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RELAÇÃO ENTRE O SANTUÁRIO E AS TEOFANIAS NOS LIVROS DE


ÊXODO E EZEQUIEL, E NA ASCENSÃO DE JESUS1

Antonio Herick Rodrigues de Souza2

RESUMO

Este artigo aborda as relações existentes entre as teofanias na nuvem e o santuário dentro do
contexto da redenção, tendo como ponto de partida o livro de Êxodo e as teofanias durante a
redenção do Egito que culminaram com a glória de Deus no santuário, e passando pelo livro
de Ezequiel e depois no episódio da ascensão de Jesus. A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, com o acréscimo de fontes de referências cabíveis ao assunto estudado. Por fim
percebeu-se que o assunto é amplo e que merece um maior aprofundamento, e que ao listar as
teofanias na nuvem, os resultados alcançados mostraram que no contexto de redenção, uma
teofania na nuvem sempre precedia a ida de Jesus para o santuário, isso acontecendo após o
santuário ser construído em Êx 40:34, e Ez 43:1-5, e em At 1:9 na ascensão de Jesus.

Palavras-chave: Teofania. Nuvem. Jesus. Santuário.

1 INTRODUÇÃO
Quando o contexto é de redenção nos livros de Êxodo, Ezequiel, e na ascensão de
Jesus, as teofanias na nuvem são notadas aparecendo antes da glória de Deus entrar no
santuário terrestre. Sobre o santuário terrestre ninguém questiona, mas Jhonson (2013, p.46) e
Holbrook (2012, p. 50) falam sobre crenças metafóricas acerca do santuário de Hebreus 8.
A pergunta central do presente estudo é: Para onde Jesus foi após Sua ascensão? Essa
pergunta será respondida seguindo uma lógica sequencial que vem desde a redenção de Israel
do Egito descrita por Moisés no livro de Êxodo, passando pela redenção da Babilônia descrita
por Ezequiel, até chegar ao contexto de redenção do pecado e na ascensão de Jesus.
A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa bibliográfica, na qual, para
fundamentação teórica, buscou-se fontes que apoiassem os argumentos. Para atender o objetivo
principal da pesquisa; as seções de dois a quatro tratam do significado das palavras: teofania,
nuvem e santuário, as seções cinco e seis falam sobre a relação entre a teofania na nuvem e o
santuário, e a seção sete chega ao clímax do estudo, em que a problemática é resolvida com base
nas seções anteriores.

1
Artigo apresentado a disciplina de Pentateuco para obtenção de nota parcial pela Faculdade Adventista da
Amazônia, sob orientação do Prof. Me. Ezinaldo Ubirajara.
2
Graduando do 1º ano do Curso Bacharelado em Teologia pela Faculdade Adventista da Amazônia.
herick.iasd@hotmail.com.
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2 TEOFANIA
Principalmente no Antigo Testamento, percebe-se que Deus revelou-Se ao homem
pecador através de sonhos, visões e sinais. Algumas dessas revelações, porém, são especiais
por conta de que o próprio Deus se fez presente para um encontro particular com o profeta
afim de que uma mensagem especial fosse transmitida. Essas aparições ou encontros pessoais
chamam-se Teofania.
De acordo com (ALMEIDA, 2005), Teofania significa a manifestação visível de Deus
que pode acontecer das seguintes maneiras:
1. Com o propósito de transmitir uma mensagem direta, como em Êxodo 19,
quando a teofania ocorre na nuvem com o propósito de transmitir os dez
mandamentos para Moisés.
2. Durante um sonho para também transmitir uma mensagem, como em Gênesis
28: 12-17, em que Jacó sonha que o Senhor está perto dele lhe transmitindo a
mensagem de possessão da terra e benção a todas as nações da terra.
3. Em uma visão para transmitir uma mensagem, como em Isaías 6:1-13, em que
Isaías vê o Senhor sentado em Seu trono lhe trazendo mensagem de
advertência ao povo.
4. Através do Anjo Do Senhor com uma mensagem, como em Êxodo 3:2-4: 17,
em que o Anjo do Senhor trás para Moisés a mensagem de que ele seria usado
para libertar o povo de Israel do Egito.
Bemmelen (2011, p. 28), define teofania simplesmente como aparições da Divindade.
E também mostra o exemplo de Abraão, Isaque, Jacó e Moisés, que foram alguns personagens
do Antigo Testamento que tiveram esse privilégio de ter esse encontro especial com Deus por
meio da teofania.
O tema Teofania além de ser rico, é extenso para o campo de pesquisa. Por isso, para
esse estudo, serão analisadas apenas as teofanias em que Deus aparece na nuvem, e isso
somente nos livros de Êxodo e Ezequiel, e uma relação especial de Jesus com a nuvem
relatada no livro de Atos, no momento de Sua ascensão.
Sobreas as teofanias de Deus na nuvem, Ellen White afirma que Deus sempre esteve
presente com o povo, e que, “durante todas as vagueações de Israel, Cristo, na coluna de
nuvem e fogo, foi o seu dirigente. Ao mesmo tempo em que havia tipos que apontavam para
um Salvador vindouro, havia também um Salvador presente” (WHITE, 2007, p.272).
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3 ANÁLISE DAS PRINCIPAIS PALAVRAS


