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A PRÁTICA DE UM PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM UMA

ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL O ENSINO FUNDAMENTAL II


DO MUNICÍPIO DE AMARGOSA-BA

Jackeline de Moura Soares-1, Renata da Silva de Jesus-2


Suelândia Moreira Franco-3, Naiani Silva Pinheiro-4
Tatiane Santos Andrade da Silva-5, Iêda Sampaio Lima-6
Kleber Peixoto de Souza-7

1-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia


2-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
3-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
4-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
5-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
6-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
7-Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Este trabalho apresenta os resultados parciais de uma para encurtar essa distância” (p. 27). Na escola o
pesquisa em andamento realizada no âmbito do Programa planejamento em seus vários níveis – educacional,
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID// escolar, curricular e de aula – representa a forma
MEC/CAPES. Esta ação investigativa tem como gêneses sistemática de organização das ações, tracejando
as ações do subprojeto de Pedagogia Gestão Pedagógica situações futuras a partir da situação atual e prevê
do Espaço Educativo: uma construção coletiva do plane- o que, como, onde, quando e o porquê se quer re-
jamento à avaliação. O subprojeto compõe o Projeto In- alizar tal objetivo, a fim de garantir a objetividade
stitucional do Centro de Formação de Professores - CFP, e eficácia do processo de ensino-aprendizagem,
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. sendo assim indispensável no fazer pedagógico.
Objetiva promover aproximações dos licenciandos com
No dia-a-dia do fazer pedagógico, o planejamento
a escola básica, proporcionando discussões em torno das
é constantemente questionado e efetuado, tendo
ações pedagógicas desenvolvidas no âmbito escolar, tendo
como base o planejamento inicial e anual (o PPP
como eixos norteadores dessa relação os estudos acerca
– Projeto Político Pedagógico), sendo este consid-
do planejamento e avaliação.
erado o ponto norteador das ações desenvolvidas
Com base nesses estudos dialogaremos com a re- na escola, abrangendo as concepções de sociedade,
alidade de uma escola estadual pública, situada educação, currículos, planejamento e avaliação.
no município de Amargosa/BA. Discutiremos como
Gadotti (1998, p.12) ressalta que o PPP repre-
tem se concretizado a prática do planejamento na
senta uma problemática e um desafio para todos
mesma, e como tem sido o dialogo do planejamento
os educadores, pois na escola do século XXI não
anual (PPP) com o planejamento diário dos profes-
se questiona apenas seus métodos, mas também
sores e como este planejamento tem influenciado
seus fins, ultrapassando aqueles conceitos que
no processo avaliativo da escola.
abrangiam a escola moderna ou tradicional, sendo
A escola é um segmento da sociedade e seu que os mesmo não mais respondem as demandas
principal papel é realizar a formação cultural e da escola atual.
intelectual dos educandos. Esta, como as demais
O PPP surge nesta escola moderna na busca de
instituições necessita ser pensada, questionada
responder questões da crise paradigmática que
e mudada. Nessa perspectiva, Danilo Gandin
a escola vem sofrendo, a qual à leva questionar
(2011) afirma que é através de um planejamento
sobre si mesma, sobre seu papel nesta sociedade
participativo que se é possível pensar uma nova
pós-moderna e pós-industrial caracterizadas por
realidade escolar.
diversos fatores políticos e econômicos. Saindo de
Para Gandin planejar, “é de fato, definir o que um plano micro, para um plano macro de modo
queremos alcançar; verificar a que distância, na que o mesmo venha comportar todo eixo da escola
prática, estamos do ideal e decidir o que se vai fazer desde o instituínte ao instituído, indo além das

