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ALAGOINHAS-BA
2018
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ALAGOINHAS-BA
2018
4
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
95f. il.
CDD 362.1098142
__________________________________________________
Prof. Dra. Maria Elisa Lemos Nunes da Silva – Orientadora
Universidade do Estado da Bahia–UNEB/Campus II – Alagoinhas
__________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Santos Silva – Examinador
Universidade do Estado da Bahia–UNEB /Campus II - Alagoinhas
__________________________________________________
Prof. Dra. Cleide Lima Chaves – Examinadora
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
ALAGOINHAS-BA
2018
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Professor Paulo Santos Silva, que aceitou participar da minha Banca de
qualificação e defesa. Além disso, fui sua aluna e fiz tirocínio em sua turma, isso me ensinou
que estar ao seu lado é sempre um aprendizado.
Muito obrigada a Professora Cleide Chaves, pelo carinho e boa vontade em aceitar
participar da minha defesa, agradeço desde já as contribuições. Serei sempre grata à
Professora Christiane Cruz, pelas contribuições na Banca de qualificação.
Durante todo o Mestrado, a minha família foi essencial para que esse momento se
tornasse real, por isso, agradeço a minha mãe, sem ela jamais chegaria até aqui, às minhas tias
Neves, Lia, Kika, Irá e Suzan, pela alegria e amor que sempre me trataram. Às minhas
sobrinhas Cibele, Catrine, Heloisa e Iasmin, por vocês tento sempre ser o melhor exemplo. Às
minhas irmãs e irmão, pela torcida, em especial minha irmã Beybe, a pessoa que mais tem
paciência comigo no mundo e está sempre ao meu lado não importa o que aconteça, e a
Bartira Batista, pela torcida e alegria que sempre me recebe! Agradeço aos primos e primas,
principalmente Matheus Araújo, que ajudou a cuidar de mim durante toda a minha
recuperação.
8
Aos amigos, agradeço os momentos de alegria que sempre passamos juntos, vocês
sempre foram meu refúgio para todos os momentos, especialmente Leandro Nascimento,
Carlos Alberto e Diego Rebelo sei que sempre posso contar com vocês, e Leandro Colling,
pela vibração a cada conquista.
9
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo analisar o papel das Delegacias de Saúde e do
Hospital de Isolamento de Mont’Serrat, no processo da Reforma Sanitária que ocorreu na
Bahia na década de 1920. A ideia é discutir questões ligadas às políticas sanitárias que foram
implementadas após a criação da Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública e do Código
Sanitário, ambos em 1925. As fontes utilizadas nesta pesquisa foram: relatórios das
Delegacias de Saúde; relatórios do Subsecretário de Saúde da época; relatóri os médicos
do Hospital de Isolamento de Mont’Serrat; leis e decretos sanitários; Mensagens dos
Governadores e matérias dos jornais A Tarde, Diário de Notícias e Diário da Bahia. Foi
possível conhecer o perfil dos atendidos pelas instituições pesquisadas, b em como as
suas condições de moradia. A população pobre e negra foi a que mais necessitou desses
serviços. As ações desenvolvidas pelas Delegacias de Saúde e pelo Hospital não foram
isoladas. Buscou-se criar uma rede de atendimento, vinculado à Sub-Secretaria de Saúde
e Assistência Pública que tinha como base o Código Sanitário. Ambos tiveram um papel
importante no processo da reforma, contribuindo para a articulação do estado com as
políticas sanitárias nacionais.
ABSTRACT
This dissertation objective to analyze the role of the Health Police and the Isolation
Hospital of Mont'Serrat, in the process of Sanitary Reform that occurred in Bahia in the
1920s. The idea is to discuss issues related to the health policies that were implemented after
the creation of the Subsecretariat of Health and Public Assistance and the Sanitary Code, both
in 1925. The sources used in this research were: reports from the Health Departments; reports
of the Assistant Secretary of Health at the time; medical reports from the Isolation Hospital of
Mont'Serrat; laws and sanitary decrees; Messages from Governors and newspaper articles “A
Tarde”,” Diário de Notícias” and “Diário da Bahia”. It was possible to know the profile of
those attended by the institutions surveyed, as well as their living conditions. The poor and
black population was the one that most needed these services. The actions developed by the
Health Police and the Hospital were not isolated. It was sought to create a service network,
linked to the Sub-Secretariat of Health and Public Assistance that was based on the Health
Code. Both played an important role in the reform process, contributing to the articulation of
the state with national health policies.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE MAPAS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................16
Salvador?...................................................................................................................................75
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................84
FONTES...................................................................................................................................86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA...............................,,...................................................89
ANEXOS..................................................................................................................................93
16
INTRODUÇÃO
Esta dissertação tem como objetivo analisar o papel das Delegacias de Saúde e do
Hospital de Isolamento de Mont’Serrat (HIMS), no processo de constituição da reforma
sanitária na Bahia na década de 1920.
No início do século XX, desenvolveu-se no Brasil um movimento sanitarista que
divulgou as condições de vida das pessoas que moravam longe dos grandes centros urbanos.
Uma série de viagens, realizadas pelos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, mostrou um
país desconhecido e doente. Um dos objetivos desse movimento era diminuir a distância que
existia entre o Brasil urbano e o Brasil rural e mostrar para as elites que o rural não estava tão
distante como se imaginava, mesmo porque, as doenças estavam presentes nas cidades
assolando principalmente a população pobre.
A partir das discussões e lutas desse movimento, foi criado em 1920 o Departamento
Nacional de Saúde Pública (DNSP). Este órgão tinha objetivo intervencionista estatal de
cunho nacional, respeitada a perspectiva federalista da Constituição republicana de 1891. O
Governo Federal poderia colaborar com os estados no que diz respeito às questões sanitárias e
de saúde, através de acordos por eles solicitados.
Os políticos baianos aderiram ao projeto nacional de reforma sanitária, em 1921,
ocasião em que o governador José Joaquim Seabra assinou um acordo com a União para a
realização de serviços de Profilaxia Rural de combate à sífilis e às doenças venéreas, de luta
contra a tuberculose e de higiene infantil.1
Em 1924, na gestão de Francisco Marques de Góes Calmon, o compromisso foi
renovado por mais cinco anos. O Governo do Estado da Bahia criou a Subsecretaria de
Saúde e Assistência Pública, através da lei 1.811 de 29 de julho de 1925. 2
Alguns meses depois, foi promulgado o Código Sanitário da Bahia, seguindo
orientações do DNSP a partir do Decreto 4.144 de 20 de novembro de 1925, que
indicava como deveria funcionar a nova organização sanitária da Bahia. 3
Junto à Subsecretaria, novas atribuições surgiram referentes à área de saúde na
Bahia e dois órgãos chamaram a atenção para esta pesquisa: as Delegacias de Saúde e o
1
BATISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e reforma da saúde na Bahia (1920-1945). Salvador: EDUNEB, 2017, p.
30;71.
2
BAHIA. Lei 1.811, de 19 de Julho de 1925. Cria a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública, Salvador,
1925.
3
BAHIA. Decreto 4.144, de 20 de Novembro de 1925. Arquivo Público do Estado da Bahia. Salvador, 1925.
17
4
REVEL e PETER. O corpo: o homem doente e sua história. In: LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre (Dir.).
História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976, p. 141-159.
5
DAVID, Onildo Reis. O inimigo invisível: epidemia na Bahia no século XIX. Salvador: EDUFBA/Sarah
Letras, 1996.Para o estudo da epidemia do cólera de 1855 e 1856, em Salvador ver também: ATHAYDE,
Johildo Lopes de. Salvador e a grande epidemia de 1855. Centro de Estudos Baianos da UFBA, (113), 1985.
18
6
DAVID. O inimigo invisível. 1996.
7
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A gripe espanhola na Bahia: saúde, política e medicina em tempos de
epidemia. Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009.
8
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. SANGLARD, Gisele. Saúde pública e Assistência na Bahia da Primeira
República (1889 -1929) IN SOUZA, Christiane Maria Cruz de. BARRETO, Maria Renilda Nery (org.). História
da Saúde na Bahia: Instituições e Patrimônio Arquitetônico (1808 – 1958) – Barueri, SP: Minha Editora, 2011
9
Idem
10
BARRETO, Maria Renilda Nery. A ciência dos partos nos manuais portugueses de obstetrícia . Revista
Gênero.UFF: V. 7, n. 2, p. 219 – 236., 1 sem. 2007
11
SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da Silva. Do “Centro” para o “Mundo”: A trajetória do Médico José
Silveira na Luta contra a Tuberculose. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal de Pernambuco.
Recife. 2009; Ciência e saúde no ''centro' do Brasil: a trajetória do médico José Silveira na luta contra a
tuberculose. In: SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da; SILVA, Paulo Santos. (Org.). Rastros biográficos:
estudos de trajetórias. Salvador: Eduneb, 2014, p. 53-95.
19
Segundo ela, a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), em 1920, foi
essencial no tange à implementação de ações voltadas para o controle dessa doença. O acordo
firmado entre este Departamento e a Liga Bahiana Contra a Tuberculose (LBCT) possibilitou
que o Dispensário Ramiro de Azevedo, específico para atender tuberculosos, fosse colocado
em funcionamento.12
Buscando expandir os estudos para além da capital e seu entorno, Cleide de Lima
Chaves organizou a coletânea História da saúde e das doenças no interior da Bahia: séculos
XIX e XX.13 Esta obra apresenta contribuições de autores que discutem a temática em
diferentes localidades do estado. No capítulo de sua autoria, Cleide Chaves abordou o
surgimento da assistência médico-hospitalar no sertão baiano e explorou a história da
Santa Casa de Misericórdia da cidade de Vitória da Conquista, interior da Bahia. 14 A autora
também estudou a atuação do médico Crescêncio Antunes da Silveira (1884-1952), cujas
trajetórias pessoal e profissional estiveram ligadas ao Hospital da Santa Casa e à filantropia
cristã, em Vitória da Conquista.15
Ampliando o campo de estudos em questão, Ricardo dos Santos Batista, abordou a
Reforma Sanitária da Bahia, entre 1920 e 1945, dando ênfase à atuação da Inspetoria de
Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas (IPLDV). Entre os aspectos por ele tratados, estão as
ações desempenhadas pelos médicos baianos no intuito de efetivar um projeto políico-
sanitário no estado, inclusive em cidades do interior. 16
As abordagens envolvendo instituições de saúde foram retomadas por Fátima
Lorenzo Figueiredo. Esta pesquisadora traçou a trajetória do Hospital de Isolamento de
Monte’Serrat (HIMS) desde a sua fundação, em 1853, até se tornar Hospital Couto
Maia, passando pelas reformas e ampliações. Fátima Figueiredo elaborou ainda a
12
SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da. “O Dispensário Ramiro Azevedo e a Constituição de políticas de
enfrentamento da tuberculose na Bahia na década de 1920”. In: SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da;
BATISTA, Ricardo dos Santos (organizadores). História e Saúde: políticas, assistência, doenças e instituições.