As palavras mais importantes desse estudo são: nuvem e santuário. Nuvem porque se
trata do objeto da teofania, e santuário por causa da relação com as teofanias na nuvem. Segue
uma pequena análise para melhor compreensão do corpo do texto. Primeiro em hebraico se
tratando das palavras citadas nos livros do Antigo Testamento, e depois em grego, nas
palavras correspondentes a elas citadas no Novo Testamento.

3.1 Ànan
‫ַויְכַס ֶה ָענָן אֶת אֹהֶל מֹועֵד‬
:‫ ּוכְבֹוד י ְהוָּה ָּמלֵא אֶת הַמִּשְ כָּן‬Êxodo 40:34.
“Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o
tabernáculo”. Êxodo 40:34.
“Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do Norte, e uma grande nuvem, com
fogo a revolver-se, e esplendor ao redor dela, e no meio disto, uma coisa como metal
brilhante, que saída do meio do foro”. Ezequiel 1:4
‫( ענן‬ànan) é a palavra no original hebraico referente a nuvem tanto nas passagens de
Êxodo e de Ezequiel. O Dicionário Bíblico (Strong, 2002), define ànan como: nuvem,
nublado, e nuvem teofânica.
Já Carpenter, e Baker (2003, p.1847), vão mais além, pois além de definir, qualificam
também a palavra como substantivo singular.

3.3 Nefel
και ταυτα ειπων βλεποντων αυτων επηρθη και νεφελ υπελαβεν αυτον απο των οφθαλμων
αυτων
“Ditas estas palavras, foi Jesus levado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o
encobriu dos seus olhos”. At 1:9
A versão Bíblia Português-Grego: Almeida Recebida 1848 - Modern Greek 1904 diz:
“Tendo Ele disso estas coisas, foi levado para cima, enquanto eles olhavam, e uma
nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos” At 1:9
De acordo com o dicionário Babylon, νεφελ significa: cirro, nuvem constituída de
cristais de { cirrus } nuvem; sombra { cloud } nimbo, nuvem densa e cinzenta; auréola;
nimbus.
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4 O SANTUÁRIO
A ideia de sacrifício de animais a Deus é percebida na Bíblia já com os primeiros
patriarcas (Gn 8:20), mas só durante a peregrinação do povo de Israel no deserto é que o
primeiro santuário é construído (Êx 40:33). Este por sua vez, foi feito como modelo de outro
santuário, o celestial (Êx 25:9).

4.1 Origem do Sistema Sacifical


De acordo com os primeiros capítulos de Gênesis, o sistema sacrifical é iniciado logo
após o pecado. Ángel Manuel Rodriguez fala mais sobre o assunto:

“O ato misericordioso de Deus ao vestir Adão e Eva com vestimentas de


pele era de fato uma promessa de redenção; quando inserimos Gênesis 3:21
em seu contexto teológico, a morte implícita da vítima se torna um ato
sacrifical. Depois de haver cometido pecado, o destino de Adão e Eva era
sofrer a morte eterna (Gn 2:17). Por incrível que pareça, a vida deles foi
preservada. Mas foi exatamente nesse conceito fatídico que ocorreu a morte
de um animal”. (RODRIGUEZ, 2011, p. 423).