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metas e procedimentos. Direcionando as ações da jamento, não estamos dialogando apenas com o
escola desde a sua organização ao fazer pedagógico planejamento de sala de aula, aquele feito pelo
até o resultado final, norteando o processo avali- coordenador e professores, cabe incluir também
ativo, este último pautado no qualitativo e não no toda conjuntura da escola.
quantitativo.
Um planejamento de aula deve ser norteado pelo
A prática do planejamento em nosso país no âmbito planejamento anual, que engloba todos os eixos que
da educação tem se constituído como uma atividade compõe a escola e seu entorno, inclusive os métodos
neutra - mesmo discutindo em seus eixos questões avaliativos para que esta prática não se contradiga
políticas, econômicas e sociais - sendo vista como com seu eixo norteador de uma educação política
uma atividade técnica e burocrática que não ultra- e crítica, uma educação do dia-a-dia que superem
passam os muros da escola para uma dimensão in- os muros da escola.
tegradora que aborde as dimensões político-sociais.
No contexto atual muito se discute sobre educação
Diante desta teorização do planejamento nos ques- participativa e contextualizada. É nesta perspec-
tionamos: de que modo o planejamento influencia tiva que está voltada a proposta de educação ressal-
na avaliação? Ambos se norteiam? tada no PPP da escola pesquisa, a qual o subprojeto
busca aproximações. A mesma traz como concepção
Freitas (2003) afirma que a lógica da avaliação
de educação uma ação democrática voltada para
existente na escola atual não é independente do
formação global do homem, acreditando que a for-
atual modelo de escola constituído, que se separa
mação capitalista de mão-de-obra não é suficiente
da vida e da prática social. O mesmo ressalta que
para formar sujeitos críticos para atuarem frente
“tal separação, motivada por necessidades sociais
às demandas da sociedade atual.
de enquadramento da força de trabalho, trouxe
a necessidade de se avaliar artificialmente na Frente a isto, no PPP que realizamos a analise res-
escola aquilo que não se podia mais praticar na salta que: “se a escola deve preparar o individuo
vida e vivenciar” (p.40), distorcendo desse modo para alguma coisa, deve ser para a própria vida,
o significado do aprendizado, sendo este nesta re- e esta deve ser entendida como o viver bem no
alidade uma prática para provar para o professor usufruto de todos os seus bens criados socialmente
o conhecimento, não mais vistos como habilidades pela humanidade”. (PPP, p.17)
para intervir na vida social.
Para este objetivo o mesmo afirma a necessidade
Se pensarmos na lógica do planejamento participa- da educação se apresentar neste contexto como
tivo, veremos a necessidade do mesmo ser norteado relação “humana dialógica e democrática” estas,
pelo contexto sócio-político da escola, pelas carac- entendidas como caminhos para uma educação
terísticas dos alunos e pelas demandas da comu- politizada.
nidade, requerendo uma dimensão participativa
Acreditando que toda ação desenvolvida na es-
para sua efetivação, consequentemente e, simul-
cola perpassa por um planejamento; baseadas
taneamente, com a prática avaliativa qualitativa.
pela concepção de planejamento que a escola res-
Na realidade pesquisada o PPP apresenta um salta (planejamento participativo) onde a mesma
planejamento participativo voltado para todas a coloca como “principal ferramenta de trabalho do
as questões sócio-políticas. Porém, ainda segue professor e fio condutor da ação educativa” (PPP,
uma prática avaliativa quantitativa instrucional p.21), percebemos aqui uma realidade que favorece
na qual se avalia o conhecimento dos alunos esta prática.
através de provas e testes. Contudo, diante das observações realizadas du-
Cabe aqui ressaltar que os professores por mais rante as visitas à escola - realizadas como parte das
que tenham uma prática e um planejamento atividades do PIBID - é possível afirmar que existe
participativos, voltados para uma educação certa contradição entre a abordagem retratada
no PPP e a prática escolar. Ao analisar o PPP
política e crítica, ficam presos a este modelo de
percebemos que o documento orienta os profes-
avaliação. Isso se deve a um sistema de nota
sores a realizarem um planejamento participativo,
que ainda é cobrado pelos órgãos superiores no entanto, até o presente momento da pesquisa
que regem a educação, assim, alunos sem nota podemos identificar a ausência da coletividade
é aluno sem conhecimento e aprendizado. proposta para esta ação.
Aqui, entendemos a importância do planejar e, O planejamento semanal acontece de modo
principalmente, do planejamento participativo, fragmentado, sendo organizado por disciplinas,
mas ressaltamos: Quando falamos de plane- abordando apenas questões conteudistas sem a

