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Amor em Intenção

Os Mackenzies 10

Nathalia Marvin
Amor em
Intenção

Os Mackenzies
Livro 10

NATHALIA
MARVIN
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é
intencional por parte da autora.

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sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, sem a permissão expressa por escrito da autora.
Capítulo 1

Eu me arrasto para fora do escritório, louca da vida com meus colegas


de trabalho mal resolvidos e que querem descontar as cargas em mim.
Alguém precisa fazê-los perceber que a vida é ruim em maior parte. Não
sempre, não toda vez, mas em maior tempo.
Piso no asfalto, me equilibrando sobre os saltos que não estou
acostumada a usar, soltando um suspiro de frustração quando a multidão
agitada das ruas de Nova York se esbarra em mim, me jogando de um lado
para outro. Eu reclamo sozinha, tentando achar algum equilíbrio. Vou
caminhando para trás novamente, a fim de encontrar uma parede e esperar o
tumulto passar. Essas manhãs nunca são as mesmas.
Finalmente encontro uma parede e paro. É uma parede diferente. Bem
quente. Confortável.
Me viro, o corpo colado ao concreto macio, mas dou um pulo imediato,
retrocedendo o passo.
Não é uma parede de concreto e sim de músculos. Músculos quentes e
firmes.
Há um homem altíssimo parado à minha frente. Ele está sério, com a
barba cerrada, os lábios juntos não demonstrando qualquer emoção. Está
vestido em um terno slim cinza e parece completamente atraente. Claro que
sim, homens de terno já são atraentes por si próprios.
— Estou procurando o escritório dos Hume — fala, a voz parecendo um
trovão, e eu me encolho no lugar. Nem parece que há barulho infernal à nossa
volta. Tudo se resumiu a ele. — Você sabe onde fica?
— Sim — respondo, de imediato. — Atrás de você — aponto. É o lugar
onde eu trabalho.
Ele vira a cabeça, só para me olhar de novo em seguida. Fico um pouco
sem graça com os olhos que não tem cor definida me perfurando. Sou puxada
de repente, ao que eu dou um grito, então vejo uma multidão de trabalhadores
passar, atropelando uns aos outros. Eu teria sido arremessada ao chão e
igualmente atropelada.
— Não devia ficar parada no meio dos pedestres — ele me olha e solta,
logo virando e entrando no escritório.
Dou um sorrisinho bobo por ter tido um homem gostoso me segurando.
Ele é mesmo, o que posso fazer?
Me viro e pego equilíbrio nos saltos de novo, caminhando até a loja de
cafés para fazer os pedidos dos meus honoráveis colegas.
Estou me acostumando com isso de andar muito arrumada. Antes eu
trabalhava de sandálias e bermuda, atendendo na pizzaria do meu pai. Hoje,
porém, estou empregada em um recente aberto escritório de Design Gráfico,
como designer principal. Só consegui o trabalho porque o chefe é cliente do
meu pai, o que não foi lá muito bom porque o cara aparece todos os dias para
comer pizza de graça. Não é à toa que está quebrando as cadeiras do
escritório. De verdade. Já é a terceira que encomendam em menos de dois
meses.
No início de tudo, pensei que não me adaptaria, porque ele é meio
ranzinza e bipolar. Nós nunca sabemos quando o Sr. Hume está ou não de
bom-humor. Mas, com a chegada de Peter e Colin, meu trabalho ficou menos
entediante. Eles são ótimos companheiros de trabalho, mas reclamam demais.
Principalmente pelo fato de eu ter vinte e três anos e ser a designer principal.
Mas o que posso fazer se o Sr. Hume entregou a mim uma tarefa grande e eu
fui bem-sucedida nela, angariando a confiança dele no meu trabalho? É a
vida. Me deram uma oportunidade e eu me agarrei a ela, simples assim. Não
é injusto com eles, é apenas como funciona a vida.
Eu pego os pedidos no balcão do café e pago, deixando o local em
seguida em direção ao escritório novamente. Preciso fazer um esforço
redobrado para me equilibrar com as duas mãos ocupadas, mas agradeço
quando consigo concluir o trajeto.
Quando chego, coloco os cafés em cima da mesa de Colin e os bolinhos
também. Ele me dá um sorriso agradecido e logo Peter está ao meu lado, me
dando um beijo na bochecha e agradecendo também.
— Natasha! — eu ouço o berro do Sr. Hume. Velho chato.
Dou um resmungo e me forço a ir para sua sala, ouvindo os risinhos dos
meus amigos por trás de mim.
Suspiro, já de frente para a porta de madeira, então bato uma vez,
abrindo-a em seguida.
— Com licença — digo, mas um sorriso é inevitável quando vejo quem
está de frente ao Sr. Hume. O meu super-herói bonitão.
— Natasha, este é o Sr. Mackenzie — gesticula meu salvador. — Seu
novo cliente preferencial.
Eu caminho até ele, que está sentado na cadeira em frente à mesa do
meu chefe.
— Oi — estendo a mão, obtendo êxito em não tremer, o que é muito
difícil porque o homem continua seríssimo. — Eu sou a designer.
— Eu sei — ele aceita meu cumprimento, apertando minha mão com
certo impacto, mostrando que ele é quem manda e tem presença. Sim, eu sei.
Ele poderia me pedir para abraçá-lo. Eu o faria, sem problemas.
— Hm, então... — Me afasto e olho meu velho chato patrão. — Qual a
demanda? Por trimestre?
— Você precisa me acompanhar em alguns estabelecimentos para ter
noção do que eu quero — o meu herói fala, chamando minha atenção para si
novamente.
Oh, sim. Eu gostaria de saber o que ele quer. Adoraria, na verdade.
— Está bem — eu concordo. — Mas, assim, não vai ter o contrato?
— Não — ele troveja, seu olhar desviando para baixo e me avaliando
inteira. Suspiro, fervendo. — Você precisa ver primeiro — me olha
novamente.
— Está bem — repito. — E como vai ser? — olho para meu chefe.
— Você tem alguma pendência?
— Sim, a Sra. Lisley. Ela ainda está alterando a arte do salão de dez em
dez minutos.
Ele bufa, exaurido.
— A partir de agora, você cobra a cada alteração, mas pode acompanhar
o Sr. Mackenzie. Ele está precisando urgentemente de você.
— Estou precisando urgentemente — o meu herói reforça e eu olho,
abrindo um sorriso.
— Ok, vamos nessa — concordo e o observo levantar, três tamanhos do
meu, me fazendo sentir como um rato. Lambo os lábios, que ficaram secos,
logo o vendo gesticular para eu ir na frente.
Eu vou, me apressando em sair primeiro para pegar minha bolsa sobre
minha mesa.
Meus amigos me olham de relance, enquanto se entopem com os
bolinhos.
— Você está saindo? — Colin questiona.
— Sim — ponho a bolsa sobre o ombro. — Aquele homem bonito quer
que eu saiba o que ele quer.
Peter ri.
— Cuidado para ele não querer demais.
— Vai que eu quero também — rebato e nós três rimos.
— Vamos logo, eu não posso perder tempo — eu ouço o estrondo e olho
para trás, vendo o Sr. Mackenzie passar e segurar a porta aberta para mim.
— Tchau, meninos! — aceno e me apresso a caminhar até ele,
suspirando e sorrindo.
Meu dia acaba de melhorar mil por cento. É a primeira vez que tenho
um cliente bonito e que quer me mostrar seus desejos pessoalmente.
É muita sorte.
Capítulo 2

— Eu sou Natasha, e você? — pergunto quando o bonitão liga seu carro


e começa a dirigir, nos pondo em movimento pelas ruas agitadas da manhã.
Vou tentar puxar assunto, é claro.
— Sr. Mackenzie em âmbito profissional — responde sem me olhar.
— Hmm… — avalio seu perfil. Ele é um lindo. Tem uma boca
suculenta de verdade. — Está bem. Sou Natasha Carter, mas, no âmbito
profissional, Sra. Carter.
Ele me olha rapidamente, a expressão fechada e eu sorrio.
— Você não é casada, não vi aliança no seu dedo — troveja e volta a
prestar atenção na pista.
Eu dou uma risadinha.
— Tecnicamente, sou casada.
— O que isso quer dizer?
— Que o meu marido não me encontrou ainda.
— Que idiotice — ele bufa.
— Pode ser, mas também sou casada com o Sr. Fredy, meu gato.
Ele balança a cabeça e me ignora.
— Você poderia ligar o som, que tal? Para não ficar esse silêncio
constrangedor — palpito.
— Não.
— Por que não?
— Porque eu não quero.
— Ok — suspiro incomodada pelo silêncio chato e o humor não muito
agradável do meu herói lindo. Pego meu celular dentro da bolsa e fico
mexendo sem interesse enquanto ficamos em silêncio por todos os
longuíssimos minutos.
Vou dizer a verdade, eu aprecio muito o silêncio, mas gosto bastante de
conversar. Gosto de trocar ideia e conhecer pessoas. É interessante.
— Flor de lótus — eu ouço e viro a cabeça, vendo que foi o Sr.
Mackenzie quem falou.
— Não entendi.
— Você me lembrou ela — não me olha. — Flor de lótus.
— Continuo sem entender.
— Doce e sem profundidade — ele estaciona, só então me olhando e
tirando o cinto no processo. — Tenha cuidado com a impressão que deixa nas
pessoas.
Estou boquiaberta.
O que ele quis dizer? Uma ofensa? Pareceu que sim.
Observo-o deixar o carro e, depois de me recuperar do pequeno transe,
faço o mesmo, tendo que segui-lo rapidamente por uma estrada de cimento
que leva à uma construção em andamento.
Ele anda super-rápido e nem sequer olha para trás para saber se o estou
acompanhando; o que estou tentando fazer sobre os saltos e é uma tarefa
muito complicada.
Vejo-o se perder após passar pela primeira passagem e dou um grito, o
chamando, para pedir que me aguarde um pouco, mas então grito de verdade
quando meu pé torce e eu caio diretamente de quatro no chão, um gemido de
dor sendo inevitável.
— Drooooga! — eu xingo, minha bolsa abrindo e caindo tudo de
dentro.
Me viro como dá, mas meu pé torcido — não totalmente — não sai do
lugar e eu olho, vendo que o salto ficou preso entre dois paralelepípedos.
Praguejo, desacreditada.
Fico somente sobre os joelhos, tirando o cabelo do rosto e levando uma
mão para trás, para tentar desatar o salto e tirar o pé de dentro.
Não consigo no entanto porque o fecho é por baixo e estou em uma
posição desfavorável.
Meus joelhos doem e caio com as mãos no chão de novo, então sinto o
toque nas panturrilhas.
— Por que fica usando essas coisas se não sabe andar?
Eu olho para trás, vendo meu herói com a linda cara de frente para
minha bunda. É uma cena esquisita, mas, de onde ele veio?
— Estou bem, obrigada — ironizo. — Meu salto prendeu, foi um
acidente. Pode desatar, por favor?
Eu o sinto fazer o que pedi e logo tiro o pé de dentro, com certa força e
caio para frente, ouvindo o barulho de tecido rasgar.
— Ops — murmuro e me levanto o mais rápido que consigo, mais
sentindo do que vendo minha saia rasgada na parte de trás. — Agora danou-
se.
Olho para o homem à minha frente, que tem a mandíbula cerrada e os
braços cruzados sobre o peito, parecendo… Como parece. Sério.
— Ainda bem que a calcinha não é fio dental — digo entre um riso,
envergonhada, e me abaixo, começando a juntar as coisas caídas, colocando-
as de volta na bolsa.
O Sr. Mackenzie me ajuda, pegando meu hidratante, meu shampoo seco
e meu creme de mãos.
— Obrigada — agradeço, me pondo de pé. — Vou precisar de uma saia
nova. Pode me emprestar seu paletó para eu amarrar na cintura até chegar em
uma loja, por favor?
— Não — ele nega, então gesticula. — Vamos até uma loja, mas você
não precisa sair do carro. Não quero ninguém vendo a sua bunda branca.
Abro a boca, horrorizada.
— Bem, ao menos ela é bonita — dou de ombros e me viro, lembrando
que estou sem o salto.
Bufo, voltando e me abaixo para tirá-lo de entre os paralelepípedos.
— Eu estou vendo toda a sua bunda branca e bonita — ele fala, então, já
com o salto em mãos, bufo de novo.
— Pois não olhe — resmungo.
Poderia ser completamente assustador saber que a minha saia rasgou
logo em um momento que estou com meu cliente que, de quebra, é
lindíssimo. Mas, não, nenhuma sensação estranha passa por mim a não ser a
de arrepio por causa do frio contra minha pele.
— Pode ir andando de volta ao carro — ele fala, gesticulando para eu ir
à frente. Eu vou, segurando a saia por trás com uma mão e o salto em outra,
meio manca só com um calçado no pé.
Quando chego, o observo estender o braço e abrir a porta para mim.
— Muito gentil, obrigada — sorrio e entro no banco do passageiro,
aliviada. Ele bate a porta e em instantes está ao meu lado, virando a chave de
ignição e nos tirando do local.
— Quantos anos você tem? — questiona depois de alguns minutos.
— Não se pergunta a idade de uma dama.
— Não, o que não se faz, em nenhuma circunstância, é dizer que uma
dama está gorda — ele me olha. — A idade não tem qualquer problema.
Sorrio, sarcástica, e reviro os olhos.
— Vinte e três, e você?
— Não importa.
Abro a boca, desacreditada.
— Você perguntou a minha e eu não posso saber a sua?
— Não.
— Por que não?
— Porque eu não vou te falar.
Balanço a cabeça, um pouco assustada de como alguém tão bonito e
heroico, possa ser tão ridículo ao mesmo tempo.
— Eu acho que você tem uns trinta e dois — falo, o olhando para
estudar sua expressão. Mas ele não diz nada, apenas continua a dirigir. — O
que foi, não quer dizer porque é muito velho? Quarenta nem é tanto assim,
vai.
— Acha que tenho quarenta?
— Deve ter. Estilo Benjamin Burton, mais novo com mais anos.
Então ele dá uma risadinha. Baixa. Se eu não estivesse tão perto, não
teria ouvido, mas logo estou sorrindo, gostando muito do que fiz.
— Então estou certa? — questiono.
Ele suspira e balança a cabeça em negativa, reacendendo o silêncio.
Ao menos ele deu um sorriso. E é muito, muito bonito.
Capítulo 3

Aguardo no carro há mais de dez minutos enquanto o meu herói bonito


se ofereceu para comprar minha saia e trazê-la até mim. É claro que não
neguei. Se ele quer comprar, quem sou para negar? Aliás, ele foi muito
atencioso perguntando meu tamanho e cor preferida.
Olho pela janela, observando voltar com uma sacola da loja em uma
mão, enquanto a outra mantém o celular no ouvido. Ele está irritadinho pela
cara. Seria fofo se não fosse tão ruim.
A porta abre ao meu lado e ele grunhe, tomando seu lugar no banco do
motorista.
— Não estou ligando para isso, Brandon. Você ajeita essa merda, eu não
quero nem saber! — fala. — Problema do Luke. Eu não quero saber se ele é
pai, a merda do trabalho também conta! —desliga e joga o celular,
esfregando o rosto em seguida.
Aguardo.
— Muito estresse — murmuro depois de alguns minutos. — Pobre desse
Brandon.
Ele me olha e eu sorrio, já na defensiva.
— Aqui a sua saia — coloca a sacola sobre minhas pernas. — Veste
logo que eu preciso te levar ao Garden.
— Garden, Garden, Garden — cantarolo enquanto enfio a mão na sacola
e obtenho a roupa, abrindo um sorriso ao levantar e perceber que é bem mais
bonita do que a que eu estou. — Vire o rosto, por favor.
Ele bufa, mas faz o que pedi, então rapidamente levo a mão ao zíper na
lateral da saia e puxo para baixo, tirando-a e trocando pela peça nova.
— Pronto — aviso e enfio a saia rasgada na sacola.
O Sr. Mackenzie não diz nada, apenas liga o carro e nos coloca para
correr de novo.
— Você não vai me dizer o seu primeiro nome? — questiono curiosa.
— Acho que você tem cara de Wilson.
Ele emite um murmúrio baixo e eu quase rio. É um péssimo nome.
Lembra o cachorro do meu vizinho, que já é um senhor que mal enxerga um
palmo à sua frente.
— Theodor? — palpito. — Richard? Hugo? Frederick? — finjo pensar.
— Hm… Então Edward ou Es…
— É Dean — ele bufa. — Dean Mackenzie, sua chata.
— Dean? — experimento o nome nos lábios, gostando muito. — Dean.
Dean…
— Meu Deus, você é sempre tão chata? — ele me olha. — Não vai dar
para trabalhar contigo se continuar enchendo o meu saco!
Me finjo ofendida. Ele é um poço de mau humor.
— Você é muito explosivo — deixo claro. — Vou me calar, mas saiba
que se não for eu a trabalhar com você, vai ser Colin ou Peter, mas eles não
são nem metade do meu talento.
— Ainda por cima se acha a melhor… — ele murmura. — Eu mereço.
— Estou achando que não merece, mas Deus é tão bom que me colocou
no seu caminho para você ter as melhores artes que já pensou em obter para
suas empresas.
Dean me olha rapidamente. Incredulidade e descrença.
— Tenho certeza que posso encontrar melhores profissionais — ele
acentua a palavra.
Dou de ombros.
— Certo, então vá em frente. Pode me levar de volta ao meu trabalho,
que tenho clientes aguardando suas próprias artes e que ficam muito
satisfeitos em trabalharem comigo — digo e enrolo o cabelo entre os dedos.
— Além do mais, não ganho mesmo comissão. Independente de meu patrão
ter puxado o seu saco, o lucro que você der, é todo dele e não meu ou de
meus amigos.
Ele não diz nada ou esbanja qualquer reação, então me calo; e, quando
finalmente estaciona, é em frente a um edifício lindo e exorbitante, o qual faz
quase meu queixo ir ao chão.
Perfeito e além.
Só me dou conta de que estou com a boca aberta, admirando, quando a
porta ao meu lado é aberta e o rosto do Dean aparece à minha frente.
— Vai ficar aí babando ou vai sair e me provar todo o talento que diz
ter?
Pisco os olhos, então lambo os lábios, me apressando em descer do
carro.
Quando o faço, me viro para meu cliente bonito e chato.
— Não preciso provar nada para você. Mas, sim, vou mostrar que posso
ser boa.
— Será que pode? — ele bate a porta do carro e seu olhar desce,
analisando-me inteira.
Me remexo, agoniada.
— Posso — reafirmo, me abaixando para tirar o outro salto do pé,
colocando dentro da bolsa e caminhando sozinha para dentro do edifício.
Sinto-o me acompanhar, meu corpo reagindo de uma forma
inconveniente por saber que há um gostoso atrás de mim. Dean Mackenzie.
Até o nome dele soa quente. Obviamente não pensei que, mais cedo, quando
ele me segurou, que teria um humor tão carrancudo. Às vezes odeio de
verdade em como as aparências enganam.
— Por aqui — eu o ouço e ele passa na frente, seguindo para um
elevador. Um dos cinco da parede enorme. Impressionante.
— É um belo hotel — eu falo, meus pés me lembrando de que estou
pisando no chão descalça.
— Obrigado.
— Por que está agradecendo? — o olho, ele não retribuindo. — É seu?
— É meu — afirma. — Foi do meu pai, agora é meu — então me olha.
— Por que o espanto?
— Como assim? O espanto é porque eu posso ganhar um desconto na
estadia.
Ele ri, desviando o olhar, parecendo arrependido da própria ação.
— Por que está rindo? — questiono. — Você não me daria um
desconto? Meus pais iriam adorar passar o aniversário de casamento aqui. Eu
te faço um pacote especial grátis se diminuir uns noventa por cento a diária, o
que acha? Olha que esse pacote inclui arte de mídias sociais. Analisa direito.
Ele me olha, levando a mão aos lábios, então aos olhos, abaixando a
cabeça.
— Como te desliga? — pergunta, seus olhos sorrindo, apesar de os
lábios não o fazerem mais.
— Dizendo, “sim, você tem um desconto” — sorrio.
— Sem descontos, Sra. Carter — ele sai quando as portas se abrem e eu
o acompanho, indo para um corredor em que o chão é de porcelanato
brilhante.
A decoração é incrível, uma parede central revestida de espelho e jarros
de flores belas e exóticas espalhados por todo longo espaço.
— Este é o sétimo andar — Dean se vira para mim, seu olhar descendo
novamente e eu vejo uma das sobrancelhas se arquear. — Gosta da sensação
de estar sem sapatos enquanto trabalha para um cliente importante?
Mexo os dedos dos pés, um pouco constrangida.
— É um pouco estranho — admito —, mas a vida está aí para inovar.
Por que não tira os seus também?
Ele balança a cabeça e eu suspiro, observando-o virar novamente e ir
andando.
Eu vou olhando tudo, colhendo cada detalhe, cada porta branca com
suas maçanetas muito reluzentes, mas tão reluzentes, que preciso me
aproximar de uma para tocar, aproveitando que meu ranzinza cliente não está
olhando.
— É prata — eu o ouço assim que ponho a mão sobre o material.
— Mesmo? — olho-o. — Quanto é para se hospedar aqui?
— Você quer mesmo saber? — põe as mãos nos bolsos da calça.
— Sim, por favor. — Apesar de já me preparar para o baque.
— Três mil a noite.
Levo a mão ao peito e finjo um desmaio.
Ouço o riso contido dele e abro os olhos.
— Isso é um assalto sem arma — aponto a maçaneta. — Quanto custa
uma dessa?
— Eu não sei.
— Como não? Você não toma conhecimento dos seus bens?
— Sim, mas essa parte não é comigo — ele volta a andar e para em
frente a uma porta. — Vem cá, é isso que quero que veja.
Eu vou, olhando um pouco para baixo, um frio estranho na barriga por
causa do chão gelado e impecavelmente limpo.
— Acho que passaram a língua nesse chão — murmuro. — Está tão
limpo que eu não quero nem pisar.
— Eu tenho os melhores empregados.
— Imagino — passo por ele e adentro a porta aberta, meu queixo indo
ao chão. — Acho que estou sonhando.
Posso mesmo estar.
Capítulo 4

Natasha entra na suíte exclusiva e começa a andar, parecendo perplexa.


Também fico meio assim toda vez que venho. É um quarto destinado aos
mais ricos e parece fazer parte de um palácio. Tem todo um requinte notório
e próprio. Os móveis, decoração, materias, tudo escolhido com cuidado e
atenção por profissionais excelentes e eu, claro. Acho que é o único quarto
em que tive participação direta.
— Eu não sei o que dizer — ela me olha. — Nunca vi nada assim. É
como um quarto de castelos.
— É — concordo, então cruzo os braços, meu olhar sendo atraído para
ela, que começa a andar para os lados, curiosa.
Ela é elétrica, isso não tem como negar, mas, quando passo minha mão
na frente da calça, em um reflexo inconsciente, sei que também é mais que
isso. Maldita saia rasgada.
— Eu posso sentar na beiradinha da cama? — sua voz me traz de volta.
— Só para eu sentir a maciez, por favor.
— Sim — permito e ela bate palmas, indo até a cama larga que é coberta
por um véu delicado dos dois lados, com uma cabeceira de madeira escura
forte, realçando o tamanho.
Natasha senta, soltando um suspiro que eu interpreto de uma forma não
ética e preciso desviar o olhar.
Certo, talvez a culpa seja muito minha. Preciso parar de trabalhar tanto e
ir atrás de uma mulher para me distrair. Isso soa um pouco rude, talvez, mas
não é por mal. Apenas não pretendo me casar, ainda. Acho que está muito
cedo. Eu tenho um monte de coisas que quero angariar antes de me unir a
alguém porque, assim que o fizer, quero ter meus filhos. Encher a casa com
um monte de pestinhas. Sou louco por isso.
Mas não é a hora. Sei que não.
— Você me daria um desconto nessa suíte? — A voz dela me chama
novamente.
— Não.
— Poxa, nem vai pensar a respeito? — questiona entristecida. — Assim,
não é para mim, é para os meus pais. Eles vão ter o aniversário de casamento
e estou querendo dar um grande presente. É a primeira vez que vou poder.
Quero dar algo bem grande.
— Não — repito. — Não está aqui para mendigar desconto e sim para
trabalhar.
— Tudo bem — ela suspira e levanta, passando a vista no local. — O
que quer de mim?
Você poderia tirar a saia, talvez, tenho vontade de responder; mas,
apenas balanço a cabeça e caminho até a cortina maior, abrindo-a e
chamando a garota. Ela se aproxima e olha a varanda, sua boca fazendo um
O.
— Quero que crie uma arte à altura do que oferecemos neste quarto em
especial, para podermos divulgar mais em outdoors.
Ela me olha, abrindo um sorriso.
— Sim, senhor — assente. — Você se importa se eu trabalhar com
imagens populares ou prefere tirar fotos do seu próprio quarto?
— Prefiro. Você tem uma câmera?
— Querido, sou designer e não fotógrafa — sorri. — Brincadeira. Não,
eu geralmente não tiro as fotos, os clientes as levam. Mas, nós podemos
entrar em um acordo — se vira para mim, cruzando os braços. — Tiro as
fotos se você me der um desconto.
— Você não desiste?
— Geralmente insisto no que quero.
Avalio-a de perto. Ela é perfeitamente chata e bonita. Os cabelos são tão
brilhantes e com um balanço suave, que eu sinto vontade de tocar; os olhos
tão límpidos que podem desconcentrar, e os lábios numa forma deliciosa de
se ver. Nunca esperei que, quando saí pela manhã para procurar um designer
em uma das mais bem faladas empresas de artes visuais do momento, eu
encontraria uma mulher. Linda. Chata. E irritante. Claro que não dava para
ser perfeito.
— Entendi. Não vai ter desconto — recoloco.
Ela faz um beicinho.
— Nem com o pacote?
— Nem com o pacote.
— Ok — gesticula. — É por você ser chato, pão duro ou não ter ido
com a minha cara?
— Os três — passo por ela e sigo para a porta do banheiro. — Olha isso
aqui também.
Ela vem, toda minúscula como se estivesse em seu próprio lugar, os pés
descalços que eu tenho vontade de tocar e massagear, para ver se ela fica
mais quietinha e calma, abrindo a linda boca só para…
— Puta merda! Quantas pessoas moram aqui dentro? Cabe a minha casa
e o quarteirão! — ela grita e eu olho para baixo, vendo sua bunda empinada
na saia apertada e tenho vontade de rasgar o tecido também só para ver a pele
suave mais uma vez.
— É um quarto à parte, como te expliquei.
— Quanto é a noite aqui? — ela me olha, os olhos arregalados. — O
meu coração ou os dois rins?
Dou risada, achando estranho novamente. Não sou de rir tanto.
— Não vou te dizer o preço porque sei que não seria capaz de pagar.
Ela pisca algumas vezes e desvia o olhar, parecendo cabisbaixa.
— Tá bom — concorda. — Eu já tenho o que preciso para fazer o
trabalho, exceto as fotos. Você vai pedir para alguém tirar ou o quê?
— Peço. Estarão no email de vocês ainda hoje.
— Ok.
— Ok. Você sabe o caminho?
— Sei, sim. Posso ir então?
— Pode. Quero uma prévia da arte o mais rápido possível, por favor.
Vou enviar as fotos pelo meu email pessoal, tamanha a importância que é
para mim.
Ela ri. É um riso de puro deboche.
— No aguardo, Sr. Mackenzie. Até mais. — Então se vira e sai
andando, me fazendo engolir em seco quando joga os cabelos para trás e sai
balançando os quadris, de um jeito irresistível.
Se fui grosso, eu não sei, mas apenas precisei. A minha segunda cabeça,
realmente não pensa.
Capítulo 5

— Como foi com o cara lá? — Peter questiona enquanto se debruça


sobre minha mesa. Ele está cheirando a refrigerante, como sempre.
— Foi normal. Ele é muito chato, mas tem um hotel incrível.
— Onde é?
— Eu não observei, mas ele vai me mandar as fotos. Vai chegar no
email daqui. Você pode olhar, se quiser.
— Vai querer ajuda?
— Não que eu saiba — sorrio. — Se precisar, falo com você.
— E comigo? — Colin questiona do outro lado. — Eu sempre sobro por
aqui, é isso mesmo? — ergue as mãos, dramático.
— Falo com vocês dois, se precisar — pontuo, voltando a atenção ao
monitor, observando a caixa de entrada receber um novo email.
Meu companheiro volta ao seu assento e eu agradeço por isso. Peter
adora ficar vindo em minha mesa.
Não vou negar, Dean Mackenzie é um homenzarrão, mas, o que tem de
lindo, tem de mal humorado. Nunca vi. Nem um desconto me deu. Mas
iludido ele se pensa que desisti. Vou conseguir aquela suíte para os meus pais
custe o que custar.
Talvez eu só tenha pedido do jeito errado. Posso ser mais persuasiva.
Bem mais.
Suspiro e clico para abrir o email com nome de Dean Mackenzie. Não
há nada escrito, somente a assinatura digital e os anexos com as imagens.
Faço o download, jogando tudo para dentro de uma pasta e abrindo em
seguida, para analisar.
Porém, quase caio da cadeira ao ver uma foto em especial. Uma
imagem. É o Dean, eu não sei, mas há uma calça meio erguida demais e o
meu queixo está ao chão com o volume logo abaixo da barriga.
— Não abram o email! — eu grito, meus dedos trêmulos indo para a
página do navegador e excluindo, depois excluindo da lixeira.
Meu Deus…
— O que foi? — Colin me olha por cima de seu monitor. — Por que o
berro, sua doida?
— Era um vírus! — explico, levando uma mão ao peito, sem ar. — Uma
tora cavalo — balanço a cabeça. — Cavalo de tróia.
Peter emite um som de deboche, mas me alivio um pouco quando os
dois me ignoram e voltam aos seus trabalhos.
Abro a imagem de novo, espionando antes para ver se não tem ninguém
em volta, então é mesmo uma foto inadequada, me deixando com a boca
aberta.
Apago permanentemente do computador e volto ao email, esquecendo
que acabei de fazer a burrada de apagá-lo. Como é que vou pegar as
informações da arte? Burra.
Me levanto e vou até a sala do meu chefe, dando três batidas antes de
abrir a porta.
Ele já está olhando em direção, com um olhar nada amistoso.
— Algum problema? — questiona.
— Sim, eu acabei de perder o email do Sr. Mackenzie, sem querer. Hm,
sabe, o antivírus detectou como uma possível ameaça. — Estou
imediatamente péssima por omitir a verdade. Sim, omitir, porque isso ali era
de fato uma ameaça. Uma de eu ir para o olho da rua. — O senhor, por acaso,
teria o cartão dele?
Sr. Hume bufa e diz alguns praguejos em voz baixa, mas inclina o corpo
e abre uma gaveta embaixo da mesa, estendendo a mão para mim em seguida.
— Aqui — fala.
Eu vou depressa e pego o cartão de visitas.
— Obrigada, Sr. Hume — agradeço, então dou meia-volta e volto para
minha mesa, vendo de relance Colin em seu celular entre risinhos. Deve estar
de papo com a namorada de novo. Ele sabe que nosso chefe não gosta e
insiste em arriscar.
Ignoro a cena e sento em minha cadeira, pegando meu celular dentro da
bolsa e discando rapidamente o número do Dean. Ou de sua empresa.
Uma voz feminina me atende.
— Oi, eu gostaria de falar com o Sr. Mackenzie, por favor — peço, um
pouco suada ao lembrar da foto. — Sou a designer que ele contatou ainda
mais cedo.
Ela pede que eu aguarde e começo a roer as unhas, nervosa enquanto
espero.
Está tudo bem. Foi um engano. Ele não fez por querer. Deve ter enviado
e nem viu.
— Recebeu a foto?
Eu dou um pulo da cadeira ao ouvir a voz sussurrada, meu coração
começando a palpitar mais rapidamente.
Ok. Concentração. Tudo certo. Tudo bem.
— Eu… — engulo em seco. — Hm… Perdi o seu email, pode enviar,
por favor? O email. Me falar. Eu vou. Anoto aqui, o seu email. De novo.
— Por que perdeu o email?
— Hm… Ahn... Porque eu excluí.
— Por que excluiu?
— Porque… — hesito. Não tenho que estar embaraçada. Ele tem. —
Recebi uma foto diferente e precisei excluir por questões morais e éticas, Sr.
Mackenzie.
Ele dá um riso baixo e grave, altamente masculino e eu me remexo no
assento.
— Onde conseguiu meu número de recepção?
— No seu cartão. Peguei com meu chefe.
— Devia ter olhado mais atentamente. Meu email também está lá.
Pego o cartão e olho, me sentindo burra porque realmente tem.
— Eu não vi. Peço que tenha mais cuidado com o que envia para o
email de nossa empresa, por favor, pois é de posse de todos os olhos daqui de
dentro.
— Mas a minha foto só ia atingir você, então dane-se que os outros a
vissem — ele troveja e eu me encolho. — Não gostou de saber o efeito que
me causou?
Minha boca se abre, então pisco algumas vezes, muito embaraçada.
— Não sei… — engulo em seco. — Exatamente o que eu causei.
— Quer que eu diga com palavras ou prefere ver pessoalmente?
Desacreditada, eu desligo o celular e coloco calmamente sobre a mesa,
encarando o aparelho por um tempo até me dar conta de que estou queimando
por dentro. Me levanto e vou até o canto de nossa sala, onde fica o filtro,
desesperada por algo que molhe minha boca seca.
Dean Mackenzie é louco ou... É louco.
Já mais calma, volto à minha mesa e sento em meu lugar, respirando
fundo e abrindo o photoshop, para iniciar a arte.
Envio um novo email para Dean, questionando as informações de
tamanho, dizeres e layout.
Suspiro, jogando uma das fotos no programa e dando umas respiradas
fundas para esquecer a voz rouca e sussurrada, somada a foto suculenta.
Droga...
Eu não vou mentir sobre meu próprio eu. Sou uma virgem totalmente
safada. Falo sério. Vou correr aos finais de semana nas ruas só para ver os
homens bonitos que decidem fazer o mesmo. O que posso fazer? O que é
bonito tem que ser mesmo apreciado. Olho todos e babo mesmo.
Mas, é claro, isso é algo que não compartilho publicamente. Sou uma
virgem safada, porém contida. Só que, caramba, ninguém nunca tinha feito
isso comigo. O que Dean fez. Quer dizer, ele é um cliente. Isso é totalmente
errado e inapropriado — apesar de eu querer que não fosse.
Mais alguns minutos e volto ao navegador, vendo o email respondido e
meu coração palpita.
Abro e estou um pouco descrente ao ver a mensagem escrita. É um
pedido por meu número porque ele acha melhor do que ficar respondendo o
email que tem que abrir toda hora.
Bem, é verdade. Eu concordo.
Dou de ombros e respondo, enviando o meu número.
Não demora dois minutos e meu celular vibra, notificando uma nova
mensagem.

555-6432: De quais informações precisa?

555-4328: Primeiramente, o tamanho e largura

555-6432: 22cm, 5cm larg

Estreito os olhos, confusa.

555-4328: Isso é muito pequeno! Eu pensei que ia ser um negócio


grande!

555-6432: É enorme

555-4328: Pois eu discordo. Isso não deve dar nem pra uma
bandeirinha
555-6432: Eu te garanto que é enorme…

555-4328: Vc é doido ou n estudou!

Bufo, em descrença.
Que merda de outdoor é esse?
Esfrego a testa, aflita, então olho para o celular quando vibra e, bem,
posso estar desmaiada.
É uma outra foto.
Do… Lambo os lábios. Isto é…
Puta merda.

555-6432: Eu disse que era enorme.

Estou desacreditada, tentando fechar a boca.


Ele é um pervertido e safado.
E estou ainda perplexa por perceber que gosto disso. Oh, droga…
Respiro fundo, tomando concentração.

555-4328: Se continuar com isso, vou avisar ao meu chefe e


colocar vc pra trabalhar com um dos
meninos!!!!!!

Tento ser enfática, não sabendo se obtive êxito.

555-6432: Não gostou da foto? Eu tiro outra

Então dou risada, porque não tenho muitas outras opções.

555-4328: Não estou aqui para ver seu órgão genital e sim para tra-
ba-lhar

555-6432: Você está trabalhando, apenas pegando as informações


necessárias…

Dou risada.

555-4328: Eu n estou achando graça


555-6432: Nem eu. Te pego às sete, quando você sair. Até lá

555-4328: O quê!!!!? E as informações? Pegar quem? A mim


não vai ser

Balanço a cabeça quando os minutos passam e não recebo mais


nenhuma resposta, então me concentro em ignorar completamente o Sr.
Mackenzie e suas artes que nunca vão existir, em minha opinião. É um
grande trabalho, mas também acho que obtenho um grande êxito ao fazê-lo.
Acho.
Capítulo 6

Talvez seja um pouco estranho o que eu fiz, mas, o que mais seria? Eu
não consegui definitivamente tirar aquela bunda branca e bonita da minha
cabeça por nenhum minuto. Mesmo tentando e mesmo querendo focar em
outra coisa. Não obtive êxito.
Suspiro derrotado e observo quando a garota sai pela porta de vidro e
imediatamente percebo que está cautelosa. Muito. Ela olha para os lados e
então leva os dedos à boca, parecendo roer as unhas. É o momento perfeito.
Saio da minha Ferrari e atravesso a rua, me aproximando dela.
— Procurando alguém? — pergunto e a vejo ter um sobressalto, levando
a mão ao peito.
— Meu Deus — me olha, mas logo desvia. — Não faça isso. Meu
coração pode não aguentar.
— Estava me procurando?
— Não — ela dá um sorrisinho sem graça. — Estava vendo se vinham
carros para… — gesticula. — Sabe, para eu atravessar.
— Sei — concordo, conferindo as horas. — O que prefere, uma
lanchonete ou um restaurante?
Natasha ri. É um riso incrédulo.
— Eu prefiro que você me envie as informações necessárias para o
email para eu poder fazer o meu trabalho.
— Você não está mais em expediente — lembro-a e me aproximo dois
passos. — Sua saia rasgada ficou no meu carro, a propósito.
Ela ergue os olhos para mim e parece um pouco sem reação, mas logo
pisca e balança a cabeça.
— Estou admirada que tenha ficado empinado por causa de uma saia
rasgada.
— Empinado?
— Isso — gesticula para mim. — Você sabe, erguido.
Me aproximo mais, Natasha não se movendo, o que agradeço. Talvez eu
possa tê-la agora mesmo. Seria fantástico. Estou no ponto desde cedo.
— Você quer dizer excitado — corrijo, abaixando a voz
propositalmente, gostando imediatamente do resultado quando ela engole em
seco. — Estou mesmo. Você gostou de ter me feito ficar assim?
Seus olhos piscam algumas vezes novamente e ela lambe os lábios.
Parece muito agoniada e sem reação.
— Eu não… — pigarreia. — Acho mesmo que isso é uma falta de ética.
— Agora estamos tratando como duas pessoas, somente — olho-a de
cima a baixo, vendo seu corpo ter uma tremidinha de leve. — Você é… —
volto aos seus olhos.
— Eu sou…?
— Quer mesmo saber?
— Sim, porque — sorri irônica — até mais cedo eu estava sendo a chata
e sem profundidade que você não queria que falasse, mas parece que depois
que viu minha saia rasgada, eu passei a ser importante.
— Vamos ver quão profunda você pode ser — palpito.
— Me dá licença, Sr. Mackenzie, mas eu não sou só um ser com uma
circunferência para seu órgão de vinte e dois centímetros.
Um riso escapa sem a minha permissão e tampo a boca, tentando me
recompor enquanto ela cruza os braços e me olha, incrédula.
— Falo sério — reforça.
— Eu sei — pigarreio também. — Não pensei que fosse. Sou um
cavalheiro, não pensei só na sua circunferência.
Ela sorri, mas não é verdadeiro.
— Estou excitado, mas ainda posso pensar — digo e o sorriso dela
morre. — Quer jantar? Na minha casa tem muita comida.
Natasha revira os olhos.
— Não vou para sua casa — pensa um pouco —, mas, hoje é dia de
promoção na pizzaria do meu pai. Estou indo para lá, ajudar. Você pode ir, se
realmente está com fome.
— Estou com fome, mas não de comida tradicional — enfio as mãos nos
bolsos da calça e olho bem dentro dos olhos dela, que desvia um pouco, mas
logo voltam para mim. — Você sabe como é.
— Não, eu não sei — nega, então empina o queixo, demonstrando-se
não abalada, o que é uma mentira porque o seu corpo me demonstrou que
está sim intimidada. — Eu estou indo embora agora e espero que quando o
encontrar novamente seja para acertarmos sobre o trabalho e somente.
— Você não vai me dizer se gostou da foto?
Ela sorri.
— Já vi maiores — finge desdém.
— É mesmo? — Estou quase sorrindo pela sua cara de pau.
— Sim, não me impressionou nem um pouco — me olha de cima a
baixo. — Até breve, Sr. Mackenzie.
— Você não vai querer sua saia de volta?
— Pode ficar com ela — dá um sorriso cínico. — É um incentivo para
sua carência — então vira-se e me dá as costas, saindo andando pela rua. Eu
fico parado, processando a cena.
Porém, quero imediatamente me incriminar porque estou sorrindo, e isso
é muito estranho.
Capítulo 7

— Isso é… — Colin diz e dá um riso. — É uma coisa sem justiça, é


claro.
— Injusto, você quer dizer — corrijo, não contendo um sorriso.
— Acho que inadmissível seria o correto — Peter coloca e segura meus
ombros, de uma forma que me sacode um pouco.
— Lamento, garotos, aqui o trabalho é sério e bem feito — deixo claro.
Eles riem.
A nova arte dos cardápios do Bouley está mesmo maravilhosa. É claro
que são as mais demoradas, mas já peguei a manha e faço bem mais rápido
que do no início.
— Como você faz para colocar esses sombreamentos? — Peter
questiona.
— Eu te dou umas aulas depois — pisco para ele.
— Acabou a diversão — ouvimos a voz do Sr. Hume e meus amigos
pulam para seus assentos, eu mantendo minha expressão, porque não estou
fazendo mesmo nada de errado. Muito pelo contrário. — Natasha! — Ele
sempre berra meu nome e eu odeio isso.
— Sim, chefe — aceno, dando um sorriso forçado.
— O Sr. Mackenzie pediu que o encontre em seu escritório agora. Ele
precisa te passar as informações que necessita.
Eu o olho, indignada. Sim, o Sr. Mackenzie. O homem puramente lindo e
louco que me mandou foto do seu membro. É uma coisa muito ridícula e
louca, inclusive porque quase não consegui esquecer.
Me levanto, demonstrando nitidamente o meu choque.
— Gostaria de pedir que o senhor coloque um dos meninos para
trabalhar com ele — peço.
Sr. Hume movimenta as mãos, em um gesto de impaciência e desdém.
— Vai logo — diz e me deixa parada no meio da nossa pequena sala.
Uma grande merda.
Não acredito que vou ter que lidar com ele de novo. Está bem, não vou
negar que estou ansiosa para vê-lo. Quem não ficaria? Apenas que é estranho,
mas vou tentar soar bem profissional. Tem que dar certo. Talvez ele tenha
ultrapassado o limiar do trabalho porque permiti, de certa forma.
Ok. Vamos lá, posso fazer isso.
Pego minha bolsa sobre minha mesa, salvo a arte recém-acabada,
desligo o monitor e dou tchau aos meus amigos, então saio à rua, pegando um
táxi e dando o endereço do cartão.
Serei bem mais profissional.

……

Riqueza e poder. É exatamente isso que o prédio esbanja. Claro, como


se isso fosse novidade com um dono daqueles. Parece que tudo relacionado
ao Dean Mackenzie sempre vai exalar sofisticação e triunfo.
Estou inflando seu ego, ainda bem que ninguém é capaz de ler a minha
mente.
Atravesso as portas escuras de vidro e me direciono para a recepção,
onde sou instruída a ir para o último andar. Olhe só, vou visitar o chefão e
isso é muito excitante — de um jeito legal, é claro.
Entro no elevador e aperto o botão, aguardando as portas se reabrirem e,
quando o fazem, é em uma sala pequena, porém de requinte. Me aproximo da
senhora por trás da mesa e a cumprimento, dizendo meu nome e aguardo ela
contatar o Sr. Mackenzie, me permitindo a entrada.
Agarro minha bolsa mais firmemente e caminho para sua sala, erguendo
a mão para bater, mas não o faço porque a porta se abre e logo tenho um
homem aparentemente muito apetitoso à minha frente.
— Assim que eu gosto. Trabalho imediato — ele troveja e chega para o
lado. — Sra. Carter, seja bem-vinda.
Eu passo por ele, entrando na sala ridiculamente grande e bonita, da
qual duas das paredes são revestidas de vidro, mas minha atenção se volta ao
Dean, que logo chega à sua mesa que está na frente, então toma seu lugar na
cadeira.
— Estou indo a uma reunião agora, você tem alguns minutos.
Fecho a boca que percebi estar aberta porque a culpa não é
definitivamente minha se Dean Mackenzie está parecendo irresistivelmente
gostoso em seu terno escuro contrastando com seus olhos claros. Delicioso.
— Bom dia — sorrio e caminho para perto da mesa, não deixando
passar despercebido seu olhar que me analisa inteira. — Já está com tudo aí?
— Tudo e mais um pouco — ele alisa a barba. — Como você está,
Natasha?
É a primeira vez que ele fala o meu nome e não posso deixar de sentir
uma moleza nas partes... Pernas, quero dizer. Tudo parece soar quente em sua
boca. Imagine a minha própria na dele.
Pigarreio, abrindo a bolsa e tirando meu bloquinho. Sento-me na cadeira
em seguida.
— Outdoor e somente? — o olho. — Pensou sobre o pacote?
— Você pensou sobre o meu?
Dou risada.
— O seu pacotinho, você quer dizer.
Dean estreita os olhos, então se debruça sobre a mesa.
— O meu pacotinho provavelmente te deixaria louca — sussurra e eu
rio de novo, mas por puro nervosismo.
— Deixaria — concordo e imediatamente me sinto envergonhada,
porque ele dá um pequeno sorriso de canto.
— Gostaria de experimentar?
— O seu amendoim? Não, obrigada.
— Por que não?
— Porque eu não te conheço. Você infringiu as regras de trabalho, Sr.
Mackenzie. Devia se envergonhar.
— Eu te levo para jantar e te faço massagem — ele parece um pouco
apressado agora e eu fecho os olhos por um instante porque... Deus, Dean me
fazendo massagem. Eu ia parecer um picolé na calçada em um dia de sol.
— Tentadora proposta, mas não — recuso. Sim, quero. — As medidas?
— O que eu preciso fazer?
Balanço a cabeça.
— Como assim?
— Para te ter na minha cama.
Abro a boca, um pouco impressionada.
— Lamento dizer que o meu lindo corpo não está para leilão. Quanto vai
me enrolar? Preciso voltar ao trabalho.
Ele se esquiva para trás novamente, então sorri. Não é um sorriso
totalmente, mas é um.
— Você gosta de ser conquistada. — Não é uma pergunta e acredito que
não precise de uma resposta. — Não sei fazer essas coisas — ele suspira —,
mas sou expert em dar prazer.
Pisco algumas vezes, olhando em volta por instinto com medo de
alguém testemunhar tal ousadia.
— Certo — balanço a caneta entre os dedos —, vejo que não gosta de
ser contrariado, mas não dou a mínima se é expert, eu também sou e estou
bem comigo mesma.
— Consigo mesma? — Dean arqueia uma das sobrancelhas. — Acha
que pode comparar o que eu dou com o que sente sozinha?
Me remexo na cadeira, algo em mim não querendo seguir com meu
plano.
— Não, eu sou melhor porque eu me conheço — sorrio.
Ele estreita os olhos, então assente.
— Dez por sete — fala. — As medidas do outdoor. Endereço, que está
em anexo no email, e uma frase de efeito da sua criação. Isso é tudo.
— Certo — me levanto. — Gostaria que da próxima vez evitasse que eu
desse viagem perdida para me dizer duas letras. Tchau.
— Não vai ter próxima vez — o ouço dizer quando já estou saindo.
Babaca. É claro que vai haver.
Capítulo 8

— O que está fazendo? — Colin questiona. — Deu seu horário.


