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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 3

2 TEORIA FREUDIANA ................................................................................... 4

2.1 O que a Psicanálise tem a comentar sobre a política, de qual política se


trata?..............................................................................................................................5

2.2 A noção de política e a sua necessária compreensão ........................... 8

2.3 Psicanálise, estética e a política ........................................................... 10

3 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS ................................................... 14

3.1 Reequilibração cognitiva ...................................................................... 15

4 FREUD E A INSTABILIDADE TEÓRICA NA METAPSICOLOGIA ............. 17

5 HABITAR O INÓSPITO: A CONDIÇÃO HUMANA ...................................... 20

5.1 O inconsciente freudiano ...................................................................... 21

5.2 Eu na teoria freudiana .......................................................................... 22

6 FANTASIA E REALIDADE PARA A PSICANÁLISE FREUDIANA .............. 24

7 FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE SEGUNDO A PSICANÁLISE ........... 26

7.1 A formação da personalidade segundo a Teoria Estrutural .................. 28

7.2 O ID ...................................................................................................... 29

7.3 O EGO .................................................................................................. 30

7.4 O SUPEREGO ..................................................................................... 32

7.5 Relações entre os três componentes da psique na formação da


personalidade ...............................................................................................................33

8 NEUROSE E PSICOSE .............................................................................. 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 37

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe
convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 TEORIA FREUDIANA

Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

Na extensa mitologia que se encontra difundida em parte significativa da


historiografia da psicanálise, um dos mitos mais recorrentes é o da absoluta
originalidade de Freud (SIMANKE; CAROPRESO, 2017). Mesmo quando Freud retoma
– e desenvolve à sua maneira, certamente – ideias amplamente difundidas na literatura
científica e filosófica de sua época, essas ideias são apontadas como criações originais
suas, com uma veemência que se manifesta na razão direta da sua importância para a
construção do aparato teórico psicanalítico. A etiologia sexual dos transtornos mentais,
a sexualidade infantil, a repressão e o inconsciente são apenas os exemplos mais
destacados de questões que têm uma longa história, anterior e independente de Freud,
que é sistematicamente ignorada por esse tipo de historiografia (SIMANKE, 2016).
O resultado é um enaltecimento imaginário e ingênuo de que um personagem
da estatura de Freud realmente não carece. Além disso, essa atitude impede que se
percebam os vínculos de Freud com o contexto intelectual em que seu pensamento se
formou. Isso traz evidentes prejuízos para a compreensão do processo de constituição
dos conceitos psicanalíticos, mas também para a avaliação efetiva da contribuição de
Freud para as diversas áreas de conhecimento com as quais dialogou (SIMANKE,
2019).

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2.1 O que a Psicanálise tem a comentar sobre a política, de qual política se trata?

Sobre qual política estão discorrendo os psicanalistas se torna um assunto de


grande relevância, sobretudo no que toca ao seu lugar de escuta e compreensão dos
fenômenos sociais. A intenção é distanciar em definitivo a Psicanálise de uma pretensa
neutralidade científica. Estamos, sem dúvida alguma, optando por dizer que o analista
não precisa ter a escolha de permanecer em sua torre de marfim, na poltrona
acolchoada de seu consultório. Do ponto de vista da ética da Psicanálise, é
inapropriado ao analista a escolha de tomar uma posição diante das demandas sociais
e das violências que acometem a população? Antes de imediatamente respondermos
com um alto e sonoro “não”, de antemão já assumido por nós, vale expormos o que os
analistas têm discursado sobre o tema.
Segundo Rosa (2016), a política é o que engendra gozo e desejo nas cenas,
nos acontecimentos experimentados pelos sujeitos nas relações sociais, numa
realidade compartilhada. Mais do que aquilo que pode gerar um governo, exercendo
um poder sobre o sujeito, diz respeito a uma produção, a um consenso do que é comum
para ser apropriado e elegível por uma sociedade. Percebamos que não se trata
apenas de ideias veiculadas entre povos; diz-se de ações impregnadas por ideias e
que se materializam em ato. Na política, há uma determinada forma de enxergar o
mundo, de se posicionar, de dirigir-se às escolhas, de reconhecer e de aceitar as
diferenças entre cada sujeito. Importa salientarmos - para o espanto de alguns de nós,
inadvertidos do que há na enunciação das palavras - a coexistência de “políticas” nas
vidas das pessoas; e não “política”, como poderíamos supor.
Ainda para Rosa (2016), “A política apresenta-se em duas faces: não apenas
como poder e domínio sobre o sujeito, mas também como a ação no espaço entre as
relações, ou seja, aquela que tem no horizonte a produção do mundo comum”. Posto
isso, cumpre trazer à baila neste momento a primeira face apresentada pela autora.
Vejamos que o poder e o domínio exercido pela política mencionada fazem jus a um
discurso que no contemporâneo se mostra regulador do laço social, da relação que os
sujeitos constroem com o mundo ao seu redor e com os outros sujeitos. Este discurso
foi definido por Jacques como o discurso do capitalista. O sujeito enredado na
maquinaria do poder é aquele constituído por esse discurso que pode supor um Outro
não barrado, discurso social que não admite o equívoco, a separação, a falta ou a
diferença. O “todos somos iguais”, a imagem, a autoestima e a onipotência do “eu me

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basto e não preciso dos outros para tocar a minha vida” são os emblemas e pilares
desse discurso. Pois bem, estes não são os traços que caracterizam o tempo do
narcisismo? A agressividade, a violência, a ambivalência do amor e do ódio (elevados
ao extremo) marcam o narcisismo: momento que inaugura a identificação primordial
(da conquista) da primeira imagem de si (unificada) para o infans, “eu sou tudo para ela
e ela é tudo para mim”. (COSTA, COSTA-ROSA, 2020).
Junto aos valores que impulsionam ímpetos narcisistas e incitam a
competitividade, de vencer a qualquer “custo”, Rosa sublinha uma violência nesses
discursos,

[...] modalidades de violência que ficam mascaradas em inúmeras questões


sociais como nas situações de miséria, sempre acompanhadas de um
processo histórico de exploração e de humilhação, ou nas catástrofes ditas
naturais que, embora aparentemente atinjam a todos, certamente incidem mais
direta e intensamente sobre aqueles mais frágeis na organização social e sem
recursos para minorar os efeitos da natureza. (ROSA, 2016, p. 26).

Dessa constatação material e histórica, chama-se a atenção para as


consequências da política social-econômica capitalista, “toda” estruturada no consumo
e no lucro. Uma política que existe à bancarrota da classe trabalhadora paupérrima,
daqueles que estão à margem da sociedade. Nas argumentações de Checcia (2015),
associado à política sempre está o poder - o poder de analisar ou o poder de coibir. Os
poderes atrelados a uma política teriam a potência de colocar uma posição em análise
a ponto de retificá-la ou infligir uma coerção a um lugar ocupado. Estes poderes, em
um específico panorama, estariam ligados ao Estado.
Para nos determos à política com a qual, a nosso ver, a Psicanálise partilha, é
pertinente tecer considerações sobre a política contemporânea de Estado. O Estado
entendido como nação representaria os interesses de uma população; ele é subscrito
a um país. Em um sentido objetivo, a nação se define como um conjunto de pessoas,
com suas histórias particulares, regionais e localizadas, que se consideram parte de
um mesmo território - geográfico, cultural e político. É notável, portanto, que desde a 1ª
Revolução Industrial, por volta do século XVIII, vige um sistema econômico nomeado
por Marx de modo de produção capitalista. Por intermédio deste, o Estado é o seu
principal representante, logo, não se posiciona de forma neutra e defende claramente
os interesses de uma determinada classe social. Nesta perspectiva, o Estado, em seu
ideário neoliberal, enquanto expressão dos interesses do capital, visará o
fortalecimento do mercado, assegurando-se de obter as condições propícias para o