A partir desse episódio, vários outros personagens fizeram sacrifícios com animais
para Deus. Abel sacrificou um animal e Deus aceitou o sacrifício (Gn 4:4). Noé ofereceu um
sacrifício logo após o dilúvio (Gn 8:20) e Abraão no monte Moriá. (Gn 22).

4.2 O Santuário Terrestre e o Celeste


O primeiro Santuário terrestre foi construído depois de uma ordem dada por Deus
registrada em Êxodo 25:8. O Santuário foi projetado de acordo com o modelo que Deus
mostrou a Moisés (Êx 25:9), e era dividido em 3 partes: o pátio externo (Êx: 27:1-8), o lugar
santo (Êx 2:29), e o lugar santíssimo (Êx. 26:33).
Sintetizando os santuários terrestres, a Associação Ministerial da Associação Geral
dos Adventistas do Sétimo Dia (2011, p. 386), afirma que após cerca de 400 anos, Salomão
construiu o Santuário fixo em Jerusalém. Esse santuário foi destruído por Nabucodonosor, e o
povo voltou a construir outro santuário. Esse foi embelezado pelo império romano e depois
foi destruído no ano 70 d.C.
O Novo Testamento fala de um santuário que não foi construído por mãos de homens
(Hb 8:1-2), ele serviu como modelo para o santuário terrestre (Êx 25: 9,40), e era considerado
como o verdadeiro santuário (Hb 9;23-24), pois os santuários terrestres eram apenas figuras
do santuário celestial.
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5 RELAÇÃO ENTRE A TEOFANIA NA NUVEM E O SANTUÁRIO EM ÊXODO


No êxodo do povo de Israel do Egito, a teofania de Deus através da nuvem aparece
com bastante frequência. Algumas delas são: A nuvem guiando o povo durante o caminho (Êx
13:21-22). A nuvem ficando entre Israel e os egípcios (Êx 14:19). A nuvem indo anunciar os
dez mandamentos (Êx 19:9-16). A nuvem cobrindo a tenda da congregação e a glória de Deus
enchendo o tabernáculo (Êx 40:34).

5.1 Contexto Histórico


O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (2012, vl.1, p. 522), descreve o
contexto histórico do livro de êxodo em que José e Jacó entraram no Egito durante o período
em que os hicsos governavam o Egito. Por serem semitas, esses governantes tiveram
misericórdia e amizade ao povo hebreu.
Depois de aproximadamente 150 anos de domínio hicso, houve várias rebeliões dos
egípcios nativos contra os governantes semitas, até que conseguiram a independência e
expulsaram os hicsos. Assim, foram esses governantes nativos que libertaram o Egito e
subjugaram também a Núbia e a Palestina.
Êxodo 1:8 fala de um rei que não conheceu José. É justamente desses homens que o
verso fala. Isso implicou que esse rei nativo, bem como seu povo, não se afeiçoava aos
hebreus, pois eles se pareciam com os hicsos e foram favorecidos por eles. Foi aí que
começou um reinado de terror contra os hebreus.
Moisés foi o escolhido por Deus para ser usado como o libertador do povo hebreu (Êx
3:10). Deus poupou sua vida quando era bebê e foi deixado no rio Nilo para não morrer pelo
decreto do rei (Êx 2:5). Foi tirado do rio e criado como realeza egípcia. Quando adulto quis
libertar o povo por suas próprias forças (Êx 2:12), e assim teve que ir passar quarenta anos
cuidando de ovelhas do rebanho de Jetro que foi seu sogro (Êx 2:21).
Nesse período, Deus apareceu a Moisés na sarça ardente (Êx 3:2) e anunciou a ele a
missão, que foi rejeitada a princípio, mas depois de aceita foi feita com firmeza. Moisés deu a
mensagem a Faraó, que não quis atender a ordem de Deus (Êx 5:2). Pelo contrário, aumentou
o trabalho dos israelitas (Êx 5:6). Após ouvir a murmuração do povo, Moisés fala com Deus,
que lhe responde dizendo que irá agir contra faraó (Êx 6:1).
Após Faraó rejeitar o pedido de partida, as pragas começam a acontecer (Êx 7:15).
Faraó endurece seu coração e não permite a partida do povo durante nove flagelos, até o
décimo em que os primogênitos perecem (Êx 12:29). O povo de Israel parte após a ordem de
Faraó (Êx 12:31), e nesse contexto, inicia o ministério da teofania na nuvem (Êx 13:21).
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5.2 A Nuvem e o Santuário na Redenção do Egito


