technique for all
volunteers (victims). Head rotation angles were slightly larger using rapid extraction, except
for obese and large volunteers. Conclusion: We conclude that the choice of extraction technique
is directly associated with the post-accident victim's condition, and that pre-hospital care teams
should be prepared to make the correct choice of extraction technique for each victim, and not
to employ a common, outdated, casted standard, because each patient presents his or her
biological, anatomical, clinical, and injury individuality.

Keywords: emergency medical services, accidents traffic, Spinal Injuries.

1 INTRODUÇÃO
Os sinistros de trânsitos, termo adotado conforme NBR 10697/2020, substituindo
acidente de trânsito (ABNT, 2020), estão entre as principais causas de grandes traumas e morte
para vítimas de todas as idades. Mais de 1,35 milhão de vidas são perdidas por sinistros de
(I,II)
trânsito todos os anos no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde . Os
serviços de emergências de atendimento pré-hospitalar e salvamento são os principais
responsáveis pela prestação do socorro inicial. Dentre os procedimentos realizados pelas
equipes de socorro, temos a extração de vítimas, também conhecida como técnicas de retirada
de vítimas de dentro do veículo. (I, II)
O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) caracteriza-se pelo cuidado prestado à vítima,
sendo composto por uma sequência de etapas que visam minimizar novos danos e possíveis
agravamentos. Consiste na assistência a vítimas em situações de emergência fora do ambiente
hospitalar, sendo essencial para garantir a sobrevida do paciente e pode ser utilizada em diversas
situações de desastres, acidentes, traumas, entre outros eventos adversos. (III, IV)
Após um sinistro de trânsito, até 40% das vítimas podem ficar presas entre as estruturas
dos veículos, tendo maior probabilidade de morte do que vítimas não presas. E os métodos de
extração estão focados na prevenção de lesões raquimedulares secundárias através da
minimização e mitigação dos movimentos da coluna. Essas condutas podem ser demoradas e as
vítimas podem ter condições clínicas graves ou mesmo agravadas pela tomada de decisão não
acertiva.(III) Mesmo sendo evidenciado que a frequência de lesões na medula espinhal é baixa,
representando <0,7% de todos os pacientes liberados.

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Nos EUA, um estudo analisou quase um milhão de pacientes que chegaram ao


departamento de medicina de emergência com suspeita de lesão de coluna, desses, apenas 2-3%
dos pacientes realmente apresentavam lesões na coluna vertebral, e a maioria sendo lesões estáveis
e poucas lesões instáveis.(V, VI)
No entanto, deixar de tratar uma lesão que mais tarde cause deficiência está entre os
maiores receios e preocupações dos profissionais de atendimento pré-hospitalar. Os pacientes
presos às ferragens são mais propensos a terem lesões críticas que exigem grandes intervenções.
É sabido que melhores estratégias de extrações devem ser estudadas, desenvolvidas e baseadas
em evidências, e que permitam o manejo acertivo de outras lesões que apresentem riscos à vida.
(IV,V)

As vítimas de sinistro de trânsito podem ser classificadas quanto ao seu tipo de


aprisionamento no interior do veículo, em (1) encarceramento mecânico, (2) tipo físico I e (3) tipo
físico II. No encarceramento mecânico, geralmente são acidente leves e que embora a vítima possa
não apresentar lesões ou então apresente lesões leves, está impossibilitada de sair do veículo por
meios próprios devido aos mecanismos que a bloqueiam. No tipo físico I, a cinemática do trauma
é considerável, geralmente as lesões que a vítima apresenta são mais graves, não está presa entre
as ferragens, mas não pode sair por si só, pois as lesões precisam ser tratadas e requerem a criação
de espaços adicionais para a extração segura. Já no tipo físico II, a cinemática do trauma
geralmente é de alto grau de impacto, a vítima se apresenta com estruturas do veículo
comprimindo ou penetrando seu corpo, o que no passado chamávamos de vítima presa às
ferragens. (VIII)
Durante a etapa de avaliação inicial da vítima, o profissional de emergência deve análisar
o mecanismo do trauma e sua relação com o potencial lesivo que a vítima pode apresentar,
sangramentos, obstrução de vias aéreas, alterações dos padrões respiratórios e hemodinâmicos,
possíveis déficits neurológicos, alterações sensoriais, motoras, dor na coluna e outros sinais de
lesão(III), tudo isso com o objetivo de estabelecer as tomadas de decisões acertivas e prioritárias
na escolha da técnica e equipamentos adequados. Todo processo de avaliação inicial da vítima
permite às equipes de socorro estabelecerem a condição clínica em que esse acidentado se
encontra, o que chamamos de status clínico. Assim as vítimas podem ser classificadas em críticas,
instáveis e estáveis. (VI, IX, X)
As vítimas críticas são aquelas que estão envolvidas em cenários de risco imediato com
fogo, produtos perigosos, enchentes, entre outros riscos potenciais, ou mesmo vítimas que estão
em parada cardiorrespiratória ou asfixia postural por capotamento. Vítimas instáveis são aquelas
que apresentam instabilidade em alguma etapa da avaliação primária, principalmente instabilidade

