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CAPÍTULO 3: DIMENSIONAMENTO

3.1. BASES PARA DIMENSIONAMENTO

3.1.1. REQUISITOS FUNDAMENTAIS

1) As estruturas devem ser projectadas e construídas de modo a que:


- com probabilidade aceitável se mantenham aptas para os fins para que foram
projectadas, tendo em conta o período de vida previsto e o custo; e
- com graus de fiabilidade aceitável, possam suportar todas as acções e influências
susceptíveis de ocorrerem durante a execução e a utilização e tenham durabilidade
adequada face aos custos de manutenção

2) As estruturas devem também ser projectadas de modo a que os danos causados por
acções acidentais, tais como explosões, impactos ou consequências de erros humanos,
não sejam desproporcionados em relação às causas que os originaram.

3) Os danos potenciais devem ser limitados ou evitados adoptando uma ou mais das
seguintes medidas:
- prevenção, eliminação ou redução dos riscos a que a estrutura possa estar sujeita
- adopção de uma solução estrutural pouco sensível aos riscos considerados
- assegurar o contraventamento global da estrutura

3.1.2. DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES

3.1.2.1. ESTADOS LIMITES


Os estados limites são estados para além dos quais a estrutura deixa de satisfazer as
exigências de projecto.
Os estados limites classificam-se em:
- Estados limites últimos: são associados ao colapso, ou a outras formas de rotura
estrutural que ponham em perigo a segurança de pessoas. Os estados limites últimos
a considerar incluem:

• Perda de equilíbrio do conjunto ou de parte da estrutura considerada como


corpo rígido
• Ruína por deformação excessiva, rotura ou perda de estabilidade da
estrutura ou de alguma das suas partes, incluíndo apoios e fundações

- Estados limites de utilização: correspondem ao estado para além dos quais as


condições de utilização especificadas deixam de ser satisfeitas. Os estados limites de
utilização a considerar incluem:

• Deformações ou deslocamentos que afectem negativamente o aspecto ou


a utilização efectiva da estrutura (incluíndo o funcionamento adequado de
máquinas e equipamentos) ou que provoquem danos em revestimentos ou
elementos estruturais.
• Vibrações que sejam desconfortáveis para as pessoas, provoquem danos
na construção ou no seu recheio ou que limitem a sua eficiência funcional

3.1.2.2. ACÇÕES

Uma acção é:
- uma força (carga) aplicada à estrutura (acção directa), ou
- uma deformação imposta (acção indirecta): por exemplo, variações de temperatura
ou assentamento dos apoios

As acções classificam-se, de acordo com a variação no tempo, em:


• acções permanentes (G), por exemplo o peso próprio das estruturas,
acessórios, equipamentos auxiliares e fixos
• acções variáveis (Q), por exemplo sobrecargas, acção do vento, neve, etc

• acções acidentais (A), por exemplo explosões ou choques provocados por


veículos

3.2. DIMENSIONAMENTO DE BARRAS

3.2.1. VERIFICAÇÕES

a) Elementos Comprimidos
Nos elementos comprimidos deve ser verificada:
- a resistência das secções transversais
- a resistência à encurvadura

b) Elementos Traccionados
Nos elementos traccionados deve ser verificada:
- a resistência das secções transversais

3.2.2. PROCEDIMENTOS DE CÁLCULO

Nos elementos sujeitos a esforços de compressão em que haja risco de varejamento a


verificação da segurança consiste em satisfazer a condição:

σSd ≤ σRd onde:

σSd – é o valor de cálculo da tensão actuante


σRd – é o valor de cálculo da tensão resistente
No caso de barras rectas sujeitas a esforços simples de compressão, o valor de cálculo da
tensão actuante é definido pela expressão:

σSd = NSd/(A.ϕ) onde:

NSd – valor de cálculo do esforço normal actuante, determinado tendo em conta as


combinações de acções e os coeficientes de segurança
A – área da secção transversal da barra
ϕ - coeficiente de encurvadura dependente do coeficiente de esbelteza da barra, λ, cujos
valores são definidos no quadro a seguir.

O coeficiente de esbelteza λ, é dado pela relação entre o comprimento de encurvadura da


barra e o raio de giração da secção transversal da barra em relação ao eixo
correspondente ao plano de varejamento considerado.

Valores do coeficiente de encurvadura, ϕ

Tipo de aço Coeficiente de esbelteza, λ Coeficiente de encurvadura, ϕ


λ ≤ 20 ϕ =1
Fe 360 20 < λ ≤ 105 ϕ =1.1328 – 0.00664λ
λ > 105 ϕ = 4802/λ2
λ ≤ 20 ϕ=1
Fe 430 20< λ ≤ 96 ϕ 1.1460 – 0.00730λ
λ > 96 ϕ = 4103/λ2
λ ≤ 20 ϕ=1
Fe 510 20 < λ ≤ 85 ϕ = 1.1723 - 0.00862λ
λ > 85 ϕ = 3179/λ2
Salvo justificação devidamente fundamentada, valores do coeficiente de esbelteza
superiores a 180 só serão de admitir no caso de elementos cuja função estrutural seja
apenas a de contraventamento; em caso algum se excederá, no entanto, 250 (REAE,
Artigo 42°).