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enriquecimento e acúmulo das riquezas. Notemos que a classe social mais favorecida
neste sistema econômico de funcionamento é a que detém a maior capacidade
financeira de poder de compra (COSTA, COSTA-ROSA, 2020).
Nutrindo e concomitante às diversas violências às minorias, assinalamos o
MCP, edificando-se no campo das formações sociais de maneira hegemônica e
conduzindo discursos que agem para anular as diferenças, a história dos sujeitos. Tudo
se passa como se a única história a ser contada devesse ser a dos vencedores, dos
colonizadores, ou, como brincou Lacan, a do herói “comum” - aquele que está a serviço
dos bens. Esta é uma lógica estruturante de um modo de se portar na realidade, de
relacionar-se com o Outro. Apresenta-se como um modelo de identificação que propaga
como lei fundante da vida aquela que dita que quem deve vencer é o mais forte. Isso é
o que pode justificar a irônica (para dizer trágica, de uma outra maneira) cena em que
o explorado se identifica com o explorador (ROSA, PENHA, FERREIRA, 2018).
Ainda conforme Rosa (2016): “Aqui, política e Psicanálise nos ajudam a
entender. Explico: a ambivalência está no cerne do sujeito e da agressividade que
habita cada um, ou seja, amor e ódio são dirigidos ao mesmo objeto, e o ódio está
sempre presente como potencialidade”. O amor e o ódio, colocados em ato
intensamente, trazem ao palco um enredo ideológico que anula o sujeito, individuando-
o. Há a produção de uma realidade na qual o sujeito não se reconhece fora dela, não
há dentro ou fora, “eu e o Outro somos um só”.
A reflexão que se segue, com Braunstein (2010), permite-nos afirmar que o
sujeito - ao se estruturar pelos significantes-mestres que vêm do discurso capitalista,
ou, como propõe o autor, do discurso dos mercados - não só não admite o que é
diferente de si, mas adere muito bem aos estereótipos, aos padrões de ser humano e
de conduta fornecidos pela cultura de mercado. O sujeito, além de consumir a imagem,
as bugigangas, os objetos comprados, consome a si próprio, adora-se. Ele é o próprio
objeto, consumido pelos ideais vendidos pela política de vida neoliberalista nos
“mercados” do MCP.
Nos questionamentos levantados por Rosa, Penha e Ferreira (2018), acerca da
forte intolerância existente entre as pessoas no contemporâneo, no discurso do
capitalista, os sujeitos não fazem laços. Concordamos com os autores quando estes
ainda apontam que, no Brasil, essa análise se expressa por meio de uma “onda”
crescente de jovens eleitores conduzidos por um revisionismo histórico e intolerantes à
política, interessados em candidatos à presidência que propagam o ódio e a violência.

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Nossa metodologia de investigação psicanalítica nos permite explorar esse
tema sem abrir mão de sua polissemia. Trata-se de um método que surge de
nossas experiências de atendimento psicanalítico em territórios marcados pela
exclusão social e política; da escuta dos sujeitos em situações sociais críticas.
(Rosa, Penha e Ferreira, 2018, p. 107).

A escolha de alinhar a Psicanálise às análises críticas oferecidas pelo


materialismo histórico - em relação ao que fornece suporte às formas de organização
da vida em sociedade. Na altura em que a pesquisa deste artigo foi realizada, os
autores encontrados para dialogar com o tema proposto no texto eram os que mais se
dedicavam ao tema “Psicanálise e política”.
Ressaltamos que os autores exploram, cada um ao seu modo, o conceito de
política à luz da Psicanálise de Freud e Lacan. Checcia (2015), se dedica mais a tecer
considerações acerca de uma política da Psicanálise, enquanto (ROSA, 2016), e em
outros artigos nos quais divide a autoria (ROSA; PENHA; FERREIRA, 2018),
desenvolve exaustivamente a noção de política em suas consequências devastadoras
ao sujeito, em sua concepção de desejo e produção de laço social. Os autores trazem
contribuições que muito nos interessam e nos servem de âncora para sustentar as
teorizações que iniciamos, contudo, acreditamos que não fica claro ainda acerca de
qual política estão comentando. Em torno das práxis psicanalíticas da qual partimos e
a partir do objeto de estudo recortado, este aspecto que ressaltamos é imprescindível.
Poli (2017) nos possibilita dar conta desta lacuna, ao passo que estão ao
encontro do que optamos ao redor da articulação entre Psicanálise e política. Antes de
enveredarmos para uma política da Psicanálise, preferimos debater sobre qual política
confere materialidade ao sofrimento psíquico e às demandas populares em seus
clamores. Esse olhar muda a nossa empreitada, exigindo-nos recorrer a outros campos
do saber. Neste caso, seguindo de Lacan aos escritos de Marx, em especial à
caracterização conhecida do que é a mais-valia em sua obra.

2.2 A noção de política e a sua necessária compreensão

Uma pequena digressão sobre o conceito de política é oportuna para o


desenvolvimento de nossa reflexão. A mínima compreensão deste conceito, em
Bordieu (2014), e Marx (2010), na leitura que fizemos dos textos cotejados de suas
obras, faz parte das contribuições da Psicanálise, apropriando-se da estética, a uma
escuta que alcance a política em vigor no nosso tempo.

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Antes de definir o que é a “política”, Bordieu (2014), introduz a concepção de
“campo”. O campo seria um “microcosmo”, componente do mundo social, o espaço
onde ocorrem as disputas, as lutas, os jogos de forças. Como exemplo da definição
citada, por exemplo, há o campo artístico, o campo religioso, os campos da Saúde e da
Assistencial Social, pensados como instituições. A política, enquanto isso, “[...] é uma
luta em prol de ideias, mas um tipo de ideias absolutamente particular, a saber, as
ideias-força, ideias que dão força ao funcionar como força de mobilização” (BORDIEU,
2014, p. 108). A política, vista sob a perspectiva de um dispositivo de produção, de um
específico laço social, seria um conjunto de ideias que agencia alguém ou alguma coisa
a produzir um produto.
Bordieu (2014), lembrou que existem condições diferentes de acesso à política
e, para cada condição social de ingresso à política, isto é, se o sujeito é mulher ou
homem, negro ou branco, pobre ou rico, há uma propensão maior ou menor de
responder aos problemas colocados por essa política. No funcionamento do campo
político, um certo número de pessoas - a minoria em termos de proporção numérica,
mormente os donos do capital - detém as condições sociais de acesso a este campo,
ao passo que os demais estão excluídos; no caso, a grande massa populacional.
Do ensaio que utilizamos de Bordieu (2014), levantamos duas perguntas, às
quais, em nossa compreensão Marx pôde responder há um século e algumas décadas
atrás: via de regra, quem são aqueles que fazem política e quem são os políticos? No
campo político, as lutas travadas em vista do poder sobre o Estado são entre quais
adversários? Principiando as respostas, de pronto, por intermédio do próprio sociólogo
Bordieu, existe no campo político um jogo particular de forças, dentre as quais uma
delas instaura a imposição de princípios que determinam uma visão e uma divisão do
mundo social.
No pensamento de Marx, a política é mediada pela economia. Não por menos,
Marx não deixou de medir esforços para criticar a economia e a política de sua época.
O questionamento do pensamento marxiano aponta para uma organização social do
trabalho na qual o trabalhador recebe apenas uma pequena parte do produto que ele
mesmo ajudou a produzir, para depois este mesmo produto circular no mercado como
mercadoria. Este mecanismo se associa ao que chamamos de economia política (nos
Manuscritos econômico-filosóficos, por estar dialogando com Adam Smith, Marx
prefere adotar a locução “economia nacional” no lugar de “economia política”), em

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outros termos, esta é a política arregimentada pelo modo de produção do capital, ao
ver de Marx, com o desígnio de instituir a infelicidade da sociedade.
Sustentada no livre-comércio, e na consequente não intervenção do Estado, o
caráter capitalista da economia política visa a acumulação do excedente que se extrai
pela circulação da mercadoria, venda e capital ganho. E o que permitiria a acumulação
do excedente? A exploração do proletariado, os trabalhadores que existem senão para
(re) produzir a perda de sua humanidade ao se tornarem uma classe de escravos, como
afirmara Marx (COSTA, COSTA-ROSA, 2020).