Oh, certo. Bem certo. Deu o meu horário, mas Dean Mackenzie fez o
favor de pedir milhões de alterações para sua arte e ainda disse ao Sr. Hume
que queria para imediatamente; sendo assim, meu patrão não vai me deixar
sair sem que o outro aprove a porcaria da arte.
— Estou indo daqui a pouco — dou um suspiro longo.
— Ok — ele aperta meu ombro. — Até amanhã?
— Se Deus quiser — aceno e sorrio, observando meu outro amigo
deixar o local. Estou sozinha com o encrenqueiro do meu chefe que, de
quebra, parece em um sono profundo, pois consigo ouvir seus roncos bem de
onde estou.
Respiro fundo, minha cabeça começando a doer.
Me concentro no que estou fazendo, com a maior atenção para tentar
entender o que exatamente Dean quer. Blábláblá… A logo está pequena,
destaca o nome da empresa, a foto pode ficar mais nítida, o sombreamento
das fontes não está legal. Cheio dos mimimi. Haja paciência…
Ouço o barulho da porta e suspiro.
— Esqueceu alguma coisa, Colin? Ah, é. Deve ter me esquecido porque
estou tendo que ficar aqui além do meu horário por causa daquele
engomadinho gostoso — resmungo.
— Primeiramente, obrigado pelo gostoso.
Congelo na hora, não crendo no que estou ouvindo. Sendo assim, viro a
cadeira e o vejo.
Dean Mackenzie em gostosura e pessoa.
— Segundo — começa a caminhar em minha direção —, o termo
engomadinho soou um pouco ofensivo na sua boca. Terceiro, me desculpa se
eu cobrei nada menos que o seu trabalho.
Eu sorrio, cinicamente, após me recuperar do impacto.
— Olá, Dean. A que devo a honra da sua ilustre presença às onze da
noite no meu trabalho? — cruzo os braços.
— Vim te buscar, para te levar para minha casa e depois para a minha
cama — responde, enfiando as mãos nos bolsos.
Estreito os olhos, não crendo no que ouvi.
— Você o quê?
— Você ouviu. Esquece a arte, eu quero mais você do que essa droga —
seu peito sobe e desce em um suspiro. — Pode ser? Ou você vai dificultar
quando nós dois sabemos que tudo isso vai acabar com você gritando
embaixo de mim?
Então eu rio mesmo, desacreditada.
Eu quero, deveria dizer; e diria, se ele não tivesse se mostrado tão
arrogante até o momento.
Pego minha bolsa e desligo o computador, então me levanto e fico de
frente para ele, Dean mostrando um pouco de falta de ar enquanto me olha de
cima, os olhos claros e brilhantes.
Ele é um gostoso.
— Eu até diria sim e facilitaria a nossa vida, mas — o olho de cima a
baixo —, sabe, eu não consigo sentir o mínimo de vontade por homens
egocêntricos. Quando abaixar a sua bola, aí você me procura e a gente ver
quem grita mais.
Saio do escritório, o deixando lá dentro, parado.
Não vou negar, deve ser esplendoroso ter Dean me dando prazer com
aquele negócio dele que parece muito apetitoso. Porém, é o que é, a vitória
sobre o que é difícil, é bem melhor.
Quando estou prestes a atravessar a rua, meu braço é segurado.
Me viro, já pronta para debater com ele, mas, meu sangue gela ao ver
que, não, este homem definitivamente não é o Dean.
— Algum problema, meu anjo? — eu ouço sua voz no mesmo instante
por trás de mim e sinto suas mãos em minha cintura, me puxando para si.
Estou duplamente estática.
Engulo em seco, olhando para o homem à minha frente, que surgiu do
nada, e ele parece surpreso. Ou seria espantado? Eu não faço ideia.
Respiro fundo e recolho cada grama de oxigênio que posso.
— Oi, pai — digo, rogando aos céus que Dean me solte. Ele é louco. —
Hm, o que o senhor está fazendo aqui?
— Como assim o que estou fazendo aqui? — rebate e olha para o meu
lado. Para o Dean. — Eu vim te buscar. Sua mãe e eu estávamos
preocupados.
Me remexo, tentando sair do contato do Sr. Mackenzie, mas não consigo
porque aparentemente ele está me segurando ainda mais firme depois da
minha declaração.
— Quem é esse aí? — meu pai questiona, apontando com o queixo para
ele.
— Ele é um cli…
— Sou um amigo próximo — Dean me interrompe, então vejo sua mão
se estender. — Estava ansioso para conhecê-lo, Sr…?
— Não é da sua conta — meu pai rosna. Oh, droga. Ele detesta esses
homens melindrosos e engomadinhos.
— Certo — Dean parece impossivelmente mais sério com sua voz
gravíssima, tanto que preciso olhá-lo em repreensão. — Acho que o senhor
deveria ter um pouco mais de educação com alguém que sua filha tanto gosta.
Ele está viajando a cada fala, é só o que posso concluir.
Meu pai segura meu braço e me puxa para seu lado, lançando um olhar
furioso a ele.
— Não gosto que me digam o que devo fazer.
— Ah, então descobrimos algo que temos em comum — Dean está
sendo sarcástico, apesar de continuar sério. Estou entre dois pitbulls que não
vão se importar se precisarem começar uma briga.
— Eu tive que ficar até mais tarde hoje, pai — me pronuncio. — O Sr.
Mackenzie precisa do trabalho o quanto antes.
Mas ele não me ouve, do contrário, fica encarando Dean na mesma
proporção. Acho que eles não se deram bem.
— Vamos embora, Natasha — meu pai me chama. — E eu não quero
mais você trabalhando até essa hora. — As palavras são para mim, apesar de
ele não me olhar, então passa na frente e eu me vejo o seguindo porque, uma
coisa é certa, se ele não gosta de uma pessoa de primeira, nunca irá gostar.
Ainda consigo ver a expressão fechadíssima do Dean, mas apenas o
deixo ali, um pouco assustada por ter quase presenciado uma briga.
Uma briga dele com meu pai. Isso seria catastrófico.

***

Eu estou um pouco preocupada porque ainda consigo a voz do meu pai


berrando para minha mãe sobre como as pessoas ricas acham que podem
mandar nos outros. Bem, me alivio por ser só isso que passa em sua cabeça e
não o fato de que Dean me chamou de meu anjo e me puxou para seu corpo
gostoso... Eu iria querer ver o que tem por baixo daquelas roupas.
Suspiro e me jogo na cama, pegando meu celular para colocar para
despertar, quando vejo que tenho uma mensagem.
Um sorriso é inevitável. Claro que sim.

Dean: Eu não gostei do seu pai

Natasha: é recíproco, ele n gostou de vc tb

Dean: Estamos em um impasse, pois gostei da filha dele. E agora?

Eu sorrio largamente. Ele é um safado e bem idiota se acha que vou cair
em ladainhas.

Natasha: te aconselharia a cair fora

Dean: E quem disse que estou pedindo conselho? Estou com a


sua saia aqui agora e o que eu queria era que você estivesse dentro dela

Dou risada, um arrepio sendo inevitável ao me lembrar do mastro


aparentemente muito suculento.

Natasha: é realmente um lamento que querer n é poder

Então eu começo a rir quando a resposta é uma nova imagem.

Dean: Vai me dizer que você não quer experimentar? Ele está
duro assim por você

Eu ofego, meu corpo se agitando. Ele é um homem quente. Bem


quente.

Natasha: n me impressionou, sinceramente

Dean: Se a foto não te impressiona, só há uma solução…

Natasha: e qual seria?


Dean: Ver pessoalmente. Boa noite

Eu dou risada, fingindo que a mensagem não me abalou; mas, sim, algo
em mim lampejou porque me vejo voltando à galeria e analisando as fotos.
— Meu Deus... — engulo em seco. — Isso é…
Enorme. Pessoalmente, eu posso mesmo não me aguentar. Que ele não
seja louco a ponto.
É o que espero, não que quero.
Capítulo 9

Saio do elevador, tendo o não tão prazer de ver meu irmão. Passo por
ele, seguindo direto para a sala de reuniões, mas, como é de se esperar, ele
logo vem atrás.
— Vai fingir que não me viu mesmo? — questiona.
— A que devo a honra?
Ele passa na frente, até estar ao alcance dos meus olhos, então começa a
caminhar de costas.
— Eu fechei um contrato sem a sua permissão, espero que não se abale
por isso.
Paro no mesmo instante, não tendo muita certeza se ouvi certo,
resolvendo questionar.
— Você o quê?
— Ah — Brandon desvia o olhar. Ele está parcialmente culpado, mas
também orgulhoso da sua própria ação. — Eu não consegui entrar em contato
e — levanta um envelope —, de acordo com as estatísticas, é um bom
negócio. Falei com o Ethan, ele deu um beleza.
— Dane-se o Ethan — grunho. — Você contata a mim.
— Somos independentes — se defende.
— Não — nego, ainda perplexo. — Temos ligações. O que você faz
afeta a mim, o meu comando. Que merda você pensa, Brandon? Tem que
falar comigo!
— Eu não vou ficar recorrendo a você toda hora, cara. Caramba, eu
também mereço um voto. Sou bom no que faço. Nós somos. Por que você
não confia em mim?
Respiro fundo, buscando calma e controle.
Não é bem assim. Eu confio plenamente no instinto profissional do meu
irmão mais novo, porém, sou superior a ele. As decisões que ele toma, se
derem errado, caem para cima de mim. A consequência é minha. Minha
culpa.
— É uma loja de eletrônicos. Estava falindo, mas podemos dar um
jeito… Não é?
— Está com dúvida? — pergunto quase de forma sarcástica. — A
dúvida não ajuda, você sabe.
— Esquece. Eu resolvo. Desisto de tentar provar algo a você. Não
preciso.
Ele sai.
— Aquele era o Brandon? — Eu reconheço a voz imediatamente e me
viro, ficando surpreso e estático ao ver ela. Natasha. Deliciosa em um vestido
preto e colado ao corpo igualmente delicioso. Parece ser. — O cara que você
estava gritando no telefone… Pobrezinho.
— O que está fazendo aqui?
— Você é sempre tão mal humorado? — ela me olha de cima a baixo e
então levanta um notebook. — Vim pessoalmente alterar a arte com você,
assim não tem como ficar errando.
Estreito os olhos.
— É uma péssima ideia — deixo claro e torno a caminhar ao meu
destino.
— Ei, por quê? Não é, não. Eu tenho outros clientes para atender. Não
posso focar meu dia para você.
Entro na sala de reuniões, vendo minha equipe de marketing toda
reunida.
Natasha para na porta e eu gesticulo para que entre. Ela o faz, um pouco
relutante, mas acaba tomando assento em um lugar não muito destacável.
— Bom dia a todos — cumprimento, cordial. Sinceramente, eu nem sei
descrever como estou. Pesado. Cheio. Conturbado. Preciso de algo. — Acho
uma tremenda palhaçada que eu esteja tendo que organizar uma terceira
reunião com vocês no mesmo mês. Acham o quê? Que eu não tenho o que
fazer? Que não presto atenção no que acontece em cada setor? — respiro
fundo, evitando perder a cabeça. — Tempo é dinheiro. Não estou vendo
qualquer progresso mesmo depois que falamos na última vez.
Um braço levanta. O mesmo cara de sempre. Jimmy.
Suspiro e aceno com a cabeça, para que ele se pronuncie.
— Sabe, Sr. Mackenzie, eu sei que de acordo com Hezerbeg, o que nos
faz trabalhar motivados não é o dinheiro, mas, assim… — parece um pouco
acanhado. — Não estou dando isso como desculpa ou nada, mas realmente
acho que deveríamos ser melhores recompensados.
Dou um meio sorriso.
— É mesmo, Jimmy? Melhores recompensados? — me aproximo dele,
os olhos nos seus. — O que você prefere, que eu agende uma massagem ou
que lave os seus pés?
Ouço uma risada, logo sendo substituída por uma tosse.
— Não, se-senhor… — ele treme. — Apenas quis dizer que…
— Que não estamos compensando o seu serviço de merda! — bato na
mesa, alguns tendo um sobressalto. — Acha pouco o seu salário e os
benefícios que a empresa te oferece para o nada que está fazendo?
Olho ao redor, todos de cabeça baixa, menos Natasha; essa me olha de
boca aberta e olhos arregalados.
Volto minha atenção ao homem trêmulo à minha frente e me abaixo
para aproximar meu rosto do seu.
— Isso é realmente uma pena, Jimmy. Que não sejamos suficientes para
sua droga de tempo que não está nos servindo de nada.
— Não é... É...
—Você está demitido. Passa no RH — volto para frente, colocando as
mãos sobre a mesa e olhando rosto por rosto. — Não quero ter que fazer uma
nova reunião na próxima semana e, menos ainda, demitir alguém. Vão
embora e me deem resultados.
Todos levantam rapidamente e Jimmy ainda tenta se aproximar, mas
estendo a mão e ele vai embora.
Respiro fundo, passando a mão na barba baixa, então minha atenção é
atraída para Natasha.
— O que foi isso? — ela questiona, se abanando. — Achei muito
injusto, mas não posso deixar de admitir que foi muito quente.
— Injusto? — repito. — Você não sabe do que se trata, então não me
venha dizer que fui injusto.
— Foi só isso que ouviu? — levanta. Parece surpresa ou espantada. —
Qual o seu problema?
— Eu tenho muitos, Natasha. E, acredite, você não quer saber.
Ela balança a cabeça, seus passos a trazendo para perto de mim, seus
quadris se movendo em uma sincronia perfeita.
— Você parece esgotado. Quer que eu te faça uma massagem?
— Você faria? — Estou cogitando, apesar de quase ter certeza que está
de palhaçada.
— Não, eu não faria, mas sua cara foi impagável — dá risada. — Vamos
ao trabalho?
— Pega seu notebook, vou te mostrar minha sala.
— Eu já conheço.
— Não, você conhece o meu escritório — pisco para ela e saio andando.
Isso pode dar certo.
Capítulo 10

Ligo o notebook e abro o programa, aguardando enquanto Dean termina


de falar ao telefone. Isso é tão surreal. Fala sério. Ele tem uma sala dentro de
uma sala. Não é esquisito?
Quando desliga o aparelho, ele me olha. Não parece estar muito
satisfeito e eu também não, porque tive que deixar o meu posto para vir até
ele. Foi uma ideia maravilhosa, mas não posso dizer que foi minha; e sim do
meu chefe estupidamente puxa saco. Ele praticamente me expulsou para vir
atrás do "Bondoso Sr. Mackenzie". Santa paciência.
— Eu preciso muito de um alívio — Dean fala, muito do nada e de
repente.
— Eu também. Tipo me aliviar de você — sorrio e gesticulo. — Vamos
começar pelo nome. Você me disse que as fontes estão sempre tirando a
essência do que o seu hotel oferece.
— Sim — ele balança a cabeça. — Elas não têm… A totalidade.
— E o que isso quer dizer?
— Golden Garden, não é qualquer fonte que consegue transparecer o
poder de um hotel seis estrelas.
— Bem, então você precisa entrar em contato com alguma pessoa que
crie fontes, para ter uma que te agrade, querido.
— Você está sendo sarcástica de propósito? — ele levanta da poltrona e
caminha até perto de mim, sentando no braço do meu assento. Seu cheiro
todo masculino me atinge em cheio e me pego suspirando fortemente.
— Estou — não o olho e concentro minha atenção na tela à minha
frente. — Devia ter Palace no nome, sabe? Pelo que pude ver e… Notar.
— Eu gostei — Dean concorda muit rápido, me surpreendendo. — Vou
mudar. Gold Palace. Inclua isso na arte. Vou avisar ao pessoal amanhã.
— É sério? — eu o olho, uma pontada de felicidade. — Vai mudar?
— Você me deu uma boa dica. Acho que isso vai atrair mais as pessoas
do que Jardim.
— É, é exatamente o que eu acho! — me viro para ele de corpo também.
— Você não pensa em andar em um jardim de ouro, pelo menos não tanto
quanto em um Palácio!
— Isso — ele concorda de novo e fico estática quando sua mão levanta
e vem direção ao meu rosto. Dean esfrega meu lábio inferior levemente e
prendo a respiração. — Você tem tudo o que eu quero.
Pisco algumas vezes, saindo do transe e tentando buscar alguma
concentração, mas meu cérebro insiste em me lembrar das fotos. As fotos que
ele me enviou.
Estou imediatamente quente.
Ofego disfarçadamente, meus olhos nos seus enquanto ele estuda seu
polegar dançar um pouco pelo meu lábio.
— Você não sente vontade nenhuma por mim? — questiona, sua voz tão
baixa e rouca.
Pigarreio.
— Eu já disse que não é assim que funciona — consigo falar. — Não
posso sentir vontade por você só porque recebo umas fotos e você tem um
rosto bonito.
Estou há muito tempo. Deus me livre de contar que me toquei pensando
nele. Estaria bem ferrada.
Dean assente, só então seus olhos encontrando os meus.
— Me deixa te mostrar o porquê de você ter motivos para sentir a
mesma vontade que eu.
— O que isso quer dizer?
— É simples — ele levanta muito rapidamente e é realmente tudo tão
rápido que quase não processo enquanto o vejo tirar o notebook de minhas
pernas e se ajoelhar à minha frente.
— O quê... — começo, mas não termino ao observar Dean segurar uma
de minhas panturrilhas e levantar, seus olhos voltando para os meus enquanto
ele aproxima o rosto de minha pele e seus lábios encostam-se a ela, a língua
dançando logo em seguida; e eu abro a boca, desacreditada, um gemido de
incredulidade e fogo sendo inevitável.
Agarro meus seios por total reflexo, visto que ficam pesados de repente.
Muito pesados.
Ele sorri, me dando uma mordidinha no lugar logo abaixo do joelho e eu
me derreto.
— Dean… — Eu quero falar, mas não sei o que dizer.
— Hm? — ele agarra a outra perna e massageia levemente, enquanto
persiste intercalando com beijos, mordidinhas e chupadinhas indolores.
Acho que vou chorar... Pelas pernas.
— Eu… — me contorço, anestesiada.
Ele sorri, exercendo mais pressão na massagem, sua mão subindo cada
vez mais, até chegar ao início da minha coxa, e um grito de surpresa é
também inevitável.
— Você é muito cheirosa — ele diz, mas nem parece sua voz usual, e
sim um tom rouco e delicioso, fazendo um efeito imediato em todo meu
corpo. — Relaxa para mim. Somos só você e eu.
Eu deveria rir de desespero, mas meu corpo suplica que eu ceda. Tem
um homem lindo agraciando minhas pernas e — eu tenha sorte —, logo
chega no meio delas. Não posso perder a oportunidade. De jeito nenhum.
Suspiro e tento sorrir. Não sei o que estou pensando com esse gesto, mas
Dean parece gostar, porque emite um som animalesco e que me tira um
gemido longo e sôfrego.
Oh, isso foi tão masculino e quente…
Eu o vejo tirar a mão da minha perna, apenas para levá-la por cima da
própria calça e apertar, gemendo enquanto me deixa uma mordida mais forte;
mas é muito bom e logo estou me impulsionando para frente, minhas mãos
indo para seu peito.
Imediatamente quero suspirar pelo toque quente e duro dos músculos
por baixo do tecido.
— Isso, linda. Me toca — ele pede, baixinho, nossos rostos próximos
enquanto seu hálito levemente doce atinge meu rosto em cheio.
Passo as mãos por seu tórax largo, até abaixo, quase chegando ao
quadril estreito; então subo de novo, me deliciando com sua respiração
desregular em minha pele.
Por pura adrenalina ou curiosidade — ou os dois —, eu começo a
desfazer os botões da camisa branca, mantendo a gravata no lugar. Quero só
ter uma noção do que tem por baixo.
— Você quer me tocar — ele fala. Não foi uma pergunta.
Eu não o olho, tendo noção de que seus olhos estão no meu rosto e não
em minhas mãos.
Começo a respirar com mais dificuldade, principalmente quando Dean
acaricia minha bochecha. É uma coisa muito abrupta e estranha isso que está
acontecendo, mas não quero voltar atrás.
A pele dourada finalmente fica exposta quando puxo a base da camisa
de dentro da calça e então quase choro pela visão que é ter o abdômen sarado
e aparentemente suculento à minha frente.
Olho para cima, para seu rosto, lambendo os lábios descaradamente.
Ele estreita os olhos, agora escuros e brilhantes.
— Gostou? — questiona, um sorrisinho querendo surgir no canto dos
lábios.
— É uma bonita cena — sussurro, estendendo as mãos e as espalmando
sobre sua pele. Nós dois gememos pelo contato. Nossa… é muito diferente do
que pensei.
Aliso-o por um tempo, adorando descobrir como fazê-lo respirar mais
fortemente ou gemer. É uma sensação boa. Prazerosa. Arranho de leve seu
peito e ele grunhe, me assustando quando me empurra para trás e mal tenho
tempo de respirar quando sua boca encontra a minha.
Somente relaxo debaixo do Dean, seu corpanzil sobre o meu na
poltrona, enquanto sua mão puxa minha coxa e a enrosca na cintura, me
causando um calor quase insuportável.
Ele não tem padrão. Seu beijo é rápido, mas logo fica calmo, mudando
no mesmo instante para abrupto e desesperado. Ele geme e grunhe, apertando
minha coxa. Levo minhas mãos ao seu pescoço e enterro meus dedos por
entre seus cabelos, que são tão macios e lisinhos.
Dean geme e morde meu lábio inferior, somente para desviar a boca da
minha um pouco e então ir para meu pescoço, lambendo e chupando.
Estou quase chorando de desejo. Nunca cheguei nesse nível da coisa.
Uns beijinhos, uns toques, nada muito quente. Mas o Dean… Ele é o próprio
fogo.
— Você está molhada para mim? — sussurra em meu ouvido e amoleço
com a pergunta. Se não estava, acabei de ficar.
— Você… — engasgo, seus lábios em minha pele. — Precisa conferir.
Ele dá uma risadinha baixa e grave.
— Então eu vou — declara e eu tremo de expectativa quando começa a
abaixar, beijando todo lugar mesmo por cima do vestido. Agarro os braços da
poltrona, num movimento reflexivo, como se meu cérebro quisesse me deixar
pronta para o que está para vir.
Dean beija meus joelhos e suas mãos passam por debaixo deles, seu
olhar erguendo para encontrar o meu e então ele abre minhas pernas.
Meu peito começa a subir e descer rapidamente, pura expectativa e
ansiedade.
— Ansiosa, linda? — ele questiona. — Quer saber como um homem dar
prazer de verdade a uma mulher?
Estou prestes a gritar um por favor quando praticamente pulo do sofá
com a batida alta na porta.
Merda.
Droga.
Mil vezes a pior palavra que existe!
Dean estava prestes a colocar a boca em mim! Em mim!
Eu vou matar quem ousou nos interromper.
Capítulo 11

— Oh, droga! — Natasha reclama, nitidamente contrariada.


Eu olho para a porta, querendo desintegrar quem teve a audácia de nos
atrapalhar. Que merda estão pensando sem passar pela secretária?
— Deixe que batam — eu seguro suas mãos, mantendo-a no lugar.
Estávamos quase. Mas quase mesmo. Que inferno.
— Abre essa porta, Dean! — a batida fica mais insistente e eu me
levanto imediatamente ao reconhecer a voz.
— Fique aqui. Eu já volto para você — aviso a ela e caminho para a
porta, fechando a camisa depressa.
Respiro fundo antes de girar a chave e virar a maçaneta, encontrando o
olhar do meu pai.
Ele imediatamente percorre seu olhar por mim, parando em meu rosto,
só para erguer a cabeça e olhar dentro da sala.
— O que eu te disse sobre trazer mulheres para o trabalho?
— Não é isso — eu saio para o escritório, querendo fechar a porta, mas
ele me impede. — Pai, ela não é… — balanço a cabeça. — Qualquer mulher.
— Estou me referindo ao fato de Natasha não ser como as mulheres que
Brandon costumava andar.
— Você não me faz a desgraça de arrumar uma garota como aquela
inútil que seu irmão anda, Dean — ele me olha bem de perto, deixando claro
seu aviso.
— É a Natasha, ela não é como elas.
— A Natasha — repete. — Por que você falou o nome dela como
açúcar?
— Não falei — nego. — Pai, o senhor interrompeu algo que não devia.
— Então trate de atender o celular quando eu ligar.
— Eu deixei na mesa — gesticulo. — Não queria ser interrompido.
Ele parece um pouco culpado.
— Tudo bem, desculpa. Mas eu só vim porque recebi uma ligação do
Theodor dizendo que faturou um lucro de oitenta por cento a partir de uma
venda que fez para você. Que história é essa?
Maneio a cabeça, não pensando direito. Não tem como. Ou eu raciocino
ou eu tenho uma ereção, as duas coisas ao mesmo tempo não dá.
— Eu não sei… Não lembro.
Meu pai respira fundo e diz algo em voz baixa. Provavelmente um
xingamento.
— Por acaso o Brandon te ajuda a lembrar de algo na cabeça com
cérebro? — aponta a própria cabeça.
— Brandon — repito. — Ele me disse algo como ter comprado alguma
coisa, sim... Logo cedo. O senhor devia falar com ele sobre continuar
tomando decisões sem me contatar.
— Não, Dean. Eu não tenho que falar com ele, porque a
responsabilidade é sua. Se você não passa moral suficiente, eu lamento, a sua
liderança não está sendo boa.
— Não é isso — protesto, incrédulo. — Ele insiste em querer fazer as
coisas sozinho! Diz algo como eu não confiar nele.
— E você confia?
— Claro que sim!
— Então por que ele continua duvidando? — meu pai aperta meu ombro
de leve. — Não deixei vocês tomando conta do que já foi meu à toa. Seus tios
e eu formávamos uma ótima equipe. Vocês também precisam funcionar.
— Eu tento, mas o Brandon…
— Não, Dean. Nunca justifique sua culpa nos erros dos outros — ele
olha para meu lado, dentro da sala, então sorri muito de repente. — Olá.
— Oi — ouço a voz da Natasha e logo a vejo passar por debaixo do meu
braço, me deixando surpreso. — Acho que deu minha hora…
— Não — nego no mesmo instante que meu pai também se pronuncia.
— Você deve ser a Natasha — estende a mão. — É um prazer. Sou
Brian.
— Sou eu — ela dá uma risadinha e aceita o cumprimento. — Sou a
designer — gesticula. — Gráfica. Sabe, nós estávamos vendo as artes... Do
hotel… Para o outdoor…
— Ah, sim — meu pai concorda, de um jeito que se eu não o conhecesse
provavelmente acharia que ele acreditou, mas está óbvio que é só para que
Natasha não fique tão constrangida, coisa que já está.
— Nós vamos deixar para outro dia? — ela me olha, mordendo o lábio
delicioso, toda ansiosa, e eu, pela primeira vez na vida, sinto muita raiva do
meu pai. Que merda…
— Não — respondo. — Não vamos. Meu pai já vai, não é? — olho-o.
— Pai? — Natasha cospe a pergunta, então também o olha, mantendo a
boca aberta e o analisando de cima a baixo. — Pai?!
— Não seu — ele dá um risinho. — É melhor eu ir andando antes que
você prefira a mim que o meu filho.
Ela ainda mantém a boca aberta e eu grunho em descrença pelo
comentário ridículo.
— Melhor mesmo eu ir — meu pai ri ao me olhar, acenando com a
cabeça e virando, caminhando depressa até nos deixar a sós novamente.
— Pai? — Natasha me olha. — Ele era seu pai?
— Por que você está surpresa?
— Porque — ela ri, abanando as mãos, um gesto de agonia — se você
puxar a ele, eu nunca vou querer te deixar.
Ela para no mesmo instante, se dando conta do que falou, então diz algo
baixinho e me olha.
— Não foi o que eu quis dizer.
— Muito tarde, você já falou — caminho para ela e a pego em meus
braços, louco por ter ouvido o que acabou de sair dos seus lábios.
Capítulo 12

Dean me leva para a sala novamente e, dessa vez, senta na poltrona, eu


me acomodando sobre seu colo. É um pouco desconfortável, mas gosto
quando suas mãos apertam minha cintura.
Eu o olho e tento sorrir, mas só tento mesmo porque estou sentindo o
volume excepcional debaixo de mim. Poderia ser dentro de mim, também.
— Vamos jantar comigo — ele pede em uma declaração implícita, a voz
rouquíssima e gostosa. — Você quer?
— Hm — ergo as mãos e apoio em seus ombros, então balanço a
cabeça, de forma a parecer duvidosa. — Eu não sei. Vamos jantar e o quê?
— E o que você quiser — suas mãos sobem por minhas costas e Dean
estreita os olhos. — O que me diz?
— Você é um homem estranho — pontuo. — Não vou levar em
consideração o seu comportamento pervertido de me mandar fotos
inadequadas e vou dizer talvez.
— Por que talvez? — ele questiona um pouco mais alto. — Você quer e
eu também. Qual o problema? Não vai ficar de joguinhos, não é? Nós
queremos e não tenho paciência e muito menos tempo para dizer não para o
que eu tenho vontade. Eu sou um homem resolvido, Natasha. Não vou ficar
brincando com você. Só precisa dizer sim.
Eu me remexo, um pouco incomodada.
— Sim para o quê?
— Para mim — suas mãos repousam em minhas coxas e ele as alisa. —
Vamos lá. Um jantar e uma noite comigo. O que pode dar errado?
— O meu emprego indo para o espaço — dou um riso nervoso e tento
me levantar, mas Dean não permite.
— O seu emprego é o que te preocupa? Não vamos deixar seu chefe
descobrir. Além do mais, isso não é nem da conta dele.
— Política de trabalho, Dean. Não se envolver com clientes.
— Sou seu cliente — ele pontua. Parece quase desesperado por me fazer
dizer sim. — Vai ser bom e gostoso, também. E ninguém vai nos
interromper. Vamos ser só nós em uma noite boa.
— Isso parece… Legal — eu engulo em seco, porque, apesar de querer
muito, não espero ter minha primeira vez banalmente.
— Vai ser — ele quase sorri. — Então é um sim?
— Pode ser. Quando?
— Sexta — Dean confere o relógio. — Eu vou me adiantar o máximo
que puder para ficar livre o quanto antes.
— Ok, mas… — tusso um pouco. — Você não vai continuar?
— Continuar o quê? — ele ergue as sobrancelhas, desentendido.
Recolho as mãos de seus ombros e então gesticulo.
— O que estávamos fazendo…
Ele sorri. Um sorriso lindo e cheio de malícia. E eu me surpreendo,
porque gosto muito.
— Eu não vou continuar agora, porque você pode resolver desistir de
jantar comigo.
— Se você for tão bom, vai ser totalmente ao contrário — protesto, um
pouco contrariada.
— Pelo lógica, sim. Mas, pela minha lida sobre você, posso apostar que
gosta de bancar a difícil e eu não tenho muito para isso. Já disse e vou repetir
— ele abranda a voz —, eu sou resolvido e sei o que quero.
— E o que você quer?
— Você — Dean se remexe um pouco e eu engulo em seco ao sentir a
pressão.
Bom. Muito bom.
— Você está enganado, no entanto. Eu não sou do tipo que faz
joguinhos. Estou apenas tentando achar uma razão lógica para sair com você.
— Nós nos demos bem de um jeito diferente — ele dá de ombros. —
Vamos manter isso, assim, do jeito que está.
— Do jeito que está? — balanço a cabeça. — Não quero entender o que
você quer dizer, mas, tudo bem, podemos jantar.
— Ótimo. Eu quero que fique aqui fazendo seu trabalho. Vou ligar para
o seu chefe e avisar.
— Não é tão simples. — Estou um pouco perplexa. — Eu tenho outros
clientes.
— Eu sou especial — as pontas de seus dedos projetam um carinho
quase intocável em meus braços e me arrepio. — Você não acha?
— Acho que você é exagerado. Não é porque quer uma coisa que ela vai
funcionar exatamente do seu jeito.
— Sim, é sim. Eu tenho e faço o que está ao meu alcance, Natasha —
Dean parece bem sério, tendo certeza de sua própria resposta. — Você vai
entender que é exatamente assim.
Sorrio. Ele pode achar o que quiser.
— Está bem — tento me levantar novamente. — Vou terminar logo a
sua arte.
Dean, porém, rodeia meu corpo com os braços e levanta comigo, me
colocando sentada onde estava.
— Gosto da sensação de que você esteja aqui — ele beija o canto da
minha boca e endireita-se, as mãos ajeitando a própria blusa, então respira
fundo. — Vou focar no trabalho para ver se resolvo esse problema — aponta
a calça e eu olho, me assustando um pouco.
É mesmo grande.
— Ok — eu sorrio, estendendo os braços para pegar o notebook, toda
trêmula.
— Você deve ser ótima e bem gostosa na cama — ouço-o dizer por
último, então sai.
Eu começo a rir de nervoso. Talvez eu esteja ferrada e tenha entrado em
uma enrascada.
Droga…
Tomara que não seja assim.

***

Me levanto, já com a bolsa no braço e o notebook guardado. Abro a


porta e vou para o escritório do Dean, porque realmente preciso ir embora. Já
passa das sete.
Mas logo paro quando vejo que ele está exaltado com alguém no
telefone.
— Não, não foi totalmente minha a culpa. Eu vou resolver, já falei. O
quê?! — Ele levanta e eu até dou um passo para trás. — Você acha que isso é
motivo? Dane-se, Ethan! Eu não estou nem aí! Chega dessa merda. Eu não
vou ficar ouvindo nada disso — bate o telefone no gancho, o peito subindo e
descendo de forma errática.
Respiro fundo, um pouco em dúvida do que fazer; mas decido, por fim,
caminhar até a mesa onde ele está.
Seu olhar claro se ergue para mim e Dean me encara, sério e impassível.
E muito lindo.
— Estou indo embora — aviso. — Eu já enviei sua arte para a produção.
Deve ficar pronta na segunda. O pessoal vai diretamente colocar nos
endereços que você me deu.
— Eu não quero que você vá embora.
— E eu não quero ter que levantar às seis para trabalhar, mas a vida não
é um gênio da lâmpada — dou risada. — Aliás, apesar de ficar bem sexy
irritado, você devia parar de se estressar tanto. Faz mal para o seu coração,
sabia?
Ele respira fundo e começa a caminhar para mim, seu corpo longo e
suculento me deixando como sempre desde que o vi. Ainda estou pesada e
cheia, porque ele me deixou insatisfeita. Eu pensei que ia ter algo mais. E não
teve.
Dean ergue as mãos e segura meu rosto, olhando bem dentro dos meus
olhos.
— Você tem cheiro de baunilha — sussurra —, mas mais doce e único.
Estreito os olhos, um pouco confusa.
— Você é um pouco rápido, Dean — deixo claro, querendo me afastar
do seu toque, mas ele me mantém bem onde estou.
— Por que perder tempo?
Penso um pouco. Não há motivos.
— É verdade — eu concordo. — Mas, assim, vou deixar uma coisa bem
clara para você.
— O quê? — seus polegares acariciam as linhas do meu maxilar.
— Se vamos jantar, é com uma condição.
— Qual? — Ele parece apreensivo.
— Que você aceite o pacote das artes e me dê um desconto na suíte
máster para eu poder dar de presente a noite para os meus pais.
Ele bufa imediatamente, parecendo incrédulo, então se afasta e senta na
ponta da mesa enorme.
— É sério, Natasha?
— Pareço estar brincando?
— Eu não gostei do seu pai — ele fala, dando a entender ser mesmo
sério. — Parece, para mim, que se eu quiser ter você, ele não vai permitir.
Mas também vou deixar uma coisa clara para você, o que quero, eu consigo.
Balanço a cabeça um pouco desnorteada e cruzo os braços.
— Isso é muito esquisito — saliento. — Nós mal nos conhecemos e
você pareceu uma pessoa antes, e está me mostrando outra agora. Cadê a
história da flor de lótus?
Dean parece relaxar.
— As coisas são como são, Natasha. Você me atraiu e estou
correspondendo a isso. É um problema para você?
— Eu não sei — sorrio. Estou sem entender, é óbvio; mas, parece que
ele está atraído por mim, então essa deve ser a hora que eu agradeço pelo meu
trabalho. — O meu pai é um problema para você me dar o desconto?
Ele bufa novamente.
— Você empacou nisso. Olha, se eu for te dar desconto, não vai ser uma
troca, porque eu quero que você queira minha companhia e não apenas a
esteja tendo como um sacrifício — ele levanta, voltando para perto de mim.
— Outra coisa, nunca faça isso de querer trocar a sua pessoa por uma coisa
material. É até um pecado.
— Você é um fofo — eu sorrio e Dean faz uma careta. — Sabe que
tenho um gato e ele tem as suas bochechas — levanto as mãos e seguro seu
rosto. — Seus olhos são como de gatos, também. Seu gatão.
Ele ri, segurando meus pulsos.
— Você precisa parar de falar coisas como uma doida, Natasha — suas
mãos agora rodeiam minha cintura e ele me puxa para seu corpo. — Posso
dizer uma verdade? — inclina a cabeça para falar ao meu ouvido, um
sussurro baixinho e delicioso.
Estou pingando. Ele é um homem muito quente e ousado. E eu gosto
muito disso porque flui como se fosse algo muito natural, mesmo não sendo.
É como se já nos conhecêssemos e fôssemos acostumados a nos tocar
intimamente — o que é mesmo estranhíssimo.
— O quê? Me conta — levanto os braços e rodeio seu pescoço, Dean
pressionando mais ainda seu corpo ao meu. É tããão bom…
— A verdade é que quero muito fazer amor com você. Muito mesmo —
ele morde minha orelha e eu estremeço bem onde estou, meus olhos
arregalando.
Ferrou. Eu não pensei que ele fosse falar. Certo, não com essa voz no
meu ouvido como se estivesse cantando. Não estava esperando isso.
— Por que você ficou tensa? — ele se afasta um pouco para perguntar.
— Pensei que quisesse também.
— Eu quero — digo imediatamente. Rápido demais. — Quero dizer,
sim, quero, mas… — hesito, pensativa.
— Mas o quê? — Dean quase parece sem paciência. — Qual o
problema, Natasha? Eu não sou um moleque, já falei isso.
— Não é isso. Não é nada. Está bem. Vamos ver no que pode dar.
— Vai dar no que nós dois quisermos — ele acaricia meus braços. — Eu
queria mesmo te levar comigo agora, mas não posso.
— Não pode — eu sorrio, de pura decepção. Imagine só passar a noite
com Dean Mackenzie. Um sonho, com toda certeza. — Mas pode me levar
em casa e poupar minha passagem.
Ele dá um risinho e se afasta de repente, seus olhos me percorrendo de
cima a baixo várias vezes, então balança a cabeça.
— Certo, eu vou te deixar em casa — afirma e vai pegar o seu paletó e a
maleta.
Que droga… Nem para casa eu queria ir, principalmente depois dessa
conversa e desse dia.
Capítulo 13

— Seu carro é muito confortável — Natasha diz assim que estaciono em


frente à sua casa. É uma residência localizada em um quarteirão um pouco
distante de onde moro, mas parece muito agradável. Não é um condomínio,
mas não deixa de ser em um lugar civilizado.
— Eu sei. Você quer que eu te acompanhe até a porta? Está meio
escuro.
— Eu quero — ela sorri e saímos do carro, começando a caminhar lado
a lado pelo caminho estreito. — Eu gostei do meu dia. E foi por sua causa.
Então, obrigada.
Eu a olho, feliz por ter ouvido isso. Alguém agradecendo pelo dia ter
sido bom por minha causa. É uma boa sensação.
— Sempre que quiser. Obrigado a você também — eu paro, Natasha
fazendo o mesmo.
Ela parece um pouco cansada, seus cabelos estão meio bagunçados,
nada que não a deixe mais bonita do que já é.
Aproximo-me dela, que sorri.
— Você gosta de sorrir — saliento.
— É uma boa atividade. Faz a gente viver mais. Você devia tentar
qualquer dia desses — dá uma risadinha e cruza os braços.
A aproximação é óbvia, mas não é como se eu precisasse tocá-la.
Nossos olhares um sobre o outro parece nos… Eu não sei… Conectar. E isso
é uma coisa muito, muito, estranha porque eu nem a conheço. Nós somos
apenas cliente e funcionário. É uma coisa assustadora quase.
— Você quer falar alguma coisa? — ela questiona, agora mais suave. —
Parece um pouco irritado.
— Não estou. — E não estou mesmo. Muito pelo contrário. Ela me
deixa leve. E, como eu disse, isso é muito estranho para mim. — Nós vamos
jantar na sexta, então… Você quer que eu te pegue aqui ou em outro lugar?
Natasha olha para o lado, para sua casa, então suspira fortemente. Seus
olhos voltam a encontrar os meus e ela me analisa por um pouco de tempo.
— Talvez não pareça comum, mas, para que eu possa jantar com você,
meus pais precisam deixar, então... — ela gesticula, parecendo um pouco
receosa.
— O seu pai vai ser um problema — concluo.
— É... — ela ri, meio sem graça. — Talvez se você não tivesse me
chamado de "meu anjo" e o encarado tão à altura.
Eu concordo.
— Desculpe, eu não tive que agradar qualquer outro homem além do
meu pai e… — hesito, tendo cuidado no que vou falar porque não quero
transparecer nada errado, como algum tipo de sentimento. — E também não
esperava que fosse ser assim, que você precisasse que ele aprove, entende?
— Eu entendo — ela assente. — Ele não necessariamente precisa saber,
mas gosto de ter minha consciência limpa.
— Isso é bom — olho para a casa, as luzes de duas janelas acesas. —
Você acha que eu devo falar agora?
— Não — ela dá um riso esganiçado. — Hoje ele chegou tarde e deve
ter dado muito movimento na pizzaria. Deve estar um poço de estresse.
— Então é melhor deixar para sexta?
— Sim — Natasha sorri. — Acho que sim. Mas, não se preocupe, ele
late, mas não morde. É tipo você, sabe?
— Eu também mordo, mas só se você quiser.
— Que atrevido, gatão — ela levanta as mãos e arranha meu peito, uma
brincadeira, mas que cola nossos corpos e me deixa quente, então circundo
sua cintura com os braços e a puxo para mim. — Dean... — suspira.
— Gosto que diga meu nome — inclino a cabeça e coloco em seu
pescoço.
— Gosto de dizer seu nome — ela acaricia meus cabelos, um
relaxamento surreal me invadindo enquanto fecho os olhos e inalo seu
perfume e calor. É muito bom.
— Eu queria você na minha noite.
— Há momento para tudo, Dean...
Eu concordo e ela me deixa ficar pelo tempo que quero abraçado a ela,
eu só saindo quando acho que já se passaram muitos minutos.
Natasha parece cabisbaixa quando a olho, então abaixa o olhar.
— O que foi? — questiono.
— Não é nada. Eu preciso mesmo ir. Boa noite, Dean — ela sai e me
deixa parado, sozinho e triste, porque é muito ruim a sensação de vê-la sair
de perto de mim.
Não gosto nem um pouco, mas volto ao meu carro mesmo contrariado e
trato de dirigir para casa.
Capítulo 14

Estou com as mãos trêmulas. É inevitável.


Dean está vindo a caminho da minha casa, enquanto o espero bem na
porta. Ele está lindíssimo. Não que já não seja, mas, no momento — depois
de dois dias sem vê-lo —, parece bem mais. E o tempo... É como se
estivéssemos há anos sem nos ver e isso me enche de pavor. É muito
estranho.
— Natasha — meu nome em sua voz. Parece um trovão brando, sereno
e potente. Eu não sei. É muito diferente.
Pisco algumas vezes, seu perfume me inebriando, então sorrio.
— Oi, Dean — o cumprimento.
Ele ergue as sobrancelhas e estreita os olhos, em um sinal de
estranhamento, ao mesmo tempo em que abre os braços.
— Não vai ter abraço? — questiona.
Sorrio e me aproximo, o abraçando. Meus olhos se fecham assim que
nossos corpos se colam, o dele tão quente e macio, me causando tantas
sensações boas e agradáveis. Mais que isso...
— Como você está? — pergunta enquanto suas mãos dançam pelas
minhas costas, de cima a baixo. — Além de linda e perfeita, é claro.
Suspiro e me afasto, sorridente. Ele está feliz? É o que parece.
— Eu, bem. E você?
— Meu dia foi uma grande merda, mas me concentrei na noite.
Dou um risinho, porque não me resta mais nada. Eu estou tremendo um
pouco. Não imaginei que me sentiria assim, mas, é estranhíssimo.
Dean gesticula para trás de mim.
— Vou poder falar com seus pais agora?
— Sim — eu assinto, muito nervosa. Não falei ao meu pai que é o
mesmo cara que o desafiou, então só posso torcer para que ele não se exalte
muito e me permita ir. — Pode entrar.
Eu caminho para dentro, indo na frente até a sala de estar, onde logo
vejo minha mãe com suas caixas de objetos para customizar. Este é o hobby
dela. Já meu pai, está sentado em sua poltrona especial ao lado da lareira,
lendo um jornal. Ele parece bem concentrado enquanto estreita os olhos.
— Boa noite, Sr. e Sra. Carter — Dean troveja atrás de mim e eu
praticamente dou um pulo.
Oh, meu Deus.
Meu pai imediatamente ergue o olhar, o semblante se fechando quando
focaliza meu par.
Dean nem se importa, passa por mim e caminha até ele, estendendo a
mão.
— Bom vê-lo novamente — diz. — Não tivemos a oportunidade de ser
apresentados civilizadamente. Me chamo Dean Mackenzie e sou eu que vou
levar sua filha para jantar hoje.
Meu pai olha para sua mão e para seu rosto, então dá um riso de
deboche, levantando no mesmo instante.
Dean retrocede um passo, mas mantém o rosto erguido. Eles se encaram
frente a frente, e eu junto as mãos uma na outra, aflita e nervosa.
— Não gostei de você, rapaz — meu pai cospe a declaração. — Muito
audacioso para o meu gosto.
Ele dá um pequeno riso, deboche puro.
— Bem, então vamos agradecer que eu precise ser do gosto da sua filha
e não do seu.
Abro a boca, desacreditada. Ele não disse isso...
Meu pai estreita os olhos. Fúria.
— Você acha que vou deixar minha filha sair com você?
— Por que não? Só por não ter ido com a minha cara? — Dean se
aproxima o passo que retrocedeu. — Eu a respeito e é isso que deveria levar
em consideração. Entrei civilizadamente, mas o senhor já veio como um
animal. Quer ser tratado por igual, eu jogo o seu jogo — ele maneira o tom.
— Mas, eu vim para levar a Natasha para jantar e não saio sem ela.
— Oh, nossa — minha mãe se manifesta, provavelmente no mesmo
estado que eu, com medo da reação do meu pai.
— Ela não vai — ele declara, começando a respirar irregularmente,
tomando controle de si, eu tenho noção.
— Não? — Dean me olha. — Quantos anos você tem mesmo, linda?
Ah, acho que é vinte e três — olha meu pai. — Sabe o que significa, Sr.
Carter? Que ela tem vontade própria, portanto, se ela quer ir, o senhor não vai
poder impedir. Agora, é claro, eu estou aqui porque gostaria de levá-la com a
sua permissão, apenas seja um bom pai e um homem civilizado, e permita
esse obséquio.
Estou com o queixo no chão, é notável. Minha mãe não está diferente.
Até tirou os óculos de grau.
Ele está louco.
— Não gosto mesmo de você — meu pai está praticamente relinchando.
— Você quer ir, Natasha? — ele não me olha, e sim continua encarando o
Dean.
— Sim — tusso para que minha voz saia mais firme. — Sim — repito.
Eu não posso ter certeza, mas posso quase sentir Dean sorrindo.
Eles se encaram por mais um tempo, então meu pai quebra o silêncio
com uma declaração um pouco estranha.
— Se você magoar a minha filha, por qualquer motivo que seja — ri e
eu sinto medo —, você deixará de ser um homem vivo.
— Ameaças não me abalam, Sr. Carter. Mas não pense que tenho a
intenção de magoá-la.
Meu pai me dá um olhar e então simplesmente se vira e sai da sala,
deixando seu jornal jogado na poltrona.
Dean vai até minha mãe e a cumprimenta, parecendo bem tranquilo. Ela
está um pouco alheia, mas é gentil com ele, eu percebo. De novo ele vem em
minha direção, segura minha mão e me conduz pelo caminho de volta ao lado
de fora.
Nós caminhamos até seu carro em silêncio absoluto e ele abre a porta
para mim, eu entrando e colocando o cinto, tudo de uma forma muito
automática.
— Obrigado por dizer sim — a voz dele está ao meu lado e eu viro o
rosto, vendo-o tão perto, seus olhos claros nos meus. — Saiba que tenho
apenas uma intenção com você — seu rosto inclina para o lado, Dean falando
em meu ouvido — e ela inclui prazer e muito carinho.
Engulo em seco, derretendo bem onde estou. Oh, céus...
— Só não vou te beijar aqui e agora porque quase posso ter certeza que
seus pais estão nos olhando pela janela — ele suspira. — Mas ainda posso
sentir o gosto do seu beijo.
Respiro fundo, desviando o olhar e logo sentindo o carro entrar em
movimento.
Ok. O que pode dar errado?
Capítulo 15