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hemodinâmica e que não possam ser ali solucionadas e estabilizadas pelos profissionais no local
do acidente, necessitando de intervenções medico-hospitalares, cirúrgicas ou de alta
complexidade. As vítimas estáveis são aquelas que se apresentam sem alterações dos padrões
clínicos de avaliação ou que tenham seus padrões clínicos estabilizados por condutas de
atendimento pré-hospitalar realizadas no local. (VIII)
Assim, os tipos e métodos de extrações veicular estão diretamente associados com o
cenário de ocorrência, classificação atual, estado clínico e tipos de lesões pós-trauma que as
vítimas apresentem. É de suma importância que as equipes de socorro façam essas classificações
e estabeleçam o tipo de extração, sendo classificada em imediata, rápida e/ou controlada. (VIII, X)
A extração imediata pode ser empregada quando o critério para tomada de decisão prioriza
a manutenção da vida como beneficio maior, mesmo que haja outras lesões. (VIII, IX)
Em situações que necessitam de reanimação da vítima ou configurado o perigo externo
agudo para vítimas e equipe de resgate, a pegada do socorrista pode ser utilizada e não se deve
perder tempo padronizando técnicas que busquem priorizar a estabilização da coluna nesse
cenário, haja vista a magnitude dos riscos e condições das vítimas. (X)
A extração rápida está relacionada aos casos de pacientes clinicamente instáveis e que
precisam ser extraídos de forma rápida com emprego de restrição minimalista da coluna e pelo
acesso mais fácil que o veículo permitir. Já o emprego do kendrick device extrication (KED) é
utilizado em pacientes estáveis com necessidade de extração controlada e que não se enquadrem
nas limitações do próprio equipamento. (IX, XIII)
As abordagens tradicionais de extração foram recentemente contestadas por evidências
que demonstram a relativa raridade de lesão medular instável ou lesão medular em comparação
com outras lesões de tempo crítico. (IV, IX, XIII)
Além disso, estudos biomecânicos em voluntários saudáveis demonstraram com mais
detalhes que algumas técnicas de extração causam mais movimentos do que outras. (IV, XIII)
A restrição de movimentos da coluna pré-hospitalar como técnica de prevenção de lesões
neurológicas secundárias é um princípio fundamental e que deve ser adequadamente empregado
no atendimento de emergência. (V, XIV, XII, IV)

2 MÉTODOS
Trata-se de um estudo randomizado controlado de análise biomecânica exploratória de
movimento da coluna durante emprego de técnicas de extração veicular. Esta pesquisa foi
desenvolvida como parte de um projeto de investigação de técnicas de atendimento pré-hospitalar
para vítimas de acidentes, pautado no respeito pela dignidade humana e especial atenção à

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proteção dos participantes da pesquisa. Este estudo está de acordo com o preconizado pela
Resolução 466 de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), foi previamente submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa da UNIAN/SP e somente iniciado após aprovação do referido comitê
com número do parecer 32787814.0.0000.5493, contando com o apoio e suporte de grandes
laboratórios de biomecânica e análise do movimento humano em São Paulo.
A amostra foi dividida em dois grupos: um grupo de 26 voluntários, saudáveis, de ambos
os sexos, com estatura e peso variados, sem conhecimento de atendimento pré-hospitalar,
inseridos dentro de um veículo, na posição de conductor (Figura 1),simulando o papel de
vítimas de sinistro de trânsito; o segundo grupo, composto por 30 equipes, com 3 integrantes,
todos profissionais de atendimento pré-hospitalar, variando em nível de suporte básico e/ou
avançado, de serviços e instituições variadas, com mais de cinco anos de experiência prática,
com idade, peso e altura variados e de ambos os sexos.
No primeiro grupo de voluntários (vítimas), foi aplicada uma subdivisão de ensaio
randomizado controlado, na qual foram recrutados 13 voluntários, sendo divididos em dois
subgrupos A e B, com variações entre idade, peso, altura e sexo. O grupo A composto por 13
voluntários e o grupo B com 13 voluntários. O passo seguinte foi, por meio da randomização,
escolher quais intervenções cada participante receberia. O grupo A (n=13): integrantes receberam
extração rápida com colar cervical do tamanho adequado aos seus padrões anatômicos e prancha
longa, e no segundo momento foram extraídos com colar cervical, KED e prancha longa. Grupo
B (n = 13): primeiro foram extraídos com colar cervical, KED e prancha longa, no segundo
momento com colar cervical e prancha longa (extração rápida). Esse processo de escolha das
intervenções foi realizado através de sorteio ao invés de selecionar pelas características da amostra
ou preferência dos participantes. Após a aplicação das intervenções, as variáveis foram analisadas
estatisticamente. Todos os voluntários foram extraídos uma vez em cada técnica (extração rápida
e com KED) por todas as equipes. Os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre
eEsclarecido, de acordo com o preconizado pela Resolução 466 de 2012 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS) e foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIAN e
somente iniciado após aprovação do referido comitê.
O movimento da coluna cervical foi medido usando um rastreador de movimento humano
por sensores de cinemetria sem fio, doze câmeras com infravermelho de análise do movimento
tridimensional (Cortex, Motion Analysis Corporation, Califórnia, EUA) para coleta e marcadores
anatômicos reflexivos. Também foram usados sensores de inércia sem fio para medir a aceleração
(acelerômetros) e velocidade angular (giroscópios) da coluna vertebral(XV) durante os diversos
momentos da extração. Nossos desfechos primários de análise foram: movimentação da cabeça,