2.3 Psicanálise, estética e a política

Fonte: cliapsicologia.com.br/wp-content/uploads

O recurso aos domínios do saber derivados da estética é crucial para a


Psicanálise em seu arcabouço ético-político-clínico. A ética que corresponde ao desejo,
a política de fazer oposição a toda ou qualquer prática que ameace extinguir a
diferença, a clínica com sua técnica amparada nos pilares anteriores, aliadas à estética,
ganham em oportunidade de abertura e sensibilização aos sentidos constantemente
ignorados no convívio social.
No início do ensaio intitulado O ‘Estranho’, Freud afirmou que entendia por
estética “[...] a teoria das qualidades do sentir”. Ele mencionou que raramente os
psicanalistas se sentem convocados a pesquisar este tema. Buscando contribuir com
Freud, perguntaríamos: a estética se preocupa com as qualidades do sentir; e a
Psicanálise, também não se preocuparia? Não é para o que sente o sujeito em suas

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experiências no sofrimento e no desejo que a escuta do analista está voltada? E, se
raramente os analistas estudam o tema da estética, por outro lado, ou pelo menos
acreditamos que assim deveria ser, os analistas não fazem outra coisa que não estarem
atentos aos temas que tocam no interesse da estética.
Em tempos de indiferença e insensibilidade a acontecimentos que subestimam
a vida humana, tratando-a somente a partir da posição (status quo) social que ela
ocupa, propomos aproximar a Psicanálise do ramo da estética. Diante da atual política
e do regime de relações de poder existentes nas instituições do Estado, torna-se
fundamental dar um destino, nomear as sensações que nos sãos provocados. As
elaborações teóricas de Dionísio (2010 - 2018) sobre a relação entre Psicanálise,
estética e arte são bem-vindas para o objeto de trabalho neste artigo.
Dionísio (2010) investe numa aproximação entre a recepção-estética e a
Psicanálise quando em relação ao sujeito do inconsciente, à experiência de si defronte
às injunções apresentadas pela realidade. O autor destaca que a análise toca naquilo
que há de mais íntimo do sujeito no plano das suas sensações, à semelhança do que
seria o encontro do artista e do espectador com a obra de arte. Segundo Rancière
(2009), na teoria freudiana, a relação entre o pensamento (consciente) e o não-
pensamento (inconsciente) se forma no terreno da estética.
Tanto a Psicanálise quanto a estética tratariam do indizível, do que não se pode
dizer em palavras e do que está na enunciação dos discursos. Nesse sentido, parece-
nos interessante o que discorreu Dionísio (2018) sobre a dimensão sensível da escuta
flutuante em Psicanálise e o seu tom análogo ao trabalho de recepção-estética. Das
aproximações sugeridas pelos autores, é pertinente uma escuta que seja estética,
sensível e implicada nos eventos irrompidos da política econômica capitalista
(DIONÍSIO 2010; 2018; RANCIÈRE 2009).
Na esteira da presente reflexão, perguntarmos sobre como estamos escutando
a política, precavidos pela Psicanálise, é o mesmo que respondermos: há que se ter
um posicionamento, lê-se implicação, frente à política pautada na manutenção de
privilégios. Freyze-Pereira (2010), no que toca a relação da obra de arte com o
intérprete/espectador, trouxe a noção de “Psicanálise implicada” para expressar a
escuta analítica que se faz num contexto diferente do tradicional setting. Rosa também
decidiu aderir ao termo, contudo, localizando-o nas problematizações possíveis a
serem feitas em relação ao sujeito no laço social, nos seus modos de gozar e desejar
na relação com o Outro. Este é o trabalho que nos conduz à “[...] perspectiva da

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Psicanálise implicada, aquela em que as teorizações sobre desejo e gozo incluem o
modo como os sujeitos são capturados e enredados na máquina do poder, de modo
que algumas vezes tenha suspendido seu lugar discursivo” (DIONÍSIO, 2018).
A escuta estética, na marcação que expomos, alcança a arte do bem-dizer, a
implicação e a responsabilidade do sujeito nas escolhas que tateiam o desejo que o
habita. O reconhecimento do sujeito naquilo que a maquinaria do poder em suas
capturas o impele a sentir é o ponto-de-estofo necessário para que outros sentidos
sejam criados com base neste vínculo. A Psicanálise implicada no registro de uma
intensão ampliada, para além dos consultórios, mostra-se em seu ato estético como um
proveitoso meio de operar junto aos sujeitos e aos efeitos (danosos à singularidade do
desejo na dimensão criativa) da política econômica capitalista (ROSA, 2010).
A partir do caminho trilhado por Freud na psicanálise e por Husserl na filosofia,
temos o que Assoun chama de “divórcio epistêmico” (2009) operado pela psicanálise
em relação à filosofia, um divórcio que se dá na medida em que Freud coloca o status
do psiquismo em outra dimensão que não a da consciência. Todavia, embora tenha
inicialmente sido sustentado por Freud, este afastamento entre os dois campos de
estudo parece não ter sido assumido pelos filósofos contemporâneos, os quais, de
modo recorrente, viram nas ideias deste autor um grande desafio e um vasto campo a
ser interrogado (MEZAN, 2013).
Contudo, não só os filósofos questionaram o saber psicanalítico. Diante da
provocação freudiana de que o sujeito não encontra seu fundamento na razão e sim no
inconsciente, outras ciências, entre as quais podemos citar a psiquiatria
fenomenológica, também interpelaram a psicanálise, seja para lhe cobrar rigor
epistemológico, seja para questionar a cientificidade do seu conhecimento, ou ainda,
para tentar extrair dela apenas os aspectos que deveriam ser tomados como suas
principais contribuições. Dessa forma, se até aquele momento fenomenologia e
psicanálise caminharam isoladas entre si com seus fundadores, algumas décadas
depois, os seguidores de Freud, Husserl, ou de ambos, acabaram por encontrar meios
de fazer com elas se encontrassem. A respeito desse encontro, um primeiro aspecto a
ser considerado por conta de suas implicações históricas, refere-se à particularidade
com que filosofia e psiquiatria tomaram parte nesse debate (TATOSSIAN, 2012).
Nos países de língua alemã, a psiquiatria fenomenológica, por ter sido
marcadamente influenciada pelos trabalhos de Husserl e Heidegger, tendeu a se
afastar do inconsciente freudiano, ora opondo-se explicitamente a ele, ora ignorando a

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sua existência. Tal posicionamento representa, em grande medida, a tendência que a
tradição alemã seguiu em suas críticas dirigidas à psicanálise, que consistiu em atacar
a“ doença incurável” que acometeu a metapsicologia freudiana, a saber, sua herança
materialista, mecanicista, determinista e naturalista, a fim de lhe oferecer um outro solo
epistemológico ou, ainda, de negar seu ineditismo. Em solo francês, no entanto, a
trajetória do diálogo entre fenomenologia e psicanálise se constituiu de modo mais
consistente e por outras vias daquelas iniciadas na tradição germânica. Segundo
Tatossian (2006), duas foram as razões para isso, a saber, a inflexão antropológica e
existencial que a fenomenologia husserliana ganhou entre seus seguidores – Sartre,
Merleau-Ponty e Ricoeur –e, em especial, a renovação psicanalítica proposta por
Lacan. No caso francês, embora a discussão com a psicanálise tenha se dado muito
mais pelas mãos dos filósofos do que dos psiquiatras, não se pode deixar de considerar
que a abertura proporcionada por aqueles acabou por persuadir alguns psiquiatras
nessa direção. No caso destes, contudo, tal aproximação se deu menos por motivos
epistemológicos do que pelas necessidades oriundas da confrontação com os
pacientes doentes no curso de suas experiências clínicas, fato este que levou os
franceses a se aproximarem do método clínico psicanalítico, ao mesmo tempo em que
criticavam as bases teóricas da metapsicologia e tentavam, assim, revê-las
(TATOSSIAN, 2012).
Por este motivo, Assoun considera que a relação dos franceses com a
psicanálise freudiana é controversa, haja vista que aceitar o método psicanalítico e
tratar a doutrina psicanalítica como um sistema arbitrário faz com que aquele fique sem
respaldo. No que diz respeito às críticas tecidas pela tradição fenomenológica, o
principal ponto de impasse com o qual a psicanálise se depara seria a incompatibilidade
que há em assumir um modelo energético para explicar o funcionamento do psiquismo
e utilizar-se de um método que busca traduzir o sentido dos fenômenos apresentados
no contexto clínico. Assim, cabe melhor precisar de que forma o diálogo entre
fenomenologia e psicanálise se construiu no campo da psiquiatria germânica e,
também, que rumos ele tomou no contexto intelectual francês.

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3 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

Partindo da constatação do paradoxo contido nos direitos humanos


fundamentais, discutiremos como a subjetividade se articula na composição política da
presença dos corpos jovens na periferia. Os direitos humanos fazem valer uma forma
de regulação abstrata que desconsidera as condições materiais e simbólicas dos
sujeitos por eles protegidos. Ao serem universalizados e destituídos de carga étnica,
racial, econômica, social e de gênero, os direitos se tornam transcendências que, na
rotina dos corpos, hierarquias e instituições, naturalizam processos de desigualdade
social. A título de exemplo, o Brasil é o país com a terceira maior população carcerária
do mundo, sendo dois terços homens negros e pardos. O Brasil mata seus jovens
negros de periferia trinta vezes mais do que os países europeus, inclusive em guerra.
Nas periferias, discursos sobre a implementação de direitos humanos universais
convivem com práticas iníquas, excludentes e desiguais de aplicação da justiça
(GUERRA, 2020).
Esse paradoxo da disjunção reaparece com nova roupagem ao tomarmos pela
psicanálise a não coincidência do sujeito consigo mesmo, dado que o inconsciente é
destituído de qualidades. Além disso, a imagem do sujeito não corresponde ao seu eu
nem se reduz à representação de seu corpo. As diferentes representações do sujeito
escapam, inclusive, a sua experiência inconsciente de satisfação, sendo matriciadas
pela forma que ganham na linguagem (GUERRA 2017).
A essa multiplicidade de maneiras de presentificação de um corpo no mundo
corresponde uma multiplicidade de modos regulatórios no laço social. Direitos humanos
universais, leis jurídicas nacionais, lei do crime e lei superegoica - que rege
inconscientemente os atos compulsivos e repetitivos do sujeito - convivem no mesmo
plano em que sujeito e corpo social estabelecem suas tensionadas formas de
convivência. A relação que se firma entre esses códigos não é exatamente hierárquica.
Com igual força, eles disputam o campo político, comunitário e subjetivo, e se mesclam,
ganhando maior ou menor intensidade, conforme a perspectiva que se tome para ler o
complexo sistema que, então, se cria (GUERRA; BISPO; SOUZA, 2016).

