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Nietzsche e Outros na Busca pelo Nosso Melhor

Por Kleber Grasso Rodrigues

“Busca da Excelência”, “Processo de Autorrealização e Individualização dos Seres


Humanos”, “Propósito e Sentido de Vida” e Responsabilidade Individual

Caros amigos, o que poderíamos dizer sobre os temas em pauta?

Para nos ajudar a elaborar um melhor entendimento sobre esses pontos, vamos nos apoiar
sobre pensamentos e estudos realizados por quatro respeitáveis pensadores e
pesquisadores: Aristóteles [384 a.C. – 322 a.C.] 1, Friedrich Nietzsche [1844 – 1900]2, Kurt
Lewin [1890 – 1947]3 e Julian B. Rotter [1916 – 2014]4.

Aristóteles nasceu na pequena cidade de Estagira, ao norte da Grécia. Seu pai, Nicômaco,
era médico do rei da Macedônia Amintas III, pai de Filipe II e avô de Alexandre, o Grande,
para quem, vários anos depois, Aristóteles se tornaria o seu mentor. Aristóteles estudou
medicina sob orientação do seu guardião Proxenus, que decidiu enviá-lo aos 17 anos de
idade para Atenas, onde ingressou na Academia de Platão, uma escola que possuía um
curriculum em sua maior parte matemático e abstrato. A participação de Aristóteles na
Academia era exemplar e este se tornou um grande professor, especialmente no tópico da
retórica. Muitos anos depois e após a morte de Platão, Aristóteles decidiu montar sua
própria escola em Atenas, com a autorização do rei Alexandre, em um local chamado Liceu.
Aristóteles costumava dar aulas em sua escola caminhando e obrigando seus estudantes a
lhe seguirem pelo caminho. Acabaram assim denominados de Peripatéticos – aqueles a
quem se ensina passeando.

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Nietzsche foi um importante filósofo alemão, poeta em prosa, crítico cultural, filólogo e
compositor, cuja obra exerceu profunda influência na filosofia contemporânea. Ele
começou sua carreira como filólogo clássico, antes de se voltar para a filosofia. Friedrich
Nietzsche esteve entre os filósofos mais influentes na cultura e filosofia europeia e norte-
americana durante o século XX.

Lewin foi um psicólogo germano-americano, conhecido como um dos pioneiros modernos


da psicologia social, organizacional e aplicada, destacadamente nos Estados Unidos da
América. Durante sua carreira profissional, Lewin se dedicou a três principais tópicos:
pesquisa aplicada, pesquisa-ação – uma filosofia e metodologia de pesquisa aplicada às
ciências sociais, e comunicação em grupo de indivíduos. Lewin é também é reconhecido
como o “fundador da psicologia social” e um dos primeiros a estudar a dinâmica dos grupos
e o desenvolvimento organizacional.

Rotter, um dos mais eminentes psicólogos americanos pós-Segunda Guerra Mundial, ficou
reconhecido por desenvolver a teoria da aprendizagem social e pesquisar o “locus de
controle” – grau que avalia em que medida pessoas acreditam que elas mesmas, em
contraponto a forças externas, além da sua própria influência pessoal, exercem controle
sobre os resultados do que acontece em suas vidas. Este conceito desenvolvido por Rotter
se tornou um dos importantes aspectos da psicologia da personalidade a partir de 1954.

Então, o que Nietzsche tem a ver com a 'Busca da Excelência' e com o 'Processo de
Autorrealização e Individualização dos Seres Humanos', seu 'Propósito e Sentido de Vida',
bem como a nossa Responsabilidade Individual sobre tudo isso?

Contribuições de Aristóteles, Nietzsche, Lewin e Rotter

A partir das contribuições oferecidas por Nietzsche em suas obras, podemos afirmar que
ele abordou muitos temas que relacionaríamos à busca da excelência, autorrealização e
individualização dos seres humanos, propósito e sentido de vida, e responsabilidade
individual. Seu pensamento é caracterizado pela crítica à moralidade tradicional da sua
época, à religião e à metafísica, e pela valorização da vida terrena, da individualidade de
cada um e da superação de si mesmo.

Para Nietzsche, a busca da excelência não poderia ser possível se restrita, se fosse limitada,
pelos valores e normas impostos pela sociedade ou pela tradição, e sim, ela – a busca da
excelência, precisa ser guiada pela vontade de poder ser de cada indivíduo. O processo de
autorrealização e individualização dos seres humanos implica na superação de si mesmo,
na busca pela expressão plena de sua individualidade e na afirmação da sua vontade de
poder ser e do seu vir a ser.

O assim denominado “perfeccionismo de Nietzsche” abrange as questões de “noção de


florescimento” – quão bem configurada [estruturada] internamente é uma pessoa e quão
bem ela se sai em relação ao seu ambiente; e “as excelências externas” – realizações que,
por direito do próprio do indivíduo, incorporam algo grandioso ou excelente, exterior ou
além do seu florescimento, que poderíamos pensar aqui como, por exemplo, suas
realizações artísticas, intelectuais ou culturais.

