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1.

INTRODUÇÃO TEÓRICA a um alto nível de concentração, pico


de desempenho, distorções tempo-
rais, foco em um objetivo, habilidades
adequadas para enfrentar os desafios,
1.1 ESTADO DE FLOW recebimento de feedbacks imediatos
sobre o desempenho e perda de au-
O conceito de flow (também conhecido como flow-
toconsciência. (CSIKSZENTMIHALYI,
-feeling, estado de fluência, fluidez, entre outros) foi
desenvolvido pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi 1990 apud ROETTGERS, 2014, p.24)
na década de 1970, e desde então vem sendo apli-
cado em diversas áreas da psicologia. Ele pode ser Aplicando o conceito de flow na área esportiva, de-
definido pelo estado de consciência em que uma ve-se considerar que o flow independe de ganhar
pessoa fica completamente absorvida pelo que está ou perder e ocorre em pessoas que se encontram
fazendo, excluindo qualquer outro estímulo externo altamente envolvidas na atividade, mesmo sem re-
(como estímulos visuais ou sonoros) ou interno (como compensas externas (JUNIOR, M. 2012).
pensamentos e sentimentos). É o momento em que Considerando suas características, o flow tem uma
mente e corpo estão em harmonia, causando uma contribuição altamente positiva no contexto esportivo.
sensação de prazer e satisfação na pessoa (JACK- De acordo com Marina Peinado (2011, p.7),
SON, S; CSIKSZENTMIHALYI, M, 1999).
Segundo Csikszentmihalyi (1990 apud ROETTGERS, O flow integrado normativamente na
2014, p.24), para que o flow possa ocorrer, há três prática desportiva ajuda a compreen-
condições fundamentais. A primeira é uma coerên- der não apenas o engajamento afetivo
cia entre o desafio a ser enfrentado e a habilidade na prática de alguma atividade física
da pessoa de enfrentá-lo (isto é, a demanda deve ou desportiva (mantendo o praticante
ser possível de ser alcançada, de acordo com o intrinsecamente motivado, implicando
repertório de habilidades da pessoa). A segunda se maior assiduidade, empenho, tempo
refere à clarificação das metas e objetivos, ou seja, de permanência e satisfação), mas
o sujeito deve ter conhecimento exatamente do que também o desempenho máximo des-
pretende alcançar. E, por último, a terceira condição portivo.
é a existência de feedbacks imediatos da atividade
praticada.
Especialmente em modalidades esportivas de alto
Tendo como base estas três condições, a chance de rendimento, o flow é muito importante para a melhoria
ocorrer o flow é potencializada em atividades físicas de habilidades de atletas.
como tocar algum instrumento musical, dançar e pra-
ticar esportes, visto que são atividades com metas e Atingir o melhor desempenho possí-
objetivos claros, guiadas por regras e que requerem vel é o principal objetivo dos atletas e
a existência de habilidades específicas para serem seus técnicos em competições. Nesse
praticadas (CSIKSZENTMIHALYI, 1990). Dessa forma, cenário, o flow se constitui como uma
o esporte é um grande facilitador para a ocorrência importante ferramenta que pode faci-
do flow, devido à sua grande estruturação. litar o alcance desse resultado, pois
Este estado de consciência, de acordo com Csiks- empurra o atleta em direção aos seus
zentmihalyi (1990 apud ROETTGERS, 2014, p. 24), limites, fazendo com que o seu nível de
faz emergir seis características ou dimensões. São habilidades aumente. (ROETTGERS,
elas: concentração intensa e focada naquilo que se 2014, p.48).
está fazendo; fusão entre ação e consciência; perda
da autoconsciência; senso de controle sobre suas Entretanto, visto que o flow é uma experiência au-
ações; distorção temporal e experiência autotélica. O totélica, não são apenas os atletas de alto rendi-
termo autotélica se refere a “atividades válidas por si mento que podem alcançar este estado mental. No
próprias, intrinsicamente gratificantes, que não preci- contexto esportivo, ele é ampliado para todos aque-
sam de uma recompensa externa” (PEINADO, 2011, les praticantes de exercício físico, mesmo com fins
p.12). Tais características, unidas às três condições recreativos ou de reabilitação. Ainda assim, o flow
já citadas, somam os princípios e fundamentos do costuma ser mais focado na atuação com atletas de
flow proposto por Mihaly Csikszentmihalyi (1999). alto rendimento pois cada mínima melhora tende a
repercutir intensa e diretamente nos resultados de
É comum (...) que as pessoas descre- competições e torneios, que envolvem altas deman-
vam essa experiência relacionando-a das e recompensas.