“Levantou também o átrio ao redor do tabernáculo e do altar e pendurou o reposteiro
da porta do átrio. Assim Moisés acabou a obra.
Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o
tabernáculo.
Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre
ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo”. Êx 40:33-35.
As teofanias de Deus na nuvem no livro de Êxodo, além de mostrar que Deus não
tinha abandonado Seu povo, também mostravam ao povo que quem estava no comando de
tudo não era Moisés, mas sim o próprio Deus. Sobre isso Ellen White descreve:

“Enquanto Arão estava a falar, eles se viraram para o deserto, eis que a
gloria do Senhor apareceu na nuvem. Êxodo 16:8-10. Um esplendor qual
nunca antes haviam testemunhado, simbolizava a presença divina. Por meio
de manifestações que se dirigiam aos seus sentidos, deviam obter
conhecimento de Deus. Devia ensinar-lhes que o Altíssimo, e não
meramente o homem Moises, era seu dirigente, a fim de que temessem o Seu
nome e Lhe obedecessem a voz”. (WHITE, 2007, p. 255a).

Outro aspecto importante a se notar para este estudo é de quem esteve presente na
nuvem. Ellen White afirma que nas jornadas de Israel no deserto, “Cristo, na coluna de nuvem
e fogo, foi o seu dirigente. Ao mesmo tempo em que havia tipos que apontavam para um
Salvador vindouro, havia também um Salvador presente”. (WHITE, 2007a, p. 272).
Duas informações importantes aqui citadas ajudam a chegar até a terceira. A primeira
é que a nuvem baixou no templo (Êx 40:34), e a segunda é que Jesus estava na nuvem. Assim,
não é necessário esforço para concluir que era Jesus quem esteva presente no tabernáculo.

5.3 Conclusões da seção.


Ao analisar os argumentos e informações transmitidos nessa seção, pelo menos três
conclusões podem ser tiradas:
1- A nuvem teofânica aparece no contexto da redenção do Egito.
2- Era Jesus Cristo que estava presente na nuvem.
3- Após a redenção, Jesus vai para o santuário após o mesmo ficar pronto.
Sendo assim, essa seção conclui afirmando que existe uma relação entre o santuário e
a teofania de Deus na nuvem descrita no livro de Êxodo, e que essa mesma relação servirá
como base para que as outras seções sejam analisadas.
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6 RELAÇÃO ENTRE A TEOFANIA NA NUVEM E O SANTUÁRIO EM EZEQUIEL


No livro de Ezequiel a teofania de Deus na nuvem aparece em três pontos importantes.
No primeiro mostra a glória de Deus vindo do norte e indo para o sudoeste, que era a direção
em que ficava o santuário (Ez 9-11). No segundo ponto a glória de Deus abandona o templo
(Ez 10:18-22). No terceiro ponto a glória de Deus retorna, dessa vez para o templo novo que
foi construído após a destruição da cidade (Ez 43: 1-9). O profeta ressalta no verso 3 do
capítulo 49 que essa última visão da glória de Deus era semelhante as outras duas que ele
havia tido.

