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Sua velha oficina, para onde sempre voltava em busca de paz. O refugio
após as incursões noturnas, produtos das insuportáveis crises de
enxaqueca. O olhar de Ricardo passeou pelo cômodo com vagar,
acariciando cada peça, cada objeto. A sensação de familiaridade e
conforto era imensa. Deteve-se a contemplar com certo orgulho as
grandes caixas de metal, meticulosamente etiquetadas: Janine, Carol,
Anônima 1, Rejane, Anônima 2, Paula,... "Sempre fui muito organizado!",
congratulou-se. A sensação de paz, porém, foi estilhaçada como um taça
de cristal que cai ao solo. Sua mente se debate, mas uma força
irresistível o leva a aproximar-se de um grande depósito de rejeitos, bem
ao lado da serra elétrica. Olha para o interior dominado por uma
vertigem avassaladora. É como se se debruçasse num precipício sem
fim. No interior da caixa, uma profusão quase cômica de restos
humanos, em estágios diversos de conservação. Destaca-se como se
tivesse luz própria, um anel de ouro frouxanente preso numa mão
murcha. O presente de quinze anos de sua filha.