Dean estaciona e logo a porta ao meu lado está sendo aberta, não por
ele, mas por um daqueles caras bem vestidos e que parecem muito
profissionais. Eu sorrio, estranhando, mas logo desço do carro e em instantes
ele está ao meu lado, entregando a chave de seu carro para o senhor.
— Sr. Mackenzie, boa noite — o cumprimenta, depois de sorrir para
mim.
— Oi, Gordon — ele devolve, enquanto sinto sua mão chegar à minha
cintura e sou puxada para junto dele. — Que noite linda, não?
— Certamente — Gordon concorda e logo sobe os degraus atrás de si e
abre uma porta de vidro, me fazendo perceber que nós vamos entrar no
prédio gritantemente chique e requintado de vários andares.
Mas, é claro, o que posso esperar do dono de um Palácio? Nem deveria
estar impressionada, mas, creio que para quem tem uma vida normal com
uma casa comum, é impossível não ficar boquiaberta.
Dean me incentiva a caminhar, então se despede do homem e nos
conduz para dentro, meu queixo tentando se manter no lugar quanto vejo
interior do local. Não é um restaurante, como pensei.
— Pensei que fôssemos a um restaurante — eu viro a cabeça para falar
com ele, mas Dean apenas mantém a expressão séria e fechada enquanto nos
conduz pelo hall de recepção e logo para as portas de um elevador.
Estou um pouco agoniada, mal conseguindo enxergar as coisas por conta
do meu anseio. Eu não sei o que esperar dessa noite. Até aqui, já foi
surpreendentemente diferente. Dean enfrentou o meu pai. Novamente. Ou
melhor, o desafiou. Isso é muito estranho.
— Dean, você precisa me dizer que lugar é esse — falo olhando-o assim
que as portas se fecham, então ele aperta mais minha cintura, me fazendo dar
um resmungo, que é imediatamente substituído por um som surpreso quando
sua mão desce para minha bunda, descaradamente.
— Nós estamos indo jantar — seu rosto se vira para mim e ele dá um
meio sorriso, me olhando de cima. — Não foi o que eu falei?
— Isso aqui não parece um restaurante.
— Eu não mencionei restaurante — balança a cabeça e volta a olhar
para frente.
Eu poderia berrar ou começar a ficar preocupada, mas não é uma coisa
muito possível quando se tem Dean ao lado. Ele é seguro e essa segurança
passa para mim. É como se eu não devesse me sentir mal, porque não existe
motivo, por ele estar ao meu lado. Isso não parece fazer qualquer sentido,
principalmente porque não o conheço.
Respiro fundo e aguardo, meu corpo esquentando enquanto a mão dele
sobe de volta para minhas costas e ele começa a me acariciar. É um carinho
bom, a mão grande e quente me fazendo suspirar.
— Você está mesmo linda — troveja e as portas se abrem, nos
apresentando um corredor. — Vamos.
Eu caminho, sua mão não largando minha cintura em qualquer
momento, até que percebo que estamos indo em direção à única porta que
tem no local. Ela é bem mais larga e mais alta que as comuns e de uma
madeira maravilhosa, vinho em verniz. É uma coisa linda que só.
Quando nos aproximamos, Dean abre a porta, eu entrando de uma forma
automática.
— Nossa — minha boca também se abre logo que dou o primeiro passo.
— Nossa! — repito.
— Bem-vinda ao meu lar, deusa da noite — eu mais sinto do que ouço
sua voz bem ao lado do meu rosto.
— Isso é… — engulo em seco.
— Nossa noite — Dean me vira e imediatamente engasgo quando sua
boca se choca contra a minha, uma mão sua avançando para minha nuca
enquanto a outra agarra minha cintura e ele me inclina para trás, beijando-me
de forma quase dolorosa.
Estou nas nuvens.
Ergo as mãos, procurando seus ombros, mas logo sou afastada de novo,
ficando decepcionada.
Dean sorri. É quase um sorriso completo, mas que mostra só alguns
dentes, porém seus olhos brilhando me dizem que ele está sorrindo de
verdade.
— Estou com fome — confesso.
— Que bom, porque eu também estou — seu olhar me percorre de cima
a baixo e quase vacilo sobre os próprios pés. Dean é muito quente. — Venha,
é por aqui — gesticula com uma mão e começa a caminhar pela enorme sala.
Enorme talvez seja pouco. É gigantesca. Uma das enormes paredes —
que dá para uma aparente também enorme varanda, é de vidro. O layout das
cores é suave, em tons claros, mas também escuros, nunca sendo exagerado.
Há um conjunto de sofás em tom marfim, uma mesa de centro, uma estante
embutida que ocupa quase toda uma parede e contém vários aparelhos e
DVDs, além de porta-retratos. Um tapete também se estende pelo caminho
dos sofás à estante. É lindo.
Dean abre uma porta, é a da aparente varanda, então o vento frio logo se
espalha pelo meu rosto, me fazendo suspirar fortemente. É uma boa sensação.
Sinto sua mão espalmar novamente em minha cintura e ele me conduz
para fora, então vejo uma mesinha quadrada coberta por um pano brilhante
que vai até o chão e duas cadeiras. Estou imediatamente sorrindo. Eu não
esperava isso.
— Aqui é o restaurante — concluo, olhando-o.
— Sim — ele responde simplesmente e caminha até uma das cadeiras,
puxando-a e gesticulando para eu ir sentar.
E eu vou, muito contente pelo nosso cenário.
Um jantar abaixo do céu estrelado, como não gostar?
— Eu já volto — fala assim que estou devidamente acomodada e eu o
observo voltar para dentro, meu olhar percorrendo o lugar em volta, e tudo
fica muito óbvio. Nós estamos na cobertura. Eu gostaria de rir, mas estou
aflita.
Passo as mãos no rosto e respiro fundo, tentando manter o foco. Está
tudo bem. Um jantar e nada mais. É só uma coisinha casual com um homem
quente. Não preciso ficar assim.
Depois de alguns minutos, Dean volta. Ele traz uma bandeja grande, que
contém uma panela marrom bonita, duas taças e uma garrafa de vinho.
— Eu espero que você goste porque ainda sou um pouco novo nisso de
inventar receitas — diz, colocando tudo sobre a mesa.
— Aposto que vou gostar — tento sorrir. Eu não sei por que estou me
sentindo acanhada agora. Nem deveria.
Ele concorda e, quando desocupa a bandeja, a leva para o outro lado da
varanda, deixando sobre uma mesinha, voltando para mim. Quer dizer, para
sentar.
Engulo em seco quando olho para ele tão perto, parecendo tão
concentrado enquanto levanta a mão direita para tirar a tampa da panela.
— É algum tipo de massa com molho — me olha e sorri quando me
pega observando-o. — Parece estar gostoso e espero que esteja.
Pigarreio, desviando a vista para baixo, para a panela, então lambo os
lábios porque parece mesmo gostoso.
Dean emite um som de repente, me fazendo olhá-lo de novo.
— Eu estou achando que vamos comer com as mãos? — questiona e ri.
— Eu esqueci os pratos.
Também dou risada, enquanto ele volta para dentro, eu aproximando o
rosto da panela e inspirando fundo. Quero comer.
Balanço as pernas até ele voltar, com dois pratos quadrados e brancos,
dois garfos e uma colher grande.
— Pronto — fala —, agora podemos comer.
Eu aguardo enquanto ele corta um pedaço com a colher maior e então o
molho que é branco escorre para os lados, me fazendo salivar. Acompanho
até chegar ao meu prato e agarro o garfo, tirando um pedaço da massa e
enfiando na boca com gosto.
— Hmmmmm… — solto um gemido, fechando os olhos. Eu não sei o
que dizer.
— Hmmm — Dean me imita e o vejo lamber os lábios quando abro os
olhos. — Bom?
Mexo o garfo no ar, incapaz de me expressar.
— Bom — ele conclui com um sorriso, então começa a comer também.
Por um momento, somos só nós e o barulho dos garfos nos pratos em
meio a noite fria e escura, porém agradável ao mesmo tempo. É uma
sensação inigualável.
— Eu não gosto mesmo do seu pai e não sei o que fazer quanto a isso —
ele diz de repente, quando já estou quase acabando de comer, me fazendo
olhá-lo. — Ele não é um impedimento para mim.
— Impedimento para que, Dean? É só um encontro casual.
Ele estreita os olhos, deixando o garfo no prato, parecendo não gostar da
minha resposta.
— Você já está pensando no fim? — questiona.
— Fim de quê? — dou risada, muito nervosa. — Ao menos se teve um
início.
— O início foi quando eu te segurei contra mim, Natasha — agora ele
parece descrente. — Não acredito que você já pensa em me dispensar.
— O quê? — Estou rindo de verdade agora, também colocando o garfo
sobre o prato.
— Não acredito — Dean repete, então parece agoniado quando olha
para os lados.
— Dean? — Estou perdida. — O que você quer dizer? — pergunto
quando ele me olha de novo. — Nós não temos nada, você sabe.
— Não temos? — ele ergue as mãos. — Eu pensei que você estava se
sentindo comigo, como eu me sinto com você. Senti a reciprocidade. Não
precisa de tempo toda vez para entender alguma coisa, Natasha. Nós temos
uma ligação estranha, mas temos, e eu sei que você sente. Ao menos pareceu
sentir.
Ele parece desesperado e eu estou com a minha boca aberta. Não esperei
que ele fosse ser assim. Isso me parece tão… Sentimental. Dean Mackenzie
aparenta tudo, menos sentimental.
— Você está passando por algum problema? Quer conversar? — eu
pergunto, porque é só o que me resta.
— Conversar? — ele quase sussurra e então se levanta de repente, eu
quase ficando um pouco assustada.
Ele caminha para o meu lado e estende uma mão. Estranho muito
mesmo.
— Dean…
— Me deixa provar para você que não é só um encontro casual — olha
em meus olhos quando fala, e engulo em seco porque os seus parecem muito
penetrantes.
— Ahn... Tudo bem. — Estendo a mão e coloco na dele, que segura a
minha com firmeza, como se não fosse soltar nunca.
Que esquisito… Estou preocupada.
Mesmo assim, o deixo me conduzir de volta para dentro da casa, onde
seguimos da sala para um corredor, que leva a uma série de portas para os
dois lados. Dean nos leva até a penúltima da direita, então abre, exibindo um
quarto grande e bem iluminado.
Automaticamente, retrocedo um passo.
— Eu falei que… — tento começar.
— Por que não, Natasha? — Ele me olha. Parece duplamente
desesperado. Eu não sei o que está acontecendo com ele. — Você não quer?
Eu quero muito.
Balanço a cabeça, já aflita.
— Você tem certeza que está bem? — olho-o.
— Eu pareço não estar? — sua voz está quase um sussurro. — Vai ser
bom, eu prometo.
— Não me preparei para nada disso.
— Eu também não — ele se aproxima, então segura meu rosto entre as
mãos. — Não era o que eu tinha em mente, quero que saiba disso. Apenas
acho que não há motivos para desperdiçar a oportunidade que nos foi dada.
Dou um riso descrente. Embaraçoso.
— Por favor — seus dedos acariciam meu rosto.
Engulo em seco, fechando brevemente os olhos.
Preciso ter noção do que estou fazendo e prestes a deixar.
— Está bem — eu concordo, exalando a respiração muito presa.
Dean também suspira, em alívio, então solta meu rosto e segura minhas
mãos, beijando cada uma.
Algo está errado. Ele não é assim. Não o conheço, mas não preciso para
saber disso.
Ele nos leva para dentro do quarto e fecha a porta, meu peito começando
a subir e descer mais irregularmente quando observo o grande cômodo em
tons neutros, diferente da sala. É tão claro. Ele pode ver até meu esôfago, se
duvidar.
Oh, céus… Levo as mãos ao rosto, aflita.
Dean caminha até mim e me incentiva a andar para trás, logo minhas
coxas batendo em algo macio e caio sentada. Ele me olha de cima, seus
lábios bem juntos e a expressão fechada. É quente, porém estou ultramente
agoniada.
Desvio o olhar para baixo, quando seus dedos começam a desfazer os
botões da camisa branca e logo quero babar quando a pele dourada fica
exposta aos meus olhos pela segunda vez.
Penso em tocá-lo, mas não tenho oportunidade quando se move, as mãos
indo para o colchão, uma a cada lado do meu corpo, então sua boca vem
novamente em direção à minha, eu recebendo um beijo delicioso e calmo.
Estou derretendo, porém apreensiva.
Ele me beija com louvor, gemendo vez ou outra e é um som
maravilhoso, se não fosse minha aflição. Eu vou ter a minha primeira vez. É,
não é?
Afasto a boca para respirar fundo devido à percepção, mas isso não
parece um impedimento para ele, que desvia e me beija o pescoço, meu corpo
amolecendo tanto que caio deitada.
Preciso respirar…
— Você está ofegante — ele morde meu pescoço após o comentário.
Dou um riso baixo, de pura vergonha. É errado estar ofegante? Eu não
sei.
— Você precisa usar camisinha — as palavras simplesmente saem da
minha boca e Dean ergue a cabeça, porém não tenho coragem de olhá-lo.
— Você não toma nenhum medicamento?
Quero rir, porém me contenho.
— Hm, não. — Estou olhando o teto.
— É uma pena. Eu pensei que poderíamos não usar. Não gosto dessa
coisa — ele resmunga e se levanta, então aproveito para inspirar quase todo o
ar do quarto.
Eu não esperava mesmo que seria hoje, nem me preparei. Somente
depilei as pernas e isso é uma vergonha.
— Droga — levo as mãos ao rosto. Eu quero, mas não quero. Não sei.
— Pronto — ouço sua voz e automaticamente olho, então vejo ele me
mostrar o saquinho prateado. — É de maça. Você gosta?
Eu gargalho. Não tem outra opção. Estou nervosa, aflita, apreensiva,
envergonhada e agoniada.
É de maçã.
— Qual a graça? — pergunta, eu me esforçando a parar a cena ridícula.
— Nenhuma — pigarreio, olhando-o rapidamente. É tão… Deus,
diferente.
— Ótimo — murmura e sinto suas mãos em meu corpo inteiro. Ele está
me acariciando.
É tão bom, mas… Fecho os olhos com força e seguro o lençol com as
mãos, por reflexo.
Estou imediatamente tensa quando seu toque chega por baixo do meu
vestido e ele sabe exatamente o que quer quando procura as bordas da minha
calcinha e puxa para baixo.
— Oh, merda! — exclamo, minhas pernas se juntando uma na outra.
Dean solta uma respiração forte e sinto suas mãos em minhas coxas,
acariciando. É bom, mas, merda, parece estar indo muito rápido.
— Natasha? — É o meu nome em uma pergunta. — Abra os olhos,
boneca.
Eu abro, mas não porque ele pediu, e sim porque estou sentindo algo
quente na pele.
Viro um pouco a cabeça e vejo Dean abaixando à minha frente, seu
rosto tão próximo de onde eu deveria estar contente por ele estar.
Por que não me sinto tão corajosa como em seu escritório?
— Relaxe — ele pede.
Não... Eu não consigo relaxar.
Respiro fundo e, muito relutantemente, consigo tirar um pouco a tensão
do corpo, Dean aproveitando a oportunidade e separando minhas pernas.
Tampo o rosto, em um movimento involuntário. Droga…
Então eu grito quando sinto o aperto de seus dedos no interior das
minhas coxas e ele geme.
— Você está bem? — questiona, a voz baixa e rouca.
Tento balançar a cabeça afirmativamente, e parece que ele vê, pois logo
estou arregalando os olhos com a sua boca em mim.
A boca. Do Dean. Em mim.
Grito de desespero agora, minhas pernas de juntando novamente em um
movimento automático, mas ele as abre de novo, e me suga.
Quero me concentrar, a sensação parece esplendorosa, mas não consigo,
e é exatamente quando ouço a voz dele de novo.
— Eu não consigo esperar, Natasha. Você vai ter que me perdoar.
Observo-o se colocar de pé, lambendo os lábios, suas mãos partindo
para o cinto e ele o desafivela, logo descendo o zíper e puxando tudo para
baixo.
Eu abro a boca, perplexa e além.
Isso é… De fato uma tora. Oh, meu Deus…
Desvio o olhar, aterrorizada.
A respiração do Dean é ainda mais audível que a minha.
Ok… Vai dar tudo certo… Ele nem vai perceber…
Expiro com força quando ele, facilmente, me coloca no meio da cama e
abre minhas pernas, se colocando entre elas, então desenrola o preservativo
no seu membro enorme.
Seus olhos se erguem para mim e Dean apoia um braço ao lado da
minha cabeça ao se inclinar para a frente enquanto o outro leva para baixo e
sinto-o se esfregar em mim. É bom, mas não é ótimo, porque estou com
medo.
Ele sorri e é quando sinto a pressão forte, que me fez prender o ar,
sentindo meu nariz inflar.
Ele já está…
Suas sobrancelhas se erguem e parece estranhar qualquer coisa.
— Não fique tensa — pede.
Mas pedir não é a solução.
Assinto, tentando respirar e ele balança a cabeça, então impulsiona mais
uma vez, eu nitidamente sentindo que isso não vai entrar nem um centímetro,
o que dirá vinte e dois.
— Natasha? — é o meu nome em um questionamento novamente, então
ele tenta mais uma vez. — Que… Droga. Está doendo, é isso?
Engulo em seco novamente, então viro o rosto para o lado, não me
restando alternativa, que não confessar.
— Eu sou… — hesito um pouco. — Virgem.
Não é impressão, em um pulo Dean se afasta de mim, e eu abro os
olhos, temerosa.
É tudo tão automático que nem sei.
Me sento e abaixo o vestido, vendo-o em pé à minha frente, de boca
aberta.
— Você o quê? — questiona.
Gesticulo, tentando me manter calma.
— Sou virgem.
— Que… — ele hesita, vestindo a cueca e a calça rapidamente,
passando as mãos no rosto com força e retrocedendo um passo. — Quando
você esperava me contar?
— Não esperava — balanço a cabeça.
— Você é louca, Natasha? — Ele está perplexo e com raiva.
— Eu… Eu pesquisei e vi que algumas mulheres não sentem dor quando
estão muito... Motivadas, então achei que seria assim — explico, um pouco
agoniada.
Dean ri. É de incredulidade.
— Meu Deus — esfrega o rosto. — Veste sua calcinha. Eu vou te levar
de volta. — Então ele sai do quarto, repetindo "virgem".
Me levanto e visto a peça que ele jogou no meio do cômodo, então
resmungo.
Eu não ia mesmo contar.
Capítulo 16

Sr. Hume aparece em meu campo de visão e eu bufo interiormente. Ele


vai me mandar priorizar algum cliente que enche melhor seus bolsos,
provavelmente. É só para isso que ele faz esforço de levantar da sua cadeira.
— Natasha — me chama e eu o olho, tentando sorrir. Devo estar um
trapo. É segunda, oito da manhã. — Por que o Sr. Mackenzie pediu outro
designer?
Me remexo, incomodada, então volto a olhar o monitor.
— Que eu bem me lembre, concluí a arte dele.
— Que eu me lembre, não era só uma que ele iria querer.
Quase rio, mas me contenho.
— Colin e Peter estão desocupados — gesticulo meus amigos, que
sorriem, querendo mesmo ser notados.
— Você é a melhor em artes, sabe disso. O Sr. Mackenzie exigiu a
melhor.
— Bem, então diga a ele que eu sou a melhor, porém ele não vai querer
trabalhar mais comigo.
— E por que isso?
Porque sou virgem, tenho vontade de dizer, mas apenas respiro fundo.
— Eu não sei, Sr. Hume. Ele pode não ter ficado satisfeito.
E de fato não ficou. Foi super constrangedor eu sair do quarto e
encontrar Dean em sua enorme sala, me esperando. Ele já estava com uma
blusa diferente e mal me olhou, apenas gesticulando para que eu saísse na
frente. O caminho do elevador pareceu uma eternidade e, quando chegamos
ao lado de fora do prédio, ele me colocou em um táxi e me deu "boa noite, já
paguei a viagem". Eu não sabia se ria ou chorava. Apenas virei a cabeça e fui
embora.
Meus pais estavam dormindo quando cheguei, mas, desde então, eles
têm falado estranho comigo. Principalmente o meu pai, que anda meio que
mal pronunciando uma palavra.
Dean fez todo o seu show e me deixou na pior, simplesmente por causa
de um pedaço de carne. Uma película! Eu não acredito. Foi um fiasco e a
vergonha total só veio depois.
Agora estou aqui, ouvindo que fui dispensada também do trabalho com
ele.
— Pois eu quero que você levante daí é vá agora até ele tentar descobrir
o que o desmotivou de trabalhar com você — meu chefe ordena.
Eu rio, olhando-o.
— Não farei isso — digo de um modo muito automático.
— Como assim? Eu sou o chefe. Você faz o que eu mando, portanto, vá
logo! Agora!
Me levanto, desacreditada.
— Sr. Hume, os meninos podem ser tão bons quanto eu — gesticulo
novamente meus amigos, mas o escroto do meu chefe não me ouve e
simplesmente vira as costas, voltando para sua sala.
— Agora, Natasha! — berra.
Resmungo inconformada, então pego minha bolsa de cima da mesa e
caminho para fora, injuriada.
Existe maior humilhação?
Ah, sim. Existe. Ser rejeitada por ser virgem.
Bufo e caminho até a rua, sinalizando para um táxi. Isso vai ser horrível
e além.
Que vergonha.

***

Quando chego à recepção da sala do Dean, é completamente esquisito.


A secretária me olha e sorri, então eu me apresento de novo e aguardo ela o
notificar sobre minha chegada.
Tremo dos pés à cabeça quando ela me olha e diz:
— Ele quer saber do que se trata.
Dou um sorriso, nervosíssima.
— Sobre… O trabalho.
Ela passa a informação e coloca o telefone em seu lugar.
— Ele disse que está ocupado no momento. Pediu para que aguarde.
— Certo — eu concordo e sento no estofado que tem para espera. Vou
esperar ou serei demitida, e aí sim meu pai vai ficar bem feliz.
Depois de quase uma hora, ouço o barulho na porta e logo uma mulher
sai de dentro de sua sala. Ela parece bem alegre e satisfeita, enquanto
cumprimenta a secretária pelo nome e ainda me deseja bom dia.
Estou tensa, apesar de não dever. Não é mesmo da minha conta com
quem Dean fica ou deixa de ficar.
— Ele disse que você pode entrar — a secretária me informa e eu me
forço a levantar, então agarro firmemente minha bolsa e caminho para dentro
de sua sala.
Dean parece completamente concentrado na tela à sua frente e eu
caminho para perto, tendo que pigarrear para ser notada.
— Senhorita Carter, seja direta, pois tenho muito serviço — ele troveja,
sem me olhar.
Estou boquiaberta.
— Primeiramente, bom dia. Em segundo, eu vim sob ordens superiores.
Meu chefe gostaria de saber por que rejeitou o meu trabalho.
— Nós dois sabemos por quê. — Novamente não me olha.
— Bem, eu não sei, poderia me explicar.
— Você sabe, não me faça de idiota — então sim ele me olha, o olhar
frívolo e duro — pela segunda vez. Sejamos claros, senhorita Carter, o
contato em âmbito profissional não sobressai o carnal, sendo assim, prefiro
declinar seu serviço.
Quero rir novamente.
— Informe isso diretamente ao meu chefe, Sr. Mackenzie. Ou também
não é homem suficiente para isso?
— O que você quer dizer? — Agora ele parece mesmo atento a mim.
— Exatamente o que você ouviu — falo mais baixo e mais explicado.
— Não é homem suficiente. Foi por isso que me mandou embora como
uma… Uma… Eu nem sei um nome que se assemelhe! Porque não foi
homem suficiente para me fazer mulher! Mas não tem problema! Isso não é
um problema! Homem é o que não falta!
Dean se levanta. Parece incrédulo com sua boca aberta e os olhos
acentuando a cor.
— É isso que você pensa? — questiona sombrio.
— É exatamente isso! — deixo claro, sabendo que tudo não passa de
angústia e decepção dentro de mim.
Ele se move do seu lugar, e eu tento me manter centrada e firme, sem
parecer vacilar muito. Estou ofegante de um jeito tempestuoso.
— Tem razão quando diz que não sou homem suficiente para fazer de
você uma mulher — ele se aproxima e eu não me movo, seu rosto pairando
acima do meu. — Não sou mesmo. Nunca faria uma coisa dessas.
— Por que não? — Eu sou idiota em perguntar.
— Porque eu me sentiria na obrigação de cuidar de você para sempre e
manter comigo, pois, se eu fosse o primeiro a te tocar, seria também o único.
Eu sou completamente ciumento e deixo isso bem claro — sua voz suaviza.
— Portanto, não fique pensando coisas aí nessa sua cabecinha louca. Eu
apenas fiz para o seu bem.
— Meu bem? — quase rio. — Me colocar em um táxi depois de me
deixar no meio da cama sozinha, não é exatamente o que chamo de bem,
Dean!
— O que você queria? — Ele está calmo, enquanto eu estou como um
furacão. — Eu não aguentaria ficar perto de você. Teria… Não teria resistido.
— Essa é a sua justificação? — pergunto incrédula.
— É, Natasha — suspira. — Não quero ter que estar de novo com você.
Não vai me fazer bem.
Agarro minha bolsa mais firmemente e dou um sorriso.
— Sim, eu sei. É por isso que tinha uma mulher saindo de seu escritório
— murmuro e me afasto. — Até nunca mais, Sr. Mackenzie. — Saio de sua
sala, meio cambaleante e completamente decepcionada.
Eu não acredito nisso.
Capítulo 17

— O que foi? — Eu ouço meu irmão perguntar e faço um esforço para


olhá-lo. — Ainda é sobre eu ter caído na ladainha daquele idiota? Me
desculpa, já falei. Eu não sabia que a documentação era falsa. Estava muito
bem…
— Não — o interrompo. — Não tem nada a ver com você, Brandon —
suspiro, querendo tirar Natasha da cabeça.
O que eu fiz não foi errado. Como eu poderia tocá-la? Ela ao menos
confiou em mim para contar que era virgem e eu iria ter uma atitude
egocêntrica de tê-la mesmo assim? Claro que não! Só ela não vê o quanto foi
errado o que fez. O que quase me fez fazer. Custava ter me falado? Eu ao
menos preparei o corpo dela para mim.
Que seja um pensamento antiquado, mas não acho que uma garota
virgem deve ser tomada por qualquer homem e, pior ainda, um que não vai se
preocupar a longo prazo com ela.
Droga! Me sinto tão culpado e corroído por dentro, porque ela parecia
entristecida.
Mas, como se não bastasse tudo isso, ela ainda teve que ver minha irmã
saindo de minha sala e interpretar tudo à sua maneira. Eu quis chamá-la e
explicar, porém, é melhor que ache que era alguma mulher que estive, assim
vai ter raiva o bastante de mim.
— Então, o que tá pegando? — ele questiona, arremessando uma
bolinha de papel no lixo, que ameaça não entrar na cesta, mas entra.
— Eu não sei — aliso a nuca. — Você já esteve com uma mulher
virgem?
Meu irmão me olha, meio surpreso.
— Eu não — ri. — Por quê?
— Acha errado?
— Não — balança a cabeça. — Você engravidou alguma pobre coitada
virgem?
— Não, Brandon. Que droga.
— Foi mal — ele ergue as mãos, em desculpa. — É o que, então?
— Eu não quis estar com uma.
Seus olhos se estreitam e ele sorri.
— Bem, é uma oportunidade desperdiçada, sem dúvidas — murmura. —
Só que, não sei, por que você não quis?
— Acho errado. Ela ao menos me conhece.
— Não é preciso conhecer, Dean — ele balança a cabeça, incrédulo. —
Você tem que parar um pouco com essa palhaçada.
— Você ficaria com uma?
— Não — logo responde, na defensiva. — Porém, se houvesse uma
vontade muito grande, não desperdiçaria, é claro.
— Sei lá, ela não parecia virgem. Não entendo por que me fez de idiota.
— Você não passou confiança ou ela não levou para o pessoal. Sabe —
ele me olha —, talvez só quisesse um lance casual mesmo. Nada complicado.
— Casual, Brandon? Isso parece certo para você? — Não sei por que
pareço tão alarmado.
— Parece — ele ri. — Zero complicações, mimimis, encrencas e
blábláblás. Tudo nos conformes.
Bufo, incrédulo.
— Pois se eu a tivesse, não seria casual. Teria que ser para valer.
— Você disse isso a ela?
— Não desse jeito — respiro fundo, parecendo esgotado. — Eu apenas
disse que nosso contato no trabalho não sobressaía o carnal, então seria bom
não vê-la mais.
— Tecnicamente, em uma tradução mais exata, você disse, "ei, quero
muito você, porém eu preciso estar apaixonado como um cachorrinho sem
dono para poder romper seu hímen".
— Muito engraçado — passo as mãos no rosto, desesperado. — Se ela
tiver achado que eu desdenhei dela e da situação? Ela viu a Amy saindo
daqui e pensou que era uma mulher que eu tinha estado.
Brandon ri.
— Tá falando sério? Você a deixou pensar isso? Que merda você tem na
cabeça, cara?
— Achei que era melhor para manter distância…
— Ah, é — ri mais. — Você pode crê que ela vai manter distância
absoluta.
— Me ajuda! Eu não sei o que fazer! — Pareço desesperado e estou
mesmo.
— Como assim você tá me perguntando? Vai consertar essa merda.
Tenta explicar que o que você fez não foi exatamente o que queria que ela
entendesse. Deixa claro que você tem essas paranoias.
— Não são paranoias, Brandon. São princípios.
— Blábláblá — ele gira na cadeira, como se eu fosse um idiota. — De
uma coisa eu sei, ela está te odiando — me olha. — Qual o nome dela?
— A linda Natasha — respondo, num suspiro.
Meu irmão parece incrédulo, mas logo ri.
— Que merda. Você tá caidinho. Pobre Natasha — parece lamentar —,
ficou insatisfeita. Ó, se fosse comigo — balança a cabeça negativamente —
isso não teria acontecido nunca. Qualquer coisa manda meu número para ela
porque eu não tenho essas palhaçadas, não. Eu já mando a bola pro gol.
— Insinua algo parecido mais uma vez e eu arrebento a sua cara —
deixo claro.
Ele ri.
— Ih, depois vai ser o quê? — caçoa. — Castiçal, aliança e filhos? Fica
de guarda, Dean. Essas mulheres não botam pra brincar, não. Quando você
ver, está só com a roupa do corpo.
— Você é um idiota, Brandon — me levanto e pego meu celular.
— Aonde você vai?
— Explicar a ela.
Ele assobia.
— Sou idiota e segue meu conselho… — murmura.
— Era o que eu tinha mente, só precisa de um empurrão — dou um
sorriso e o deixo em minha sala, o ouvindo murmurar sozinho um:
— Só sabem me usar.
Natasha entendeu tudo errado e, sim, me sinto culpado, porém, ela tem
que saber que, se eu vou entrar em campo, vai ser para valer.
E eu quero muito ver isso acontecer.
Capítulo 18

Estou me sentindo uma ridícula por estar sentindo raiva de Dean


Mackenzie. Quer dizer, nem o conheço, por que estou ao menos me
lembrando dele? Não faz qualquer sentido! Isso é… Doloroso.
Respiro fundo e salvo a última arte do dia, então faço todo o processo
diário e desligo o computador, segurando minha bolsa e levantando, enquanto
me preparo para dar tchau aos meus amigos que estão submersos em seus
trabalhos atrasados.
— Até amanhã, garotos — falo, parecendo mais um sussurro.
Derrotado. Completamente esmiuçado.
Eles somente acenam por cima de seus monitores e eu me viro para ir
embora, porém não vou a lugar algum quando vejo Dean em pé, bem em
frente à porta.
Ele parece seríssimo, com a mandíbula cerrada. Seria sexy, se eu não
estivesse em brasas de raiva dele.
Me aproximo, nem um pouco a fim de alvoroço, então tomo meu melhor
tom.
— Poderia me dar licença, senhor? — questiono, olhando-o.
— Precisamos conversar — ele troveja.
Certo. Eu preciso respirar. Preciso ter um controle interior para toda vez
que ele usar essa voz. Vou me lembrar disso.
— Sr. Mackenzie, com toda a minha cordialidade, peço que saia da
frente.
— Não vou — ele deixa claro. — Não até ter certeza de que vai me
ouvir.
Então eu dou risada. Por que o que mais posso fazer?
— Pouco me importa o que você quer, Dean. Sai da minha frente! Você
não tem qualquer direito de aparecer aqui e dizer o que eu devo fazer.
Suas sobrancelhas se erguem, mas logo ele parece sério de novo.
— O seu chefe está aqui? — questiona.
— Dane-se se estiver. O meu horário acabou. Você está atrapalhando.
Me dá licença.
— Por que você está me tratando assim? — Agora ele parece
completamente entristecido e magoado, me fazendo rir novamente.
— Você quer que eu desenhe ou diga verbalmente, porque aí, quem
sabe, alguém daqui não se prontifique a fazer o que você foi incapaz, não é
mesmo?
Dean emite um grunhido todo masculino, que me deixa arrepiada, então
dá um passo em minha direção, abaixando a cabeça para falar à altura do meu
rosto.
— Acho bom você tomar cuidado com o que insinua porque não sou tão
bonzinho e paciente quanto pareço — sussurra, ameaçador.
Ergo o queixo.
— O que foi? Vai me castigar?
Seu olhar percorre meu rosto inteiro e é muito esquisito tê-lo tão
próximo, o que é uma ironia, porque ele já esteve muitíssimo próximo.
— Eu tenho mesmo muitas formas de te castigar, mas não é o que quero
no momento — seu olhar volta ao meu. — Apenas quero te esclarecer o que
não entendeu.
— Eu entendi, Dean — saliento. — Não poderia entender melhor nem
se tivesse visto.
— Era a minha irmã — diz, só para eu ouvir e então tenho ciência
absoluta que estou falando alto enquanto ele mantém o tom. — Que você viu
saindo da minha sala.
Engulo em seco, um pouco surpresa.
— Você acha mesmo que eu poderia ter estado com alguém logo após o
que tivemos naquela noite? — questiona.
— A noite em que me senti uma burra e idiota, você quer dizer?
— Não — balança a cabeça, então observo seu olhar se erguer e ele
fecha ainda mais a cara. — Vamos embora daqui. Eu não quero e nem gosto
de plateia.
Dean segura minha mão, querendo que eu o siga, mas eu desfaço o
contato imediatamente.
— Está louco? Eu não vou te obedecer. Nem meu pai manda em mim, o
que dirá você.
— Você não quer que eu te explique? — Agora ele está agoniado. Tanto
vejo como sinto.
— Não, Dean! Eu não quero. Você me mandou embora e eu entendi!
— Eu não sabia o que estava falando, Natasha! Fiquei perdido! Dá para
você entender o meu lado?
— Não, não dá — nego.
— Mas que merda! — Ele leva as mãos ao rosto, parecendo perdido. —
O que eu tenho que dizer?
— Nada, Dean. Não sei por que essa histeria. Só está passando vergonha
— tento sair, mas ele não deixa.
— Natasha... — suspira, todo seu ar quente em meus cabelos e rosto. —
Olha, eu estou tentando apenas dizer que não poderia ter você como algo
simples, teria que ser significativo. Se estivéssemos juntos, seria também a
longo prazo. Teria que ter sentimentos. Você me entende? — Dean está
quase sussurrando. Uma melodia maravilhosa. — Eu não te quero só por uma
noite, boneca — seus dedos acariciam meu rosto e percebo que estou com a
boca aberta. — Seria bem mais. Eu sou assim, não sei por que, mas sou.
Estou sendo transparente com você.
— Esse papo todo porque sou virgem? — Estou quase absorta.
Ele bufa, parecendo incrédulo.
— Exatamente por isso, cacete! — Agora está se alterando. — Se eu te
tocar, vou ser único e eu mato o desgraçado que ameaçar fazer o mesmo.
Entendeu, agora? É por isso que você tem que me agradecer por não ter te
tocado, porque tem que estar ciente das consequências!
— Que consequência? Um homem idiota metido a possessivo? Vai à
merda, Dean! — Estou pasma. — Não sou obrigada a nada disso — caminho
novamente para sair e dessa vez consigo, sem qualquer impedimento.
Ele está louco se vou deixá-lo dizer um monte de merdas e achar que o
desculpei.
Fui praticamente ignorada e pisoteada por ele. Não quero mesmo isso
para mim.
Capítulo 19

Chego ao trabalho pela manhã e me assusto ao encontrar o Sr. Hume já


na porta. Ele me olha, um olhar nada amistoso.
O que eu fiz dessa vez?!
— Bom dia, Sr. Hume — o cumprimento, acabada. Estou péssima. Não
dormi nenhum pouco e, mesmo daqui da porta, posso sentir os olhares dos
meus amigos em mim.
— Por que ouvi o Sr. Mackenzie alterado ontem e hoje ele desfez o
contrato trimestral? — Ele parece querer explodir.
Ouço um homem pedir licença atrás de mim e então saio da frente, o
vendo passar com a nova cadeira do Sr. Hume. Ele quebrou mais uma? Com
certeza é de dormir em cima como se estivesse em uma cama!
Me controlo ao máximo para não bufar, então respiro fundo.
— Eu não sei mesmo, Sr. Hume. Ele pode não ter gostado da arte —
repito.
— Eu te mando consertar a merda que fez e você me traz prejuízos,
Natasha!? — berra e eu quero berrar também porque estou com dor de
cabeça, droga!
— O Sr. Mackenzie é um cliente complicado…
— Ele é um cliente que dá lucro! — Ele faz o gesto de dinheiro com os
dedos. — Isso que me importa! Você nem termina de entrar! Vai agora
mesmo até ele e se desculpa pelo que fez!
— Eu não vou! — rebato. — Não vou mesmo!
— Você está dizendo que não vai? — Sr. Hume está incrédulo e
alterado.
— Estou! Eu não vou. Ele não quer mais.
— Então não termina mesmo de entrar, Natasha. Volta para sua casa e
nem precisa ter o trabalho de vir mais — ele se vira e sai andando, me
deixando boquiaberta para trás.
Olho para frente, para meus amigos, que parecem igualmente atônitos,
então apenas aceno e saio novamente.
Não sei se rio ou choro. Dean Mackenzie acabou com a minha vida
normal. Eu quero matá-lo.

***

— Você não pode entrar! — A secretária berra.


Eu mostro se não posso.
Chego à porta do escritório de Dean e abro com toda força, praticamente
cega de raiva. Vejo que ele não está sozinho, mas não ligo, estou injuriada.
Ele me fez ser demitida.
— Que merda você pensa que está fazendo? — eu pergunto, tentando
manter o tom. — Você está ficando louco?
— Do que você está falando? — Ele se levanta de sua cadeira,
completamente calmo. Eu não acredito nisso.
— Meu chefe me demitiu porque você cancelou a merda do contrato! —
Agora eu grito, porque não creio que ele foi idiota ao ponto. — Você queria
destruir com a minha vida, era isso!?
— Eu apenas cancelei porque pensei que você não queria mais me ver…
— ele está falando muito baixo, parecendo quase envergonhado.
— Você acha isso certo, caramba? O que você achou? É claro que ele ia
estranhar o lucro absurdo que perdeu! Eu devia te fazer apanhar e denunciar
por assédio, você sabia?
— Não vem com essa! — Agora ele está irritado, vindo em minha
direção. Eu recuo um passo, por pura impulsão. — Você também me quis.
Não vem me dizer merdas agora, Natasha.
— Cala a sua boca! Você não tem nenhum direito de se achar com a
razão. Foi o meu trabalho indo pelo ralo. Por sua culpa! — Aponto para ele.
— Idiota! É isso que você é, um estúpido e idiota!
— Para de gritar — ele mantém o tom novamente. — Eu odeio que
gritem, Natasha. Principalmente comigo.
— Estou me lixando para o que você odeia! Eu odeio você, no
momento! — começo a gesticular, desesperada. — Eu fiz meu nome no
trabalho, tinha clientes, amigos, tinha uma vida lá e você tirou isso de mim!
Tirou a minha rotina, minha alegria e a minha responsabilidade!
— Só não tirou sua virgindade. — Eu ouço uma voz ao fundo e fico
perplexa, olhando para o lado e vendo um cara no estofado. Eu já o vi. O tal
Brandon.
Volto a olhar Dean, mantendo minha boca aberta.
— O que é isso? Andou espalhando por aí também o fracasso que foi eu
ter estado com você? — cuspo as perguntas. — Vai me difamar como
qualquer idiota, Dean? Foi para isso que você me levou até sua casa de
merda!?
Ele grunhe.
— Merda! Para de falar tanta idiotice! — Leva as mãos à cabeça,
parecendo tomar controle.
— Não vai quebrar nada, cara — eu ouço novamente a voz do Brandon.
— Idiotice foi ter te conhecido e achado que você pudesse ser um
homem legal. Isso sim foi uma grande idiotice! — me viro, querendo ir
embora e esquecer esse idiota.
Estou tremendo de tanta raiva. Não acredito que fui demitida. Não
acredito!
— Natasha, se você pensar em sair por essa porta, eu não me
responsabilizo pelos meus atos — ele mais sopra do que fala as palavras.
Emito um gemido de descrença.
Que babaca idiota. Eu vou sair, sim, e nunca mais olhar nessa cara
dele.
Mas grito quando sou puxada para trás, sentindo meus pés saírem do
chão. Mal consigo interpretar o que está acontecendo quando meu corpo bate
em algo duro e logo estou sentada, com Dean à minha frente e entre minhas
pernas.
Ele está com os olhos brilhantes e estreitos, então é muito rápido quando
suas mãos avançam para meu rosto e o seu se aproxima, Dean chocando
nossas bocas.
É algo impensável. Estou perplexa.
Tento empurrá-lo, mas não é como se eu quisesse realmente que ele se
afaste — porque não quero. Estou com saudades e a verdade me deixa
assustada.
Ergo as mãos e enfio as unhas em seus ombros, tentando afastá-lo, mas
ele segura meus pulsos e ruge.
— Pare de tentar negar o inevitável, droga — põe minhas mãos para
baixo, na borda de sua mesa e as segura ali.
— Não… — Eu estou tentando soar convicta, mas não é muito possível
quando ele aprofunda o beijo e enfia sua língua quente em minha boca,
fazendo umas investidas sincronizadas e ritmadas, me levando à beira do
torpor. — Droga… — murmuro, mal conseguindo.
— Droga digo eu, Natasha — Dean está mais calmo, suas mãos soltando
as minhas e correndo por meus braços, até ele alcançar minha nuca e enterrar
os dedos por entre meus cabelos, me fazendo sentir um arrepio imediato.
Seus lábios se afastam dos meus somente uns dois centímetros e ele me
olha com seus mares reluzentes. Esses olhos maravilhosos.
— Por que você está dificultando? — Quase sussurra. Estou amolecida
pelo seu tom entristecido. — Vamos recomeçar. Me perdoe. Eu errei e
admito, mas não tem que ser assim. Você não tem que ter raiva de mim. Esse
tempo brigando pode ser muito melhor investido.
— É fácil para você falar… — Estou rouca de... Eu nem sei o quê. —
Não foi você que foi tratado com desdém.
— Não, me ouça, não foi o que… Droga, não faz sentido eu explicar. Eu
me senti de mãos atadas, Natasha — agora parece um pouco desesperado. —
Eu tinha uma garota virgem na minha cama enquanto achava que ela não era
e estava prestes a tirar sua virgindade sem ao menos saber. Você entende
como isso é complicado?
— Não — nego, porque não entendo mesmo. — É só um negócio que
não importa. Por que você foi tão idiota?
— Não importa? — ele ri de incredulidade. — É claro que importa. Se
não importa para você, importa para mim, pelo menos.
— Você é estupidamente certo, Dean.
— Eu sou — assente. — Mas isso não me faz uma pessoa ruim. Você
quer me ter? Ótimo, também quero você, mas temos que levar em conta o
que te falei, vai ser para valer.
— Um namoro? — Eu não sei por que estou cogitando.
Ele parece estranhar qualquer coisa, mas logo afirma.
— Um namoro, se é assim que chamam.
— Não é assim que se pede alguém em namoro, Dean! Logo após ela ter
sido demitida por conta do "namorado" em questão! — bufo descrente.
— Você quer que eu me ajoelhe? — questiona, já abaixando uma perna
e eu fico perplexa, segurando seus ombros e impedindo a ação. — Eu me
ajoelho, Natasha.
Então eu rio, agoniada.
— Não, eu não quero que se ajoelhe, apenas queria que você tivesse me
tratado dignamente na minha quase-primeira-vez.
Dean segura meus quadris e aproxima o rosto do meu, inclinando o seu
para o lado e começando uma série de beijos desde o meu pescoço até a
região abaixo da orelha, me amolecendo de forma dolorosa.
Fecho os olhos com força, buscando concentração.
— Não pode tentar me seduzir para tentar ajeitar as coisas, Sr.
Mackenzie — deixo claro, impaciente, porém, estou sendo submetida a uma
tortura psicológica e carnal.
— Acho muito sexy que você me chame assim — ele sussurra contra
minha pele, rouco e grave. — Soa tão… Hm… — Dean geme e eu me
remexo, exalando a respiração.
Isso não deveria ser permitido. Quero me levantar e ir embora, mas meu
corpo quer continuar aqui e ficar recebendo todas as carícias e atenção desse
homem louco e lindo.
Abro os olhos, tentando ver se consigo voltar à realidade, mas quando
percebo que estamos sozinhos e eu estou sentada em sua enorme mesa, só
consigo me sentir febril.
— Eu preciso ir — tento parecer forte.
— Não vai, não… — é um gemido baixo vindo dele, que reverbera por
todo meu corpo de imediato. — Vamos resolver isso. Me dê uma outra
chance.
— Isso não faz qualquer sentido. — Eu tento me enganar. Faz muito
sentido. Nós temos mesmo a tal conexão que Dean falou. Eu também sinto. É
estranho, mas faz algum sentido.
Balanço a cabeça então o empurro um pouco, só para conseguir olhar
em seu rosto.
— Quando você mostrar que eu posso te dar outra chance, eu darei, mas
isso de forma sensata e racional, não com você tentando me deixar doida por
você — deixo claro, paciente.
Dean me olha, uma mistura de alívio com apreensão.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que, primeiramente, você vai ligar para o meu chefe e
dizer que tenho que ser readmitida e então voltar com o contrato, além de me
conceder um desconto na suíte máster e — aproveito seu momento de
atenção e o empurro para descer da mesa — vai parar de ser tão… tão… —
gesticulo. — Apressado.
Dean emite um som de quem não gostou muito de nada que ouviu,
porém assente, calmamente.
— Está bem — concorda. — Eu tenho que te fazer ver algo novamente
no quarto exclusivo. Quando você pode ir?
— Verei na minha agenda — olho sua mesa e gesticulo o telefone. —
Faça a ligação ao Sr. Hume e depois eu vou trabalhar.
Ele suspira, mas me alivio quando caminha e segura o aparelho, fazendo
então o telefonema.
Respiro normalmente.
Deu certo.
Capítulo 20