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3.1 Reequilibração cognitiva

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Freud foi, como se viu, mais de uma vez alinhado com uma visão da
memória como conservação de um registro estático da experiência do organismo e
do sujeito psíquico, que podia estar ou não acessível ao resgate, mas que
permanecia relativamente idêntico a si mesmo ao longo do tempo, salvo pelo
eventual desgaste passivo devido à corrupção de sua base física no cérebro. Restituído
ao seu contexto, a abordagem freudiana pode aparecer mais claramente como
apontando para uma visão dinâmica e integrativa da memória, protagonizada pela
reorganização constante das conexões ativas que formam o seu correlato neural.
Assim, se a neurobiologia contemporânea da memória se afastou
consideravelmente das concepções do localizacionismo oitocentista e da
morfologia especulativa dos engramas, foi numa direção que a aproxima de uma
teoria como a de Freud e de outros autores que tomaram a mesma orientação e/ou a
desenvolveram nas décadas posteriores, até o presente. O resultado é que Freud e as
correntes teóricas psicanalíticas que deram continuidade aos seus pontos de vista
ainda parecem ser interlocutores relevantes para o debate contemporâneo sobre a
memória na psicologia e nas neurociências cognitivas (SHEVRIN, 2014; BOCCHI;
VIANA, 2012).
Uma concepção psicodinâmica sobre a memória remonta, sob muitos
aspectos, à natureza criativa que a memória tem em Freud, na qual a fantasia
inconsciente e o desejo são capazes de res-significar vivências e de instaurar

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novos sentidos a partir da experiência passada. Existem aproximações entre
aspectos da teoria da memória em Freud, a neurobiologia subjacente ao conceito
de facilitação (Bahnung), a ideia de LTP e essa concepção dinâmica que
desponta a partir de investigações neurocientíficas mais recentes, a fim de
apontar a existência de uma mesma linha de pensamento sobre a memória,
ligada à integração contínua de funções psíquicas e à experiência do seu uso.
Ou seja, se hoje a memória é entendida sob um ponto de vista neurodinâmico,
isso não foi inaugurado recentemente. A novidade encontra-se nas evidências
científicas e experimentais que lhe dão respaldo, e que surpreendentemente
corroboram algumas prerrogativas de Freud sobre o tema. E Freud, ao que tudo
indica, estava ciente das implicações da sua teoria psicodinâmica sobre a
memória quando a formulou como uma função construída ao longo da história
das vivências do aparelho psíquico. Através das vicissitudes do aparelho, a
percepção e a memória são modificadas por novas representações trazidas
pelas diferentes fases do desenvolvimento do indivíduo, o que imprime um modo
particular de organização e de atualização dos traços mnêmicos. Na Carta 52, o
autor se refere à memória como um “rearranjo” entre os processos: “o material
presente sob a forma de traços mnêmicos fica sujeito, de tempos em tempos, a
um rearranjo, de acordo com as novas circunstâncias – a uma retranscrição”.
Empolgado, anuncia a Fliess essa grande novidade: “o que há de
essencialmente novo em minha teoria é a tese de que a memória não se faz
presente de uma só vez, e sim ao longo de diversas vezes, e que é registrada
em vários tipos de indicação” (BOCCHI; VIANA, 2012).

16
4 FREUD E A INSTABILIDADE TEÓRICA NA METAPSICOLOGIA

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Para o historiador, a transformação da ciência constitui um desafio sério,


sobretudo na medida em que a mera verificação de uma teoria se torna difícil
por causa de seu caráter abstrato. Para o clínico interessado em aplicações,
porém, é também desorientador não encontrar uma base teórica firme sobre a qual
possa alicerçar sua prática. A existência de mudanças teóricas significativas indicaria
confusão por parte do cientista, o que comprometeria sua credibilidade. Daí uma baixa
tolerância para aquilo que podemos denominar instabilidade teórica, ou seja, a
constante reformulação de pressupostos na atividade teorizante do cientista
(TORRIANI; TRISTAN, 2016).
No âmbito da literatura psicanalítica, a questão da continuidade ou ruptura
nas teorias de Freud se mostrou uma falsa alternativa, requerendo uma abordagem
mais diferenciada. Após uma aprofundada análise do pensamento freudiano,
Monzani (2014) conclui que:

Trata-se de vários procedimentos e operações. [...] O que temos é sempre uma


progressiva rearticulação e redefinição dos conceitos determinada por sua
lógica interna e pela progressiva integração dos dados da experiência.
Ora se trata do aprofundamento e do alargamento de um conceito
(sedução). Ora se trata de uma progressiva diferenciação no interior de
um mesmo conceito (ego). Ora da emergência de uma noção implícita mas
ordenadora (a pulsão de morte) etc. E cada uma dessas operações leva,
por sua vez, frequentemente, a que se obrigue a repensar o conjunto dos
conceitos que lhe são vizinhos e assim por diante. (MONZANI, 2014, p.
295).

Pelo movimento pendular, Monzani entende a alternação entre um polo e seu


oposto, seu exemplo disso sendo o tratamento dado aos conceitos de ego consciente
por um lado e o de inconsciente por outro lado. Freud teria inicialmente elaborado um

17
conceito de ego no Projeto de uma psicologia para neurológios (1895) que passaria
então por um certo abandono, durante o qual ele se ocupou do conceito oposto, o
inconsciente, até os anos 1920, quando voltaria a tratar do ego. Pelo movimento
espiralado, trata-se de entender “[...]essa imagem no espaço e cilindricamente, em que
as mesmas questões são abordadas, “esquecidas”, retomadas, mas não no mesmo
nível em que estavam sendo tratadas anteriormente” (MONZANI, 2014). Isso sugere a
figura da hélice, pois a espiral em três dimensões gera um cone.
Em seus escritos metapsicológicos, Freud relaciona explicitamente a questão
da instabilidade teórica com a sua compreensão do que seria um conceito, sobretudo
em duas breves passagens de Introdução ao narcisismo (1914) e Os instintos e seus
destinos (1915). Vejamos estes trechos na íntegra:

Não nos sentimos bem ao abandonar a observação em favor de estéreis


disputas teóricas, mas não podemos nos furtar a uma tentativa de
esclarecimento. É certo que noções como a de uma libido do Eu, energia dos
instintos do Eu e assim por diante não são particularmente fáceis de apreender
nem suficientemente ricas de conteúdo; uma teoria especulativa das relações
em jogo procuraria antes de tudo obter um conceito nitidamente circunscrito
como fundamento. Acredito, no entanto, ser justamente essa a diferença entre
uma teoria especulativa e uma ciência edificada sobre a interpretação da
empiria. Esta não invejará à especulação o privilégio de uma fundamentação
limpa, logicamente inatacável, mas de bom grado se contentará com
pensamentos básicos nebulosos, dificilmente imagináveis, os quais espera
apreender de modo mais claro no curso de seu desenvolvimento, e está
disposta a eventualmente trocar por outros. Pois essas ideias não são o
fundamento da ciência, sobre o qual tudo repousa; tal fundamento é apenas a
observação. Elas não são a parte inferior, mas o topo da construção inteira,
podendo ser substituídas e afastadas sem prejuízo. Em nossos dias vemos
algo semelhante na física, cujas concepções básicas sobre matéria, centros de
força, atração etc. não seriam menos problemáticas do que as correspondentes
na psicanálise. (FREUD, [1914] 2010, p. 13).