6.1 Contexto Histórico


O contexto histórico em que o livro de Ezequiel foi escrito ocorre quando o povo de
Israel estava em cativeiro Babilônico. O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (2012,
vl.4, p. 620), acrescenta mais detalhes sobre o assunto dizendo que a queda de Judá estava
próxima e o cativeiro babilônico já havia começado. Nabucodonosor havia atacado Jerusalém
no terceiro ano de Jeoaquim, conforme é relatado em (Dn 1:1), e como se não bastasse, vários
cativos foram levados tanto da linhagem real quanto dos nobres. (Dn 1:3).
Jeoaquim, Joaquim e Zedequias foram os governantes dessa época. Eles viram com
seus olhos as calamidades que sobrevieram contra seu povo e não tiveram um final feliz
porque além de se rebelar, fizeram o que era mau perante o Senhor, conforme está escrito em
(2 Rs 24). Taylor, (2006, p. 29) descreve as tristes características desses homens ao dizer que
Jeoaquim foi um governante irresponsável, e Zedequias era fraco e incapaz.
Shea, (2012, p. 27), destaca que o povo havia passado quatro séculos sob o governo
dos juízes e quatro sob o governo dos reis, e durante todo esse tempo Deus havia suportado a
conduta rebelde de seu povo, e por isso, Deus permitiu que o povo fosse levado cativo da terra
que Ele mesmo tinha dado.
Então o povo foi levado cativo para a Babilônia. A cidade de Jerusalém foi
incendiada e o templo foi destruído. O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (2012,
vl.4, p. 622), descreve que enquanto o juízo caía sobre Jerusalém, o povo mergulhava cada
vez mais em apostasia, pois a rebeldia e a idolatria pareciam reinar.
Assim como Deus não abandonou seu povo no Êxodo do Egito, não iria fazer
durante a redenção contra os babilônicos. Após a queda de Jerusalém descrita no capítulo 33
de Ezequiel, Deus além de consolar, promete a restauração de Israel (Ez 34-39). E assim,
Deus retorna para o templo e permanece na cidade. (Ez 43).
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6.2 A Nuvem e o Santuário na Redenção da Babilônia


Além de outras passagens, a teofania de Deus na nuvem pode ser vista no livro de
Ezequiel de uma forma especial no capítulo um e no capítulo quarenta e três. A primeira delas
ocorre durante a visão que Ezequiel teve nas margens do rio Quebar, em que ele percebe que
a nuvem vem do norte (Ez 1:4).
William Shea explica o destino para onde a nuvem de Deus se dirigia:

“O relato desta visão não nos diz qual direção à carruagem de Deus tomou.
No entanto, com a leitura dos capítulos 9-11 se deduz que Deus viajava em
direção a sudoeste, para o seu templo de Jerusalém. Nos capítulos
subsequentes, o profeta descreve Deus se despedindo do templo após ter
fixado sua residência ali por um período de tempo. O ponto principal da
visão do primeiro capítulo de Ezequiel é que Deus estava em trânsito por
meio de uma carruagem celestial para o local de sua residência terrestre, o
templo de Jerusalém”. (SHEA, 2012, p. 26).

Além de apontar que o destino da nuvem era o santuário, com base nos capítulos de
1 a 10, Shea, (2012, p. 27) afirma que Deus estava a fazer uma obra de grande importância.
Deus se assentou em juízo sobre o seu povo por um período de aproximadamente 14 meses
com o intuito de julgamento.
A outra aparição de Deus na nuvem proposta no início dessa seção pode ser
comparada com a de Êxodo, que ocorre após o termino da construção do templo. Assim como
Moisés viu a glória de Deus descendo no templo quando terminou de ser construído, Ezequiel
presenciou o mesmo acontecimento vários anos mais tarde (Ez 43:1-5).
Assim como era Jesus quem esteve presente nas teofanias na nuvem no Êxodo do
Egito, pode-se concluir que era Ele também quem estava sentado no trono na visão de
Ezequiel. A comparação da visão de Ezequiel com a descrição joanina de Jesus glorificado
em Apocalipse 1:13-16 não deixa nenhum tipo de dúvidas.

6.3 Conclusões da seção.


Analisando as informações dessa seção, as mesmas conclusões que foram obtidas na
seção anterior também podem ser tiradas:
1- A nuvem teofânica aparece no contexto da redenção da Babilônia.
2- Era Jesus Cristo que estava presente na nuvem.
3- Jesus na nuvem vai para o santuário após o mesmo ficar pronto.
Portanto, essa seção também conclui que existe uma forte relação entre o santuário e a
teofania de Deus na nuvem descrita no livro de Ezequiel.
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7 A NUVEM NA ASCENSÃO DE JESUS E O SANTUÁRIO CELESTIAL


Até agora foram analisadas algumas teofanias de Deus na nuvem em acontecimentos
registrados no antigo testamento, precisamente nos livros de Êxodo e Ezequiel, em que os
contextos estavam ligados à redenção, tanto a do Egito quanto a da Babilônia. Os mesmos
elementos estão envolvidos: Jesus, a nuvem, e o santuário, mas agora o cenário é outro.

