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Sobre

Sobre o Futuro da Engenharia e de suas Graduações


Contribuições para nossas Percepções, Pensamentos e Ações

Por Kleber Grasso Rodrigues©

1. Introdução

Consideramos nesse artigo, por um lado, que a Engenharia é uma das competências da
Humanidade disponíveis no passado, no presente e, acreditamos, também no futuro,
para resolver problemas, desafios e agregar valor positivo e sustentável ao nosso bem-
estar social e econômico. Por outro lado, nos chama a atenção as mudanças que o século
XXI tem nos trazido em várias frentes e áreas científicas, sociais, técnicas, tecnológicas e
de inovação.

Aqui tomamos como uma das principais referências, dentre outras, para as nossas
considerações e reflexões, as contribuições, estudos e pesquisas lideradas por Markus F.
Peschl (*1965), professor de ciência cognitiva e filosofia da ciência na Universidade de
Viena, Departamento de Filosofia. O Doutor Peschl obteve seu mestrado em Ciência da
Computação (estudos em Ciência Cognitiva e Psicologia) na Universidade de Tecnologia
de Viena em 1983 e, em 1989, seu doutorado em Ciência da Computação e Ciência
Cognitiva na Universidade de Tecnologia de Viena. Ele nos apresenta uma série de
questões como relacionadas a seguir, que entendo, pessoalmente, como possíveis
subsídios válidos ao nosso Perceber, Pensar e Agir a respeito do Futuro da Engenharia e
de suas Graduações, uma vez que as competências em Engenharia podem fazer parte
certamente das efetivas e prósperas soluções para as nossas sociedades, em diferentes
regiões e países.

Doutor Peschl chama a nossa atenção com relação aos processos de aprendizagem e
inovação organizacional que, até o momento, se baseiam predominantemente e
restritamente no aproveitamento, extrapolação ou adaptação de experiências e
conhecimentos passados, pois tal estratégia, segundo ele, se revela incapaz de lidar com
os desafios do atual cenário volátil, em um ambiente incerto, complexo e ambíguo. Como
solução possível, Dr. Peschl nos propõe um modelo conceitual que integra a

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aprendizagem organizacional e a inovação como um processo de aprendizagem voltado
para o futuro e uma prática de construção do futuro.

Figura 1 – Processo de Aprendizagem Humana

As pesquisas do Doutor Peschl são guiadas pelas seguintes questões (temas para projetos
e teses de mestrado/doutorado):

Como surge a novidade/novo conhecimento/inovação?


Quais são os fundamentos
fundamentos cognitivos, sociais, epistemológicos, organizacionais,
tecnológicos e culturais e os fatores facilitadores dos processos
(socioepistemológicos) de criação de conhecimento e design de artefatos (de
inovação)?
Qual é o papel da cognição estendida e ativa nos processos de conhecimento e na
produção de artefatos (de inovação)?
Qual é o papel das organizações e do espaço no trabalho/criação e inovação do
conhecimento?
O que são instituições cognitivas, quais são os fundamentos cognitivos (socialmente
estendidos) das organizações e suas capacidades de inovar e moldar o futuro?
O que são potenciais (futuros) e como/o que podemos “aprender” com eles?

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Quais são as implicações dos insights resultantes (da pergunta acima) para o
domínio organizacional e configurações
configurações educacionais e como eles podem ser
aplicados nesses contextos (por exemplo, alfabetização futura e inovação)?
Quais são os fundamentos do Design Thinking,
Thinking, quais são seus prós e contras em
relação à inovação voltada para o futuro?
Do que se trata realmente
realmente a digitalização? Quais são suas qualidades centrais e o
que o torna diferente de outras práticas e mudanças paradigmáticas sócio-
sócio-
culturais-
culturais-tecnológicas?

2. Pesquisas
Pesquisas futuras
futuras e estudos a serem realizados segundo o Doutor Peschl

Até agora, ainda segundo o Doutor Peschl, pouca pesquisa foi feita sobre inovação
orientada para o futuro baseada em potenciais futuros no contexto organizacional
(Wenzel et al., 2020). Filosofia, ciência de sistemas e teoria evolutiva já desenvolveram
conceitos e abordagens que foram usados parcialmente (Peschl, 2022; Kauffman, 2014;
Aristóteles, 1991; Scharmer, 2016). No entanto, mais trabalho precisa ser feito para
integrá-los tanto no domínio teórico quanto na operacionalização desses insights em
processos concretos de aprendizagem e inovação, habilidades, mentalidades e estruturas
culturais. Um primeiro passo foi alcançado ao desenvolver, aplicar e testar com sucesso
a abordagem de inovação emergente (Peschl, 2020; Peschl e Fundneider, 2013). Além
disso, com base nos insights e conceitos discutidos (Peschl, 2022), seria interessante
desenvolver mais o conceito de ACAP-Capacidade Absortiva (Sun e Anderson, 2010;
Zahra e George, 2002), pois ele está intrinsecamente alinhado com a aquisição,
assimilação, transformação e exploração do conhecimento (externo e existente), lidando
com potenciais futuros que seria um elemento importante e que deveria ser incluído
nessa capacidade organizacional.