Comprimento de encurvadura (REAE, 48°)


O comprimento de encurvadura, le, a adoptar para o dimensionamento de elementos
sujeitos a compressão será determinado de acordo com a teoria da estabilidade elástica.
Os valores do comprimento de encurvadura a considerar para elementos de secção
constante em alguns casos mais frequentes:

a) No caso de barras articuladas nas extremidades, considerar-se-á o comprimento


teórico das barras
b) No caso de barras com apoios de encastramento total considerar-se-á metade do
comprimento teórico da barra
c) No caso de barras encastradas numa extremidade e livres na outra, considerar-se-á
o dobro do comprimento teórico
d) No caso de estruturas trianguladas planas (REAE, 13°), pode considerar-se em
geral, para comprimento de encurvadura das barras no plano da estrutura, 0.8 do
seu comprimento teórico

Secções úteis (REAE, 46°)

As secções a considerar no dimensionamento dos elementos devem satisfazer o indicado


nas alíneas seguintes (estados limites últimos):

a) No caso de elementos à tracção, devem descontar-se os furos de rebites ou


parafusos, considerando uma secção em que esses furos estejam agrupados da
maneira mais desfavorável
b) No caso de elementos à compressão, não serão descontados os furos,
considerando-se, portanto, a secção bruta dos elementos.
EXERCÍCIO
1) Dimensionar com perfil IPE (Fe 360) uma barra com le = 5 m, capaz de suportar um
esforço axial de compressão de 463 KN. Admita que a barra se encontra contraventada na
direcção normal ao eixo de menor inércia.

Resolução

σSd = NSd/(A.ϕ) ; A = NSd/(σSd .ϕ) seja A0 = NSd/σSd

⇒ A0 = 463.10-3/235 = 19.7 cm2 ⇒ perfil IPE 160 (A = 20.1 cm2 ; iy = 6.58 cm)

λ = le/iy = 75.99 ; 20 < λ ≤ 105 ⇒ ϕ = 1.1328 – 0.00664λ = 0.628

⇒ A = A0/ϕ = 31.4 cm2 ; como Aperfil < A, tentemos agora o perfil

IPE 200 (A = 28.5 cm2 ; iy = 8.26 cm )

λ = le/iy = 60.53 ; 20 < λ ≤ 105 ⇒ ϕ = 1.1328 – 0.00664λ = 0.73

⇒ A = A0/ϕ = 26.99 cm2 ; como Aperfil ≅ A, este perfil é correcto

Solução: Perfil IPE 200


EXERCÍCIOS
1) Verificar a estabilidade do pilar representado , considerando impedido o varejamento
no sentido de menor inércia.
Dados: perfil HE700B com: A = 306.4 cm2, Ix = 256888 cm4, iy = 29.0 cm, Fe 360,
NSd = 2900 KN

2) Determinar o valor máximo da carga PSd compatível com a segurança da barra.


Dados: 2 IPE400 (Fe 360) com: A = 169.0 cm2, Ix = Iy = 23130 cm4, ix = iy = 16.5 cm

3) Dimensionar o pilar representado na figura com perfis da série HEA, considerando-o


impedido de varejar no sentido de menor inércia.
Resolução

1) Dados: perfil HE700B com: A = 306.4 cm2, Ix = 256888 cm4, iy = 29.0 cm, Fe 360,
NSd = 2900 KN

le = 2.l = 30 m ; λ = le/iy = 103.448 ;


20 < λ ≤ 105 ⇒ ϕ = 1.1328 – 0.00664λ = 0.44
σSd = NSd/(A.ϕ) = 212.21 Mpa < σRd

Resposta: A estabilidade está garantida

2) Dados: 2 IPE400 (Fe 360) com: A = 169.0 cm2, Ix = Iy = 23130 cm4, ix = iy = 16.5 cm
le = 2.l = 2x6.6 = 13.2 m ; λ = le/iy = 80.0 ;
20 < λ ≤ 105 ⇒ ϕ = 1.1328 – 0.00664λ = 0.6016
σSd = NSd/(A.ϕ) ⇒ NSd,max = σSd .A.ϕ = 2389.25 KN

Resposta: O valor máximo da carga PSd,max compatível com a segurança da barra é


PSd,max = 2389.25 KN

3) Dados: PSd,max = 4178 KN; Fe 360

σSd = NSd/(A.ϕ) ; A = NSd/(σSd .ϕ) seja A0 = NSd/σSd

⇒ A0 = 4178.10-3/235 = 177.78 cm2 ⇒ perfil HE450A (A = 178.0 cm2 ; iy = 18.9


cm)

λ = le/iy = 85.19 ; 20 < λ ≤ 105 ⇒ ϕ = 1.1328 – 0.00664λ = 0.567

⇒ A = A0/ϕ = 313.45 cm2 ; como Aperfil < A, tentemos agora o perfil


HE550A (A = 211.8 cm2 ; iy = 23.0 cm )

λ = le/iy = 70 ; 20 < λ ≤ 105 ⇒ ϕ = 1.1328 – 0.00664λ = 0.668

⇒ A = A0/ϕ = 266.14 ; como Aperfil < A, tentemos agora o perfil HE600A

HE600A (A=226.5 cm2 ; iy=25cm)


λ=1610/25=64,4; ϕ=0,705
A=A0/ϕ=177.8/0.705=252.17cm2

HE650A (A=241.6cm2 ; iy=26.9cm)


λ=1610/26.9=59.85; ϕ=0,735
A=A0/ϕ=177.8/0.735=241.88cm2 ≅ A perfil

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