Salvador: EDUNEB, 2018 (no prelo).
13
CLEIDE, de Lima Chaves (org). História da saúde e das doenças no interior da Bahia: Séculos XIX e XX.
Vitória da Conquista: Ed UESB, 2013.
14
CHAVES, Cleide de Lima (Org.). História da saúde e das doenças no interior da Bahia: séculos XIX e XX.
Vitória da Conquista: Edições Uesb, 2013.
15
CHAVES, Cleide de Lima. Crescêncio Antunes da Silveira: um médico filantropo baiano In: SANGLARD,
Gisele et al. (Org.). Filantropos da nação: sociedade e assistência no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: Ed.
FGV, 2015.
16
BATISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e Reforma na Bahia (1920 – 1945). Salvador: Eduneb, 2017.
20
biografia do Médico Augusto Couto Maia, diretor que esteve à frente do HIMS durante
anos.17
Os conflitos entre as políticas de saúde e a população foram objeto de análise de
Adriano Arruda Pontes. Em seu o trabalho ele discutiu a presença da Fundação
Rockefeller no combate à febre amarela na Bahia, entre 1918 e 1940. A cronologia deste
estudo cruza-se com nossos marcos temporais quando se leva em conta o envolvimento
da instituição americana nas ações voltadas para essa doença, no processo de
constituição da reforma sanitária no estado. Além disso, ele faz uma reflexão acerca do
posicionamento dos médicos baianos ao programa da Rockefeller e trata ainda da
resistência da população às ações propostas por essa fundação para o controle dessa
enfermidade. 18
Para alcançar nosso objetivo, utilizamos como fontes principais os relatórios das
Delegacias de Saúde e os relatórios das ocorrências do Hospital de Isolamento de
Mont’Serrat. Essa documentação contém informações acerca da saúde pública em
Salvador no período analisado, desde os nomes dos médicos que atuaram nesse conjunto
de ações até dados dos pacientes atendidos. Através da sua leitura foi possível perceber
que a população pobre e negra era a mais atingida pelas moléstias, uma vez que ela
estava submetida às piores condições de vida e de trabalho. Além disso, suas moradias
dificilmente atendiam aos padrões de higiene previstos no novo código sanitário.
Os documentos são entendidos como discursos produzidos em determinadas condições
históricas, marcados por relações de poder e saber. São, portanto, materiais a serem
trabalhados na construção do texto historiográfico.19 Essa orientação em relação às fontes
esteve presente na nossa pesquisa.
Infelizmente existem algumas falhas temporais na documentação acessada. Não
encontramos relatórios de todos os anos pesquisados, por diversos motivos parte da
documentação se perdeu. Porém, isso em momento algum prejudicou a pesquisa.
Três jornais da chamada grande imprensa fazem parte do corpus documental
desta dissertação: Diário de Notícias, Diário da Bahia e A Tarde. O Diário de Notícias
17
FIGUEIREDO, Maria de Fátima Lorenzo. Hospital Couto Maia: Uma Memória Histórica (1853 – 1936)
Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências. Universidade
Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, 2010.
18
PONTES, Adriano Arruda. Caçando mosquitos na Bahia, a Rockefeller e o combate à febre amarela: inserção,
ação e reação popular (1918-1940). Dissertação de mestrado – Faculdade Filosofia e Ciências Humanas,
Programa de Pós Graduação em História. Universidade do Estado na Bahia, Salvador, 2007.
19
Le GOFF, J. Documento/ Monumento. In: Le GOFF, História e memória. Trad. Bernardo \Leitão. 5. ed.
Campinas: UNICAMP, 2003, p. 525-541; CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1982, p. 65-117.
21
foi fundado por Manuel da Silva Lopes Cardoso, em 1875, tendo saído de circulação em
1980. Este periódico publicou regularmente notícias sobre as epidemias e a situação
sanitária da cidade de Salvador e do estado da Bahia como um todo. 20
O Diário da Bahia, fundado por Demétrio Ciríaco Tourinho e Manuel Jesuíno
Ferreira, começou a circular em 1856 e encerrou definitivamente suas atividades em 1957.
Até 1868, veiculava a linha ideológica do Partido Liberal. De 1880 até 1899, foi dirigido por
Augusto Álvares Guimarães. A partir desse período, ficou fechado por dois anos, quando foi
adquirido por Severino Vieira, voltando a circular em 1901. A orientação ideológica de
Serverino Vieira durou até 1921, quando o periódico passou a ser gerido por uma sociedade
anônima.21
O jornal A Tarde foi fundado em 1912 por Ernesto Simões Filho. Na chamada
Primeira República, a atuação política do jornal foi dividida em duas fases. A primeira de
1912 a 1924, período de dominação política de J. J. Seabra, no qual A Tarde foi um
importante instrumento de oposição política. A segunda fase corresponde à ascensão de
Francisco Marques do Góes Calmon ao governo do estado (1924-1928). Nesse período, A
Tarde passou a apoiar o executivo baiano, abandonando o caráter oposicionista.22
A pesquisa nesses jornais contribuiu para entender um pouco mais o conjunto de
ações voltadas para as questões sanitárias na Bahia, além de permitir conhecer o “jogo”
político, uma vez que o conteúdo das matérias publicadas nesses periódicos variavam
conforme a aproximação ou o afastamento entre eles e os governos.
Para trabalhar com esses periódicos, dialogamos com o conceito de “grande
imprensa” de Nelson Werneck Sodré, seguido por José Weliton Aragão ao estudar a imprensa
baiana. A “grande imprensa” é uma empresa jornalística que vende notícia e visa o lucro.
Tendo como base de sustentação a publicidade, “veicula a ideologia da classe dominante.” 23
O Diário Oficial da época também foi consultado. Ele traz informações acerca do
funcionamento dos órgãos de saúde, apresentando, por exemplo, números de vacinações
realizadas, nomeações de médicos e de demais profissionais para compor a equipe
sanitária do município. Essa documentação também está disponível no Arquivo Público
do Estado da Bahia.
20
SAMPAIO, Consuelo Novais. Verbete biográfico. Diário de Notícias. Disponível em:
http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>.
21
SAMPAIO, Consuelo Novais. Verbete biográfico. Diário da Bahia. Disponível em:
http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>.
22
SAMPAIO, Consuelo Novais. Verbete biográfico. A Tarde. Disponível em:
http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>.
23
SANTOS, José Weliton Aragão. Formação da grande imprensa na Bahia. Dissertação (Mestrado em Ciências
Sociais) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Salvador: UFBA, 1985, p. 5.
22
PARTE I
A BAHIA E A REFORMA SANITÁRIA DA DÉCADA DE 1920
24
LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. Condenado pela raça, absorvido pela medicina: o Brasil
descoberto pelo movimento sanitarista da Primeira República. In: MAIO, Marcos Chor; SANTOS, Ricardo
Ventura (organizadores). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro, Editora FIOCRUZ/ CCBB, 1996, p. 24-26.
25
HOCHMAN, Gilberto. A era do saneamento: as bases da política de saúde no Brasil. São Paulo: Editora
HUCITEC. 1998, p. 41-54.
26
HOCHMAN. A era do saneamento, p. 51.
24
27
BRASIL, Decreto n. 3.987 – de 2 de janeiro de 1920: Reorganiza os serviços da Saúde Pública. Disponível
em: http://legis.senado.gov.br/legislação/ListaPublicacoe.action?id=48173. Acesso em junho de 2015.
28
BRASIL. Decreto 14.354 de 15 de setembro de 1920. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decr
et/1920-1929/decreto-14354-15-setembro-1920-503181-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 19.07.2017.
29
HOCHMAN. A era do saneamento, p. 173.
30
BATISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e Reforma na Bahia (1920 – 1945), p. 29-30.
31
SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da. “O Dispensário Ramiro Azevedo e a Constituição de políticas de
enfrentamento da tuberculose na Bahia na década de 1920”. Obra citada (no prelo).
32
BAHIA, Lei 1.811, de 19 de julho de 1925. Organiza a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública.
Salvador, 1925.
25
Salvador é uma cidade de topografia acidentada com o seu espaço dividido em Cidade
Alta e Cidade Baixa. Sua beleza natural foi ressaltada pelos viajantes que chegaram de regiões
distantes desde o período colonial. A primeira impressão, contudo, logo poderia ser
substituída pela identificação de suas mazelas. Era possível encontrar muitas áreas
abandonadas. O lixo e os excrementos eram deixados na rua em toda cidade. As precárias
condições sanitárias de Salvador indicavam que ela era uma cidade assolada por doenças
endêmicas e epidêmicas. Essa situação atravessou o século XIX e manteve-se nas primeiras
décadas republicanas.
O acesso aos dois níveis da cidade se fazia por meio de ladeiras, pelos elevadores
Lacerda e do Taboão, e pelos planos inclinados Gonçalves e do Pilar, construídos no final do
século XIX. O tráfego urbano, além de contar com os elevadores e com os planos inclinados,
era feito por bondes, caminhões e carroças de tração animal. Poucas pessoas podiam fazer uso
de automóveis que passaram a circular na cidade no início do século XX. Mas os bondes eram
o principal meio de transporte.35
Com uma população de 283.492 habitantes, em 1920, Salvador cresceu em dados
populacionais cerca de 2% ao ano.36 Se compararmos a cidade com outras capitais,
percebemos que a população soteropolitana não aumentou muito, pois o seu crescimento foi
principalmente vegetativo, enquanto outras cidades contaram com o fenômeno da imigração.
Apesar desse crescimento lento, a estruturação do espaço urbano foi desordenada.
33
BAHIA, Decreto 4.144, de 20 de novembro de 1925. Institui o Código Sanitário do Estado. Salvador. 1925.
34
BATISTA, Sífilis e Reforma na Bahia (1920 – 1945), p. 27, 71.