7.1 Contexto Histórico


Se a seção 5 aponta para a redenção do Egito e a seção 6 aponta para a redenção
babilônica, agora não será diferente. A redenção agora não é de nações, agora a ligação entre
a nuvem, Jesus e o santuário está inserida no contexto da redenção do pecado. Vindo a
plenitude dos tempos, Deus enviou Seu filho (Gl 4:4). Sobre redenção, Ellen White diz que ...

“Jesus viu, com piedade, como os homens se tinham tornado vitimas da


crueldade satânica. Olhou compassivamente para os que estavam sendo
corrompidos, mortos, perdidos. Estes tinham escolhido um dominador que
os jungia a seu carro como cativos. Confundidos e enganados, avançavam,
em sombria procissão rumo a ruina eterna— para a morte em que não ha
nenhuma esperança de vida, para a noite que não tem alvorecer. Agentes
satânicos estavam incorporados com os homens. O corpo de criaturas
humanas, feito para habitação de Deus, tornara-se morada de demônios. Os
sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos dos homens eram por agentes
sobrenaturais levados a condescender com a concupiscência mais vil. O
próprio selo dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens.
Esta refletia a expressão das legiões do mal de que se achavam possessos.
Eis a perspectiva contemplada pelo Redentor do mundo. Que espetáculo para
a Infinita Pureza!” (WHITE, 2007b, p. 22).

O ministério de Jesus na terra foi curto, porém intenso. Durante esse período, Jesus
pregou boas novas aos quebrantados, curou os quebrantados de coração, libertou os cativos e
pregou o ano aceitável doo Senhor (Is 61:1-3). Após cumprir então Seu papel como salvador
e redentor, perecendo na cruz Ele exclamou: “Está consumado” (Jo 19:30), e morreu.
Passando não muitos dias no sepulcro, Jesus ressuscitou (Mt 28:1-10), e após um
período de aparições particulares, para as mulheres que foram visitar seu túmulo (Mt 28:1-
10), para os discípulos no caminho de Emaús (Lc 24: 1-34), Jesus apareceu aos onze com a
ordem para evangelização (Mc 16: 14-18).
E assim, após o término de Sua obra redentora aqui na terra, Jesus então ascendeu aos
céus (At 1:6-11). E é justamente em Sua ascensão que nota-se mais uma vez uma relação
entre a nuvem, Jesus, e o santuário.
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7.2 A nuvem e o Santuário na Redenção do pecado


Os Evangelhos de Marcos e de Lucas narram a ascensão de Jesus, o momento em que
Ele subiu ao céu após ter passado algum tempo com seus discípulos após a ressurreição. Mas
o livro de Atos traz um componente especial e muito importante para esse estudo: a nuvem.
“Ditas estas palavras, foi Jesus levado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o
encobriu dos seus olhos”. Atos 1:9
Dando mais detalhes sobre esse evento, Ellen White afirma que estando...

“com as mãos estendidas numa benção, e como uma firme promessa de Seu
protetor cuidado, ascende Jesus lentamente dentre eles, atraído para o céu
por um poder mais forte que qualquer atração terrestre”. Ao subir mais e
mais, os assombrados discípulos, numa tensão visual, buscam um último
vislumbre de seu Senhor assunto. Uma nuvem de glória O oculta aos seus
olhos; e ao recebê-Lo o carro da nuvem de anjos, soam-lhes ainda aos
ouvidos as palavras: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos” (WHITE, 2007b, p. 255).

Ao analisar as seções anteriores e seguindo a sequência lógica, percebe-se que o


próximo passo após a teofania na nuvem, será a chegada de Jesus ao santuário. A diferença
dessa vez é a localização do santuário. Enquanto em Êxodo e Ezequiel, Jesus chegava ao
santuário terrestre após a teofania na nuvem, dessa vez Seu destino é o Santuário celestial.
Conforme Ángel Manuel Rodríguez, “entre esses dois pontos, a cruz e o glorioso
retorno, O Senhor Jesus Cristo atua como sacerdote real no santuário, o “verdadeiro
tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hb 8:2), como advogado (1Jo 2:1) e
intercessor daqueles que nEle creem (Rm 8:34)”. (RODRÍGUEZ, 2011, p. 421).

