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Há uma coisa mais importante do que as mais belas descobertas: é o conhecimento do método pelo qual

elas são feitas. GW.v Leibniz (1646-1716)

O termo Geologia vem do grego Geo, que quer dizer Terra e Logos que significa palavra, pensamento,
ciência. No sentido que lhe damos atualmente, o termo Geologia foi usado pela primeira vez pelo
naturalista Ulisse Aldrovandi (1522-1605),em uma publicação de 1648. O primeiro livro de mineralogia
(parte da Geologia que estuda os minerais), escrito em português, foi “Tábuas Mineralógicas” de autoria
do professor Manuel José Barjona (1758-1831), da Universidade de Coimbra, Portugal.

A Geologia é uma ciência histórica. Ela estuda fenômenos que não se repetem, únicos em cada tempo,
resultantes de processos próprios das rochas (como as suas alterações pelas variações climáticas, ou o
seu desgaste pelos rios, geleiras, etc.), que são regidos por leis físicas e químicas.

As ciências geológicas certamente se originaram das civilizações mais antigas que sofriam os efeitos de
terremotos, observavam as atividades dos vulcões, contemplavam o trabalho incessante das ondas e das
correntes, e sem dúvida sentiam-se curiosos pela explicação de tudo aquilo que viam. Observavam,
igualmente, as conchas marinhas no alto das montanhas, os minerais de formas regulares e geométricas,
e assim as explicações foram aos poucos se avolumando e, com elas, os problemas da Terra em que
vivemos.

MARCOS NA HISTÓRIA DA GEOLOGIA

O primeiro marco na História da Geologia é o filosofo grego Tales de Mileto (624/625-556/558 a.C)
nascido na cidade homônima da Ásia Menor, atual Turquia. A partir das suas observações do trabalho
dos rios Meandro (atual Meanderes) e Nilo, ele concluiu que “a água podia modificar a face da
Terra”. Assim, Tales expressou uma das leis fundamentais da Geologia!
No ano 79 da Era Cristã, o Vesúvio, vulcão situado próximo à cidade de Nápoles (Itália), entrou em
erupção soterrando as cidades de Pompéia e Herculano. Nesta erupção o naturalista Plínio, o Velho
(33AD-79AD), faleceu sufocado pelas cinzas do vulcão. O seu sobrinho Plínio, o Moço, vinte e cinco anos
após a erupção, em duas cartas dirigidas ao historiador Tácito, narrou detalhadamente os eventos,
tornando-se assim o primeiro vulcanologista da História. As erupções do tipo da ocorrida no Vesúvio, por
essa razão são chamadas Plinianas.

Outro marco importante na Historia da Geologia foi a publicação em 1556 do livro ‘ “De Re Metallica”
(Sobre a Natureza dos Metais) de autoria de Georgius Agrícola (1494-1555)”. O livro é voltado ao estudo
da mineração e este livro, juntamente com “ “De Natura Fossilium” dedicado ao estudo dos minerais,
levaram Agricola a ser considerado como o Pai da Mineralogia.

Nicolaus Steno (1638-1686),dinamarquês, viajou muitos anos pela Europa (França, Itália, Países Baixos).
Nos seus estudos científicos, ao invés de se basear apenas nos autores antigos, confiava nas suas
observações, mesmo quando estas contrariavam as doutrinas tradicionais. Em Geologia os seus estudos
abrangeram a Mineralogia e a Paleontologia (estudo das fosseis=animais extintos). Além disso, Steno
enunciou três princípios básicos da Estratigrafia (estudo do empilhamento das camadas de rocha): Lei
da Sobreposição de Estratos e os princípios da Horizontalidade Original e Continuidade Lateral.

O primeiro marco sobre o aspecto prático da geologia foi cravado por William Smith (1769-1839). Ele era
agrimensor e trabalhou muitos anos na construção de canais em varias regiões da Grã Bretanha. Nesta
tarefa teve oportunidade de observar as diversas camadas geológicas (estratos) e os fósseis associados
a elas. Para isto ele tomou milhares de anotações e traçou mapas de campo, mostrando a posição de
cada camada e seus fósseis. Seus estudos levaram-no a deduzir que “cada estrato contém fosseis
organizados que lhe são peculiares”.A partir dessa dedução ele conseguiu correlacionar camadas
afastadas entre si muitos quilômetros. Finalmente, ele publicou o seu mapa geológico preliminar em 1801
e, em 1815, foram publicadas três edições do mapa geológico final de Smith; ele mede 2,50 x 2,00, com
os diversos estratos coloridos à mão em 20 cores. William Smith foi o primeiro homem que colocou a
Geologia a serviço da humanidade e o seu mapa – o mapa que mudou o mundo-atualmente é exibido
no centro de Londres, na Burlington House, sede da Geological Society of London.

