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https://novaescola.org.br/conteudo/1389/a-
aprendizagem-de-criancas-com-deficiencias-multiplas
Aluno em foco
A aprendizagem de
crianças com deficiências
múltiplas
Andréia Pereira Gil, 12 anos, é surdocega. Não ouve e não
enxerga quase nada - feixes de luz talvez, e só pelo olho
direto. A alegria descoberta no vaivém do balanço é uam
das maneiras que ela encontrou, na escola, de tomar
contato com o mundo - apenas um dos muitos jeitos de
sentir a vida
Débora Didonê
Sensações. É
por meio delas
que as
pessoas com
deficiência
múltipla
aprendem
sobre as
coisas que
estão a sua
volta. A
professora
Carolina
Bosco,
especialista
nesses casos,
Andreia Pereira Gil, balançando no pátio estimula a
da EMEF Doutor João Alves dos Santos. descoberta da
Foto: Kriz Knack
sensibilidade
com diversos
tipos de toque
e movimento, como numa recente cena vista na EMEF Doutor João Alves dos
Santos, em Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo. Ela dá a mão para
Andréia equilibrar-se numa mureta. A menina apóia-se no seu braço para
descer e as duas vão de mãos dadas até o pátio. A aluna abraça uma árvore e
passa a mão sobre a casca. O contato arranca de Andréia um raro sorriso.
A cena não chamaria tanta atenção se não fosse o jeito diferente de ser da
jovem. Ela gira a cabeça, baba e vive com o braço direito levantado. O grande
desafio em relação a Andréia é criar um modo de comunicação para que ela
reconheça lugares e pessoas. Foi a tarefa assumida por Carolina. A menina
também conta com a ajuda de Carmen Sílvia Dias, sua professora da 2ª série,
onde tem 30 colegas. Ambas procuram maneiras de explicar por que ela vai à
escola e o que todos fazem por lá.
Ele não nasceu cego. Por isso, lembra de imagens e formas. Aos 2 anos,
durante as férias que passou com os pais em Cuba, levou um tombo
enquanto brincava. Na volta, seu joelho não desinchava. Os pais levaram-no
de um médico a outro para entender o porquê do hematoma persistente.
"Foi diagnosticada a artrite reumatóide juvenil", lembra a mãe do menino,
Maria Lima dos Santos. Uma em cada mil crianças tem essa doença, uma
inflamação crônica que afeta as articulações, os olhos e o coração.
Aos 3 anos, o pequeno entrou na escola regular com problemas nos joelhos e
nos olhos. "Quando sua letra começou a aumentar, me aconselharam a
colocá-lo numa escola especial", diz Maria, que se recusava a ver seu
primeiro filho, "tão lindo e perfeito", aprender braile. "Tive aversão ao braile
até descobrir como seria necessário", admite ela, que chegou a afastar Paulo
dos estudos por causa disso.
"Ele quer se casar e trabalhar", diz ela. O menino que não tomava banho
sozinho nem andava com a cadeira de rodas em casa hoje é praticamente
atleta. Faz exercícios abdominais e flexões, fisioterapia e natação para
recuperar os movimentos das pernas e evitar cirurgia.
Matheus freqüentou a classe especial até os 4 anos, mas foi na regular que
fez amigos. "Antes, ele quase não convivia com crianças", diz Rita. Já a
garotada sem deficiência instigou-o a explorar o próprio corpo. "O convívio
com outros modelos de comportamento estimula o lado sadio da criança",
diz a especialista Carolina Bosco.
Hoje, sua mãe, a dona-de-casa Silmara Gislaine Sartori, não permite que
deixem Sandy o tempo todo na cadeira de rodas na escola. "Ela começou a
engatinhar e se mexer na cama elástica porque via as outras crianças
brincando", diz. Sandy só fica na cadeira para comer ou ser levada à
videoteca. E muitos se animam a ajudar a empurrar a colega. Ela não gosta
muito dessa disputa e, quando é contrariada, grita e enruga o rosto como
quem vai chorar. "Quando ela bate palma e manda beijo, quer dizer que está
gostando do ambiente", conta a professora Camila Ferreira Lopes, que
aprendeu a interpretar os gestos da pequena geniosa.
Camila foi bem preparada pelas psicólogas da escola para receber Sandy na
turma do maternal. Ela também conversou com a fisioterapeuta, a
fonoaudióloga e os pais da menina diversas vezes. Sandy não andava nem
falava, só comia alimentos pastosos e tinha o raciocínio um pouco lento.
Mesmo com tantos avisos e informações, Camila ficou travada quando se viu
diante da aluna. "Eu não sabia como falar com ela, como segurá-la, que tipo
de brincadeira fazer", diz. Enquanto isso, a meninada de 3 anos não se
deixava abalar. "A relação entre as crianças e Sandy era muito carinhosa. Não
sei por que me sentia tão apreensiva."
Atividades e estratégias
Rotina da escola
Estabeleça símbolos na sala de aula para que um aluno surdocego
compreenda, aos poucos, sua rotina escolar: ao entrar na sala, ele toca a
porta, o quadro e o giz, sempre na mesma ordem e com a ajuda do professor
ou de um colega; antes de iniciar uma atividade, ele pode passar as mãos nas
folhas de um caderno. O mesmo mecanismo serve para a hora do lanche e
de ir embora.
Roda de brincadeira
Observar o comportamento das crianças sem deficiência ajudaaquelas que
têm deficiência múltipla a se desenvolver. Por isso, faça jogos e brincadeiras
que reúnam a turma no final das aulas. Se o aluno com paraplegia, por
exemplo, tem dificuldade para se movimentar, sente-o no chão (se o médico
autorizar), em roda com os demais, e proponha uma atividade em que eles
usem as mãos e os braços.
Incentivo ao movimento
É possível estimular a criança de pré-escola que não engatinha.Deitada numa
cama elástica, ela sente as oscilações causadas pela atividade dos colegas. Vê-
los engatinhando e rolando a levaa tentar os mesmos movimentos.Se o
médico autorizar, deixe-a o mínimo tempo possível na cadeira de rodas. Ela
se sentirá instigada a se mexer ao se sentar com os colegas num tapete ou
tatame.
Histórico do aluno
Pesquise tudo sobre a criança: de onde ela vem, como é a família,como se
comunica e quais as brincadeiras preferidas. Na avaliação, valorize a evolução
do aluno, dentro de seus limites, e não os resultados. Afinal, em certos casos
há um grande avanço entre chegar sem falar e depois participar das aulas
oralmente.
Contatos
. EMEF Doutor João Alves dos Santos, R. Manoel Tomas, 288, 13067-170, Campinas, SP, tel. (19) 3281-2694
. EE EC-405 Sul, SQS 405, Área Especial, 70239-000, Brasília, DF, tel. (61) 3901-7694
. EEEF José Sales Araújo, Av. Pastor Muniz, Conj. Universitário 2, s/no, 79915-300, Rio Branco, AC, tel. (68) 3229-
4141
. EEI Fazendo Arte, Av. 32A, 112, 13506-675, Rio Claro, SP, tel. (19) 3534-7600
Bibliografia
. Deficiência Múltipla e Educação no Brasil, Mônica Kassar, 113 págs., Ed. Autores Associados, tel. (19) 3289-5930,
24 reais
. Inclusão - Um Guia para Educadores, Susan e Willian Stainback, 456 págs., Ed. Artmed, tel. (51) 3027-7000, 64
reais