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EMC 5335 – Elementos de Máquinas

Ligações cubo/eixo

Universidade Federal de Santa Catarina


Dep. de Engenharia Mecânica
Requisitos da ligação cubo/eixo
 A capacidade da união não deve ser menor do
que a capacidade dos elementos a unir;
 Não deve reduzir a resistência dos elementos
mecânicos;
 Deve ser precisa;
 Montagem/desmontagem deve ser a mais simples
possível;
 Intercambiáveis;
 Evitar o desgaste das partes.
Princípios empregados
 Ligações por atrito;
– Ajuste prensado

 Ligações por adesão;


– Colas, soldas

 Ligações por forma.


– Chavetas e eixos estriados
Ligações por atrito : Princípios
 A carga se transmite entre os
elementos sem alteração da
forma da seção circular
 Transmissão se dá pela força de
atrito
 Apresentam alguma dificuldade:
– Controle da pressão na
montagem
– Promove concentração de
tensão
– Pode ocasionar corrosão
Ajuste prensado cilíndrico - dimensionamento
 Pressão na superfície de ajuste
– Recuo do material
 Tensões no eixo e no cubo
– Menores que o limite do
material
– Maiores que as forças
transmitidas
 Problema
– Definir pmax e pmin
Determinação da pressão máxima
 Modelo matemático
– Cilindros concêntricos
Modelo de Féodosiev para um eixo...
 Coordenadas polares

a = R1
b=R
... para um eixo vazado...

a = R1
b=R
... Para um eixo maciço ...
 Para um eixo maciço: a =0
Análise de tensões no cubo...
 Neste caso a tensão σt passa a ser positiva
E assim, a tensão equivalente será

a=R
b = R2
Considerações de projeto
 Para não causar escoamento do material
 Para propiciar a montagem e desmontagem
 Valor máximo de tensão < 0,9 σe

 Para eixo vazado

ou
Considerações de projeto
 Para eixo maciço

ou

 Para o cubo

ou
Definição da pressão máxima
 Para evitar plastificação
 Escolher o menor valor entre o cubo e eixo
– Geralmente cubo é de material mais mole
 Para materiais de comportamento frágil, trocar σe
por σr
Determinação da pressão mínima
 Dados os carregamentos abaixo:

 Deve-se determinar o equilíbrio


Carregamento Axial
 Quando houver, a equação abaixo deve ser
considerada:

 Para: A=dπl a área perimetral da superfície, p a


pressão do ajuste e µel o coef. de atrito na direção
axial, o que leva a:
Pressão mínima para carregamento axial
 Sugere-se um coeficiente de segurança nd = 1,3 a
1,8, e assim, a pressão mínima fica:
Carregamento de torque
 Quando houver, a equação abaixo deve ser
considerada:
dado que

 Para: A=dπl a área perimetral da superfície, p a


pressão do ajuste e µet o coef. de atrito na direção
transversal, o que leva a:
Pressão mínima para carregamento de torque

 Dado o mesmo coeficiente de segurança, ou seja,


nd = 1,3 a 1,8, e assim, a pressão mínima para
transmitir torque fica:
Exemplo de cálculo
 A polia da imagem abaixo, construída em alumínio (σe =
165 Mpa) deve ser montada em um eixo de aço baixo
carbono ( σe = 340 Mpa) e deve transmitir um torque de
240 Nm. Não há carregamento axial e o coeficiente de
segurança
recomendado é de 1,3. O eixo tem 30 mm de
diâmetro e a alma do cubo
conta com um diâmetro de
60 mm, com 60 mm de
comprimento. Avalie as
pressões mínima e máxima.
Exemplo – Cálculo da pressão máxima
Para o eixo maciço

pmax  0,9 e  0,9  340


pmax  306 MPa

Para a polia, dado que R = 15 mm e R2 = 30 mm

R22  R 2 302  152


pmax  0, 45   e  2
 0, 45 165 
R2 302
pmax  55, 7 MPa
Definição da pressão máxima
 Para que não haja escoamento de nenhum dos
dois materiais, adotaremos como pressão máxima
a pressão do cubo, ou seja:
pmax = 55,7 MPa
Definição da pressão mínima
 Como não há carga axial, apenas o torque será
considerado.
 Dado um torque de 240 Nm, um diâmetro de
30mm e um coef. de atrito da ordem 0,14 a
pressão mínima será:
3
2  T  nd 2  240 10 1,3
pmin  
  d  l  et   302  60  0,14
2

pmin  26,3 MPa


Imagine a aplicação de uma carga axial
 Imagine agora que tivéssemos uma carga axial de
20 kN. A pressão mínima devido a esta carga
seria de:
Pa  nd 20.000 1,3
pmin  
  d  l  et   30  60  0,14
pmin  32,9 MPa

