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Instituto de Artes
CINEMA
Prof. Jorge Cruz
Estudante: Pedro Metri Almeida Moreira
Matrícula: 202010226011 TURMA 1 Manhã Setembro, 2022
Assim, discutirei como o documentário, que se apresenta como uma captura retirada
diretamente da realidade, faz uso de recursos estéticos artificiais para direcionar o sentido do
que vemos, apagar perguntas, e mistérios, dúvidas: automatismo. 1 Assim reforçando uma
perspectiva de transparência das cenas filmadas da realidade. Na segunda parte, adentro no
experimento que faço usando essa mesma cena do filme na modalidade de vídeo arte.
Manipulando o fragmento com outras camadas sonoras, irei argumentar que esta é uma
proposta para subverter construções destinadas a erguer ilusões prontas a cerca do que é
exibido, ou seja, criar opacidade suficiente que leve a questionamentos sobre o que nos é
apresentado.
1 Bento et al. (2018) acredita que o automatismo na formação do sujeito advém da racionalização
fomentada pela relação entre homem e aparelhos/máquinas, e que para os autores se tornaram
indissociáveis.
1. Elementos para criar hiper-realidades
Na performance, Marina Abramovic está sentada a uma mesa e do outro lado da mesa,
de frente para ela, uma cadeira para que uma pessoa de cada vez pudesse estar sentada cara a
cara, olho no olho com a artista durante um minuto. Muitos artistas conhecidos nos círculos do
sistema de arte frequentado por Marina compareceram, como Björk e James Franco. E dentre
eles seu ex parceiro de trabalho e na vida pessoal, o artista performer alemão Ulay.
A performance durou vários semanas e deixava Abramovic horas sem se levantar a cada
dia durante a temporada inteira. Quem se sentasse na cadeira deveria respeitar certas regras
como não tocar ou falar com Marina. A troca era no olhar. Ou seja, na pré-produção da própria
performance já se considera garantir as condições ideais para que a ação da artista desenrolasse
da forma mais fluída e orgânica, uma execução com efeitos de transparência, que na verdade
minimiza e disfarça sua fabricação. E a pretensa simplicidade que estaria por trás de uma
performance em que a artista está simplesmente sentada a uma mesa, e que o nome da
performance ev
Com isso, trabalhos como Light / Dark (1977), Relation in Time (1977), AAA AAA (1978),
The other rest energy (1980) que nos chegam hoje através da mídia de vídeo são potentes
exemplos de trabalhos performáticos que carregam uma opacidade proveniente do próprio ato
performático. Pois aqui não é mais um mergulho numa ficção a que eles estão remetendo a
respeito de um mundo autônomo criado pelos artistas, mas sim chamar a atenção para a
materialidade corpórea da ação. No trabalho AAA-AAA, os dois artistas se olham e gritam um
para o outro, gritos que reagem a gritos que respondem a gritos. Seria para ver quem grita mais
alto numa relação? Seria sempre assim que se comunicam? Seria parte da dinâmica romântica
gritar? Os artistas questionam as representações de relação a partir de seus próprios elementos,
o homem e a mulher, porém desestabilizados pois as regras de construção de comportamento
são descartadas. Assim, fazem um comentário, um contraponto, uma subversão da própria
imagem, que eles, um casal heterossexual branco carregam enquanto casal real que foram, e a
custa dessa própria performatividade do romântico na vida real. Podemos ver como a cena é
fabricada (Xavier, 2018).
Essa é uma proposta que busca desestabilizar a própria crença naquilo que consumimos
como imagem, contra uma corrente que automatiza a formação do sujeito que se quer
representar. Dessa maneira, com a imagem do reencontro e o som dos artistas gritando tento
chamar a atenção para as diferentes materialidades do audiovisual apresentado: som e imagem
conflitam, gerando um estranhamento que esteja apto a tornar a janela do vídeo arte opaca,
denunciando seus cantos de sereia que nos levam para o mergulho.
Bibliografia