35
O Elevador Lacerda foi inaugurado em dezembro de 1873 e O Plano Inclinado Gonçalves em 1889. O
Elevador do Taboão e o Plano Inclinado do Pilar datam de 1897. Ver a esse respeito: CARVALHO, Carlos
Alberto de. A Locomoção da cidade através dos tempos. in: Revista do IGHB (66) : 77-108. 1940.
36
SANTOS, Mário Augusto da Silva. Crescimento Urbano e Habitação em Salvador (1890-1940), p.21;
NEVES, Laert Pedreira. O crescimento de Salvador e das demais cidades baianas. Salvador: Centro Editorial e
Didático da UFBA, 1985, p. 19.
26
37
IBGE, Censo demográfico. Ministério da Agricultura, Indústria e comércio Diretoria Geral de Estatística.
Volume IV, Tomo I. 1920.
38
Havia também a área suburbana, composta pelos distritos de Pirajá, Paripe, Aratu, Cotegipe, Matoim, Passé,
Maré e Itapoan. SAMPAIO, Lauro (Org.). Indicador e Guia Prático da Cidade do Salvador. Salvador: Typografia
Agostinho Barbosa e Cia, 1928.
39
SANTOS. Crescimento urbano e habitação em Salvador (1980 – 1940), p. 21-24.
40
SANTOS. Crescimento urbano e habitação em Salvador (1890-1940), p. 23.
27
Mapa 1
28
Quanto à moradia, era principalmente nos distritos de Vitória, Santo Antônio, Brotas,
Nazaré, Santana e São Pedro que a população de Salvador residia sem perder de vista as
desigualdades sociais.
Os distritos de São Pedro, Nazaré e Santana, por sua vez, receberam o fluxo das
atividades de comércio, mas mantiveram sua característica residencial.41 Já o centro da cidade
passou a ser, cada vez mais, uma área em que as habitações se degradavam, levando a elite
economicamente privilegiada a construir seus casarões em outros locais, como na Vitória, na
Graça e na Barra.
Parte da população pobre cada vez mais se deslocou para a região suburbana e outra
parcela continuou morando no centro, pois os aluguéis eram mais baratos e próximos dos
locais de trabalho.42 No entanto, essas moradias sequer tinham janelas e havia ainda aquelas
que eram sublocadas, abrigando um número grande de moradores.43
Christiane Maria Cruz de Souza, ao analisar a epidemia de gripe espanhola que atingiu
a cidade de Salvador, em 1918, relacionou a precariedade das casas à propagação de doenças.
Segundo a autora,
Em um período de crise na habitação e grande especulação imobiliária, as
pessoas de poucos recursos se submetiam a morar, precariamente, em velhos
sobrados encortiçados, sobrelojas, “avenidas” e casas de cômodo, imóveis de
baixo aluguel que proliferavam nos bairros operários e nos distritos do
antigo centro de Salvador. Esse tipo de moradia, que favorecia o convívio
próximo de vários indivíduos em espaços exíguos e mal arejados, contribuiu
para a rápida propagação da gripe, que facilmente se espalhou pelos
quarteirões dos bairros pobres da cidade.44
41
SANTOS. Crescimento urbano e habitação em Salvador (1890-1940), p. 23.
42
SANTOS. Crescimento urbano e habitação em Salvador (1890-1940), p. 25.
43
SANTOS. Crescimento urbano e habitação em Salvador (1890-1940), p. 26-27.
44
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A gripe espanhola na Bahia: saúde, política e medicina em tempos de
epidemia. Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009, p. 200.
45
CASTELLUCCI, Aldrin Armstrong Silva. Industriais e operários baianos numa conjuntura de crise (1914-
1921) Salvador: Fieb, 2004, 114.
29
46
Quatro Séculos de História da Bahia. Álbum comemorativo do 4º Centenário. In: Revista Fiscal da Bahia 74-
78. 1949, p. 209.
47
SAMPAIO, Consuelo Novais. Poder & Representação. O legislativo da Bahia na Segunda República 1930-
1937. Salvador: Assembléia Legislativa, Assessoria e Comunicação Social, 1992. p. 32.
48
Aldrin Armstrong Silva Castellucci considera um erro imaginar que não existia em Salvador uma indústria
consolidada em determinados setores da economia, apesar da característica comercial inequívoca, tantas vezes
lembrada pela historiografia. CASTELLUCCI. Industriais e operários baianos numa conjuntura de crise (1914-
1921), p. 45.
49
SAMPAIO, Consuelo de Novais. Partidos Políticos da Bahia na Primeira república: uma política da
acomodação. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 1998, p. 29-32.
30
50
APEB. Lei 213, de 23 de agosto de 1897.
51
Ver artigo 4º da Lei 231, de 23 de agosto de 1897.
52
Jorge Almeida Uzeda, em estudo acerca da política de saúde implementada pelo estado baiano durante a
primeira república, considera que em Salvador havia um “rodízio da morte” por doenças como a peste bubônica,
a varíola, a febre amarela, a febre tifóide e a tuberculose. UZEDA, Jorge Almeida. A morte vigiada: a cidade do
Salvador e a prática da medicina urbana (1890-1930). Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais.
Universidade Federal da Bahia. Salvador. 1992.
53
BAHIA. Mensagem do Governador Luiz Viana à Assembleia Legislativa, 1898, p. 8-14.
31
54
BAHIA. Mensagem do Governador Luiz Viana à Assembleia Legislativa, 1900, p. 9.
55
SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da. Do “centro” para o “mundo”: a trajetória do médico José Silveira na
luta contra a tuberculose. p. 25-26.
56
CHAVES, Cleide de Lima; AMORIM, Tatiane Pereira. A peste bubônica nos sertões da Bahia: política e
cotidiano no raiar do século XX. In: SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da; BATISTA, Ricardo dos Santos
(organizadores). História e Saúde: políticas, assistência, doenças e instituições. Salvador: EDUNEB, 2018 (no
prelo).
57
CHAVES, Cleide de Lima; AMORIM, Tatiane Pereira. A peste bubônica nos sertões da Bahia (no prelo).
58
Diário da Bahia, Salvador, 28 mar. 1906, p. 1.
32
foram a óbito e 32% se curaram. Em 1906, das 73 pessoas que contraíram a doença, 61%
morreram e 38% conseguiram se curar. Ou seja, o número de pessoas infectadas diminuiu,
mas a porcentagem de mortos e curados foi semelhante nesses dois momentos.
Na mesma matéria, o Diário da Bahia mostrou a quantidade de casos em cada distrito.
Os números foram organizados no quadro a seguir:
Os dados apresentados sobre a peste bubônica mostram que a maioria das notificações
ocorreu nos distritos centrais, principalmente por causa das moradias insalubres, concentradas
naquela região.
Durante o governo de José Marcelino (1904-1908), houve rearrumação dos serviços
sanitários, com a promulgação da lei 628, de 14 de setembro de 1905.59 Foram estabelecidas
as doenças que deveriam ser compulsoriamente notificadas: a peste, a varíola, o tifo, o cólera,
a febre amarela, a escarlatina a difiteria, a desinteria e a tuberculose. Essa lei manteve
características semelhantes à de número 213, de 1897, mas criou a Diretoria dos Serviços
Sanitários órgão responsável por gerir vários serviços, como: o instituto bacteriológico
antirábico e vacinogênico, o serviço geral de desinfecção, a seção de estatística demógrafo-
sanitária e o hospital de Isolamento. A “polícia sanitária” também foi criada e uma de suas
incumbências era a prevenção de epidemias.
George Rosen, ao tratar do conceito de “polícia sanitária” numa perspectiva histórica,
considera sua origem no século XVIII, na Alemanha, quando foi direcionado principalmente
às leis que deveriam ser aprovadas. Posteriormente, esse conceito foi usado em outros países
59
BAHIA, Lei 628, de 14 de setembro de 1905. Reorganiza o serviço sanitário do Estado. Arquivo Público do
Estado da Bahia. Salvador, 1905.
33
europeus, em áreas nas quais a ação governamental era voltada mais especificamente ao
controle de doenças transmissíveis e ao saneamento do meio ambiente.60 Guardadas as
devidas peculiaridades geográfica e temporal, é possível dizer que a ideia de “polícia
sanitária” presente na legislação sanitária estadual tinha essas características.
esta taxa afeta a classe dos favorecidos, e recai ora sobre a propriedade, ora
sobre a renda individual superior a um dado limite, aqui sob uma feição, ali
sob modalidade diversa, mas sempre como uma porção que o poder público
pede às sobras da riqueza para compensar a inevitável e a eterna desigualdade
das condições e dos indivíduos na sociedade humana.61
Seu discurso, embora defendesse que o imposto deveria ficar a cargo dos
economicamente favorecidos, apresentava a desigualdade dos indivíduos como algo
inevitável e eterno. Os anseios de civilidade esbarravam na parcela da população que não
tinha condições de viver dentro dos padrões desejados. Havia a tentativa de copiar os países
considerados desenvolvidos para o estado conseguir fundos suficientes para dar assistência
aqueles que não tinham condições.
No primeiro governo de José Joaquim Seabra (1912-1916) Salvador passou por
modificações urbanas, orientadas principalmente por médicos, higienistas e sanitaristas,
cuja tônica consistia em trazer para o estado o “progresso” e a “civilização”. Houve o
alargamento de ruas da Cidade Baixa, a abertura da Avenida Sete de Setembro como via
principal da Cidade Alta e a construção da Avenida Oceânica. Apesar das mudanças referidas,
Salvador longe estava de ser considerada urbanizada e higiênica.
Rinaldo Cesar Nascimento Leite considera que J. J. Seabra se articulou com os
governos municipais e federal para colocar em prática seu projeto de modernização da capital
baiana segundo os moldes de urbanização europeia. Leite acredita que algumas áreas,
especialmente as habitadas pela elite, foram beneficiadas. Isso agravou ainda mais os
60
ROSEN, George. Da polícia médica à medicina social: ensaios sobre a história da assistência médica. Trad.
Ângela Loureiro de Souza. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979, p. 171-172.
61
BAHIA, Assembleia Geral Legislativa. Mensagem. João Ferreira de Araújo Pinho. Salvador, 1909.