48 Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1


No âmbito do esporte competitivo, o flow pode ser tecnicamente (SAMULSKI, 2009 apud
uma técnica que beneficia o atleta tanto em momen- JUNIOR, 2012, p.608)
tos de treinos quanto em momentos de competição.
A presença do flow faz com que o treino seja mais Em momentos de competição, se o atleta está muito
proveitoso, potencializando a aprendizagem de habi- focado nas recompensas e no resultado, é muito fácil
lidades motoras e o aperfeiçoamento de movimentos não conseguir estar 100% concentrado na atividade
já conhecidos. Já em competições, o flow faz parte praticada e se desviar do objetivo. Focar-se intensa-
do treinamento mental imprescindível para alcan- mente nos resultados pode fazer com que o atleta
çar rendimento excelente, gerando total atenção e perca a possibilidade de atingir o estado mental que
concentração na tarefa, sem se deixar distrair por o auxiliaria a alcançar seu melhor desempenho pos-
estímulos externos (como o barulho da torcida) e sível (JACKSON, S; CSIKSZENTMIHALYI, M, 1999).
internos (como os próprios pensamentos e senti- Por outro lado, quando em estado de flow, o atleta é
mentos incongruentes com a situação). naturalmente impulsionado a ir além de seus limites
com uma percepção menor de esforço, entrando em
Embora o esporte seja um facilitador e potencializador
um ritmo de fluência e extrema satisfação.
do flow, há algumas limitações para todos os atletas
o alcançarem, além das condições e dimensões já Em virtude dos fatos mencionados, o estado de flow
mencionadas. De acordo com Jackson e Csikszent- é muito benéfico na prática de esportes competitiva
mihalyi (1999), o alcance do estado de flow depende e de alto rendimento, considerando que este estado
também de diversos traços de personalidade, aspec- mental tem a capacidade de levar as pessoas a um
tos cognitivos e características do ambiente, e cabe envolvimento mais profundo pela concentração total
aos treinadores, professores e técnicos encontrarem na atividade (MASSARELLA, 2008, p.96).
atividades e ambientes que induzam os atletas ao
flow, além de também se atentarem a característi- Para isso, ressaltamos a importância
cas pessoais individuais (como alterações de humor, dos profissionais da Educação Física
traços específicos de personalidade, capacidades de adequar as expectativas com rela-
de atenção e concentração) que possam dificultar
ção ao desempenho pessoal na ativida-
o alcance do flow, para então trabalhar nelas e au-
de e a real capacidade de resposta dos
mentar a probabilidade de o flow ocorrer.
alunos e atletas, mantendo o equilíbrio
Ao mesmo tempo em que o esporte é facilitador entre desafio e habilidade, um dos pi-
do flow, o flow também é facilitador do esporte. O lares da teoria do flow; de orientarem
estado de fluxo envolve um alto nível de concen- os praticantes para que aprendam a
tração e atenção, motivo pelo qual alcançá-lo é tão ter sempre clareza sobre quais são
benéfico para modalidades esportivas como o tênis, suas metas na atividade e o que de-
que requer muito foco e concentração. Com um alto vem fazer para atingir os objetivos; de
teor competitivo e individualista, os sentimentos de aprenderem formas de obter feedback
insegurança e medo, causados por momentos de
sobre seu desempenho a curto, médio
tensão e pressão, podem acabar atrapalhando te-
e longo prazo, monitorando parcialmen-
nistas em momentos de competição. Sendo assim,
o flow permitiria que o atleta se desligasse comple- te e globalmente se suas ações estão
tamente desses sentimentos negativos e de outros realmente conduzindo aos resultados
estímulos, como barulho de torcidas, ansiedade e almejados. Também orientá-los para
pensamentos focados em outras coisas que não o que consigam manter-se focados o
esporte, fazendo com que sua atenção fique con- maior tempo possível em elementos
centrada apenas naquele momento, sem esforço, relacionados à execução da atividade,
transformando uma situação estressora em uma para que encontrem formas de impedir
fonte de satisfação e bem-estar. que fatores externos interfiram negati-
vamente em seus pensamentos e senti-
O flow pode contribuir para suprir al- mentos. Controlando esses elementos,
gumas necessidades encontradas em as pessoas podem ter maior domínio
tenistas durante os treinamentos e sobre suas experiências mentais e so-
competições, como estabelecer uma bre a qualidade de suas vivências na
atitude positiva para o jogo, concen- atividade, o que pode levá-las a um
trar-se durante a partida, manter-se maior engajamento pela satisfação que
focado durante tarefas decisivas, con- pode trazer.
trolar-se emocionalmente em situações
de pressão e perceber e analisar o jogo É nesse contexto que surgem as intervenções no

Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 49


esporte utilizando o estado de flow, visto que ele pode outros). Por outro lado, o jogo interno ocorre dentro da
ser também induzido a partir do controle de variáveis mente do jogador, e o objetivo é superar obstáculos
específicas. Há estudos em que a ocorrência do internos como lapsos de concentração, ansiedade,
flow e/ou das características do mesmo é evidencia- nervoso, falta de autoconfiança e autojulgamento
da por pesquisa qualitativa (envolvendo estruturas muito intenso. Em geral, o jogo interno é jogado
semi estruturadas e observação) e quantitativa, de para vencer os hábitos e tendências que inibem a
modo que os participantes de tais estudos relatam excelência na performance (GALLWEY, 1996).
os sentimentos provenientes da prática do exercício
físico e descrevem suas sensações, como é o caso Estas aptidões interiores não têm ape-
do estudo de Márcio Júnior et al. (2012). nas um efeito notável no forehand, no
De acordo com Fábio Luiz Massarella (2008, p.96), backhand, no saque e no voleio de
cada um (o jogo exterior de tênis). Elas
(...) as condições de ocorrência do es- são igualmente valiosas em si mes-
tado de flow podem ser facilitadas por mas e têm ampla utilidade em outros
meio da intervenção dos profissionais aspectos da vida. Quando um jogador
da Educação Física, elaborando ativi- consegue reconhecer, por exemplo,
dades onde exista um equilíbrio entre que aprender a concentrar-se pode
o desafio proposto e a capacidade dos ser mais valioso para ele do que um
sujeitos, desde que elas estimulem backhand, ele deixa de ser um jogador
os praticantes a utilizarem ao máximo primário do jogo exterior para tomar-se
o seu potencial, pois o flow tende a um mais competente jogador do Jogo
ocorrer quando os níveis de habilidade Interior. Então, em vez de aprender a
pessoal são adequados à demanda e se concentrar para melhorar o seu jogo
quando estas constituem um verdadei- de tênis, ele joga tênis para melhorar a
ro elemento de crescimento pessoal e sua concentração. Isso representa uma
autoconhecimento. mudança crucial de valores. Somente
quando essa mudança acontece é que
Sendo assim, deve-se ressaltar a importância de o jogador se liberta das ansiedades e
os atletas, tanto do esporte recreativo quanto com- frustrações que resultam de uma exa-
petitivo, exercitarem o treino mental para facilitar a gerada dependência dos resultados do
ocorrência do flow e resultar em treinos com mais jogo exterior. (GALLWEY, 1996, p.135)
aproveitamento, motivação e satisfação, potencia-
lizando resultados. A existência de um jogo exterior separado do jogo
interior explicaria por que, em treinos, alguns atletas
atingem excelência, enquanto em competições não
1.2 TÊNIS chegam aos resultados esperados; ou também por
que os desempenhos do mesmo atleta na mesma
Assim como qualquer esporte, o tênis é uma moda- modalidade podem diferir tanto de uma competição
lidade física que exige habilidades técnicas motoras para outra.
para ser praticada, especialmente atributos de força,
Em resumo, ambos os jogos externo e interno são
rapidez, resistência e destreza (SHARP, 1979 apud
importantes para atingir excelência no desempe-
GODTSFRIEDT; ANDRADE; VASCONCELLOS, 2014).
nho, sendo que um influencia simultânea e inten-
No entanto, além disso, o tênis também demanda
samente o outro durante uma partida. Uma vez que
habilidades psicológicas específicas, como o jogador
o jogo externo é treinado constante e diretamente
saber lidar com os próprios erros (GODTSFRIEDT;
com treinadores e técnicos da modalidade, deve-se
ANDRADE; VASCONCELLOS, 2014), concentração
atentar especialmente ao jogo interno. Antigamente,
e atenção, autoconfiança e regulação da ansiedade
pensar em um treinamento mental para melhorar a
(SOARES, 2008).
performance no tênis era raro, visto que os treinos
Segundo Tim Gallwey (1996), todo jogo é composto eram baseados em aspectos técnicos e táticos do
pelo jogo exterior e pelo jogo interior. O jogo exterior jogo (FARIA, 2002). Sendo assim, o treino mental
é jogado contra um oponente externo, com o objetivo de jogadores se torna essencial para aperfeiçoar o
de superar obstáculos externos, e utilizando técnicas desempenho no esporte.
motoras aprendidas dentro de cada esporte especí-
No caso do tênis, o treino mental prepararia o atleta
fico (no caso do tênis, o jogo externo seria o tenista
tanto para o momento da competição, em que há
superar o adversário utilizando habilidades técnicas
naturalmente uma maior pressão atrelada ao jogo,
como ótimas execuções de saque, backhand, entre