Tomando como referência a física, o pai da Psicanálise esclarece que entende


a empiria como fundamento da ciência e a teoria como uma superestrutura descartável.
Os fatos clínicos permaneceriam inalterados como pedras coloridas num caleidoscópio,
e as hipóteses poderiam ser reformuladas, dando - nos múltiplas interpretações.
Podemos notar inicialmente a dificuldade de que tal substitutibilidade requereria um
desacoplamento total da empiria em relação à teoria, o que é impossível após a
aquisição da linguagem, pois pelo menos alguns fatos terão que ser
interpretados segundo conceitos (ou habilidades categorizadoras verbais). Em
outras palavras, não é possível termos uma empiria puramente nocional ou intuitiva,
pré-verbal), logo, alguns conceitos deverão permanecer após o processo de revisão
teórica. Freud opõe uma teoria especulativa a uma ciência intérprete da empiria,

18
reconhecendo que a primeira poderia se dar ao luxo de procurar conceitos claros e
fixos como fundamento. A porém, supostamente teria que se contentar apenas com
conceitos imprecisos e mutáveis. Deste modo, a consulta à experiência não precisaria
de maiores controles lógicos. A teoria especulativa se moveria de cima para baixo,
ao passo que a ciência empírica - interpretativa avançaria no sentido inverso,
de baixo para cima. Fica sugerido, pouco convincentemente, que o lidar com a
empiria seria razão suficiente para eximir o pesquisador de maior rigor lógico e controle
experimental (TORRIANI; TRISTAN, 2016).
A Física é invocada como referência metodológica, apesar da grande diferença
entre o seu objeto de estudo e o da Psicologia. Como observa Kathleen Wilkes, “Freud
me parece ter sido um daqueles que acolhiam as ciências físicas como um superego
para a Psicologia em geral. ” Pode-se perceber agora também um cuidado maior em
reconhecer a impossibilidade de se evitar o uso de conceitos na descrição dos
fenômenos. Se, na passagem citada do ano anterior, poderia talvez ter havido um
pressuposto mais ingenuamente empirista, agora Freud parece admitir o que Immanuel
Kant poderia ter considerado serem conceitos empíricos. O caráter convencional dos
conceitos é aceito, pois sem maleabilidade não haveria avanços científicos, mas isso
seria distinto de uma mera arbitrariedade. É bom lembrar que, na sua
autocompreensão, Freud se imagina como o fundador de uma nova ciência que, por
meio de sua capacidade de intervenção terapêutica, poderia trazer grandes benefícios
(ou malefícios) à humanidade. Como vimos, segundo o pai da Psicanálise, haveria pelo
menos dois momentos na prática científica. O primeiro momento seria o de uma
abordagem necessariamente confusa e exploratória da experiência. Não é claro,
porém, porque o pesquisador não poderia e não deveria tentar buscar clareza
conceitual. Freud afirma que a experiência não seria a fonte dos conceitos, mas, ao
contrário, que os dados estariam submetidos aos conceitos, e o sentido destes últimos
seria continuamente negociado. Deste modo, parece haver um afastamento da
concepção empirista ingênua da ciência e uma aproximação a um tipo de
convencionalismo ou mesmo pragmatismo. O segundo momento seria um de
rearrumação lógica, em que os conceitos seriam revistos para que se tornassem mais
consistentes, mas Freud avisa que mesmo assim o progresso da ciência exigiria do
teórico conceitos maleáveis. Estas duas passagens se limitam a registrar instantes no
que podemos chamar o devir (evitaremos o termo ‘desenvolvimento’) teórico freudiano,
em que a reflexão metodológica se mostra incontornável. Devem ser tomadas pelo que

19
são, sem tentativas de extrapolação ou generalização indevida (TORRIANI; TRISTAN,
2016).

5 HABITAR O INÓSPITO: A CONDIÇÃO HUMANA

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“Na angústia, ele sente-se '‘estranho’'” (2012), escreveu Martin Heidegger,


naquela que é conhecida por ser uma das obras mais notáveis do século XX, a saber,
Ser e Tempo. Apresentando a angústia como uma abertura ao estranho, o a
inospitalidade do Dasein. Não se tratava, todavia, de um simples lampejo autor em
meio a uma obra marcada exatamente pela aridez de linguagem. Ao contrário, essa
frase revela, sobretudo, a condição fundamental do existir humano. Iniciar por ela,
portanto, transcende a um mero recurso estético ou de estilo, porquanto lança-nos de
imediato para aquele que é o tema central da presente tese, especificamente, a
condição de indeterminação revelada pelo afeto da angústia. Além disso, ela nos serve
de ponto de partida para pensar um possível diálogo entre as preocupações ontológicas
do filósofo alemão e aquelas que, suspeitamos, ocuparam o psicanalista Sigmund
Freud. Este, ao desenvolver os alicerces da metapsicologia, apresentou a angústia
como uma manifestação afetiva desvinculada de qualquer objeto e, por isso, como uma
expressão privilegiada da pulsão em toda sua potência de indeterminação e
estranheza. Assim, se para Freud as pulsões são marcadas pela indeterminação de
seu objeto e estão no fundamento do aparelho psíquico, para Heidegger, o nada é o
lugar onde se sustenta o existir humano. Em todo caso, parece que para ambos é a

20
radical face da indeterminação que está em questão quando a angústia se manifesta.
Caso as coisas se deem desse modo, então, talvez não soe demasiado arriscado
afirmar que a angústia, tal como a concebem Heidegger e Freud, abre a possibilidade
de se conquistar um solo comum de diálogo entre o filósofo e o psicanalista, naquilo
em que apontam para os fundamentos do desenvolvimento psíquico e emocional
humano (BARBOSA, 2020).

5.1 O inconsciente freudiano

É preciso ter clareza de qual é o objeto da psicanálise. Ainda que o biológico


exista e não seja recusado por Freud, não é o seu objeto. O objeto da psicanálise é o
psíquico, em particular, o inconsciente.
Nas Conferências Introdutórias, Freud demarca o campo psicanalítico:

Essa é a lacuna que a psicanálise busca preencher. Ela pretende fornecer à


psiquiatria o fundamento psicológico faltante; espera descobrir o terreno
comum a partir do qual se possa compreender a convergência do distúrbio
físico e do psíquico. Para tanto, é necessário que ela se mantenha livre de todo
e qualquer pressuposto anatômico, químico ou fisiológico que lhe seja
estranho, que trabalhe com conceitos auxiliares puramente psicológicos, e é
por essa mesma razão que, receio, ela lhes parecerá estranha inicialmente
(FREUD, 1916a, p. 27).

A razão por que Freud recorre a essa analogia é para argumentar que as
instâncias operam com leis diferentes: “essa diferenciação espacial corresponde a uma
diferenciação funcional, na medida em que cada um desses lugares é regulado por leis
próprias, constituindo assim uma espécie de subsistema no interior do aparelho”.
Precisamos distinguir, então, inconsciente, pré-consciente e consciente. Em uma nota
de rodapé de 1919, Freud identifica a consciência com a percepção. A consciência, diz
Freud: “nada mais é do que um órgão sensorial para a percepção de qualidades
psíquicas” (ZAIDAN et al, 2019).
No sentido dinâmico, podemos diferenciar o inconsciente do pré-consciente,
pois enquanto o último caracteriza conteúdos que, ainda que não estejam na
consciência, podem se tornar conscientes a qualquer momento, o reprimido caracteriza
conteúdos que apesar de sua intensidade não podem se tornar conscientes. O aspecto
dinâmico expressa o jogo de forças que ocorre no aparelho psíquico. O inconsciente
enquanto sistema está presente na concepção de que as localidades psíquicas são
regidas por leis próprias. Enquanto o inconsciente é regido predominante mente por

21
processos primários, na consciência e no pré-consciente predominam processos
secundários. Dizemos predominantemente porque Freud nos faz uma advertência
importante, a respeito da presença da consciência durante o sonho, de que isto: “nos
alerta contra identificar os processos primários com processos inconscientes” (ZAIDAN
et al, 2019).