34
problemas relacionados à habitação, uma vez que a maioria dos investimentos, não chegou
principalmente onde residia a população pobre que era maioria. As benfeitorias alcançaram
aqueles que tinham maior poder aquisitivo.62 Por outro lado, a falta de esgotamento sanitário,
a má pavimentação das ruas e a ausência de medidas consideradas de higiene contribuíam
para que os problemas ligados à saúde estivessem presentes no cotidiano dos
soteropolitanos.63 O “conjunto de elementos que caracterizaram a cidade, sobrava a impressão
de que a civilização almejada não passou de numa obra inacabada e imperfeita.” 64
Nesse período, foi instituído, em Salvador, o Juízo dos Feitos de Saúde Pública. Esse
órgão, composto por um juiz, um procurador, um escrivão e dois oficiais de justiça sanitária,
tinha como objetivo fazer com que as ações relacionadas às questões sanitárias e de saúde
fossem tratadas numa perspectiva jurídica. Era de sua competência “conhecer todas as ações e
processos civis e criminais em matéria de higiene e salubridade pública concernente à
execução das leis e regulamentos sanitários.” Assim, cabiam-lhe ações de despejo, demolição,
interdição, desocupação, como também o julgamento do que considerava crime e
contravenção, e a cobrança de multas e taxas sanitárias.65
Para aumentar o respaldo legal do processo de reforma urbana, foi promulgada a lei
921, de 19 de novembro de 1912. Segundo Christiane Souza, foi criada a “Engenharia
sanitária”, ligada ao setor de Higiene, responsável pelas construções, reformas e fiscalizações
de tudo que estivesse vinculado ao atendimento sanitário.66
Em mensagem do seu primeiro ano de Governo, Seabra afirmou que buscaria garantir
a defesa sanitária do estado.67 No ano seguinte, o chefe do executivo baiano fez um
levantamento de suas realizações em prol da Saúde Pública. Para ele, até então os resultados
eram positivos, principalmente quando comparados com a gestão anterior.
Dentre as comparações feitas pelo então governador, na mensagem de 1913, há a
preocupação em mostrar que a mortalidade em Salvador estava caindo. Os quadros abaixo
reproduzem essa informação. O quadro 3 mostra os números gerais de mortes e o quadro 4
apresenta os números de mortos por moléstias transmissíveis.
62
LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento. E a Bahia civiliza-se... Ideais de civilização e cenas de anti-civilidade em
um contexto de modernização urbana Salvador. 1912 – 1916. Dissertação (Mestrado em História) Universidade
Federal da Bahia. Salvador 1996, p. 55; 66.
63
LEITE. E a Bahia civiliza-se, p. 28.
64
LEITE. E a Bahia civiliza-se, p. 85.
65
APEB. Lei 892, de 10 de junho de 1912. Institui em Salvador o juízo dos feitos da saúde pública.
66
SOUZA. A gripe espanhola na Bahia, p. 59.
67
BAHIA, Assembleia Geral Legislativa Mensagem de José Joaquim Seabra. Salvador, 1912.
35
Houve uma diminuição de 57 mortes de 1911 para 1912, no primeiro ano do Governo
de Seabra. Quando analisadas os casos de falecimento por doenças transmissíveis (quadro 4),
o déficit foi de 228 mortes nesses mesmos anos.
68
BAHIA, Assembleia Geral Legislativa Mensagem José Joaquim Seabra. Salvador, 1916.
36
histórico do que tinha realizado no setor de saúde pública durante os governos anteriores,
enfatizou que, no período imperial, o poder público olhava sempre com descaso para o
serviço de higiene, daí os governos republicanos terem encontrado a Bahia totalmente
desaparelhada.
Até os últimos anos da década de 1910, as ações sanitárias foram direcionadas às
doenças transmissíveis, principalmente as que se manifestavam de forma epidêmica, ainda
que as “autoridades competentes” defendessem uma organização de serviços permanente.
Instituições foram criadas e serviços foram modificados. Se, em 1897, o órgão máximo era a
Inspetoria Sanitária, em 1905, surgiu a Diretoria dos Serviços Sanitários que, em 1910, foi
transformada em Diretoria Geral de Serviços Sanitários. Em 1912, o serviço sanitário e de
saúde do estado da Bahia ficou sob a direção da Diretoria Geral de Saúde Pública.69
Observa-se nesse período que o governo estadual vai ampliando as suas atribuições em
relação às ações sanitárias e de saúde. Os governantes tentavam intervir nos problemas
sanitários da capital, empreendendo ações e promulgando leis que as legitimassem, cujo
conteúdo estava ligado à organização sanitária e à fiscalização.
Cabe ressaltar que a política baiana na Primeira República, além de ser caracterizada
pela estrutura oligárquica e coronelística, não era representada por partidos políticos
fundamentados em programas. Para Consuelo Sampaio, eles eram “conhecidos e identificados
muito mais através dos nomes dos seus chefes que do rótulo que ostentavam”.70
Luiz Antônio de Castro Santos considera que a Bahia não conseguiu ter avanço com a
reforma sanitária nas duas primeiras décadas do século XX, apesar de terem sido criados
alguns órgãos como o Conselho de Higiene. Para ele, um dos motivos foi a elite conservadora
e um ambiente político e intelectual indiferente às ações de saúde pública. Só na década de
1920 houve progresso do movimento reformista graças à intervenção do governo federal e à
ação sanitária da Fundação Rockefeller.71
69
SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes Do “Centro para o “mundo”. Doutorado em História. Recife, UFPE, 2009,
p. 38..
70
SAMPAIO, C. N. Os partidos políticos na Primeira República: uma política de acomodação. Obra citada, p.
47.
71
SANTOS, Luiz Antonio de Castro. Poder, Ideologias e Saúde no Brasil da Primeira República. In
HOCHMAN, Gilberto (org.). Cuidar, controlar e curar. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004., p. 266
37
Os anos que antecederam à reforma sanitária na Bahia foram assolados por doenças
endêmicas e epidêmicas. Esse problema já era sinalizado desde o início do século com as
fiscalizações.72 As inspetorias faziam o trabalho de fiscalização dos domicílios, em Salvador,
à luz da legislação vigente.
Caso fosse necessário, o proprietário era notificado tendo um prazo para fazer os
reparos que variava de acordo com o que deveria ser realizado. O não cumprimento do
estabelecido ocasionava multa.
Se os inspetores encontrassem um enfermo que pudesse colocar em risco a saúde dos
demais moradores da casa, deveriam imediatamente encaminhá-lo para internamento.
Em 31 de janeiro de 1900, foi entregue um relatório da polícia sanitária do 6º distrito,
região da Penha, que tratou das casas visitadas pelos inspetores. O senhor Domingos
Estrellado, que possuía uma casa térrea de nº 51 na rua Barão H. de Mello, locada por Durval
Estrellado, foi notificado. Segundo o inspetor, o local necessitava de “reparação completa do
teto da casa, limpeza do quintal e tijolamento”. E para esses reparos lhe foram concedidos 40
dias. Na mesma rua, o senhor Vitor Soares Ribeiro possuía três propriedades, sendo que uma
ele locava ao senhor Domingos Martins Faria. Durante a inspeção desse imóvel, não foi
encontrado nenhuma irregularidade. No entanto, na casa que ele alugava ao senhor Roberto
Antônio do Espírito Santo era preciso “caiar a cozinha” e para isso lhe deram um prazo de 20
dias. A casa de número 52, por sua vez, pertencente ao mesmo proprietário, estava locada ao
senhor Arlindo de Oliveira Alves e também não necessitou de reparos.73
É provável que as casas onde os proprietários residiam tivessem menos problemas
para serem resolvidos do que as residências alugadas. A probabilidade das fiscalizações
encontrarem irregularidades era grande pois a população enfrentou sérios problemas
habitacionais, como foi observado anteriormente. É possível também que as decisões de
multas ou reparos fossem manipuladas de acordo com as relações existentes.
Os jornais noticiavam como esse trabalho estava sendo feito pela equipe de saúde.
Com o título de “Salubridade Pública” o Diário da Bahia, de 22 de outubro de 1913,
estampou na primeira página a seguinte matéria:
O periódico informou ainda que, segundo os inspetores sanitários dos 11º e 13º
Distritos, foram interditados provisoriamente por serem inabitáveis os prédios n. 145, a rua do
Fortinho; um sem número, pertencente ao Sr. José Joaquim dos Santos e definitivamente
interditado por ser totalmente inabitável o casebre sem número, situado no Candeal, de
propriedade da Sra. Marcellina Soares dos Santos. Isso indica que, de alguma forma, tentava-
se cumprir a legislação. Mas poderia também ser uma denúncia das condições das habitações
de Salvador, no governo de J. J. Seabra, cujo Diário da Bahia fazia oposição. 75
Em 1916, em matéria intitulada “A peste Negra”, o Diário da Bahia noticiou a
situação insalubre de alguns locais. Havia “pontos da cidade” que eram “verdadeiros ninhos
de ratos” e entre eles estavam “a ponte da ‘Navegação Baiana’ e o ‘Mercado Modelo’”. 76 Os
dois locais citados eram de embarque e desembarque de mercadorias, pontos de comércio da
cidade. Neles, além de transitar muita gente, circulavam alimentos que seriam utilizados nas
refeições. Na mesma publicação, o jornal falava de algumas providências que foram tomadas
pelo Governo, como a dedetização para matar os ratos e a troca da ponte. O articulista
aproveitava para perguntar ao Secretário Gonçalo Moniz quando a peste seria erradicada,
ouvindo como resposta o seguinte:
“... é um erro falar-se em extinguir a peste na Bahia, pois para isto é preciso
arrasar a Preguiça, o Pilar e tantos outros focos, por a prova de ratos todas as
edificações da cidade e estabelecer uma admirável rede de esgoto em toda ela,
e nós não temos posses para isto...”77
74
“Salubridade Pública”. Diário da Bahia, 22 de out. 1913, p. 1.
75
SAMPAIO, Consuelo Novais. Verbete biográfico. Diário da Bahia. Disponível em:
http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>.
76
“A peste negra”. Diário da Bahia. Salvador, 28 nov. 1916, p. 01.
77
“A peste negra”. Diário da Bahia. Salvador, 28 nov. 1916, p. 01.