 Com isso, esta seria a nova pressão mínima do


ajuste, e não mais a de 26,3 MPa
Coeficiente de atrito na interface
Sobremedida efetiva
 O processo de compressão produz uma pressão
radial de união p :

Sobremedida

Diâmetro de projeto

Constante elástica do cubo


Constante elástica do eixo
Constante elástica do eixo
 É calculado a partir da geometria e do material do
eixo (índice 1)
Coeficiente de Poisson

Módulo de elasticidade
Constante elástica do cubo
 É calculado a partir da geometria e do material do
eixo (índice 2)
Coeficiente de Poisson

Módulo de elasticidade
Elementos que alteram a sobremedida
 Rugosidade superficial
– Amassamento das
rugosidades superficiais  plastificação

 Efeito de temperatura
– Dilatação e contração térmica
Efeito da rugosidade na sobremedida (Δdr)
 Plastificação  diminuição da força elástica

 Diminuição em 60%  dados empíricos


 Valor do efeito

 Re a rugosidade do eixo e Rc a do cubo


Dados de rugosidade do material
 Acabamento superficial  processo de fabricação
Efeito da temperatura na sobremedida (Δdt)
 Diminuição da interferência
– Diferentes coeficientes de dilatação térmica, ou
– Temperaturas diferentes

– ΔT2 = T2 – T0 e ΔT1 = T1 – T0 , dado que T2 é a


temperatura do cubo, T1 a temperatura do eixo
e T0 a temperatura de montagem.
– β1 o coeficiente de dilatação térmica do eixo e β2
o coeficiente de dilatação térmica do cubo.
Dados de coeficiente de dilatação
Interferência de montagem
 Dado que a rugosidade e temperatura diminuem
a sobremedida, o valor de interferência (I) deve
ser dado como:

Efeito de temperatura
Efeito de rugosidade

 Com a interferência definida, determina-se as


tolerâncias de ajuste
Tolerância
 Todas as peças são iguais?

 Depende da pressão máxima e mínima do


conjunto.

Causam o
mesmo efeito
Relação entre sobremedida e pressão!
 Δdmax  f(pmax)
– Associado ao material

 Δdmin  f(pmin)
– Associado ao carregamento
Interferências máxima e mínima
 IT – ISO Tolerance

Cubo Eixo
Tolerância do ajuste
 Em função dos valores de Imax e Imin, teremos:

 Analisando as
interferências:
 Substituindo os valores de Imax e Imin na eq. de
tolerância:
Exemplo
 Dado o problema anterior, desconsiderando o
efeito de temperatura e admitindo que a
rugosidade do material é da ordem de 2,5 μm para
o eixo e 1,2 μm para o cubo, calcule a interferência
máxima e mínima, além da tolerância de ajuste da
ligação.

– Do exercício vimos que pmax = 55,7 MPa e


pmin = 26,3 MPa.
– Dado que a polia é de alumínio, ν2 = 0,334, E2 =
71 GPa, e o eixo é de aço: ν1 = 0,292, E1 = 207
GPa.
Exemplo - Solução
Cálculo da constante elástica do eixo:
(1  1 )  (1  1 )Q12 (1  0, 292)  (1  0, 292)(0 / 30) 2
K1  
E1 (1  Q12 ) 207 103 (1  (0 / 30) 2 )
K1  3, 42 106 (1/MPa)

Cálculo da constante elástica do cubo:


(1  2 )  (1  2 )Q22 (1  0,343)  (1  0,343)(30 / 60) 2
K2  
E2 (1  Q22 ) 71103 (1  (30 / 60) 2 )
K 2  28,305 106 (1/MPa)
Exemplo: cálculo das sobremedidas
Cálculo da sobremedida efetiva
–Teremos para a pressão máxima a sobremedida
máxima:
d max  pmax ( K1  K 2 )d   55, 7 (3, 42 10 6  28,305 10 6 )30 
d max  0, 052 mm

