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Educação no Processo e Reprodução da Vida Social

1.1. Os Fundamentos Libertadores da Educação na Formação do


Indivíduo.

De acordo com Tonet (2012), a educação é essencial ao indivíduo,


Desta análise afirma o autor: “Podemos dizer que a natureza essencial da
atividade educativa consiste em propiciar ao indivíduo a apropriação de
conhecimentos, habilidades, valores, comprometimentos, etc. que se
constituem em patrimônio acumulado e decantado ao longo da história da
humanidade, contribuindo, assim para que o indivíduo se construa como
membro do gênero humano e se torne apto a reagir face ao novo de um modo
que contribua para a reprodução do ser social, que se apresenta sempre sob
uma determinada forma particular”. (TONET, 2012, p.69)

Assim, pode-se dizer que a educação é um instrumento de libertação


que procura diminuir as desigualdades sociais e romper com a opressão do
sistema capitalista que oprime o indivíduo.
Com a orientação o sujeito passa a pensar e ter capacidade de construir um
discurso consciente da realidade da sociedade em que vive, levando-o a ser
um ser crítico, não podendo fugir das influências dos fatos sociais, pois a
mesma faz parte de uma totalidade.

Portanto para Meszáros (2008), a questão da educação deve ser


analisada tendo-se como base a sua relação com a totalidade de fenômenos
sociais concretos com os quais está ligada. Para o autor (ibidem) o capitalismo
é um conjunto de mediações de segunda ordem que se realiza no sentido de
submeter aos seus imperativos todos os processos que compõem a atividade
produtiva humana, a educação não pode se situar além dessas determinações.
Ou seja, a educação também se constituirá como um complexo de mediações
atrelado ao sistema maior do qual faz parte e que a condiciona. ( MÉSZÁROS,
2008, p. 43):
Desta pespectiva analisa o pensador, as determinações gerais do
capital afetam profundamente cada âmbito particular com alguma
influência na educação, e de forma nenhuma apenas as instituições
educacionais formais. Estas estão estritamente integradas na
totalidade dos processos sociais. Não podem funcionar
adequadamente exceto se estiverem em sintonia com as
determinações educacionais gerais da sociedade como um todo.
(MESZÁROS, 2008, p.43)

Meszáros (2008) sustenta que a educação deve ser sempre continuada,


permanente, ou não é educação. e que a educação Libertadora teria como
função transformar o trabalhador em um agente político, que pensa, que age, e
que usa a palavra como arma para transformar o mundo. Para Meszáros
(2008), uma educação Para Além do Capital deve, portanto, andar de mãos
dadas com a luta por uma transformação radical do atual modelo econômico e
político hegemônico. Meszáros acredita que a sociedade só se transforma pela
luta de classes.
Apenas a mais ampla das concepções de educação nos pode ajudar
a perseguir o objetivo de uma mudança verdadeiramente radical,
proporcionando instrumentos de pressão que rompam a lógica
mistificadora do capital. Essa maneira de abordar o assunto é, de
fato, tanto a esperança como a garantia de um possível êxito. Em
contraste, cair na tentação dos reparos institucionais formais – “
passo a passo”, como afirma a sabedoria reformista desde tempos
imemoriais – significa permanecer aprisionado dentro do círculo
vicioso institucionalmente articulado e protegido desta lógica
autocentrada do capital .

Segundo Mészáros (2008, p.53), nunca é demais salientar a importância


estratégica da concepção mais ampla de educação, expressa na frase: “a
aprendizagem é a nossa própria vida”. Para esse pensador muito do nosso
processo contínuo de aprendizagem se situa, felizmente, porque esses
processos não podem ser manipulados e controlados de imediato pela
estrutura educacional formal legalmente salvaguardada e sancionada.
(MÉSZÁROS, 2008 p.53)

A Educação liberta o indivíduo, não a educação formal, pois esta está


sobre a ótica do capital e de acordo com suas concepções, apesar de que ela é
essencial aos primeiros anos de formação. Situando, a educação formal se
caracteriza por ser altamente estruturada e tem os objetivos relativos ao ensino
e aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados, regimentados
por leis. Desenvolve-se no seio de instituições próprias – Escolas e
Universidades. Porém é a educação informal que faz com que o indivíduo
possa ser crítico diante da de sua realidade, a maneira com a qual ao longo de
nossas vidas lidamos com conflitos e confrontos e as experiências que
partilhamos com as pessoas e como a si próprias. Pois, é a educação informal
ocorre fora das instituições de forma espontânea na vida do dia-a-dia, através
das vivências com familiares, amigos, colegas, onde os conhecimentos são
partilhados em meio a uma interação sociocultural, que a única condição
necessária é existir quem saiba e quem queira saber.

