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Ninguém nasce para ser tímido | Caderno da Comunidade • BS • Ed.

1960 •

18/10/2008 • ()

BS

CADERNO DA COMUNIDADE

Ninguém nasce para ser tímido


O BS entrevistou a especialista e professora de comunicação
Rosa Carbone em seu escritório em SP. Ela comparou o conceito
budista da condição inata de Buda ao poder individual de
melhorar a comunicação
Brasil Seikyo — Fazer um bom discurso é um
dom natural ou é algo que se pode aprender?
Rosa Carbone — Não existe esse negócio de que “tem gente que
não tem jeito”, “tem gente que nasceu para não falar”. Não existe
isso. Como diz a filosofia budista, todo mundo nasceu para ser
Buda, todo mundo nasceu para se expor, as pessoas gostam.
Até a pessoa mais tímida do mundo, no fundo quer falar, ela
gosta. Mas, às vezes, não acredita nela mesma ou não tem as
formas (técnicas) de colocar isso para fora.

BS — O que é oratória?

Rosa — Oratória é uma técnica para se falar bem. Mas prefiro


falar em comunicação humana, algo mais complexo e que não
envolve somente a voz, mas um todo. O presidente Ikeda, por
exemplo, não tem somente uma boa oratória, ele faz
comunicação humana porque fala com o corpo inteiro. Ele fala
com o coração e com a mente.
Vejo muitos cursos de oratória que ensinam qual a postura que
você tem de ter lá na frente, a entonação que você tem de dar na
voz, como você gesticula, somente a parte técnica.

BS — Até a pessoa mais tímida tem o potencial para se


comunicar?

Rosa — Nenhuma pessoa nasce para ser tímida. Ela nasce para
expor. O que ocorre é que por algum motivo, ela não exercita
essa capacidade. Toda pessoa, por mais tímida ou problemas
que tenha, tem o poder do Estado de Buda dentro de si. Não
existe quem que não possa se desenvolver. Agora, cada um tem
de se esforçar e quebrar seus paradigmas.

BS — O que causa o medo de falar em público?

Rosa — Traumas, falta de treinamento, experiências ocorridas


durante o crescimento na infância e na adolescência.
Experiências ruins com relação à comunicação, ouvir muitos
“nãos” e que não sabe nada, ser repreendido, ser chamado de
burro. Às vezes, a criança leva uma bronca ou faz alguma coisa
errada, mas isso não vai prejudicá-la. Precisa ser uma coisa
sistemática para fazer com que o dom natural, que já é do ser
humano de se comunicar, fique engessado, com medo, com
vergonha de se expor porque aprendeu erroneamente durante
suas experiências que ele não podia, que não tinha condições.

BS — Como melhorar a timidez e o medo de se expor em


público?
Rosa — Aprender as técnicas, aplicar as técnicas, mas não parar
por aí. Senão terá um resultado fisiológico (estresse, cansaço,
dor de cabeça) por que ela está fazendo alguma coisa
mecanicamente. Essa pessoa precisa aprender técnicas e se
desenvolver como ser humano. Por isso, participar das
atividades da BSGI é ótimo, porque dá oportunidades para a
pessoa. Mesmo ela sendo tímida, vai lá na frente, faz um relato
ou a exposição de uma matéria, canta etc. Essa exposição faz
com que ela treine a si mesma.

BS — O que geralmente as pessoas sentem ao falar em público?

Rosa — A maioria reclama que antes de falar em público ficam


muito nervosas, muito tensas, dá dor de barriga, dor de cabeça.
As vezes elas ficam ansiosas até uma semana antes da
apresentação. Quer dizer, o desgaste que a pessoa tem é muito
grande, então passa uma semana inteira ansiosa, preparando,
lendo, estudando, mas é só teoria, ela, na verdade, não está se
preparando emocionalmente para ir lá na frente, acredita que
pode dar o melhor dela, que pode fazer diferente. Aí acaba
sentindo dor de cabeça, de barriga; vai lá na frente e fica
vermelha como um pimentão, dá branco.

Quando for palestrar, lembre-se que todo discurso segue uma


seqüência lógica, existe uma estrutura para fazer o discurso que
é usada em qualquer lugar do mundo. Utilize um vocativo (uma
maneira de chamar a atenção), uma introdução, um corpo do
discurso e uma boa conclusão.

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