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Agenda Rosdolsky
A superação do capitalismo e a cónstrução do socialismo
democrático compõem um tema acadêmico atual.
Rosdolsky oferece novos termos para esse debate, ao
sugerir um método que capta os elementos centrais na
dinâmica capitalista, sistematiza as suas metamorfoses e
discute as implicações para a elaboração de alternativas
ao capitalismo.
Avaliar as metamorfoses do capitalismo é um pré-
-requisito para a visualização de germes da nova
sociedade na atualidade — arranjos institucionais
que cristalizam resultados de lutas e de tendências
emancipatórias presentes em processos sociais básicos.
Esses arranjos instituclonais impactam as metamorfoses
do capitalismo e a possibilidade da transição para o
socialismo.
A aplicação da ciência à produção, o sistema de crédito
— componentes estruturais do modo de produção
capitalista — e seus efeitos são o tema da Parte 1 deste
livro. A Parte 2 trata da articulação intertemporal
entre esses fenômenos, através da avaliação do
desenvolvimento histórico dos Estados Unidos, de uma
avaliação da natureza do processo chinês e de uma
sistematização de mudanças estruturais a longo prazo.
A Parte 3 discute alternativas ao capitalismo, com uma
resenha do debate acadêmico atual e a apresentação da
proposta derivada da elaboração de Rosdolsky: articular
as metamorfoses do capitalismo e os “germes visíveis”"
do socialismo.
Este livro baseia-se na tese para o concurso de professor
titular da FACE-UFMG, realizado em 23 e 24 de agosto
de 2010. A banca foi composta por Ana Maria Bianchi
(USP), Fernando Cardim de Carvalho (UFRJ), Maurício
Chalfin Coutinho (Unicamp), João Antonio de Paula
(UFMG) e Mauro Borges Lemos (UFMG). As contribuições
dos membros da banca foram decisivas para o
aperfeicoamento da tese e sua transformacão neste livro.
Agenda Rosdolsky
UFMG
Universidade Federal de Minas Gerais
Editora UFMG
Diretor Wander Meio Miranda
Vice-diretor Roberto Alexandre do Carmo Said
Conselho editorial
Wander Melo Miranda (presidente)
Ana Maria Caetano de Faria
Flavio de Lemos Carsalade
Heloisa Maria Murgel Stariing
Márcio Gomes Soares
Maria Helena Damasceno e Silva Megale
Roberto Atlexandre do Carmo Said
— Eduardo da Motta e Albuquerque
Agenda Rosdolsky
Belo Horizonte
Editora UFMG
2012
6 2012, Eduardo da Motta e Albuquerque
6 2012, Editora UFMG
Este lvro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autonzação escrita do Editor
Inclur bibliografia.
ISBN: 978-85-7041-981-1
CDD 336
CDU' 330.84
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Av. Antonio Carlos, 6.627 - CAD I! / Bloco il
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Para Cláudia e Pedro
Sumário
Introdução 13
Parte 1
Elementos da dinâmica capitalista
Capítulo 1
A construção institucional para a
aplicação tecnológica da ciência 29
Parte 2
Metamorfoses do capitalismo
Capítulo 3
Os Estados Unidos como o caso clássico 85
Capítulo 6
Conclusão 241
Referências 245
Roman Rosdolsky e sua obra contribuem para um salto na qualidade dos estudos
sobre Marx, sobre o capitalismo e sobre a transição para o socialismo. Publicado
em 1968, Gênese e estrutura de O capital de Karl Marx é uma contribuição pioneira
sobre a leitura dos Grundrisse como uma forma de compreender o desenvolvimento
da elaboração marxiana. O rigor acadêmico e a erudição de Rosdolsky estabelecem
novos padrões para a elaboração teórica inspirada em Marx. O papel e a influência
desse livro são enormes, e sua análise vai além do escopo deste livro.! A obra de
Rosdolsky oferece uma nova possibilidade de acesso à elaboração de Marx.