As instituições escolares foram adaptadas no decorrer do tempo as


determinações reprodutivas do sistema do capital e não podem funcionar
adequadamente em sintonia com as determinações educacionais da sociedade
como todo. Desse modo a escola é apenas uma parte do sistema global de
“internalização” dos valores, que secundariza, contudo sem abandonar suas
formas iniciais brutas e violentas, mesmo assim procura assegurar que cada
indivíduo assuma como suas metas o sistema

Segundo Mészáros (2008, p.61) desde o início o papel da educação é


de importância vital para romper com a internalização predominante
nas escolhas políticas circunscritas à “legitimação constitucional
democrática” do Estado capitalista que defende seus próprios
interesses.

Desse modo, a educação formal ou escolar não é a força é a força


ideologicamente primária que consolida o sistema do capital, nem ela é capaz
de, por si só, fornecer uma alternativa emancipadora radical, devido uma das
suas principais funções é produzir a conformidade através de seus próprios
limites institucionalizados e legalmente sancionados. Dentro desse contexto
essa alternativa só pode ser encontrada no terreno das ações coletivas, o que
leva a pensar que as soluções educacionais não podem ser formais, porém
essenciais, no sentido de confrontar e alterar o sistema de internalização, com
todas as suas dimensões visíveis e ocultas.

Mészáros (2008), diz que para tornar essa verdade algo óbvio “a
aprendizagem é a nossa própria vida”, como Paracelso afirmou há cinco
séculos e para que isso seja possível colocar em perspectiva sua parte formal,
temos que reivindicar uma educação plena para toda vida, a fim de instituir
uma reforma radical. Mais que não podemos desafiar as formas atualmente
dominantes de internalização, que já vem consolidada pelo sistema
educacional para o capital. Ele diz que da forma que se encontra a educação
ela age como um cão de guarda para induzir o conformismo por determinados
meios de internalização. Portanto, de acordo com Mészáros (ibidem),
necessitamos de uma “contrainternalização” que seja coerente e sustentada
que não se esgote na negação que defina seus objetivos fundamentais, como a
criação de uma alternativa abrangente concretamente sustentável ao que já
existe. Em outras palavras para construir novos valores é necessário
desenvolver uma atividade de “contrainternalização”, ou uma intervenção
consciente no processo histórico, orientada no sentido de superar a alienação
do trabalho por meio de um novo metabolismo reprodutivo social dos
“produtores livremente associados”, que não se esgote na negação do
capitalismo. Em suma, na visão de Marx, todas as formas de negação
permanecem condicionadas pelo objeto de sua negação. Assim, a falta de
ação que condiciona o objeto negado, tende a agregar poder com o passar do
tempo impondo a princípio, a busca de uma linha de menor resistência e em
seqüência o regresso às práticas anteriores que sobrevivem nas dimensões
não reestruturadas da ordem anterior.
Segundo Mészáros, a educação em seu sentido mais abrangente
desempenha um papel fundamental para romper com a internalização
predominante. Essa contrainternalização exige a antecipação de uma visão
geral, concreta e abrangente, de uma forma diferente de gerir as funções
globais de decisão da sociedade, muito antes da conquista do poder. Isso
envolve ao mesmo tempo a mudança qualitativa das condições objetivas da
reprodução da sociedade e a transformação progressiva da consciência. Sendo
assim, o papel da educação é soberano, seja na elaboração de estratégias
apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução
como para a própria mudança consciente dos indivíduos, despertando-os a
concretizar a criação de ordem social metabólica radicalmente diferente.