5.2 Eu na teoria freudiana

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Basicamente, Longuenesse afirma que é possível que o Eu de Freud seja


considerado como um descendente da unidade transcendental da apercepção de Kant.
Assim como, para Kant, o uso do Eu no Eu penso estaria conectado à consciência de
uma unidade de conteúdos mentais ordenada por regras lógicas, a saber, à consciência
de que se está engajado em uma atividade, que o indivíduo considera como própria, de
ligação de representações de acordo com regras, o conceito freudiano de Eu também
consistiria em uma organização de eventos mentais cujos conteúdos apresentariam um
tipo específico de unidade, na medida em que os últimos seriam estruturados conforme
regras lógicas elementares, levando em conta que o Eu é governado pelo princípio de
realidade e opera por processos psíquicos secundários, segundo a terminologia
psicanalítica de Freud (CORDEIRO, 2014).
A primeira relação explorada por Longuenesse, a mais próxima da hipótese geral
e aquela que se pretende retomar, consiste no seguinte paralelo - da mesma forma que
a unidade transcendental da apercepção, que fundamenta o uso do Eu no Eu penso, é

22
uma condição necessária para a aquisição de conceitos, para a ligação dos conceitos
em juízos e inferências e para que haja “representações de objetos externos
sistematicamente conectadas” (LONGUENESSE, 2017), o Eu de Freud “é aquele
aspecto da nossa vida mental cujos conteúdos intencionais obedecem regras lógicas
elementares e são ordenados de acordo com o ‘princípio de realidade’” (idem, ibidem).
Tanto a unidade da apercepção quanto o Eu referem-se, em última análise, a
organizações de processos mentais que encontram sua expressão nos conceitos e nos
juízos - no pensamento discursivo, nos termos kantianos; nos processos psíquicos
secundários sob o império do princípio de realidade, segundo Freud. Como parte da
justificativa, Longuenesse recorre a duas referências que compõem a extensa obra do
psicanalista; de modo mais rápido, ao texto intitulado Formulações sobre os dois
princípios do acontecer psíquico, publicado em 1911, e ao artigo de 1923, O Eu e o
Isso, que é a fonte principal da autora quanto à noção freudiana de Eu (FILLA, 2019).
Nas Formulações, a principal preocupação de Freud é indicar algumas
consequências resultantes da imposição do princípio de realidade ao aparelho psíquico.
Para uma breve explanação, é suficiente recuperar do texto freudiano que, a princípio,
em seu funcionamento primário, os processos psíquicos eram governados pelo
princípio de prazer, cuja tendência se resumia à satisfação, mas este estado de repouso
psíquico passa a ser perturbado por urgentes necessidades internas. O organismo, que
procurava livrar-se de qualquer aumento de tensão que lhe afligia, tenta o caminho da
satisfação alucinatória de desejo para resolvê-lo, por meio da reanimação de traços
mnêmicos do objeto desejado, retidos de vivências anteriores de satisfação. Contudo,
a via alucinatória se mostra ineficaz para eliminar os estímulos endógenos, que
continuam perturbando o indivíduo, de modo que, logo no início de seu
desenvolvimento, ele se vê obrigado a buscar uma alteração no mundo real que
viabilize a satisfação – “Assim se introduziu um novo princípio na atividade psíquica; já
não se representou o que era agradável, mas sim o que era real, ainda que fosse
desagradável” (FILLA, 2019).
Contudo, a imposição desse novo princípio, representante da realidade, não se
desenrola sem consequências, as quais, como já foi dito, são elencadas por Freud, a
começar por uma série de adaptações do aparelho psíquico, como o aumento da
importância dos órgãos sensoriais dirigidos ao mundo exterior, da consciência ligada a
eles e o desenvolvimento das funções da atenção e da memória. Todavia,
Longuenesse destaca especialmente o papel do princípio de realidade quanto ao

23
surgimento da capacidade de formar juízos, visto que, depois do seu estabelecimento,
ao invés de excluir ideias causadoras de desprazer dos processos associativos através
da repressão, “surgiu o juízo imparcial que decidiria se uma determinada representação
era verdadeira ou falsa, quer dizer, se estava ou não em consonância com a realidade;
e o fazia por comparação com os traços mnêmicos da realidade”. Em outras palavras,
o estabelecimento do princípio de realidade passa a exigir que o indivíduo diferencie
percepção objetiva de recordação e julgue se é possível reencontrar um objeto real que
corresponda àquilo que é representado subjetivamente. Este exame de realidade, que
busca inibir o investimento de uma imagem mnêmica até a alucinação, é uma das
atribuições do Eu, conforme virá a afirmar Freud. É ao que Longuenesse (2017) parece
se referir quando afirma que o Eu nos permite “adquirir uma representação perceptiva
confiável do mundo”.

6 FANTASIA E REALIDADE PARA A PSICANÁLISE FREUDIANA

Fonte: data:image/png

Investigar o estatuto da realidade para a Psicanálise tem grande relevância


clínica, uma vez que permite situar a especificidade da clínica psicanalítica ao se propor
a operar com o sujeito do inconsciente. Tem ainda interesse particular na atualidade
quando a noção de indício, derivada da Medicina baseada em evidências, ganha
destaque e poder nos discursos sobre tratamentos psicológicos. Pode-se, assim,
apresentar algumas questões: qual a relação das fantasias inconscientes, da realidade
psíquica, com os eventos sociais? Como correlacionar o que ocorre na cena social com

24
o que ocorre no que Freud nomeou como Outra Cena, palco das fantasias? Esclarecer
o sentido em que essas relações podem ser pensadas implica situar como a Psicanálise
poderia ler, por exemplo, os efeitos das modificações sociais contemporâneas para o
sujeito. Essa discussão mostra a forma como a Psicanálise, de modo subversivo e na
contramão da perspectiva de controle defendida pela sociedade contemporânea, traz
o sujeito como resposta inédita. Assim, a noção de realidade permite situar como a
clínica psicanalítica deve operar e como considerar o discurso e a narrativa do paciente.
Permite, ainda, discutir como a Psicanálise se posiciona eticamente na cultura. Trata-
se, então, de uma noção bastante específica para a Psicanálise, polêmica, mas
fundamental para o entendimento da própria Psicanálise, especialmente de suas práxis.
Freud elabora a Psicanálise a partir da escuta de suas pacientes histéricas
e da consideração daquilo que em seus relatos remetia ao que nomeou como
Outra Cena, o Inconsciente. Ou seja, a Psicanálise surge de uma demanda
clínicae de um trabalho que reconfigura essa demanda. Assim, considera-se que a
Psicanálise fulgura no momento em que Freud declara que sua escuta analítica
não tinha como desígnio extrair informações sobre os fatos, mas sobre as
fantasias inconscientes. Isto é, a Psicanálise passa a existir quando Freud afirma
que se interessa pela realidade psíquica.
O sintoma histérico foi lido por Freud como uma solução de compromisso entre
forças conflitantes. Essa construção diante do não suportável, conflitivo, resultaria na
conversão histérica, a qual mostra que Freud aposta em uma realidade psíquica,
havendo, portanto, a passagem da consideração do trauma como evento social para
evento inconsciente. Consequentemente, as mulheres ditas histéricas encontravam na
expressão corporal do sintoma a maneira legítima de denunciar a opressão que as
acometia. Uma vez que ninguém estava disposto a promover uma escuta dessa
angústia, essas mulheres encontraram em Freud ouvidos dispostos à escuta daquilo
que não se pode dizer.
Como ratifica Coppus (2013), o corpo humano inclui-se na análise. É a partir
desse corpo que a Psicanálise instaurou uma realidade que se difere da realidade
compartilhada: uma realidade psíquica. Freud esbarra na realidade psíquica da
histérica vendo ali uma expressão do psiquismo como uma forma de arranjo de seu
inconsciente ao tentar significar corpo e realidade. Na obra “Estudos sobre a histeria”,
Freud aponta três pontos basilares da histeria: haveria um episódio traumático tendo
relação com impulsos libidinais que foram recalcados; os sintomas histéricos não

25
estavam desconexos, havia uma lógica, eles faziam sentindo e tinham um porquê de
ser; e uma alternativa para se buscar a cura seria a evocação da lembrança traumática
seguida por um episódio catártico. Ele precisou redimensionar esses pontos para
elaborar a Psicanálise.
A clínica da histeria conduz Freud à adoção da hipótese do inconsciente e à
extração das consequências clínicas dessa hipótese de trabalho, empreendimento que
será a veia condutora de toda a sua obra. Assim, é situando a fantasia inconsciente
como realidade psíquica que Freud cria a Psicanálise, ainda que a realidade psíquica
se constitua a partir de um hiato, de uma falta. Para se aprofundarem essas noções,
remete-se à experiência do desamparo descrita por Freud nos primórdios de sua obra
(REIS E SILVA, 2020).