Entre as contribuições de Rosdolsky, destaca-se a discussão sobre “o limite
histórico da lei do valor: observações de Marx sobre a ordem social socialista” — o
capítulo 28 de seu livro. Rosdolsky organiza esse capítulo entrelaçando a discussão
sobre a individualidade no capitalismo, sobre o papel da maquinaria na transição
para o socialismo — uma precondição material — e sobre a extinção da lei do valor no
socialismo — uma crítica ao stalinismo, uma das formas de totalitarismo (Hilferding,
1940; Arendt, 1968), e à ruptura que ele representa em relação à elaboração de
marxistas como Preobrajensky. Esse entrelaçamento representa um retorno a um
tratamento abrangente da obra de Marx, não apenas na leitura de sua obra, em
especial, de O capital, mas também da articulação necessária entre a investigação
da dinâmica capitalista e a discussão de alternativas socialistas. Como Rosdolsky
(1968, p. 345) ressalta na abertura do capítulo 28, no plano original de O capital
Marx pretendia discutir no último livro a transição ao socialismo.?
? —JoãoAÁntonia de Paula (2007) apresenta o significado e a contribuição dessa obra no artigo intitulado “Roman
Rosdolsky (1898-1967): um intelectua! em tempos extremos”.
? —Essetópicoestá no plano apresentado nos Grundrisse (p. 345).
INTRODUÇÃO
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Gênese e estrutura de O capital de Karl Marx foi escrito entre 1948 -- quando
Rosdolsky encontrou um volume dos Grundrisse em uma biblioteca em Nova
York — e 1967 — quando escreveu a introdução do livro. Rosdolsky sobreviveu às
tragédias dos rtotalitarismos nazista e stalinista e sofreu com o clima do macartismo.
Com essa carga existencial, produz uma obra capaz de indicar como a (re)leitura de
Marx é atual e necessária para compreender o capitalismo contemporâneo e seus
limites. À elaboração de Rosdolsky incorpora toda essa trajetória, representativa
dos aspectos mais trágicos do século XX — vida e obra que ressaltam a necessidade
€ a possibilidade do socialismo. O capítulo 28 é uma síntese dessa reflexão, cuja
leitura oferece uma agenda para discussões contemporâneas e uma sugestão sobre
como abordar a questão da transição para uma nova sociedade. Mais do que isso,
se pode ler ali um método para lidar com as questões relativas ao socialismo em
nosso tempo, derivado da interpretação de Rosdolsky sobre a obra de Marx, em
especial, a partir da riqueza temática dos Grundrisse.
Desse método depreende-se uma agenda proposta por Rosdolsky. À partir de
uma questão de método, a articulação entre dois elementos é central na definição
dessa agenda. Por um lado, é necessário investigar as mudanças ocorridas no sistema
capitalista desde a redação dos Grundrisse -- as metamorfoses do capitalismo-,º que
ampliam a possibilidade de construção do socialismo em nosso tempo. Por outro
lado, o desenvolvimento do capitalismo contém elementos, tendências e aspectos
que prefiguram uma nova sociedade — um desafio é visualizar germes dessa nova
formação na história vivida (Rosdolsky, 1968, p. 345).
A agenda de Rosdolsky articula as metamorfoses do capitalismo e a emergência
de germes visíveis do socialismo. Essa agenda apresenta um referencial teórico útil,
na medida em que há uma retomada de debates acadêmicos sobre o socialismo. À
agenda de Rosdolsky oferece novos termos para o debate contemporâneo sobre o
socialismo” — termos diferentes dos que têm pautado a maior parte das elaborações
do debate atual em torno de plano e de mercado.
Em especial, o capítulo 28 apresenta um método que, de acordo com a inter-
pretação de Rosdolsky, é a associação, por Marx, entre a investigação do capita-
lismo e a perspectiva socialista. Segundo Rosdolsky (1968, p. 361), trata-se de um
“método que pretende investigar tanto as condições de existência do capitalismo
como seus limites históricos, e cujas conclusões socialistas, orientadas para superar
? —“Metamorfoses do capitalismo” é a reflexão de Celso Furtado sobre o paradoxo “de vivermos em uma época
de grande enriquecimento da humanidade e, ao mesmo tempo, de agravação da miséria de uma grande maioria”.
Essa reflexão está no discurso proferido ao receber o título de Professor Honoris Causa da UFRJ, em 2002.