7.3 Conclusões da seção.


Assim como na seção 5 sobre Êxodo e na seção 6 sobre Ezequiel, em que ficou
comprovado que existe uma relação notória entre a teofania de Deus e o Santuário, mais uma
vez ficou evidente, e dessa vez é uma relação especial. Enquanto em Êxodo e Ezequiel Jesus
se dirigia na nuvem para o santuário terrestre (Êx 40:34) e (Ez 43: 1-5), dessa vez Ele se
dirigiu ao santuário celestial, que não foi feito por mãos de homens (Hb 8:2).
As mesmas conclusões que as seções anteriores chegaram, pode-se chegar também
agora, mas em proporções superiores:
1- A nuvem aparece no contexto da redenção do pecado.
2- Jesus Cristo que estava presente na nuvem em sua ascensão.
3- Jesus vai para o santuário celeste iniciar Sua obra especial.
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8. CONCLUSÃO
Segundo o que foi mostrado nas seções anteriores, no contexto de cada redenção
(Egito, Babilônia e pecado), quando as teofanias na nuvem são analisadas, pode-se perceber
que elas estão relacionadas com o santuário.
No contexto de redenção do Egito houve várias teofanias na nuvem durante o
percurso do povo de Israel. Jesus foi identificado como estando presente na nuvem, e após a
construção do santuário, Jesus foi visto indo para o santuário e enchendo-o com Sua glória.
No contexto de redenção da Babilônia três teofanias chamam atenção para esse
estudo. Logo na primeira a nuvem é vista por Ezequiel vindo do norte e indo para o santuário
para um período de julgamento. Depois essa nuvem é vista saindo do templo, pois o mesmo
iria ser destruído. Essa nuvem também foi identificada com a presença de Jesus, e no final do
livro Ezequiel descreve Jesus entrando no templo após a construção do mesmo. No contexto
de redenção do pecado o elemento nuvem também aparece. Durante a ascensão de Jesus, uma
nuvem O recebe, e então a pergunta inicial do estudo é respondida.
Conforme a análise verificada por meio da metodologia adotada, conclui-se,
portanto, que após Sua ascensão descrita em Atos 1:6-11, Jesus foi para o santuário celestial a
fim de fazer a obra que por um grande período o santuário terrestre apenas tipificava.
Assim como o santuário do antigo testamento e todos os seus rituais eram um tipo do
\santuário celestial, essas teofanias em que Jesus apareceu na nuvem e logo após entrou no
santuário em Êxodo e Ezequiel, também podem ser consideradas como sombras ou tipos da
ascensão de Jesus na nuvem e sua ida para o Santuário Celestial.

RELATIONS BETWEEN THE SANCTUARY AND THEOPHANIES IN THE BOOKS


OF EXODUS AND EZEKIEL, AND IN THE ASCENSION OF JESUS.

ABSTRACT

This article discusses the relations existing between the theophanies in the cloud and the
sanctuary within the context of the redemption, taking as its starting point the book of Exodus
and the theophanies during the redemption from Egypt that culminated with the glory of God
in the sanctuary, and going through the book of Ezekiel and then in the episode of the
ascension of Jesus. The methodology used was the bibliography research, with the addition of
sources of references applicable to the subject studied. Finally realized that the subject is
broad and that deserves a greater deepening, and that the list the theophanies in the cloud, the
results showed that in the context of redemption, a theophany in the cloud always preceded
the return of Jesus to the Sanctuary, this happening after the sanctuary be built in Exodus
40:34 and Ezekiel 43:1-5, and in Acts 1:9 in the ascension of Jesus..

Keywords: Theophany. Cloud. Jesus. Sanctuary.


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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada Revista e Atualizada. 2ed. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

ÀNAN, In: STRONG dicionário bíblico léxico hebraico, aramaico e grego. Barueri:
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ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO


SÉTIMO DIA (Org). Nisto Cremos. 8. Ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

BEMMELEN, Peter M. In: DEDEREN, Raoul (Ed.). Tratado de Teologia Adventista do


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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA: A Bíblia sagrada com


comentário exegético e expositivo. 1. Ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2012. (Logos, v.
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