7 FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE SEGUNDO A PSICANÁLISE

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Para a Psicanálise, a formação da personalidade coincide com a formação e


estruturação da mente. Para Freud, o ser humano não é um indivíduo. Isso porque ele
está “dividido”. Seus desejos, suas razões e seus apelos morais não coincidem. Pois
são formados em momentos diferentes da vida, usando estruturas mentais diferentes.
A infância tem papel essencial na formação da personalidade. Para Freud, a
infância já é um lugar da sexualidade, do desejo, das pulsões. E os eventos da infância,
mesmo quando “esquecidos” (recalcados), podem perdurar por toda nossa vida,
guiando nossas percepções, emoções e crenças. Polêmicas, ousadas e radicais, suas

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teorias a respeito de fenômenos como interpretação dos sonhos, sexualidade e
inconsciente ainda são alguns dos temas mais estudados e criticados nesse campo de
saber. Como se sabe, a motivação sexual foi muito enfatizada por Freud,
particularmente, nos seus primeiros trabalhos. Uma das mais conhecidas - as cinco
fases do desenvolvimento psicossexual da criança - ainda provoca acaloradas
discussões entre os profissionais da área (FERREIRA, 2014).
De acordo com Freud, as crianças passam por cinco fases de desenvolvimento:

I – A fase oral (0 – 1 ano)


Desde o nascimento, Freud afirma que a primeira fase de desenvolvimento de
uma criança se concentra na região oral. Tendo como exemplo principal foco a
amamentação da mãe, a criança obtém prazer no momento da sucção e sente
satisfação com a nutrição proporcionada pelo ato. Caso a amamentação fosse
interrompida precocemente, o autor afirmava que a criança teria atitudes suspeitas, não
confiáveis ou sarcásticas, enquanto aquela que for constantemente amamentada terá
uma personalidade confiante e ingênua. Com duração de um ano a um ano e meio, a
fase oral termina com na época do desmame.

II – A fase anal (1 – 3 anos)


Após receber orientações sobre higiene íntima, a criança desenvolve uma
obsessão para com a região anal e o ato de brincar com as próprias fezes. Freud
afirmava que a criança vê esta fase como uma forma de se orgulhar das suas
"criações", o que levaria à personalidade "anal expulsiva". A criança poderia também
propositadamente reter seu sistema digestivo como forma de confrontar os pais, o que
levaria à personalidade "anal retentiva". Esta fase tem duração de um a dois anos.

III – A fase fálica (3 – 5 anos)


De acordo com o psicanalista, a fase fálica é a mais crucial para o
desenvolvimento sexual na vida de uma criança. Ela se concentra nos órgãos genitais
- ou a falta deles, se a criança for do sexo feminino - e os complexos de Édipo ou Electra
surgiriam. Para um homem, a energia sexual é canalizada no amor por sua mãe,
levando a sentimentos de inveja (às vezes violentos) contra o pai. Geralmente, no
entanto, o menino aprenderá a se identificar com o pai, em termos de órgãos genitais
correspondentes, reprimindo assim o complexo de Édipo. Por outro lado, o complexo

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de Electra, embora Freud não tenha sido tão claro assim, principalmente diz respeito
ao mesmo fenômeno, porém invertido, para as meninas. Esta fase dura de três a quatro
anos.

IV – O período de latência (5 anos – puberdade)


Freud dizia que o período de latência no desenvolvimento da criança não é um
período psicossexual, mas sim uma fase de desejos inconscientes reprimidos. Neste
período, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora desejos e impulsos
sexuais possam ainda existir, eles são expressos de forma assexuada em atividades
como amizades, estudos ou esportes, até o começo da puberdade.

V- A fase genital (puberdade e vida adulta)


Segundo Freud, na fase genital, a criança mais uma vez volta a sua energia
sexual para seus órgãos genitais e, portanto, em direção às relações amorosas. Ele diz
que esta é a primeira vez que uma criança quer agir de acordo com seu instinto de
procriar. Os conflitos internos típicos das fases anteriores atingem aqui uma relativa
estabilidade conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os
desafios da idade adulta. Neste momento, meninos e meninas estão ambos
conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de
satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais (FERREIRA, 2014).

7.1 A formação da personalidade segundo a Teoria Estrutural

As observações feitas por Freud revelaram uma série interminável de conflitos


psíquicos. A um instinto opunha-se outro. Eram proibições sociais que bloqueavam
pulsões biológicas e os modos de enfrentar situações que se chocavam.
Freud tentou ordenar este caos aparente propondo três hipotéticas instâncias da
formação da personalidade: id, ego e superego.

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7.2 O ID

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É no Id que estão as pulsões. O Id é irracional, ilógico e impulsivo. O Id busca o


prazer, desconsiderando as consequências. Ele quer a satisfação imediata de seus
impulsos. O Id pode ser comparado a um cavalo que tem muita força, mas que depende
do cavaleiro para usar adequadamente essa força.
Os conteúdo do Id são quase todos inconscientes, e isto inclui as configurações
mentais que nunca se tornaram conscientes, da mesma forma como o material que não
foi aceito pela consciência.
Um pensamento ou uma lembrança, que foi excluído da consciência, mas que
se encontra na área do Id, será capaz de influenciar toda vida mental de uma pessoa
(QUEDER, 2018).
O id representa e se faz lugar da parte pulsional da vida psíquica humana, ele
não conhece nem normas (interditos ou exigências) nem realidade (tempo ou espaço)
e é regido unicamente pelo princípio do prazer, pela satisfação imediata e incondicional
de seus imperativos. O id é portanto o eixo fundamental das pulsões sexuais. Trata-se
de uma instância inteiramente inconsciente. Em A decomposição da personalidade
psíquica, Freud nos diz que ele:

[…] é a parte obscura, inacessível, de nossa personalidade; o pouco que nós


sabemos dele, o aprendemos pelo estudo do trabalho dos sonhos e da
formação de sintomas neuróticos, e o essencial disto possui um caráter
negativo, não se deixando descrever em posição oposta ao ego.

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Enquanto instância completamente inconsciente, o id é vivido como algo que faz
irrupção a despeito do ego e do superego, ele faz fazer e ao mesmo tempo tende a
escapar de toda possibilidade de discernimento. Podemos encontrar neste ponto um
aspecto impessoal justamente onde existe um ponto que se impõe de maneira
inconsciente, como a experiência de uma força quase exterior e não menos imperativa
por isso. Ele possui um aspecto impessoal exatamente lá onde é inconsciente, onde o
indivíduo encontraria dificuldades a se reconhecer. Em francês – língua na qual
Deleuze e Guattari leram Freud e o criticaram –, podemos ilustrar tal questão de
maneira ainda mais precisa graças ao uso corrente e pronominal da palavra que é
usada para traduzir o que no Brasil foi traduzido como id18: le ça pode ser traduzido
como o id ou o isto. Esta segunda variante, talvez menos freudiana, nos mostra
entretanto o caráter impessoal de tal instância pelo simples fato de que se trata de um
pronome demonstrativo substantificado, sublinhando justamente este aspecto do
problema de descentramento da personalidade (MARTINS, 2015).

7.3 O EGO

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O Ego está em contato com a realidade. Funciona a nível consciente e pré-


consciente, embora também contenha elementos inconscientes. O Ego protege o Id,
mas extrai dele a energia suficiente para suas realizações. O Ego tem a tarefa de
garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade (autopreservação).

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Ego tem a função controlar as exigências dos instintos do Id, decidindo se elas
devem ou não ser satisfeitas, adiando-as para momentos mais favoráveis ou as
suprimindo inteiramente. O ego busca o prazer e evita o desprazer. Assim, o ego é
originalmente criado pelo Id, na tentativa de melhor enfrentar as necessidades de
reduzir a tensão e aumentar o prazer. Contudo, para fazer isto, o Ego tem de controlar
ou regular os impulsos do Id, de modo que a pessoa possa buscar soluções mais
adequadas, ainda que menos imediatas e mais realistas (QUEDER, 2018).
O ego é uma espécie de altar das identificações, ele é propriamente um produto
das relações identificatórias. Depois da concepção de um superego de cunho arcaico
e que foi determinado por imagines parentais de certa forma herdadas pelo complexo
de Édipo, as identificações sucessivas que nos acometem fazem com que ao longo
desta lógica sucessiva nos distanciemos gradativamente dos pais de uma cena arcaica,
numa trajetória rumo a uma impessoalidade crescente. O ego é uma instância que abre
o indivíduo a uma multiplicação de referências identificatórias que ultrapassa e excede
a rigidez marcadamente mais regressiva do superego. A respeito desta questão, Freud
nos diz:

Não esqueçamos […] que a criança aprecia seus pais diferentemente nas
diversas épocas de sua vida. Na época em que o complexo de Édipo cede seu
lugar ao superego, eles são certamente grandiosos, e posteriormente
testemunham de uma grande desvalorização. Produzem-se então também
identificações com certos pais posteriores (educadores, chefes…), tais
identificações fornecem regularmente contribuições importantes à formação do
caráter, mas concernem apenas ao ego; elas não influenciam mais o superego,
que foi formado a partir das imagines parentais.