50 Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1


quanto também para o melhor desempenho possível Seguindo o raciocínio de Terry e Karageorghis (2006),
nos treinos. Para isto, o estado de flow é muito de- os principais benefícios trazidos pela música a atletas
sejável, pois potencializa as habilidades do jogador e praticantes de exercícios físicos são relacionados
ao fazê-lo focar inteiramente o exercício, excluindo ao humor (atingindo estado de humor positivo e di-
quaisquer outros estímulos coexistentes. minuindo o mau humor), ao controle da ativação
(pela excitação ou relaxamento pré competitivo), ao
Ressalta-se que a atenção e concentração são es-
caráter dissociativo da música (capaz de diminuir a
senciais para a prática do tênis, pois faz com que o
percepção de dor, esforço e fadiga), ao aumento do
jogador tenha menos chances de distração (que pode
trabalho (quando se sincroniza o movimento com a
ser fatal em determinados momentos, especialmente
música) e ao atingimento do estado de flow. Todos
partidas decisivas) e também tenha mais controle
esses benefícios contribuem para uma melhora geral
sobre seus próprios pensamentos e sentimentos,
no desempenho.
direcionando-o unicamente para a prática do tênis.
Tais características e habilidades são os fundamen- Particularmente a respeito de atingir o flow, a música
tos do flow feeling, mais uma vez evidenciando sua pode contribuir por conta de seu caráter dissociativo.
contribuição para a prática do esporte em questão. Segundo Duarte (2009, p. 35),

O caráter dissociativo da música pode


1.3 MÚSICA auxiliar retirando o foco de atenção em
pistas ambientais desnecessárias como
A música é parte da cultura da humanidade, com
o pensamento direcionado a problemas
registros de produção desde a Pré História. Atual-
familiares ou com a torcida, facilitando
mente, a música pode ser caracterizada como uma
a manutenção do foco na rotina pré -
linguagem universal, maneira de expressão que atua
sobre diversos contextos da sociedade moderna. competitiva.
Dessa forma, no esporte não é diferente: a música
tem grandes influências no âmbito esportivo, tanto Sendo assim, em momentos em que o atleta sente a
na categoria competitiva quanto na recreativa. pressão em situações competitivas, a música pode-
ria ajudá-lo a se dissociar da dificuldade e focar no
Para exemplificar, atletas olímpicos como Usain Bolt exercício. Isso eliminaria obstáculos causados pelo
e Michael Phelps já afirmaram, em entrevistas, que barulho de torcidas em dias de partidas, por exemplo.
utilizam a música como um recurso que os ajuda a Da mesma maneira, acontece quando o atleta vai
se concentrarem, focarem na competição e aumentar à competição pensando em problemas pessoais,
a motivação. Haile Gebrselassie, etíope que pratica familiares e/ou relacionais. A música o ajudaria a
o atletismo, quebrou recordes olímpicos pois afirmou dissolver tais pensamentos por ora, fazendo-o se
ter sincronizado seus passos com a batida da música concentrar na tarefa e no esporte.
Scatman, e pediu que a mesma tocasse no momento
de competição. Estes são apenas exemplos de como Para alcançar o estado de flow, atenção e concentra-
a música pode beneficiar o atleta a alcançar uma ção são imprescindíveis. É neste contexto que entra
melhor performance esportiva. a música, à medida que ela tem a capacidade de
potencializar a atenção e a concentração no momento.
De acordo com Terry e Karageorghis (2006), a música
tem a capacidade de melhorar o humor, controlar Um ponto relevante a considerar é que
a excitação, aumentar a aquisição de habilidades a atividade física com música, por ser
motoras, distrair o atleta de sentimentos de dor e mais agradável, poderia reforçar a sen-
fadiga, chegar a estados de flow, entre outros, por
sação de “desligamento” ou o estado
conta de fatores como a musicalidade, impacto cul-
de “fluxo ou fluência” flow (MIRANDA,
tural, resposta rítmica e associações extramusicais.
GODELLI, 2003, p. 88).
Portanto, todas as pessoas envolvidas
Portanto, pode-se concluir que a música, além de
em atividades físicas ou esportivas
ter um valor cultural e sentimental muito forte, tam-
podem utilizar-se da música em mo- bém pode ser considerada como uma ferramenta
mentos diversos como treinamentos, de potencializar rendimento e resultados na prática
competições e como estratégia de re- do esporte e do exercício físico, contribuindo com
cuperação pós-competitiva, desfrutan- estudos da Psicologia Esportiva.
do de seus diversos benefícios ergogê-
nicos. (DUARTE, 2009, p.14)

Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 51


2. OBJETIVOS treinos, porém de escolha de cada atleta), em que
foram contabilizados os acertos e erros.
Este trabalho tem como objetivo geral explorar O exercício do treino, em ambas as etapas, teve o
os estudos desta área da Psicologia do Esporte, objetivo de induzir ao flow, em que cada atleta indivi-
identificando a influência da música no esporte de dualmente bateu com a raquete na bola para jogá-la
alto rendimento, e como objetivo específico averi- para o outro lado da quadra, com a finalidade de
guar, em atletas juvenis e profissionais de tênis, a acertar uma área específica (desenhada na quadra),
ocorrência do flow sob a influência da música em durante 3 minutos por lado (totalizando 6 minutos por
uma pesquisa qualitativa e quantitativa. atleta). Sendo linha de base, não houve a presença
de nenhuma variável, portanto sem música.

3. MÉTODO

Para averiguar a influência da música no es-


No caso da primeira semana, o alvo era a parte da
quadra após o “T” (uma linha divisória que fica a
aproximadamente 6,40 metros da rede, configuran-
tado de flow, foi realizada uma pesquisa em uma do-se como pouco menos de ¼ de toda a quadra).
academia particular de tênis. A academia oferece Nas três semanas seguintes, foram acrescentados
aulas de tênis individuais e em grupo, para crian- dois alvos desenhados na quadra de saibro (áreas
ças, adolescentes ou adultos, de acordo com cada pequenas retangulares nas extremidades da quadra,
objetivo e demanda. Para o caso desta pesquisa, os sendo um do lado esquerdo e outro do lado direito,
sujeitos de pesquisa são três atletas de uma turma rentes à linha de fundo). Foram contabilizados acertos
que visa ao tênis profissional e competitivo, portanto quando os atletas acertavam estas áreas.
também conta com o acompanhamento de um psi-
Acertar a área após o “T” equivalia a 1 ponto. Acertar
cólogo do esporte para potencializar o trabalho. Os
um dos alvos nas extremidades valeria 3 pontos.
atletas desta turma são todos do sexo masculino,
Por fim, acertos consecutivos nos alvos valeriam
entre 16 e 20 anos de idade.
5 pontos (uma pontuação maior para incentivar e
Para coletar os dados, foram feitas entrevistas semi induzir o estado de flow).
dirigidas aos atletas antes do treino de tênis com a

4.RESULTADOS
presença da música, para poder verificar se houve
a presença e influência de outras variáveis atuando
nos resultados dos treinos.
Ao longo dos treinos, foram coletados os dados,
Os dados também foram coletados de forma quan- que foram então registrados em formato de tabelas
titativa durante o exercício praticado pelos atletas, e ilustrados por gráficos. Inicialmente, participariam
contabilizando os acertos e erros de cada um na do estudo 3 atletas; no entanto, por problemas de
atividade aplicada nos treinos, tanto com a presença saúde, um dos atletas não pôde mais comparecer,
da música quanto sem a mesma. sendo, portanto, retirado do estudo. Em seu lugar,
entrou um atleta maior de idade.
Os treinos foram divididos em duas etapas: a primeira
etapa serviu para estabelecer uma linha de base sem O único atleta que compareceu a todos os dias de
a presença da música, com duração de 4 treinos para treinos foi L., 16 anos, tendo, portanto, os registros
conseguir atingir maior veracidade e estabilidade mais completos. Como é possível verificar nas tabelas
da coleta de dados. Já a segunda etapa (3 treinos) 1 e 2 e nos gráficos 1 e 2, após a entrada da variável
contou com a presença da música durante os treinos música (a partir do treino de 21/09/2018), houve um
(uma única música para cada atleta durante os sete aumento notável na quantidade de alvos atingidos.