* — Socialiuimaoéumaalternativa democrática ao capitalismo, tratado como um tema mediado pela polêmica instalada
no meio acadêmico,
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AGENDA ROSDOLSKY
fduardo da Motta e Albuquerque
* —Marx(1894,t.2,p.273)também utiliza o termo germe — em uma passagem que será discutida no Capítulo 6 deste
livro. Segundo o Dicionário Houaiss, “germe" tem um sentido biológico de “estágio inicia! de desenvolvimento de
organismo" (significado 1), “agente causador de, causa, origenm” (significado 4) e “condição elementar, incompleta,
inicial" (significado 5). No Dicionário Caldas Aulete há, entre outros, os seguintes significados: “rudimento de um
novo ser, embrião”, “o princípio, a causa, a origem de qualquer coisa” e “estado rudimentar”, Finalmente, o Dicionário
Aurélio traz, entre outros, os significados “rudimento de um novo ser”, “o princípio, a origem ou a causa de qualquer
coisa" e “estado rudimentar”. Este Kvro quer enfatizar significados não bipiógicos do termo, através da combinação
dos significados “condição inicial”, “origem”, “estágio inicial de desenvolvimento" e “estado rudimentar”. Esse parece
ser o significado que Marx utiliza na passagem mencionada.
INTRODUÇÃO
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explosão de uma base limitada, que é o uso do tempo de trabalho como “unidade
de medida” das forças colocadas em movimento pelo capital.
Desde o seu início, a dinâmica capitalista contém a possibilidade do “colapso da
produção baseada no valor”, comentada por Marx nessa mesma passagem. Como
conter a explosão de uma base fundamental do sistema, como conrter o colapso
dessa forma de produção? Marx sugere, no capítulo 27 do terceiro volume de O
capital, que o sistema de crédito tem um papel chave para a sobrevida do sistema
e, portanto, para conter esse colapso (1894, t. 1, p. 334).é
A aplicação da ciência à produção colapsa um padrão de medida (o tempo de
trabalho), e o crédito faz desaparecer todos os padrões de medida — uma perturbação
criada pela aplicação tecnológica da ciência é provisoriamente contida e, ao mesmo
tempo, expandida pelo sistema de crédito.
Nos Grundrisse, Marx descreveu a “aplicação da ciência à produção” quando
esta ainda estava em sua pré-história (ou ainda era rudimentar, comparada com a
realidade do capitalismo do século XX).” No capítulo 27 de O capital, volume 3,
apresentou o sistema de crédito como fonte de expansão da acumulação e, simul-
taneamente, como fonte de crises.º
Esses dois trechos identificam em Marx uma relação entre a natureza da dinâmica
capitalista e temas da transição para uma nova sociedade. Por um lado, a ciência
e a tecnologia criam precondições para a transição, por meio do tempo livre que
pode resultar de sua aplicação à produção imediata (Marx, 1857-1858, p. 706). Por
outro, o desenvolvimento do sistema de crédito “constitui a forma de transição em
direção a um novo modo de produção” (Marx, 1894, p. 572).
O primeiro trecho está em um tópico intitulado “capital fixo e o desenvolvi-
mento das forças produtivas da sociedade”. Neste tópico está a célebre passagem
dos Grundrisse na qual Marx refere-se à “aplicação da ciência à produção imediata”,
$ “Marx,aoitratarda função do crêdito na sociedade capitalista, menciana como “o erédito oferece ao capitalista
individual (...) uma disposição, dentro de certos limites, absoluta de capital alheio e propriedade alheia (...) Disposição
sobre o capital social, não próprio, dá-lhe disposição sobre trabalho social. O próprio capital, que se possui realmente
ou na opinião pública, passa a ser apenas a base para a superestrutura do crédito (...) Todos os padrões de medida,
todas as bases explicativas ainda mais ou menos justificadas nos limites do modo de produção capitalista desaparecem
aqui" (1894, t. 1, p. 333-334).
? —“Marx menciona uma condição do desenvolvimento pleno do capital, associado à aplicação tecnológica da
ciência (1857-1858a, p. 699): “(...) o desenvolvimento completo do capital, portanto, tem lugar (...) na medida em que
os meios de trabalho não apenas são determinados formalmente como capital fixo, mas também quando superam
sua forma imediata, e quando o capital fixo aparece como máquina no interior do processo de produção em oposição
o trabalho; e todo o processo de produção não aparece subsumido sob a capacidade direta do trabalhador, mas
cormo a aplicação tecnológica da ciência.”