O ego é lugar de toda identificação que se dá num tempo lógico posterior ao


campo identificatório mais regressivo do psiquismo humano, isto é, das chamadas
identificações primárias, que foram para o indivíduo os trilhos para uma saída no
declínio do complexo de Édipo e cederam seus lugares ao superego (MARTINS, 2015).

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7.4 O SUPEREGO

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O Superego se desenvolve a partir do Ego e atua como um juiz ou censor sobre


as atividades e pensamentos do Ego.
Nele estão os códigos morais, modelos de conduta e os parâmetros que
constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três funções do Superego:
consciência, auto-observação e formação de ideais.
Enquanto consciência pessoal, o Superego age tanto para restringir, proibir ou
julgar a atividade consciente, porém, ele também pode agir inconscientemente. As
restrições inconscientes são indiretas e podem aparecer sob a forma de compulsões
ou proibições. O Superego tem a capacidade de avaliar as atividades da pessoa,
independentemente das pulsões do Id para tensão-redução e independentemente do
Ego, que também está envolvido na satisfação das necessidades (QUEDER, 2018).
Esta instância psíquica é apresentada por Freud como uma herdeira
transgeracional que remonta, ao menos, aos avós quando estes imprimiram um
superego aos pais e estes imprimiram um superego em seus filhos. O superegonão se
constituiria a partir de uma identificação aos pais, mas a partir da transmissão do
superego que foi transmitido aos pais pelos avós, e assim por diante no sentido
ascendente. Freud supõe também a existência de uma temporalidade surperegoica
marcadamente arcaica que se dá em uma relação viva com o passado e as tradições
de cada povo, nas origens do que Freud chamava de Kultur. Algumas linhas de A
decomposição da personalidade psíquica a respeito da temporalidade em jogo nas
questões do superego:
32
O superego da criança não se edifica verdadeiramente sobre o modelo dos
pais, mas sobre o modelo do superego dos pais; ele se preenche do mesmo
conteúdo, ele se torna um portador da tradição, de todos os julgamentos de
valor à prova do tempo que por esta via são perpetuados geração após geração
[…] nesta tradição da raça e do povo, que só cede muito lentamente à influência
do presente, às novas modificações. Este passado age através do superego
depois de muito tempo, ele tem um papel importante na vida humana,
independente das condições econômicas.

Presumimos encontrar nessa instância psíquica portadora de toda uma tradição,


um papel que ultrapassa a forma de experiência subjetiva que atribuímos a uma pessoa
e remonta aos mais diversos interditos ascendentes, ancestrais. Neste sentido, grosso
modo, para o que Freud apresenta como sendo o superego, não há descendência,
apenas ascendência. Em última instância, toda descendência é produzida e sobre
determinada pela ascendência à qual remontaria uma genealogia do superego. Neste
aspecto, o indivíduo se encontra finalmente reduzido a um ponto de uma linhagem da
espécie humana e da sua própria família. A relação entre o indivíduo e sua genealogia
superegoica seria assim uma concepção impessoal e quase metafísica do superego
(MARTINS, 2015).

7.5 Relações entre os três componentes da psique na formação da


personalidade

Fonte: miro.medium.com

33
A meta fundamental da psique é manter e/ou recuperar um nível aceitável de
equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer.
Todo o processo inicia-se no Id, que é de natureza primitiva, instintiva. 0 ego,
surge do id e existe para lidar com a realidade das pulsões básicas do id e também
atua como mediador entre as forças que operam no Id e no Superego e as exigências
da realidade externa. O Superego, surge do ego, e age como um freio moral ou uma
força contrária aos interesses do ego. Ele determina normas que definem e limitam a
flexibilidade do Ego.
É necessário esforço para tornar consciente os conteúdos do inconsciente
O id é inteiramente inconsciente, o ego e o superego o são em parte. “Grande
parte do ego e do superego pode permanecer inconsciente e é normalmente
inconsciente. Isto é, a pessoa nada sabe dos conteúdos dos mesmos e é necessário
despender esforços para torná-los conscientes”. O propósito da psicanálise nesses
termos, o propósito prático da psicanálise “é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais
independente do superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua
organização, de maneira a poder assenhorear-se de novas partes do id” (QUEDER,
2018).

8 NEUROSE E PSICOSE

Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

Os primeiros escritos da obra freudiana categorizavam transtornos emocionais


em três grupos e Freud os denominava de psiconeuroses. As neuroses atuais

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compunham o primeiro agrupamento, caracterizando-se como transtornos emocionais
resultantes da ausência ou inadequação da satisfação sexual; seus sintomas não eram
de natureza simbólica. Para tal transtorno a investigação deveria ser direcionada para
as desordens sexuais atuais e não em acontecimentos importantes da vida passada.
Sua etiologia, neste sentido, é somática e não psíquica. Essa denominação está em
desuso na psicanálise, entretanto, recentemente tem servido como embasamento para
o estudo da psicossomática. As neuroses de transferência constituem o segundo grupo.
Elas foram também chamadas de psiconeuroses de defesa. Este agrupamento engloba
as histerias, fobias e as neuroses obsessivas. Segundo Freud, apenas estas poderiam
produzir a transferência, pois para isso seria necessário dirigir catexias libidinais às
pessoas. O terceiro grupo era composto pelas neuroses narcísicas, ou seja, as
psicoses. De acordo com Freud, a psicanálise não reunia condições para tratar
pacientes acometidos desse tipo de neurose. A justificativa usada pelo fundador da
psicanálise era a de que tais pacientes não conseguiam a revivescência do conflito
patogênico e a superação da resistência devido à regressão. Freud supunha que essas
pessoas abandonavam as catexias objetais e que sua libido objetal se transformava em
libido do ego (POLETTO, 2012).
Nos trabalhos iniciais de Freud verifica-se uma distinção mais radical entre
neurose e psicose. Correspondendo às neuroses, os conflitos interiores do indivíduo,
cujo significado inicial lhe escapa, remetendo para os conflitos infantis recalcados que
serão acessíveis pela transferência. Já as psicoses envolvem os conflitos entre o
indivíduo e o mundo, pouco ou dificilmente acessíveis pela transferência, mesmo com
revelações diretas do inconsciente. No Rascunho H, a paranoia, Freud classifica então
como psicoses: a confusão alucinatória, a paranoia e a psicose histérica. No texto “As
neuropsicoses de defesa”, Freud refere que os pacientes que analisou apresentavam
boa saúde antes do adoecimento. Entretanto, em determinado momento “houve uma
ocorrência de incompatibilidade em sua vida representativa”. Isto é, seu eu foi
confrontado com uma experiência, representação ou sentimento que provocou um afeto
aflitivo que o indivíduo optou por esquecê-lo. Sendo assim, percebe-se uma dificuldade
de mediação entre a representação incompatível e seu próprio eu (POLETTO, 2012).
Freud afirma que quando a defesa utilizada contra uma representação
incompatível é efetivada, separando-a do seu afeto, esta representação permanece na
consciência, embora enfraquecida e isolada, o mecanismo em ação nessa situação é
o de recalcamento (verdrängung) que é caracteristicamente usado pelas neuroses.

35
Conforme Verdrängung é habitualmente traduzido como recalque ou repressão. Esta
palavra vem do verbo verdrängeng, que significa em alemão empurrar para o lado,
desalojar. Este verbo ainda remete a uma sensação de sufoco, de incomodo que leva
o sujeito a desalojar, deixar de lado o material que o incomoda. Entretanto, segundo
essa significação, tal material permanece junto ao sujeito, pressionando pelo retorno, e
exigindo a mobilização de esforço para mantê-lo longe. Partindo desses elementos, as
conotações mencionadas da significação relacionadas ao termo verdrängung se
aproximam ao emprego do termo no contexto psicanalítico (POLETTO, 2012).
O recalque, mecanismo de defesa relacionado por Freud às neuroses, não
consegue eliminar a fonte pulsional que, de maneira constante, emite estímulos que
chegam à consciência e reivindicam satisfação. O que este mecanismo faz é empurrar
para o lado e não extinguir por definitivo determinado conteúdo. O material recalcado
está de certa forma presente também em sua ausência e, mesmo desalojado, se
manifesta à distância. Ele pressiona pela volta à consciência, fica numa espécie de
‘salão contíguo ao consciente’ tentando o retorno, já que sua manutenção afastada
exige um esforço para mantê-lo fora de cena. O recalque é um estado que exige grande
empenho de força para se manter, pois a pressão pelo regresso é constante. Este
retorno aparecerá, segundo Freud, sob a forma de sintomas, dos atos falhos, dos
chistes e dos sonhos (POLETTO, 2012).

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