Estou subindo para o sétimo andar do Gold Palace e um sorriso brota


dos meus lábios enquanto o elevador se move. Eu devia cobrar uma comissão
por Dean ter colocado o nome que eu sugeri. Pensarei a respeito. No entanto,
não vou exigir demais. Eu o enrolei por duas semanas para poder vir até aqui
e não foi crueldade. Ele me fez ser demitida, além de me tratar mal.
Sr. Hume não está me olhando na cara, apesar de ter me chamado de
volta. Não o entendo. Colin me disse que Dean fechou o contrato semestral
essa vez, quer dizer, qual o problema do meu chefe? Eu dobrei o lucro.
Respiro fundo. Acho que nunca vai ser como antes porque eu neguei
fazer algo que ele queria como patrão. Isso não se faz.
Quando o elevador abre suas portas, eu saio, caminhando pelo corredor
até a porta do quarto mais lindo que já vi na vida. Este hotel parece muito
requintado. Tanto que dá agonia. Não sabia que era um seis estrelas. Eu daria
oito ou nove facilmente.
Sorrio e bato na porta, suspirando fortemente em seguida.
Sou toda ansiedade para ver Dean novamente. Duas semanas não parece
muito tempo, mas é. Foi. E estou me remoendo porque sei que ele sabe que
foi de propósito que adiei tanto a visita até aqui, mesmo sendo parte do meu
trabalho.
Ergo a mão para bater outra vez, mas nem é preciso porque logo a
maçaneta gira e em instantes eu tenho um homem lindo e sério à minha
frente.
Meus olhos imediatamente recaem para seu corpo, onde Dean usa uma
roupa completamente despojada em contraste de onde está. Somente um short
preto, uma blusa cinza e sandálias brancas. Nem estou acreditando que o
estou vendo assim. Parece tão… Familiar.
— Oi, Natasha — ele troveja e volto aos seus olhos.
— Oi, Dean.
Ele me dá espaço para passar e gesticula. Eu entro, inspirando
automaticamente assim que meus olhos percorrem o quarto.
Houve uma mudança aqui. Quase drástica. Se era perfeito, ficou ainda
mais. Está tão…
— Você acha que precisa de uma nova arte pelas mudanças? — eu o
ouço atrás de mim e preciso respirar fundo para não me desequilibrar. Nunca
vou me acostumar com esse tom dele. Mas também, quero correr e me jogar
nessa cama coberta por um edredom escarlate que vai até o chão. Está
parecendo tão alta, macia e confortável. As cortinas também foram mudadas.
Estão com um tecido grosso e aparentemente pesado. Todas estão em uma
cor clara, contrastando com a cama, o que dá um impacto imediato.
— Você mudou aqui — digo. — Ficou ainda mais bonito, mesmo eu
achando que não era possível.
Dean se coloca ao meu lado e enfia as mãos nos bolsos do short. Eu o
olho de relance. Está tão alto e delicioso assim, vestido desse jeito, como se
nos conhecêssemos e estivéssemos indo tomar um sorvete. Parece estranho,
mas não é. Ou é?
— Mudei — ele também olha seu trabalho. — Você pode ir
experimentar, se quiser. Antes, venha cá — diz e caminha até onde fica o
banheiro.
Eu vou e já olho para dentro assim que ele abre a porta, observando que
trocaram a banheira por uma hexagonal.
— Nossa, eu quero experimentar — dou risada e olho para Dean ao meu
lado, que dá um meio sorriso.
Está bem, ele não parece tão normal como é, mas não há mesmo algo
errado. Nos despedimos pacificamente a última vez que nos vimos.
Suspiro e volto ao quarto, parando ao lado da cama e analisando. É tão
enorme! Devem caber dez de mim tranquilamente.
— Você pode experimentar, se quiser — ele fala e nem penso duas
vezes.
Caminho e sento na borda, só para tirar a bolsa e deixar no chão, então
tiro os saltos e coloco as pernas na cama, rindo de êxtase. Uma delícia é
pouco.
Termino de deitar, a cabeça sobre os travesseiros e solto um suspiro
longo de satisfação.
— Você aumentou o valor? — eu questiono, olhando para Dean e o
vendo com um sorriso de canto enquanto me analisa, tão masculino nessa
pose.
— Não... — Ele parece querer dizer algo mais, mas não diz e eu não o
incomodo por isso. Estou em um paraíso. Ou melhor, um palácio.
— É perfeita e além — informo. — Tão macia e quente.
Dean se aproxima, meu corpo respondendo de imediato, então ele senta
na ponta da cama, seus olhos me analisando inteira, avaliativos.
— Perfeita e além é você deitada aqui, na minha cama — sussurra.
Eu sorrio.
— Não é sua cama, é do seu hotel — me remexo, querendo sentir toda a
maciez do colchão.
— Faz parte do meu patrimônio, então é minha.
— Você quer deitar também? — questiono e não sei bem por que faço
isso.
Ele assente e eu rolo para o outro lado, deixando espaço, absurdo
espaço, para ele.
Quando deita, por mais incrível que possa parecer, a cama parece três
vezes menor. É uma sensação estranha e eu sorrio.
Ele suspira e deita de lado, me encarando.
— É muito boa — concorda comigo.
— É, sim. Você mudou a cama também?
— Não — sua mão se ergue e toca meu rosto, fazendo um carinho com
as pontas dos dedos. Suspiro, relaxada. É tão íntimo eu estar com ele nessa
cama e tão bom.
— Linda. — Sua voz está carregada de admiração.
Eu amoleço e me aproximo mais um pouco dele, querendo mais contato.
Ele sorri, descendo o toque para meu braço, onde alisa lentamente, um
arrepio me percorrendo.
— Fiquei com saudades — declara.
Imediatamente eu derreto. Também senti saudades e gosto tanto de
estarmos deitados nessa cama macia enquanto o mundo inteiro parece não
existir lá fora.
Isso sim é muito estranho.
— Me senti muito mal pelo que fiz a você e sinto muito mesmo — seus
olhos estão mais escuros e Dean levanta a cabeça, aproximando o rosto do
meu, então estremeço quando se inclina e dá um beijo na ponta do meu nariz,
seguido de outro na minha bochecha e queixo, então encostando os lábios nos
meus.
Prendo a respiração, exalando logo em seguida quando ele lambe meu
lábio inferior e prende entre os dentes, mordiscando de levinho. Posso
derreter…
— Gosto da sua companhia — murmura, a voz abafada contra minha
boca. — Me deixa leve e — Dean suspira — relaxado.
Respiro fundo, erguendo uma mão e levando aos seus cabelos, que estão
macios e lisinhos.
— Você é um homem complicado — admito.
Ele dá uma risadinha baixa, inclinando a cabeça para o lado e colocando
meus cabelos para trás dos ombros, então começo a ser agraciada por seus
lábios e dentes, tudo sendo tão bom.
Suspiro e fecho os olhos, meus sentidos absorvendo o cheiro e o contato
do Dean. É esplendoroso e não tem mesmo como não querer mais.
Me aproximo ainda mais dele, sua mão indo para minha cintura e ele me
puxando ainda mais, de modo que nossos corpos se tocam. O dele é tão
grande e quente, confortável… Eu gosto muito.
Ofego, acariciando seus cabelos, enquanto Dean não desgruda os lábios
de mim. Meu corpo está respondendo a isso de uma forma muito rápida.
Estou toda arrepiada e quente.
Desço a mão por seu braço, sentindo todas as elevações de músculos e
chego até a blusa, sendo impossível não ultrapassar o tecido para sentir a pele
dourada dele, que geme quando acaricio seu abdômen e logo sua boca
encontra a minha novamente, ele iniciando um beijo abrasador e profundo,
totalmente diferente de uns segundos atrás.
Eu correspondo, o beijando na mesma medida, enquanto arranho sua
barriga de levinho.
Sua mão aperta minha cintura, desce para minha perna e puxa, de forma
que eu a enrosco em seu quadril. Estou formigando por dentro. Sinto sua
língua quente e aveludada percorrer o interior da minha boca e só me deixa
mais sedenta.
Subo a mão para seu peito e aliso, Dean soltando um gemido rouco e
grave, que me leva às chamas; então é a minha vez de gemer quando sua
coxa exerce uma pressão exata e forte em meu sexo.
Ele afasta o rosto e abro os olhos, observando0-o me olhar. Seus olhos
estão em um verde pesado e brilhante. Perfeito. Poderia babar só por vê-lo.
— Eu gostei desse som — sussurra. — Vamos fazer você repeti-lo.
Me agito inteira quando a pressão é mesmo repetida e eu só posso
gemer, não fazendo ideia de que poderia estar tão vulnerável aos seus toques.
— Essa sua meia é uma tentação para o meu raciocínio — ele fala se
referindo à minha meia de seda que vai até o fim das coxas, seu olhar indo
para baixo, então sobe minha saia, eu sentindo o gelado do quarto contra
minha pele exposta. — Muito linda.
Me remexo e ele aproveita para me virar de costas contra a cama e logo
sua mão está em minhas coxas, quando tocando minha calcinha, mas nunca o
fazendo.
Ele volta a me olhar.
— Você quer gozar? — pergunta e eu ofego. Céus… Vou respirar. —
Posso fazer isso bem rápido por você.
Engulo em seco, mas, não sabendo bem como, eu assinto.
Dean sorri. Um sorriso pequeno, mas não deixa de ser um.
Observo-o rastejar para baixo e foco o teto, prendendo minha respiração.
Agradeço interiormente por ter trocado de calcinha ao sair do trabalho. Não
que eu estivesse premeditando alguma coisa, apenas porque sabia que, depois
de tanto tempo sem vê-lo, Dean me afetaria de toda forma.
Sinto-o começar a beijar minhas panturrilhas e isso é muito quente. Sua
língua também me inebria e eu respiro fortemente. Juntos as mãos em cima
da barriga e fecho os olhos, me concentrando enquanto ele passa as mãos por
minhas pernas e então leva os dedos às bordas da minha calcinha, tirando-a
lentamente.
Estou maleável. Pareço não ter ossos e apenas o gemido que Dean dá me
faz ter certeza que estou viva. E bem viva.
Ele ergue minha perna esquerda e põe sobre suas costas, enquanto afasta
a outra. Posso sentir sua respiração me deixar em brasas. Não sei o que está
mais quente.
— Você me quer tanto… — ele respira fundo, a voz deliciosa. — Está
encharcada.
Levo as mãos aos olhos, desesperada. Eu quero me desintegrar de prazer
bem aqui onde estou. Nessa cama e com esse homem lindo me explorando.
Dean me toca, os dedos parecendo tão pesados que solto um murmúrio
de dor. Dor de puro desejo. Ele deposita um beijo demorado no interior da
minha coxa, sem deixar de me tocar. Se isso não é uma coisa perfeita, então
não sei o que pode ser.
Respiro fundo quando segura meu pulso com a mão livre, puxando para
baixo e entrelaçando nossos dedos.
Quero chorar.
— Hmmm — ele geme e ofego quando finalmente sinto o calor
excepcional da sua boca pela segunda vez em mim.
Suspiro com força, começando a respirar irregularmente. Isso é tão
esplendorosamente maravilhoso que preciso abrir os olhos e olhar para baixo,
para conferir se está realmente acontecendo. Então acho que vou pegar fogo
quando o vejo me observando com os olhos claros enquanto pratica sua ação.
Entorpecedor.
Engulo em seco, me sentindo febril quando ele sorri para mim.
— Meu Deus do céu. — É uma súplica em uma descrença de minha
parte.
Ele me toca com os dedos e a boca, me deixando cada vez mais mole.
Eu poderia repetir essa cena na minha mente um milhão de vezes.
Sem que eu espere, Dean aprofunda um dedo dentro de mim, tão
lentamente que falto desmaiar, então ele imediatamente traz a boca também,
tocando minha carne com seus lábios firmes.
— Oh, nossa… — meu corpo se agita, a sensação sendo indescritível.
Ele movimenta o dedo longo e grosso, me deixando inebriada e louca,
meu corpo arqueando para acompanhá-lo na ação.
Dean começa a emitir uns gemidos entrecortados e deliciosos, graves e
pesados, perfeitos para me deixarem mais mole ainda. Estou quase à
inconsciência.
— Você está tão gostosa — ele grunhe contra meu sexo. — Apertadinha
e deliciosa.
— Ah, sim… — suspiro entre um gemido.
— Sim — Dean repete. — Eu quero sentir seu gosto na minha boca.
Estou louco esperando isso — seu dedo começa um vaivém fundo e forte. —
Goza para mim, Natasha.
Como se meu corpo obedecesse a seu comando, eu explodo com uma
força, me estreitando toda e fervorosamente ao redor de seu dedo, ouvindo
seu rosnado másculo e inconfundível. Dean imediatamente aperta os lábios
ao redor do meu clitóris com força, me fazendo tremer toda.
Estou ofegante e gemendo sem parar. É muito bom.
— Eu quero você! — grito, balançando a cabeça para os lados,
desesperada. E quero muito.
Ele se ergue rapidamente, quase num piscar de olhos, ficando de joelhos
e então o vejo tirar a camisa depressa. Não sei bem como, mas consigo me
sentar e levo as mãos à frente de seu short, tocando o volume enorme. Lambo
os lábios, desesperada.
Dean geme e enfia os dedos por meus cabelos, levantando minha cabeça
e chocando sua boca na minha, sua língua varrendo cada canto.
Aperto o toque, sentindo-o duro e quente.
Levo os dedos às laterais do short e puxo para baixo junto com a cueca,
afastando a boca para poder olhar para baixo.
Um gemido é inevitável quando vejo o mastro grosso e grande
apontando em minha direção.
— Quero dentro de mim — falo, meio engasgada.
Dean emite um rugido todo animalesco e o envolvo com minhas mãos,
gostando demais da sensação.
— Isso, aperta — ele pede e eu o faço, levantando a cabeça e o vendo
me observar com os cristais reluzentes.
— Estou ansiosa, por favor — suplico quase impressionada comigo
mesma, mas nenhum pouco arrependida.
Dean geme, então segura meus ombros e me incentiva a deitar, saindo
da cama rapidamente e terminando de tirar o short. Observo-o caminhar até o
banheiro e voltar no mesmo instante já rasgando o pacotinho preto enquanto
seu membro ereto se mantém em perfeita posição.
Estou mesmo febril querendo senti-lo dentro de mim.
Vejo-o desenrolar o preservativo na extensão grossa e logo voltar para
mim.
Abro as pernas, ele sorrindo para mim e se colocando entre elas.
— Ansiosa? — questiona e enterra seu dedo em mim de novo, me
fazendo engasgar. — Você está pronta para me receber.
— Vai doer, mas eu não ligo — declaro e ele ri. Não é exatamente um
riso de quem achou graça, mas de nervoso.
Falo sério...
— Hmmm — ele puxa o dedo e leva à boca, sugando e gemendo. —
Você gozou gostoso, boneca.
Me remexo, então ele agarra o membro e o esfrega entre minhas pernas,
nos fazendo gemer alto, a sensação muito perfeita mesmo. Ele é tão
incrivelmente grosso.
— Estou me controlando para não enterrar meu pau com tudo em você,
Natasha — parece sem fôlego.
— Enterra! — quase grito, desesperada.
Dean grunhe e se esfrega em meu clitóris, eu me sentindo molhar ao
ponto de gritar louca. É perfeito e além, mesmo.
Ele me olha e se inclina, as mãos puxando os lados da minha blusa e os
botões caem pela cama, meus olhos arregalando, mas não muito. Dean ergue
meu sutiã e geme, trazendo a boca a um dos meus seios enquanto a mão
aperta o outro.
Reviro os olhos, louca de prazer.
Seus dentes mordiscam meus mamilos e seus lábios logo sugam, ele
intercalando um seio e outro.
— Vai logo! Por favor! — choramingo, sentindo o peso em meu sexo.
Ele se arrasta para baixo, beijando minha barriga, até estar de joelhos
novamente, então agarra minha perna esquerda e levanta, pondo em seu
ombro; se esfregando mais um pouco e vira a cabeça, beijando minha perna,
então o sinto iniciar a penetração.
Respiro fundo e relaxo, observando-o concentrado na sua ação enquanto
estou ansiosa.
O preenchimento é aos poucos, mas posso começar a sentir a grossura.
— Vou ter que ser mais insistente, baby — ele me olha rapidamente e
sua mão vai ao meu clitóris, Dean começando a me estimular. — Relaxe.
— Estou muito relaxada — afirmo e ele quase sorri, mas parece muito
concentrado para isso.
— Certo — respira fundo e a outra mão aperta minha coxa em seu
ombro; ao tempo que dou um resmungo baixo quando ele impulsiona para
frente com força e eu sinto a ardência e incômodo imediatos.
Ele ofega e me esforço a não fechar os olhos, porque eu não posso
nunca esquecer a cena de ver Dean entre minhas pernas com seu corpo lindo,
me possuindo.
— Isso é tão… — ele grunhe, sem parar de me acariciar, então me olha.
— Perfeito.
— Me faz gozar de novo — eu peço, falha e rouca.
— Faço — ele geme e então se enterra de verdade em mim, tirando um
gemido alto de nós dois.
— Caramba — solta minha perna e se inclina, o peso do corpo em um
braço enquanto me beija com força, gemendo e me acariciando.
Ergo os quadris e me remexo, sentindo-o me preencher toda. Uma
sensação nova e inebriante. É bom, apesar da dor.Ele morde meu lábio
inferior e se puxa para fora, seu membro voltando imediatamente. Meus
olhos arregalam-se, minhas mãos indo aos seus ombros, onde me apoio.
— Goza agora, Natasha — Dean vira a cabeça e morde minha orelha,
antes de chupar o lóbulo e lamber meu pescoço. — Goza no meu pau.
— Meu Deus — fecho os olhos, o abraçando com força pelos ombros
enquanto gozo fortemente, mesmo em meio ao incômodo, sentindo-o
somente ondular os quadris. — Dean, minha nossa!
— Eu sei — ele levanta a cabeça e me olha, parece meio perdido. — Me
beije — pede e eu ergo a cabeça, encostando nossos lábios novamente e
dessa vez o beijo sendo mais lento, suas investidas iniciando em uma lentidão
torturante.
— Goza para mim, Dean — repito suas palavras e ele geme, erguendo a
cabeça para me olhar enquanto sinto-me estreitar ao seu redor. Ou ele
aumentar de tamanho. Não sei.
Tudo o que sei é que a sensação é perfeita e ter Dean chegando ao ápice
enquanto me olha, tão lindo e carinhoso, se torna a melhor coisa que já
experimentei.
Porque, não há dúvidas, ele me possuiu de um jeito inigualável.
— Natasha — ele aperta os olhos e traz os lábios aos meus, me dando
um pequeno beijo e enterrando a cabeça em meu pescoço, enquanto sinto-o
tremer um pouco.
Suspiro, olhando o teto e levando as mãos aos seus cabelos, onde enterro
meus dedos.
Isso não foi planejado, mas foi mais que perfeito.
Capítulo 21

— Agora eu não quero mais o desconto — Natasha diz, me tirando do


transe.
Eu poderia rir, se não estivesse tão… Anestesiado. Posso nunca mais
querer deixar de sentir essa sensação. É tão boa que nem tenho palavras.
Não vou mentir, eu planejei sim ter alguma coisa, mas não a nossa vez.
A nossa entrega total. Mas foi completamente impossível assim que eu vi
essa mulher linda deitada na minha cama.
Caramba. Nem sei o que dizer…
— Dean? — ela me chama, mas não quero tirar minha cabeça do seu
pescoço macio e quente e muito menos desconectar nossos corpos. Lamento
por ter tido essa droga de preservativo para interferir. Gostaria de ter nos
sentido totalmente. Mas tudo tem o seu tempo.
— Hm? — murmuro bem onde estou, Natasha arranhando minhas
costas de leve.
— Você está dormindo?
— Quase.
Ela dá uma risadinha graciosa e encantadora, e eu quero abraçá-la. Então
o faço, beijando seu pescoço.
— Eu não estou com sono — declara e se remexe. — Você vai ficar
dentro de mim?
— Vou — mordisco sua pele e ela ofega embaixo de mim.
— Foi bom, não foi?
Levanto a cabeça e olho-a. Quase suspiro ao vê-la. Está com os cabelos
bagunçados, as bochechas rosadas, os lábios inchados e um sorriso no rosto.
— Está escrito em você que foi ótimo — consigo sorrir. — Você está
bem?
Só então volto a me colocar de joelhos, saindo de dentro dela
calmamente e suspirando de prazer ao ver a prova de que eu a possui
primeiro.
— Espere aqui. Não vá a lugar algum — eu peço.
Tiro a camisinha e enrolo, levantando para ir jogar no lixo do banheiro.
— Aonde eu iria? — Natasha grita. — Estou dolorida e pelada. No
máximo, não passaria da porta.
Sorrio e então, quando já estou saindo, tenho uma ideia. Caminho até a
banheira e ligo a torneira, pegando rapidamente os sais de banho na prateleira
e jogando dentro.
Um banho com a Natasha.
Volto ao quarto, vendo-a ajeitar o sutiã.
— O que está fazendo? — questiono e ela me olha. Tão linda que eu
poderia observá-la por horas sem parar.
— Não sei mais o que estou fazendo — responde em um risinho. —
Você é muito lindo — seu olhar recai para o meu corpo e ela lambe os lábios.
— Não é para se vestir — subo novamente na cama e vou até ela,
segurando seus braços e a fazendo sentar. Levo as mãos às suas costas e
desfaço o fecho do sutiã. — É para ficar nua e linda para mim — raspo meus
lábios nos seus, enquanto desço a peça por seus braços.
— Você é tão… — ela hesita.
— Tão o quê? — pressiono e me afasto para tirar suas meias que me
levaram quase à loucura. Deliciosa demais.
— Lindo e quente — ela sorri e me deixa despi-la. É uma coisa
estranha, eu confesso. É como se Natasha e eu já nos conhecêssemos há
tempos. É uma intimidade absurda e eu sinto que ela se sente confortável
comigo.
— Obrigado — ergo uma sobrancelha. — Você também é linda e
quente.
Ela sorri.
— Eu sou mesmo — concorda e eu a olho, então nós rimos.
— Você é uma ex-virgem safada, Natasha — me levanto e a observo,
tão perfeita na minha cama. Estendo as mãos em sua direção. — Venha
comigo. Vamos experimentar a banheira.
— Sério? — Ela parece eufórica e rapidamente agarra minhas mãos, me
deixa ajudá-la a levantar. — Vamos mesmo?
— Vamos — assinto então a conduzo comigo para o cômodo que nunca
usei. A verdade é que nunca usei parte nenhuma daqui, mas gosto muito da
primeira vez.
Quando chegamos ao banheiro, Natasha solta minha mão e vai ao box.
— Não queremos tomar banho no mar vermelho — ela ri e se fecha lá
dentro.
Dou risada e vou até a banheira, enfiando a mão e remexendo para criar
espuma, então entro e me sento contra uma ponta, a sensação da água morna
sendo maravilhosa.
— Natasha? — eu chamo, já me sentindo sozinho e isso é perturbador.
— Eu já estou indo — ela responde. — Estou decepcionada com a
matéria.
— Que matéria?
Ouço o barulho e olho para trás, vendo-a sair do box e caminhar até
mim. Eu olho bem o seu corpo e bebo suas curvas, a empolgação e leveza
dela me fazendo ficar estático.
Natasha entra na banheira e já vai sentando de frente para mim, mas eu a
puxo e viro, fazendo-a ficar de costas contra mim, nos colando ao máximo.
Beijo seu ombro e ela se remexe.
— A matéria sobre como eu não sentiria dor — responde, agarrando
minhas coxas, que retesam ante seu toque.
— Impossível — mordisco sua orelha.
— Indignação — murmura. — Você tem um baita instrumento.
— Você aguentou o meu baita instrumento — sorrio, mas ela não vê.
— Eu sou uma mulher forte, nunca recuo na batalha.
— Bom saber — rio e ela vira o rosto para mim, apoiando a cabeça no
meu ombro.
— Você é bom com a boca — sorri. — Por que é solteiro?
A pergunta me pega desprevenido, mas não é um incômodo.
— Eu não sei exatamente, apenas sei que quando encontrar a pessoa
certa, eu vou me casar.
— Hmmm — ela desvia o olhar, pensativa.
— E você, por quê?
— É uma boa pergunta — me olha de novo. — Mas eu nunca me
apaixonei a ponto de querer namorar alguém. Eu já beijei algumas vezes, teve
um cara também, mas — ela suspira —, sabe, não é como se… Fosse durar.
Eu entendo perfeitamente, seria minha resposta; mas resolvo ficar
quieto.
— Nós estamos namorando — relembro. — Apesar de você ter achado
o meu pedido ruim.
Ela ri.
— Está bem, você não fez um pedido, Dean. Apenas informou.
— Isso. Mas você quer, não é? — Pareço apreensivo.
— Quero — Natasha suspira, relaxada, então se acomoda bem em meu
corpo. — Nós podemos dormir na sua cama magnífica?
— Podemos — assinto, abraçando-a mais. — E depois vamos comer.
Você está com fome?
— Não — nega. — Apenas quero dormir com você.
Eu gosto muito da declaração e inclino a cabeça, deixando um beijinho
em seus lábios.
— Você tem irmãos? — pergunto.
— Não. E você?
— Tenho. A Amy e o Brandon.
— Brandon? — ela parece estranhar. — O coitado dos esporros?
— Sim — dou risada. — Ele mesmo.
— Pobrezinho… É o mais novo?
— Minha irmã é a mais nova — aliso seu braço.
— Hmmm… — Natasha se remexe. — E sua mãe?
— O que tem?
— Ela é… Legal?
— Ela é — afirmo, estranhando o questionário.
Então ela levanta a cabeça e me olha.
— Eu vou ter que conhecer sua família, não é?
— Sim? — Não sei.
Ela ri.
— Está bem, eu não me sinto desconfortável, apenas peço que você
arrume um jeito de lidar com meu pai. Vocês não podem se estranhar.
— Seu pai é o menor dos problemas, Natasha. — Talvez não seja, mas
não vou ligar para ele agora. — Eu quero te levar comigo o fim de semana
inteiro. Você quer?
— Não — ela volta a apoiar a cabeça em meu ombro. — Quando estiver
livre, eu aviso.
Bufo, em descrença.
— Você sempre vai ficar sendo estraga prazeres? — pergunto.
Ela dá uma risadinha e morde meu pescoço.
— Não, gatão. Só até você aprender a andar nas rédeas.
Quero rir, mas somente abraço-a de novo e fecho os olhos, inspirando o
cheiro dos seus cabelos e me concentrando na sensação tão maravilhosa.
Capítulo 22

Eu estou me sentindo leve e satisfeita enquanto termino mais uma arte.


Se o encontro com Dean foi bom? Não, perfeito. Nem consigo parar de
suspirar e sorrir como uma idiota.
Nós dormimos em sua cama magnífica e depois descemos até o
restaurante ao lado do Palace, onde jantamos uma comida deliciosa. Eu
estava toda boba, o que me deixa na defensiva. Não entendo porque pareço
tão à vontade com ele. Nos conhecemos há um mês, praticamente.
Respiro fundo quando vejo Peter se aproximar da minha mesa, então
espalmar as mãos em cima e se inclinar em minha direção.
— O que você acha de ir comigo até o show dos Bears? — Ele
pergunta.
— Bears?
— Uma banda nova — dá de ombros.
— Vou ver um monte de ursos cantando?
— Não sei, apenas recebi ingressos. Vai ser aqui perto, no sábado. Você
quer ir? Ninguém quer me acompanhar.
— Pobre Peter — sorrio. — Chama o Colin.
Ele faz uma careta e nega.
— Eu não, prefiro você.
— Não sei se vou poder ir. Posso levar meu namorado?
Peter ri.
— Levar quem?
— Meu namorado — eu sorrio mais, gostando do termo.
— Você não namora.
— Agora eu namoro — afirmo, mas me lembro da nossa politicagem no
trabalho e censuro minha boca.
— Quem você está namorando? — Ele parece surpreso e incomodado.
— Um carinha aí — gesticulo, nervosamente.
— E por que não disse nada?
— Porque faz pouco tempo. — Horas, na verdade.
— Que merda — meu amigo bufa. — Mas não tem nada a ver. Você só
vai me acompanhar. Ou o seu namorado é aquele que define o que você faz?
Não acredito que quis um cara assim.
— Claro que não — rebato imediatamente. — Ele não me diz o que
fazer.
— Então você vai comigo? Eu sou seu amigo e ele acabou de chegar,
você sabe que não pode trocar amigos por paixões.
Eu me remexo, intrigada com esse tom dele.
— Não estou trocando nada, Peter. Mas, tudo bem, posso ir com você a
esse tal show. Vai ser que horas?
— Às onze. Eu sei que é o dia de promoção e a pizzaria do seu pai fica
aberta até tarde. A gente passa lá, come umas pizzas e eu o revejo. O que
acha?
Balanço a cabeça, detestando a ideia, mas meu pai realmente gosta do
Peter, então repenso.
Não vou me enganar, Dean não gostaria disso. Nenhum pouco.
— Olha, eu não gosto da ideia. Se vou ir, quero levar meu namorado.
Arruma uma companhia e leva com você. Vamos os quatro.
— Eu só tenho dois ingressos, Natasha — ele resmunga. — E acabei de
te dizer que ninguém quer ir comigo.
— Eu arrumo alguém para ir com você e meu namorado é rico, pode
comprar outros dois ingressos.
Ele faz uma careta.
— Que palhaçada... Não pensei que você fosse do tipo mandada por
homens.
— O que você tem hoje? — reclamo. — Eu, hein. Desde quando tenho
que te dar explicações, Peter?
— Não estou te pedindo explicações, apenas vim te convidar a sair
comigo. Caso não se lembre, quando me pediu para te acompanhar naquele
parque, eu fui, sem nem hesitar — me acusa.
— É, mas éramos ambos solteiros. Acha que se você tivesse namorada,
eu teria pedido isso?
— Eu iria, porque somos amigos mesmo antes de ter algum namorado
ou namorada no meio. — Agora ele parece quase irritado e estou descrente.
— Sozinha com você eu não vou — insisto.
— Acha que eu vou fazer o quê? — Ele parece indignado.
— Não acho que você vai fazer nada, apenas não gosto de pensar que
meu namorado poderia fazer a mesma coisa comigo — deixo claro. — E eu
não quero você usando esse tom comigo.
— Quer saber, Natasha? — ele quase ri. — Dane-se. Eu não sabia que
você era do tipo submissa — então ele volta andando para sua cadeira,
sentando com uma lufada de ar.
Quase fico de boca aberta, mas o ignoro e volto a atenção ao meu
trabalho.
Não sei o que foi isso, mas não gostei nenhum pouco.

***

Não me restando alternativas, eu simplesmente pego o celular e escrevo


uma mensagem. Estou no meio de um trabalho importante, devia estar
concentrada, mas não consigo. Não depois de sentir o prazer que um homem
pode me proporcionar. Aquilo é coisa de outro mundo.

Natasha: Estou com um problema

Meu boy: Quem é?

Natasha: Eu, Natasha

Meu boy: O que houve??? Você está bem?????

Abro um sorrisinho pelas muitas interrogações e me obrigo a escrever,


mas meu celular começa a tocar no mesmo instante. É ele. Está me ligando.
Estou sorrindo de verdade agora.
Rejeito a chamada e torno a responder.

Natasha: Não estou bem. Acho que preciso de você

Meu boy: Atenda a droga do celular!

Estou duplamente sorrindo e imediatamente o aparelho começa a tocar.


Torno a rejeitar e aguardo um momento antes de responder.

Natasha: Não posso atender ligações. Estou no trabalho


É uma desculpa horrorosa e é óbvio que ele não vai engolir, mas eu não
ligo. Sem falar que é completamente enlouquecedor vê-lo zangado. Uma
máquina de testosterona explodindo.

Meu boy: Estou aturdido por estar ficando preocupado, mulher!


Me diga o que você tem!!!!

Solto um riso abafado, então suspiro.

Natasha: Estou excitada

Digito bem rápido e envio, deixando o celular no colo e levando as


unhas à boca enquanto espero uma resposta.

Meu boy: Você está molhadinha?

Eu me remexo na cadeira, olhando em volta para conferir se alguém está


testemunhando a minha falta de vergonha na cara em meio ao ambiente de
trabalho, mas não, todo mundo está concentrado em sua própria tarefa.

Natasha: Imagino que sim

Começo a rir sozinha, tentando não chamar atenção. Ignoro por um


momento que estou com todo o projeto de artes da maior empresa de azeites
do país — por um momento.

Meu boy: Só para mim?

Óbvio que sim. Para quem mais seria? Só Dean consegue me deixar
assim, mas eu não vou admitir isso a ele, é óbvio.

Natasha: Sim

Meu boy: Sim o quê?

Natasha: Só para você

Ele gosta que as coisas sejam do jeito dele, eu percebo. Mas, lamento
por ele, comigo não vai funcionar sempre assim.
Meu boy: Hmmm. Sabe de uma coisa?

Natasha: Não sei, me fale

Meu boy: Você acabou de me fazer infringir uma das minhas leis

Dou risada.

Natasha: Qual?

Meu boy: Não ficar de pau duro durante o trabalho

Natasha: Eu lamento

Não lamento coisa nenhuma. Aquele negócio faz maravilhas. Tem que
estar de pé sim, e por minha causa sim, é claro.

Meu boy: Acho que você não lamenta

Natasha: Tem razão. Pode me punir por isso

Meu boy: Que safada. Quer almoçar comigo?

Solto um riso esganiçado.

Natasha: Quero almoçar você

Estou agindo como uma safada mesmo, devo confessar. Isso é só porque
estou excitada me lembrando do tamanho daquele negócio delicioso.

Meu boy: Estou passando aí para te pegar. Que, no mínimo, você


esteja pingando.
Não aceito menos que isso. Até logo, baby

Coloco calmamente o celular sobre a mesa e respiro fundo umas


cinquenta vezes. Ele está vindo me pegar.
Dean Mackenzie está vindo me buscar. Estou morta de emoção e
excitação.
Me concentro em terminar ao menos a logo, mas confesso que é uma
missão que exige muito esforço.

***

Me arrasto da minha cadeira, coloco o celular dentro da bolsa e saio em


direção ao banheiro. Estou formigando. Há meia hora estou esperando e ele
pode chegar a qualquer momento. É o meu horário de almoço.
Coloco minha bolsa no gabinete de mármore e lavo as mãos, que estão
úmidas. Seco logo após e abro a bolsa em busca do meu rímel. Não preciso
passar de novo, mas estou nervosa, então vou fazê-lo.
Após me certificar que estou digna de parecer apresentável, refaço o
caminho para fora do banheiro, mas falto cair ao abrir a porta e me deparar
com um metro e noventa e dois centímetros de uma delícia de homem vestido
em uma camisa social cinza e calça escura, as mãos segurando o batente da
porta.
Sim, eu perguntei sua altura.
Engulo em seco, meus olhos subindo pelo peito maciço coberto com o
tecido que eu amaldiçoo momentaneamente e encontrando os mares verdes
reluzentes.
— Oi — ele me cumprimenta, muito cordialmente.
— Oi — devolvo, muito tensa de imediato.
Então ele me avalia, de cima para baixo, de baixo para cima e emite um
som todo masculino.
— Vamos almoçar? — pergunta, voltando a me olhar nos olhos.
— Pensei que você ia me trancar nesse banheiro e me beijar — admito.
Eu pensei mesmo.
Dean estreita os olhos e então sorri, muito relaxado, tirando as mãos do
batente e trazendo-as para minha cintura, me puxado para frente, para seu
peito.
— Não seja boba — acaricia meu rosto, me arrebatando com a voz e o
olhar. — Eu não quero que você seja demitida de novo e também não gosto
de como estão olhando para nós agora.
— Eu não me importo com eles — confesso, começando a respirar com
dificuldade, então dou um passo para trás, me livrando de seu contato. —
Mas não quero mesmo ser demitida novamente.
Dean concorda, estendendo a mão em minha direção, pedindo a minha.
Ele entrelaça nossos dedos e em instantes estamos deixando o escritório dos
Hume, em direção a algum lugar que eu sei que valerá a pena.
— Como foi o seu dia? — ele pergunta quando já estamos dentro do
carro.
Ele está mesmo calmo e tranquilo, mas eu não.
— Foi difícil trabalhar quente e suando — respondo, virando o rosto
para o outro lado, aflita e agoniada.
— Eu imagino — diz e então um pequeno silêncio recai sobre nós.
Isso parece constrangedor. Quer dizer, ele me falou tantas vezes do que
era capaz e agora que estou pedindo, ele está dando uma de ao léu para me
ignorar? Isso não parece certo.
O carro para por causa do sinal vermelho e eu respiro fundo, olhando
para ele só para ter certeza de que está mesmo me ignorando.
Me corpo tenciona no entanto, já que Dean está me olhando com os
olhos escuros e estreitos, os longos cílios sempre em evidência.
Engulo em seco.
— O que foi? — questiono.
— Nada — ele responde, umedecendo os lábios. — Apenas quero te
comer fundo, mas tão fundo, que você não vai lembrar o próprio nome e
então vai gritar para eu parar.
Abro a boca e meus olhos saltam, enquanto ele muito calmamente volta
a colocar o carro em movimento.
Isso foi mesmo sério? Ele está falando sério? Eu mal lembrei meu nome
mesmo com dor e agora acho que não vai ter dor então não vou lembrar é de
nada.
Estou tão pasma que mal noto quando ele abre a porta ao meu lado e me
chama, seu rosto quase muito perto do meu.
Saio do carro e Dean imediatamente espalma uma mão na base da minha
coluna, me conduzindo para dentro do pequeno restaurante. Não é nenhum
pouco parecido com os que ele parece frequentar, este é mais do que eu
frequento. Vazio, calmo, simples e aconchegante. É um pouco escuro
também.
Ele nos conduz até uma mesa para quatro pessoas bem escondida ao
fundo e fico feliz quando senta ao meu lado ao invés de na minha frente. Não
posso ficar encarando esses olhos depois de ouvir o que ele falou.
O observo pegar o cardápio e então faço o mesmo. Escolho
imediatamente uma salada de frango com arroz.
Dean chama o garçom e fazemos nossos pedidos. Estamos praticamente
sozinhos, tirando o senhor que está comendo em uma mesa distante.
Dou quase um pulo da cadeira quando sinto o toque nas pernas, tentando
vasculhar dentro da minha saia.
— Suba a saia até a cintura — ele pede, se aproximando um pouco mais.
— Não — engasgo. — Não aqui.
— Não tem ninguém, só nós, e eu nunca deixaria ninguém mais ver o
que é meu — afirma. Ele parece bem sério.
Balanço a cabeça, soltando um riso nervoso.
— Não acho uma boa ideia.
— Como quiser então — ele concorda. — Ao menos afaste as pernas
um pouco.
Isso eu faço, é claro. Abro as pernas e ele imediatamente acha minha
calcinha e a coloca de lado, seus dedos quentes tocando minha carne. Mordo
o lábio para não gemer e confiro se não tem ninguém por perto.
— Você realmente parece precisar de mim — ele me acaricia um pouco
e tira os dedos, levando-os à boca e chupando, enquanto solta um gemido
musical. Eu posso chorar de desejo. — Vamos almoçar e à noite, na minha
cama, eu vou ter você de novo.
Balanço a cabeça, decepcionada.
— Mas… — tento protestar.
Dean aproxima o rosto do meu, uma mão apertando minha coxa.
— Você não me quer? — questiona.
— Quero, mas quero agora.
— Não, você vai me ter à noite. Acha que pode esperar?
— Não acho — admito. Não acho mesmo.
— Eu acho que pode — ele acaricia meu lábio inferior e se afasta,
voltando a sentar ereto. — Me diga, como foi o seu dia?
Eu solto um resmungo, de pura insatisfação, então começo a falar sobre
o novo trabalho que vai me dar a chance de crescer e logo tenho um Dean
muito interessado em ouvir.
Capítulo 23

Destranco a porta e logo estou caminhando pela sala de estar da


cobertura do Dean. Eu não entendi porque ele confiou a mim uma cópia da
chave da sua moradia. Me explicou que era porque não queria que eu
perdesse tempo indo até minha casa. Bem, que seja, eu não pretendo ficar
com isso mesmo. Vou devolver assim que ele chegar.
Deixo a bolsa no armário que tem no corredor e sigo para a cozinha,
diretamente para o filtro, em busca de água gelada.
Bebo dois copos e volto para o corredor, à procura do quarto dele. Tiro
calmamente minhas roupas e as dobro, deixando em cima da cama enquanto
vou tomar banho. Tudo é muito arrumado na casa dele e eu estou sorrindo
por isso. Ele é um homem quase assustador de tão perfeito.
Depois de me secar, pego uma escova sobre o mármore e começo a
pentear os cabelos, mas uma coisa chama minha atenção. Talvez seja a cor
chamativa demais. Um vermelho escarlate. A cor dos lençóis do Palace. Eu
olho para o armário atrás de mim que o espelho reflete e então vejo meu
nome escrito em letrinhas brilhantes e vermelhas.
Puta merda.
Me aproximo, enrolada na toalha, e então abro os puxadores. Estou
rindo em segundos ao me deparar com tudo que vejo. São produtos de
higiene pessoal feminina.
Estendo a mão, obtendo uma cópia do meu creme corporal de leite.
Como ele sabia?
Há cremes, esfoliantes, demaquilantes, sabonetes íntimos, absorventes e
até escovas de dentes.
Eu fecho o armário, ainda tomada por risos, então paro ao me perguntar
o que exatamente significa isso. Espero que nada. Não quero me preocupar.
Não por besteiras.
Respiro fundo e saio porta afora, voltando para o quarto e colocando
minha roupa em cima do cesto de roupas dele, antes de tirar a toalha e voltar
à cama, deixando minhas costas caírem sobre o colchão macio e delicioso.
Solto um gemido de relaxamento.
— Você sabe mesmo receber um homem depois de um dia longo.
Eu levo um susto, virando a cabeça para ver Dean adentrar o quarto,
enquanto desafivela o cinto e me olha nos olhos por uns segundos antes de
olhar para o meu corpo. Estou imediatamente em brasas pelo seu olhar de
volúpia.
Ele parece bem calmo enquanto faz a calça ir ao chão e chuta para o
lado, suas mãos indo para a camisa e desfazendo os botões.
— Me deixe fazer isso — peço, ansiosa.
— Não — ele sussurra, sorrindo. — Abra as pernas. Deixe eu olhar para
você.
— Não — sussurro de volta.
Dean sorri mais largamente, então desce a camisa pelos braços
musculosos e a joga no chão, deixando à mostra o peitoral dourado e
delicioso. Quero arranhá-lo no mesmo instante.
Suas mãos agarram o elástico da boxer e ele a abaixa, deixando à mostra
o membro enorme e grosso e que me faz remexer sobre a cama.
— Por favor? — ele insiste.
Nego, sorrindo.
Solto um suspiro quando começa a vir em minha direção por cima do
colchão, então se coloca ao meu lado, bem junto de mim, virando meu rosto
para si e sorrindo, antes de me dar um beijo quente e calmo nos lábios.
Eu correspondo, minha mão se erguendo para se embrenhar em seus
cabelos macios e que tanto gosto.
Dean me dá uma mordida no lábio inferior antes de se afastar um pouco
para conseguir falar.
— Eu amo a sensação te encontrar na minha cama — sussurra. — É
maravilhoso. Gosto muito de você.
Assinto, balançando a cabeça.
Ele acaricia minha barriga, me fazendo gemer, então desce para entre
minhas coxas, me obrigando a separar as pernas.
Seu dedo imediatamente se aprofunda em mim, me fazendo arquear
sobre a cama.
— E eu amo o fato de você precisar de mim — diz, antes de tomar
minha boca em um beijo alucinante.
Eu me contorço e encolho, desesperada por ele.
Agarro seus ombros e o beijo com força, fome e vontade. Estou
querendo descontar todo o meu desejo acumulado.
Dean move o dedo fundo e com força, me fazendo encontrá-lo nos
movimentos. Me sinto vazia por dentro e é uma sensação tão alucinante e
gostosa.
— Você está com dor? — ele pergunta contra meus lábios.
— De desejo somente — respondo, o puxando mais para mim.
Sua mão sai de entre minhas pernas e Dean agarra minha cintura, me
puxando para si, levantando minha coxa com a sua própria então eu sinto seu
membro grosso fazer pressão em meu sexo.
Ele grunhe ferozmente, aproximando o rosto do meu e me beijando com
ardor, tanto que sinto a reação imediata quando estremeço por dentro e me
sinto ficar úmida de verdade.
Arranho seus ombros e ele desvia a boca para minha orelha,
mordiscando meu lóbulo enquanto respira com pesar.
— Passei o dia inteiro pensando em ter meu pau de novo nessa sua
bocetinha quente — ele rosna e se coloca por cima de mim em um
movimento rápido e logo está de joelhos entre minhas pernas, segurando por
debaixo dos meus joelhos e olhando meu sexo. Um grunhido maravilhoso sai
de seus lábios.
Levo um dedo à boca e chupo, querendo fazer isso com ele inteiro.
Dean me olha e estreita seus olhos claros.
— Não faz isso ou eu posso querer te fazer chupar meu pau — ele me
aperta um pouco. — Eu vou fazer isso um dia.
— Eu quero chupar seu pau — me remexo, gostando de pensar isso.
Deve ser bem… Diferente.
Ele grunhe e volta seu olhar para baixo, lambendo os lábios, então sua
mão direita vai até seu mastro e ele o aproxima, começando a pincelar contra
meu clitóris em movimentos circulares.
— Hmmmm — gemo, agarrando os seios que ficam pesados de repente.
— Você é muito gostosa — ele começa a respirar irregularmente.
— Preciso de você — me remexo outra vez, desejando-o demais.
— Espere aqui — Dean levanta e eu fico observando seu corpo
delicioso enquanto ele vai até uma porta e demora alguns segundos, até
aparecer novamente já envolvendo o preservativo em sua extensão.
— Abre essas pernas gostosas de novo — pede e eu sorrio, enquanto o
observo voltar à posição anterior. Seus dedos me tocam de leve e ele não
perde tempo, já colocando seu mastro em minha entrada úmida e tentando me
penetrar.
Ofego, erguendo os quadris, querendo recebê-lo.
— Mais — peço e ele geme, inclinando o corpo para mim e colocando
cada braço aos lados da minha cabeça e fazendo-os suportar o peso de seu
corpo, então sua boca vem de encontro à minha e ele grunhe, me beijando
com dureza.
Dean está desesperado e eu não estou diferente, então em uma sincronia
muito perfeita, como premeditado, eu ergo os quadris no mesmo instante que
ele impulsiona para dentro de mim e nós dois gememos.
— Você está me sugando — ofega, afastando o rosto para me olhar.
Seus cristais estão escuros e maravilhosos. — Isso é delicioso.
Sinto uma ardência, mas que vai sendo substituída aos poucos pelo
prazer quando Dean começa o vaivém torturante e difícil, eu me sentindo
molhar cada vez mais. É tão bom.
— Assim, baby — ele exala uma respiração funda, sem desviar o olhar.
— Geme mais para mim.
Balanço a cabeça para os lados, gritando quando seu braço passa por
baixo do meu joelho direito e ele ergue minha perna, empurrando mais fundo
ainda, meu corpo o prendendo automaticamente.
Estou louca de desejo.
— Minha nossa, Dean! — arregalo os olhos, quase engasgando quando
o sinto ir muito fundo mesmo e ondular os quadris, só para sair de forma
lenta e voltar com tudo; repetindo os movimentos várias vezes. Entrando
rápido e com força, e saindo de forma devagar. E de novo, e de novo, e de
novo...
— Que gostoso, Natasha — ele solta o ar em um gemido e me sinto
quase grogue pelas investidas quando se coloca de joelhos novamente, saindo
de dentro de mim rapidamente e me virando de lado, ainda segurando minha
perna. — Está gostoso?
— Sim! — grito, trêmula, agarrando o lençol com uma mão e fechando
os olhos quando o sinto incitar minha entrada, só para se afundar em mim
com um rosnado.
Dean não perde tempo e logo está de novo nos movimentos frenéticos e
me preenchendo todinha com seu membro grosso e duro, me fazendo sentir o
quanto ele é bom.
Meus gemidos se tornam gradativos e ele aperta minha coxa.
— Você gosta que eu te coma assim, Natasha? — ele estoca bem fundo
e fica parado, me fazendo tremer dos pés à cabeça. Céus... — Gosta, sim.
Goza para mim, vai.
Estou aérea quando grito e convulsiono embaixo dele, seu membro
recomeçando às investidas durante meu orgasmo explosivo e entorpecedor.
Estou leve de repente, muito quente, me sentindo toda molhada.
Abro os olhos e percebo que estou mordendo o lençol e minha
respiração está entrecortada.
Olho para o lado, para o Dean, e o vejo me observar, o peito subindo e
descendo da respiração ofegante enquanto ele está parado.
Sua mão acaricia minha perna e ele parece feroz, então se movimenta
calmamente, mordendo o lábio e fechando os olhos por uns segundos.
Já estou toda desejosa por ele de novo e levanto a mão, querendo tocá-
lo. Dean entende e solta minha perna, saindo de dentro de mim e me virando.
— Você está faminta — ele se inclina para me dar um beijo delicioso e
desesperado, então me remexo, reclamando pelo fato de ele afastar nossos
lábios e ir descendo pelo meu corpo.
Ele chupa meus seios, grunhindo de prazer e me deixando louca, só para
descer mais, indo pela minha barriga e me deixando em brasas, até chegar
entre minhas pernas.
Dean não hesita, sua boca logo está em minha carne sensível, ele
dançando a língua pelo meu clitóris, só para descê-la e enfiar dentro de mim.
Me arqueio, quase inconsciente.
Seu dedo logo se une à língua, e ele enfia um e depois outro, então
começa a me invadir com eles.
Agarro o lençol, sem saber mais como suportar a pressão.
— Eu vou… — engasgo, gemendo.
— Isso. Vem para mim, minha deusa linda — ele chupa meu clitóris e
empurra seus dedos fundo, tão fundo que eu quero chorar, então me
desmancho sobre o colchão, o orgasmo tão forte que me deixa tonta.
Respiro irregularmente, já fraquíssima.
Dean me chupa insistente, enquanto emite uns sons deliciosos e
masculinos.
— Você é perfeita — ele se coloca de joelhos novamente e me olha com
os olhos entrecerrados e a boca toda molhada.
Solto um gemido pela cena quente.
Sem eu esperar, ele me penetra de novo, dessa vez fechando os olhos e
jogando a cabeça para trás, com um rosnado alto.
— Meu Deus! — agarro os seios novamente, quente demais.
Dean agarra minha cintura e me olha, cerrando a mandíbula e começa
um vaivém frenético e rápido, sem parar; fundo e forte, não desconectando
nossos olhares enquanto pratica sua ação.
— Dean! — Estou quase subindo pelo colchão, engasgada. Vou
desmaiar logo, logo.
Ele me puxa ao seu encontro, intercalando agora o olhar entre mim e a
conexão de nossos corpos, e eu só posso o observar, impactada e
maravilhada.
— Não estou te fazendo minha, Natasha — ele me olha e então grito
quando empurra com tudo, só para sair de uma vez e rapidamente tirar a
camisinha, enquanto abro a boca e presencio-o se estimular, gozando na
minha barriga; os jatos sendo tão fortes que também chegam aos meus seios.
Ele grunhe, parecendo descontrolado.
Eu estou ofegante, encantada. Isso foi tão… Másculo.
O vejo erguer uma mão, a respiração muito desregulada, então espalha
seu sêmen por minha pele, erguendo os olhos para os meus.
— Você que me fez seu — completa.
Eu sorrio, não entendendo o que ele quer dizer, mas muito cansada para
perguntar.
— Linda — sussurra e calmamente deita ao meu lado, me puxando
imediatamente para seu corpo quente, onde eu suspiro e me acolho.
Namorar é bom. Namorar com o Dean, com toda certeza, melhor ainda.
Capítulo 24

— Por que tem um armário com meu nome em seu banheiro? —


Natasha pergunta, me fazendo parar de pensar tanto.
— Porque eu quis ser pró-ativo. Quis atender suas necessidades —
respondo, tranquilo.
— Como você sabia sobre o hidratante que uso?
— Quando sua bolsa caiu, no primeiro dia, eu vi a embalagem —
enterro meus dedos por seu cabelo e faço uma massagem na sua cabeça. —
Você comeu?
— Sim... — ela suspira, colando ainda mais nossos corpos. O dela tão
quente e moldado perfeitamente para o meu. — Posso te fazer uma pergunta?
— Quantas você quiser.
Ela se remexe, até levantar a cabeça e me olhar. Tão bonita com as
bochechas coradas e os lábios inchados. Eu suspiro.
— Você é ciumento?
Ergo as sobrancelhas, estranhando a pergunta.
— Não sou ciumento, mas gosto de manter meus bens protegidos —
deixo claro.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que eu não vou gostar de ver outros caras em cima de
você se é aonde quer chegar.
Natasha desvia o olhar, parecendo culpada.
— O que houve? — questiono, na defensiva. Já tem ex—namorado
querendo dar as caras? Eu não acredito. Mal temos um namoro.
— Nada — me olha. — Peter, meu amigo do trabalho, me convidou a ir
a um show com ele, porém não aceitei se não fosse com você junto.
Abro um sorriso, muito satisfeito pela informação.
— Isso é bom.
— É, mas, acho que ele ficou com raiva de mim… — hesita. — O
problema é que meu pai gosta muito dele.
— O que isso quer dizer? — É a minha vez de perguntar, não gostando.
— Nada. Eu apenas fiquei apreensiva. Se o Peter souber que você é o
meu namorado, pode falar com meu chefe e com o meu pai, e ambos não
gostam de você.
— Natasha, isso não tem absolutamente nada a ver — eu respiro fundo,
buscando controle. — O que temos é entre nós. Danem-se os outros se não
gostarem. Isso não inclui tanto o seu pai, é claro, mas ele não é um
empecilho. Não mesmo.
Ela me olha, os olhos claros carentes.
— Eu gosto muito de estar com você. É tão bom que me dá medo.
Concordo com ela, mas não vou dizer. Isso é bom demais e eu não quero
ficar me amolando. O dia já é demasiado corrido e tem um monte de merdas
para resolver. Eu só quero terminar e encontrar ela, que me deixa leve e
relaxado.
— Você está sorrindo — ela rasteja e sobe em meu corpo, nos colando
ao máximo, então deita a cabeça em meu peito. — Ainda estou decidindo se
você fica mais bonito sorrindo, bravo, sério ou carente.
— Qual o seu favorito até agora? — enrolo uma mecha de seus cabelos
em meus dedos.
— Hmm, o carinhoso.
— É?
— É — ela dá uma risadinha. — Você fica um neném.
Nós rimos e então nos encaramos por um tempo, um frio estranho me
atingindo por dentro e me fazendo suspirar. É bom e esquisito. Nunca senti
algo assim.
— Minha família vai viajar para nossa Fazenda no próximo mês. Você
quer ir? — questiono e talvez isso seja uma péssima ideia, porque mal nos
conhecemos, mas, que seja, eu gosto demais da Natasha e nós fazemos bem
um ao outro e eu quero que todos vejam isso.
— Vamos ver se terei algo para fazer até lá. Se não tiver, eu quero.
Assinto e me sento, segurando seu corpo contra o meu.
— Vamos tomar banho — aviso e rapidamente ela passa as pernas ao
redor dos meus quadris e me levanto, nos levando ao banheiro.
— Eu não queria tomar banho de novo — Natasha faz um beicinho
lindo e eu entro no box, fazendo-a ficar de pé e logo fechando o vidro. — Já
estava banhada.
— Isso antes de me ter no seu corpo — ligo os registros.
Ela suspira profundamente.
— Eu gosto da sensação, não é ruim — admite.
— Também gosto, mas, colabore, estou tentando achar uma desculpa
para tocar seu corpo o máximo que eu posso.
Ela ri e eu sorrio.
É leve, como eu digo.
Natasha entra debaixo da água e me deixa idolatrar seu corpo do jeito
que eu quero. Passo as mãos por todos os lados, agraciando cada pedacinho
de sua pele morna e macia, querendo me agarrar a ela e ficar simplesmente
abraçado. Por um longo tempo. Nós precisamos de uma viagem juntos.
— Há algum lugar que você gostaria de conhecer? — eu questiono.
— Hm. A Irlanda, talvez. Por quê?
— Porque eu posso te levar lá — tiro os olhos de sua barriga, onde eu
passo as mãos, então foco seu rosto. Natasha está com a boca aberta. — Você
gostaria?
— É sério?
— Sim — afirmo. — Um fim de semana, no momento, é o tempo que
posso.
— Oh, minha nossa! — ela tampa a boca e pisca os olhos. — Dean,
seria… Muito bom.
— Seria. Eu posso tomar as providências? — Pareço ansioso e estou
mesmo.
— Claro que sim! — Ela ri e envolve meu pescoço com os braços, me
dando um abraço apertado. Eu correspondo, deixando-a o máximo de tempo
contra mim.
Sim. Vai ser ótimo. Nós dois juntos, sem ninguém mais para nos
atrapalhar.