39
contra a varíola e foi requisitada uma desinfecção. Duas intimações foram expedidas para que
o proprietário fizesse os melhoramentos necessários e uma reclamação foi atendida.78
Quando o serviço de desinfecção era chamado, quase sempre se fazia necessário além
de desinfetar a casa, encaminhar o doente para o Isolamento a depender da doença. Foi o que
aconteceu dia 11 de maio de 1918, quando o serviço foi solicitado na residência do senhor
Valdomiro Athaide, localizada na Rua do Paço nº 45. Após a desinfecção, foi preciso
encaminhá-lo ao Hospital de Mont’Serrat com suspeita de varíola.79
Não foi possível saber se a suspeita foi confirmada. De todo modo, em 1919, Salvador
foi assolada pela maior epidemia de varíola ocorrida na sua história, ocasião em que 2.804
pessoas morreram.80
Um ano antes, a gripe espanhola tinha atingido a Bahia causando sérios danos. A
doença encontrou uma sociedade com péssimas habitações, problemas de esgotamento
sanitário e de abastecimento de água. Christiane Souza faz uma análise desse momento e
mostra como as autoridades baianas se organizaram para combater a moléstia. Inicialmente
não havia consenso diante do diagnóstico e alguns médicos tentaram negar a existência de
uma epidemia em Salvador.81
Na tentativa de entender o que estava acontecendo, a Diretoria Geral de Saúde Pública
da Bahia criou uma comissão para estudar a epidemia. O grupo foi composto por Frederico
Koch, Dyonisio Pereira e Aristides Novis. A comissão deveria pesquisar a doença e
apresentar um parecer sobre ela.82 A comissão entendeu que a ação da “espanhola” tinha
relação com o tipo de moradia da população, que era insalubre, e também com os espaços
públicos onde as pessoas tinham contatos. Por isso:
Cidade sem esgotos, sem preceitos de higiene urbana expostos e seguidos, não
é possível combater entre nós, assim sendo, os ratos e conseguintemente as
pulgas, origem uns e vectoras as outras da peste negra humana.
Temos um mal crônico, de longa data instalado e nada quase temos feito de
profilaxia agressiva ou defensiva, ao menos, contra a sua permanência.
Quando nas suas alternativas costumeiras um surto maior se denuncia, como
agora, nem por isso os responsáveis se movem para uma campanha seria e
decisiva.
83
SOUZA. A epidemia de gripe espanhola: um desafio à medicina baiana, p. 967.
84
SOUZA. A epidemia de gripe espanhola: um desafio à medicina baiana, p. 968.
85
“A peste Negra e o estado sanitário da capital”. Diário da Bahia. Salvador, 24 mar. 1920, p 1.
86
“A peste Negra e o estado sanitário da capital”. Diário da Bahia. Salvador, 24 mar. 1920, p. 1.
41
Durante a entrevista, o diretor deixou claro que a cidade precisava de casas para a
população e afirmou que para acabar com o problema da peste negra era preciso:
Para Gonçalo Moniz, era necessário interditar urgentemente inúmeras casas mas, para
isso, outras que atendessem os novos padrões de higiene precisavam ser construídas, afinal,
para onde iria toda essa população? A matéria foi finalizada com a seguinte frase: “Eis,
portanto, o que é preciso urgente: Casas!casas!casas!”.88
87
“Dois casos de peste negra”. Diário da Bahia. Salvador, 07 Jan. 1921.p 01.
88
“Dois casos de peste negra”. Diário da Bahia. Salvador, 07 Jan. 1921.p 01.
42
Quando a Reforma Sanitária foi iniciada na Bahia a partir do acordo feito com o
Governo Federal, em 1921, pelo então governador José Joaquim Seabra, conforme vimos
anteriormente, já existiam leis e instituições que de alguma maneira tentavam organizar a
saúde no estado.
Com a criação da Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública, em 1925, as
instituições existentes ficaram a ela subordinadas. Outras foram criadas para atender às
demandas dessa nova organização.
A Subsecretaria, subordinada direta e exclusivamente ao governador Francisco
Marques de Góes Calmon, passou a gerir todos os serviços de higiene e saúde pública
executados no estado da Bahia. Esse aspecto deve ser observado à luz das disputas políticas
estaduais. Ricardo Batista chama a atenção que o acordo para o saneamento da Bahia deu-se
através de dois governos opositores sendo iniciado com o convênio durante a gestão de
Seabra (1920-1924), e consolidado em 1925, com a criação da Subsecretaria de Saúde e
Assistência Pública e do Código Sanitário da Bahia, durante o governos de Góes Calmon
(1924-1928). A submissão da Subsecretaria diretamente ao governador implicava o aumento
de poder do representante do executivo baiano, causando desconforto no grupo seabrista.89
Cabia à Subsecretaria: o estudo de todas as questões que interessassem à saúde
coletiva; a adoção de todas as medidas técnicas que visassem evitar diminuir e suprir as
causas de doenças e morte; o melhoramento das condições de saúde e bem estar da
população.90 O seu artigo 5º previa que enquanto vigorasse o contrato firmado entre o
Governo Federal e o Estado, os serviços de Saneamento Rural, Profilaxia da Sífiles e Doenças
venéreas, Higiene Infantil e Tuberculose seriam executados com a colaboração financeira da
89
BATISTA. Sifilis e Reforma da Saúde na Bahia (1920-1945). p. 79.
90
BAHIA. Lei 1.811, de 19 de julho de 1925. Organiza a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública.
Salvador, 1925.
43
União. Cessando o apoio federal esses serviços passariam a ser efetivados exclusivamente
pelo Estado que aproveitaria ou não os funcionários dele encarregados.
Três meses depois de criada a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública, foi
instituído o Código Sanitário da Bahia. Este foi apresentado pelo então governador Francisco
Marques de Góes Calmon como um “instrumento legal” sustentado nos “modernos preceitos
da saúde pública.”91
A direção da Subsecretaria ficou a cargo do médico sanitarista Antônio Luis
Cavalcante Albuquerque de Barros Barreto. Barros Barreto nasceu no "Engenho do Meio da
Várzea", próximo à Cidade do Recife, em 11de maio de 1892. Em 1910, matriculou-se no
curso médico da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, graduando-se em 1916. Depois de
formado, Barros Barreto fez cursos nos Estados Unidos, França e Alemanha. Além disso,
frequentou vários serviços de Saúde Pública na Bélgica,Suíça e Itália. Quando retornou ao
Brasil, em 1923, chefiou a Seção de Propaganda e Educação Sanitária do Departamento
Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro. Em 1924, foi Chefe do Serviço de Saneamento
Rural no Paraná. Em seguida, foi nomeado a cargo similar na Bahia, onde liderou as
mudanças sanitárias ocorridas no estado, estando à frente da Subsecretaria de Saúde
Assistência Pública, criada em 1925. 92
No relatório acerca do primeiro ano de funcionamento da Subsecretaria, foi registrado
que durante muito tempo as leis sanitárias não estavam sendo cumpridas corretamente, daí ter
sido fundamental fazer algumas alterações para que a nova legislação fosse seguida. Barros
Barreto aproveitou para divulgar que a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública em um
curto espaço de tempo havia mandado médicos para a América do Norte, Europa e para
região Sul do Brasil a fim de aprender sobre novas técnicas de saúde e assim melhorar o
atendimento sanitário da capital baiana. Além disso, foi feita uma parceria com a Fundação
Rockfeller.93
Seu discurso visava desqualificar a gestão de Seabra e valorizar as medidas tomadas a
partir do governo de Góes Calmon. Barros Barreto também comparou a antiga Diretoria Geral
91
APEB. Assembleia Geral Legislativa. Mensagem.Francisco Marques de Góes Calmon. Salvador, 1927.
92
JACOBINA, Ronaldo Ribeiro. Memória histórica do bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia
(2008): os professores encantados, a visibilidade dos servidores e o protagonismo dos estudantes da FAMEB.
Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, 2013. 3 v. p. 37-44.
93
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: ano de
1926. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1927. Para a discussão acerca da atuação da Fundação Rockfeler na
Bahia ver: PONTES, Adriano Arruda. Caçando mosquitos na Bahia, a Rockefeller e o combate à febre amarela:
inserção, ação e reação popular (1918-1940). Dissertação de mestrado – Faculdade Filosofia e Ciências
Humanas, Programa de Pós Graduação em História. Universidade do Estado na Bahia, Salvador, 2007.
44
de Saúde Pública (DGSP) com a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública. A ideia era
mostrar as mudanças e sobretudo os avanços que segundo ele estavam acontecendo.
A DGSP era composta por: uma secretaria, um serviço de estatística, dezoito
inspetorias, um serviço de desinfecção, o Instituto Oswaldo Cruz, o serviço de assistência
pública, o Cemitério da Quinta dos Lázaros, o Hospital de Isolamento, o Hospital dos
Lázaros, o Hospício dos Alienados, pela Justiça Sanitária e pelo Conselho Sanitário. Portanto,
essa era a estrutura que existia até 1925.
Com a criação da Subsecretaria foram instituídas seis Diretorias e cada uma tinha
vários órgãos e serviços a elas ligados. O quadro 5 mostra a estruturação dos serviços de
saúde na Bahia com a criação da Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública em 1925.
45
I - Diretoria de demografia e educação sanitária.
94
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: anno de
1927. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1928. BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da
Secretaria de Saúde e Assistência Pública: anno de 1927. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1929.
95
SILVA. O Dispensário Ramiro Azevedo e a Constituição de políticas de enfrentamento da tuberculose na
Bahia na década de 1920 (no prelo).
47
cuidar das crianças. O médico Martagão Gesteira foi o responsável por coordenar essas ações
no estado. Segundo Ribeiro:
96
RIBEIRO, Lidiane Monteiro. Filantropia e assistência à saúde da infância na Bahia: a Liga Baiana contra a
mortalidade infantil, 1923-1935. Mestrado em História das Ciências e da Saúde. Rio de Janeiro, Fundação
Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2011.
48
PARTE II
Nesta parte da dissertação vamos analisar duas instituições que desenvolveram ações
de saúde, no momento em que o estado da Bahia passava pelo processo de reforma sanitária:
as Delegacias de Saúde e o Hospital de Isolamento de Mont’Serrat.
AS DELEGACIAS DE SAÚDE
Cabe refletir, como nos sugere John Berger, que a fotografia não é um retrato fiel da
“realidade”, ela é uma parte daquilo que se quer apresentar. Para ele,
As fotografias testemunham uma opção humana sendo exercida numa dada
situação. A fotografia é o resultado da decisão do fotógrafo de que vale a pena
registrar em um evento (...) A fotografia já é uma mensagem sobre o
acontecimento que ela registra. A urgência dessa mensagem não é totalmente
dependente da urgência do acontecimento, mas também não pode ser
inteiramente independente dela (...).99
Assim, ela pode ser utilizada para mostrar algo específico, como é o caso da fotografia
acima, que parece sugerir que as Delegacias estavam funcionando bem.