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A ética de Nietzsche também destaca que os seres humanos, assim denominados “tipos
superiores” por esse pensador, podem florescer seguindo o impulso da sua própria natureza
[flourish – alcançam êxito, sucesso, prosperam, atingem um auge de desenvolvimento ou
influência] e se sobressaem [excel – superaram em realização, se distinguem pela
superioridade, superaram os outros por seus próprios méritos e resultados alcançados].

Por outro lado, isso nos faz lembrar antigos ensinamentos greco-romanos – “Conhece-te
a ti mesmo” – a conquista do indivíduo pelo seu próprio lugar no mundo, do lugar que
lhe é próprio por natureza.

A Busca da Excelência, a Busca do Nosso Melhor, segundo a Filosofia Estoica, é atingida


com o exercício do hábito, ou seja, é possível em conformidade com a construção de uma
cultura, segundo uma perspectiva social ou grupal. Fazer o nosso melhor é um movimento
que se faz de dentro par fora, uma prática individual e por vontade própria e que faça
verdadeiramente sentido para a cada um de nós. Portanto, tem a ver também com o nosso
propósito individual de vida.

Isto nos faz lembrar igualmente de Aristóteles, com a sua “areté” ou “aretê”, palavra de
origem grega que significa "adaptação perfeita, excelência, virtude", que expressa o
conceito grego de "excelência" de qualquer tipo, ligado especialmente à noção de "virtude
moral", de cumprimento do propósito ou da função a que o indivíduo se destina.

De forma semelhante, encontramos conexões entre os pensamentos de Nietzsche e de


Aristóteles com os estudos de Julian B. Rotter sobre o “locus de controle”.

Rotter foi um psicólogo que estudou o conceito de locus de controle, que se refere à
crença de uma pessoa sobre a sua capacidade de controlar eventos em sua vida. Segundo
Rotter, existem duas formas principais de locus de controle: interno e externo.

O “locus de controle interno” se refere à crença de uma pessoa que ela mesma é capaz de
controlar eventos em sua vida e que suas ações e escolhas têm um impacto significativo
em seus êxitos ou fracassos. Por outro lado, o “locus de controle externo” se refere à
crença de uma pessoa de que os eventos em sua vida são principalmente controlados por
forças externas como, por exemplo, o destino, a sorte, situações, condições ou outras
pessoas.

Nietzsche defendia a importância da vontade de poder ser e da responsabilidade


individual na busca pela realização pessoal. Ele acreditava que cada indivíduo tem o
poder de criar sua própria vida e que é responsável por suas próprias escolhas e ações.
Em outras palavras, Nietzsche tinha uma visão bem robusta sobre o que Rotter
denominou “locus de controle interno”, ou seja, acreditava que o indivíduo tem a
capacidade de controlar sua própria vida e que é responsável pelo seu próprio destino. De
forma análoga, a “areté” ou “aretê”, a excelência de Aristóteles, também somente pode
ser alcançada para aqueles indivíduos com um elevado grau de “locus de controle
interno”.

Essa conexão entre os pensamentos de Nietzsche e Aristóteles com os estudos de Rotter


sobre o locus de controle sugere que todos os três enfatizam a importância da

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responsabilidade individual e da crença na capacidade do indivíduo de controlar sua
própria vida e destino. Eles destacam a importância da ação e do controle pessoal sobre
os eventos em nossas vidas.

À luz dessas reflexões, buscamos igualmente verificar contribuições oferecidas por Kurt
Lewin, por meio de seus estudos sobre a “pesquisa-ação”, que destaca a importância de
uma abordagem participativa e colaborativa para a resolução de problemas e a criação
de mudanças significativas na sociedade. Essa abordagem envolve a ação e a
experimentação como forma de obter conhecimento e gerar soluções eficazes, o que pode
ser aplicado até mesmo na busca da excelência, no processo de autorrealização e
individualização dos seres humanos e no alcance do próprio propósito e sentido de vida.
Ou seja, podemos afirmar, com certa tranquilidade, que Lewin evidencia como parte
integrante do processo de busca da excelência, da autorrealização e da individualização,
a responsabilidade de cada indivíduo de colocar em prática, “fazer acontecer”, incluindo o
“learning by doing” e decorrentes “lições aprendidas”, sua vontade na construção do seu
próprio destino.

Algumas referências

1 – Aristóteles [384 a.C. – 322 a.C.] = https://www.encyclopedia.com/humanities/encyclopedias-


almanacs-transcripts-and-maps/aristotle-384-bce-322-bce

2 – Friedrich Nietzsche [1844 – 1900] = https://www.encyclopedia.com/humanities/encyclopedias-


almanacs-transcripts-and-maps/nietzsche-friedrich-1844-1900

3 – Kurt Lewin [1890 – 1947] = https://www.encyclopedia.com/people/medicine/psychology-and-


psychiatry-biographies/kurt-lewin

4 – Julian B. Rotter [1916 – 2014] = https://www.encyclopedia.com/medicine/encyclopedias-


almanacs-transcripts-and-maps/rotter-julian-b

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