? “Osistemade crédito acelera (...) o desenvolvimento material das forças produtivas e a formação do mercado
mundial (...) Ao mesmo tempo, o crédito acelera (...) as crises" (Marx, 1894, t. 1, p. 335).
INTRODUÇÃO
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* “As características dúplices imanentes ao sistema de crédito: por um lado, desenvolver a mola propulsora da
produção capitalista (...) por outro lado, porém, constituir a forma de passagem para um novo modo de produção”
(1894, t. 1, p. 335).
1 —“fAs] modernas instituições de crédito seriam tanto uma causa como um efeito da concentração de capital”
(1857-1858a, p. 122). Essa relação de causa e efeito está discutida em trabalho anterior (Albuquerque, 2010a).
1 —“Como esse trecho é importante para o argumento desta introdução, é interessante a sua leitura (o que tem
relação direta com o crédito: fluíidez no processo de produção e circulação): “(..) fo] vator do capital fixo é reproduzido
apenas na medida em que ele é usado no processo de produção. Através do desuso ele perde seu valor de uso
sem seu valor passar para o produto. Por isso, quanto maior a escala na qual o capital fixo se desenvolve (...)] mais a
continuidade do processo de produção ou o fluxo constante de reprodução se torna uma condição externa compulsiva
(que compete) do modo de produção fundado no capital" (1857-1858a, p. 703).
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AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? —“INal medida em que o tempo de trabalho (...) é colocado pelo capital como o único elemento determinante,
na medida em que o trabalho direto e sua quantidade desaparecem como princípio determinante da produção — a
criação de valores de uso — e é reduzido tanto quantitativamente, para uma proporção menor, e qualitativamente,
como um momento indispensável mas subordinado, comparado cam o trabalho científico geral, aplicação tecnotógica
das ciências naturais, por um lado, e a força produtiva geral que emerge da combinação social da produção total
por outro lado — que aparece como fruto natural do trabalho social (embora produto histórico). O capital, portanto,
trabalha pela sua dissolução como forma predominante de produção" (1857-1858a, p. 700).
* — Grandeindústria como pré-requisito para o desenvolvimento da maquinaria: “(...) a análise e aplicação das leis da
mecânica e da química, emergindo diretamente da ciência que permite a máquina desempenhar o mesmo trabalho
previamente desempenhado pelo trabathador. Entretanto, o desenvolvimento da maquinaria por essa trajetória
ocorre apenas quando a grande indústria tenha alcançado um estágio avançado, e todas as ciências tenham sido
pressionadas para servir ao capital; e quando, em segundo lugar, a maquinaria disponível em si já ofereça grandes
capacidades" (1857-1858a, p. 704). À seguir, Marx escreve: “(...) invenção então se torna um negócio, e a aplicação
da ciência a produção em si se torna uma perspectiva que a determina e a solicita” (p, 704).
1 “Capital fixo, em seu caráter de meio de produção, cuja forma mais adequada é a maquinaria, produz valor,
isto é, aumenta o valor do produto de apenas duas formas: 1) na medida em que tem valor, isto é, ela mesma
é produto do trabalho, uma certa quantidade de trabalho em forma objetivada; 2) na medida em que amplia o
trabalho excedente em relação ao trabatho necessário, ao possibilitar o trabalho, através de um aumento na sua
força produtiva, criar uma massa maior de produtos necessários para a manutenção do trabalho vivo em um
tempo mais curto” (1857-1858a, p. 701).
* "(.) é o desenvolvimento do indivíduo social que aparece como o grande pitar da produção e da riqueza.
O roubo do tempo de trabalho alheio, no qual a ríqueza atual é baseada, aparece como uma base miserável
em relação a essa nova, criada pela própria grande indústria. O trabalho excedente da massa deixou de ser a
condição para o desenvolvimento da riqueza geral, assim como o não trabalho de poucos, para o desenvolvimento
dos poderes gerais da mente humana.” E conclui: “(...) com isso, a produção baseada no valor de troca colapsa”
(1857-1858a, p. 706).