Um marco mais recente na historia da Geologia foi cravado apenas no inicio do século XX, embora tenha
sido especulado desde longa data: a Deriva Continental! A idéia da união da África e a América do Sul
no passado vem desde a época dos primeiros ensaios cartográficos, representando as costas desses
dois continentes. O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) já havia apresentado esta hipótese no
século XVII. Mas uma teoria da Deriva dos Continentes apoiada em conhecimento
geológicos,paleontológicas, paleoclimáticos e outros, só foram proposta no inicio do século XX,
independentemente pelo geólogo americano Frank B. Taylor (1860-1939) em 1910, e pelo meteorologista
alemão Alfred L. Wegener (1880-1930) em 1912. De acordo com Wegener os continentes atuais teriam
se originado da fragmentação de um continente primitivo denominado Pangéia. Os fragmentos resultantes
teriam se afastado uns dos outros desde o Jurássico ou Cretáceo (cerca de 200-150 milhões de anos
atrás), derivando no manto oceânico até as posições atuais. A Deriva Continentalé uma conseqüência
lógica da Tectônica de Placas, conceito que emergiu na década de 60 do século XX.

Os elementos essenciais da Tectônica de Placas são:

- A superfície da terra é dividida em cerca de 12 placas principais e outras menores;

- Os limites entre as placas podem ser construtivos, destrutivos e transcorrentes; no primeiro caso, as
placas aumentam de tamanho; no segundo caso, diminuem e, no terceiro, as dimensões ficam
inalteradas;

- As placas podem abranger tanto terrenos continentais como oceânicos (fundo dos mares);

O Brasil está situado na Placa Sul Americana, cuja metade leste é oceânica e a metade oeste,
continental. Seus limites são: a leste, a Cadeia Meso Atlântica (limite construtivo); a oeste, a Cordilheira
dos Andes (limite destrutivo); a norte a placa do Caribe e a sul a Placa Scotía (limites transcorrentes)

A GEOLOGIA E O HOMEM
A geologia possui usuários em diversos segmentos da sociedade, como também em órgãos públicos
federais, estaduais, municipais ou em empresas estatais. Estes órgãos atuam nas áreas de levantamento
geológico básico, na identificação e caracterização de ambientes geológicos e sua compartimentação
tectônica, com vistas à identificação de ambientes geológicos de alta potencialidade para conter minerais
úteis.
Podem se distinguir dois aspectos na ciência geológica: a Geologia Geral ou Dinâmicae a Geologia
Histórica.

A Geologia Geral é o estudo da composição, da estrutura e dos fenômenos genéticos formadores da


crosta terrestre, assim como do conjunto geral de fenômenos genéticos formadores da crosta terrestre,
assim como do conjunto geral de fenômenoS que agem não somente sobre a superfície, como também
no interior do nosso planeta. Duas diferentes fontes de energia agem sobre a Terra. Uma delas provém
do Sol, que age direta ou indiretamente. Graças a esta fonte de energia é que se esculpe a superfície do
globo, constantemente retrabalhadas pelas águas e ventos, ocasionados pela energia solar. A este
conjunto de fenômenos dá-se o nome de Dinâmica Externa. A segunda fonte de energia provém do
interior da terra, formando e modificando sua estrutura. A Dinâmica Interna trata destes fenômenos. Estas
duas fontes de energia agem independentemente, havendo, contudo, efeitos recíprocos entre ambas.

A Geologia Histórica estuda e procura datar cronologicamente a evolução geral, as modificações


estruturais, geográficas e biológicas.

A GEOLOGIA APLICADA

São inúmeras as aplicações práticas da geologia no sentido de melhorar as condições da vida na Terra.
Algumas delas são descritas brevemente a seguir:

GEOLOGIA ECONÔMICA

O aumento geométrico da demanda dos produtos da Terra e o trabalho de pesquisa sobre a crosta
terrestre, nos seus mais variados aspectos, vêm aumentando em proporções talvez paralelas. Assim é
que a procura do petróleo, do carvão mineral, dos minerais metálicos, e não-metálicos exige o
conhecimento pormenorizado dos processos de sua formação, do tipo de rochas relacionadas, da época
em que se teriam formado, e ainda o conhecimento da quantidade provável existente destes recursos.