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tempo de extração, conforto do paciente por meio de uma escala analógica visual e análise da
restrição do movimento de colunapor sistema de captura do movimento em 3D (Spica), baseado
em vídeo. A altura e o peso de cada participante foram registrados antes de serem equipados com
a Unidade de Medição Inercial (UMI) (Xsens Awinda; Xsens Technologies BV, Enschede,
Holanda).
Os sensores de acelerômetro e giroscópio foram fixados à cabeça usando uma faixa de
cabeça. Os sensores de cinemetria foram posicionados na linha clavicular, linha mentoniana, linha
zigomática e linha frontal (Figura 2). Os dados de orientação foram coletados de cada sensor por
meio de um link wi-fi e amostrados a uma taxa de 40 Hz.

Figura 1. Posição inicial de extração

Figura 2. Marcadores de Cinemetria

A Unidade de Medição Inercial mede diretamente as orientações segmentares a partir


das quais os movimentos relativos podem ser calculados e relatados, assumindo que as rotações
relativas das vértebras adjacentes na região cervical e lombar são constantes. As excursões
máximas (movimento de uma linha média hipotética) foram calculadas para o movimento
Antero/Posterior (AP) e lateral (Lat) da coluna cervical e lombar, respectivamente. Além de
relatar as excursões máximas (o maior movimento individual), relatamos o total cumulativo de
todos os movimentos ao longo das extrações. O tempo necessário para a extração também é

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considerado como uma métrica orientada e importante para a vítima. O tempo para a conclusão
de cada experimento foi, portanto, também registrado com cronômetro digital (80 Lap, da
LiveUp Sports), iniciando quando a equipe de aph se declarava pronta para começar e
terminando quando a vítima estava totalmente extraída do veículo e sobre a maca retrátil. Os
dados foram capturados e analisados usando a interface do software Biomechanics of Bodies
(BoB Biomechanics Ltd., Bromsgrove, UK) antes de serem exportados para Excel (Microsoft
v. 20.0) e SPSS (IBM v. 29) para análise e relatórios adicionais. Maiores movimentos totais,
desvio-padrão e intervalos de confiança são relatados para cada tipo de extração. Os valores de
P foram calculados usando um teste t bicaudal comparando cada método de extração com o tipo
de extração padrão atual.

3 RESULTADOS
A Tabela 1 mostra a estatística resumida dos resultados bem como os valores p para
detectar diferenças entre os resultados sob as duas técnicas.
O tempo foi significativamente diferente (menor) usando ER. Na verdade, não houve
sobreposição nos tempos exigidos pelo KED e ER (tempo mínimo de KED foi ainda maior que o
máximo tempo de ER). No entanto, o ângulo de movimentação da cervical foi significativamente
maior ao usar Extração Rápida. Já para movimentação da coluna toracolombar, o KED gerou
movimentação significativamente maior quando comparado à extração rápida. O peso e a altura
dos voluntários modificaram significamente o efeito de KED versus ER nos ângulos de
movimentação durante a passagem da vítima para a prancha longa. O peso e a altura também
modificaram significativamente a questão subjetiva sobre movimento, dor e desconforto, pois
vítimas mais pesadas e com alta estatura foram associadas à movimentação, dor e desconforto
maiores em todos os pontos analisados.