O nome “Delegacia” vem do latim delegatus. Significa o local no qual atuam pessoas
a quem são delegados o poder para falar em nome das entidades que representam. Embora
não seja restrito a uma unidade policial, no caso específico das delegacias aqui tratadas havia
relação com ações “policiais”, sugerindo um tipo de prática de controle. As atividades
99
BERGUER, John. Para entender uma fotografia. Organização, introdução e notas Geoff Dyer. Tradução:
Paulo Geier. 1ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 37-38.
50
100
A depender da localização da Delegacia, o enfermo poderia ser encaminhado para o Hospital Santa Izabel.
101
A Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública apresentou no Diário Oficial do Estado a nova divisão dos
Distritos Sanitários de Salvador. No documento era evidente a organização urbana/geográfica de cada um dos
quinze Distritos. BAHIA, Diário Oficial do Estado da Bahia, domingo, 30 de agosto de 1925. Arquivo Público
do Estado da Bahia. Salvador, 1925.
102
BAHIA, Lei 628, de 14 de setembro de 1905. Reorganiza o serviço sanitário do Estado. Arquivo Público do
Estado da Bahia. Salvador, 1905.
103
BAHIA, Lei 628, de 14 de setembro de 1905. Reorganiza o serviço sanitário do Estado. Arquivo Público do
Estado da Bahia. Salvador, 1905.
104
BAHIA, Lei n. 840 de 24 de agosto de 1910. Modifica a lei n. 628 de 14 de setembro de 1905 relativa ao
serviço sanitário Estadual.
51
que deveria ser médico, podendo seu auxiliar ser estudante da Faculdade de Medicina da
Bahia, desde que estivesse cursando entre a 5ª e 6ª série médica.105
Christiane Maria Cruz de Souza, ao analisar a organização sanitária da Bahia no
período da gripe espanhola, afirma que em 1917 a cidade do Salvador foi dividida em
dezessete distritos sanitários:
105
BAHIA, Lei 921 de 29 de novembro de 1912. Manda adaptar como lei sanitária do Estado a Organização
do Serviço Geral da Saúde Pública, editada pelo decreto 1.105 de 15 de julho do corrente ano. Arquivo Público
do Estado da Bahia. Salvador, 1912.
106
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A Gripe Espanhola na Bahia: saúde, política e medicina em tempos de
epidemia, EDUFBA; Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009. p.71.
107
BAHIA, Diário Oficial do Estado da Bahia, sábado, 1 de agosto de 1925. Arquivo Público do Estado da
Bahia. Salvador, 1925.
52
Fonte: BAHIA, Diário Oficial do Estado da Bahia, sábado, 1 de agosto de 1925. Arquivo Público do Estado da
Bahia. Salvador, 1925.
108
APEB. Relatórios dos trabalhos executados na 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Delegacia de Saúde. APEB. Caixa 4026, maço
14, ano 1925 – 1929.
109
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: ano de
1926. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1927.
53
110
Para a construção desse mapa, seguimos as informações de Mário Augusto da Silva Santos no que diz
respeito aos nomes e à quantidade de Distritos. Utilizamos como referência o mapa atual de Salvador, uma vez
que as mudanças dos limites foram pequenas. Para fazermos a divisão, foi preciso analisar os endereços de cada
Delegacia de Saúde e as ruas que os distritos atendiam, conforme foi publicado no Diário Oficial. A utilização de
um mapa da década de 1940 (SILVA, M. E. N. da, 1998, p. 49), também serviu como norteador para o período
aqui tratado. Acreditamos que o resultado apresentado é próximo da divisão da época, uma vez que não
encontramos mapas datados de 1920. Essa foi a melhor maneira que encontramos para mostrar a distribuição
geográfica das Delegacias de Saúde entre os Distritos Centrais e Periféricos.
54
Mapa 2
55
1º Delegacia
Sede 1º Delegado 1º Inspetor 2º Inspetor 3º Inspetor Inspetor Vacinador Verificador de óbitos
Instituto Osvaldo Menandro dos Reis Eduardo Diniz Walfredo de Mendonça Francisco Vieira Fernando de Moraes Walter Pinto de Almeida
Cruz - Canela Meirelles Filho Gonçalves Campello Studart
2º Delegacia
Sede 2º Delegado 4º Inspetor 5º Inspetor 6º Inspetor Inspetor Vacinador Verificador de óbitos
Edifício da Dionysio da Silva Lima Alvaro Conde Lemos Guilherme Gama de Virgílio de Carvalho Raymundo Leopoldo Manoel da Silva Lima
Assistência Pereira Araújo Ramos Ribeiro da Silva Pereira
Pública
3º Delegacia
Sede 3º Delegado 7º Inspetor 8º Inspetor 9º Inspetor Inspetor Vacinador Verificador de óbitos
Desinfectório Alvaro da França Rocha Eutychio da Paz Bahia José Maria Monteiro de Almir Aranha de Edgard Frederico Pedro de Campos Nogueira
Almeida Almeida Braga Tourinho
4º Delegacia
Sede 4º Delegado 10º Inspetor 11º Inspetor 12º Inspetor Inspetor Vacinador Verificador de óbitos
Posto Pacifico Mario Andrea dos Santos Pedro Ribeiro Mariane Oswaldo Duarte Ferreira Euxuperio da Silva Luiz Machado Almir de Sá Cardoso de
Pereira à Rua das Bittencourt Braga Oliveira
Sete Portas
5º Delegacia
Sede 5º Delegado 13º Inspetor 14º Inspetor 15º Inspetor Inspetor Vacinador Verificador de óbitos
À Rua de Roma nº Januário Cyrillo da Silva ClinioAntonio Zacharias Américo Duarte Ferreira Raul Vasco da Gama Flávio Ferreira Vianna Carlos Chiacchio
294 Telles de Jesus Bandeira
111
“Medidas Sanitárias de que a Bahia precisa: um apelo ao Sub Secretário da Saúde Pública”. Diário de
Notícias, Salvador, 17 jan. 1926, p. 1
57
112
JACOBINA, Ronaldo Ribeiro. Memória histórica do bicentenário da Faculdade de Medicina da
Bahia (2008):Os Professores encantados, a visibilidade dos Servidores e o protagonismo dos Estudantes
da FAMEB. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, 2013. 3 v. p. 64-65
113
JACOBINA. Memória histórica do bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia (2008), p. 32-
33.
58
relação à quantidade de pacientes que precisavam dos cuidados daquele órgão, o que
inviabilizava o trabalho dos inspetores. No relatório enviado a Barros Barreto,
Subsecretário de Saúde e Assistência Pública, ele levantou a possibilidade de criar uma
nova unidade na região suburbana, pois as que lá existiam estavam sobrecarregadas:
(...)
Não se poderá em certas zonas, exigir esgotos nem forças, por quanto
a falta de coletor geral e a quase ausência d’água, que apenas dá para
as necessidades orgânicas captada em poços torna impossível tais
medidas.
(...)
117
APEB. Relatórios dos trabalhos executados na 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Delegacia de Saúde. APEB. Caixa 4026,
maço 14, ano 1925/1929.
118
APEB. Relatórios dos trabalhos executados na 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Delegacia de Saúde. APEB. Caixa 4026,
maço 14, ano 1925/1929.
60
Na Baixa dos sapateiros, o Mercado ali situado continua pela sua falta
de higiene e imundície, um dos maiores atentados à saúde pública, por
ventura observados nesta cidade e para ele peço a ação da Inspetoria de
Gêneros Alimentícios tanto que comecem a funcionar os seus
serviços.120
119
APEB. Relatórios dos trabalhos executados na 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Delegacia de Saúde. APEB. Caixa 4026,
maço 14, ano 1925/1929.
120
APEB. Relatórios dos trabalhos executados na 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Delegacia de Saúde. APEB. Caixa 4026,
maço 14, ano 1925/1929.
121
APEB. Relatórios dos trabalhos executados na 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Delegacia de Saúde. APEB. Caixa 4026,
maço 14, ano 1925/1929.
61
A área citada pelo médico era a Vitória, local para onde as elites migraram e
foram construir seus casarões, como já foi dito na primeira parte desta dissertação.
Talvez por isso, as habitações foram elogiadas pelo delegado. A população que estava
fazendo essas construções era a que tinha dinheiro e podia seguir os novos padrões
exigidos naquele momento.
Apesar dos relatórios das Delegacias de Saúde apresentarem alguns avanços
sobre a situação sanitária de Salvador, essa mesma documentação apontou falhas e
lacunas existentes pois uma grande parcela da população ainda permanecia fora do
“modelo” de higiene, o que dificultava o trabalho dos agentes responsáveis.
Durante os anos de funcionamento desses órgãos foi feita a fiscalização nos
estabelecimentos residenciais e comerciais de Salvador, embora não seja possível
afirmar a abrangência dessa atividade. Fiscalizar apenas não poderia resolver o
problema mesmo porque as antigas Inspetorias já faziam esse trabalho.
Os funcionários das delegacias, por sua vez, queixavam-se da sobrecarga de
trabalho e diziam não conseguir cumprir as normas e regras como deveriam. A
legislação era explícita, no entanto, a melhoria das condições sanitárias e de saúde da
população requeria mudanças nas condições de habitação, de alimentação e de questões
ligadas às condições de vida e de trabalho que só seriam alcançadas mediante
interferência governamental através de políticas sociais.
Talvez por isso, em 1930, quando os Inspetores da 4ª Delegacia de Saúde
fizeram o trabalho de fiscalização habitacional ainda encontraram um grande número de
residências apresentando antigos problemas de higiene. Muitas delas eram cobertas com
palhas, sem reboco nas paredes e de chão batido (quadro 8). Vale lembrar que nesse
período já haviam passados cinco anos da promulgação do Código Sanitário e nove dos
primeiros acordos com o Governo Federal.
62
122
Cabe ressaltar que em 1927 já funcionava um Centro de Saúde junto ao Hospital de Isolamento de
Mont’Serrat. Ver: APEB. Relatório dos principais fatos ocorridos no Hospital de Isolamento de Mont’
Serrat. APEB. Caixa 4026, maço14, ano 1927/1929.