***

Enquanto Natasha dorme na minha cama, imagino que muito cansada do


seu dia de trabalho e o nosso encontro maravilhoso, eu saio do quarto,
deixando a luz apagada, mas a porta entreaberta com a do corredor acesa,
caso ela acorde, então vou para meu escritório.
Ela apagou depois que saímos do banho e ficamos deitados enquanto ela
me contava o tanto de coisa boa tem na Irlanda.
É mesmo uma sensação maravilhosa saber que ela está em minha casa,
dormindo na minha cama. Sem palavras.
Respiro fundo e me afundo em minha cadeira, ligando o notebook para
checar se já recebi o email dos meus novos fornecedores. Estou leve,
relaxado, feliz e satisfeito.
Assim que minha caixa de entrada abre, passo os olhos pela tela. Até
que vejo um nome que me chama a atenção. Mais que qualquer outro. E o
meu coração para por uns segundos.
Clico para abrir, com a vista um pouco nublada.

______________________________________

slaw@corporation.com
Stephanie Lawrence
Today, 6:05 pm

Olá, Dean.

Eu sei que você lembra de mim, apesar de muito tempo. Também sei
que pode estar um
pouco chocado... É compreensível.
Me desculpe aparecer tão de repente, mas eu apenas precisava falar,
em nome do que já
tivemos um dia…

Lembra daquele episódio? Eu tinha razão. Era mesmo verdade.


Precisei sumir, pois não
confiava em você, porém… É complicado.

Sua filha tem 4 anos e se chama Deana. Achei que combinava com os
olhos claros que
puxaram aos seus.

Me desculpe ter chamado você de moleque, mas ela precisa do pai e


agora vejo isso...

Com carinho,
Steph.
_________________________________________
Mal estou respirando quando termino de ler.
Capítulo 25

Me espreguiço e arrasto os pés para fora da cama, esfregando os olhos e


soltando um suspiro em seguida. Estou toda, toda mesmo, satisfeita e feliz.
Se isso não foi uma coisa maravilhosa, ter encontrado Dean, então não
sei o que pode ser.
Me forço a levantar e começo a caminhar para fora do quarto, seguindo
pelo corredor longo, até chegar na sala, mas a luz à minha direita chama a
atenção e caminho para ela, vendo uma outra porta entreaberta.
Entro, inspirando o cheiro bom e de casa limpa que tem. É mesmo muito
bom.
Meus olhos procuram por ele, pelo Dean, então o vejo atrás de uma
mesa extensa de cor preta. Ele está olhando para o nada, parecendo bem
distante e pensativo. Mesmo assim, está lindo. Sempre está.
Dou uma batidinha na porta, conseguindo sua atenção. Ele vira a cabeça
em minha direção e, depois de uns segundos me encarando — que parece
muito tempo —, um sorriso surge em seus lábios.
— Oi — eu digo e só quando seu olhar abaixa, é que me dou conta de
que não estou com qualquer roupa. Na verdade, ainda estou grogue e só
queria vê-lo.
— Oi, minha deusa — Dean afasta um pouco sua cadeira da mesa e
então me chama com a mão. — Venha cá. Estou sentindo falta do seu calor.
Eu vou, um pouco desconcertada por ver seus olhar me percorrer de
cima a baixo, nunca deixando morrer o sorriso que parece estar sendo um
pouco constante.
Quando chego perto, ele segura minha mão e bate no colo com a que
está livre.
— Aqui.
Ergo as sobrancelhas.
Dean me olha, o olhar tão claro mesmo no escuro.
— Abra as pernas e sente no meu colo — ele é específico.
Olho para suas pernas cobertas apenas pelo tecido fino do short cinza e
sorrio. Não hesito mais. Faço o que me pede.
Ele me acomoda como acha melhor e sorri para mim, um sorriso lindo.
— Como dormiu? — questiona.
— Muito bem, mas preferia acordar enroscada em você — faço um
beicinho, tirando uma risada sua.
— Nós vamos ter muito tempo para acordar enroscados — sua mão se
ergue e ele segura meu queixo, balançando um pouquinho. — Você é tão
linda.
— Obrigada — sorrio, segurando seus ombros. — Você também.
Dean assente e nós ficamos nos olhando. É bom, mas, eu não sei,
alguma coisa dentro de mim me diz que algo não está certo. Quase consigo
sentir. É como se ele me dissesse isso em silêncio.
— Você está bem? — pergunto cautelosa.
Ele dá um suspiro muito, muito fundo. E isso é mesmo a minha resposta.
— Preocupações com o trabalho? — acaricio seus braços, tentando
passar alguma coisa a ele. Um alívio.
— Nada sobre trabalho. Apenas que… Eu recebi um email que me
desmontou um pouco.
— Sobre…?
— Uma coisa complicada — ele dá uma risada grave, sem graça e então
desvia o olhar. — Digamos que é um pouco delicado e… — hesita.
Então eu sei, e ele nem precisa terminar. Não irá me contar. Tudo bem.
Acho que posso lidar com isso. O primeiro segredo próprio de um
relacionamento. Penso rapidamente se fosse ao contrário, se Dean aceitaria
que eu ocultasse algo de seu saber.
— Está bem. Você pode me contar quando quiser ou não quiser — tento
sorrir, animada.
Ele murcha um pouco, seus olhos fenomenais voltando aos meus.
— Quero muito contar, mas não é o momento. Preciso verificar uma e
outra coisa antes — vagueia as mãos por minhas coxas, o calor dele
transferindo para mim. — Mas nós ainda vamos para a Irlanda, certo?
— Certo — eu concordo. — Vamos olhar as ovelhas sob o céu
ensolarado.
— Isso não parece tão divertido — ele ergue as sobrancelhas, surpreso e
pensativo.
— Também podemos correr um pouco. Eu gosto. Imagino que você
também, já que um corpo assim não se consegue à toa.
— Você tem razão — assente — ou também, sabe o que faremos?
— Hm?
Ele sorri perversamente e reteso ao sentir uma de suas mãos chegar ao
interior de minhas coxas, Dean fazendo uma pequena dança com os dedos,
sem me tocar exatamente onde quero.
Ofego, contrariada.
— Faremos amor sobre a grama, debaixo de alguma árvore grande,
possivelmente em algum lugar parecido com uma colina, já quando o sol
começa a se esconder — sua voz sai em sussurros, como se ele estivesse
imaginando e ao mesmo tempo materializando. Estou imediatamente
arrepiada e… — E então eu vou ouvir você chegar ao clímax, me chamando
e o som da sua voz vai se perder junto com o vento, até eu poder fazer você
repetir de novo, de novo… — seus dedos me tocam, um suspiro saindo de
meus lábios. — E de novo. Até estarmos suados e exaustos.
— Isso me parece uma excelentíssima ideia, Sr. Mackenzie — eu sorrio,
envolvendo meus braços ao redor de seu pescoço e me inclinando para beijá-
lo.
Dean corresponde. É um beijo doce e harmonioso. Nada muito rápido e
nem necessitado. Ele parece bem calmo, somente movendo os dedos
lentamente em mim, com a outra mão em minha lombar. É um ótimo jeito se
despertar, com toda certeza.
Depois de uns minutos, eu me afasto e deixo um beijo no canto da sua
boca, então enfio minha cabeça em seu pescoço.
Ficamos assim, em silêncio por um tempo.
— Eu queria acordar todos os dias assim — digo, entre um suspiro.
— Eu também queria que você acordasse todos os dias assim.
— Carente?
— Pelada.
Nós rimos e o silêncio nos embala de novo. É muito bom e agradável.
Tudo cheira ao Dean e ao seu perfume provavelmente muito caro. Uma
mistura enérgica e presencial. Algo que diz, "ei, eu sou um macho alfa, mas
também sou gentil".
Respiro fundo, sonhadora, enquanto o conforto total me envolve e me
deixo levar pelo sono.
Capítulo 26

Eu acho um pouco estranho que Dean esteja me... Ignorando? Não sei
dizer ao certo. Ele está em sua mesa, concentrado em algo na tela, mas já
disse que logo vai me dar atenção.
Espero que sim, porque não fiquei quase duas horas conversando com
meus pais e tentando convencer meu pai de que ele é um bom homem, para
ser ignorada no terceiro dia. É o terceiro?
Levo as mãos ao rosto e bufo. Não sou tão paciente.
Me levanto do sofá e caminho até sua mesa, então dou a volta até estar
ao lado dele, que vê uns gráficos coloridos e uma série de números no
monitor. Já está noite, ele não deveria estar tão focado no trabalho assim.
— Estou com fome... — divago, sentando na borda de sua mesa. —
Vamos jantar?
Ele me olha, quase parecendo fazer a ação exigir muito.
— Vamos.
— E nossa viagem? — mordo uma unha, agoniada pelo olhar que
recebo dele. Está opaco e sem qualquer brilho.
— Sábado — responde e levanta, então me olha de cima. — Você me
perdoa se eu for ali embaixo rapidinho?
— O que você vai fazer? Ali embaixo onde?
— No andar, falar com um funcionário — me dá um beijo na bochecha.
— Fique aqui. Eu já volto e nós jantaremos. Coisa rápida. — E sai, sem me
esperar responder.
Suspiro, profundamente triste. Quer dizer, eu não sou culpada, mas
esperava ser recebida com um beijo de tirar o fôlego e então nós nos
tocaríamos muito e iríamos para sua casa. Ou na sua própria mesa. Não
importa. Só queria carinho.
Levanto da mesa e sento na cadeira dele, então movo o mouse e a tela
do email abre. Passo o olhar, vendo um monte de nomes desconhecidos e de
empresas. Coisas que não me interessam.
Abro alguns para ler por ler. Um está escrito importante e eu resolvo
conferir.
Stephanie Lawrence. É um nome bonito.
Clico e começo a ler.
Talvez se passe um segundo. Ou um minuto. Um século, eu não sei.
Nem sei bem como termino. Isto é...
Me levanto, dando um passo para trás e engolindo em seco. Uma
enxurrada de informações, é o que parece; quando, na verdade, foi apenas
uma.
Dean tem uma filha?
Tampo a boca com uma mão e, quando ouço a maçaneta, rapidamente
volto a colocar na área de trabalho e o vejo reaparecer. Por isso ele está
estranho.
— Ele não está — diz simplesmente. — Onde você quer ir? — Dean
caminha até onde está seu paletó e veste-o, me olhando em seguida. — O que
foi, Natasha? — parece imediatamente na defensiva.
— Nada — disparo, então desvio o olhar.
Choque, agonia, torpor. Céus. Deana.
— Não... Melhor eu ir para casa — emendo.
— Por quê? Nós combinamos de jantar juntos.
— Foi, mas eu... — pigarreio. — Eu preciso dormir um pouco a mais.
Estou levantando muito cedo.
Ele se aproxima, estranhando alguma coisa, mas não olha para o
computador.
Será que não pensa em me contar?
— Você está bem? — ele agarra meu queixo e balança de levinho. —
Está pálida, boneca.
— Hm, é — eu tento sorrir. — Você pode me levar em casa?
— Claro que sim, se é o que você quer — ele abaixa o olhar, bem para
minha barriga, o que me deixa desconfortável. — Eu sei que estou me
prevenindo, mas não podemos confiar na sorte. Você acha que pode começar
a fazer o mesmo?
Me remexo, incomodada. Péssima. Afligida.
— É... Acho que posso...
— Ótimo. Posso falar com a minha irmã para você...
— Não — o interrompo. — Eu me viro.
Dean me estuda, parece entender que algo mudou, mas, se ele não
percebeu, não sou em quem vou falar.
— Está bem — diz, por fim. — Vamos indo. Eu ainda preciso passar em
um lugar hoje.
— Que lugar?
— Você não sabe onde é.
Franzo o cenho quando ele caminha até a porta e a abre, me esperando.
Tudo bem. Pode não ser tão grave e ele pode estar esperando o momento
certo para me contar. Vou lhe dar este voto. Faremos uma viagem incrível e
maravilhosa como namorados. Será perfeito e logo Dean vai me contar tudo.
Espero que sim.

***

Estou segurando a ansiedade enquanto espero no carro. Dean está


falando ao telefone. É sábado e nós chegamos à Irlanda. Mais dormi do que
vi o que acontecia e, quando chegamos, ele me acordou. Não sei bem se por
conta do que descobri ou se porque estou realizando um sonho, mas estou
muito nervosa. Muito mesmo.
Observo-o enfiar a mão livre no bolso da calça preta, que o deixou mais
lindo, então ele olha para cima, todo potente e eu suspiro onde estou.
O taxista resmunga algo, então boto a cabeça na janela e balanço o
braço, chamando sua atenção. Ele me olha e sorri, desligando o celular depois
de uns segundos e começa a caminhar em direção ao carro.
Quando está ao meu lado, me olha rapidamente e dá um sorriso discreto,
então diz o endereço ao motorista.
— Eu desliguei o celular — avisa. — Você está bem?
— Um pouco tonta, mas bem. Não me importo se você precisar atender
o celular.
— Não quero atender e essa é a questão — ele suspira fortemente,
pesaroso. — Um final de semana nosso, está bem? Vamos nos conhecer
melhor — alcança minha mão e faz um carinho.
— Sim — eu assinto, encorajadora. — Vamos nos conhecer e, tudo bem
se não quiser me contar coisas mais íntimas ainda... Eu sei que intimidade
entre casal leva tempo e...
— O que você quer dizer? — me interrompe, erguendo uma
sobrancelha. — Você tem algo oculto que não pode me contar?
Quero rir, mas me contenho.
— Não. Espero que nenhum de nós.
— Bem — Dean desvia um pouco o olhar. Ele está sério de novo e eu
não gosto mais. Prefiro ele leve. — Espero que não. Você foi ao médico?
Me remexo, então nego.
Ele suspira, soltando minha mão e esfregando o rosto com as duas.
Cruzo os braços, me encolhendo onde estou.
— E se eu tivesse esquecido as camisinhas? — me olha e eu quase fico
muito impressionada. — O que seria?
— Bem, eu não sei — dou um riso nervoso. — Você está bem mesmo?
— Estou, Natasha. Apenas não quero que engravide, está bem? — Ele
está irritado. Eu sinto.
— É só não me tocar então — sorrio, muito cínica, e viro o rosto para o
outro lado.
Qual o problema dele, afinal? Eu deveria estar chateada e não estou, por
que ele acha que pode me tratar assim?
Ouço seu suspiro e nós ficamos todo o tempo em silêncio. Já está de
tarde na Irlanda e é muito prazeroso ir olhando o caminho. O frescor do vento
junto com o sol que se esvai. Nós viemos para Dublin e o clima é bem
gostoso. Um vento bom, mais frio do que estou acostumada em Nova York,
com toda certeza. Nada que me incomode, pelo contrário, vou poder usar
meus casacos novos que trouxe.
Dá para sentir o cheiro diferente, de lugar novo, conhecimento, e a
sensação é perfeita. Eu gostaria que Dean estivesse no seu modo carinhoso,
porque estaria aconchegada a ele, lhe dizendo o quanto estou feliz.
Suspiro profundamente e depois de mais um tempo, o taxista para ao
lado de um castelo. É inevitável que eu olhe para o lado, para o Dean, mas
me decepciono por vê-lo olhando para o lado oposto.
Respiro fundo e abro a porta, saindo e ficando de frente para o lugar
gritantemente chique, lindo e requintado. Um castelo cinza.
Rapidamente acompanho o motorista e pego minha mala, ele colocando
a mochila do Dean em cima. Agradeço com um sorriso e aguardo meu
namorado, que parece tão lerdo quanto uma tartaruga. Depois de pagar a
viagem, ele se aproxima e pega sua bagagem, então me olha.
Evito um resmungo por ver sua expressão fechada e séria. Já tinha me
desacostumado.
— Por que você está emburrada? — ele tem a audácia de perguntar.
Então eu rio.
— Imagina, Dean. Estou feliz e serelepe. — Agarro a alça da minha
mala e começo a caminhar para dentro do hotel, sentindo-o me acompanhar.
Eu passo pela entrada, mal conseguindo respirar. Minha atenção está
imediatamente toda focada na recepção, que é um salão lindo e amplo.
— Eu vou pegar as chaves — ele avisa e passa por mim, indo até a
recepção, e eu aproveito para babar um pouco mais.
Céus, se eu achava que o quarto exclusivo era fenomenal, isto aqui é o
quê? Sem palavras! Estou emocionada.
Observo Dean voltar com as chaves em mãos e somente faz um aceno
com a cabeça, para que eu o acompanhe. E eu vou.
Estou um pouco intrigada, mas espero que ele me conte sobre o lance da
filha. Eu preciso saber. Sou namorada dele, afinal. E, ele me perdoe, mas se
tiver uma filha mesmo, não poderei ficar com ele.
Respiro fundo e o sigo pelas salas, até uma escada. Tenho um pouco de
dificuldade com a minha mala, mesmo os degraus sendo largos, mas Dean
parece não notar, subindo na frente sem nem olhar para trás.
Quase não acredito nisso.
Quando chegamos ao andar superior, percorremos um corredor até
nosso quarto que, assim que ele abre a porta, noto logo a cama de casal como
a que tem no quarto exclusivo. Vinho. Madeira. Rústica. Autêntica.
Estou sorrindo e deixo minha mala no meio do quarto, então corro para
a cama e me jogo em cima, rindo e feliz. Nem acredito.
— Nós vamos ao centro de Dublin! — digo, sonhadora. — E depois ao
Dun Laoghaire! E ver o sol nascer nas colinas de manhã! E namorar!
— Natasha — Dean me corta, o tom gelado, me fazendo desmanchar o
sorriso e olhá-lo de imediato. — Tenha calma, está bem? Vamos ficar
somente hoje e amanhã. Não dá para fazer tanta coisa.
— O que você tem? — questiono, já irritada. — Se me convidou para
não aproveitar, era melhor que nem viesse.
— Quis te fazer feliz e você ainda fica com raiva de mim? — Ele parece
incrédulo.
— Você só pode estar de brincadeira! — esbravejo e me levanto, já cega
de raiva. — Não sou em quem está se comportando estranhamente — deixo
claro, bem próximo ao seu rosto. — Um dia você me possui na sua própria
cama e no outro diz que eu preciso me prevenir porque não podemos confiar
na sorte! Você acha que sou otária, Dean? Ou qualquer puta de esquina que
você dorme?
— O que você quer dizer? — ele cerra a mandíbula, nervoso.
— Eu quero dizer que isso ainda nem é um namoro e você já está me
humilhando! É assim que me sinto! O que vai ser? Quando precisar de um
alívio, aí você vem me fazer carinho e dizer coisas bonitas? É assim que
funciona para você?
— Você não está falando nada com nada — ele bufa, em deboche. —
Não vou ficar o tempo inteiro te fazendo carinho. Odeio carência.
Minha boca se abre no limite e me sinto querer explodir. Pode acontecer
isso.
— Por que me pediu em namoro?
— Não pedi, avisei que estávamos namorando — ele bufa novamente e
esfrega o rosto com as mãos. — Quer saber, Natasha? Eu vou sair e dar uma
volta. Toma um banho e esfria a cabeça, aí sim nós conversaremos.
Fico estática quando ele simplesmente se vira e vai embora, fechando a
porta num baque.
Eu não acredito nisso.
Volto para a cama, onde caio sentada e desacreditada.
***

Sinto meu corpo enrijecer enquanto abro os olhos e somente vejo um


clarear dourado. Parece somente a luz do abajur que deixei ligada. Já está
noite provavelmente.
Mas não é isso que me perturba, e sim o toque em minha barriga, suave
e gentil. Imediatamente me dou conta do calor atrás de mim e, quando sinto o
fogo também em meu pescoço, eu passo a entender.
Dean.
Ofego, tentando me manter centrada, então viro o rosto, imediatamente
vendo o seu e ele segura meu queixo, inclinando a cabeça e preenchendo
meus lábios com um beijo delicioso.
Estou grogue e poderia me lembrar de estar puramente com raiva, mas
meu corpo está mole e querendo ser tocado.
Dean me beija por vários minutos, intercalando entre chupadinhas em
meu lábio inferior, enfiando sua língua em minha boca e gemendo baixinho.
Estou toda mole enquanto sinto sua mão passear por meu corpo, agarrando
meus seios e apertando, acariciando minha barriga, até descer às minhas
coxas, me fazendo separá-las.
Suspiro em seus lábios quando ele me toca, seus dedos fazendo fricção
contra meu clitóris e eu me sinto derreter.
Dean parece muito paciente enquanto conduz o beijo e os movimentos,
até que sinto seu dedo longo me penetrar de forma lenta, ele iniciando um
vaivém gostoso e calmo.
Separo nossos lábios, só para poder arfar, então encontro seu olhar e
meu peito parece doer porque Dean parece triste. Bem triste.
Oh, droga...
Mordo o lábio, querendo perguntar se ele está bem, mas não parece ser
algo promissor no momento. Ele está concentrado em mim.
Respiro fundo quando o vejo se arrastar para baixo de repente,
desconectando nossos olhares só quando chega entre minhas pernas e pareço
prestes a desmaiar quando traz sua boca à minha carne sensível.
Fecho os olhos com força, perdida de prazer.
Dean parece faminto enquanto me lambe, suga, geme e chupa. É uma
sensação maravilhosa e quero sentir muito mais.
Ele separa mais minhas pernas, me lambendo com vontade até que,
impulsionada ao delírio, eu me deixo ir, o orgasmo me atingindo de forma
explosiva e delirante. Chego quase a tremer.
Mas Dean não para, apenas me vira rapidamente de bruços e se coloca
entre minhas pernas novamente, separando-as até eu sentir sua língua me
percorrer novamente, em toda carne que encontra.
Estou tremendo, virando o rosto contra os travesseiros. Suas mãos
apertam minha bunda com força e ele dá um grunhido baixo, rouco e
delicioso.
Sinto dois dedos longos se colocando dentro de mim e quero chorar de
prazer. É muito bom.
Ele começa um vaivém com força gradativa, enquanto me deixa
mordidinhas pela pele.
Me ergo um pouco nos joelhos, para ajudar em seus movimentos, e isso
só parece me fazer sentir mais prazer. É delicioso.
Quando Dean esfrega meu clitóris, eu me despedaço em mil pedaços, os
joelhos fraquejando e meu corpo tremendo, prendendo seus dedos dentro de
mim.
Estou ofegante e ainda aérea quando consigo vê-lo voltar a deitar do
meu lado e tirar os cabelos do meu rosto.
— Nunca vai ser para o meu prazer somente, você entendeu? — Ele
ainda parece irritado.
— O que significou isso?
— Significou que não sou um idiota como qualquer um.
— Eu não entendi.
— Não espero que entenda, só aceite — ele estende o braço e desliga a
luz do abajur, então vira para o outro lado, para dormir.
Quero chorar.
Capítulo 27

Estou um pouco desnorteada, sem saber bem como estou conseguindo


trabalhar. Quando Dean se virou e dormiu, eu levantei, peguei minha mala e
vim embora. Ele ao menos percebeu e, se percebeu, não falou nada.
Nem uma ligação, nem uma mensagem, nadinha… Imagine se eu não
tivesse com dinheiro suficiente para poder voltar sem problemas?
Suspiro fortemente, então vejo uma sombra se aproximando de minha
mesa, onde me esforço a terminar uma logomarca.
— Você está bem? — É o Peter.
— Estou — esfrego a testa, tentando tirar as linhas de expressão. — E
você?
— Eu estou. O show foi o máximo, você perdeu. A única coisa ruim é
que eu estava sozinho e precisei dançar discretamente.
— Você dançou? — sorrio.
— Ei, qual a graça? — ele empurra meu ombro de leve e se apoia em
minha mesa. — Você está bem mesmo? Não está parecendo muito.
— Apenas cansada e confusa — ofego e finalmente o olho, vendo a
expressão confortadora do meu amigo. É o mesmo olhar de compreensão que
ele sempre me lança quando não sabe o que fazer ou dizer. — Descobri que
meu namorado tem uma filha de quatro anos e, a melhor parte, não foi ele
quem me contou.
— Ihhhh — Peter emite um grunhido. — Que merda, cara. E agora?
— E agora eu não vou ficar com ele.
— Por que não? Não gosta dele?
— Não, Peter. Porque ele tem uma filha.
— E daí? — ele cruza os braços, erguendo uma sobrancelha. — Você
tem algo contra isso?
— Não, eu não tenho nada contra isso — bufo. — Apenas quero que
entenda o meu lado; ele não pretende me contar, ok, menos um ponto. Se
ficássemos juntos, teria uma criança no meio da relação e só por parte do
Dean, sendo assim, se ela fizesse algo que eu não gostasse, eu teria que
engolir sem querer — suspiro. — Menos dois pontos. Se chegássemos a ficar
juntos, não é de todo, mas a maioria de meio-irmãos não se dão bem, menos
três pontos. O que quero dizer é que, se uma coisa começa errada, não
adianta, a tendência dela é se encaminhar ao errado.
— Que complicado — Peter abre bem os olhos. — Vocês já terminaram
então? Foi o que, uma semana?
— Nem foi um namoro — quero rir, mas só respiro fundo. — Ele ainda
me tratou super mal e eu vim embora, nem a droga de uma mensagem enviou
para saber se cheguei viva. Nada, nada.
— Nada? Que tipo de homem é esse que você arrumou, Natasha?
— Eu não sei. Um muito confuso, pelo visto. Estou tentando entender o
lado dele e me esforcei para isso. Achei que essa viagem ia nos deixar um
pouquinho mais próximos e seria um bom tempo para ele me contar sobre a
notícia, mas foi uma droga. E o pior é que nem consegui ver a Irlanda direito.
— Sinto muito — ele parece não saber mesmo o que dizer. — Você
pensa em conversar com ele e esclarecer tudo? Eu sabia que era um cara
errado. Percebi pelo seu olhar.
— Tanto faz mesmo, Peter — suspiro, profundamente abalada. — Eu
estava gostando dele e ele vai e tem que estragar tudo…
— Isso é muito depressivo. Você não prefere dar uma volta comigo
depois do trabalho? Eu te deixo em casa.
— Não — nego. — Eu só quero dormir.
— Ah, vamos lá. Não quero que fique se sentindo tão triste. Vamos ao
cinema, hoje estreia um filme novo. Pode ser bom.
— Acha que vou conseguir prestar atenção?
— Nós tentaremos. Só estou tentando ser o amigo de sempre, que fica
ao seu lado. O que me diz?
Suspiro mais uma vez, então olho para meu celular na mesa, que não
indica nenhuma chamada perdida.
— Tudo bem. Uma volta — eu concordo, recebendo um sorriso largo de
Peter.
Nada pode dar mais errado do que está.
Capítulo 28

Nem acredito ao ver a mulher loura se aproximando de onde estou. É


mesmo ela. A Stephanie. Depois de tanto tempo e… Não sei bem o que sinto.
É uma mistura de raiva e apreensão. Não por ela, mas por minha filha. Isso é
estranho. Uma filha.
Não levanto quando ela se aproxima do banco. Preferi um local público
para nos encontrarmos do que qualquer outro.
Stephanie parece muito sem jeito enquanto me encara de cima, seu
corpo ainda minúsculo me fazendo lembrar alguma coisa, nada do que me
agrade.
— Sente-se — peço e ela o faz rapidamente. Parece apreensiva também.
— Uma filha? — desvio o olhar para ela. A pergunta é simplesmente muito
instantânea.
— Sim, a Deana — responde e engole em seco, então olha para baixo.
— A Deana — repito. — Quero vê-la.
— Não posso permitir ainda — Stephanie junta as mãos sobre o colo e
mexe os dedos. — Ela… Precisa saber primeiramente que tem um pai e aí
nós conversaremos sobre isso.
— Já está tudo pronto para ser resolvido. Eu falei com o meu advogado
e…
— Não! — ela estende as mãos, parecendo perplexa. — Não precisa de
advogado! Vamos fazer isso entre nós. Sem complicações e justiça no
meio… Por favor.
— O que você espera, Stephanie? — viro o corpo para ela, encarando-a.
— Você some por quatro anos e aparece me dizendo que tenho uma filha e
quer que eu simplesmente converse com você civilizadamente e entremos em
um acordo sem algo justo? Aliás, o que você fez parece justo?
Ela se encolhe, parecendo nervosa.
— Deana é muito pequena, eu não queria que ela… Sofresse com isso
de justiça. Eu pensei que... Que pudéssemos voltar a ficar juntos e sermos
mesmo uma família... Eu ainda te amo.
— É o quê? — dou um riso incrédulo. — Você veio me procurar
pensando que vamos voltar a ficar juntos? Você perdeu a importância para
mim quando foi embora sem confiar em mim! Eu teria ficado com você e
sabia disso.
— Você era muito jovem e…
— Dane-se, Stephanie! — esbravejo. — Eu me responsabilizaria.
— Não dá para mudar o passado e a sua raiva não está adiantando em
nada! — ela está com a voz um pouco trêmula. — Você tem uma filha e uma
mulher que ainda te ama! Por que vai desperdiçar?
— Você só pode estar de palhaçada. Nós vamos fazer o teste de DNA.
— É o quê? — ela arregala os olhos e abre a boca ao máximo. — Você
está duvidando de mim?
— Espera que eu acredite que a filha é minha sem mais nem menos?
Assim, do nada?
— Está insinuando que eu estive com outro homem enquanto estava
com você? — Stephanie está espantada, então desvia o olhar e, depois de uns
segundos olhando para o chão, começa a chorar. Um choro contido.
Bufo, desacreditado.
— Eu não suporto drama, Stepanhie.
— Você é um… — soluça. — Um desgraçado… Como pode… Pode
insinuar algo assim? — me olha, os olhos vermelhos. — Não sabe que te
amo?
— Não, eu não sei. Vou te dar o endereço da clínica e…
— Não! — declara e levanta, parecendo irritada enquanto chora. —
Esqueça que vim até aqui. Se não é capaz de acreditar em mim, que nunca
menti para você, não é capaz de ver sua filha também. Já me virei muito bem
até aqui, posso…
— Se é filha minha, eu quero confirmar! — também levanto, nada
contente. — Não vou acreditar em sua palavra.
Stepanhie grunhe e abre a bolsa rapidamente, tirando o celular e
mexendo em algo, então o vira para mim e eu vejo; uma menininha de
cabelos lisos e louros, com o sorriso mais doce do mundo.
— Ela te lembra alguém, seu idiota? — resmunga. — Ela tem os seus
olhos e os seus lábios! Sua filha! Se não é capaz de acreditar no que vê, então
não posso fazer nada!
— Ela… — engulo em seco.
— Se quer justiça, tudo bem. Pode começar a ajudar criando-a. Não
quero fazer DNA, isso é uma humilhação! Fui fiel a você! Chame seu
advogado, mas não faremos o teste porque nós dois sabemos que Deana é sua
filha — ela se vira e começa a andar para longe de mim.
Eu volto a sentar, meio abalado e inteiramente encantado.
Tenho uma filha.
Quero sorrir e já estou quase o fazendo quando ergo o olhar para o vasto
verde do parque e eu a vejo.
Droga.
Natasha. Correndo. Com um homem. E rindo.
Céus, me esqueci da minha namorada.
Capítulo 29

Peter está tentando me acompanhar, mas está falhando miseravelmente.


Confesso que é uma cena engraçada. Ele corre engraçado e está com a língua
para fora e o rosto todo vermelho, parecendo correr uma maratona.
Começo a correr no lugar, esperando-o se aproximar. Me controlo para
não cair na gargalhada.
— Chega! — ele ofega, ainda um pouco longe. — Chega, Natasha! Pelo
amor de Deus!
Paro e começo a rir, inevitavelmente.
Meu amigo vem o resto do caminho praticamente se arrastando, então
chega ao meu lado e se deixa cair na grama, deitando ofegante.
Coloco as mãos nos joelhos e me inclino para ver seu rosto.
— Está tudo bem?
— Engraçada — ele mal consegue falar. — Você tem nitro nos pés?
— Não — rio. — Desculpe, quando me convidou para correr, eu pensei
que você já o fizesse.
— Não, costumo só andar de bicicleta e… — respira fundo. — Malhar
um pouco. Você é um furacão.
— Foi mal — me deito ao seu lado.
Dá para ver o céu azul e límpido acima de nós. O dia está uma delícia.
Sábado na temperatura exata para uma maravilhosa corrida. Seria um
maravilhoso dia também, se eu não tivesse conhecido Dean Mackenzie.
Cretino idiota.
Suspiro enquanto meu amigo resmunga algo ao meu lado.
— Você acredita que o Sr. Hume pretende dispensar um de nós até o
próximo trimestre? Nós o ouvimos conversar com a esposa.
— Todos nós temos a capacidade de arrumar um novo emprego.
— Sim, mas não será você — ele ri, sem graça. — Já foi um sacrifício
ser aceito lá, imagine até achar outro.
Seguro sua mão e aperto, olhando-o.
— Você vai ficar bem, Peter — garanto.
Ele também me olha e sorri.
Peter e eu nos demos logo no primeiro dia de trabalho. Colin demorou
mais a acostumar comigo e, mesmo depois de tanto tempo, mal nos falamos
direito. Acho que não gosta de ser eu quem recebe mais que ele. Mas não
temos nenhum problema em conviver juntos. Sabemos trabalhar.
— Natasha?
Eu mal acredito no que estou ouvindo quando viro a cabeça e tampando
a luz do sol em meu rosto, tem o Dean. Ele me olha de cima, a expressão
séria e a mandíbula cerrada, então desvia o olhar e eu sei que está olhando
meu amigo ou nossas mãos juntas.
— Olá, cidadão. Você está tampando o sol. Pode dar licença, por favor?
Dean abre a boca, mas logo fecha de novo, então urra. Parece um ogro,
esse escroto.
— O que está fazendo deitada e segurando a mão de outro homem? —
ele questiona, nada amistoso.
Me levanto, incrédula, então olho dentro de seus olhos para que ele
possa entender o que estou dizendo.
— Você é um idiota. Não pense que vai poder aparecer do nada e me
pedir satisfação de alguma coisa. Se tendo isso que você chamou de namoro,
eu não precisava te explicar nada, quanto mais agora, que você está valendo
para mim o mesmo que os cachorros enterram — aponto para ele. — Tenho
pena de você, pelo homem ridículo que você é. Espero que não seja um pai
tão idiota quanto! — olho para Peter, que também levantou e parece
incrédulo, olhando Dean. — Vamos embora, Peter.
— Vamos embora, Peter? — ele agarra meu braço. — Que merda é
assa, Natasha? Como você sabia que…
— Que você tem uma filha? Eu vi no seu email porque, se dependesse
de você, eu não saberia nunca! — me desvencilho de seu contato. — Outra
coisa, a viagem foi uma merda e eu gostaria que você enfiasse a sua marra
bem no meio do seu…
— Tudo bem — Peter entra à minha frente, querendo encerrar uma
possível briga, e, quando ouço o grunhido de Dean, sei que ele não gostou da
ação do meu amigo. — Acho que você deve ir embora porque ela não quer
falar com você.
— Você está louco? — Dean sibila. — Eu arrebento sua cara em dois
segundos se não sair da minha frente e me deixar falar com a minha
namorada.
— Sua namorada? — ponho a cabeça por cima do ombro de Peter. —
Você pirou? Não sou nada sua! Absolutamente nada!
— Você é minha e ninguém toca em você, além de mim! — ele rosna e
eu grito quando vejo meu amigo ir ao chão do nada. — Não se brinca com
homens como eu! — ele tenta me segurar, mas o empurro veemente e acerto
seu rosto com a palma da mão, Dean grunhindo.
— Você não encosta mais em mim, seu babaca! — deixo claro e me
abaixo, para ver que Peter está com a boca sangrando. — Vai embora, Dean!
— Está me mandando embora? — ele ri. — Sua lunática. Então fica aí
com esse babaca, que não sabe nem se defender de um soco — cassoa e sai
andando, me deixando abalada e constrangida ao ver a quantidade de pessoas
que observaram a cena.
— Peter, você está bem? — toco seu rosto.
— Ele? — questiona e sorri, os dentes vermelhos. — Eu posso ser
melhor que ele.
Suspiro e me esforço a ajudá-lo a levantar.
Dean descaminhou a minha vida.

***

Termino mais um dia de trabalho com dor no corpo. Estou péssima. Não
deveria, mas estou. Pobre Peter, ainda está com o canto da boca inchado do
sábado. Dean é um idiota. Eu não acredito que ele fez um alvoroço daqueles
e ainda se intitulou como dono da razão.
Suspiro e abro a porta, então saio para a rua. Já está quase anoitecendo e
tudo indica que vai chover, o que é ótimo, porque eu levanto com mais
preguiça. Tudo tem dado errado ultimamente.
Atravesso a pista e vejo meu amigo em pé, em frente à coluna de uma
loja. Ele saiu mais cedo hoje, então não entendo o que pode estar fazendo por
aqui.
— Natasha, oi — ele acena e me aproximo, segurando a alça da bolsa.
— Você já está indo embora?
— Estou, e você? Por que está aqui?
Ele enfia as mãos nos bolsos da bermuda e se remexe, meio sem graça.
— Você vai achar que estou te importunando se eu pedir uma coisa?
— Depende. O quê?
— Que você venha comigo ao meu apê novo. Queria que fosse a
primeira a ver… Você sabe, já que eu não tenho mais ninguém para mostrar.
— Ah… — suspiro em lamento. É verdade. Ele é sozinho e os pais
moram muito longe. — Tudo bem. Onde fica?
— Aqui perto — seu sorriso renasce, dessa vez animador. — Você vai
mesmo?
— É claro — concordo, então gesticulo para ele ir à frente. — Vamos
conhecer sua casa nova.
Peter acena com a cabeça e começa a caminhar, comigo o seguindo pela
calçada.
Tudo bem, uma visita não vai fazer mal.

É um prédio um pouco velho, mas muito aconchegante. Tem somente


sete andares e o Peter mora no quinto. O ruim é que, como não tem elevador,
nós temos que subir um monte de escadas. Mas ele explicou que, dessa
forma, o aluguel é mais barato. Pudera.
Já suada e agoniada, finalmente chegamos ao seu andar e meu amigo
abre a porta surrada e marrom, então um cheiro delicioso de lavanda ou algo
assim, nos invade.
Eu sorrio para ele e adentro a porta, chegando à salinha. É pequena, mas
linda e arrumada. É a cara do Peter. Um sofá de dois lugares cinza, um tapete
grande no chão, e uma TV média na parede, sem contar a pequena estante
com um videogame e um notebook.
— A cozinha é aqui — ele me chama e eu vou, chegando a um batente
que dá para um cômodo ainda menor, que possui um fogão, uma geladeira e a
pia, tudo no lugar.
— É tão lindo, Peter — comento sorridente. Ele sorri de volta e sai,
caminhando até o outro extremo da sala, que tem uma porta menor. — O que
é aí?
— Vem ver.
Caminho até ele e coloco a cabeça, vendo que é o quarto.
— Seu quarto.
— Meu quarto — ele entra e senta na cama. — Experimenta só. É um
colchão novo que lançou. Eu fui um dos primeiros a comprar.
— Ah, é? — entro e sento ao seu lado, balançando um pouco na cama
para experimentar. — Verdade, bem macio — caio deitada quando menos
espero e começo a sentir cócegas por todo corpo, então grito, me debatendo e
rindo.
— Ataque de cócegas!
— Para, Peter! — pareço um pato esganiçado, rindo e roncando. — Por
favor! Estou em desvantagem!
Ele ri e para, deixando as mãos em minha cintura, então me olha de
cima.
Eu ofego, sorrindo.
— Nem acredito que você está na minha cama — sussurra.
Paro de sorrir, me dando conta da situação, então pego impulso para
levantar, mas Peter me segura de leve. Eu o olho, um pouco apreensiva.
— Por que você não me deu uma chance nunca?
Engulo em seco, vendo-o muito perto do meu rosto.
— Peter, não… Nós somos amigos — respondo agoniada.
— Talvez porque você só me ver assim — ele suspira, parecendo
derrotado. — Também sei ser um bom namorado e amante, é sério.
Eu rio, de nervoso.
— Não acredito que estamos tendo esse tipo de conversa…
— Por quê? — ergue a mão e acaricia meu queixo. — Me deixe te
mostrar.
— Como pretende me mostrar isso?
Antes que eu pense em algo, ele junta nossos lábios e me beija. A
princípio, eu fico estática, tentando entender exatamente o que está
acontecendo, mas, quando seus dedos se infiltram em meus cabelos, e eu
suspiro; sei o que é. E me sinto um pouco mal porque... Gosto.
Capítulo 30

— Você vai me contar o que tá pegando? Não é sobre a Natasha, porque


depois daquela pegação toda na minha frente, não pode ter dado algo errado
— Brandon me encara. Ele veio à minha casa me trazer uns documentos e
resolveu ficar. — Vai falando.
— Stepanhie apareceu e me disse que tenho uma filha, a Natasha
descobriu sozinha e, antes disso, eu a deixei vir da Irlanda sozinha quando
mal tínhamos chegado.
Ele me encara, então solta um riso esganiçado.
— Pera, pera, pera — estende as mãos. — ‘Tá me contando algum
roteiro ou…
— Estou falando sério — esfrego o rosto. — Não sei o que fazer. Estou
confuso e… tinha que receber essa notícia justo quando conheci a Natasha?
Porque não… Antes ou depois? Justamente no momento!?
— Que barra — ele assobia e continua a me encarar. — Tudo bem.
Vamos racionalizar. Ver suas opções.
— Que opções? Natasha não namora mais comigo.
— Dois dias não é um namoro, primeiramente — sorri. — Bom, ponto
um, a garota que você gosta tá puta contigo, você precisa consertar; ponto
dois, você tem uma suposta filha de uma mulher que só era interessada no seu
dinheiro, vamos verificar a veracidade dos fatos; ponto três, você tá fazendo
nada para adiantar alguma coisa.
— Como assim Stephanie era interessada no meu dinheiro? —
questiono incrédulo. — Nós nos gostávamos.
— Não, cara. Você — aponta para mim — gostava dela. É bem
diferente. Certeza que ela chupava seu pau fazendo careta.
— O quê... Claro que não. Nós éramos muito próximos… Ela nunca me
pedia nada.
— E pra que pedir? Você dava tudo a ela. Era um saco. Eu detestava
aquela songa monga. Por que você não se preveniu?
— Eu me prevenia — grunho. — E ela também.
— Ops. Alguém foi enganado. Tá meio óbvio que — gesticula — ela se
aproveitou da sua lábia com glitter. É por isso que eu digo, cara, não tem isso
de ter afinidade, não. Passa o rodo e cai fora. Lá pros cinquenta é que a gente
arruma uma coroa só pra limpar nossa baba.
— Eu quero ter filhos — é a única coisa que digo.
— Tá legal. Você já falou do DNA?
— Ela chorou e se sentiu ofendida.
Meu irmão ri.
— Ah, e deixa eu adivinhar — se inclina para frente — você acreditou e
aceitou, e agora vai dar tudo que ela pedir sem ao menos comprovar se a
criança é sua.
— Ela tem meus olhos e boca. É linda. Uma garotinha, Brandon.
Ele me fita e logo emite um grunhido descrente.
— Você tá... Sei lá que merda é essa — bufa. — Não cai nessa. Faz o
teste.
— Mas...
— Mas o caramba, seu idiota — levanta, vindo sentar ao meu lado. —
Você tem que ver isso direito e, além do mais, eu preciso do número da sua
namorada porque o Ethan quer mudar a logo da Tower.
— Ela não é mais minha namorada.
— Ótimo, pode ser minha — ri, mas logo revira os olhos. — Eu tô
brincando. Não precisa me olhar com essa cara. Aliás, você ultrapassou o
impedimento?
— Não é da sua conta — desvio o olhar, acariciando a nuca, muito
incomodado de repente.
— Isso aí! Fez o certo — ele me dá um soco no braço. — Eu só ia
detestar que ela estivesse com outro agora porque, você sabe, aquela história
que a tia Alice contou um dia, lembra?
— Que história?
— Que, depois de perder a virgindade com o tio Adam, ela ficou louca e
quase foi pra cama com um idiota — ele assobia, fingindo receio. — Eu sei
que você tem isso de boceta preferida, quer dizer, mulher preferida e eu
odiaria que outro homem estivesse… Sabe, né? Usufruindo os seus bens.
— O que você quer dizer?
— Que a Natasha pode estar querendo dar pra alguém, se já não deu.
— Ficou louco? Ela não é como as mulheres que você fica! — me
levanto, indignado e irritado.
— Tá certo, mas ela é uma mulher e acabou de perder a virgindade e
sentiu a coisa e — aponta para mim —, isso mesmo, quer inovar. Você pode
estar perdendo seu território neste exato momento.
Grunho, descrente e, cego de raiva, caminho para a porta, com destino a
ela.