Os estudos e pesquisas lideradas pelo Dr. Peschl abrangem um conjunto de principais


temas como segue:

Capacidade Absortiva, definida como “a capacidade de uma organização


identificar, assimilar e explorar o conhecimento proveniente
proveniente de fontes
fontes externas
como uma capacidade de aprender com o seu ambiente externo para que novos
conhecimentos possam fluir para o seu interno”;

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Potencial
Potencial futuro
futuro como fonte de novidade;
Processo integrado de aprendizagem e inovação seguindo a prática de “aprender
com o futuro conforme ele emerge”;
emerge”;
Cultura e compromisso com a aprendizagem;
Habilidade e capacidade de absorção e aquisição de conhecimentos (externos);
Abertura de espírito e capacidade de reflexão e questionamento de mentalidades
e rotinas existentes;
Capacidade
Capacidade de criação de sentido e interpretação do conhecimento;
Equilibrar e integrar tanto a busca do que pode vir a ser conhecido quanto o
refinamento e a implementação do que já é conhecido nos processos de
(ambidestria) [“exploration is the pursuit of what might come to be
aprendizagem (ambidestria)
known; exploitation is the refinement and implementation
implementation of what is already
known”];
Visão compartilhada e alinhamento sobre o foco de uma organização; e
Distribuição intraorganizacional, compartilhamento e armazenamento do
conhecimento.

3. Conclusões

Assim sendo e a partir dos principais aspectos identificados e mencionados acima, bem
como os conteúdos oferecidos pelos autores relacionados no Item 4-Referências, a
seguir, podemos entender que temos no presente texto relevantes vetores que possam
nos orientar em propostas a serem promovidas visando a construção do Futuro da
Engenharia e de suas Graduações, em prol de novos estudos e implementações que
visem e possam agregar real valor ao futuro das nossas sociedades em diferentes partes
do mundo.

4. Referências

Alegre, J. and Chiva, R. (2008), “Assessing the impact of organizational learning capability
on product innovation performance: an empirical test”, Technovation, Vol. 28 No. 6, pp.
315-326.

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Aristotle. (1991), “Metaphysics”, in Barnes, J. and Aristotle. (Eds), The Complete Works of
Aristotle. The Revised Oxford Translation, Princeton University Press, Princeton, N.J.

Cohen, W. M. and Levinthal, D. A. (1989), “Innovation and learning: the two faces of R&D“.
The Economic Journal 99, pp. 569-596.

Cohen, W. M. and Levinthal, D. A. (1990), “Absorptive capacity: A new perspective on


learning and innovation“, Administrative Science Quarterly, Volume 35 Issue 1, pp. 128-
152.

Flood R.L. and Romm N.R.A., (2018) "A systemic approach to processes of power in
learning organizations: Part II – triple loop learning and a facilitative intervention in the
‘500 schools project’", The Learning Organization.

Flood R.L. and Romm N.R.A., (2018) "A systemic approach to processes of power in
learning organizations: Part I – literature, theory, and methodology of triple loop
learning", The Learning Organization, Vol. 25 Issue: 4, pp.260-272.

Kauffman, S.A. (2014), “Prolegomenon to patterns in evolution”, Biosystems, Vol. 123 No.
2014, pp. 3-8.

ÓReilly, C.A. and Tushman, M.L. (2013), “Organizational ambidexterity. Past, present and
future”, Academy of Management Perspectives, Vol. 27 No. 4, pp. 324-338.

Peschl M.F. (2022), “Learning from the future as a novel paradigm for integrating
organizational learning and innovation”, pp. 13.

Peschl, M.F. (2020), “Theory U: from potentials and co-becoming to bringing forth
emergent innovation and shaping a thriving future. On what it means to ‘learn from the
future as it Emerges’”, in Gunnlaugson, O. and Brendel, W. (Eds), Advances in Presencing,
Vol. 2, Trifoss Business Press, Vancouver, pp. 65-112.

Peschl, M.F. and Fundneider, T. (2013), “Theory-U and emergent innovation. Presencing
as a method of bringing forth profoundly new knowledge and realities”, in Gunnlaugson,
O., Baron, C. and Cayer, M. (Eds), Perspectives on Theory U: Insights from the Field,
Business Science Reference/IGI Global, Hershey, PA, pp. 207-233.

Raisch, S. and Birkinshaw, J. (2008), “Organizational ambidexterity: antecedents,


outcomes, and moderators”, Journal of Management, Vol. 34 No. 3, pp. 375-409.

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Scharmer, C.O. (2016), Theory U. Leading from the Future as It Emerges. The Social
Technology of Presencing, 2nd ed., Berrett-Koehler Publishers, San Francisco, CA.

Sun, P.Y.T. and Anderson, M.H. (2010), “An examination of the relationship between
absorptive capacity and organizational learning and a proposed integration”,
International Journal of Management Reviews, Vol. 12 No. 2, pp. 130-150.

Wenzel, M., Krämer, H., Koch, J. and Reckwitz, A. (2020), “Future and organization studies:
on the rediscovery of a problematic temporal category in organizations”, Organization
Studies, Vol. 41 No. 10, pp. 1441-1455.

Zahra, S.A. and George, G. (2002), “Absorptive capacity: a review, reconceptualization and
extension”, The Academy of Management Review, Vol. 27 No. 2, pp. 185-203.

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