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EMC 5335 – Elementos de Máquinas

Mancais

Universidade Federal de Santa Catarina


Dep. de Engenharia Mecânica
Rodrigo de Souza Vieira
Tipos de mancais
 Mancais de rolamento
– Radias
– Axiais
 Mancais de escorregamento
– Radiais
– Axiais
Mancais de rolamentos
 Histórico
– Remonta a invenção da roda
– Da Vinci Séc. XVI
Aplicações
 Máquinas e mecanismos em geral

 Para cargas radiais,


axiais e/ou combinadas

 Carga transferida por


rolamento

 Atrito estático bem inferior aos mancais de


deslizamento
Vantagens do uso de mancais de
rolamentos
 Coeficiente de atrito estático é inferior e próximo ao de
atrito dinâmico.
 Padronizados internacionalmente,
– intercambiáveis e obtidos com facilidade.
 Fáceis de lubrificar e consomem pouco lubrificante.
 Um mancal de rolamento pode suportar cargas
simultaneamente em ambos os sentidos
 Podem ser usados em aplicações de alta e baixa
temperatura.
 A rigidez do rolamento pode melhorar com a aplicação de
pré cargas.
Elementos constituintes

Anel externo
Anel interno

Pista interna

Gaiola Elemento rolante


Principais tipos de rolamentos
Tipos de rolamentos
 Principais tipos de esferas
Seleção de um mancal de rolamento
 Espaço disponível
– Diâmetro do furo
 Carga
– Axial e radial  todos
– Rolos > esferas
 Rotação
– Esferas < atrito
 Ruído
– Esferas < atrito
 Torque
– Rolos > carga
 Rigidez
– Rolos apresentam melhor comportamento
Ajustes dos rolamentos radiais nos eixos
Ajuste dos rolamentos axiais nos eixos
Ajuste dos rolamentos radiais nos alojamentos
Ajustes dos rolamentos axiais nos alojamentos
Séries de rolamentos
Padrões em função das séries (NSK)
Vida de um rolamento
 Define-se como:
– Vida de ruído
– Vida de desgaste
– Vida de graxa
– Vida de fadiga
Vida de fadiga
 Grande dispersão entre os rolamentos
Vida nominal
 A vida nominal de um grupo de mancais de
rolamento, aparentemente idênticos
 É definida como o número de revoluções, ou de
horas a uma determinada velocidade constante,
que 90% de um grupo de rolamentos possa
suportar sem falha;
 Vida mediana e Vida L10
Capacidade de carga
 Dado F1 e F2 cargas distintas e L1 e L2 vidas
associadas a estas cargas:

 a = 3 para rolamentos de esferas e 10/3 para de


rolos
Vida nominal

(Eq. 3.13)
Carga equivalente Carga de projeto
Cargas no rolamento
 Dado que Fra e Frc são as forças teóricas de
projeto:
Cargas equivalentes
 Catálogo  Cargas radiais
 Projeto  cargas radiais e axiais

 V = 1 para anel interno rotativo e externo fixo


 = 1,2 para anel externo rotativo e interno fixo.
Confiabilidade
 Dada uma vida L de projeto e uma vida nominal
L10, podemos deduzir da distribuição de falhas
que:

 Ou L10, pode ser calculado a partir de:


Exemplo de aplicação
 Definir um mancal de rolamento de rolos para um
eixo de 60 mm de diâmetro que trabalhe com
uma carga radial de 6kN, com vida de projeto de
10.000 horas a 600 rpm. Utilize uma
confiabilidade de 98%.
Solução

L  60.n.Lh  60  600 10.000


L  360 106 rotações

L 1 360 10 6 1
L10  1 / 1, 27

6,84 ln[1 / R] 6,84 [ln(1 / 0,98)]1/1, 27
L10  1.136,5  10 6

C  F 3 L10  6 10 / 3 1.136,5
C  49.5 kN
Do catálogo da FAG
Projeto do eixo
Mancais de escorregamento
 Elementos
– Munhão
– Bucha
– Filme de óleo

Fonte:www.oilmaintenance.com
Desgaste
 “... as indesejáveis e cumulativas mudanças em
dimensões motivadas pela remoção gradual de
partículas discretas de superfícies em contato e
com movimento relativo, devido
predominantemente, a ações mecânicas ” (LEAL)
 Pode ser ...
– por adesão;
– por abrasão;
– corrosivo e
– por fadiga superficial.
Desgaste por adesão
 Superfícies em contato  força de adesão nos
picos
 Movimento relativo  rompimento das junções
 Este rompimento arranca as partículas
Desgaste por abrasão
 Superfície rugosa dura desliza sobre uma
superfície mais mole
 Característica – riscos na mais mole
 Endurecimento da superfície diminui este efeito.
Consequência direta do desgaste:
 Aquecimento!!  Qualquer tipo de desgaste
– Parte da energia de movimento é dissipada na
interface
– Consequência: aumento da temperatura