123
BAHIA. Lei 1.993, de 20 de Julho de 1927. Cria a Secretaria de Saúde e assistência Pública em
substituição a Subsecretaria de Saúde e Assistência Pública, Salvador, 1927.
63
124
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: ano
de 1929. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1930.
125
BAHIA, Lei 7.337 de 27 de março de 1931. Reorganiza os atuais serviços de saúde pública e modifica
a legislação sanitária em vigor.
64
126
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A constituição de uma rede de assistência à saúde na Bahia, Brasil,
voltada para o combate das epidemias. In: Dynamis, Granada, vol. 31, n. 1, p. 85-105, 2011, p. 90.
127
FIGUEIREDO, Maria de Fátima Lorenzo. Hospital Couto Maia: Uma Memória Histórica (1853 –
1936) Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências.
Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, 2010, p 31-55.
128
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A Gripe Espanhola na Bahia: saúde, política e medicina em
tempos de epidemia. p. 67.
65
129
FIGUEIREDO, Maria de Fátima Lorenzo. Hospital Couto Maia: Uma Memória Histórica (1853–1936)
Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências.
Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, 2010. p.70– 75.
130
BAHIA, Assembleia Geral Legislativa Mensagem. Antônio Moniz Sodré de Aragão. Salvador, 1918.
66
conseguir o terreno no Canela e após algumas tentativas não foi possível tal mudança.
Com isso, a reforma ficou parada durante o primeiro governo de Seabra.131
Contudo, no relatório referente à reforma do Hospital, Couto Maia falava sobre
o que foi feito durante a gestão de Moniz de Aragão. Segundo o médico, apesar de
inaugurar cinco pavilhões não foi possível utilizá-los para os fins que haviam sido
construídos, pois faltava o básico: água, luz, gás e esgoto. Ele relatou também que
haviam sido encomendados materiais clínicos na França, no ano de 1918, mas em
função da Primeira Guerra Mundial o material foi embargado, chegando apenas, em
1920.132 Couto Maia aproveitou para criticar o governo de José Joaquim Seabra (1920 -
1924). Segundo informou,
131
APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões. APEB.
Caixa 4072, maço 97, 1925.
132
APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões. APEB.
Caixa 4072, maço 97, ano 1925.
133
APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões. APEB.
Caixa 4072, maço 97, ano 1925.
134
APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões. APEB.
Caixa 4072, maço 97, ano 1925.
135
BATISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e Reforma na Bahia (1920 – 1945). Salvador: Eduneb, 2017. p.
85.
67
Fonte: APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões. 1925.
Fonte: APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões.1925.
136
BERGUER, John. Para entender uma fotografia. Organização, introdução e notas Geoff Dyer;
tradução Paulo Geier. – 1ª Ed – São Paulo; Companhia das Letras, 2017, p. 90.
69
137
BATISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e Reforma na Bahia (1920 – 1945), p. 30.
138
APEB. Relatórios do Hospital de Isolamento em Monte Serrat. Sobre os novos pavilhões. APEB.
Caixa 4072, maço 97, ano 1925.
139
A Chamada revolução de 1930 foi um movimento que segundo Boris Fausto aconteceu por conta de
disputa entre as oligarquias brasileiras com a presença de movimentos militares. O objetivo era pôr fim à
hegemonia oligárquica cafeeira. Segundo Paulo Santos Silva, a Bahia recebeu o movimento liderado por
Getúlio Vargas com um “Mal-estar”. O estado estava vivendo um momento de estabilidade política e com
a chamada revolução muitos representantes políticos da elite foram retirados do poder. Após algumas
mudanças, Juracy Magalhães, um jovem tenente e cearense, foi colocado no cargo de interventor o que
não agradou os baianos. Ainda assim, ele permaneceu como chefe do governo chegando a ser eleito nas
eleições realizadas em 1933 e 1934. Um dos motivos que o levaram a permanecer no poder foi a sua
aproximação com os coronéis baianos. FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930 – História e historiografia.
16ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997; SILVA, Paulo Santos. Âncoras de tradição: luta política,
intelectuais e construção do discurso histórico da Bahia (1930 – 1949) Salvador: EDUFBA, 2011.
70
140
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: ano
de 1926. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1927.
71
141
APEB. Relatório das principais ocorrências no Hospital de Isolamento de Mont’ Serrat. Caixa 4026,
maço 14, ano 1927-1929.
142
APEB. Relatório das principais ocorrências no Hospital de Isolamento de Mont’ Serrat. Caixa 4026,
maço 14, ano 1927-1929.
143
APEB. Relatório das principais ocorrências no Hospital de Isolamento de Mont’ Serrat. Caixa 4026,
maço 14, ano 1927-1929.
72
Assistência Pública, dos anos de 1927. Ele apresenta o número de pacientes que deram
entrada no posto de observação do hospital, nos anos de 1923, 1926, 1927 e 1928, numa
tentativa de perceber até que ponto a inauguração dos pavilhões, a promulgação do
Código Sanitário e a criação das Delegacias de Saúde (as três datadas de 1925)
influenciaram o atendimento do hospital.
DOENÇA 1923 1926 1927 1928 1929
Beriberi 5 3 - - -
Cirrose 1 - - -
Coqueluche - 1 - - -
Dengue 88 - - -
Diarrhéa Infantil - - - -
Dipheteria - 13 4 2 3
Disenteria 6 40 26 1 13
Escarlatina - - 1 -
Febre Amarela 12 19 1 2 5
Febre eruptiva - 1 1 - -
Febre Typhica 1 68 - 20 25
Gripe 1 2 4 - 13
Lepra - - - - 1
MenigiteCerebro-espinhalepidemica - 11 12 44
Meningite por infecção indeterminada - 1 1 - -
Molestia indeterminada - - 141 -
Moléstia venérea - 1 - - -
Paludismo 2 1 1 - -
Parotidite - 1 - -
Peste 7 4 4 40 -
Pneumonia - - - 2
Pneumonia Pestosa - - - - 4
Portadores de Germe (meningocoe) - - - - 10
Raiva - - - - 1
Sarampo 7 42 - - 31
Tétano - 1 - 3 4
Tipho - 18 - 3
Tuberculose Pulmonar - 1 - - 1
Varicella 5 9 47 - 12
Varíola 5 148 10 - 5
TOTAL 140 355 132 223 180
Quadro 9 – Dados de pacientes que deram entrada no Posto de Observação do HIMS
Fonte: APEB. Relatório das principais ocorrências no Hospital de Isolamento de Mont’ Serrat. Caixa
4026, maço 14, ano 1927-1929. APEB. Relatório das ocorrências do Hospital de Isolamento de Mont’
Serrat. APEB. Caixa 4072, maço 97, ano 1924. BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da
Secretaria de Saúde e Assistência Pública: anno de 1926. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1927.
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: anno
de 1927. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1928. BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório
da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: anno de 1928. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1929.
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: anno
de 1929. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1930.
73
144
PONTES, Adriano Arruda. Caçando Mosquitos na Bahia: a Rockefeller e o combate à febre amarela:
inserção, ação e reação popular (1918 – 1940). Mestrado em História. Salvador, UFBA, 2007, p. 60-92.
145
CHAVES, Cleide de Lima; AMORIM, Tatiane Pereira. A peste bubônica nos sertões da Bahia:
política e cotidiano no raiar do século XX. In: SILVA, Maria Elisa Lemos Nunes da; BATISTA, Ricardo
dos Santos (organizadores). História e Saúde: políticas, assistência, doenças e instituições. Salvador:
EDUNEB, 2018 (no prelo).
146
“A ronda fatal e macabra da Bubônica”. Diário da Bahia, Salvador, 18 fev. 1928, p.1.
147
“Enquanto a Bubônica dizima”. Diário da Bahia, Salvador, 01 mar. 1928, p.1.
74
Ainda sobre o quadro 09, se tomarmos a varíola como exemplo, em 1923 houve
cinco casos e nos anos seguintes dez cada um. Em 1928 ela desapareceu dos boletins,
voltando, em 1929, com 5 casos. Segundo o diretor do Hospital, esse desaparecimento
se deu por causa do trabalho feito pela Secretaria de Saúde e Assistência Pública. 148 Ao
verificar os números de vacinação, é possível perceber que houve um aumento ao longo
dos anos. Em 1925, foram vacinados contra a varíola 1.924 (um mil novecentos e vinte
e quatro) pessoas em Salvador.149 Dois anos depois, esse número saltou para 258.166
(duzentos e cinquenta e oito mil e cento e sessenta e seis) pessoas vacinadas contra a
varíola.150 As vacinações eram feitas em conjunto. As vacinas eram aplicadas por vários
órgãos e isso permitiu a melhora do atendimento sanitário de Salvador. Muitas
campanhas também foram feitas numa tentativa de chamar a atenção da população para
a importância da vacina, como mostra a imagem abaixo:
O trabalho das Delegacias de saúde pode ter contribuído para diminuir o fluxo
de doentes nos hospitais da capital. Os funcionários das Delegacias tinham como
148
APEB. Relatório das principais ocorrências no Hospital de Isolamento de Mont’ Serrat. Caixa 4026,
maço 14, ano 1927-1929.
149
BAHIA. Diário Oficial do Estado da Bahia, sábado, 1 de agosto de 1925. Arquivo Público do Estado
da Bahia. Salvador, 1925.
150
BAHIA. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública. Arquivo Público Municipal.
Salvador, 1928.
75
obrigação observar doentes em seus domicílios. Em muitos casos, esses pacientes eram
tratados em casa sem que houvesse necessidade de internamento hospitalar. Em 1926,
3.168 (três mil cento e sessenta e oito) pessoas foram observadas em casa pelos
funcionários das cinco delegacias.151 No ano seguinte, esse número chegou a 15.708
(quinze mil setecentos e oito) pacientes observados pelos funcionários das cinco
delegacias.152 Percebemos que na medida em que os anos foram passando, houve uma
tentativa de investimento na melhoria dos serviços de saúde da capital, embora tenham
sido insuficiente para dar conta dos problemas sanitários e de saúde da população.
Cabe destacar a ligação entre o Hospital de Isolamento de Mont’Serrat, as
Delegacias de Saúde e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC-BA). O Hospital recebia doentes
notificados pelas Delegacias e o IOC era responsável por fazer exames de materiais
coletados nos pacientes das Delegacias, do Isolamento e de outras unidades
hospitalares. O IOC-BA incumbia-se também da distribuição das vacinas que os
Inspetores Vacinadores aplicavam na população.
