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IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL "A EDUCAÇÃO MEDICALIZADA: DESVER O MUNDO, PERTURBAR OS SENTIDOS"

Salvador - Bahia
1 a 4 de Setembro de 2015

PROJETO PENSÃO ASSISTIDA - POR UMA SAÚDE INTEGRADA:


como uma alternativa de minimização da medicação

Maria Teresa Duarte Nogueira, UFPel- Pelotas, RS


Jose Ricardo Kreutz, UFPel – Pelotas, RS
Luis Artur Costa – UFRgs, Porto Alegre, RS

RESUMO:
O projeto Pensão Assistida: por uma saúde integrada, visa implantar, analisar e
avaliar um modelo de manejo interdisciplinar rumo a um projeto modelo de novas
estratégias de promoção de cidadania e saúde mental, que poderá ser implantado
em outras casas de assistência. A população atendida pela Pensão Assistida,
hoje denominada residência inclusiva, é constituída por sujeitos que perderam a
maioria de seus vínculos com a sociedade: família, amigos, trabalho, etc . Trata-
se de uma casa de assistência que abriga um público adulto em situação de
vulnerabilidade e risco social, portadores de doença mentais, físicas e deficiência
mental. A estratégia hoje adotada para lidar com essas manifestações crônicas de
doença é via medicina convencional e medicamentos químicos que tem apenas
efeito paliativo sobre as mesmas. Para tanto, são realizadas reuniões semanais
para reflexões sobre o trabalho, autoavaliação e propostas de adequação para
melhor desempenho. As estratégias práticas de ação são basicamente: Oficinas
com a comunidade da Pensão (usuários e educadores), entre as quais estão as
artes plásticas, dança, teatro, música, educação física, filmes em discussão,
mostra fotográfica, escuta sensível, acompanhamento terapêutico visando a
integração com a comunidade do entorno, Atividade Assistida por Animais,
construção de um blog e jornal com conteúdos elaborados pelos usuários,
realização de eventos culturais e festivos voltados para o público da Pensão e da
comunidade do entorno. Segundo Fernandes (2003), o grupo é o espaço
continente e facilitador da busca de condições para um futuro melhor e, nesse
sentido, os projetos desenvolvidos na Pensão até o momento se mostraram de
grande valia, instrumentalizando os moradores e possibilitando que novas
concepções fossem formadas, respeitando os limites de cada um. Os resultados
são lentos, porém percebe-se que dentro da esfera de desenvolvimento de cada
usuário, os progressos são válidos.

FÓRUM SOBRE MEDICALIZACAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE


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Salvador - Bahia
1 a 4 de Setembro de 2015

INTRODUÇÃO

A Pensão Assistida, atualmente denominada Residência Inclusiva, mantida


e administrada pela Secretaria Municipal de Justiça Social e Segurança da cidade
de Pelotas-RS. Desde o ano de 2011 recebe apoio da Universidade Federal de
Pelotas através do presente Projeto de Extensão, com a participação de discentes
e docentes, bolsistas e voluntários nas rotinas diárias da Instituição.
Trata-se de uma casa de assistência que abriga um público adulto em
situação de vulnerabilidade e risco social, portadores de doença e deficiência
mental Os usuários chegam à Pensão, remanejados a partir do Hospital
psiquiátrico, Casa de passagem, através de ofício da promotoria ou denúncia na
própria secretaria, geralmente por sofrerem maus tratos ou morarem nas ruas. A
maioria dos usuários, além da doença mental, apresenta várias doenças crônicas,
bem como os comportamentos de risco vinculados a estas doenças, como fumo,
abuso de álcool, pobreza extrema, sedentarismo.
A estratégia hoje adotada para lidar com essas manifestações crônicas de
doença é via medicina convencional e medicamentos químicos que tem apenas
efeito paliativo sobre as mesmas O encarceramento que muitos usuários
experimentam, pela falta de recursos, humanos e materiais, oferta aos usuários
condições mínimas de se autogerir e sair da casa, sozinhos, sem por em risco
sua própria segurança Isso impede que se integrem à comunidade e usufruam de
sua cidadania plena.
A população atendida pela Pensão Assistida é constituída por sujeitos que
perderam a maioria de seus vínculos com a sociedade: família, amigos, trabalho,
etc . O projeto visa a sustentabilidade e autonomia dos usuários da Pensão em
uma diversidade de âmbitos: psíquico (através das diversas estratégias clínicas o
projeto visa promover um estado psíquico-afetivo saudável que permita aos
usuários da Pensão a motivação necessária para a autodeterminação na
transformação de suas próprias vidas), corporal (através das atividades físicas e
de lazer que permitirão a retomada de capacidade de movimento nos corpos que
devido ao encarceramento e falta de atividade se tornaram rígidos e limitados) e,
principalmente, social (através da integração dos usuários na comunidade do
entorno e da cidade com oficinas mistas e acompanhamento terapêutico, através
da promoção do exercício e usufruto dos seus direitos e cidadania com as oficinas