 A geração de calor e aumento da temperatura


durante o escorregamento promove:
– redução da resistência mecânica dos materiais
em contato
– deterioração do lubrificante
Lubrificação
 Reduz o atrito, desgaste e aquecimento
 Atrito
– Ação de resistência ao movimento que existe
ao movimento tangencial entre dois sólidos
– Força de atrito (Fa) é proporcional à força
normal (N), e independente da área aparente
de contato:
Teoria da adesão
 Dois materiais sólidos colocados em contato,
– rugosidade superficial acarreta em
• regiões muito próximas
• regiões afastadas ( área livre)

 Interação no contato átomo-átomo


– Junções
 A soma das áreas das
junções é a área real
de contato
 Área real ≠ área aparente
 Área aparente = teórica
Teoria simplificada - Bowden e Tabor
 Área real pequena = pressão elevada
– Plastificação do material.
 Plastificação  (escoamento do material)
– Gera aumento na área real de contato
– Até suportar a carga

Cisalhante Pressão que gera o Normal


escoamento no material
Teoria simplificada - Bowden e Tabor
 A relação τe/pe é praticamente constante para vários
metais
– Coeficiente de atrito varia pouco para uma gama ampla
de metais.
 Materiais duros:
– Pressão de escoamento elevada
– Área de contato pequena
– Tensão de cisalhamento elevada.
 Materiais moles:
– Pressão de escoamento baixa
– Área de contato elevada
– A tensão de cisalhamento baixa
Funções dos lubrificantes em
mancais de escorregamento
 Controle do atrito;
 Controle do desgaste;
 Controle da temperatura;
 Controle da corrosão.
Controle do atrito
 Trabalho do lubrificante depende do tipo de
lubrificação, que pode ser:
– Fluida (Hidrodinâmica)
– Mista
– Ou limite
Lubrificação fluida
 Também chamada de filme completo
 O filme de lubrificante é espesso o suficiente
– Separa completamente as superfícies
 Não ocorre contato metálico  melhor situação
 O atrito é geralmente muito pequeno (até 0,001
ou menos).
 Função do lubrificante
– minimizar as perdas por atrito fluido
– Cisalhamento interno do lubrificante
 As perdas por cisalhamento
– Função da direta da viscosidade do fluido
Lubrificação mista
 A viscosidade não é o único fator significativo
 Filme fluido ocorre em parte do tempo
 Asperezas superficiais influencia no coeficiente de
atrito.
 Indicado o uso de óleos minerais com materiais
polares (graxas)
– Absorvido pela superfície
– Diminuição contato metal/metal.
Lubrificação limite
 Interface influencia muito mais no atrito do que o
lubrificante
 Contaminação superficial tem papel importante.
 Reatividade das superfícies em atrito com os
aditivos do lubrificante
 Temperatura de decomposição do fluido.
 Natureza química das superfícies é o ponto mais
importante.
Controle do desgaste
 Lubrificante  remover partículas sólidas
 Filtros e vedações importantes
– manter o lubrificante livre de impurezas.
Controle da temperatura
 Lubrificação hidrodinâmica
– Calor de atrito é baixo.
 No contato metal/metal a temperatura superficial
pode chegar a ponto de fusão.
 Suprimento constante de lubrificante
Tipos de lubrificação
 Hidrodinâmica
 Hidrostática e
 De filme sólido
Lubrificação hidrostática
 Lubrificante entra a alta pressão
– Suficiente para separar as superfícies
 Não á necessário o movimento relativo entre as
partes
Lubrificação hidrodinâmica
 Superfícies separadas por uma película de lubrificante (filme)
– Evita o contato metal/metal.
 Chamada também de lubrificação de filme completo
 Características principais:
– Não depende da introdução de
lubrificante sob pressão, embora
possa sê-lo;
– Requer um suprimento adequado
de lubrificante o tempo todo;
– A pressão da película é criada
pelo movimento das superfícies,
impelindo o lubrificante
(efeito de cunha)
– Pressão é função da velocidade
relativa
Lubrificação limite
 Película do lubrificante apresenta espessura de
ordem molecular
 Principais causas:
– Área superficial insuficiente;
– Queda na velocidade de
movimento;
– Redução na quantidade
de lubrificante; ou
– Aumento da temperatura do lubrificante,
reduzindo a viscosidade.
Lubrificação elasto-hidrodinâmcia
 Lubrificante é introduzido entre superfícies sob
contato de rolamento
– Engrenagens e rolamentos por exemplo
Lubrificação sólida
 Recomendado para temperaturas extremas.
 Utiliza-se geralmente o grafite ou bissulfeto de molibdênio
(MoS2) ou ainda plásticos.
 Alguns lubrificantes sólidos tem características lamelares
– Átomos ligados em camadas formando ligações fracas
(cartas de baralho).
 Formam filmes que aderem as superfícies
 O cisalhamento desses lubrificantes também se dá pelos
vapores formados nas superfícies
– enfraquecem as ligações
Viscosidade
 Característica dos materiais fluidos
– relacionada à resistência ao cisalhamento.
 Relação direta com a capacidade de se aderir às
superfícies
– Mantém uma camada lubrificante (filme)
 Definida por Newton em 1668
– experimento com dois cilindros concêntricos submersos
em água.
– força para o movimento relativo entre os cilindros
(resistência do fluido)
Viscosidade
 Resistência ao cisalhamento
– Proporcional à área do cilindro (A),
– Proporcional à velocidade de rotação (u)
– Inversamente proporcional a distância entre as
superfícies (h):
Viscosidade cinemática e absoluta
 Da equação anterior μ = k
– constante de proporcionalidade = viscosidade absoluta.