***

Não sei bem como consigo dirigir até a casa de Natasha, mas dirijo e,
assim que chego, saio do carro quase antes de estacionar e vou até a porta,
batendo quando vejo que a luz da sala está acesa.
Ouço imediatamente alguns ruídos e logo depois a maçaneta se move.
Prendo a respiração, esperando encontrar o pai dela, que não vai muito com a
minha cara; mas, tudo bem, ele pode me dar uns socos, porém isso não vai
me impedir de provar à Natasha que ela é minha. E quem vai poder dizer ao
contrário?
No entanto, eu me impressiono ao ver a própria Natasha aparecer à
minha frente, vestida somente numa blusa grande branca e os cabelos
bagunçados. A saudade me invade em cheio e eu quase balanço visivelmente.
— O que está fazendo aqui? — ela questiona, a voz tão dura e afiada,
que quase me corta o coração.
— Vim conversar. Pode ser?
— Sim, porque sei que você não vai desistir tão fácil — olha para trás e
suspira, me olhando novamente. — Nós podemos ficar na sala um tempo,
então acho que tudo bem você entrar. Só um pouco, é claro, se meu pai
acordar, você é um homem morto.
— Não vou tomar muito do seu tempo — garanto e adentro o cômodo,
então a sigo para o sofá, me sentando ao seu lado. Ela está tão cheirosa que
preciso respirar fundo para não me descontrolar. — Como você está?
— Creio e imagino que não está aqui para conversar sobre como estou
— ela me olha e coloca uma almofada sobre as pernas, e eu agradeço
mentalmente.
— Tem razão. Vou direto ao ponto. Vim aqui me desculpar e dizer que,
sim, eu errei — me inclino para ela. — Porém, isso vai muito além, Natasha.
Sei bem que nada justifica e, acredite, se eu tivesse que viver de novo o que
vivemos, teria feito a mesma coisa e agido da mesma maneira. Vou ser
transparente com você, eu tenho alguns problemas em agir, sabe, lidar com o
que sinto. Eu ainda não sei o que é isso que estou sentindo, na verdade...
Você sabe o que sente por mim?
— O que você quer dizer?
Gesticulo, confuso e com medo da resposta.
— Não sei… Algum... Sentimento?
Ela ri, em uma expressão de surpresa.
— Olha, Dean, se sinto algo por você, não é absolutamente paixão. Se
estou apaixonada por você, não significa que te amo. Se te amo, não é
necessariamente um sentimento.
Me remexo.
— Não mencionei paixão — engulo em seco, alisando a nuca. — Quer
dizer, sim, houve paixão entre a gente. Quando nos falamos, nos tocamos ou
nos unimos como um. Isso é inegável e você sabe disso tão bem quanto eu.
— Que a paixão é essa que me trata daquele jeito, Dean? O que você
tem a dizer sobre sua filha?
— Se você leu email, sabe que eu não sabia sobre ela. A Stephanie
apareceu do nada e de repente. Eu nem me lembrava mais dela.
— E quanto a Irlanda?
— Você ficou estressada e eu mais ainda, se tivesse ido atrás de você,
teria dado muita confusão, eu não queria isso.
— E queria o quê? Que tivesse acontecido o que aconteceu?
— Não, você sabe que não.
Ela bufa e balança a cabeça.
— Por que não me diz exatamente o que você quer? — pergunta.
— Recomeçar, eu acho.
— Ah, você acha? — ri, parecendo incrédula.
— Acho porque não sei se você vai concordar, então não posso ter
certeza.
— Meu Deus — ela esfrega o rosto. — Você não tem noção da puta
raiva que estou de você! Não tem! Caramba! Que raiva!
— Você não é a primeira e nem será a última.
— Está bem — me olha, então levanta e gesticula para a porta. — Não
quero recomeçar e essa é a minha resposta.
— É sério isso? — também levanto. — Só isso? Vai acabar assim?
Natasha ri com vontade, então respira fundo quando para.
— Ai, ai. Sim, isso vai acabar assim.
— Você acha justo?
— Justo, Dean? O que eu posso fazer? Eu estava tentando, você foi um
idiota comigo! Desde o início, quando nos conhecemos, demonstrou ser um
sem noção! Aquilo não foi justo.
— É, mas eu também sou carinhoso e você viu. Também posso cuidar e
guardar, e amar, eu sou tudo que demonstrei, mas sou muito mais a parte boa.
Bem mais. Eu simplesmente estive perdido desde o dia que recebi essa
notícia. Você pode entender meu lado?
— Esse é o problema, Dean. Você quer que eu diga o que você quer
ouvir, mas nem por um momento pensou em como eu estaria me sentindo.
Nem ao menos questionou se nesse meio tempo, no meio de tudo o que
aconteceu, eu poderia estar ao seu lado e te ajudar. Não confiou, não é? Não
existiu mesmo confiança nenhuma. Eu não sei o que você sente por mim.
— O que este homem está fazendo na minha casa? — ouço a voz áspera
e já me preparo para realmente o pior.
Capítulo 31

— Dean veio conversar comigo, pai — eu respondo, um pouco temerosa


quando ele aparece na sala, vestido em sua samba canção de seda.
— Eu já estava indo mesmo — Dean responde também e me olha; e,
pela primeira vez desde que o conheci, sinto alguma pena dele. Parece
magoado e triste, nem fazendo esforço para debater com meu pai. — Eu sinto
muito e não queria que terminasse assim. Vim até aqui ver se existia alguma
possibilidade, porque nós nos damos bem e você sabe disso. Apenas peço que
— suspira pesaroso —, que você pense um pouco a respeito da minha
situação, está bem? Não diga não ainda, porque dói muito.
— Não. Não vou pensar um pouco. Essa é a minha resposta. Não.
Ele me encara, a boca um pouco entreaberta, então solta um gemido
esganiçado, assentindo com a cabeça e caminhando para a porta.
— Boa noite, senhorita e senhor Carter — se despede e vai embora.
Caio sentada no sofá, enfiando os dedos pelos cabelos, sem acreditar que
ele veio até a minha casa, pensando que tudo seria tão simplesmente ridículo
de fácil de resolver. Nós poderíamos não estar passando por nada disso, mas
estamos. E, mais ainda, não gostaria de dizer isso, mas tudo quase por culpa
dele.
— Está tudo bem? — É a voz do meu pai.
Levanto a cabeça e o vejo sentado em sua poltrona de frente para mim,
os olhos escuros profundos enquanto estudam meu semblante.
— Sim...
— Por que aquele homem estava aqui?
— Não estamos mais namorando.
— Isso ficou óbvio — balança a cabeça. — Por que ele parecia
derrotado?
— Talvez porque seja — sorrio.
— Está irritada com ele, dá para sentir. O que ele fez?
Respiro fundo e relaxo sobre o sofá.
— Não é apenas uma coisa, sabe pai? Foram várias e que foram se
acumulando conforme os dias e Dean se perdeu no meio delas e... Como
posso explicar?
— O que te levou a querer se separar dele?
Talvez eu estranhe muito a curiosidade do meu pai. É mesmo algo novo,
mas também, preciso conversar com alguém. Eu teria tentado um papo com o
Peter, mas ele provou não gostar nenhum pouco de Dean quando gritou que
ele era a culpa por não termos transado.
Quase me senti constrangida quando o empurrei e me levantei, dizendo
que não podia fazer aquilo no momento. E não poderia mesmo. Como é que
eu ia me sentir estando na cama de outro homem quando só a do Dean me fez
se sentir tão confortável e bem? Não era hora. Não de pensar nessas coisas.
Talvez meu amigo ainda esteja com raiva, mas a culpa não é absolutamente
minha. Eu não poderia me entregar a outro homem quando o corpo do Dean
ainda parecia um com o meu.
— O Dean é complicado, pai — suspiro. — Ele me tratou muito bem no
início... Demonstrou ser um homem maravilhoso, mas... Coisas começaram a
acontecer, além de ele ter uma filha. E nem me contou, e acho que nem
pretendia também. Além disso, nós viajamos para a Irlanda, como eu disse ao
senhor, e ele começou a ser estranho comigo, me fazendo sentir mal.
— Você conversou com ele sobre isso?
— Eu até tentei.
— Talvez ele estivesse abalado por saber que tinha uma filha, ou ele já
sabia?
— Não sabia. Parece que a mulher contou por email quase bem assim
que estávamos juntos.
— É — meu pai desvia um pouco o olhar, mas volta a mim. — Parece
algo complicado. Você chegou a dizer a ele realmente o que sentia? Tentou,
não sei, transmitir a ele que estaria junto mesmo com a notícia?
— Não... — me remexo, incomodada. — Não acho que teríamos uma
boa relação com uma filha no meio.
Ele ergue as sobrancelhas.
— Você o deixaria por causa de uma filha?
— Não o deixaria, esse termo soa covarde. Eu apenas diria que não daria
certo, porque não daria.
— Por que você acha isso?
— Por n motivos, pai!
— Sabe, eu não gosto nadinha dele — aponta a porta —, mas também
não gostei da cara dele, parecendo mais largado que cachorro sem dono.
Obviamente está sofrendo, quem sabe com a notícia, e vem você me dizer
que o deixaria porque ele tem uma filha?
— Mas...
— Natasha — seu olhar fica firme sobre o meu —, pode ser um pouco
complicado um filho somente de um dois na relação. Pode e muito, mas
também é um desafio que, acredito eu, o amor supere. Porque você não fica
junto a uma pessoa que gosta somente por motivos bons, não é? Você fica
por todos os lados dela e tudo que ela é, porque tudo isso constrói o que você
ama.
— Eu não o amo — engulo em seco.
— Não mesmo, ou não teria deixado ele por conta de um motivo tão...
— gesticula — descabido.
— Por que o senhor está dizendo isso? Nem sabe o que estou sentindo.
— Talvez porque eu saiba o que é isso.
— Isso o quê?
Ele ofega, então esfrega as mãos no rosto e fica em silêncio por um
tempo, só me olhando.
— Você precisa saber de uma coisa e acredito que é a melhor hora para
contar, apesar de eu saber que sua mãe vai querer me matar — quase sorri,
desanimado.
— O quê? — Fico apreensiva.
— Quando sua mãe e eu nos conhecemos, foi lindo. Lindo mesmo —
suspira sonhador. — Mas, tinha um porém que ela nem iria revelar por medo.
Medo que nós pudéssemos só ter algo momentâneo, como ela tinha com os
homens que apareciam, só que nos apaixonamos.
Estou de boca aberta, intacta, esperando que ele diga seja lá o que tem
para dizer.
— Eu propus um relacionamento a sério e ela negou, então eu insisti
muito. Ia atrás dela e cheguei a implorar porque essas coisas são assim, as
coisas do amor — ele ri. — São bem loucas. Me abri para ela, disse que a
queria na minha vida e ponto-final. Foi quando ela me contou que não
poderia porque tinha uma filha.
Congelo onde estou, totalmente petrificada.
— Ela tinha você e pensou que eu não poderia querê-la por isso. Você
ainda era pequenininha, tinha dois anos, e não foi difícil eu me apegar a você.
Logo quando você riu para mim com quatro dentinhos na boca, eu soube que
nós seríamos uma família maravilhosa.
Engulo em seco, o coração acelerado, mal sabendo como... Processar.
Oh, droga...
— O senhor não é... Meu Deus — tampo a boca.
— Sim, eu sou o seu pai porque eu criei e dei amor a você. Somos pai e
filha, e não há dúvida alguma nisso. Eu só quero não se sinta alarmada
demais com isso, porque não vai mudar absolutamente nada entre nós, apenas
achei promissor contar porque você acha que não pode ficar com quem gosta
por causa de um filho na relação. Você pode, Natasha, e pode fazer dar certo
se realmente quiser.
Eu nem consigo falar nada, apenas cair em um choro profundo e
refreado.
Capítulo 32

Me recosto na cadeira e respiro fundo. Estou destruído. Acabei de fechar


o maior negócio que tivemos no ano e, mesmo assim, isso não é suficiente
para mim. Não foi porque, quer dizer, tudo está desandando. Eu devia ser
grato por, pelo menos, a vida profissional estar certa; mas não dá.
Esfrego o rosto, as palavras de Natasha se repetindo em minha mente.
Sim, eu fui um desgraçado e reconheço, mas minha intenção nunca foi
magoá-la; muito pelo contrário, eu só queria que ela fosse feliz comigo. Eu
queria ser feliz com ela. Por que eu não fiz as coisas direito? Agora me sinto
sozinho e culpado por ter entristecido a única mulher que gostou de mim na
mesma medida.
Uma dor sem tamanho.
Meu celular vibra na mesa e demoro uns segundos olhando para o nada,
até pegá-lo para ver do que se trata.
Eu tenho uma mensagem.

Stepanhie: Pensei a respeito do q disse. Vc está certo em me pedir o


DNA. Vou fazer,
mas a Deana está com a escola atrasada.. Se
puder me ajudar antes. Até

Grunho e, já cansado do dia, levanto e pego minha maleta, então deixo o


celular na mesa e me forço a ir para casa. A única coisa que preciso é de um
banho e uma boa noite de sono. Mesmo que eu não queira, Brandon tem
razão, precisamos fazer o teste.
Entro no meu carro e saio dirigindo o mais tranquilo que posso até
minha cobertura.

***

A noite está relativamente agradável e, assim que adentro a sala, suspiro


em relaxamento. Eu amo minha casa. É o meu lar. Em cada canto dela tem
uma parte de mim e eu adoro essa sensação. Fico imaginando quando tiver
minha própria família. Será que vou querer mudar de casa igual meu pai? E
se Deana não gostar?
Dou risada do meu pensamento. Nem tenho certeza ainda se a garotinha
é mesmo minha filha. Preciso parar de ser paranoico, como dizem.
Caminho até o sofá e tiro o paletó, deixando em cima, então tiro os
sapatos e as meias, levando tudo para a área de serviço. Em seguida, caminho
ao meu quarto, acendendo as luzes do corredor para uma maior iluminação
além das que vem de fora.
Paro na porta, assim que o cheiro inconfundível me invade. O cheiro
dela. Da Natasha. Preciso fechar os olhos um minuto para absorver a paz que
me traz.
Adentro o cômodo e, quando estou indo para o banheiro, ouço um ruído
abafado e entrecortado. Me viro para trás, olhando a cama, então meu
coração parece querer sair pela boca.
— Natasha? — Estou imediatamente pasmo.
Ela senta, tirando o edredom do corpo, e vejo que está chorando.
Provavelmente há um tempo, pois seu rosto está todo inchado e ela funga
sem parar.
Meio incerto do que fazer, caminho até a cama e me sento na borda,
olhando-a por um tempo. Ela olha o chão, soluçando.
— O que houve? Por que está chorando tanto? — questiono cauteloso.
Ainda por minha causa? Não pode ser.
— Meu pai... — soluça. — Ele… Não é meu pai… — me olha. —
Biológico.
Abro a boca, um pouco surpreso, mas logo fecho de novo. Realmente é
estranho que Sr. Carter pareça um alemão enquanto a filha é morena. Pensei
que fosse por causa da mãe.
Nós ficamos em silêncio, exceto por seus soluços, e realmente não sei o
que falar.
— Desculpe vir para cá… — sussurra. — Não tinha… Outro lugar e…
Não queria ter que voltar logo… Estou muito surpresa.
— Tudo bem, eu entendo — cruzo os braços para evitar tocá-la. —
Quando você soube?
— Depois que você saiu ontem, ele me contou. Eu não estou chateada,
isso não mudou ou me fez desconsiderá-lo como pai… Apenas é estranho
que eu tenha pensado que era o biológico… Você entende?
— Sim — assinto. Acho que não entendo, mas não gosto da cena de vê-
la chorando. — O que você vai fazer?
— Eu vou voltar amanhã. Apenas preciso de um dia para assimilar… —
seca as lágrimas. — Tinha certeza de que aqui na sua casa eu me sentiria
melhor.
— Pelo menos minha casa faz você se sentir bem — sorrio um pouco.
— Sim. Você bebe?
— Só água e suco, por quê?
— Não sei, parece abatido… — murmura, me encarando. — É sobre o
lance com sua filha?
— Nem sei se ela é minha filha, Natasha. Meu irmão acha que não, mas,
por via das dúvidas, vou fazer o teste.
— Uhum — balança a cabeça. — Você pensou que seria pai?
— Não. Sempre quis, mas não achava que era hora.
— Você gosta de crianças?
— Bastante, mas não planejava assim, sabe? — gesticulo. — Queria
uma mulher que fosse boa para mim como esposa e boa para nossos filhos.
Tudo certinho, casamento e assim, mas…
— A Stepanhie estragou seu plano — dá um sorriso sem graça.
— Não assim. É claro que se a filha for minha, eu vou ajudar, mas isso
não vai me impedir de ter a família que eu sempre quis.
Ela suspira, concordando com um manear de cabeça.
— Nunca poderia imaginar que meu pai não é meu pai — diz. — Fico
me perguntando agora o que terá acontecido com o biológico.
— Não ter querido…
— Pode ser.
Nós nos encaramos, ela quebrando o contato visual primeiro. É dor junto
com alívio vê-la sobre minha cama, nos meus lençóis. Só queria tirar nossas
roupas e me enroscar nela, sentindo o calor de seu corpo e o perfume de seus
cabelos, só nos aninhando para dormir e, quando amanhecesse, voltaríamos a
ficar juntos para enfrentar nossos problemas; mas, agora parece que somos
dois estranhos. É agonizante.
— Você quer que eu vá embora? — pergunta.
— Não, você pode ficar. Eu vou dormir no outro quarto.
Natasha abaixa o olhar e respira fundo.
— A cama é grande, você pode dormir aqui.
— Não, eu não vou te incomodar, pode ficar tranquila aí.
— Não vai me incomodar, Dean — ela vai para o outro lado. — É sério,
tem muito espaço. Além do mais, seu quarto é muito grande e não tenho
coragem de dormir sozinha.
Nós nos olhamos, até que concordo.
— Certo. Eu vou tomar banho e já volto.
— Tudo bem — deita novamente e eu me levanto, indo para o banheiro.
Tiro a roupa em tempo record e entro no box, tomando banho
rapidamente para sair o mais depressa possível. Paro um pouco na frente do
espelho para fazer a barba e então volto ao quarto, me sentindo um pouco
triste quando vejo que ela já dormiu.
Suspiro e vou até ao closet, em busca de um short. Volto à cama e subo,
deitando-me ao lado dela, que tem os lábios rosados entreabertos e parece
imersa em um sono profundo.
Deito de lado e fico observando-a um tempo, a face delicada e suave,
enquanto ela respira compassadamente.
Me xingo interiormente por todas as decisões erradas que tomei em
relação a ela e somente bebo sua imagem, até o sono me pegar também.

***

Acordo com um som abafado e, assim que abro os olhos, preciso de uns
segundos para me situar; não tanto, porque o que está acontecendo me
desperta no mesmo instante.
Natasha está com os lábios entreabertos e os olhos fechados, enquanto
seu corpo se agita aos poucos e ela parece imersa em algum lugar. Essa
expressão e gestos eu reconheceria em qualquer hora e lugar.
Levanto a cabeça, só para ficar com a boca seca ao vê-la se tocando em
minha cama, ao meu lado, totalmente em meu alcance.
Ela já está completamente pelada e eu embasbacado, engolindo em seco,
tentando entender o que está mesmo acontecendo. Eu sei o que é.
— Natasha? — eu chamo, para ter certeza se não estou em um sonho
muito bom e digno de um agradecimento eterno a Deus.
Ela abre os olhos e ofega, virando a cabeça para me olhar, então me
perco completamente quando nossos olhares se encontram e, quase mínima e
imperceptivelmente, meu nome sai de seus lábios. Quase nada, só o
movimento, e eu me perco completamente.
Aproximo meu rosto do dela e junto nossas bocas, um gemido
escapando de nós pelo contato quente. Muita saudade.
Natasha imediatamente agarra meu pescoço com as mãos e minha mão
direita percorre o corpo delicioso do qual eu senti tanta e tanta falta. Tanta
que dói.
Aperto seus seios durinhos e desço pela barriga, meus dedos tocando a
carne molhadinha e quente como fogo. Grunho e enfio minha língua em sua
boca, exatamente como quero fazer com meu pau entre suas pernas.
Acaricio seu clitóris com dois dedos, só para enfiá-los na entradinha
úmida e apertada, rosnando de prazer por senti-la tão pronta.
Meus dedos estão sendo torturados por seu calor e o cheiro dela se
espalha pelos ares e sinto seu gosto na própria boca dela, o que me deixa
completamente alucinado.
Natasha se remexe, querendo que eu seja mais rápido, mas não sou, de
propósito. Quero me deliciar com cada minuto com ela, depois de tanta coisa
e problemas. Ela me acalma. Eu sabia que só ela poderia me deixar mais
tranquilo, e saber que estávamos irritados um com o outro, sem nos falar, me
deixou pior.
— Dean, por favor — ela suplica contra meus lábios, chorosa.
Afasto o rosto para observá-la, linda e de lábios inchados, os seios
expostos, ela inteira, aberta e bem aberta para mim, com meus dedos dentro
de seu corpo. É demais para eu suportar. Natasha é demais.
Puxo o edredom de cima de nós dois com força e jogo no chão, então
me sento rapidamente e tiro o short, agarrando meu pau e apertando,
enquanto observo ela se remexer sobre a cama, me querendo.
— Está com saudades? — questiono, olhando em seus olhos. — Eu
estou.
— Só... — ela está rouca, parecendo sedenta. — Me preenche, por
favor.
— Preencho, amor — me sento contra a cabeceira da cama e ergo meu
pau, alisando-o.
Ela senta, ofegante, os seios durinhos fazendo um balanço suave e me
deixando inebriado. Estou pulsando em desespero.
— Dean?
— Venha cá. Vamos fazer amor nos olhando — peço, meus olhos
descendo pelo corpo dela inteiro, onde eu vejo a parte interna de suas coxas
brilharem, então preciso umedecer os lábios.
— Eu quero que você faça rápido, não devagar — murmura.
— É mesmo? — olho seu rosto, não deixando de perceber seu peito
subir e descer profundamente. — Há quanto tempo você estava ao meu lado
daquele jeito?
— Eu não sei — balança a cabeça. — Apenas… Fiquei com vontade —
balança a cabeça novamente, parecendo desorientada enquanto intercala o
olhar entre mim e em meus movimentos.
— Deixe eu ver. Abra as pernas.
Natasha solta um gemido tão delicioso que eu preciso soltar meu pau
para não gozar, então observo atentamente enquanto ela senta direito e, num
movimento gracioso e perfeito, separa as pernas e apoia um braço para trás,
onde deposita o peso de seu corpo para não cair deitada.
Meu olhar recai para o paraíso. O lugar que quero tanto me perder por
minutos e horas. Mas, me controlo e respiro fundo. Preciso me controlar.
— Hmmm… — volto a olhá-la nos olhos. — Você está brilhosa e
molhada. Encharcada e rosadinha.
— Sim — sussurra. — Eu quero que me toque.
— E eu quero que você se toque — me ajeito e cruzo os braços,
morrendo de satisfação quando Natasha olha para o meu membro e geme,
então meu rosto e faz um biquinho lindo. — Vamos lá, querida. Eu gostaria
muito de ter esse prazer.
Ela suspira e lentamente leva os dedos até entre as pernas, abrindo-as
mais, me fazendo prender todo o ar quando, sem hesitação, coloca dois dedos
dentro de si e solta um grito, quase me fazendo tremer.
Natasha respira com força, puxando os dedos lentamente, apertando os
olhos, enquanto tento fechar a boca e estar atento em sua ação e expressões
faciais e corporais, aprendendo o que ela gosta.
É uma delícia e posso sentir meu pau liberar o indício da minha
excitação absurda.
— Assim que você gosta, Natasha? Bem fundo e devagar? — pergunto,
querendo gemer quando ela abre os olhos e assente minimamente, o brilho
deles me deixando entorpecido.
— Você quer meu pau assim? Bem fundo nessa sua bocetinha gostosa e
apertada? — sussurro, sua respiração acelerando e ficando mais difícil, então
me ergo e me aproximo dela, agarrando sua nuca e ouvindo seu gemido. —
Quer?
— Quero — geme, me fazendo perder o último senso quando leva os
próprios dedos à boca e chupa, os sugando.
— Minha vez — grunho e agarro suas pernas, a puxando para ficar
deitada, então espalmo minha mão em sua vagina, abrindo os lábios menores
e espalhando sua umidade.
— Assim? — enfio meus dedos dentro dela e ela se arqueia, revirando
os olhos. — É assim que você gosta?
Ela vira os olhos para mim, agarrando os seios, então mal consegue
manear a cabeça como resposta.
— Você é tão deliciosa — pressiono meus dedos e empurro com força
dentro dela, que grita e cai deitada, se arqueando para mim. Puxo-os e levo à
boca, chupando e grunhindo pelo seu gosto. — Deliciosa, amor. Quer gozar?
— Sim… — sussurra. — Sim, Dean...
— Hmm, sim — inclino minha cabeça e raspo nossos lábios, chupando
seu lábio inferior e depois sua língua, sentindo a corrente descer direto ao
meu pau. Meus dedos se movem ao montinho intumescido e eu acaricio uma,
duas e três vezes, então observo minha linda garota se desmanchar sob mim,
toda espalhada na minha cama, gozando por mim e para mim.
— Deaaaaaaan! — ela tampa o rosto com as mãos e seu corpo treme
inteiro, enquanto enfio meus dedos dentro dela e acaricio por dentro do seu
corpo.
Com a mão livre, eu acaricio-a, alisando sua barriga e seios, me
deliciando na pele macia e suave, toda perfeita aos meus olhos.
Natasha tenta respirar normalmente, abrindo os olhos depois de uns
segundos, focando o teto, então junta as pernas quando puxo os dedos de
volta, grunhindo por senti-la tão apertadinha.
Arrasto meus dedos por seu corpo, espalhando seu calor e lambendo os
lábios secos, até que nós nos encaramos.
— Senti muito a sua falta — declaro e me inclino, beijando seus lábios
de levinho, só para me afastar novamente. — Espere aqui, eu já volto. Quero
te mostrar uma coisa.
Ela assente, então saio e vou para a cozinha.
Quando volto ao quarto, Natasha está ainda com a respiração
entrecortada. É uma cena linda tê-la assim, espalhada na minha cama e me
desejando novamente.
Ela levanta a cabeça conforme me aproximo e me olha.
— O que é isso? — questiona e sorrio, indo novamente para seu lado.
Levanto os recipientes nas mãos, um de cada vez.
— Cobertura de chocolate e sorvete.
Ela prende a respiração, arregalando os olhos e intercalando o olhar
entre mim e os objetos.
— Pra que vai usar?
Dou um sorriso mais largo e desço meu olhar por seu corpo, vendo sua
barriga subir muito e descer, indicando uma respiração funda.
— Vou te deixar mais deliciosa, amor — declaro e abro o sorvete
pequeno, enfiando os dedos dentro e pegando uma quantidade pequena, então
os levo até a boca dela, que parece sempre muito convidativa. — Chupe —
peço.
Natasha pisca algumas vezes, como voltando de um transe, mas logo
está chupando e eu não vejo a hora de ela fazer o mesmo com o meu pau.
Posso senti-lo endurecer num nível absurdo. Ela me deixa assim. Ela que faz
isso. Tudo isso comigo.
— É gostoso? — pergunto e ela brilha os olhos para mim, afirmando
com um manear de cabeça. — Ótimo — sorrio e volto a enfiar os dedos no
recipiente, pegando uma quantidade e levando diretamente para seus mamilos
durinhos, espalhando por cima e os sentindo ficar ainda mais duros.
— Dean — balança a cabeça. — Meu Deus.
— É bom?
— Sim!
— Hmm — me inclino e aproximo nossas bocas, mordendo seu lábio
inferior de leve. — Vou comer você todinha.
— Ah, céus — ela se agita. — Eu quero te tocar.
— Bem, mas não agora — volto à posição anterior e recolho mais
sorvete, fazendo uma trilha até sua barriga. — Natasha de chocolate. O que
acha?
Ela sorri, um sorriso lindo e que me desmancha por completo, meu
coração acelerando.
— Eu acho que gosto de você ser o chef.
— Bom. Só eu sei fazer — me movo para entre suas pernas e preciso
respirar fundo quando a observo pingar de tão molhada. — Muita saudade?
— Um pouco — se remexe. — O sorvete está derretendo e estou
arrepiada.
Sorrio e pego a cobertura, então deixo cair desde sua barriga até entre
suas pernas, meu pulso acelerando pela expectativa.
Deixo tudo de lado quando a vejo recheada, e apoio meus braços ao lado
de sua cabeça, inclinando a boca e levando até um seio durinho, onde sugo
todo o sorvete para dentro da minha boca.
Natasha se arqueia, me convidando a mais, e eu obedeço, indo até o
outro e chupando, adorando a sensação da suavidade do corpo dela com a
minha sobremesa favorita.
Desço a língua por sua barriga, lambendo tudo, até sentir suas mãos em
minha cabeça e seus dedos se perdendo por entre meus cabelos. Ela puxa
quando chego entre suas pernas e dou uma chupada no interior de sua coxa.
Sem hesitação, eu caio de boca nela, chupando e sugando todo o
chocolate que se misturou ao seu gosto e me deixa fora de mim.
Natasha geme, grita, se arqueia, remexe e se contorce. Nós estamos
imersos no prazer. Talvez isso seja uma válvula para o escape dos problemas
que temos agora, entre nós e na vida. Mas, dane-se, ela está em minha cama e
se entregando para mim. Eu vou aproveitar.
— Dean! — ela puxa meus cabelos com força e treme um pouco. —
Logo, por favor!
Grunho e vou beijando sua pele, até chegar aos seios, onde demoro um
pouco, até procurar novamente sua boca e preencher com um beijo profundo
e quente, enfiando minha língua, dando a ela tudo que posso.
Natasha corresponde, se remexendo sob mim, e nós nos entendemos.
Agora, nesse momento, estamos nos entendendo.
— Eu preciso buscar uma camisinha — me esforço bravamente a
levantar, mas ela me puxa pelos os ombros, os olhos brilhando procurando os
meus. — É rápido.
— Não, estou impaciente — agarra minha nuca. — Por favor.
Grunho, incapaz de negar e me acomodo melhor, novamente beijando-a
enquanto, com um movimento fluído, eu consigo espaço dentro do seu corpo
— centímetro por centímetro, nos religando de forma indescritível, a
sensação sendo tão boa que perco um pouco as forças.
Natasha não parece diferente, posso senti-la pulsar e se estreitar ao redor
da minha ereção, parecendo tremer o corpo também.
Levanto a cabeça com dificuldade, encontrando seu olhar.
— Bom? — questiono com um sorriso e me puxo para fora, seu corpo
me prendendo, não querendo me deixar sair.
— Bom demais.
— Você vai voltar para mim? — Não sei bem de onde saiu essa
pergunta, mas a sinto retesar quando a faço.
Ela desvia o olhar.
Fico de joelhos, segurando seus joelhos enquanto mantenho as
estocadas, saindo e entrando com controle absoluto, ciente do efeito que isto
está causando nela, que parece encharcar mais a cada investida. Ela está
ficando vermelha e toda suada.
— Natasha, olhe para mim e responda — peço, suave. Talvez eu esteja
sendo um carente idiota, mas não ligo, eu preciso dela nos meus dias. Preciso
e fim.
Ela me olha, fechando os olhos por um momento e soltando um
gemidinho rouco, então assente. Minha respiração quase falha.
— Você vai, amor? — insisto, dando um movimento mais impulsivo,
com mais força, tirando um gemido de nós dois.
— Vou, Dean — sussurra e suspiro, tão alucinado e aliviado. Saio de
dentro dela e me sento contra a cabeceira da cama, segurando suas mãos e a
puxando para que sente.
— Venha, no meu colo — peço e ajudo Natasha a montar em mim, suas
mãos em meus ombros e seus olhos como em brasas nos meus.
Guio meu pau para sua entradinha e ela se move, descendo lentamente,
até que gritamos, o preenchimento total sendo absurdamente perfeito.
Natasha espera, enquanto subo as mãos por seu corpo, desde a cintura
até o rosto, onde acaricio e depois coloco as mechas de cabelos soltas atrás de
sua orelha. Ela se ergue sozinha, num movimento perfeito, então logo
estamos como dois loucos, nos encaixando de forma magnífica; os sons de
nossos corpos ecoando pelo quarto e o cheiro de sexo se espalhando.
Tudo é muito forte para eu assimilar. A sensação, os sentimentos e tudo
que acontece, então só fecho os olhos e ouço quando ela grita forte, tremendo
sobre mim e tendo um orgasmo, caindo para frente em seguida.
Não sei bem como, mas consigo me puxar para fora de seu corpo antes
de gozar dentro dela.
É tudo tão rápido e louco que só a sinto tremer e gemer, e eu também,
enquanto a abraço forte. Muito forte.
Capítulo 33

Acordo com um conforto surreal, ainda desnorteada, sem saber bem o


que aconteceu. Quando abro os olhos, no entanto, eu vejo o Dean enroscado a
mim, dormindo tranquilamente.
Estou sorrindo imediatamente, a sensação que invade meu corpo sendo
demasiada boa e relaxante, me fazendo querer flutuar.
Me remexo e inspiro seu cheiro bom, misturado com o da própria pele,
que me faz fechar os olhos. Estou em paz de novo.
— Bom dia — ele diz, a voz rouca e deliciosa.
Suspiro e me forço a olhá-lo, encontrando seu sorriso para mim.
Meu Deus. É completamente sem palavras acordar e ter o Dean assim,
sorrindo para mim, como se não estivéssemos cheios de coisas para resolver.
E não parece que temos. Estou leve e satisfeita. Talvez não tão satisfeita
porque seu corpo é tão... Atraente. Não dá para olhá-lo por mais de dez
segundos e não querer tirar as roupas — minhas e dele.
— Bom dia. Como você está?
— Como eu estou? — em um movimento rápido e hábil, ele está sobre
mim, os cristais me perfurando em intensidade absoluta. — Estou ótimo
porque você está aqui comigo, minha deusa linda.
— Nós temos que conversar — suspiro e agarro seus braços, apertando
um pouco, porque eu gosto de fazê-lo.
— Vamos para a banheira. Eu quero poder te tocar — avisa e levanta,
então me deixa um beijo na ponta do nariz e sai andando em direção ao
banheiro, me exibindo toda sua nudez magnífica.
Suspiro e levanto também, indo junto com ele. Me recosto em um dos
armários enquanto Dean arruma a banheira, todo hábil e gostoso, com os
cabelos bagunçados. Estão maiores e uma delícia.
Respiro profundamente quando me lembro da noite anterior, meu corpo
se agitando e eu me sentindo vazia. Esfrego as pernas uma na outra. Ninguém
pode me culpar, é involuntário.
— Tudo bem aí? — Dean me olha, um sorriso brincando no canto dos
seus lábios.
Cruzo os braços.
— Sim, eu só… — pigarreio. — Tudo bem.
Ele assente e estende uma mão para mim.
— Venha, vamos entrar.
Eu me aproximo dele, me deixando ser conduzida para dentro da
banheira que vai enchendo aos poucos. Dean entra na frente e senta, me
incentivando a fazer o mesmo e logo me puxa de encontro ao seu corpo, seus
lábios raspando em meu pescoço enquanto ele põe meus cabelos para o outro
lado.
— O que vai ser agora? — eu questiono.
— Nós vamos ficar juntos, como deveria ter sido desde o início.
— Sim, eu sei, mas quero dizer com nossas situações. O que vai fazer a
respeito daquela mulher e da criança que é possivelmente sua filha?
Ele respira fundo, parecendo nada contente.
— Eu vou fazer o teste, mas antes preciso ajudar a mãe dela.
— Como assim? — viro o rosto para ele.
— A garotinha está com a escola atrasada ou algo assim. Vou me
encontrar com a Stepanhie para conhecê-la e também ver de quanto ela
precisa.
Pisco os olhos, embaraçada.
— Então você já fez o teste?
— Não.
— E por que vai dar dinheiro a ela se não sabe se é verdade?
— E se for?
Eu me viro em sua direção, um pouco agoniada.
— Não parece certo — declaro. — E não faz sentido. Você realmente
tem plena certeza dessa criança? Seu instinto diz que é sua?
— Não — Dean desvia o olhar. — Não diz e não acho que seja. Mas, o
que posso fazer? — me olha novamente. — Preciso arcar com as
consequências até ter certeza.
— Você não precisa, na verdade, porque não sabemos de nada.
— Amor, desculpa, não quero ver por esse lado.
Eu respiro fundo para não derreter bem onde estou, então balanço a
cabeça, deixando claro meu desapontamento.
— Quero pedir uma coisa a você — ele diz, agarrando minhas mãos e
me olhando nos olhos com seus cristais incríveis.
— O quê?
— Que você vá comigo, no dia que eu for conhecê-la.
Meus olhos se abrem um pouco mais, em uma surpresa súbita. Meu
Deus.
— É sério? — questiono. Isso vai ser muito estranho.
Pigarreio quando ele maneia a cabeça com um sim.
— Por quê?
— Porque eu quero. Você me passa coisas boas, Natasha. Me passa
sensações que vou querer ter quando for fazer isso. Por favor.
Abaixo a cabeça e fecho os olhos brevemente, pensando um pouco.
Pareço ter opções? Vou ter que me encontrar com sua ex, no entanto. A
mulher que Dean pode ter feito as mesmas coisas que faz comigo e não gosto
nenhum pouco do que sinto ao pensar nisso.
— Bem, se eu não tiver nada para fazer no dia, acho que tudo bem —
olho-o.
— Ótimo! — Ele abre um sorriso incrível e me abraça contra seu corpo.
— Esse final de semana eu vou viajar para a fazenda com a minha família.
Você quer ir?
— Não — respondo imediatamente, apenas porque preciso me
acostumar com a ideia de que conhecerei sua antiga namorada. Embaraçoso e
desgastante. — Eu preciso conversar com meus pais também, vou ter que
ficar.
Ele segura meu queixo e levanta, para que eu possa olhá-lo, então faz
um biquinho triste.
— Vou sentir sua falta. Vai estar aqui quando eu voltar?
— Vou — me aconchego nele e inspiro seu cheiro delicioso. — Estarei
sempre aqui — não sei por que falo isso exatamente, mas gosto, pois Dean
puxa minha cabeça para trás e preenche minha boca com um beijo profundo e
alucinante.
Acho que estou mesmo flutuando.
O que pode dar errado?
***

É completamente angustiante admitir, e eu deveria estar envergonhada,


mas parece que não vejo Dean há meses e, na verdade, faz somente algumas
horas. É uma sensação esquisita, estranha e completamente nova.
Controlo as mãos para não mandar uma mensagem dizendo que estou
com saudades, então cruzo a rua até me aproximar de minha casa.
Agora que verei meus pais desde que fiquei sabendo sobre toda a
verdade. É também estranho. Estou confusa. Espero que não estejam
apreensivos, porque acho que posso levar isso numa boa. Quer dizer, meu pai
nunca pareceu não ser meu pai realmente. Eu sempre o amei e respeitei, e
principalmente sou grata pelo seu carinho e amor comigo, e por ter sempre
doado sua vida à minha mãe e eu. Nunca poderia pagar.
Respiro fundo e ultrapasso a porta, me dirigindo diretamente para a sala,
onde logo o vejo em sua poltrona lendo o seu jornal, e minha mãe em sua
mesa, fazendo algum de seus mosaicos.
— Oi, eu cheguei — me anuncio, um pouco desconcertada.
Rapidamente eles me olham, parecendo um pouco surpresos e sem ação.
Caminho calmamente até o sofá maior e me sento, suspirando e
olhando-os.
— Querida, você está bem? — minha mãe questiona, levantando e vindo
para meu lado, então recebo um abraço apertado. Retribuo.
Meu pai me olha do outro extremo da sala, o olhar nublado. Ele está
apreensivo.
— Oi, pai — aceno, deixando minha mãe segurar a outra mão em seu
colo.
— Você quer conversar sobre isso? — ela quer saber.
— Talvez, se a senhora quiser me contar.
— Não pensei que fosse a hora, Natasha — suspira. — Seu pai me disse
que contou a você por causa do seu namorado.
Dou um sorriso fraco.
— Sim, eu só gostaria de saber o que aconteceu com o homem que me
gerou, sabe? — desvio o olhar. — Apenas por curiosidade.
— Seu pai biológico morreu no trabalho — ela espera um pouco. Quase
minutos. — Ele era policial e levou um tiro quando eu tinha acabado de
descobrir que estava grávida — aperta minha mão um pouco. — Não pense
que fomos abandonadas ou esquecidas. Ele era um bom homem e me amava.
Apenas teve um fim horrível e que… — hesita. — O que importa realmente é
que Daniel nos achou e amou. Isso é o importante.
Eu assinto, meu peito apertando um pouco por saber a real história sobre
o que houve. É um pouco avassalador, saber disso tudo. Sendo assim, respiro
fundo e olho para ela e meu pai, dando meu melhor sorriso.
— Somos uma linda família, eu não tenho do que reclamar.
Minha mãe acaricia minha mão e depois meu rosto.
— Desculpe, filha, por não contar… Pensei que fosse melhor assim —
ela murmura, cabisbaixa.
— Tudo bem, mãe — me levanto e a beijo, então vou até meu pai e lhe
dou um abraço mais forte ainda. — Obrigada por tudo, pai — sorrio. —
Agora, se me dão licença, eu tive um longo dia. Preciso descansar.
— É claro, filha — ele sorri, como não o vejo fazer sempre. — Aliás,
você falou com o abusadinho?
Dou risada.
— Ah, sim, falei. Nós estamos numa boa. Obrigada, pai — aceno e me
dirijo ao meu quarto, louca por um banho.
Tranco a porta e deixo a bolsa na cama, então pego o celular só para
conferir as horas, mas meu coração acelera quando vejo que tenho uma
mensagem do Dean.

Meu boy: Já estou com saudades.

Eu sorrio, largamente.

Natasha: Eu tb. O que está fazendo?

Sento na cama e aguardo a resposta, que não demora a chegar.

Meu boy: No carro. Estamos chegando em Albany. Só vamos


chegar, na verdade, de
manhã

Natasha: Credo! Tudo isso?

Meu boy: Sim, porque estamos de carro. Você poderia estar aqui,
estaria sentada no
meu colo :/

Natasha: Saudades do seu colo, saudades

Meu boy: Eu sei. Você me faz rir. Eu gosto disso. Saudades de


você. Vem pra cá
Natasha: Não posso.. Vc vai ficar bem e nos vemos segunda :* (é
um bj)

Meu boy: Segunda está tão longe… :(

Natasha: Passa rápido

É mentira. Não passa.

Meu boy: Como foi com seus pais?

Natasha: Está tudo bem..

Meu boy: Ficou triste? Eu te ligo quando chegar na fazenda pra


você me contar

Natasha: Tudo bem, nos falamos amanhã, gatão. Vou dormir,


beijos!

Meu boy: Saudades, deusa. Dorme bem

Sorrio e desligo o celular, com um aperto forte no peito. É saudades e


felicidade. Está bem óbvio para mim, claro como o Sol. Estou apaixonada.
Capítulo 34

Estou louco de saudades. Passar o fim de semana com a minha família é


maravilhoso, sem dúvidas, mas, agora eu tenho a Natasha. A minha garota
linda.
Estou sorrindo como um idiota enquanto meu pai chega à varanda e se
coloca ao meu lado, me lançando um sorriso.
— Aproveitando a noite? — questiona.
— Sim — massageio minha nuca. — Pensando na vida.
— É sempre bom fazer isso. E o que concluiu?
— Estou contente. Me acertei com a minha namorada.
— Namorada? — ele parece subitamente surpreso, mas logo dá uma
risadinha. — Namorada. Natasha.
— Ela — não vou me surpreender. Meu pai sabe exatamente o que quer
saber. Sempre foi assim. Desde quando éramos pequenos, ele lia tudo no
nosso olhar. — Estou apaixonado por ela — confesso.
— Que bom — ele me olha. — Vocês estão oficializados? Namoro
mesmo?
— Sim, namoro mesmo.
— Hm... E, por acaso, isso de estarem acertados é por conta de alguma
briga que tiveram?
— É. Nós nos desentendemos por uma coisa que aconteceu comigo, mas
ela é minha, não tem como ficarmos separados.
— Isso soa egoísta e babaca, filho.
— Está precisando de um espelho, pai.
— Muito engraçado — ele sorri. — Ela me pareceu uma boa garota, ao
menos de primeira impressão.
— Ela é. Incrível.
— Você sabe que mulher se magoa fácil, não é? Por exemplo, algo que
soa nada para você, pode soar tudo para ela.
Eu o olho, estranhando o comentário.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que tenho muita preocupação com idiotices que você
possa fazer para magoá-la. Parece alguma praga em nossa família — ele
balança a cabeça, lamentando. — Nós sempre estragamos tudo em algum
momento. Isso é ruim demais, Dean. Não faça isso com ela nunca. É algo
irreparável e que sempre vai continuar na memória de vocês.
— Não acho que o que eu fiz chegou ao ponto de ser devastador.
— Você é estúpido e bruto quando está chateado ou com raiva, filho.
Isso não é bom para uma garota.
— Eu sei. Evito isso com ela. Já aconteceu algumas vezes, mas não
muitas. Até porque ela me acalma.
Ele me analisa e então concorda, cruzando os braços e observando o céu
por um momento.
— A Amy está namorando, o Brandon, mesmo que não consideremos o
dele um namoro — sorri — e agora você. Acho que vou ganhar netos logo.
— Vai, sim — eu sorrio, mas logo Stepanhie e Deana vêm à minha
mente, então me dou conta de que talvez meu pai já seja avô e não saiba. E eu
pai.
— Só… — ele me olha, um olhar sério, bondoso e de aviso. — Só toma
cuidado, Dean. Um amor perdido é algo que… — balança a cabeça, como se
lembrasse de algo ruim. — Dói muito e você nunca poderia esquecer e,
mesmo que estivesse com outra pessoa, você lembraria para sempre. Não faz
burrada, filho. Pensa racionalmente e presta atenção no que faz. Pode ser
lindo e bom, só depende em qual direção vocês estão remando.
— Entendido, pai. Obrigado — sorrio, em agradecimento.
Ele se aproxima e me dá um abraço demorado, então sorri e me dá um
tapinha no ombro, saindo em seguida.
Sinceramente, fiquei com um pouco de medo. Ele não é de falar tão
sério e agora parecia quase preocupado. A Natasha e eu nos acertamos, não?
Sim, eu pensei que sim. Pareceu que sim.
Tirando Stephanie e minha possível filha, tudo está correto. Eu vou fazer
dar certo.

***

Quando acordo no domingo de manhã, saio logo para o lugar mais


afastado possível e ligo para ela. Nós chegamos sábado de manhã e eu dormi,
então à noite eu não consegui ligar por conta do sinal. Agora parece um bom
momento.
No terceiro toque, a voz melodiosa me atende e imediatamente estou
sorrindo.
— Oi, gatão.
— Oi, senhorita Carter. Estou cheio de saudades. — Talvez eu devesse
parar de dizer isso.
— Eu sei, eu também — dá um risinho. — Você está bem?
— Estou, e você?
— Também. Estou na casa da Jill.
— Quem é Jill? — me sento no gramado.
— Ah, é a irmã do Collin, meu amigo do trabalho. É o aniversário dela e
ele me convidou.
— Tão cedo?
— Não, é mais tarde. Eu vim ajudar.
— Quem está com você?
— Ela, o irmão, a namorada dele, Peter e eu.
— Peter? — cuspo o nome. — O idiota que estava correndo com você
outro dia, não é?
— Pra que o escândalo? Ele mesmo e ele não é idiota, Dean.
— Ele estava dando em cima de você enquanto estávamos brigados,
então, sim, ele é.
Natasha ri.
— Deixa disso. E como está com sua família?
— Bem. Minha irmã trouxe o namorado e eu os vi sair escondidos de
madrugada. Poderia ser a gente fazendo amor no celeiro, mas você não me
ajuda.
Ela gargalha.
— No celeiro? — questiona. — É sério?
— É sério. Você não gosta de experiências novas?
— Bom, sim, mas feno não me é estimulante.
— Tem razão, eu que sou. Preciso de você — fecho os olhos, a sensação
do corpo dela junto ao meu sendo demais para lembrar. — Deus, preciso
muito, amor.
— Dean, você não pode falar essas coisas enquanto estou tentando não
pensar em você — sussurra. — Aliás, eu tentei te ligar ontem. O que houve?
— A área não é das melhores. Vem pra cá.
— Não, amanhã nos vemos.
Suspiro, nada contente.
— Tudo bem. Me diga, como foi com seus pais?
— Ah, nada demais. Meu pai morreu quando eu ainda nem tinha
nascido. Era policial e teve um fim que não deveria — ela fica em silêncio
uns segundos. — Eu prefiro assim, Dean. Sabe, do que se ele não tivesse nos
querido.
— Entendo, amor. Sinto muito. Queria estar aí para te dar um abraço
forte.
— Eu também queria que você estivesse aqui — posso sentir seu
sorriso. — Agora eu preciso desligar. Precisam da minha ajuda. Um beijo.
— Um só?
— Mil.
— Um milhão.
Ela ri.
— Quantos você quiser, gatão. Você faz falta.
Sorrio, puramente cheio de satisfação.
— Você também, meu anjo. Até amanhã.
— Até — ela desliga e eu lamento interiormente. Poderia passar horas
ouvindo e vendo Natasha, e não me cansaria. Não teria nem como. Ela é
especial.
Me deito na grama e observo o céu azul e sem nuvens, então suspiro,
plenamente convicto da sensação que me invade.
A Natasha nasceu para ser minha.
Capítulo 35

Estou muito, muito ansiosa para ver o Dean. Ele chegou ontem de
madrugada, mas não pude vê-lo porque estava no terceiro céu do sono
quando me mandou mensagem e disse que queria me chupar até perder o
fôlego. Talvez não seja algo que eu já pensei que ouviria, mas gostei do
mesmo jeito.
Respiro fundo, seguro a alça da minha bolsa mais firmemente e
ultrapasso as portas de vidro do escritório dos Hume, só para amolecer bem
onde estou, quando encontro o homem lindo e que me tira todo o ar. Ele está
escorado em seu carro, com os braços cruzados e as pernas também, olhando
algo do lado. Lindo de viver.
Me aproximo um pouco trêmula e, conforme vou chegando perto dele,
posso sentir seu perfume me embalsamar. Não precisa de muito tempo, logo
ele nota que estou perto e seu olhar encontra o meu. Então é mesmo muito,
muito estranho que eu sinta um calor incomensurável somado à um frio na
espinha, que percorre todos os meus sentidos, e meu coração começa a bater
aceleradamente.
Dean sorri. Só o canto dos lábios se erguendo em um meio sorriso, mas
não é diferente, me paralisa do mesmo jeito. Atraente. Charmoso.
Maravilhoso.
Suspiro, minha boca se abrindo e o ar ficando preso.
Ele se desencosta do veículo e caminha os poucos passos que nos
afastam. Quando estamos bem próximos, me lembro de respirar, mas só para
o choque ser maior quando seus braços me rodeiam e ele me ergue do chão,
rodopiando comigo e me fazendo dar um grito de surpresa, seguido de uma
risada quando circundo seu pescoço com meus próprios braços.
Sou colocada no chão depois de alguns segundos, mas ele não me
liberta, do contrário, me segura firmemente em um abraço apertado contra
seu corpo quente.
Estou tão amolecida que começo a chorar, buscando uma forma de
aliviar tantas emoções misturadas, mas que sou incapaz de descrever.
Sinto seus dedos se infiltrarem por entre meus cabelos e fazerem uma
pequena pressão, em uma massagem relaxante.
— Bom te ver também, meu amor — ele sussurra e beija meu pescoço.
— Fique calma.
Mas eu estou incapaz de fazê-lo. Eu não sei, apenas me sinto
emocionada e atingida por um avalanche de sensações que só me fazem
abraçá-lo mais firmemente, desejando que nunca tenhamos que nos separar.
— Senti sua falta — declaro. — Muito.
— Eu também senti a sua — ele me balança um pouco para lá e para cá,
em um movimento suave. Suas mãos se concentram em acariciar minhas
costas e, quando para, Dean me afasta, seu olhar buscando o meu. Eu
estremeço. Seus olhos estão marejados.
Dou um passo para trás, inundada de confusão.
Ele também parece momentaneamente desconectado enquanto enfia as
mãos no bolso da calça e abaixa o olhar por uns segundos.
Volta a me olhar.
— Quer jantar comigo?
Balanço a cabeça afirmativamente e ele sorri, caminhando de volta ao
seu carro e abrindo a porta para mim. Tomo assento e respiro fundo,
colocando o cinto e tentando parar de ser tão emotiva. Seco o rosto e junto as
mãos por cima da bolsa em meu colo.
Dean logo está ao meu lado, colocando seu cinto e nos tirando da frente
de onde passo tanto tempo.
Ele liga o som baixinho em uma música suave e calma. Eu suspiro
novamente.
— Como foi o seu dia? — a voz dele retumba de repente, grave e
tranquila ao mesmo tempo.
— Bom. Eu terminei as artes dos azeites hoje. Sabe, da empresa. Eles
gostaram tanto que vão nos contratar novamente da próxima vez. Acho que
vão manter essas por um ano, mais ou menos.
— Meus parabéns. Você é ótima, a melhor — ele me olha e dá uma
piscadinha, novamente me fazendo derreter. — Vamos comemorar então. O
que você mais gosta de comer?
— O que mais gosto? — penso um pouco. — Linguiça.
Ele ri.
— É sério — sorrio simplesmente por ouvir o som de sua risada. — É
gostosa.
— Tudo bem — ele sorri. — Vamos a um restaurante que sirva
linguiças.
— Obrigada. Como foi com sua família?
— Bem legal, mas eu não conseguia parar de pensar em você.
Apoio a cabeça no banco, procurando ficar sólida e inteira até o fim da
noite.
— Seu outro irmão também levou a namorada?
— Não, eles brigaram ou algo assim. Eu falei de você para minha irmã e
ela disse que eu devo continuar com você.
— É? — Estou surpresa, mas não deveria, afinal estamos namorando. —
Aliás, quando é que vamos conhecer a sua filha?
Dean se remexe e parece incomodado, mas não se importa em me
responder.
— Amanhã. Cedo. Falei com a Stephanie hoje de manhã e já está tudo
resolvido. Vamos amanhã encontrá-la perto da clínica.
Não sei exatamente por qual motivo, mas me encho de um alívio surreal
e concordo, então nós nos silenciamos até chegar ao restaurante.
Não é tão discreto quanto o último, mas nada exorbitante demais. Parece
convidativo e relaxante. Dean estaciona e logo deixamos o carro, seguindo
para dentro do estabelecimento. Está vazio, somente algumas mesas ocupadas
com casais sorridentes.
A moça da recepção logo nos acomoda em um lugar agradável perto dos
fundos, por nossa escolha, e nos deixa com o cardápio. Tem um quê de
rústico no local, mas embalado de requinte.
— Hoje, além de ter resolvido esse problema de DNA, eu comprei uma
casa — ele revela, chamando minha atenção.
— Foi?
— Sim, eu queria fazer isso há um tempo. Ter uma casa de férias, sabe?
Ela fica em uma área isolada na Carolina do Norte. É maravilhoso. Já esteve
lá?
— Não — me encolho. — Só fui à Irlanda com você.
Dean fica desconfortável. Ficamos em silêncio por uns segundos, nos
encarando.
Ele põe as mãos por cima da mesa, abandonando o cardápio, então pede
as minhas.
Quando estão juntas, ele entrelaça nossos dedos e fica olhando,
parecendo pensativo por um instante.
— Eu sou um idiota — fala baixinho. — Mais idiota que eu, só dois de
mim.
Balanço a cabeça, concordando, mas também incomodada com seu
semblante.
— Eu peço perdão porque quando você veio embora, eu deixei e foi de
propósito — me olha. — Achei que estava tentando evitar uma coisa pior,
mas me enganei. Sei que pode soar ridículo, mas eu sinto algo forte por você,
Natasha. Estou apaixonado.
Prendo a respiração, surpresa.
— Estou mesmo, mas também sei que nunca senti nada assim por
ninguém e isso me incomoda porque não sei o que pode acontecer daqui para
frente — emenda. — Tenho sempre a sensação de que vou ser deixado em
algum momento toda vez que tento algum encontro a longo prazo, então eu
peço que, se você quiser me deixar em algum instante, me diga, está bem?
Quero que seja sempre sincera comigo porque vou fazer o mesmo por você.
— Ok — eu concordo. — Mas não penso em te deixar.
— Você não pode prever o futuro, meu amor — ele aperta nossas mãos.
— Se a garotinha for realmente minha filha, nós vamos ficar juntos mesmo
assim?
Desvio o olhar, a pergunta me causando uma inércia momentânea.
Pode ser. O que tenho a perder? Nós estamos apaixonados. Não pode
dar errado. Dean vai ajudá-la e talvez tenha que me deixar alguns dias para
ficar com ela, mas tudo bem. Eu só quero vê-lo feliz.
— Vamos, sim — assinto.
Ele sorri um pouco, levando minhas mãos aos lábios e beijando.
— Obrigado. Vamos comer. A linguiça é só para você.
— Tudo bem — rio e ele chama o garçom.
Estou feliz e está tudo bem.
Capítulo 36

