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Universidade de Brasília

Instituto de Ciência Política

Programa de Educação Tutorial - PetPol

Número de Inscrição: 12023534

1: Populistas, uma vez eleitos, têm dificuldades em transferir as responsabilidades pelos maus
resultados das políticas ou pela crise a outros atores políticos. Ou seja, sendo a elite no poder,
eles não podem mais atribuir todos os problemas às elites no poder. Assim, transferem a
responsabilidade para o "establishment", como se o poder político conferido ao executivo fosse
insuficiente ou excessivamente limitado. De que maneira as ideias de "separação de poderes" e
de "freios e contrapesos" são re-interpretadas desde a perspectiva das lideranças populistas,
especialmente no Brasil?

Em primeiro lugar, é importante salientar que, o populismo em si, é um fenômeno que retrata
fortemente o perfil histórico-político brasileiro, tendo em vista que desde o seu surgimento no
vocabulário político brasileiro ele possui uma forte atração para um perfil mais autoritário, como por
exemplo, o clássico caso da ditadura de Getúlio Vargas. Assim, se estabelece que o caráter pragmático
gerado pelo político populista ilustra uma dualidade intrínseca, pois, tal popularidade que é acarretada
em um só indivíduo só é gerada por meio de uma relação direta e indireta entre o povo e o político;
entre o eleitor e o eleito.

Isso se deve principalmente por conta de pautas ideológicas que permeiam o debate político e
assim, criam perfis que são antagônicos entre si, pois em uma sociedade altamente complexa e não
homogênea como a brasileira, tais pautas são incansavelmente discutidas pela imprensa e
consequentemente pela população, criando assim esses “bolsões” de isolamento e aparelhamento de
pessoas que pensam de forma parecida em contraste daquelas pessoas que não pensam.

Ademais, o processo em si é complexo de se estudar e de entender porém é notório apontar


que quando uma elite assume a liderança do poder executivo e esse grupo elitista possui um
representante do tipo populista é crucial que tal representante se afaste de circunstâncias que possam
minar a sua popularidade, pois, apesar de existir sim um grupo de base eleitoral fiel -em uma
democracia, é necessário a maioria para se manter no poder- uma baixa popularidade afeta em muito
o controle político dessa elite perante as demais elites e assim, torna-se preferível que ao invés de
assumir a culpa por uma má gestão ou uma política em si impopular e duvidosa, aquele que foi eleito
na verdade coloca a culpa de seus erros próprios nos outros que constituem também (diretamente ou
indiretamente) o governo (no caso de uma democracia, como o Brasil).

Pois é uma forma de manter a popularidade e desviar a opinião pública do real eixo das
contradições de poder de tal líder, por isso, muitas vezes as coisas impopulares são realocadas para o
“establishment”, pois, justamente pelo fato de existir oposição que possa tomar o lugar de tal político
populista, suas metas não atingidas politicamente falando -como por exemplo promessas de
campanhas não cumpridas- se tornam uma justificativa para apontar uma falsa noção de limitação por
parte do poder executivo em detrimento dos outros, levantando assim o “tom” e mais uma vez, ficando
tênue com o passado histórico, ou seja, é por meio dessa “cortina de fumaça” que um líder populista
se apresenta como alguém que é de “fora do sistema”, alguém diferente da política clássica que pode
até assumir -em alguns casos- um perfil mais autoritário por meio de consecutivas desqualificações
do sistema político.

Logo, torna-se latente uma genuína força democrática que garanta a soberania dos poderes -
cada qual com seus limites e funções bem definidas- para assim, eliminar qualquer oscilação que um
político de perfil populista possa exercer contra a democracia visando apenas a manutenção do poder
e domínio de sua elite contra as demais elites e dos povos brasileiros, pois, está fortemente presente
o traço autoritário na história brasileira, dando aqui enfoque especial para o período correspondente
a história conturbada da República brasileira – em especial a Era Vargas e o movimento de extrema
direita do Século XXI; o Bolsonarismo.

2: A eleição de líderes populistas pode deteriorar a qualidade da democracia e a capacidade das


instituições para mantê-la? Se sim, de que forma isso acontece?

A eleição de um líder populista pode sim deteriorar a qualidade da democracia e a capacidade


das instituições de mantê-la pois, em primeiro lugar, quando existe uma liderança do tipo populista
pressupõe que existe na sociedade uma forte ligação de valores ideológicos entre o líder e seus
apoiadores e assim, ao assumir o poder -e dependendo da quantidade da parcela da população que se
identifica com ele- tal liderança torna-se “infalível”, ou seja, tudo aquilo que é absorvido como
posicionamento político tonar-se igual a pessoal carismática populista como algo intrínseco a ela e
consequentemente de seus eleitores (por conta do processo de representação).

Assim, uma postura adotada por tal liderança, como por exemplo o negacionismo da ciência,
torna-se uma verdade absoluta para aqueles que se sentem representados por tal figura carismática, é
quase que uma relação de ambiguidade, onde a identidade ideológica não acarreta a racionalidade,
mas sim a uma paixão completamente subjetiva e assim, perigosa.
O perigo está nessa tênue identidade ideológica compartilhada entre eleito e eleitores, pois
levando a questão para um eixo com foco político, percebe-se que tudo que o líder populista diz é
uma “verdade absoluta” e assim, ele sendo eleito ou sendo a figura que representa uma boa parcela
da população, coloca-se em xeque todo um sistema político caso seja esse o desejo do líder -algo que
foi visto durante esses últimos quatro anos e que culminou, em uma total desconfiança do sistema
eleitoral e em última instância do sistema político brasileiro (por uma boa parte da população), além
é claro, da lamentável tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2023.

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