Tabela 1 Tabela 2

52 Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1


Gráfico 1 Gráfico 2

A denominação “área 1” se refere à área da quadra cujo acerto vale 1 ponto. Já a denominação “área 2”
indica os dois alvos cujo acerto vale 3 pontos.
L. obteve um rendimento crescente em todos os treinos. A quantidade de alvos atingida foi maior em níveis
exorbitantes, indicando que houve uma grande mudança responsável pelos resultados.
Já o atleta P., 16 anos, como é possível verificar pelas tabelas 3 e 4, não compareceu aos treinos dos dias
31/08 e 21/09, entre os quais o primeiro era uma parte da linha de base. Ainda assim, como visível nos grá-
ficos 3 e 4, os seus resultados também denotam um aumento significativo no número de acertos de alvos.

Tabela 3 Tabela 4

Gráfico 3 Gráfico 4

Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 53


Por fim, o atleta S., 19 anos, participou de apenas 3 treinos, porém seus resultados também indicaram me-
lhora de rendimento, como perceptível nas tabelas 5 e 6 e gráficos 5 e 6.

Tabela 5 Tabela 6

Gráfico 5 Gráfico 6

Todos os atletas são do sexo masculino e destros. São visíveis também diferenças quanto à lateralidade nos
resultados apresentados, que em sua grande maioria indicam um melhor rendimento do lado direito.
Como explicado anteriormente, também foram consideradas outras variáveis que pudessem estar presentes
nos 3 últimos treinos (todos aqueles que não marcavam linha de base) por meio da breve entrevista realizada
com cada atleta antes dos exercícios. A respeito disso, as respostas dos atletas foram tabeladas para melhor
compreensão, assim como visto nas tabelas 7, 8 e 9.

Tabela 7

54 Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1


Tabela 8

Tabela 9

5. DISCUSSÃO

A partir dos resultados obtidos em todos os dias


três condições, de maneira que a tarefa pedida aos
atletas (atingir os alvos em três minutos corridos) era
algo facilmente alcançável por todos, por conta das
de treinos, é possível afirmar que a música de fato é habilidades motoras que cada atleta apresentava.
uma variável que impulsionou o rendimento de todos Além disso, as metas e objetivos também foram cla-
atletas estudados. Isso pode se atribuir à melhora rificadas, isto é, cada atleta sabia exatamente o que
na concentração, ou seja, a presença da música precisava alcançar no exercício (que, no caso, era
elevou o nível de concentração e foco na atividade o maior número de alvos possível), e, por fim, havia
física dos atletas, o que por sua vez preparou os feedbacks imediatos da tarefa, tanto por conta da
participantes para a ocorrência do estado de flow. própria observação dos atletas, que poderiam che-
car se a sua batida havia acertado o alvo ou não no
Escreve-se “preparou” pois o estado de flow não é momento imediato, tanto pelos feedbacks passados
uma intercorrência natural que aparece sempre que pela pesquisadora, que expunha o número de áreas
há concentração. Esta é uma dimensão que ocorre e alvos atingidos em cada lado imediatamente após
simultaneamente ao estado de consciência referido, o término do exercício.
porém não é a única, e nem uma condicional cuja
existência necessariamente leva à fluidez. Sendo assim, as três condições fundamentais para a
ocorrência do flow estavam garantidas. A partir delas,
De acordo com o que já foi discutido anteriormente, tal estado de consciência poderia ocorrer, gerando
há três condições fundamentais para que o estado mais seis características (concentração intensa e
de flow possa ocorrer: a coerência entre desafio e focada naquilo que se está fazendo; fusão entre
habilidade; clarificação das metas e objetivos; e fee- ação e consciência; perda da autoconsciência; senso
dbacks imediatos da atividade praticada. Nos treinos de controle sobre suas ações; distorção temporal e
propostos nesta pesquisa, foram proporcionadas as

Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 55


experiência autotélica). que os dados da pesquisa foram coletados, a música
proporcionava todas estas condições.
Algumas dessas características não são observáveis
externamente, portanto não puderam ser mensuradas Para todos os atletas, as condições foram as mes-
para o estudo. No entanto, um grande indicador da mas. Isto é, a tarefa era a mesma, com o mesmo
existência do estado de flow é a melhora evidente objetivo, e sempre com a mesma pessoa lançando as
de rendimento, o que pôde ser verificada e obser- bolas. O que diferia entre um e outro era o material
vada pelos registros numéricos durante o treino. Por utilizado (as raquetes eram diferentes entre cada
exemplo, para o atleta L., durante as semanas de atleta, porém as mesmas em todos os treinos), a
linha de base, foi alcançada uma média de 1,3 alvo música escolhida (sendo uma do gênero pop, ou-
do lado esquerdo e 2,3 alvos do lado direito por tra do gênero eletrônico e outra do gênero hip hop,
dia, enquanto que, a partir da introdução da música com batidas completamente diferentes, escolhidas
como variável, esta média subiu para 11 alvos do de acordo com a preferência de cada atleta) e, por
lado esquerdo e 11,6 alvos do lado direito por dia. fim, as possíveis variáveis não controláveis que po-
Foi uma melhora de rendimento chamativa, e não deriam estar presentes em cada atleta (dados que
é coincidência a introdução da música. foram colhidos durante as entrevistas semi dirigidas).
Ainda sobre as características trazidas pelo estado Quanto ao material ser diferente entre um atleta e
de flow, a atividade autotélica também não pôde ser outro, pode-se dizer que isto não afetou a análise dos
verificada, visto que é uma sensação que acontece resultados obtidos, visto que foram comparados os
no interior do praticante. No entanto, visto que destes números de apenas um atleta por vez, diferenciando
exercícios vinham um registro numeral de acertos e os dias, e não comparada a quantidade de alvos
erros e também geravam um ranking entre os atletas, entre cada atleta como uma competição.
não é possível afirmar que não houve recompensa
Já a respeito da música ser diferente para cada
provinda de bons resultados na atividade, pois é
participante, a análise de dados também não foi
altamente reforçador observar sua própria melhora
comprometida por isso, pelo mesmo motivo explici-
de rendimento, assim como é reforçador ficar em
tado no parágrafo anterior. No entanto, não há como
primeiro lugar no ranking. Ainda assim, foi observado
afirmar se um gênero musical é mais benéfico para
que os atletas participantes não se preocupavam
a atividade proposta do que outro, visto que têm
com suas posições no ranking e pontuações, uma
propriedades diferentes, batidas diferentes. Por este
vez que não demonstravam interesse em saber os
motivo, a escolha da música foi deixada a critério de
resultados. Tinham, entretanto, interesse em saber
cada atleta, sem considerar um único gênero cujas
quantos alvos acertaram, número que lhes era pas-
propriedades o configurassem como o melhor para
sado ao final do exercício. Dessa forma, mesmo
o tipo de exercício. A única regra era que fosse a
que houvesse recompensas (desconfigurando a
mesma música para ambos os lados e para todos
atividade autotélica), não é possível afirmar que a
os treinos, mudando apenas por atleta.
motivação era extrínseca (ou seja, provinda de fora
do atleta, como de pontuações e premiações), mas Por fim, a respeito das possíveis variáveis incontro-
sim intrínseca, pois o que importava para eles era o láveis, estes dados foram analisados de acordo com
próprio resultado e a própria melhora de rendimento. as tabelas 7, 8 e 9. As respostas foram obtidas por
O reforçador era interno. meio de entrevista semi dirigida no momento imediato
de pré treino e individualmente. Isto é, as pergun-
A música, como já exposto, tem propriedades alta-
tas estavam previamente prontas para aplicação,
mente relevantes para treinos físicos. É importante
porém, dependendo da resposta dos participantes,
ressaltar que algumas dessas características se
poderiam ser feitas novas perguntas para aprofundar
relacionam diretamente com o estado de flow. Por
o entendimento.
exemplo, tanto a música quanto o estado de flow
trazem um humor positivo e diminuem o mau humor Foram perceptíveis algumas diferenças quanto à
(no flow, evidenciado pela autossatisfação); a música maneira como os atletas se colocaram nas respostas.
também tem um caráter dissociativo que ajuda o P. e L. aparentaram uma abertura maior para expor
atleta a não pensar em sensações de dor e fadiga sentimentos, pensamentos e situações vividas, desta
e pensamentos ou sentimentos não relacionados à forma não parecendo esconder ou omitir possíveis
tarefa (o que, por sua vez, facilita a concentração, variáveis que pudessem aparecer. No entanto, o
necessária para ocorrer o estado de flow); e, por fim, atleta S., em todas as perguntas, respondia sinteti-
a música leva ao aumento do trabalho proporcionado camente que “estava tudo bem”, não demonstrando
pela sincronização dos movimentos com a batida nenhum acontecimento ou pensamento fora de sua
da música (o que, dessa forma, reproduziria uma normalidade rotineira.
espécie de coreografia que, ao ser repetida, também
facilita a ocorrência do flow). Durante os treinos em Ao mesmo tempo em que é possível que realmente