A educação tem o poder de transcender positivamente autoalienação do


trabalho, pois vivemos sobe condições desumanas do fetiche do real sentido
das coisas dentro da consciência. Para Mészaros (2008, p.59) ao citar Marx,
que “os seres humanos devem mudar completamente as condições de sua
existência industrial e política, e consequentemente toda sua maneira de ser”.
E que é preciso a necessária intervenção consciente no processo histórico,
orientada pela tarefa de superar a alienação. Nesse sentido, para Mészáros
não pode haver uma solução efetiva para autoalienação do trabalho sem que
se promova, simultaneamente a universalização do trabalho e da educação, o
que presume necessariamente a igualdade essencial de todos os seres
humanos.

Tendo em vista o fato de que o processo de reestruturação radical deve


ser orientado pela estratégia de uma reforma concreta e abrangente de todo ao
qual se encontram os indivíduos, o desafio que deve ser enfrentado não tem
paralelos na história. Portanto para Meszáros(2008), o cumprimento dessa
nova tarefa histórica envolve simultaneamente a mudança qualitativa das
condições objetivas de reprodução da sociedade, no sentido de reconquistar o
controle total do próprio capital e a transformação progressiva da consciência
em resposta às condições necessariamente cambiantes.

Meszáros, 2008, pag 65), diz que:


O papel da educação é soberano, tanto para a elaboração de
estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições
objetivas de reprodução como para a automudança consciente dos
indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social
metabólica radicalmente diferente . é isso que se quer dizer com a
concebida “sociedade de produtores livremente associados” .

Portanto, não é surpreendente que na concepção Marxiana a “efetiva


transcendência da alienação do trabalho” seja caracterizada como uma tarefa
inevitavelmente educacional. Ou seja, a tarefa educacional congrega a ação de
transformação social ampla e emancipadora, onde os indivíduos sociais, ao se
reconhecerem no gênero humano a condição universal de sociabilidade e não
mais como sujeitos automizados, terão a possibilidade enquanto indivíduos
sociais, de ser generosos em seu autodesenvolvimento, potencializando a
transcedência positiva da alienação. Assim educação e emancipação humana
estão interligadas porque a educação proporciona contribuição permanente no
processo de rupturas radicais como autoeducadora, e a emancipação como
relações sociais desencadeadoras das atividades autorealizadoras.
A educação é indicada como instrumento da moral como automediação
do homem em sua luta pela autorrealização.

Desta pespectiva, Meszáros destaca em seu livro Para Além do Capital


o exemplo de Cuba. Com relação à universalização da Educação, Fidel Castro
em 1983, apesar das dificuldades conseguiu extraordinárias realizações
educacionais, como a eliminação rápida do analfabetismo até os mais elevados
níveis de pesquisa científica criativa apesar das medidas proibitivas
econômicas dos Estados Unidos com relação ao país que tinha que lutar não
só contra as limitações econômicas do subdesenvolvimento mais também
contra o impacto que causou os 45 anos de bloqueio. Na análise de Meszáros,
essas conquistas alcançadas pelo país mostram que não é preciso esperar por
um momento bom. Isso fez com que o país avançasse pelas sendas da
educação e à aprendizagem qualitativamente diferente pode e deve começar
“aqui e agora”, isso para que possamos efetivar as mudanças necessárias no
momento oportuno.

De acordo com Meszáros (2008, p.), a educação tem a capacidade


de fazer os indivíduos viverem positivamente à altura dos desafios
das condições sociais historicamente em transformação – das quais
são também produtores mesmo sob as circunstâncias mais difíceis -
todo sistema orientado à preservação acrítica da ordem estabelecida
a todo custo só pode ser compatível com os mais pervertidos ideais e
valores educacionais.

Percebe-se então, segundo Meszáros (2008), que a educação é


fundamental para libertação humana, ela benéfica na reciprocidade do
indivíduo particular e do individuo em sociedade, essa relação é necessária
para transformar as práticas econômicas dominantes em um tipo
qualitativamente diferente.

Uma Educação libertadora tem como função transformar o trabalhador


em um agente político, que pensa que age, e usa seu conhecimento como
arma para transformar o mundo. A educação tem a poder mais não como mera
transferência de conhecimentos, mais construir um indivíduo que pensa
consciente de seu papel na sociedade reconhecendo em sua história e
mostrando um campo aberto de possibilidades, superando o sistema
capitalista.

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