 Viscosidade absoluta
– Também chamada de viscosidade dinâmica e
– Relaciona à força de atrito interno do fluido
– Unidade é Pascal por segundo. (Pa.s)
– Utilizada para os cálculos de dimensionamento de sistemas
hidráulicos e mancais
– Calculada a partir da viscosidade cinemática (ν)

 Viscosidade cinemática
– Medida em laboratório por viscosímetro rotacional ou de
capilaridade
Definição da viscosidade absoluta
 Admitindo que o gradiente de velocidade é
constante:

 Unidades:
Viscosidade x temperatura
Medição da viscosidade
 Medida por vários métodos:
– medição do fluxo de óleo através
de um tubo capilar
(viscosímetro cinemático);
– medição do fluxo de óleo por um
orifício (viscosímetro Saybolt);
– Medição do tempo de deslocamento
de um objeto sólido através do óleo
(viscosímetro de esferas);
– Medição do cisalhamento que se
produz entre duas superfícies com
movimento relativo
(viscosímetro rotativos)
Viscosímetro de Saybolt
 Mede-se a viscosidade cinemática
 Consiste, essencialmente, de um cilindro completo de
lubrificante.
 Mede-se o tempo para que uma amostra de 60 cm3 de
óleo, a uma dada temperatura, flua pelo tubo capilar do
viscosímetro.
 Este tempo, medido em segundos é chamado de SUS:
Saybolt Universal Seconds,
 Viscosidade cinemática é calculada por:

Unidade mm2/s
Medindo a viscosidade
 Assim

Unidade em Pa.s
Lei de Petroff
 Árvore e mancal concêntricos
 Coeficiente de atrito é função dos parâmetros do
mancal
Lei de Petroff – Torque para vencer as resistências

 Força necessária para cisalhar o óleo é o torque


pelo raio...

Torque mínimo para vencer a


resistência ao cisalhamento do fluido
Lei de Petroff – Torque de atrito
 Lembrando também que a força de atrito será
dada como:
Carga no mancal

 Assim, da equação do torque:

Torque devido ao atrito


Lei de Petroff – Torque de atrito devido a carga

 Da figura

 Substituindo na equação do
torque:
Lei de Petroff – definição matemática
 Igualando os dois torques:

 E isolando o coeficiente de atrito:

(Eq. 3.35)
Exemplo de aplicação
 Determine o torque de atrito em um mancal
sabendo que a carga é de 4.500 N, o diâmetro do
munhão é de 45 mm, o comprimento da bucha de
60 mm, para uma rotação de 2000 rpm para uma
filme de óleo de 30 µm. Admita uma viscosidade
de 2 x 10-2 Pa.s
Exemplo – solução
 Cálculo do coeficiente de atrito dinâmico:

n r 2rln r
f  2 2  2 2
p c W c
2  22,5 10 3  60 10 3  2  10  2  2.000  22,5
2
f  2
4.500  60 0,03
f  0,006
Exemplo - solução
 Assim o torque de atrito fica:

Ta  2r 2 flp  2(22,5 103 ) 2  0,006  60  103 1,667 106


Ta  0,6 Nm
Rugosidades

 Rugosidade média aritmética:

 Rudosidade média quadrática:

 Máxima rugosidade (Rt)


Experimento dos irmãos McKee
 Verificaram que o atrito
é função do parâmetro

 O que fornece o
gráfico:
Regiões do gráfico
 Lubrificação limite
– metal/metal
– Engripamento

 Lubrificação mista
– Condições severas

 Lubrificação estável
– Separação completa
Entendendo a lubrificação hidrodinâmica
Estudo de Reynolds sobre mancais
 Partiu da pesquisa de Beauchamp Tower
 No seu modelo tentou encontrar uma relação entre atrito,
velocidade e pressão
 Suposições
– Lubrificante adere em ambas superfícies
– Curvatura desprezada
– Lubrificante é newtoniano 
– Forças de inércia desprezadas
– Lubrificante incompressível
– Pressão constante na direção axial e radial
– Fluxo na direção axial é nulo
Modelo de Reynolds

 Aplicando o equilíbrio...
Desenvolvendo o modelo
 Dado que:

 Mantendo dp/dx constante e integrando em y

 Aplicando a condições de contorno


Desenvolvendo o modelo
 Teremos os valores:

 E a equação de velocidade passa a ser:

 E o fluxo de lubrificante:
Equação de Reynolds
 Assim, mantendo dQ/dx =0

 Que é a equação de Reynolds para o problema de


mancal hidrodinâmico

 O objetivo agora é encontrar soluções para esta


equação
Solução por Sommerfeld
 Em 1904 deu solução para a equação de
Reynolds dada por:

 Para p a pressão no filme, dadas as coordenadas


(θ,r), cr a folga radial , U a velocidade da
superfície, ε a razão de excentricidade
admensional, μ a viscosidade do lubrificante e p0
a pressão em θ0
Solução de Sommerfeld
 Esta solução é chamada de solução para mancal
longo, visto que:
– Fugas axiais são nulas

 Pode-se calcular a carga no mancal por:


Número de Sommerfeld
 Pode-se criar uma relação adimensional dada por:

Para...

 Dado que n’ é em rps e cd = 2.cr


 Chamado de número de Sommerfeld, que define
um conjunto de mancais a partir geometria, do
lubrificante e da velocidade.
Exemplo de aplicação
 Um mancal de escorregamento é utilizado para
uma aplicação de 2.400 rpm, onde a viscosidade
do lubrificante é de 0,02 Pa.s, que suporta uma
carga de 3000 N, para um raio do eixo de 20 mm
e um comprimento de 40 mm. Adotando uma
folga de 30 μm, calcule o torque necessário para
vencer os atritos do lubrificante.
Solução do exemplo- Cálculo de S
 Com os dados fornecidos, chegamos ao cálculo do
Número de Sommerfeld dado como:

2 2
 n'  d    40  40  2.400  40 
S       0,02  
 pmed  cd   3.000  60  0,06 
S  0,596

 Para encontrar o coeficiente de atrito, utiliza-se o


gráfico...
Solução – Encontrando o coeficiente de atrito
Cálculo da perda
 Do gráfico:

r cr 0.03
f  14  f  14  14
cr r 20
f  0,021

 E o torque para vencer o


atrito do fluído será dado
como
Ta  f  r  P  0,021 20  3000
Ta  1,26 Nm
Solução por Ocvirck
 Ocvirck estabeleceu uma solução para mancal curto (l/d =
¼ a 1) dado por:

 Solução para (θ = 0 a π)
 O valor de pressão máxima ocorrerá em :

 Para z = 0.
Modelo de Ocvirk

 O ponto de aplicação da força é dado pela


orientação
Modelo de Ocvirk – carga no mancal
 A carga pode ser calculada como:

 Dado que:
 Admitindo U em função da rotação por segundo
n’ teremos:
Projeto segundo Ocvirk
 Dados de projeto a carga P e a rotação n’
– Algumas vezes a relação l/d e o diâmetro
 Calcula-se o fator de excentricidade

 E o número de Ocvirk dado como


Relação entre número de Ocvirk e excentricidade

 Equação empírica
Definição da relação l/d
 Adota-se entre ¼ e 2
– Quanto menor, maior a pressão do filme
– Quanto maior  contato metal/metal

 Definido o comprimento do mancal


– Define-se a folga diametral cd entre 0,1 e 0,2%
 Calcula-se o número de Ocvirk
– Avalia-se a pmed
– Ângulo de pressão máxima, torque estacionário
– Potência perida

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