Estou apreensiva enquanto Dean segura minha mão. Nós estamos


aguardando a tal Stephanie em uma praça ao lado da clínica, mas ela está
atrasada vinte minutos e isso o deixou louco da vida.
- Eu não suporto atrasos - resmunga pela décima vez e eu aperto um
pouco sua mão, tentando lhe passar conforto.
Já na basta o episódio, a megera ainda tem que se atrasar. Não acredito
nisso. Nós estamos com o coração na mão, é lógico. Até chegar atrasada no
trabalho eu vou. Sorte que o cliente é o Dean, ou eu seria demitida com
causa.
Depois de uns bons minutos, vejo uma mulher magrela e loira se
aproximando meio hesitante dos passos. Quando ele emite um som de alívio
ao meu lado, sei que é ela.
- Desculpe a demora - fala quando está próxima. - Eu… - abaixa o olhar.
- Tive que passar em um lugar antes.
Dean grunhe alguma coisa em voz baixa e olha para os lados, para
baixo.
- Cadê a garotinha? - questiona.
A tal Stephanie suspira e olha para ele.
- Ela não veio. Não vou fazer o teste.
Ele parece tão chocado, que solta minha mão.
- Você está de palhaçada com a minha cara, Stephanie? - sibila.
- Não estou - morde a boca e então desvia o olhar para mim, que estou
um pouco desconcertada, além de impressionada em como o meu Dean lindo
possa ter querido uma sem sal dessas.
- Por que não? - ele pergunta, a voz alterada. - Estava tudo certo até
ontem.
- É, mas eu já consegui, tá legal? - ela ergue as mãos. - Eu já consegui!
- Conseguiu?
- Consegui o que eu queria!
Olho para os dois, tentando compreender.
- Eu consegui o dinheiro, é isso - ela dá um passo vacilante para trás.
Estou boquiaberta. Não acredito nisso…
- Me desculpa! - ela agarra os cabelos. - Eu não queria ter que chegar a
esse ponto, mas meu marido está com um tumor e eu não sabia a quem pedir
o valor. Me desculpa…
Engulo em seco. Ela parece desnorteada, então olho para Dean, que está
com a boca aberta em seu total momento de descrença.
Ele deu dinheiro a ela?
- Como é que… - ele começa, mas hesita. - Como você pôde? Marido?
Você é casada?
- Sou - Stephanie começa a chorar. - Com o Fred.
- Fred? - Dean está perplexo. - Você casou com o carteiro? Porra!
- Nos apaixonamos - ela funga. - Ele me chamou para fugir com ele e…
- Dane-se a sua história de amor! A filha é minha ou não é? - ele aperta
as mãos ao lado do próprio corpo, talvez tentando evitar uma desgraça.
- Não - ela aperta os olhos. - Parece comigo, não com você. Não é sua,
mas eu precisava de um motivo para conseguir o dinheiro e estou aqui sendo
sincera com você. Peço que me perdoe, mas foi por um bem maior. Me
perdoe.
Estou com a mão tampando a boca, descrente.
Dean ri. Um riso grave e entrecortado, então sai andando para longe de
nós enquanto repete "sincera".
Stepanhie chora mais alto e eu olho bem para sua cara, até ela me olhar.
- Eu sinto muito - sussurra. - É o meu marido e eu o amo, não podia
deixá-lo morrer.
- Por que você não falou o real motivo? Dean teria te dado o dinheiro do
mesmo jeito.
- Não daria - ela ri no choro. - Nem iria querer me ver.
- Você está enganada. Muito enganada. Mágoa-lo uma vez é perdoável,
mas uma outra, de propósito, é crueldade - balanço a cabeça. - Espero que seu
marido fique bem.
Eu a deixo onde está, e vou à procura de Dean, que está encostado em
seu carro estacionado do outro lado da rua.
Meu coração está batendo aceleradamente. Quero ser capaz de passar
algum tipo de conforto a ele. Eu tanto senti como vi que, ele queria que a
criança fosse sua.
Atravesso a rua e vou correndo até ele, tocando seus braços para falar
alguma coisa, mas ele faz um movimento e tira minhas mãos.
- Você está bem? - questiono agoniada.
- Acha que eu estou bem? - me olha, os olhos nada amáveis.
- Não.
- Então por que está perguntando?
- Não era para ter dado dinheiro a ela antes do teste. Eu falei isso com
você.
- Eu não vou me desculpar com você por isso. Pensei que a filha era
minha - sua voz está ficando mais alta, e eu engulo em seco. - Quis fazer o
que era melhor para ela. Além do mais, o dinheiro é meu e eu faço o que eu
quiser com ele, não preciso que você me diga.
- Não estou te dizendo o que fazer - também altero a voz. - Foi um
conselho, mas que se dane, você quis ser idiota e foi.
- Vai me culpar agora? Me chamar de idiota? Que porra você está
achando?
- Não usa esse tom e linguajar comigo - advirto.
- Que tom? - ele grunhe. - Você estava torcendo para não ser minha filha
que eu sei!
Abro a boca, escandalizada.
- Agora você vai me culpar por ter tomado uns chifres e não conseguido
filhos?
Ele emite um som horrível, e fico com medo quando se aproxima de
mim.
- Escuta aqui, sua burra, você não sabe de nada - ele aponta o dedo em
meu rosto. - Não sabe o quanto o que passamos foi lindo e bom, porque é
uma idiota achando que é melhor que a Stepanhie. Ela ao menos fez por uma
boa causa, e você? Será que teria feito o mesmo por mim? Aposto que não.
Balanço a cabeça, sem entender o que está acontecendo.
- Tira o dedo da minha cara - ordeno. - Você não tem o direito. Se foi
tão bom assim - gesticulo - volta lá e faz um filho nela, mas garanta que esse
seja seu de verdade - seguro minha bolsa mais firmemente.
Dean estreita os olhos, a mandíbula cerrada.
- Você é uma vagabunda por insinuar uma coisa dessas - ele grunhe e eu
me encolho, chocada.
- Por… - recobro a voz. - Por que me chamou de vagabunda? Você é
louco?
- Para não te chamar de vadia - ele rapidamente abre a porta do carro e
entra, então sai dirigindo.
Fico paralisada na calçada, agarrando a alça da bolsa com força,
boquiaberta e desacreditada, então sinto meus olhos queimarem e algumas
lágrimas escapam.
Por que ele agiu assim?
Quando finalmente saio do transe, olho para os lados e decido ir para o
ponto em busca de um ônibus. Talvez eu esteja trêmula e muito desentendida,
porque ponho o pé na rua e ouço uma buzina, então não sei o que acontece,
mas agradeço o escuro.
Capítulo 37

1 ano e meio depois…

Abro a porta do deck para o sol entrar com mais força, então dou um
pequeno grito quando Totó pula em minhas pernas. Meu pequeno vira-lata
agitado. Me equilibro sobre os calcanhares para não cair e começo a rir pelo
desespero do animal em chamar minha atenção, como se já não o estivesse
fazendo.
Esta é realmente a parte boa em se morar em casas e não apartamentos.
Você sente liberdade, coisa essa que não se é perceptível em locais como
prédios. Sei disso porque meus pais, atualmente, moram em um apartamento
e é horrível. Nem ao menos posso levar meu cachorro até lá, porque é
proibido. Muito lamentável, com toda certeza.
— Ei, acho que você já me arranhou o suficiente — murmuro para ele.
— Vou colocar sua comida, espera um pouco.
Totó late e se ajeita sobre as patinhas, colocando a língua para fora e
entortando a cabecinha para o lado, como se avaliasse o que acabei de dizer.
— Não acredito nisso. Logo hoje vai chover? — reclamo sozinha,
avaliando as nuvens densas surgirem de repente de algum lugar, cobrindo o
sol aos poucos. — Que droga — olho meu cachorro. — Sorte que você não
precisa sair de casa.
Ele late, balançando o rabinho e dou risada, deixando o deck para voltar
para dentro de casa e preparar meu café e colocar a comida dele.
Essa é a minha vida. Levantar às seis, abrir as janelas de casa para o sol
entrar, alimentar meu cachorro e embarcar para meu trabalho agonizante. Não
é uma reclamação, mas ser a chefe do departamento de criação da Hume's Art
tem me feito ficar sobrecarregada. Às vezes chego em casa e só quero dormir.
Resolvi vir morar sozinha há um ano, quando fui promovida e comecei a
ganhar mais.
Meu celular toca quando estou chegando ao primeiro andar, então sorrio
ao ouvir a voz que sempre tem me acalmado em tanto tempo.
— Baby! Estou te esperando aqui em frente ao…
Ele não termina porque eu apareço bem na hora, sorrindo largamente
para o meu namorado.
— Bom dia — me aproximo e o abraço com força, arrependida de não
tê-lo deixado passar a noite comigo, mas é só por medo. Ainda não consigo.
Deixar. Fazer. Isso parece doloroso agora.
— Como vai? Dormiu bem?
Eu o olho, encostando minha testa na sua.
— Dormi, e você?
— Bem, mas preocupado com você — ele acaricia meu rosto. — Tem
certeza que vai parar de ir ao psicólogo?
— Tenho, Peter — suspiro. — Não está adiantando. Não me serviu para
nada. Eu só tenho que ficar relembrando e é pior. Prefiro não ir mais.
— Tudo bem. Você que sabe. Estou aqui pra te apoiar no que decidir —
ele segura meu queixo, não me dando outra opção que não olhá-lo. —
Apenas não me afaste, tudo bem?
— Nunca — beijo seus lábios de leve, só para abraçá-lo de novo. —
Nunca.
— Eu amo você — ele alisa meus cabelos. — Estarei sempre aqui.
O Peter é lindo. Ele tem sido tudo e mais um pouco para mim desde o
acidente. Aquele dia horrível. O dia em que eu perdi a mim mesma. Uma
parte de mim. Alguém. E então nunca mais consegui ser a mesma. Nem tinha
como.
Sorrio para ele.
— Obrigada por tudo — agradeço de forma sincera. — Eu não sei o que
seria de mim sem você. — Foi ele que esteve comigo quando acordei e
quando recebi a notícia que tinha perdido o bebê. Um bebê que eu nem sabia
que existia. Um bebezinho. Eu ao menos tinha um filho ainda e ele se foi.
Simplesmente assim.
— Ei, não chore — Peter me aperta contra si. — Vai ficar tudo bem.
Vamos embora.
Eu me afasto e seco o rosto, então assinto e nós entramos em seu carro,
preparados (ou não) para mais um dia. Um dia que tem tudo para ser lindo,
porque hoje nós vamos jantar juntos em minha casa à noite. Peter e eu.
Nós merecemos. Ele merece. Eu mereço.
As coisas precisam voltar a ser como eram antes.
Capítulo 38

Observo de longe enquanto eles saem de perto do chafariz e vão


andando pelo parque. Ela está sorrindo contente, como faz todos os
domingos. Sempre que estão assim, juntos, de mãos dadas. Eles têm o
costume de vir ao parque nos domingos e irem à sorveteria aos sábados, isso
quando não vão ao cinema. Ela adora ver romances e sempre chora no ombro
dele.
Me concentro no sorriso dela, que é mesmo lindo. Eu me encarrego de
nunca esquecê-lo. E nem poderia, mesmo que quisesse. É uma lembrança
constante e que me atormenta a cada dia e noite. Cada um deles.
Respiro fundo e me viro, os acompanhando até que eles somem da
minha vista mais uma vez.
Natasha e Peter.
Retorno o caminho para minha casa a pé, então subo pelos degraus, me
sentindo um estranho comigo mesmo. Eu ao menos sei mais o que está
acontecendo.
Não sei. Não desde aquele dia.
Só me lembro de ter dirigido por horas, sem algum destino, magoado e
estilhaçado. Então meu celular tocou e eu ouvi a pior coisa que poderia ser
para aquele dia. Natasha estava em um hospital. Havia sido atropelada por
um ônibus. Estava em estado grave. O próprio pai dela me deu a notícia.
Eu não sei bem como, mas eu consegui dirigir até o hospital e consegui
não morrer durante o caminho. Meu coração estava mais acelerado do que se
eu tivesse corrido uma maratona. Tudo pareceu sumir e só me veio à mente a
forma horrível em como nos despedimos. Eu estava apaixonado e estava
perdendo a garota por quem eu estava entregando meu coração.
Não consegui ficar em paz naquela noite enquanto ela passava por uma
cirurgia delicada. E, quando eu pensei que a pior notícia já tinha sido dada, o
pior foi dito. O bebê não resistiu. O bebê.
Um bebê. Um filho nosso. Ele ao menos… Foi conhecido. Nós ao
menos pudemos sorrir com a notícia e eu já estava sofrendo pela minha perda
de dor indescritível. Eu não o vi, não dava, eu não conseguiria… Mas eu o
perdi e, junto, a capacidade de raciocinar.
O meu dia começou de forma perfeita e de repente no meio dele eu
estava ali, magoado, com o coração quebrado, chorando descontroladamente
com a perda do meu filho e da minha namorada que provavelmente não
viveria.
Tudo me dilacerava. Não... Tudo me fazia querer morrer imediatamente.
O fato de que eu era o culpado. Por tudo. Por tê-la engravidado, levado
comigo e deixado-a sozinha. Eu sabia dos riscos. Sabia o que estava fazendo
e, mesmo assim, eu achei que iria ficar tudo bem. Ela grávida.
Por que não?
Achismo. Grande coisa. Não ficou. Tudo piorou da forma mais
tenebrosa possível.
Eu fiquei ali com ela, naquela noite horrível, um pesadelo, mesmo que
ela não pudesse me ver ou ouvir. Natasha, a minha garota linda e animada,
praticamente entrou em inércia por longos dois meses. Nós estávamos
praticamente loucos. Quase desistindo. Quase...
Até ela acordar em uma tarde chuvosa. Ela mexeu os lábios. Estávamos
seus pais e eu na sala. Eu tentava pedir a Deus que me ouvisse uma última
vez. Só uma. Para Ele me colocar no lugar dela. Seria a solução. Eu estava
implorando a Ele; mas, então Natasha mexeu os lábios e pronunciou um
único nome. Simples assim. Ela falou baixo, mas eu ouvi.
Peter.
Ela o chamou e, mesmo não sendo o nome que eu gostaria de ter ouvido,
me alegrei da mesma forma. Eu estava feliz. Ela tinha vivido. Minha garota
era vívida e forte, eu sabia. Estava pronto para dizer a ela tudo o que eu
queria e sentia. Eu estava…
Mas isso não foi possível quando, em uma semana, quando ela pôde sair
da UTI, eu fui expulso por ordens dela. Os pais não me deixavam vê-la
porque ela não queria.
Tudo bem, ela tinha razão, mas queria ao menos dizer que eu estava me
sentindo um assassino, se ela poderia me perdoar… Mas eu nunca consegui
falar. Nunca consegui ver qual foi sua expressão ao saber que havia perdido o
nosso filho. Por minha culpa. Por culpa de um passado desalinhado.
Nunca.
Então eu segui atrás. Sim, atrás, porque jamais consegui ver um futuro.
Parece que o meu mundo desmoronou desde aquele dia e tudo perdeu o
sentido. As coisas simples, prazerosas, animadas… Nada fazia qualquer
sentido. Tudo se perdeu.
Talvez eu não tenha a vontade de me matar, não tenho; mas, se eu
desaparecesse para sempre, no escuro eterno onde essa dor não seria
alcançável, eu escolheria. Às vezes, eu entro no meu carro e fico parado no
meio da rua, com as janelas abertas, apenas para ver se alguém aparece e
atira. Mas ninguém vem.
É péssima essa vida. Essa sensação constante. Um loop de sofrimento
infindável, que só repete a cada vez. Não posso mais acompanhar minha
família em viagens até à fazenda, porque a minha depressão miserável atinge
a todos. Não posso trabalhar no escritório, porque minha aparência está
péssima e a minha vontade de mudá-la não existe. Mal estou dando algum
lucro. Quase não como, não durmo, não bebo… Não vivo.
Eu não sei mais o que é cor porque tudo se tornou um constante preto e
branco. Sonhos diários de Natasha sendo afogada com nosso filho ou presa
em um buraco, onde eu nunca posso fazer nada, me acompanham. É
doloroso. Já desisti.
E toda vez que paro e penso que nos momentos em que ela mais
precisou, eu não estive, não pude estar, e sim alguém que era um
desconhecido; eu perco o pouco do ar e do resto de razão. Eu me vejo cego.
Sempre preciso fechar os olhos e fazer uma contagem mental. Preciso
levantar e caminhar até a varanda, onde tivemos nosso primeiro jantar; então
eu me sento e relembro: ela sorrindo, falando e rindo. Ela estava feliz. Eu
estava. Então também terminei aquela noite de forma horrível.
E mais outra. E outra. Outra. Se tornou costumeiro. Não era nada para
mim, mas foi tudo para ela. Eu machuquei seu coração.
Ela era o meu tudo e eu não percebi, e agora que ela se foi, eu me tornei
um nada. Nada. Eu não sou absolutamente nada.
Só… sobrevivo.
Não vou mentir. Pensei em ir atrás dela. Desde o primeiro dia, cinco
meses depois, quando ela voltou ao trabalho, eu fui atrás. Mas era impossível
me aproximar. Peter sempre estava com ela. Sempre esteve. Até que eu
percebi que não era só amizade e, depois de mais alguns meses, ele conseguiu
um milagre.
Ele a fez sorrir.
Eu vi. Estava os observando enquanto fingia atender o celular. De onde
estava, não dava para me ver. Minha linda garota abriu um sorriso que
iluminou o céu e, daquele dia, eu tive certeza: Deus não mudou a gente de
lugar, mudou a mim. Não era para ser nós dois. Nunca foi. Ele me atendeu da
forma que quis, mas atendeu.
E eu entendi. Apesar da dor, eu entendi perfeitamente.
Era para ser Natasha e Peter.
Por mais um dia então, eu entro em minha casa e faço o mecanismo de
sempre: jogo minhas chaves sobre o sofá e me dirijo para a varanda, tomando
assento em uma das cadeiras. O sol vai se pondo e o ar quente exala da minha
boca.
Fecho meus olhos e inclino a cabeça, persistindo mais uma vez em uma
oração sincera, a de sempre. Só a que eu desejo que seja atendida. E, se for,
eu vou poder ter um pouco de paz.
Porque, mesmo que o dia seja límpido, para mim ele fica no nublado;
mesmo que o céu esteja azul como o mar, eu o vejo em um borrão; mesmo
que os pássaros cantem, eu ouço choro. Horror. Dor. E não consigo enxergar
nada de bom. A não ser ela.
É triste, pesaroso e estou quase desistindo.
— E… — eu suspiro, a última parte precisando que o mundo me escute.
— Faça ela feliz, com filhos e um esposo que a mereça... E também que um
dia, por um milagre, ela possa me perdoar. Que o Senhor possa me perdoar...
— abro os olhos e olho para o céu. — É tudo que peço. Amém.

***

Eu posso ouvir uns cochichos abafados de onde estou, mas não me


importo muito. Não quando Elizabeth está me mostrando o quanto sua
boneca pode beber tanta água.
— Ela vai explodir a barriga — aviso e a linda garotinha dá uma
risadinha, levantando e correndo para pegar fraldas.
— Agora ela não vai mais, tio Dean — sorri e começa a tirar o vestido
da boneca para colocar sua fralda. Eu observo, fascinado, então ouço a voz da
minha irmã.
— Oi, meu irmãozinho — coloca as mãos em meus ombros. — Nós
temos que ir.
— Vou ficar mais um pouco.
— Deixa o tio Dean ficar — Elizabeth pede, parecendo triste.
— Querida, ele volta amanhã, igual todo dia. Mas agora preciso que ele
venha comigo, porque nós vamos comer.
Ela parece tristonha, mas concorda e vem me abraçar com força, eu
ficando mais tempo que o esperado junto a ela, até minha irmã me cutucar as
costas.
— Eu volto amanhã, princesa — garanto para ela, então me levanto e
sigo Amy pelo espaçoso lugar, que virou seu favorito nos últimos tempos. E
o meu também, confesso. A ONG dela, que também serviu como um santo
remédio a ela.
Quando passamos pelo hall de recepção e chegamos chega à rua, ela
vira-se para mim e sorri largamente.
— Como você está? Já pensou no que eu disse?
— Pensei, mas não quero. Não poderia. Eu sou sozinho e adotar uma
criança pode ser mais do que eu imagino.
Minha irmã suspira e segura minha mão, nos levando para um
restaurante em céu aberto que tem perto de onde estamos. Nós nos sentamos
nas cadeiras e ela murmura algo, jogando seus cabelos para trás.
— Acho que você precisa conversar com alguém. Por que não comigo?
— questiona, me estudando seriamente.
— Você não tem que ficar querendo saber nada, Amy. Está grávida e
deve ficar feliz, não querendo saber dos problemas dos outros.
— Não outros, do meu irmão. Para de ficar querendo deixar as pessoas
longe, Dean. Você precisa permitir que alguém te ajude. Não dá para
continuar desse jeito. Nossos pais estão preocupados — ela se inclina para
frente. — Olha, eu sei que talvez possa ter a ver com a garota por quem você
estava apaixonado, não é? O que houve?
Suspiro, agarrando um guardanapo e mexendo entre os dedos, enquanto
tento esquecer a lembrança horrível.
— Dean, eu amo o que tem feito, vindo aqui me ajudar, fazendo
crianças sorrirem, mas esse é o limite. Você parou a sua vida, o seu trabalho,
tudo que gostava. Não dá para te ver assim e ficar parada. Eu não consigo.
Você precisa explanar, colocar para fora — ela toca meu pulso. —
Conversar.
— Ela estava grávida. Natasha estava grávida — as palavras saem
arrastadas da minha boca. — E ela perdeu o bebê. Por minha culpa.
Posso sentir o peso que cai sobre mim, e minha irmã fica tensa, tirando a
mão e exalando uma respiração profunda.
Fecho os olhos, incapaz de não sentir a dor me corroer.
— Por que foi culpa sua?
— Porque eu a deixei — solto o objeto e levo as mãos ao rosto,
esfregando. — Nosso bebê morreu por minha culpa — olho-a. — Minha
culpa. Eu só fiz mal a ela. Só isso. É tudo o que eu faço. Fazer mal.
— Mas o que houve? — Amy está paralisada.
— Ela foi atropelada. Um ônibus. O bebê tinha apenas três semanas…
Eu… — engulo em seco. — Nunca vou poder me perdoar.
— Minha nossa… — ela volta a segurar meus pulsos, apertando de leve.
— Por que você não contou isso a ninguém, Dean? O Brandon achava que
era porque você descobriu que a filha da Stepanhie não era sua e a Natasha
não tinha mais te querido porque você ficou muito triste. Isso nunca passou
pela nossa cabeça.
— Não valia a pena contar. Não queria que minha família também me
achasse um monstro.
— Não, Dean. Nunca acharíamos isso de você.
— Achariam — olho-a de novo. — Não tem como não achar.
Minha irmã me encara, me avaliando, até que assente.
— Eu sei o que é dor por amor — ela garante, em um suspiro. —
Quando o Dylan acordou, ele pediu que me tirassem do seu quarto e depois
fez uma série de coisas comigo que me machucaram mais do que se eu
estivesse apanhando. Foi horrível e gostaria de me esquecer de tudo, mas não
dá. Não faz muito tempo e eu peço desculpas a você porque estive tão
enclausurada no meu próprio mundo, que não percebi que você estava
sofrendo calado.
— Essas coisas nos servem como aprendizado — tento sorrir, mas não
obtenho qualquer sucesso. — Foi para você entender que tinha que ficar ao
lado do seu marido e foi para mim, me mostrando que eu devo ficar sozinho.
Eu nunca poderia fazer alguém feliz. Eu… — fecho os olhos, mas abro só
para focar em um ponto qualquer. — Você sabe, Amy, quanto mais a gente
quer, menos temos. É duro aceitar, mas é preciso.
— Não — ela aperta minha mão. — Não é você que decide, Dean. Não
é. Não vê os nossos pais? O que eles nos contaram?
— É bem diferente, Amy. Nosso pai não matou um filho.
— E nem você. A mamãe também perdeu um bebê e mesmo assim se
deu uma chance.
— Não, Amy. É completamente diferente. Nosso pai não foi culpado
pelo filho dela, eu fui. Era por minha causa que a Natasha estava naquela
maldita calçada.
— Mas não foi você que estava no ônibus.
— Porque eu a deixei! — despejo. — Eu fiz com que ela fosse ali e
depois eu simplesmente saí! Não me preocupei com nada além de mim
mesmo. Foi o meu castigo, mas eu choro amargamente porque ela também
teve que pagar por ele.
— Não é desse jeito, Dean — Amy suspira, também desviando o olhar
por um momento. — Você pretende fazer o quê? Viver assim?
— Não — nego, pesaroso. — Eu vou mudar para a Carolina do Norte,
para a casa que comprei há um ano. Vou ir até ela antes e tentar conseguir seu
perdão… E seguir a vida.
— Isso não é seguir a vida. Abandonar quem você ama. Talvez ela
também esteja sofrendo sem você.
Dou um riso incrédulo.
— Não é porque você é uma mulher louca de amor que todas serão
assim — deixo claro. — A Natasha está namorando e feliz. Isso é tudo que eu
preciso saber. Só quero que ela fique bem, porque aí posso estar em paz. Pelo
menos um pouco. Essas coisas têm que acontecer, Amy.
— E você vai simplesmente fugir? Tentar fingir que não a ama e sofre
sem ela?
— Isso não é relevante. Eu não a mereço.
— Tá, nós não merecemos trocentas coisas, Dean! Estou cansada de ver
você olhando as crianças e tentando as fazer apagarem sua dor. Não vai
funcionar. Você precisa se perdoar, para então se curar interiormente. Só ela
pode te dar isso. Sei disso tão bem quanto estamos respirando — ela me
analisa. — A única pessoa que te causa dor, é também a única que pode tirar
ela. Eu sei o que estou falando. Acredite.
Olho para o lado, onde o fim de tarde parece desanimado, como sempre,
então volto a lembrar daquele dia e minha cabeça gira por dentro.
— Ao menos o perdão ela pode te dar — minha irmã aperta minha mão.
— Mas não fuja, porque essa não é mesmo a solução.
Eu não vou fugir, apenas sumir.
Capítulo 39

Peter está um pouco cabisbaixo enquanto dirige até minha casa. A noite
anterior não foi como eu premeditava, mas ele não pareceu tão abalado por
isso. Do contrário, ele me tranquilizou e dormimos abraçados. Ele sempre me
entende.
Mas, não sei, depois que ele voltou do almoço — que eu não pude ir
junto porque tinha muita arte para finalizar —, senti que estava estranho. E
agora não é diferente. Seu olhar está vago e ele também.
— O que você tem? — pergunto cautelosa.
— Apenas… — ele respira fundo. — Nós precisamos conversar sobre
uma coisa.
Fico preocupada de imediato, mas não demonstro, então apenas nos
calamos até chegar ao nosso destino. Eu saio do carro e aguardo meu
namorado enquanto ele estaciona do outro lado e depois vem em minha
direção.
O sorriso que ele me lança não me ajuda em nada a compreender o que
deve estar acontecendo.
— Posso entrar para gente conversar melhor?
— Tudo bem — concordo, então vamos para dentro da minha pequena
casa. Estou ansiosa e agoniada, porque não parece algo bom.
— Você vai terminar comigo por causa de ontem? — sou direta, mais
por medo do que qualquer outra coisa. Peter rapidamente nega, segurando
minha mão e me incentivando a sentar com ele no sofá, mirando qualquer
ponto.
— Hoje eu me esbarrei com uma pessoa — me olha. — O seu ex-
namorado. Ele conversou comigo.
Meu olhar escurece um pouco, e preciso respirar fundo para me
concentrar e entender do que ele está falando.
— Sei que é complicado, mas ele pediu para eu tentar ver se nós
poderíamos nos encontrar com ele — Peter parece aflito. — Ele disse que
precisa tentar obter seu perdão. Olha, não é da minha conta, isso fica por
você.
— Eu não quero vê-lo — admito, uma dor somada a uma sensação
estranha me atingindo e eu preciso tampar o rosto com as mãos. — Não
deixa, Peter.
— Me ouça — ele acaricia meus braços —, eu acho que precisa haver
mesmo perdão. Você continua fechada assim, Natasha. Precisa tentar voltar a
ser como era.
— Não tem como — o olho, estilhaçada. — Por que eu deveria vê-lo?
Isso me ajudaria em quê?
— Não é que você deva, porque eu, admito, tenho medo do que pode
acontecer. Mas acho que também te ajudaria a, não sei, viver de novo. O que
aconteceu foi péssimo, mas as coisas precisam entrar em rumo.
— Eu estou bem, Peter, mas não quero vê-lo, ele me traz más
lembranças. Não quero.
Ele suspira, então balança a cabeça.
— Tudo bem. Apenas achei que deveria passar a informação para você,
afinal, era um filho dos dois e… Acho que talvez eu não possa imaginar a dor
dele como pai de primeira viagem, mas que não chegou a ver o bebê.
Levanto e caminho para o meu quarto.
— Vou tomar banho. Você pode dormir aqui, se quiser — aviso.
Fecho a porta e caio sentada, controlando um choro inevitável. Aperto
bem os olhos, tentando esquecer ele. Eu devia. Tenho que esquecer, mas
simplesmente não consigo.
Dean foi horrível naquele dia. Foi. Mas ele também foi a única voz que
ouvi quando tudo escureceu. Ele era tudo que eu escutava.
Mas eu não posso. Não conseguiria.
Não dá mais.
Capítulo 40

Estou com um pouco de medo, é verdade. Enquanto estou sentado aqui


nesse banco, tudo repassa em minha mente. Os momentos bons e ruins, e,
infelizmente, os ruins parecem ter uma força assombrosa. Muito maior, sem
qualquer dúvida.
Dessa forma, eu me concentro em não deixar as emoções me abalarem
como antes e decido ficar tranquilo. Eu preciso estar aqui.
Meu olhar é atraído para o lado, então eu vejo o casal se aproximando
como em todo domingo, mas dessa vez Natasha não sorri. Ela está com o
olhar para baixo, em qualquer lugar.
Peter logo me vê e acena, os guiando em minha direção. É doloroso, eu
não nego, ver Natasha se aproximando sabendo que eu sou a pessoa que
causou a dor que ela está sentindo; e, pior, com um homem que não sou eu.
Respiro fundo, buscando controlar as batidas do meu coração e os
diversos pensamentos que me atingem, então eles se aproximam.
— Oi — Peter me cumprimenta, eu somente acenando com a cabeça,
porque meu olhar recai nela, que não me olha e simplesmente parece pequena
demais.
Ele acaricia seu braço e sorri para mim.
— Eu vou deixar vocês a sós — se inclina e diz algo no ouvido dela,
saindo em seguida, para ficar perto, em um banco.
Não sei como proceder, mas me sento novamente e deixo que as
palavras fluam. Apenas sendo guiado pela culpa e horror.
— Você não precisa olhar para mim — digo e Natasha cruza os braços,
abaixando ainda mais os olhos, se possível. Sinto tanta falta do seu olhar...
— Não vou tomar o seu tempo porque sei que hoje é o dia que aproveita com
seu namorado. Só quero que saiba que me alegro por... Você ter conseguido
seguir em frente. Sabe, retomado sua vida. Fiquei bem aliviado por isso. Não
sei se seria a palavra certa. Contente por você... Quer dizer, é bom que tenha
feito isso.
Um estrondo no céu quase me assusta, e também a algumas pessoas que
estão dispersas pelo local. Chuva forte.
— Não vim aqui à toa, Natasha — observo quando ela pigarreia. —
Tenho noção do que fiz e sei, só preciso do seu perdão. Me perdoe por ter
sido quem eu fui, por ter te chateado, por ter agido de toda forma e te
prometido muito quando eu era nada, não tinha nada. As coisas tomaram um
caminho que nunca poderíamos imaginar e eu lamento por isso. Só... —
hesito. Ela está com as mãos uma na outra agora. — Só peço que me perdoe.
Eu... — respiro fundo. — Não sei o que dizer, sinceramente. Assumo total
culpa pelo que houve e espero que um dia você possa entender que a dor que
senti ao saber sobre nosso filho foi a pior que eu já imaginei sentir na vida.
Nunca poderia descrever ou tentar explicar, porque é impossível.
Outro estrondo me faz olhar para cima e uma nuvem escura e densa
aparece, cobrindo o sol ao mesmo tempo que um vento gelado embala o
lugar. Está melancólico o clima, não mais agradável como em alguns
minutos.
— Nunca te culpei — a voz dela me chama de volta e olho para o lado.
Natasha está com os olhos erguidos e só então, pela primeira vez em
tanto tempo, tenho sua atenção em mim, meu coração batendo tão forte
contra o peito que preciso abrir a boca para tentar compassar a respiração.
— Não achei que tivesse sido sua culpa — ela reforça, os lábios que
eram tão vermelhos, numa cor opaca e morta. Ela tem olheiras pesadas. Não é
mais a minha Natasha de antigamente. Não há mais aquele brilho e energia.
Tudo pareceu se esvair.
Nós nos encaramos por um tempo em silêncio, cada um imerso em uma
emoção diferente. Medo. Sim, há medo fluindo entre nós.
— Mas foi — consigo dizer com muito esforço. — A culpa foi minha.
Você não estaria lá se não fosse por mim. Não estaria se eu não tivesse te
deixado lá e ido embora como um babaca. Eu agi por impulso, não sei o que
me deu na cabeça, fiquei revoltado e cheio de pavor — tampo o rosto com as
mãos, meu corpo tremendo.
É muito doloroso...
— Eu pensei que não era capaz de ser pai. Tinha... Medo de não poder
engravidar uma mulher. Esse pensamento ficava fluindo em minha mente
porque... O meu irmão é estéril e pensei que eu poderia ter nascido assim
também. Eu... Não sabia o que pensar. Não sei até hoje se tem algo
justificável. O pavor me assombrou e eu perdi a razão...
— Por que você nunca me disse isso? — ela pergunta, a voz baixa e
rouca, entrecortada, cheia de apreensão.
— Porque eu... — meus olhos se enchem de lágrimas pela ideia de que
fui culpado pela morte do meu primeiro filho. O nosso filho. — Eu não fui
homem o bastante. Não quis assumir o meu medo. Ficava me enganando,
achando que estava esperando a hora e pessoa certa para poder me tornar pai,
um dos meus maiores desejos, mas a verdade é que eu tinha medo. A possível
realidade me assombrava e eu... Quando surgiu a ideia de que talvez eu
tivesse tido uma filha, não me pareceu tão ruim. Algo em mim lampejou e...
— Por que está contando agora? — Natasha me interrompe e eu olho-a,
vendo seus olhos vermelhos. — Você acha que agora vai adiantar alguma
coisa, Dean? — sussurra. — Não vai.
— Não vai — concordo e persistimos nos olhando, até que ela desvia
primeiro, focando o céu, que remexe nuvens escuras. Outras apareceram. Está
escuro.
— Você me perdoa? — forço as palavras a saírem da minha boca.
— Perdoo. Perdoei — seu peito sobe e desce em uma respiração
profunda, então ela me olha. — Perdoo e nunca pense que foi culpado pela
morte do David — ela tenta sorrir, mas uma lágrima escapa dos seus olhos,
Natasha limpando rapidamente. — Achei um bom nome, você concorda?
— Nathan. Mistura os nossos nomes e quer dizer presente ou dado por
Deus. Sendo assim, um presente dado por Deus — junto as mãos, apertando
os dedos uns nos outros tanto quanto posso. — Mas poderíamos deixar
David.
Ela me olha, os olhos cheios de lágrimas e, quando sinto o meu rosto
esquentar, sei que provavelmente estou no limite também.
— David — ela sussurra. — O responsável pela morte do gigante e que
foi amado.
Engulo em seco, minha garganta pesando e sei que é o momento que
entendo que esse foi o fim. A linha de chegada entre nós. Tudo que teve para
acontecer foi até aqui. Aqui acaba nossa jornada. Para nós dois.
— David — balanço a cabeça em concordância. — É perfeito. Obrigado
pelo seu perdão. Significa tudo para mim.
Olho para o lado, onde mais à frente Peter está esfregando as mãos nos
braços, em busca de algum calor. Pode estar frio, mas simplesmente não
consigo sentir, porque a falta de calor já não é mais estranha para mim.
— Espero que vocês sejam felizes e tenham um monte de menininhas
teimosas — tento sorrir, o pensamento sendo bom e doloroso ao mesmo
tempo, então me levanto.
O céu dá outro estrondo, fazendo algumas pessoas do lugar gritarem. O
vento é mais forte e preciso fechar os olhos.
— Também espero que você seja feliz e tenha um monte de menininhos
adoráveis — ela fala, também levantando, um sorriso tentando surgir, mas
tudo que vejo são lágrimas escaparem, Natasha limpando freneticamente.
— Preciso ir — enfio as mãos nos bolsos, para não tocá-la. A vontade é
quase insuportável.
— Para onde você vai? — ela está com os lábios trêmulos apesar de
estar conseguido segurar as lágrimas.
— Lembra da casa da Carolina do Norte? Eu vou morar lá. É um
reinício — as palavras saem como pedras.
— E o Palace? — outra lágrima teimosa.
— Vai ficar bem — tento sorrir novamente.
Aceno para Peter e olho-a novamente.
— Obrigado — me afasto um pouco. — Adeus, Natasha. E, não se
esqueça, seja feliz.
Não sei bem o que dói mais, então simplesmente me viro e sinto meu
rosto queimar e molhar em lágrimas abundantes, logo o céu testemunhando
nosso estado quando desaba em uma chuva forte e fria.
Simplesmente me arrasto pelo caminho, incapaz de ficar.
Capítulo 41

Estava uma manhã agradável até alguns minutos atrás, quando eu


levantei e fiz as tarefas que tenho praticado há uma semana: corri na areia da
praia enquanto o sol inundava o meu rosto, voltei para casa e levei o lixo para
a reciclagem, botei comida para os passarinhos quando pousarem no
corrimão ou na varanda, então agora estou sentado em meu escritório,
trabalhando.
Nem todos concordaram comigo, mas é melhor trabalhar assim. Quando
surgir alguma reunião ou algo importante, eu irei pessoalmente, mas, de outra
forma, ficarei trabalhando de casa. A minha nova casa.
É estranho, admito. Não tem o ar do meu lar, mas eu precisava
recomeçar de algum lugar. Aqui é perfeito. Tem paz, tem calmaria, eu posso
simplesmente sentar e julgar meus pensamentos. No entanto, falta alguma
coisa. Falta muito.
Meu celular toca e atendo, enquanto não tiro a atenção dos slides da
última supervisão que o Ethan fez. Nós vamos ganhar mais dinheiro, isso está
bem nítido, mas, eu já tenho o suficiente. Poderia simplesmente parar de
querer. No entanto, isso é tudo que eu tenho. O meu trabalho. Me faz sentir
ser alguém.
— Alô — eu falo, mas assim que ouço a barulheira, sei exatamente
quem é.
— Oi, Dean!
— Amy, tudo bem? — dou um sorriso ao ouvir os barulhinhos de bebê.
— Tudo ótimo. Tive um enjoo forte essa manhã e, temporariamente,
quis matar o Dylan por me engravidar mais uma vez.
— Não vou culpá-lo, porque conheço a irmã que tenho.
Ela ri.
— Sim, é verdade. Pobrezinho. O Scott está te mandando um beijo, não
é, filho? — começa a fazer uma voz aguda por demais. — Diz pro titio que tá
mandando beijos. Diz. Titio tô mandando mil beijinhos — então ela dá um
grito histérico e sei que está atacando meu pobre sobrinho com beijos.
— E como vocês estão? — dou um sorriso de leve pela felicidade óbvia
da minha irmã.
— Estamos muito bem. Ontem foi a inauguração da Linus na Georgia,
eu te disse que ia dar certo — suspira, satisfeita. — Mas liguei para saber de
você. Fiquei muito triste por sua decisão. O Brandon, nem se fala. Está todo
atrapalhado na sua sala.
— Logo ele pega o jeito e eu estou bem — sento melhor na cadeira. —
Eu precisava recomeçar, Amy — foco uma foto da minha família na estante.
— Tem algumas coisas que não são para acontecer com todo mundo — meu
peito retorce.
— Deixa disso, Dean. Nós que fazemos nosso futuro, o destino depende
de nós. Por que você vai continuar se culpando por algo que não vai se
desfazer? — ela suaviza a voz de propósito. — Escute, é uma dor dilacerante
saber que perdeu um bebê, eu provavelmente seria mandada para uma clínica
de reabilitação, mas você é um homem forte. Vai conseguir sair dessa.
Olho para cima e aperto os olhos.
— Nós conversamos antes que eu pudesse vir... — exponho. — Ela está
tão mal, Amy. Me cortou o coração. Eu só queria pegá-la em meus braços e
acolher, dizer que ia dar tudo certo, mesmo que não fosse... Só queria dar
algum conforto a ela.
— E por que está aí? Devia estar aqui, tentando e lutando por ela.
Suspiro profundamente.
— Ela está namorando com um homem melhor que eu. Ele é bom para
ela, dá para notar.
— Bem, não é você quem decide o que é melhor para ela.
— Não sou, por isso ela não me escolheu — dou um grunhido baixo.
— Como ela poderia te escolher se não viu sequer algum esforço da sua
parte? Era o filho de vocês, pelo amor. Você deveria ter estado com ela.
Vocês deviam estar curando um ao outro.
— Não é assim, Amy. Você não entende que se eu não tivesse deixado
ela lá, provavelmente estaria com meu filho nos braços?
Minha irmã fica uns segundos em silêncio, mas respira fundo.
— Não sabemos, Dean. As coisas acontecem sempre por uma razão, e
não somos nós que vamos prever o futuro.
— Que razão? Hã? — me levanto, inconformado. — A razão de ter
perdido um filho e a mulher que amava? O que isso me trouxe? Razão coisa
nenhuma, Amy! Isso é castigo.
— Não fale desse jeito, como se fosse o causador. Você não está
pensando certo. A Natasha deve estar sentindo a sua falta, Dean. Volta para
ela.
— Não — me movo pelo escritório, sem destino certo. — Não poderia.
Olhar para ela é doloroso. Vê-la do jeito que está.
— E você acha que está melhor? Olha essa sua cara no espelho! Você
está com cabelo quase nos ombros e essa barba de quem não conhece uma
lâmina! Poupe-me das suas desavenças, Dean. Volta para Nova York e faça o
certo, ou mesma terei que fazer algo porque não sou obrigada a ver meu
irmão sofrer.
— Então vamos ficar felizes por você não ter que me ver — dou um
sorriso por dentro. — Um beijo no Scott e no Dylan, tchau.
Desligo o celular e jogo sobre o sofá, então me arrasto novamente até a
cadeira, onde sento e, mais uma vez, sofro calado.