1 Hilferding (1910, p. 117) trata o capítulo 27 como um “esboço genial” que Marx “lamentavelmente não chegou
a desenvolver”.
AGENDA ROSDOLSKY
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7 Nocapítulo 14 do volume 3, Marx discute o “aumento do capital por ações” como uma causa contrariante da
queda da taxa de lucro (1894, t. 1, p. 182).
INTRODUÇÃO
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* “Devoessa expressão “resíduos totalitários da democracia liberal” ao professor Fausto Brito, que a sugeriu como
tópico do programa de nosso curso sobre os totalitarismos nazista e stalinista (primeiro semestre de 2012).
* — Anecessidade do socialismo não tem aqui o sentido de uma determinação histórica ou de sua inevitabilidade.
Ao contrário, a indeterminação quanto ao formato e à estrutura dos sistemas econômicos no futuro é completa, Não
há qualquer fim automático do capitalismo. A superação do capitalismo é uma questão da esfera da política, da luta
democrática.
INTRODUÇÃO
23
cruciais para a sua contenção, mas que abrem novas possibilidades de crises,
sempre de natureza diferente.
Em terceiro lugar, permite compreender de forma mais abrangente as metamorfo-
ses do capitalismo, que são multidimensionais. Essa característica multidimensional
das metamorfoses do capitalismo acrescenta complexos problemas para a análise,
mas é certamente mais realista, Em quarto, essa abordagem permite discutir, a
cada instante, os elementos que contribuem para a transição a uma nova sociedade.
Rosdolsky lembra que quando Marx escreveu os Grundrisse o progresso científico e
tecnológico era ainda muito rudimentar, comparado ao nível alcançado no século
XX. As contradições, hoje, são muito mais complexas, mas existem condições
para a construção de uma nova sociedade (potencial para aperfeiçoamento radical
das condições de trabalho, viabilidade técnica de redução de jornada de trabalho,
capacidade científica e tecnológica para lidar com problemas persistentes e emer-
gentes na esfera da saúde, para enfrentar desafios ecológicos e demográficos). O
entrelaçamento entre essas quatro questões também organiza a estrutura deste livro.
A Parte 1 focaliza o fenômeno da aplicação da ciência à produção, o sistema de
crédito e os efeitos contraditórios causados por esses componentes estruturais do
modo de produção capitalista. Esse primeiro nível de análise compõe-se do primeiro
capítulo, dedicado à aplicação da ciência à produção e aos problemas provocados por
ela, e do segundo capítulo, que apresenta a sugestão do papel do sistema financeiro
como fonte de contenção — e, ao mesmo tempo, expansão — desses problemas.
A Parte 2 trata da articulação intertemporal entre esses dois fenômenos, buscando
integrar diversas determinações recíprocas. O Capítulo 3 avalia o desenvolvimento
histórico do país onde a aplicação da ciência à produção e a sofisticação do sistema
financeiro foram mais longe — os Estados Unidos, “caso clássico” do desenvolvimento
capitalista desde o final do século XIX — e acompanha um padrão de coevolução
entre instituições criadas para lidar com os dois fenômenos. O Capítulo 4 discute
a China, com uma avaliação preliminar da natureza do processo chinês e da pos-
sibilidade em se configurar como uma alternativa hegemônica aos Estados Unidos.
Essa discussão contribui para avaliar a flexibilidade do capitalismo no longo prazo.
O Capítulo 5 interpreta, à luz das ondas longas do desenvolvimento capitalista e
dos ciclos sistêmicos de acumulação, a dinâmica aberta por esses dois fenômenos
e sistematiza mudanças estruturais a longo prazo.
A Parte 3 introduz a discussão de alternativas ao capitalismo. O Capítulo 6
resenha o debate acadêmico atual, com atenção à elaboração de Hayek e da Escola
Austríaca, dada a sua influência sobre os termos do debate e até mesmo sobre a
elaboração de algumas propostas de socialismo. O Capítulo 7 desenvolve a proposta
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* —Guimarães(1999) apresenta abrangente balanço de formulações inspiradas em Marx e contribui para estabelecer
os complexos vínculos entre as duas abordagens.