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Tabela 1: Estatísticas resumidas para variáveis de resultado usando o KED versus Extração Rápida (ER) em 26
indivíduos, bem como o valor de p para detectar diferenças com base em um teste t pareado.
Variável Técnica Média (DP) Mínimo Mediana Máximo Valor de p
Teste t pareado
Tempo (minutos) KED 6.63 (1.29) 5.13 6.35 11.43 <0.0001
ER 0.74 (0.26) 0.45 0.63 3.25 -

Movimentação da região KED 25.9 (11.5) 3 20 45 0.0025


cervical

ER 26.2 (13.0) 3 20 50 -

Movimentação da região KED 26.9 (13.8) 3.0 25.0 55.0 0.045


toracolombar
ER 21.1(12.7) 3 20 50 -

Dor KED 4.1 (8.0) 0 0 25.0 0.82


ER 3.6 (10.0) 0 0 4.0 -

Desconforto KED 25.7 (25.5) 0 20.0 70.0 0.11


ER 16.5 (21.7) 0 10.0 65.0 -

Movimentação KED 32.3 (31.8) 0 20.0 100.0 0.041


ER 19.9 (26.4) 0 10.0 95.0 -

(KED), Dispositivo de Extração conhecido como Colete Imobilizador Dorsal; (ER) Extração Rápida.

Tabela 2: Valores P da análise de regressão testando efeitos significativos pela idade, peso, sexo e altura como
modificadores do efeito do uso KED versus ER.
Efeito modificado pelas variáveis
Variável Idade Peso Sexo Altura
Tempo 0.74 0.88 0.97 0.82
Movimentação da região 0.77 0.89 0.75 0.81
cervical

Movimentação da região 0.23 0.41 0.38 0.76


toracolombar
Dor 0.90 0.40 0.41 0.71
Desconforto 0.83 0.98 0.17 0.47
Movimentação 0.11 0.011 0.36 0.56
(KED), Dispositivo de Extração conhecido como Colete Imobilizador Dorsal; (ER) Extração Rápida

4 DISCUSSÃO
Importante salientar que todos os voluntários estavam saudáveis, totalmente conscientes e
não haviam experimentado nenhum tipo de sinistro de trânsito, pois a aplicabilidade desses
resultados à população pós-colisão precisa de uma consideração cuidadosa. Foi possivel observar
que os tempos de extração são significativamente mais curtos usando Extração Rápida versus
KED. Isso é um achado importante, pois a extração de uma vítima de um veículo é uma questão
demorada e pode colocar a vítima e a equipe em perigo devido a situações clínicas e ambientais.
Houve uma diferença minimamente notável na rotação da cabeça com Extração Rápida
versus KED. Ainda é observada em nosso estudo uma associação positiva com aumento do peso

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e alta estatura, com maior movimento da cabeça e tronco para o KED. Da mesma forma que foi
observada movimentação significamente importante da região toracolombar com emprego de
KED, o que pode ser fato determinante para evitar o emprego do dispositivo em vítimas de sinistro
e que apresentem suspeita ou dor na linha média da coluna, principalmente da região média-baixa
da coluna.
Os participantes perceberam uma tendência a um maior desconforto da mecânica
ventilatória na escala analógica com o KED versus ER, principalmente em obesos. As vítimas
mais pesadas também perceberam mais movimentos do que vítimas menos pesadas no uso do
KED, o que foi estatisticamente significante. Ambos os grupos de vítimas perceberam maior
movimentação com a colocação do KED quando comparada com Extração Rápida.
Em uma era de uso crescente das práticas baseadas em evidências (PBL), todas as
intervenções que comumente fazemos com base em relatos precisam ser questionadas e tornam-
se necessários mais estudos e comparações entre as prinicipais técnicas de extração veicular.

5 CONCLUSÃO
Concluímos que a escolha da técnica de extração está diretamente associada com a
condição da vítima pós-sinistro de trânsito e que as equipes de atendimento pré-hospitalar devem
estar preparadas para realizarem a escolha correta da técnica de extração para cada vítima, e não
empregar um padrão corriqueiro, engessado e desatualizado, pois cada paciente apresenta sua
individualidade biológica, anatômica, clínica e lesiva.
Com base em nossos achados, recomendamos que a utilidade do KED seja revista pelos
serviços de emergência como técnica preferencial para extração de vítimas de sinistro de trânsito,
pois seu tempo, desconforto e excesso de movimentos podem prejudicar a condição clínica, lesiva
e de extração das vítimas. A técnica de extração rápida até o presente momento é a mais indicada
para vítimas clinicamente instáveis.
Este estudo fornece ainda evidências que o uso do KED em vítimas obesas e com altas
estaturas não proporciona os beneficios esperados, gerando falsa sensação de restrição de
movimentos da coluna e desconforto respiratório. Finalmente, existem preocupações adicionais
em relação ao possível aumento do risco de movimento da coluna em vítimas obesas e com
altas estaturas durante o processo de extração veicular.

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