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mistas e com a participação no grupo interdisciplinar de planejamento-execução-


avaliação das práticas de extensão).
Entretanto o projeto Pensão Assistida: por uma saúde integrada, visa
implantar, analisar e avaliar um modelo de manejo interdisciplinar rumo a um
projeto modelo de novas estratégias de promoção de cidadania e saúde mental,
que poderá ser implantado em outras casas de assistência.
A proposta é pensar novas estratégias de assistência em saúde mental e
promoção da cidadania que prescindam da lógica centrada no hospital
psiquiátrico e possam garantir oportunidades de saúde integral e direitos
humanos em vários âmbitos da vida dos usuários, abarcando sua integração à
comunidade, acesso aos direitos individuais e coletivos ressignificar a Pensão, de
forma que esta deixe de representar a instituição que trata da doença e passe a
ser uma casa que promova o bem estar, em bom estado, com aspecto saudável e
artístico, promovendo um movimento motivador aos seus moradores e
incrementar dispositivos de relacionamento com a comunidade do entorno e a
sociedade em geral
O projeto é realizado desde 2011, porém no presente ano dez bolsistas,
contemplados com o financiamento Proext 2015, se fizeram presentes para que
fosse possível repensar novas estratégias e atividades para atuação, gerando
medidas integrativas e positivas para manejo e cuidado, onde identificou sérias
demandas que precisavam ser trabalhadas, além de ter o objetivo de se
comprometer com a qualidade de vida e promoção de saúde com os moradores
do abrigo e funcionários atuantes do local. Como já mencionado por Silva (2011),
a proposta se relaciona com a oportunidade de gerenciar as demandas conflitivas
dos usuários e colaboradores e oferecer suporte efetivo para tal. O projeto aponta
para propostas inerentes à cidadania, tendo como meta a desmistificação da
loucura e a garantia de direitos.
Os projetos de substituição da rede de saúde mental centrada em Hospitais
psiquiátricos por uma rede de equipamentos de assistência em saúde mental
descentralizados pelos territórios da cidade é um conteúdo muito estudados pelos
acadêmicos em psicologia, no entanto, o contato com sua realidade precária os
obriga a repensar as estratégias clínicas estabelecidas nos manuais e a
reinventar novas possibilidades de dispositivos clínicos para se inserirem na
singularidade de cada realidade institucional. Tal capacidade de pesquisar a
problemática de uma instituição e seu entorno, para produzir novas estratégias

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clínicas em diálogo com a singularidade de cada campo é um aprendizado


fundamental ao futuro psicólogo. Assim, vemos a importância da
indissociabilidade da relação ensino-pesquisa-extensão evidencia na formação
dos futuros Psicólogos.

METODOLOGIA

O trabalho iniciou a partir da formação da equipe de trabalho que tinha


como paradigma interno a cooperação entre os integrantes. As ações são
implantadas na Pensão Assistida com a máxima observação da progressividade
necessária para que os usuários tenham o menor impacto possível devido ao seu
alto grau de cronificação dos processos e estresse.
O Projeto é realizado através das seguintes ações: com reuniões semanais
para reflexões sobre o trabalho, autoavaliação e propostas de adequação para
melhor desempenho. As estratégias práticas de ação são basicamente: Oficinas
com a comunidade da Pensão (usuários e educadores), entre as quais estão as
artes plásticas, dança, teatro, música, educação física, filmes em discussão,
mostra fotográfica, escuta sensível, acompanhamento terapêutico visando a
integração com a comunidade do entorno, Atividade Assistida por Animais,
construção de um blog e jornal (a ser distribuído pela comunidade do entorno da
Pensão) com conteúdos elaborados pelos usuários em parceria com a equipe
técnica da instituição e do projeto, realização de eventos culturais e festivos
voltados para o público da Pensão e da comunidade do entorno.
Cada projeto acontece em um determinado dia da semana e acolhe a
todos os moradores que sintam vontade de fazer parte do mesmo. A oferta de
capacitações dos cuidadores, os quais pensarão aos usuários da pensão não
apenas como portadores de sofrimento mental, mas sim como cidadãos

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Partindo do pressuposto de que nossas políticas de saúde, educação e


assistência, instituições e cidades, se transformaram intensamente nos últimos
cinquenta anos, intenta-se com este trabalho investigar como podemos produzir
novos modos de atenção à saúde mental e cidadania, para, com isso, transformar
o arranjo de relações de saber poder que dão corpo à Biopolítica