151
BAHIA. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública. Arquivo Público Municipal.
Salvador, 1927.
152
BAHIA. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública. Arquivo Público Municipal.
Salvador, 1928.
76
153
IBGE. Recenseamento demográfico 1920.
77
Anos Total de
Ocupação Doenças
1926 1927 1928 1929
Alfaiate - - 2 1 3
Aprendizes de Marinheiro - 20 - 7 27
Agricultores - - 2 5 7
Artista - 1 - - 1
Bacharel 1 - - - 1
Bombeiro 1 - - - 1
Calafate - - - 1 1
Carregador 5 2 11 3 21
Carroceiro - - 2 2 4
Carteiro 1 - - - 1
Charuteiro - - 1 - 1
Chouffeur 1 - 2 - 3
Cocheiro 3 - - - 3
Colegiais - 2 6 6 14
Comerciantes - - 9 - 9
Comercio (empregado) 24 8 17 8 57
Condutor - - 1 - 1
Condutor de Bond/Motoreiro - - 1 2 3
Copeiro - - 4 5 9
Costureira 1 - 2 1 4
Cozinheiro - - 5 5 10
Empregado de Estábulo - - 1 - 1
Enfermeiro - - 1 3 4
Engenheiro - - 1 - 1
Engomadeira - - 1 - 1
Estivador - - 2 - 2
Estudante 4 1 2 9 16
Ferreiro - - - 1 1
Ferroviário - 8 - - 8
Foguista 5 - - 3 8
Funcionário das Docas - - - 1 1
Funcionário Federal - 1 - 1
Funcionário Público - - 1 4 5
Garimpeiro 2 7 6 11 26
Guarda Noturno 1 - - - 1
Guarda Sanitários - - 1 - 1
Hoteleiro - - - 1 1
Jardineiro 2 - 1 - 3
Lavadeira - - 2 - 2
Lavrador - 7 - 6 13
Maquinista - - 1 1 2
Marceneiro - - 2 - 2
Marinheiro 5 - - 2 7
Marítimo - 4 - 5 9
Mecânico 2 - - - 2
Médico 1 - 1 - 2
Militar 115 9 12 2 138
Motorista - 1 - - 1
Negociante - - - 7 7
78
Operários 34 15 1 8 58
Polidor - - - 1 1
Quitandeira - - 1 - 1
Roceiro 13 - 7 - 20
Servente 5 - 5 5 12
Serviço Doméstico 80 26 16 22 144
Taifeiro 3 - - 3
Vendedor Ambulante - - 3 - 3
Ignorada/Ignorada/Sem profissão 45 11 55 34 145
Total 355 132 190 180 857154
Quadro 11 – Dados das profissões dos pacientes atendidos no Hospital de Isolamento de
Mont’Serrat nos anos 1926, 1927, 1928 e 1929 construídos a partir dos relatórios.
Fonte: BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência
Pública: ano de 1926. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1927. BARRETO, Antônio Luis C. A. de
Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: ano de 1927. Bahia, Imprensa Oficial do
Estado, 1928. BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência
Pública: ano de 1928. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1929. BARRETO, Antônio Luis C. A. de
Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública: ano de 1929. Bahia, Imprensa Oficial do
Estado, 1930.
154
Observamos uma diferença no número total de pessoas atendidas a cada ano no Hospital de
Isolamento. De acordo com a fonte, no ano de 1925, 355 pessoas foram atendidas. Em 1927, esse número
caiu para 123. Em 1928, houve 190 atendimentos e em 1928, 180 enfermos passaram pelo Hospital.
Porém, quando fizemos essa soma manualmente os números ficam diferentes. Em 1926 foram 354, em
1927 132, em 1928 são 223 e em 1929 aparecem 144 casos.
155
CASTELLUCCI. Industriais e operários numa conjuntura de crise (1914-1921), 2004.
156
SANTOS, Mario Augusto da Silva. Casa e balcão: os caixeiros de Salvador (1890-1930). Salvador:
EDUFBA, 2009, p. 33, 40-41.
79
o prédio e mais um local vizinho foram interditados para que fosse feita a desinfecção.
O edifício estava localizado na Praça Castro Alves, centro comercial da cidade.157
Nove dias antes, o mesmo jornal divulgou que um servente da Associação
Comercial da Bahia, faleceu no local de trabalho, vitimado pela peste, sendo retirado do
local às escondidas. Segundo a matéria, a notícia se alastrou e o “Juiz do comércio
suspendeu suas audiências no edifício suspeito”, como podemos ver na chamada da
matéria, figura 8.158
... perseguição aos bandos rebeldes de Prestes e Miguel Costa deve ser
atribuído ao aparecimento de casos de varíola e de doentes de
symptomatelogia semelhante a febre amarela. A quase totalidade desses
enfermos provém de municípios baiano, região onde transitaram para
mais de 12.000 soldados legalistas, procedentes do Norte e Sul do país.
159
157
“A Bubônica”. Diário da Bahia, Salvador, 23 fev. 1928, p.1.
158
“Além de tudo, escamoteiador de cadáveres” Diário da Bahia, Salvador, 14 fev. 1928, p.1
159
BARRETO, Antônio Luis C. A. de Barros. Relatório da Secretaria de Saúde e Assistência Pública:
ano de 1926. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1927.
80
A partir dessas informações, percebemos que a população pobre foi a que mais
os utilizou. Poucas pessoas com profissões que se pode considerar das classes média ou
alta aparecem no quadro 11. Entre elas encontram-se um bacharel, dois médicos, sete
negociantes e nove comerciantes. Podemos supor que aquelas que tinham melhores
condições econômicas preferiram se tratar em casa com o auxílio de médicos
particulares. A maioria dessas doenças era contagiosa podendo atingir também os mais
ricos, ainda que os pobres vivessem em situações bem mais vulneráveis.
Os dados do quadro 12 nos permitem observar de onde vinham esses enfermos.
A maioria era encaminhada pelas Delegacias de Saúde. Dez deles se apresentaram
diretamente na porta do Hospital, além dos 46 que vieram do interior do estado da
Bahia. Houve também 22 doentes que vieram de Alagoas.
160
“Já é caso de Intervenção”. Diário da Bahia, Salvador, 28 mar. 1928, p.1.
161
“Prenúncios alarmantes e inquietadores”. Diário da Bahia, Salvador, 17 out. 1928 , p.1.
82
Percebemos que a maioria dos pacientes do Hospital era do sexo masculino. Não
acreditamos que as mulheres adoeciam menos do que os homens, mas o acesso a
cuidados e consultas poderia ser mais difícil. De acordo com os quadros 6 e 7, o
atendimento médico de Salvador era feito principalmente por homens. Apesar de
existirem as enfermeiras sanitárias, os médicos estavam presentes nos principais locais
do serviço sanitário. Nos hospitais, postos, inspetorias, eram eles que compunham os
principais cargos do Serviço Sanitário de Salvador e eram eles que examinavam os
pacientes que chegavam às unidades. Talvez isso tenha sido um fator que dificultou que
as mulheres procurassem atendimento nos órgãos de saúde.
Ricardo Batista, ao analisar o atendimento sanitário na década de 1920 e a sífilis,
aborda a diferença entre homens e mulheres. Para ele, as mulheres das elites eram
atendidas em casa por médicos particulares e as mulheres pobres principalmente tinham
dificuldades em frequentar os órgãos de saúde e quando iam preferiam ser atendidas por
enfermeiras. Ele sinaliza a importância das enfermeiras no tratamento da sífilis:
83
Cabe ressaltar que havia também uma perspectiva de classe, pois os homens e as
mulheres dos setores economicamente privilegiados eram atendidos em casa por seus
médicos particulares.
Em relação à cor, os negros e mestiços eram maioria. As pessoas atendidas
nesses serviços eram pobres e moravam em residências precárias, daí terem maior
probabilidade de adoecer.
De acordo com as informações dos quadros 11 e 13 podemos dizer que as
pessoas que utilizavam os serviços públicos de saúde em Salvador na década de
1920 eram, em sua maioria, homens negros e mestiços, brasileiros que
conquistavam seu sustento através de trabalhos pesados, realizados em locais
insalubres, ficando assim expostos às doenças.
162
BATISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e as relações de gênero na Bahia.. In FRANCO, Sebastião
Pimentel, NASCIMENTO, Dilene Raimundo, SILVEIRA, Anny Jackeline Torres (orgs) Uma História
brasileira das doenças. 1ed. Belo Horizonte – MG. Fino Traço. 2017, p. 124.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
causa das precárias condições de vida da população. Assim, não bastava fiscalizar e
punir. As mudanças urbanas que ocorreram durante o período analisado não foram
suficientes para garantir moradia de qualidade, água potável, saneamento básico e boa
alimentação, questões essenciais para a saúde da população. Os problemas existentes
eram decorrentes das sociedades excludentes e desiguais, atingindo especialmente as
pessoas pobres e negras. Foram estas que mais necessitaram de atendimento, pois a
elite quase nunca o utilizou.
Podemos dizer que a década de 1920 foi um momento significativo na
história da saúde na Bahia. A Reforma Sanitária empreendida nesses anos, apesar
de suas limitações, trouxe mudanças, pois os serviços aumentaram e se
diversificaram.
As Delegacias de Saúde e o Hospital de Isolamento tiveram um papel
importante no processo de reforma, conseguindo contribuir para a articulação do
estado com as políticas sanitárias que estavam sendo implantadas nacionalmente.
Para concluir, a pesquisa realizada na produção desta dissertação, embora
tenha caráter inicial, abre pistas para a ampliação do conhecimento acerca da
Reforma Sanitária na Bahia, tema relevante, porém ainda pouco abordado em
âmbito estadual.
86
FONTES
Diário Oficial
BRASIL. Diário Oficial dos Estados Unidos do Brasil. Ano LIX – 32 da República, n.
215. Quinta-feira, 16 de setembro de 1920.
87
Jornais e Periódicos
Revistas
CARVALHO, Carlos Alberto de. A Locomoção da cidade através dos tempos. Revista
do IGHB (66) : 77-108. 1940.
Legislação
IBGE
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93
ANEXOS
Lavanderia
Pavilhão da Farmácia