–E para a pressão mínima a sobremedida mínima

d max  pmax ( K1  K 2 )d   26,3 (3, 42  10 6  28,305 10 6 )30 


d max  0, 025 mm
Exemplo: Efeito da rugosidade
 Dado que o efeito da rugosidade é de:
d r  1, 2( Re  Rc )  1, 2(1, 2  2,5)
d r  0, 0044 mm
Exemplo: Cálculo das interferências
Assim, teremos como Interferência máxima

I max  d max  d r  0, 052  0, 0044


I max  0, 056 mm

E como Interferência mínima:

I min  d min  d r  0, 025  0, 0044


I min  0, 029 mm
Exemplo: Cálculo da tolerância
 Assim, a tolerância de ajuste da ligação será de

Taj  I max  I min  0, 056  0, 029


Taj  0, 027 mm
Exemplo: Alteração do resultado
 Imagine agora que a montagem é realizada a 25º
C e a operação da ligação se dá a uma
temperatura de 75º C. Qual a sobremedida
causada pela temperatura? Qual a nova
Interferência máxima e mínima e a Tolerância de
ajuste?
Modos de falha por efeito da tempertaura
 CASO 1: Se β2 > β1  Cubo dilata mais que eixo

– Imax considerando o efeito


de temperatura escoamento
– Imin sem considerar o efeito
de temperatura folga
– Solução:
Modos de falha por efeito da temperatura
 CASO 2 : Se β1 > β2  Eixo dilata mais que o cubo
– Δdt < 0
– Imin considerando o efeito
de temperatura folga
– Imax sem considerar o efeito
de temperatura escoamento
– Solução:
Tolerâncias e ajustes
 Dificuldade: fabricar peças rigorosamente iguais
 Necessário tolerar medidas dentro de um spectro
de validade
 Nomenclatura
– Dimensão nominal
– Afastamento superior
– Afastamento inferior
– Campo de tolerância
Qualidade do trabalho
 Tolerância é diferente para diferentes eixos e
cubos
 Quanto menor o campo de tolerância, melhor a
qualidade do trabalho
 ISO define 18 qualidades de trabalho:
– IT01 IT0 IT1 ... IT16
– Para mecânica extra-precisa : IT01 – IT4 para
furos e IT01 – IT3 para eixos
– Mecânica bruta: superior a IT12
 Para IT6 a IT16 a tolerância é calculada a partir
da unidade de tolerência (i)

 Sendo o grupo de diâmetros dados pela Norma


como:
Unidade de trabalho
 A unidade de trabalho é dada pela fórmula:

 Dado D como a média geométrica das medidas


em mm.
Exemplo de cálculo da tolerância
 Qual o campo de tolerância de um eixo com
diâmetro nominal de 60 mm para qualidade de
trabalho 7?
D  D1.D2  50  80  63 mm

i = 0,45 3 D  0, 001D  0, 45 3 63  0, 001  63


i  1,86

 Como para IT7 a tolerância é 16i, o valor de


tolerância final fica: 16 x 1,86 = 29,7 μm
Posições das zonas toleradas - afastamentos
 São dados por
letras, de a a zc.
 Utilizam-se letras
maiúsculas para
furos e minúsculas
para eixos.
Sistema furo base
 Não existe furo menor que o nominal (Ai = 0)

 Os furos H, nesse sistema são o furo-base.


 O afastamento dos eixos define o ajuste em função do
seu diâmetro.
Exemplos de ajuste furo-base
Sistema eixo base
 Neste caso o afastamento superior é zero

 O eixo é de tolerância h não havendo portanto


eixo mais grosso que o nominal
 os ajustes são conseguidos com a variação das
medidas dos furos. Mais complexo de se obter
Valores normalizados de qualidade de trabalho
Afastamentos superiores de eixos para furo base:
Afastamentos inferiores para eixos no sistema furo base
Exemplo completo.
 Deve-se dimensionar um ajuste prensado
cilíndrico para unir uma polia de latão (E = 106
GPa, Se = 100 MPa, ν = 0,324) que transfere 140
Nm a uma árvore, de 20 mm de diâmetro de aço
1050 (E = 207 GPa, Se = 345 MPa, ν = 0,292).
Determine o tamanho da ligação usando a
qualidade de trabalho ISO. Sabe-se que d2 = 2l e
que l = 1,5 d e que se deve adotar um
coeficiente de segurança de 1,4 e Re = Rc = 3 um
Obtenção de ajuste prensado
 Formas mais comuns:
– por prensagem de uma peça contra a outra;
– por aquecimento da peça externa acima da
temperatura ambiente;
– por esfriamento da peça interior abaixo da
temperatura ambiente;
– por injeção de óleo na interface.
Por prensagem ou martelamento
 Peças são unidas por força mecânica e a frio.
 Atrito de uma contra a outra.
 Montagens e desmontagens frequentes
– Redução de até 25 % na capacidade de
aderência
 A força de montagem Pm é função do coeficiente de
atrito de montagem μm e é dada por:

 Adotar p = pmax.
Aquecimento da peça externa
 O cubo é aquecido até uma temperatura
suficiente para permitir uma fácil montagem.
 Formas de aquecimento
– por chama,
– banho de óleo,
– em fornos elétricos,
– ou em chapas.
 Por chama  evitar
– Formação de óxidos
Aquecimento da peça externa
 A temperatura para efetuar a montagem pode ser
dada como:

 Para Imax = Interferência máxima, d o diâmetro


nominal; t0 a temperatura de montagem
(ambiente), β2 o coeficiente de dilatação térmica
do cubo e δ a folga adicional correspondente a
uma folga H/f
Esfriamento da peça interna
 Imersão da peça em
– gelo seco (CO2)
– gás líquido

 Para Imax = Interferência máxima, d o diâmetro


nominal; t0 a temperatura de montagem
(ambiente), β1 o coeficiente de dilatação térmica do
eixo e δ a folga adicional correspondente a uma
folga H/f
Ajuste prensado cônico
Uniões por forma
 Chavetas
– Elemento prismático
– Transmitem os esforços por contato
Chavetas - particularidades
Mais simples forma de ligação
Mais difundida
Baixo custo
Fácil montagem e desmontagem
Porém... D

–Diminuição da capacidade de carga d d


–Aumento de concentração de
tensões Eixos lisos Eixo
ranhurado
Wb  0,1d 3  0,1D 3

Wt  0, 2d 3  0, 2d 3
Tipos de chaveta
 Segundo Decker
Datelhes das chavetas logitudinais
 Indicados para rotações baixas ou médias
 Normalizadas
– Conicidade de 1:100
 Se encaixam com folga nos rasgos
 No rasgo os cantos devem ser arredondados

Deformações nas chavetas
 Deformação no sentido radial  montagem sob
pressão

 Momento na base da chaveta


Tensões em chavetas
 Origem das tensões
– Ajuste prensado na ranhura (compressão)
– Pelo momento torçor (compressão e
cisalhamento)

 Dimensionamento se dá pela força tenagencial na


chaveta.
Cisalhamento em chavetas

 Lembrando que...
Compressão em chavetas
Da Teoria de Energia de Distorção

E assim, o comprimento para o cisalhamento é:

Enquanto que para a compressão


Efeito da pressão no eixo
Efeito de pressão no cubo
Critério de dimensionamento
 Cubo é geralmente o material mais fraco
 Assim deve servir para dimensionamento

Do cubo!!!
 Coeficiente de segurança:
– 1,5 – Cargas estáticas
– 2,5 – Choques leves
– 4,5 – Choques fortes
Dimensões normalizadas das chavetas
 DIN 6885
Exemplo de aplicação
 Dimensione o comprimento de uma chaveta alta
para um eixo de aço de 25mm de diâmetro, que
transmite um torque de 110Nm para uma polia de
bronze (σe = 69 MPa) sob choques leves.
Solução
Da DIN 6885 para chaveta alta.
–Para d =25 mm b x h = 8 x 7 mm

3
2 Pn 4Tn 4 110 10  2,5
l t
 
h e dh e 25  7  69
l  91,1 mm
Eixos ranhurados
 Transmissão maior de torque
 Precisão na centragem
 Possibilidade de deslocamento axial
 Porém...
– Fabricação mais complexa
– Erro no passo = erro nas tensões
– Diminuição da seção útil do
eixo
Dimensionamento
 Similar a chaveta  Determinar l
Dimensionamento
 Devido a erros de passo, utiliza-se um coeficiente
Φ = 0,75 a 0,80, de forma que a tensão máxima
seja dada como:

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