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Contemporânea. Para tanto, o projeto trabalha em prol de novas estratégias para


o Estado agenciar-se com a população na promoção de saúde mental e
cidadania, sempre centrando-nos na cidadania e autonomia destas populações
Pretendemos produzir estas novas estratégias através da nossa intervenção
sobre a Pensão Assistida
A Pensão Assistida faz parte da dispersão da ação estatal de unidades
centrais (lógica centrada em Hospitais Psiquiátricos, Sanatórios, Asilos, etc) para
dispositivos territoriais (CAPS, CRAS, Casas de Passagem, Pensões Assistidas,
Residenciais Terapêuticos, etc) A partir destas novas estratégias que fogem da
antiga lógica disciplinar da centralização em grandes espaços de fechamento, se
busca transformar a Biopolítica Contemporânea no que se refere à assistência em
saúde mental e promoção de cidadania, buscando problematizar junto de seus
diversos atores que espécie de urbanidade tais estratégias ajudam a construir.
A Organização Mundial da Saúde descreve em vários documentos oficiais, o
conceito de saúde como a perfeita integração e funcionamento conjunto das
diversas esferas da vida humana, como campo emocional, intelectual, físico,
social, ecológico e espiritual Entendemos que esse estado global tão deficitário de
saúde em alguns indivíduos, em contrapartida ao conceito descrito é produto de
muitos fatores, entre eles, o nosso atual sistema sócio econômico, promotor de
desigualdades, pobreza e toda a sorte de eco fatores negativos, aos quais todos
eles, assim como muitos outros, foram e são brutalmente expostos o que contribui
para a desorganização interna e que têm caráter preponderante na formação da
realidade intrapsíquica e orgânica de todos nós.
Segundo Fernandes (2003), o grupo é o espaço continente e facilitador da
busca de condições para um futuro melhor e, nesse sentido, os projetos
desenvolvidos na Pensão até o momento se mostraram de grande valia,
instrumentalizando os moradores e possibilitando que novas concepções fossem
formadas, respeitando os limites de cada um. Os resultados são lentos, porém
percebe-se que dentro da esfera de desenvolvimento de cada usuário, os
progressos são valorosos.
Os usuários em sua maioria são vítimas de abuso, negligência e maus
tratos, marginalizados e pré-julgados pela sociedade, portanto cada projeto
buscou a promoção de acolhimento, atenção e cuidado. Os grupos formados
pelas propostas dos bolsistas propiciaram certa visibilidade social,
desenvolvimento de afeto e estímulo de reflexões. Vale mencionar que possui

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também grande valor terapêutico, auxiliando os moradores a elaborarem perdas,


vivências e pensamentos negativos.
Vale destacar que os bolsistas do projeto,neste curo espaço de tempo, já foi
possível elaborar conhecimentos que se fazem importantes para a graduação e
futura atuação profissional.

CONCLUSÕES

A subjetividade é de suma importância e deve ser levada em consideração


em todos os âmbitos. Com projeto exposto, conclui-se que é preciso que se dê
continuidade às atividades realizadas, além de introduzir outras tão produtivas e
significativas. Além disso, é preciso que o projeto ganhe visibilidade para que
seus frutos sejam percebidos, uma vez que, desse modo, a comunidade pode
assumir um papel ativo e colaborativo, auxiliando nas necessidades dos
indivíduos em situação de vulnerabilidade social, afetiva e emocional.
Citando Rickes, dizer " doente mental é dizer doente para o resto da vida"
(Rickes, 1996, p85),percebemos uma perspectiva que, de certa forma, libera a
sociedade da responsabilidade de promover um manejo motivador desses
indivíduos, liberação esta, embasada na crença de que a doença mental é
definitiva Pretendemos mudar esse foco, e agir de forma a comprovar que, assim
como muitos fatores denegridores promoveram a desorganização desses sujeitos,
tantos ou mais fatores positivos e motivadores podem promover a saúde Agimos
fundamentados em um conceito de saúde que integra todas as esferas de um
indivíduo, alinha as suas manifestações com sua verdade interna, então não
propomos um modelo normativo que pretenda mudar a conduta deles no que diz
respeito à "dicotomia loucurarazão", mas sim, que promova um acolhimento que
possibilite a reorganização e autorregulação de acordo com a natureza de cada
um, minimizando o sofrimento psíquico, atualmente preponderante

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Saúde pública e saúde coletiva: campo e
núcleo de saberes e práticas Ciência saúde coletiva [online] 2000, vol5, n2, pp
219230 ISSN 14138123 http://dxdoiorg/101590/S141381232000000200002

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COSTA, Luis Artur Brutas cidades sutis: espaçotempo da diferença na


contemporaneidade Dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós
Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio
Grande do sul.

FERNANDES, J.W. Importância dos grupos hoje. Revista da SPAGESP,


4(4)p. 83-91, 2003.

FOUCAULT, Michel Vigiar e punir: nascimento da prisão Petrópolis, Vozes,


1987

LIMA, T. O. Tecendo a rede de saúde mental: A intersetorialidade como


aposta. Caderno Saúde Mental 4, Minas Gerais,v.4, 35-50, 2011.

LOBOSQUE, Ana Marta. Clínica em movimento: Por uma sociedade sem


manicômios. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.

LUCHMANN, Lígia Helena Hahn; RODRIGUES, Jefferson. O movimento


antimanicomial no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 12, n. 2, p.
399-407.

RICKES, S M A loucura (E/In)scrita: Um ensaio Educação, Subjetividade &


Poder, v3, n3, p8487, 1996

SILVA, S. B. Saúde mental na atenção básica: Direito à singularidade, à


convivência e ao tratamento humanizado em um espaço aberto e público.
Caderno Saúde Mental 4. Minas Gerais, v.4, 21-33, 2011.

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