56 Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1


não tenha havido nenhum episódio digno de comen- do estado de flow. Somada às condições necessá-
tar no estudo, também pode se qualificar como um rias, a música se torna uma indutora do estado de
dado importante o fato de que S. não se aprofundava consciência em questão, podendo ser grandemente
em nenhuma resposta, mostrando-se desconfortável aproveitada para estudos na psicologia do esporte,
durante a entrevista. Dessa maneira, pode ter havido visando a melhoras de rendimento.
influência de outras variáveis no desempenho de S.
Especialmente no tênis, em que a concentração é
que, embora tenha tido a tentativa de investigação
tão necessária por conta de constantes momentos
da pesquisadora, não há conhecimento algum de
decisivos, o treino mental de concentração deve ser
suas supostas existências.
mais explorado nos atletas, sobretudo na modalidade
Quanto às respostas analisadas individualmente por de alto rendimento e competitiva. A partir disto, as
atleta, pode-se dizer que fatores como “provas na habilidades motoras de cada jogador são potencia-
escola” e “gripe” (do atleta L.), e “ansiedade por evento lizadas, isto é, o jogo interior atua diretamente na
futuro” e “pensamentos incongruentes com o momento melhoria do jogo exterior, onde prevalece a técnica.
de treino” (do atleta P.) podem ter influenciado os
Dessa maneira, é importante incentivar que a psico-
resultados obtidos naqueles dias. Entretanto, os dados
logia do esporte seja mais explorada neste sentido
numéricos não mostram alterações significativas,
de prover ao atleta as ferramentas necessárias para
sempre continuando subindo, novamente podendo
alcançarem maiores rendimentos, incluindo a música
evidenciar a presença do estado de flow, que tirou
como um mecanismo para atingir tais resultados.
os atletas de seus pensamentos e sentimentos que
não se relacionavam com o exercício, fazendo-os Uma vez investindo no treino mental tanto quan-
focarem unicamente no treino. to investe-se nos treinos físicos, os atletas terão a
capacidade de utilizar suas habilidades motoras e
De maneira que a academia de tênis em que esta
controla-las com mais firmeza e segurança pelas
pesquisa foi feita se encontra próxima de um aero-
suas habilidades mentais, unindo o jogo interior e
porto, os barulhos de aviões decolando e pousando
o jogo exterior como uma maneira de alcançar me-
eram constantes, muitas vezes interrompendo a mú-
lhores resultados.
sica por alguns segundos. Quando esses barulhos
aconteciam, foi observado que os atletas erravam,
algumas vezes podendo até ter erros consecutivos REFERÊNCIAS
após diversos acertos consecutivos. Este foi um dado
importante que mostrou que os atletas haviam alcan- CSIKSZENTMIHALYI, M. Flow: The psycholo-
çado o estado de flow, facilitado pela presença da gy of optimal experience. New York: Harper &
música, porém tiveram-no interrompido por conta de Row, 1990.
um breve obstáculo sonoro, tirando-os da concen-
tração, deixando a música inaudível por segundos DUARTE, T. Reflexões sobre a música como
e, portanto, interrompendo o estado de consciência estratégia auxiliar em psicologia do esporte
atingido, o que levou os atletas a erros. aplicada. Brasília, 2009.
Porém, tal variável incontrolável de barulhos de avi-
ões não influenciou a pesquisa negativamente, mas FARIA, E. Tênis & Saúde: guia básico de con-
sim evidenciou a ocorrência do estado de flow, que dicionamento físico. Barueri: Manole, 2002.
foi interrompido por conta de uma obstrução mo-
mentânea da música. Isto é, esta variável mostrou a GALLWEY, T. O jogo interior do tênis. São Pau-
importância da música na concentração e denunciou lo: Textonovo, 1996.
que os atletas haviam alcançado e saído do estado
de fluidez. GODTSFRIEDT, J; ANDRADE, A; VASCON-
CELLOS, D. Treinamento mental no tênis: revi-
Em linhas gerais, o exercício foi proposto de manei- são sistemática da literatura. Rev. Bras. Ciênc.
ra que pudesse fornecer todas as condições para Esporte, Florianópolis, v.36, n.2, p.577-586,
ocorrência do estado de flow, somado à música que, Abr/Jun, 2014.
com suas propriedades naturais, tinha o objetivo de
facilitar o alcance deste estado de consciência. JUNIOR, M. et al. Análise do flow-feeling no
tênis. Rev. educ. fis. UEM, Maringá, v.23, n.4,

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Oct./Dec, 2012.

A partir dos resultados obtidos e do levanta-


JACKSON, S; CSIKSZENTMIHALYI, M. Flow in
mento teórico realizado, é possível concluir que a Sports: the keys to optimal experiences and
música se constitui como uma importante facilitadora performances. United States: Human Kinetics,

Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 57


1999.

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