***

Acordo com barulho irritante e insistente. Prometi para mim mesmo na


noite anterior, quando fui dormir, que levantaria depois das cinco, mas parece
que o mundo não quer o mesmo.
Resmungo e me viro, olhando pela janela e vendo que o dia não está
bem claro, mas sim nublado. O barulho persiste e me sento, passando as
mãos no rosto e reclamando comigo mesmo o por que de não ter paz mesmo
em meio ao nada.
Levanto e sigo para a entrada, onde logo meu cérebro identifica ser a
porta. É nela que estão batendo.
— Já vai! — eu grito para que a pessoa tenha a decência de aguardar.
Não são cinco, mas talvez, no máximo, umas seis horas. Quem vem até a
casa de alguém essa hora? Possivelmente meus irmãos.
Suspiro e caminho rápido. Seguro a maçaneta enquanto giro a chave e
abro a porta.
Talvez eu também demore um pouco para identificar quem é, porque
estou em um lugar entre o sono e a realidade; porém, posso também estar
sonhando, por isso olho para mim e tento lembrar onde dormi.
— Oi — a voz me chama de volta. Parece mesmo um sonho. Uma
alucinação, no máximo. — Está chovendo aqui desse lado, será que posso
entrar?
— Hm — olho para fora, atrás dela, as nuvens cinzentas e pesadas. —
Chuva. Caindo do céu. Não vi.
— Porque está fraca, tem que sentir.
— Hm, é. Sentir — coço a barba e volto a atenção para Natasha. —
Sinto.
Ela balança a cabeça, então respira fundo.
— Você está bêbado?
Sorrio.
— Eu não bebo. Ao menos não é um pesadelo, certo?
— Acho que você está bêbado. Eu posso entrar? Estou com frio.
— Frio. Pode — assinto e dou espaço para ela passar, fechando a porta
em seguida.
Ela rapidamente se desfaz do casaco que está e começa a esfregar os
braços com as próprias mãos, parecendo mesmo com frio.
Cruzo os braços onde estou, observando a cena, até que ela me olha. Eu
não sei. Está diferente. Meu sono foi embora, mesmo que eu tenha certeza
que estou sonhando.
— Você está horrível com essa barba — faz uma careta. — Tem
homens que não combinam com barbas e você é um deles.
Gesticulo.
— Eu me esqueci de tirar.
— Você esqueceu há muito tempo, pelo visto.
— Sim — respondo simplesmente. — Eu não tenho me lembrado de
muita coisa ultimamente. Se for você, o que está fazendo aqui?
Ela suspira.
— Eu me fiz a mesma pergunta o caminho todo e ainda não achei uma
resposta.
— Hm. É. Estranho mesmo. É você?
— Sou eu, Dean. Você está morando muito, muito distante — ela olha
em volta. — Sabe, eu não… — olha para si mesma. — Não trouxe nenhuma
roupa além dessa porque, quando sua irmã apareceu lá no meu trabalho, eu
decidi que viria na hora. Se eu passasse em casa ou algo assim, não viria
mais. Então, bem, você tem alguma para me emprestar? Essa molhou.
— Minha irmã, hm — caminho e vou em direção ao meu quarto de
novo, ciente dos passos atrás de mim que me acompanham. — E então, você
já casou e tudo o mais?
— Não — ela tosse um pouco e, quando chegamos ao destino, caminho
até meu pequeno closet. — Não estava com cabeça para pensar em nada
disso, na verdade.
— Uhum — eu apenas levo no automático e pego um moletom cinza
que acredito que ficará perfeito nela.
Volto ao quarto e, bem, talvez eu tenha mais certeza ser um sonho
quando observo que Natasha está se desfazendo das roupas que está sem
qualquer constrangimento.
Me apoio na cômoda e observo a calça ir o chão, seguida da jaqueta e
logo depois a camisa branca. Ela murmura algo baixinho, então me olha.
— Então, achou algo?
— Achei — estendo a mão com a blusa e ela rapidamente caminha até
mim, pegando o agasalho. Talvez eu tenha me esquecido de algumas partes,
mas ela está bem mais magra e isso não me agrada nenhum pouco.
— O que você tem feito aqui no meio do nada, Dean? — questiona
enquanto a observo se vestir.
— Hm. Sei. Eu gosto de me sentar no escritório e pensar em como a
minha vida é uma droga. Também costumo emendar com o pensamento de
que eu não deveria ter nascido porque perdi o que mais de precioso apareceu
para mim.
— E isso seria…?
— Você.
Natasha suspira e cruza os braços, me olhando de baixo, parecendo
desprotegida. Mesmo sendo um sonho, preciso me segurar fortemente para
não abraçá-la.
— Sabe, eu não… — ela parece pensar um pouco. — Eu não acredito
que estou aqui, mas já que estou, preciso ser sincera.
— Então, por favor, seja.
— Não consigo mais — ergue as mãos. — Eu tenho tentado, Dean. Falo
muito sério. Mas não dá. Isso — gesticula para si — é muito difícil. Tem sido
doloroso cada dia. Droga, eu sei que foi uma merda a forma como
terminamos, mas, quer dizer, nem terminamos! Não foi? Não foi, Dean.
Apenas deixamos de nos falar, mas nossa ligação sempre foi constante. Me
diz que não estou falando besteira, por favor? Diz para mim que você
também sente tudo isso — aponta nós dois —, essa coisa louca que me faz
querer gritar porque — suas mãos vão à cabeça — eu não sei, Dean. Não
consigo entender nada disso. Tudo o que sei é que meu coração chora e
chama por você.
Natasha começa a chorar.
— E eu não sei… — soluça. — De verdade, não sei o que fazer. Mas, a
única coisa que me ocorreu e que eu sei que é real, é que você é a única
solução. Você é a resposta. Por isso estou aqui, no meio da semana, como
uma louca, abandonando meu trabalho para dizer que te perdoar não é
suficiente — ela se aproxima de mim, tão perto que, se eu estender a mão,
consigo tocá-la.
— Nunca seria o suficiente. Porque eu preciso de você — emenda. —
Eu quero você. Eu te perdoo, mas também te quero comigo. Então, por favor,
vamos deixar o passado em seu lugar e voltar a nos pertencer porque tudo
que eu quero está bem na minha frente. Aqui. É você. Por favor...
Eu mal consigo respirar, mas, sendo sonho ou não, nada poderia me
deixar tão inexplicavelmente emocionado e feliz; então, apenas puxo Natasha
para mim e preencho seus lábios com os meus, trêmulo demais para falar.
Não preciso acordar.
Capítulo 42

Alívio. Não, além. Emoção e tudo o mais. Ter Dean me envolvendo e


acolhendo em seus braços é a melhor sensação que já me lembro de ter
experimentado nos últimos dias. É exatamente o que eu precisava.
Ele desvia a boca da minha, só para me puxar mais firmemente contra si
e me abraçar mais fortemente, de forma que inspiro seu cheiro bom e de que
tanto senti falta.
Ele está horrível, mas continua o mesmo.
— Venha cá — me chama e me guia até a cama de casal do seu quarto,
onde deita e logo me incentiva a fazer o mesmo. Encolho-me nele, fechando
os olhos e deixando-o nos cobrir com o edredom enquanto tudo se resume a
nós, apesar do barulho da chuva.
Ficamos em silêncio, apenas agarrados um ao outro por longos minutos.
Dean veio para o meio do nada praticamente. Eu não teria encontrado o
lugar se a irmã dele não tivesse me dado o endereço. Ela é mais louca do que
ele, isso eu notei. O que importa mesmo é que, bem, ela ter aparecido no meu
trabalho chorando muito e dizendo que não poderia se emocionar tanto por
estar grávida, quase que me obrigou a dizer "sim". A vir encontrar o Dean.
Mas não me arrependo.
— Onde está seu namorado? — ele questiona quando estou quase
dormindo.
— Na casa dele, eu acho. E não estamos mais namorando — suspiro. —
Peter disse que eu não sou feliz com ele, então achou melhor terminar. Ainda
somos amigos, mas acho que nunca passamos disso…
Difícil admitir, mas é verdade.
— Entendo — Dean acaricia meu braço com as pontas dos dedos. —
Você se apaixonou por ele?
— Não — nego, de imediato. — Não.
— Por que você chamou o nome dele no hospital? Foi o primeiro que
você falou quando despertou, sabia?
Foi?
Abro os olhos, então foco um ponto qualquer.
— Quando começamos a namorar, você e eu, o Peter me convidou com
ele pra um show e, logo depois que discutimos, ele também esteve comigo.
Não sei, minha mente embolou. Eu ouvia sua voz o tempo inteiro no hospital
— levanto a cabeça e só consigo ver a barba enorme dele. — Mas, na minha
cabeça, o Peter estava tentando me tirar de perto de você. Era a sua voz
constante, mas eu o via, me chamando insistente. Eu queria ir para você, mas,
de alguma forma, ele me impedia. Você entende o que estou dizendo?
Dean me olha, os olhos claros brilhantes.
— Acho que sim. O seu pai me expulsou do quarto por pedido seu.
— Não — balanço a cabeça. — Eu não pedi, mas ele prefere o Peter,
isso não nego.
— E quem você prefere?
— Não está óbvio?
Dean sorri.
— Vai, me belisca — pede.
— O quê?
— É sério, para eu ter certeza de que não estou sonhando.
Abro um sorriso instantâneo, inevitavelmente.
— Você não está sonhando.
— Bem, você tem que me beliscar para eu ter certeza.
— Na-não. Não vou beliscar você — me recuso.
Dean levanta um dos cantos da boca, em um sorriso de canto, então dou
um grito de surpresa quando ele rapidamente senta e me empurra contra a
cama, me atacando com cócegas.
Começo a rir e me retorcer, gritando para ele parar; mas, ele só para
quando estou quase sem fôlego, então ouço sua risada e me esforço para
olhá-lo.
— É verdade. Não é um sonho. Esse seu grito teria feito qualquer um
despertar.
Me contorço, rindo.
— Parece uma cabrita dando à luz — ele emenda e eu gargalho.
— Você já ouviu uma cabrita?
— Já, várias vezes — ele apoia os braços ao lado da minha cabeça e seu
rosto paira acima do meu. — Mas você é linda.
Suspiro, sorrindo embaixo dele.
— Senti a sua falta.
— Eu também, meu amor — ele beija meu queixo, minha bochecha, a
pontinha do meu nariz e finaliza com os lábios sobre os meus, sussurrando
contra eles: — Eu também.
Capítulo 43

Não é um sonho, mas é completamente parecido. Natasha está sob mim,


me beijando tão carinhosamente enquanto suas mãos percorrem minhas
costas, que eu poderia chorar de felicidade. É tão... Surreal.
É impossível, completamente impossível que nós tenhamos passado
tanto tempo longe e eu mantenha minha sanidade e esconda o meu desespero
por ela. A saudade. Meu corpo inteiro ferve.
Afasto nossas bocas, só para observá-la um pouco.
Natasha foi sempre maravilhosa e intensa, e acho que foi exatamente
isso que me instigou nela. Ela é única em saber mexer comigo. Única em
cada traço e em cada coisa que faz. Ela me encanta.
— Senti muita sua falta — admito. — Você nunca vai saber o quanto.
Tudo em mim doeu e sangrou.
— Sei exatamente, porque eu senti também — alisa meu rosto e minha
barba, fazendo uma careta. — Acho que você precisa tirar isso aqui.
— Você não gostou?
— Não, está muito grande e prefiro o meu gatão de rostinho lisinho.
Sorrio e caio para o lado, puxando-a comigo.
— Prefere?
— Uhum, aí eu posso te beijar e você sentir meus lábios na pele. Com
essa pelarada, não tem como.
— Tem, se você beijar bastante.
— Muitos beijinhos? — ela sorri para mim e eu pego um tempo para
admirá-la, bebendo sua imagem e me embalsamando com seu calor contra
mim.
— Me diz o que você está sentindo — eu peço. — Nesse momento.
— Eu sinto… Tudo — me dá um selinho e morde minha bochecha. —
Sinto você, eu, nós... É bom estar aqui de novo com você.
— Me perdoa, amor, pela forma que tratei você naquele dia — hesito,
engolindo em seco. — A minha culpa nunca poderia doer tanto.
— Nós não sabíamos que eu estava grávida, Dean. Não foi culpa sua,
nem minha — agarra minha mão e leva ao peito, onde sinto seu coração bater
fortemente. — Você ainda causa o mesmo efeito em mim e eu estou perfeita.
Podemos fazer outro bebê. Um irmãozinho para o David, o que você acha?
É algo tão repentino e maravilhoso de se ouvir, que eu apenas puxo-a
novamente para mim e escondo meu rosto em seu pescoço, chorando de
forma silenciosa. Natasha coloca a mão nas minhas costas e me acaricia,
enquanto me sinto esmiuçado e ao mesmo tempo muito feliz.
— Nós vamos dar vários irmãozinhos a ele — soluço.
Ela dá um risinho.
— Vários… um monte de outros garotinhos.
— Garotinhas — aperto-a contra mim, decidido do que quero. Do que
não posso esperar para ter. Não mais. Levanto o rosto, mantendo-nos juntos.
— Vamos nos casar — eu peço. — Não quero namorar você um dia ou
dois anos, mas por tempo ilimitado. Se sou eu o dono do seu coração, me dê
isso, amor. Seja minha. Minha esposa e eu vou te amar — agarro suas mãos e
trago aos lábios. — Vou te amar por cada dia da minha vida e cada pedaço do
meu ser.
— Dean… — ela abre a boca, parece perplexa. — Você não…
— Não é o mesmo que você quer? Você veio até aqui, Natasha. Nós
somos um do outro, como você mesma disse. Nos pertencemos. Pra que
perder tempo? — seguro seu rosto, acariciando. — Eu te amo e você sabe
disso. Quero te mostrar isso todos os dias. Vamos fazer nossos dias valerem a
pena, amor. Me dê a honra de ser seu esposo e te amar até nosso último
fôlego. Você quer se casar comigo?
Ela soluça, então senta, balançando a cabeça freneticamente.
— Sim — engasga. — Eu quero. Quero muito.
Recebo um abraço que me faz cair de volta na cama, então fecho os
olhos e respiro fundo, inspirando fundo o cheiro dela, que me acalma de
maneira indescritível.
A minha Natasha. Minha noiva. Futura esposa.
— Eu amo você — ela me beija o rosto inteiro. — Amo muito.
Eu sorrio, inenarravelmente feliz.
Incomparável.
Natasha dormiu por um tempo depois de me abraçar por longos minutos.
Foi muito gostosa a reação dela ao meu pedido. E nem acredito que ela disse
sim. Ela aceitou. Vamos nos casar.
Estou sorrindo feito um bobo enquanto ajeito os botões da minha camisa
em frente ao espelho. Eu vou levá-la para jantar em um lugar próximo e que
tem de fato uma civilização.
A minha noiva linda.
— Dean?
Eu me viro rapidamente e a vejo me observando de bruços, ela
imediatamente levantando a cabeça, de olhos bem abertos. O riso que sai de
sua boca é a coisa mais linda que já ouvi nos últimos tempos.
Natasha levanta de forma enérgica e corre até mim, tocando meu rosto.
— Você voltou!
— Hm, sempre estive aqui, mesmo perdido em meio aos pelos.
Ela ri.
— Amo você com ou sem eles, mas prefiro assim, que te deixa delicioso
para exibir por aí — pisca para mim. — O que fez com seu cabelo?
Passo a mão, bagunçando os fios curtos que me desacostumei.
— Minha mãe ensinou meu irmão e eu a cortarmos nossos próprios
cabelos quando éramos mais novos.
— Tenho que conhecer sua mãe e agradecer por ela ter te colocado no
mundo — envolve meu pescoço com os braços, depositando um beijo no meu
queixo. — No meu mundo.
— Hm, você já conhece meu pai.
— Conheço. Muito inteiro.
Finjo perplexidade, arrancando mais uma risada dela.
— Ele é um homem inteiro para ser pai de três adultos. Aliás, sua irmã é
um amor. Ela podia ser atriz. Adorei o drama dela.
Sorrio.
— Nós conversamos sobre isso outra hora. Eu quero te levar para jantar
agora. Tem um lugar ótimo aqui perto — passo meus braços ao redor de sua
cintura, puxando-a para mim e colando nossos corpos. — Vamos?
— Aqui perto ou lá onde ainda tem gente? Mas, não importa, com você
eu vou até para o fim do mundo.
— Que romântica…
Ela ri.
— Não acostuma.
— Vou acostumar — viro-a de repente, Natasha soltando um gritinho
surpreso. — Agora, vai lá colocar sua roupa que coloquei no banheiro.
— Preferia ficar abraçada com você.
— Nós ficaremos, mais tarde. Vai logo porque não estou suportando
saber que você está tão desprotegida só com essa blusa grande.
Ela ri e corre para o banheiro, me fazendo ficar parando e sorrindo como
um idiota. Um tremendo e completo idiota.
Talvez nem tão idiota, mas com certeza muito, muito apaixonado.

***

Está anoitecendo, mas parece já bem mais tarde por conta do tempo
nublado. Natasha está toda sorrisos enquanto me compara com todos os
personagens que conhece e nós subimos a rua para ir até o restaurante.
— Mogli não, porque seus cabelos são claros. Tarzan — ela balança a
cabeça. — Com certeza pareceu o Tarzan. Aquele cara… O Thor. Tem
também aquele outro… O Hércules.
Sorrio, acariciando sua mão com o polegar já que nossos dedos estão
entrelaçados.
— Acabou?
— Deixa eu pensar… Tem algum outro?
— Não sei.
— Hm, deve não ter. Mas você é mais lindo que todos eles. Achei muito
masculino, te deixou selvagem — ela me olha, com um sorrisinho.
— E por que quis que eu tirasse?
— Porque gosto de você original — aperta minha mão e suspira. —
Estou com saudades.
Engulo em seco, ansioso e imediatamente desesperado. Eu também.
Mais do que posso explicar.
Puxo-a para meu lado, envolvendo seus ombros com o braço, então
beijo sua têmpora.
— Nós vamos matar a saudade — sussurro, bem no momento que
chegamos ao restaurante ao ar livre. É romântico, agradável, cálido e
tranquilo… Tudo que nós precisamos. Tem algumas poucas pessoas. Três
casais mais velhos, um mais jovem e um casal de adolescentes, que parecem
um pouco nervosos em como reagir.
Natasha e eu escolhemos uma mesa mais perto do espaço que um
tecladista está tocando. Ele sorri para nós enquanto toca algo bem suave. É
perfeito aparentemente.
Olho ao redor, todos parecem tranquilos e felizes, exceto os
adolescentes, que estão nitidamente rijos.
Sorrio para Natasha que também está olhando para eles, que estão um
pouco perto de nós.
— Acho que eles não têm intimidade um com o outro — comento.
Ela me olha e sorri.
— Acho uma gracinha. Vou quase pedir uma foto.
Dou risada.
— Deixa eles namorarem.
— Eles não estão namorando, estão envergonhados. Você acha que eu
devo ir até lá e dizer que depois do beijo fica tudo mais leve? — ela parece
pensativa.
— Não fica sempre.
— Se eles são apaixonados, fica sim.
— Você teria coragem?
— Por que não?
— Porque você vai ser intrometida.
— Se eu não tivesse sido com você, não estaríamos aqui — ela sorri
convencida. — Apoia?
— Se eles continuarem, você vai — dou risada. — Maluca.
— Sou — olha para o lado do tecladista. — Será que ele toca Mozart?
Meu riso é mais alto.
— Aposto que você quer perguntar.
— Eu perguntaria — ela assente. — Mas prefiro comer. Estou com
fome.
— Eu também — levanto a mão para o garçom da outra mesa e ele faz
um gesto com a cabeça, dando a entender que logo vem.
— Por que a Carolina do Norte, Dean? Por que tão longe? — Natasha
me chama de volta.
— Porque a distância, às vezes, é a melhor opção para apagar a dor.
Mas, não adiantou nada, eu só piorei.
— Por que você não foi atrás de mim?
— Você estava namorando — balanço a cabeça ante o pensamento
doloroso. — Queria que você fosse feliz. Achei que o Peter ia fazer isso por
você.
— Ninguém é capaz de me fazer sentir o que sinto quando estou com
você, Dean. Você é a minha felicidade — ela sorri de leve. — Ele sabia
disso. Todo mundo sabe disso.
— Eu te amo — repito, incapaz de dizer qualquer outra coisa.
— Eu sei — ela vira a cabeça e olha o casal engraçado, que agora estão
tentando conversar, mas o garoto parece muito quieto. — Ele devia ter mais
atitude.
— Ele deve ter uns dezesseis anos, coitado. Dá um desconto.
— Dessa idade aposto que você já era o garanhão — ela estreita os
olhos para mim, obviamente esperando que eu discorde.
— Era mesmo, fazer o quê.
— Safado — resmunga e olha o tecladista.
Dou risada e o garçom se aproxima, nos oferecendo o prato especial da
casa. Salmão defumado com legumes. Natasha concorda e aceitamos. Ele sai
rapidamente para buscar e nós dois nos encaramos.
— Vai levar tempo para matar a saudade — admito.
Ela dá uma risadinha graciosa.
— Nem me fale. Aliás, eu fui promovida. Agora eu sou a designer
principal, sabe? Eu comando a equipe de arte.
— Você é brilhante e eu te admiro muito.
— Obrigada — coloca o cabelo atrás da orelha. — E o Palace?
— A suíte exclusiva está fechada há um tempo. Depois que fizemos
amor nela, eu não permiti que entrasse ninguém.
Natasha arregala os olhos e engole em seco, então pigarreia.
— Está falando sério?
— Sim — afirmo. — Não tinha como. Só me vem a gente naquele
quarto, naquela cama… é um lugar nosso. Eu construo outro quarto, se for
preciso, mas lá ninguém entra se não a gente.
Eu acompanho o exato momento em que seus olhos enchem de lágrimas
e logo começam a transbordar, ela agarrando um guardanapo para, em vão,
secar.
— Você é tão… Maravilhoso.
Sorrio, cheio de saudades.
O garçom aparece novamente, já com a bandeja e então nossos pedidos
são colocados na mesa, o cheiro maravilhoso enchendo os ares.
Natasha não me espera, começa a comer entre soluços, me tirando um
riso. Ela me olha e mastiga, tentando sorrir em meio às lágrimas, não sabendo
bem o que escolher.
— Respire — eu peço.
Ela seca o rosto, então bebe água, chorando mais alto, fazendo o líquido
espirrar pelos cantos da boca. Me levanto por impulso, me abaixando ao seu
lado, puxando-a para um abraço em que ela soluça e chora alto contra mim.
— Fique calma, agora eu estou com você de novo — sussurro contra
seus cabelos. — Estamos juntos mais uma vez. Nunca devia ter sido
diferente.
— Eu preciso de você. Preciso muito.
— Tudo bem, estamos juntos. Precisamos um do outro — aperto-a um
pouco.
— Não, Dean — ela se afasta. — Preciso agora. Agora.
Levo as mãos ao seu rosto e arrasto os dedos por onde uma lágrima
desce, então sorrio.
— Tudo bem, vamos — me levanto, então pego a carteira e deixo o
dinheiro em cima da mesa, Natasha levantando também rapidamente para
sairmos.
Desespero.
Quando passamos pela mesa do casal adolescente, os vemos de mãos
dadas e isso só faz com que ela chore mais alto.
Nos conduzo para voltarmos até o carro no fim da rua, mas de repente
ela me puxa para um beco escuro entre dois prédios altos. Os soluços são
tantos que ela mal consegue falar.
— Eu não aguento mais esperar — praticamente suplica.
E eu entendo.
Capítulo 44

Eu não posso ver, mas tenho certeza que os olhos claros do Dean estão
pegando fogo tanto quanto estou. Ele preenche minha boca de repente com
um beijo quente, avassalador e desesperado enquanto me empurra contra a
parede com seu corpanzil. Não tem nada de delicado em seus movimentos
agora porque eu posso sentir.
Ofego quando suas mãos descem e empurram minha jaqueta pelos
ombros, Dean engolindo meus lábios e enfiando sua língua em minha boca.
Já estou em brasas quando de repente ele me vira contra a parede e cola o
corpo ao meu, grunhindo contra meu ouvido e mordendo minha orelha.
Me agito inteira, me encostando ao máximo contra ele, querendo que ele
nos mostre novamente como somos bons juntos. Que nos lembre.
Grito quando sou surpreendida com um tapa na bunda, olhando
automaticamente para o lado para ver se alguém entra no beco. Estamos
pouco afastados do restaurante e o lugar é todo silencioso, mas nunca se sabe.
Porém, eu não posso esperar. Estou desesperada. Foram quase dois anos.
— Dean, por favor… — tento olhar para trás e manter a respiração, mas
logo sinto suas mãos em minha calça desfazendo o botão e o zíper, e, sem
cerimônia, ele puxa tudo para baixo.
Estou quase tremendo de desespero, principalmente quando ele enche as
palmas da mão e me dá uma mordida na bunda, gemendo.
— Você gosta que eu seja selvagem com você, Natasha? — A voz dele
está gravíssima, me deixando louca.
— Gosto! — grito, nem ligando mais se estamos no meio da rua. Se
aparecer alguém, vai ver duas sombras trocando carícias e que se dane se
pensar outra coisa.
— Hmmm — Dean me dá outro tapa, me fazendo arquear toda trêmula
contra a parede. — Você deve estar uma delícia.
Apoio a cabeça contra o antebraço apoiado na parede. Estou ofegante e
quente. Em brasas.
Prendo a respiração quando sinto seus dedos apertarem o interior das
minhas coxas e logo depois chegarem ao meu sexo, onde ele não perde tempo
e logo aprofunda um dedo dentro de mim, rosnando.
— Você está ensopada, meu Deus.
Eu engasgo quando ele faz um movimento forte, começando um vaivém
que vai me relaxando aos poucos, até eu precisar de muito mais.
Me remexo, não sendo o suficiente.
— Você quer o que, hm? — ele me abre com a mão livre. — Quer o
meu pau enterrado nessa bocetinha encharcada, amor? Bem fundo e forte
para você gozar sem parar?
Fecho os olhos, tentando controlar a respiração e os gemidos.
— Quer Natasha? — outro tapa, me fazendo contrair contra seus
movimentos. — Responde pra mim.
— Quero!
— Hmmm — eu o sinto levantar, mantendo seu dedo em movimentos
suaves e mais calmos, me fazendo tremer toda. — Você está bem gulosinha,
amor. Desesperada pelo meu pau.
— Sim — minha voz é um fio. — Eu quero.
Ele dá um gemido longo e delicioso, se afastando por uns segundos e,
quando volta, já é me empurrando contra a parede de novo e eu o sinto se
colocar quase dentro de mim. Mas Dean muda de ideia e vira minha cabeça,
enfiando sua língua em minha boca e grunhindo, então sim me penetra com
força, de uma vez, me alargando inteira para o seu tamanho fenomenal.
Saudades!
Nós ficamos uns segundos sem respirar, eu o sentindo tremer, então ele
se puxa para fora com um gemido esganiçado.
— Meu Deus! — seguro firmemente na parede, já me preparando,
principalmente quando suas mãos voam para minha cintura e Dean aperta.
— Eu só vou parar quando você gozar no meu pau — ele avisa, a voz
rouca. — Então eu vou te comer de novo e de novo.
Mordo a mão, para não gritar loucamente quando ele começa a investir
contra mim, seus gemidos masculinos me atingindo em cheio e me fazendo
empinar mais ainda, quase ficando na ponta dos pés. Eu estou louca.
— Podem ver a gente, amor — ele mais geme do que fala.
— Eu não ligo!
Dean me aperta mais e me penetra mais fundo, começando uma
velocidade mais rápida e precisa, quase me fazendo perder o ar. Mas ainda
não é fundo o suficiente.
— Eu quero mais! — grito, quase babando de gemer.
Ele rapidamente passa a mão direita para frente e encontra meu clitóris,
acariciando com seus dedos mágicos e, sem me segurar, eu derreto e
estremeço, me desmanchando bem onde estou, Dean ficando imóvel de
repente atrás de mim e soltando uns sons deliciosos.
Meu corpo inteiro estremece e eu me sinto trêmula, mas não foi o
suficiente. Não, não foi.
Ele também parece entender, porque logo se afasta de novo e o sinto sair
de dentro de mim. Minha calça é puxada para o lugar e ele me vira para si,
atacando minha boca com um beijo faminto.
— Vamos para o carro. Eu quero te ter lá — ele morde meu lábio e
fecha a própria calça.
Estou um pouco desnorteada, então somente o deixo segurar minha mão
e me guiar pelo caminho.
— Minha jaqueta — lembro.
— Eu compro outra para você — ele mal está falando e estamos
praticamente correndo
Quando chegamos ao carro, Dean abre a porta e eu entro, ele logo
depois.
Estou ofegante e ele também quando volta a fechá-la e abrir a calça de
novo, seu membro me fazendo salivar quando se ergue até o abdômen.
Ele me olha, eu conseguindo ver seu rosto perfeito em um estado de
quem vai me devorar.
Dean leva uma mão para o lado e inclina o banco para trás, se colocando
ao meu dispor inteirinho.
— Vem cá, monta em mim — troveja.
Engulo em seco, então abro a calça de novo e tiro rapidamente, puxando
a blusa e abrindo o sutiã.
Ele ofega e vejo seu membro balançar sozinho, me deixando engasgada.
— Isso é difícil, eu quero te ter de todo jeito, mas estou me controlando
— seu peito sobe e desce. — Vem logo, amor.
Não penso duas vezes e subo em seu colo, ele gemendo sofregamente.
— Eu vou te chupar todinha, mas na cama — ele se ajeita e agarra o
pau, erguendo para mim. — Todo seu, só não pode machucar — dá um
sorrisinho.
Tenho vontade de chorar, mas apenas respiro fundo e apoio uma mão no
seu abdômen e a outra me abro para ele, que geme em aprovação.
Nós nos conectamos em um segundo, Dean me sentando nele e me
incentivando a me movimentar. Eu começo a subir e descer, aliviada pela
sensação de preenchimento. É muito bom e senti muita falta.
— Isso… — ele aperta minhas coxas e volta a deitar, parecendo sem
forças. — Droga, isso é muito bom. Rebola, amor.
Eu o observo de cima, ficando mais agitada por vê-lo me encarar de
volta, delicioso, masculino e me desejando.
— Você está encharcando meu pau — ele aperta os olhos e volta a
apertar minha cintura, enquanto o mantenho bem fundo e remexo em cima
dele. — Eu vou gozar.
Estremeço e rebolo mais forte, então Dean me aperta e começa a me
acompanhar, enfiando com tudo dentro de mim, me fazendo gritar que nem
uma louca por senti-lo tão delicioso de fundo.
Sinto também os jatos que começam e ele grita junto, um grito grave e
masculino, que deve ultrapassar os vidros, com certeza.
Dean me segura bem firme em cima dele, enquanto treme todo o corpo e
fica imóvel, mal respirando.
Me inclino e ele geme, então beijo sua boca, acalmando-o. Tentando.
Nós nos beijamos, ele parecendo meio instável, então correndo as pontas
dos dedos por minhas costas. Gememos na boca um do outro durante o beijo,
nos acariciando e acalmando de uma forma impossível. Eu quero mais.
— Eu amo você — ele sussurra, ofegando. — Amo demais.
— E eu te amo quando você nem sabia o que era amor — sorrio e deito
a cabeça em seu pescoço, ainda o sentindo latejar dentro de mim.
É indescritível. A sensação e tudo isso.
— Esse é o melhor dia da minha vida — ele declara, enterrando os
dedos por entre meus cabelos. — E você também.
Sorrio, completamente apaixonada.
— Acho que nós acabamos de formar o irmão do David — eu falo e
começamos a rir.
Dean me empurra para sentar de volta e então ofega enquanto me ajuda
a erguer para sair de dentro de mim.
— Eu não estou satisfeito. Vamos para minha cama — ele ofega, mas
não quero me afastar dele, então somente volto a sentar no banco e,
aproveitando quando ele ajeita o próprio assento, abaixo a cabeça e agarro
seu membro, trazendo à boca.
Dean estremece, soltando um murmúrio, agarrando meus cabelos e
apertando um pouco.
— Você quer me matar, amor? — geme, enquanto eu mesma perco a
razão. — Vai fazer isso mesmo?
— Vou — solto um gemido longo pelos nossos gostos misturados,
suspirando quando sinto o carro entrar em movimento.
Dean está duríssimo de novo e grosso. Preciso segurá-lo com as duas
mãos, ficando pirada com a saudade e o calor dele. Eu devia ter feito isso
antes. É delicioso.
Ele nos conduz de volta para sua casa, uma mão no meu cabelo e outra
no volante.
Brinco com ele, colocando na boca tanto quanto posso, ouvindo seus
grunhidos quentes e masculinos, tão graves e estrondosos, me dizendo o
quanto gosta do que estou fazendo. É de enlouquecer.
Agarro suas coxas e aperto por cima da calça, ele ofegando e
pressionando mais a mão em meu cabelo. Aliso-o com minhas mãos e deixo
só a pontinha do seu membro grosso dentro da minha boca, circulando a
glande com a língua e logo depois chupando. Dean treme um pouco e eu
sorrio, porque é realmente bom e ao mesmo tempo quente o que estou
fazendo.
— Natasha — ele está com a voz sôfrega e eu aproveito para lambê-lo
de cima a baixo. — Vou te comer a noite toda.
Me remexo sobre o assento, ansiosa.
Passo a língua pelas veias grossas e em evidência. Ele está muito duro
mesmo e isso me deixa louca. Estou praticamente babando por todos os
lados, de tanto que ele é grande e grosso.
Junto as pernas uma na outra, atrás de alguma fricção para o
formigamento em meu corpo, mas ainda preciso esperar mais de dez minutos
até Dean estacionar. Sua outra mão também avança para meu cabelo e ele
puxa um pouco, me fazendo levantar a cabeça com a boca aberta.
— Gostosa — grunhe e recebo um beijo quente e delicioso, me
deixando só a larva sobre o banco. Dean só separa a boca da minha quando
estamos ofegantes e sem fôlego, então me olha e geme. — Vamos, eu não
aguento mais esperar — confessa. Isso é bom, porque eu também não e logo
estamos deixando o veículo.
Não me importo de estar só com a blusa, porque estamos no meio do
nada.
Ele anda na frente com seu corpo escultural e destranca a porta, olhando
para trás e me observando chegar perto, enquanto demoro de propósito, só
para nos deixar mais desesperados. Dean está completamente quente vestido
com essa camisa branca e o jeans preto. Uma delícia coberta, sem dúvidas.
Ainda mais tendo feito a barba e ajeitado o cabelo. Eu estou pirada.
Me assusto porque, assim que passo a porta, sou erguida do chão e ele
nos leva ao quarto. Eu poderia rir do seu desespero, mas estou do mesmo
jeito.
Dean me coloca na cama, de barriga contra o colchão, então
imediatamente me puxa para a beirada, abrindo minhas pernas e soltando um
rosnado todo masculino. Estou em brasas.
Viro a cabeça para tentar vê-lo, e ele está se despindo.
— Você tem noção do quanto está deliciosa aberta assim pra mim?
Me remexo, respondendo com meu próprio corpo, um calor inominável
se instalando dentro de mim.
— Eu já estou pronto para você de novo — me informa, mas ele não
precisaria falar, porque eu já sei. Ele é a potência em pessoa.
— Senti sua falta — admito, rouca. — E do seu corpo.
— Eu também, amor. Eu também — ele geme e recebo um tapa na
bunda, me fazendo gritar de surpresa. Ele não perde tempo e me abre com as
mãos, seu membro se aprofundando pouco a pouco para dentro de mim. —
Você está com muito fogo hoje.
Reviro os olhos e mordo o lençol.
— Pode gritar — ele mais geme do que fala, só aumentando meu calor.
— Não tem ninguém aqui. Somos só nós. Nós e nosso amor.
Então eu grito, não sabendo bem se pelo prazer incomensurável de tê-lo
entrando e saindo de dentro de mim, ou por suas palavras. Mas, apenas me
deixo ir. Meu corpo leve e mole, totalmente para ele. Porque eu o amo, e sou
inteiramente do Dean. Nunca poderia ter mais certeza disso.
— Estou louco — ele grunhe. — Te ver assim, toda para mim, depois de
tanto tempo — suas mãos vão para minha cintura e ele me ergue para cima,
eu ficando de… — Assim. De quatro para mim.
— Minha nossa! — agarro mais firmemente o lençol com as duas mãos.
— Com força!
— Forte? — Dean grunhe, arremetendo com uma força animalesca para
dentro de mim. Sinto-o tão fundo que sou quase incapaz de respirar.
— Céus, sim! — fecho os olhos, perdendo totalmente o controle do meu
próprio corpo quando uma mão sua vem ao meu ombro e a outra persiste na
minha cintura, ele me puxando em sua direção.
Nós estamos loucos. De amor, de saudade, de paixão… Tudo arde e
queima dentro de nós. Depois de tanto tempo, é o nosso reencontro e o nosso
momento. Nós nos queremos e não há dúvida sobre isso.
— Eu vou gozar! — berro, sentindo a baba escorrer por minha boca.
Poderia ser vergonhoso, se não fosse tão bom.
— Goza, Natasha — ele ordena e choramingo quando Dean me penetra
com tanta força que minha cara desaba contra o colchão.
É alucinante.
Mal sinto meu próprio corpo quando ele continua as investidas, meu
grito de pause não sendo o suficiente. Dean sai rapidamente de dentro de
mim e me vira para cima, abrindo novamente minhas pernas com as suas e
suas mãos indo uma a cada lado da minha cabeça.
— Você está bem? — ele questiona avaliativo, porém seu olhar me diz
que sabe que estou, mas apenas quer uma confirmação porque não vai parar.
Balanço a cabeça afirmativamente tanto quanto posso.
— Ótimo — ruge, se aprofundando em mim novamente. — Eu ainda
não acabei.
— Certo — mais suspiro do que falo, então Dean sorri e inclina a
cabeça, me dando um beijo todo apaixonado e romântico, totalmente lento;
muito contrário à velocidade anterior.
Suspiro mais ainda, leve e apaixonada enquanto levo as mãos às suas
costas e acaricio até seu pescoço, meus dedos logo chegando aos cabelos
lisinhos.
— Eu te amo — ele sussurra e mordisca meu lábio inferior.
Sorrio, mas logo prendo a respiração quando ele se ergue novamente
para ficar de pé e me puxa mais ainda para a beira do colchão, colocando
minhas pernas uma em cada ombro e recomeçando o vaivém enlouquecedor.
É totalmente louco mesmo porque a força vai sendo gradativa e logo
estou gemendo muito alto, mal conseguindo respirar.
Dean ruge de repente.
— Tira a blusa — pede.
Eu tiro rapidamente, tanto quanto posso.
Ele estreita os olhos e começa a falar um monte de coisas que deveriam
parecer indecentes — e são —, mas só me deixam em brasas maiores.
Levo os dedos à boca e chupo, tamanha a pressão que é ter ele dentro de
mim, tão dentro, que parece que somos uma só pessoa.
— Chupa como se tivesse chupando meu pau — ele pede, todo grande e
delicioso, suculento, lindo e meu.
Obedeço, chupando os dedos lentamente.
Dean estreita os olhos e começa uma penetração tão forte que eu me
engasgo, tossindo; mas isso não o faz parar, muito pelo contrário. Ele separa
meus joelhos e sinto-o inchar dentro de mim.
— Eu vou te preencher toda, Natasha. Até a última gota. Tudo é pra
você — ele anuncia e eu me remexo, adorando o fato de que ele me olha nos
olhos ao falar. — Tudo vai ser sempre por você, amor.
Começo a tremer e chorar quando o sinto se derramar dentro de mim,
parecendo fazer um esforço sobre-humano para não fechar os olhos durante a
ação.
Estou muito emocionada para acompanhá-lo, então somente o abraço
quando ele desmonta sobre mim, sem forças.
E talvez estejamos os dois chorando.
Capítulo 45

— Você precisa parar de chorar um pouco — Dean salienta.


— Eu não consigo — soluço, gesticulando. — Você está com uma
playlist profundamente sofredora e romântica, amor. Não tem como eu sorrir.
Só sei chorar.
— Então eu vou tirar — ele sorri e leva a mão em direção ao som do
carro, mas eu dou um tapa, para ele deixar na música.
— Me deixa chorar de amor. Eu gosto.
Ele ri, uma risada deliciosa e que me deixa mais desesperada. Saudade é
pouco. Não tem nem nome. Eu quero me agarrar a ele não soltar nunca mais.
— Vai, me deixa botar uma eletrônica.
— Não — choro mais alto.
Dean balança a cabeça e sorri. E é assim que é feito todo o percurso até
Nova York. Desde um aeroporto até o outro. É muita sobrecarga. Nós
tínhamos que vir. Ele quer dar a notícia aos pais. Que vamos nos casar. Isso é
tão fantástico que nem mesmo a cara de leão que meu pai provavelmente
fará, está me assustando. Tudo só vai fluir, porque agora nós estamos um
com o outro e isso é perfeito.
— Você sabe que minha irmã vai dar uns berros histéricos e te agarrar,
não é? — ele pergunta enquanto caminhamos pelo caminho de pedras que dá
acesso à casa dos pais dele.
Eu sorrio.
— É melhor que me bater. Por que seus pais moram numa casa tão
grande?
— É nossa casa desde sempre. Eles têm boas lembranças daqui. Era a
casa desde solteiro do meu pai.
— É mesmo? — eu o olho e o pego olhando nossas mãos juntas. Meu
sorriso alonga. — E você também gosta daqui?
Dean acaricia minha mão com o polegar e me olha, sorrindo.
— Gosto.
Balanço a cabeça, me sentindo uma boba por querer chorar mais, então
apenas deixo que ele nos conduza até a entrada, onde subimos as escadinhas
que levam à varanda.
Não é preciso mais que três toques na campainha. Dá para sentir a
tensão do Dean, enquanto ele respira fundo e morde o lábio.
A porta é aberta e o pai dele aparece. Somente com um short e um
avental branco. Poderia ser constrangedor, mas ele realmente parece
imediatamente imerso em um momento de inércia e descrença.
Pai e filho se encaram, e por um momento, eu não existo. Apenas fico
quieta, observando a cena.
— Dean? — uma voz ao fundo e logo uma mulher aparece.
Ela tem cabelos longos e brilhantes, totalmente pretos. Olhos tão claros
que eu me sinto desconfortável. A cópia da Amy. Imediatamente, eu sei. A
mãe dele.
— Oi — ele responde e acena, um pouco sem graça.
Ela sorri e começa a chorar, então ultrapassa o marido e abraça Dean,
com tanta força que eu me encolho. Isso deve ter doído um pouco.
— Oh, meu Deus! É você mesmo, filho? Eu não acredito! — fala, com a
voz trêmula. — Você está aqui! Não acredito!
Eu sorrio pela cena, então olho para frente e vejo o pai dele me olhando,
com uma expressão que não identifico.
Tento sorrir sincera, mas ele somente volta a olhar a esposa e o filho.
— Está bem, mãe — Dean ri um pouco. — Já pode me soltar.
— Querido, é você? — ela se afasta e agarra o rosto dele com as mãos, o
olhando maravilhada. — Você está tão lindo.
— Ele nunca deixou de ser — eu digo, automaticamente.
Todos me olham. Dean sorri.
— Quem é você? — a mãe pergunta.
Eu imediatamente me sinto desconfortável e, quando ela estreita os
olhos para mim e parece com raiva, sei que talvez tenha dito a coisa errada.
Capítulo 46

— Ela é minha noiva — eu digo, uma felicidade incomparável se


instalando dentro de mim.
— Sua o quê? — Meu pai finalmente encontra a própria voz e minha
mãe parece muito surpresa.
— Noiva — repito, então estendo o braço e puxo Natasha para mim, que
está tão linda e radiante. Porque estamos juntos. — Mãe, essa é a Natasha. E,
Natasha, essa é minha mãe, Amanda.
— Oi, Sra. Mackenzie — ela estende a mão timidamente, mas meu pai
emite um som de descrença.
— Eu não estou entendendo absolutamente nada — resmunga.
— Que barulheira é essa? — meu irmão surge ao lado dele, enquanto
mastiga alguma coisa, então eu tenho uma terceira pessoa muito surpresa. —
Ih, caraca! Dean ressurgiu das cinzas — olha para o lado e ver Natasha,
sorrindo de um jeito sagaz. — Saquei.
— Sacou o que, garoto? — meu pai o olha, sem entender.
— O que tá óbvio, pai — ele se defende, então pisca para Natasha.
— Nós podemos entrar? — pergunto, ignorando o fato de meu irmão
estar na casa dos meus pais em pleno sábado. Isso é realmente surpreendente.
— É claro que podem — Brandon gesticula para dentro. — Eu fiz uma
lasanha de queijo que vai fazer a Natasha te trocar por mim.
Ela ri, e isso me deixa contente, porque ela está feliz. Comigo.
— Engraçado, mas se continuar com as piadinhas, eu arrebento sua cara
— deixo claro e ele sorri, batendo no ombro do meu pai.
— Ouviu essa, pai? Ele quer arrumar briga comigo.
Meu pai ainda está aéreo, aparentemente, mas também sai do meio da
porta, nos dando espaço para passar.
Natasha parece um pouco tensa, mas não é preciso. Nós estamos juntos
de novo. Não há motivos para tensão.
Nos conduzo até a sala de estar, e todos tomam assentos nos sofás e
poltronas. Só então percebo que Scott está brincando no meio do cômodo.
Brandon o pega e coloca em seu colo, ele levando um carrinho junto.
— Como assim noiva? — minha mãe está agoniada.
— Essa é a garota que falei para você — meu pai diz. — Que o Dean ia
decepcionar.
— Ele decepcionou — Brandon concorda, enquanto arruma os cabelos
do nosso sobrinho. — Ela estava longe, mas parece que voltaram.
— Por que estão falando como se eu não estivesse aqui? — questiono.
Natasha emite um murmúrio e todos a olham.
— Dean e eu namoramos por um pouco de tempo, mas então fiquei
grávida. Uma ex-namorada apareceu dizendo ter uma filha dele e parece que
ele queria a criança. Quando descobriu que não era dele, ficou com raiva e
descontou em mim — ela respira fundo. — Eu fui atropelada e perdi o bebê.
Era um garotinho. Daí eu fiquei em coma, mas acordei. Nós ficamos longe
um do outro. Ele me pediu perdão e foi pra Carolina do Norte. Amy apareceu
no meu trabalho histérica e chorando, dizendo que poderia perder o filho por
frustração de ver o irmão tão mal. Eu fui atrás dele — ela ergue as mãos. —
Então, é isso, em resumo. Ah, e o Dean me pediu em casamento.
— Aposto que depois de chorar que nem um bebê — Brandon ri, mas
minha atenção está nos meus pais, que estão perplexos e sem reação, olhando
para Natasha.
Acho que ela falou tudo rápido demais.
— Ah, fala sério. Nem é a história mais bizarra da nossa família — meu
irmão bufa, Scott dando um gritinho. — Eu sei, pirralho. Esses velhos não
acostumam com os próprios filhos.
— Isso é verdade? Tudo isso? — minha mãe engole em seco.
— Você perdeu um filho? — meu pai questiona, com a boca aberta. —
Por que não nos contou nada disso? Pelo que estava passando?
— Não ia adiantar — me remexo, incomodado.
— Foi difícil, mas o que importa é que estamos juntos de novo e
queremos dar notícias boas — Natasha emenda, esfregando as mãos. Ela está
apreensiva, então puxo suas mãos para mim e cubro com as minhas próprias.
— Eu estou pasmo — meu pai fala.
Minha mãe recomeça um choro, mas contido.
— Você não faz ideia o que é uma mãe achar que não conhece o próprio
filho, Dean — diz e ele imediatamente a abraça, ainda nos olhando.
— Isso foi muito injusto da sua parte, filho.
— Ah, gente. Pega leve. O cara estava passando um perrengue. Ao
menos não foi como a Amy e o idiota do Dylan — Brandon parece um pouco
irritado agora. — É o que importa, eles estão juntos. O passado é passado.
Cabou. Focalizem no futuro.
— Quem é Dylan? — Natasha questiona.
— O idiota do meu cunhado — respondo. Não gostei dele e não vou
gostar dia nenhum.
— Daí você acha muito certo ficar na fossa e aparecer um tempo depois
dizendo estar noivo? — meu pai indaga.
— O senhor preferia que eu continuasse no fundo do poço?
— Eu preferia que tivesse sido honesto conosco. Eu te pedi para não
fazer besteira, não se lembra?
— Se aprende com erros — Brandon murmura.
— Por que você não cala a boca, Brandon? — meu pai o repreende.
Ele resmunga alguma coisa, mas se cala.
— Eu não tenho uma resposta, pai.
— É claro que não tem — bufa.
— Você está noivo? — minha mãe parece não crer nisso.
— Estou — reafirmo. — Natasha e eu vamos nos casar mês que vem —
olho para ela, que está sorrindo lindamente.
É um pouco estranho o contraste da nossa felicidade com a surpresa dos
meus pais.
Olho de soslaio para o lado e vejo Brandon enrolando uma mecha de
cabelo de Scott nos dedos, enquanto encara minha mão e da Natasha juntas.
Ele parece pensativo, mas não quero questionar por quê. Meu irmão pode
falar umas merdas às vezes.
— Isso é muito para assimilar — minha mãe respira fundo. — Mas, eu
vou me acostumar. Em algum momento.
Meu pai balança a cabeça.
— Certo. Eu... Quer dizer, bem-vinda à família, Natasha.
— Obrigada — ela sorri, tão linda que eu preciso beijar sua bochecha.
Minha mãe pisca os grandes olhos verdes, acho que ainda tentando
assimilar.
— Eu tô com fome — Brandon levanta, com nosso sobrinho no colo. —
Não sei vocês, mas vou lá comer. Quem vai me acompanhar?
— Comê! — Scott se agita.
— Isso aí — meu irmão o olha. — Siga o seu tio.
Ele dá uma risadinha e logo gargalha quando recebe cócegas na barriga.
Pego Natasha maravilhada olhando a cena.
Meu pai levanta, então vem para perto de nós, estendendo a mão para
minha noiva, que segura, meio incerta.
Ele a levanta e sorri, dando um abraço nela em seguida.
— Bom ter você conosco, Natasha. Obrigado por ajudar o Dean.
— O prazer é todo meu — ela o abraça rapidamente e logo se afasta,
porque eu me levanto e puxo-a para mim, incapaz de não dar um beijo nela. É
muita paixão para eu suportar.
— Que ousadia. Temos menores no recinto — Brandon fala ao fundo.
— Caramba. Tô ficando muito tempo com o James.
Mas, eu não ligo. Porque Natasha está comigo. Nos meus braços.
Derretida para mim e por mim. E nada poderia ser mais maravilhoso depois
de tudo que enfrentamos.
É claro, só um filho nosso em sua barriga.
EPÍLOGO

— O que você está fazendo? — Dean pergunta e o vejo aparecer onde


estou. — Eu acabei de receber o último móvel do quarto do Nathan. Estou
indo montar.
Sorrio, amolecendo bem onde estou, na esteira.
— Você quer ajuda?
— Você não pode me ajudar, amor — ele dá uma risadinha e aponta
para mim. — Está parecendo um balão. Ah, e para a esteira funcionar, você
precisa ligar ela.
Eu dou risada, então saio de cima, com muita dificuldade, e caminho
para a poltrona mais próxima. Foi o que Dean fez. Colocou uma em cada
cômodo da casa para quando eu estivesse cansada.
Exalo uma respiração profunda parecendo que corri uma maratona, mas
logo ele está à minha frente, delicioso e lindo, usando uma roupa comum,
mas que o deixa tremendamente gostoso.
— Você está muito cansada? — se abaixa sobre os próprios pés e põe as
mãos na minha enorme barriga, sorrindo para mim. — Eu gosto de você
grávida. Fica tão linda.
Eu sorrio, pondo minhas mãos por cima das dele, então nosso bebê se
mexe com força, nos fazendo rir.
— Ele gosta de ouvir o papai — Dean beija minha barriga e põe a
cabeça em cima, falando com Nathan. Eu aliso seus cabelos, enquanto me
concentro na sensação perfeita que é ter meu marido me amando e estar
esperando um filho dele. Do Dean Mackenzie.
— Eu te amo — digo, por nenhum motivo específico, apenas por todos.
Ele me olha, sorrindo lindamente.
— Isso é um pedido implícito?
— Engraçado — dou uma risada, mas logo me canso. — Falo sério.
Amo mesmo.
— Sei disso, meu amor — ele segura minha mão e beija. — Você está
pronta para amanhã?
— Estou. Você vai estar comigo. Com você, sempre vou estar pronta
para qualquer coisa.
Ele se refere ao grande dia. O nascimento do bebê. Porque, obviamente,
eu não gostaria de sentir as dores do parto e Dean me apoiou nisso.
— Estou ansioso para ver o rostinho dele. Será que ele vai ser lindo
como você ou maravilhoso como eu? — ele parece todo bobo ao falar e eu
dou risada.
— Ele vai ser amado, é o que eu tenho absoluta certeza.
— Ah, sem modéstia, amor. Nós somos assim, nosso bebê vai herdar
nós dois, isso significa que ele vai ser o mais bonito do mundo.
— Com um pai desses…
— O melhor pai do mundo — ele levanta um pouco e me beija,
deixando os lábios em cima dos meus por uns segundos, então morde meu
lábio inferior. — Te amo muito.
— Eu sei — eu sorrio, mas então nós ouvimos um barulho e Dean se
afasta, nossa atenção sendo chamada para a porta, onde Elizabeth segura sua
boneca e parece com sono.
— Oi, filha — ele abre os braços para ela, que vem correndo em sua
direção e se joga nele, o derrubando no chão. — Nossa, que alegria é essa?
— Meu irmãozinho chega amanhã! — ela parece toda contente. — E a
mamãe vai poder parar de dormir tanto.
Ele ri e eu faço uma careta.
— Para de falar isso, filha. Eu não só durmo — discordo, descrente. —
Faço muitas coisas.
— Pode fazer, mamãe. Mas, com o bebê é difícil.
— Que bom que você entende — dou um sorriso e rapidamente ela fica
de pé e vem beijar minha barriga. — Eu quero cuidar dele!
— Você vai — Dean levanta e me olha de cima.
Eu devo estar com um semblante não muito bom, porque ele parece
fazer uma careta, então ri.
— Acho que a mamãe precisa dormir um pouco — fala para Elizabeth.
— De novo?
— De novo — ele ri. — Me espera na sala que a gente vai arrumar o
quarto do seu irmão.
Ela concorda e sai correndo, quase saltitante.
Dean a espera sair e me olha novamente, balançando a cabeça.
— Estou com pena de você, amor.
— Ah, cala a boca — tento sorrir, mas só bocejo e ele vai em busca do
apoio acolchoado, trazendo para perto de mim e colocando minhas pernas em
cima, fazendo uma massagem rápida nas minhas panturrilhas.
— Você está bem? Vai dormir certinha aqui?
— Vou — bocejo e fecho os olhos, logo sentindo meus lábios serem
tocados pelos dele.
— Não esquece, vou estar sempre aqui — ele me lembra. — Sempre
juntos.
— Sempre — eu sorrio, então me deixo emergir em um sono profundo,
enquanto tenho plena e absoluta certeza de que eu não poderia estar mais
feliz.
Nossa família linda, que está crescendo tão rápido. Nosso amor, que
superou coisas dolorosas. Nossa vida, que pareceu renascer. Nada poderia ser
tão bom. E eu não poderia estar mais feliz.
Eu amo a minha vida e amo a forma como o tempo trabalhou para nos
manter juntos. Porque não poderia ser diferente. Dean e eu nascemos para
ficar juntos. Totalmente juntos.
E isso nunca vai mudar.
OUTROS LIVROS DA SÉRIE:
Amor em Atração
Amor em Redenção
Amor em Obsessão
Amor em Opção
Amor em Omissão
Amor em Negação
Amor em Ilusão
Amor em Impulsão
Amor em Possessão
Amor em Intenção
Amor em Pretensão
Amor em Obstinação
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Amor em Exceção
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