GEOLOGIA DE ENGENHARIA (GEOTÉCNICA)

Não menos importante é a geologia no âmbito da Engenharia, sobretudo na construção de túneis,


barragens, nas fundações que deverão suportar grandes cargas, e também, no estudo dos deslizamentos
por vezes catastrófico, que podem sepultar grandes áreas e que dependem da natureza do solo e de sua
estabilidade.

GEOLOGIA AMBIENTAL

Este ramo da geologia consiste no estudo dos problemas geológicos, decorrentes da relação que existe
entre o homem e a superfície terrestre, assunto cuja importância vem crescendo dia a dia nestes últimos
anos. As alterações do ambiente onde vivemos, provocados pelas atividades humanas, extrapoladas para
um futuro muito próximo, determinarão condições inadequadas à existência da raça humana.

GEODIVERSIDADE, GEOCONSERVAÇÃO, GEOTURISMO

A partir dos anos 90 do século passado tem sido enfatizados os estudos sobre a geodiversidade, a
geoconservação e o geoturismo. Geodiversidade é “a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e
processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos
superficiais que dão suporte para a vida na Terra”. A geodiversidade possui enormes valores econômicos,
científicos, didáticos, culturais, etc., e a geoconservação e o geoturismo são consequências óbvias da
geodiversidade.

GEOLOGIA MÉDICA (GEOMEDICINA)

Estuda os efeitos benéficos ou maléficos dos diversos minerais sobre a saúde humana.

Todas as atividades humanas, mesmo remotamente, estão ligadas à geologia. Um exemplo simples pode
ser encontrado em uma moradia, como mostra o quadro a seguir:

ELEMENTO-------------SUBSTÂNCIA MINERAL

Argila Vermelha
Tijolos----------------------------
Argamassa--------------------- Calcário ( cimento), areia e brita
Fundações -------------------- Calcário (cimento), areia,brita e ferro (armação)
Contrapiso---------------------- Calcário ( cimento), areia e brita
Telhado-------------------------- Argila (telhas), betume, calcário, areia (acabamento) zinco ou petróleo (PVC)
Calha----------------------------- Zinco ou petróleo (PCV)
Caixa d’água------------------- Amianto e cimento
Fiação---------------------------- Cobre e petróleo (conduítes de PVC)
Pintura--------------------------- Óxido de titânio (pigmento), gipsita (gesso) e calcário (cal)
Lâmpada------------------------ Wolfrâmio (filamento) e alumínio (soquete)
Aparelhos eletrônicos ------- Quartzo, silício metálico e germânio (transistores)
Vaso sanitário ----------------- Argila vermelha
Cama----------------------------- Ferro ou cobre ( armação), petróleo (espuma de PVC )
Chuveiro------------------------ Liga de cobre e zinco (caixa) e  mica (isolante)
Encanamentos----------------- Ferro, zinco, cobre e petróleo
Louça sanitária---------------- Argila branca, caulim e feldspato (esmaltados)
Eletrodomésticos-------------- Alumínio, cobre, fibras de vidro e petróleo
Botijão de gás ----------------- Ferro e manganês (aço), gás natural ou de petróleo (GLP)
Azulejos------------------------- Argila branca e feldspato
Automóvel----------------------- Ferro, alumínio, cromo e petróleo (combustível)
Lajotas de revestimento----- Argila vermelha, areia (vitrificados) e manganês (pigmentos)
Janelas/Esquadrias----------- Ferro, alumínio e liga de cobre e estanho (bronze)

Além desses elementos, o homem utiliza diversos bens minerais no seu dia-a-dia, por exemplo:

Alimentação - Sal, fosfato, potássio, calcário, nitrato, etc.;


Embalagens - Alumínio, ferro, estanho, caulim, talco etc.;
Saúde e higiene – Água, caulim, talco, calcita, gipso etc.;
Transportes – Ferro, manganês, carvão, níquel, titânio etc.;
Bens de consumo -Ouro, prata, diamante, petróleo etc.
 

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