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presença de um coordenador pedagógico. O que que é ultrapassar as salas de reuniões e perpassar
nos levou a questionar acerca de como acontece à por todos os segmentos e processos realizados na
práxis enfatizada no PPP que congrega aspectos escola.
históricos, sociais e políticos e “consolida tarefas
Concluímos que o PPP é construído de frases feitas
e saberes críticos, criativos, reflexivos e transfor-
e bem citadas, com muita filosofia e pouca prática,
madores”. (PPP, p. 21)
não tendo de fato conseguido os objetivos para qual
Alguns elementos nos levam a afirmar que a práxis o mesmo foi criado, ou seja, guiar e supervisionar
enfatizada no PPP precisa ser aprimorada. Assim o funcionamento da ação pedagógica. Para se al-
precisa ser superados: a falta de coordenação e cançar uma intervenção profícua no fazer docente
planejamento individualizados e a ausência de e nos eixos que compõe a organização do trabalho
postura investigativa que não possibilita o profes- pedagógico – planejamento, avaliação e PPP – será
sor ser um pesquisador; a primazia de análises e preciso trabalhar a compreensão individual dos
reflexões individuais que relegam a coletividade a professores de modo a romper com a visão de que
um plano secundário. o planejamento é algo burocrático e distante do
fazer pedagógico.
Para operacionalização da pesquisa seguimos os
mesmos objetivos propostos pelo subprojeto de Referências Bibliográficas
pedagogia/PIBID/UFRB, pois este tem como eixos
interdisciplinares o planejamento e a avaliação. DALMÁS, Ângelo. Planejamento participativo na
Assim traçamos os seguintes objetivos analisar o escola: elaboração, acompanhamento e aval-
Projeto Político Pedagógico - PPP destacando suas iação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
principais orientações aos professores. Buscamos GANDIN, Danilo; CRUZ, Carlos H. Carrilho.
ainda compreender através da observação da Planejamento na sala de aula. 11 ed. Petrópolis,
prática pedagógica a dinâmica que os professores RJ: Vozes, 2011.
enfrentam ao planejar suas ações, qual o verda-
deiro papel do planejamento na sala de aula e suas VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Plane-
contribuições no processo de ensino-aprendizagem. jamento: Plano de Ensino-Aprendizagem e Pro-
No contexto desta proposta, instigados pelo desejo jeto Educativo – elementos metodológicos para
de compreender como a prática tem sido concre- elaboração e realização. São Paulo: Libertad,
tizada, no imbuímos na análise da mesma, visando 1995, v. 1.
problematizar como tem sido a prática deste GADOTTI, Moacir. Pressupostos do projeto ped-
modelo de educação participativa tão assediada e agógico. Cadernos Educação Básica - O projeto
almejado nos dias atuais. pedagógico da escola. Atualidades pedagógicas.
Como metodologia utilizamos a análise documental em MEC/FNUAP, 1994.
documento como o PPP da escola, a observação nos FREITAS, Luiz Carlos de. Ciclos, Seriação e
auxiliou e nos ajudará a confrontar as questões feitas aos avaliação: confrontos de lógicas/Luiz Carlos de
professores com a prática em sala de aula. Esses dois Freitas. – São Paulo: Moderna, 2003. – (coleção
procedimentos de pesquisa foram escolhidos por enten- cotidiano escolar).
dermos que estavam de acordo com a etapa investigativa
a que nos propomos, ou seja, analisar o PPP da escola e
confrontar as suas diretrizes com a prática observada nas Área: Pedagogia

coordenações e na sala de aula.
Nestes estudos percebemos que o PPP surge como Palavras-chave: Planejamento. Projeto Político-
Pedagógico. Avaliação
uma possibilidade de democratização e descentrali-
zação da escola, possibilitando-a planejar ações de
acordo com seu contexto. As possíveis conquistas
são frutos de um novo modelo de sociedade que
valoriza o multiculturalismo e que exige da escola
uma nova postura frente aos seus pilares (aval-
iação e planejamento).
Assim, constatamos que o projeto construído no
caminhar da instituição pesquisada precisa ser
avaliado nas suas especificidades. Visto que o
mesmo contempla a realidade educacional de modo
muito superficial, não abrangendo sua real função

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