Parte 1
? —Essa passagem identifica um importante fenômeno na relação entre o desenvolvimento das ciências e o
desenvolvimento econômico em geral, pois Marx aqui sugere uma relação de retroalimentação posítiva, À literatura
moderna sobre as relações entre ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico identifica essa relação bidirecional.
Capitulo 1
A construção insttucional para
à aphcação tecnológica da ciência 3l
? —Aassociaçãoentre as duas obras de Marx é objeto de Rosdoisky (1968). Paula (2010) caracteriza os Grundrisse
como “o ensaio geral”,
* —Asoutrascircunstâncias são “grau médio de habilidade dos trabalhadores”, “a combinação social do processo
de produção”, “o volume e a eficácia dos meios de produção” e “as condições naturais” (p. 48).
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AGENDA ROSDOLSKY
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E conclui: “(...) com isso, a produção baseada no valor de troca colapsa” (p. 705-
706).
O capital como a “contradição em processo”, prossegue Marx, potencializa
uma oposição específica, porque, por
Outra demarcação está na seção dos Grundrisse que trata da “moderna proprie-
dade da terra”, que é associada à possibilidade de aplicação da ciência “pela primeira
vez” e ao desenvolvimento completo das forças produtivas (p. 276).
Em O capital essa linha de raciocínio é retomada em diversas passagens. Ao
comentar a transição da cooperação para a grande indústria, passando pela manu-
fatura, em relação ao processo de separação do trabalhador das “porencialidades
intelectuais do processo material de produção”, Marx considera que esse processo
se completa na grande indústria, “que separa do trabalho a ciência como potência
autônoma € a força a servir ao capital” (1867, t. 1, p. 283-284).
A maquinaria estabelece um novo patamar para a aplicação da ciência: “[Como]
maquinaria, o meio de trabalho adquire um modo de existência material que pres-
supõe a substituição da força humana por forças naturais e da rotina empírica pela
aplicação consciente das ciências da Natureza” (1867, t. 2, p. 17).
Em um ponto importante para a abertura permanente de novos setores que a
dinâmica tecnológica determina: “[Cada] progresso da química multiplica o número
de matérias úteis e as aplicações úteis das já conhecidas, e amplia assim, com o
crescimento do capital, sua esfera de atuação” (1867, t. 2, p. 182). Adiante: “(...)
ciência e técnica constituem uma potência independente da grandeza dada do capital
em funcionamento para sua expansão” (p. 182). Antes desse trecho, uma menção
a “fluxo ininterrupto da ciência e da tecnologia (t. 2, p. 182). Posteriormente, uma
observação: “Pode ser completada a transformação do processo de produção em
aplicação tecnológica da ciência” (p. 195).
Finalmente, em um trecho de “Resultados do processo de produção imediato”,
Marx discute como o capital aparenta incorporar a ciência:
S — Nesseartigo Rosenberg não utiliza os Grundrisse, o que comprova a permanência na obra de Marx dos temas
esboçados entre 1857-1858,
* — Esselongo desenvolvimento histórico pode ser identificado na revolução científica, que segundo Schuster (1990)
ocorre nos séculos XV a XVII! (Leonardo da Vinci e Newton são dois personagens centrais que estão nos limites
dessa revolução). Margaret Jacob (1988) e Suprinyak (2009) tratam das relações entre a revolução científica e a
Revolução Industrial, descrevendo padrões de interação entre ciência e tecnologia dispersos no tempo — padrões
que são radicalmente transformados após a emergência da produção de máquinas através de máquinas.
Capítuto 1 |
A construção institucional para |
a aphcação tecnológica da ciência | 35
º —A importância dessa mudança e a posterior difusão entre as principais grandes empresas das nações
desenvolvidas pode ser medida pela avaliação de Schumpeter sobre o futuro do capitalismo, Schumpeter (1942), a
partir da avaliação do papel das grandes empresas e de seus laboratórios de P&D na transformação da inovação
em atividade rotineira, sugere que esse sucesso do capitalismo determinaria a sua superação pelo socialismo,
? —Essas características distintivas estão resenhadas em Sicsú e Albuguerque (1998). Esse tema é retomado no
Capítulo 2.
1º A presença de Prêmios Nobel trabalhando em empresas é uma mostra da qualidade da atividade científica
nessas empresas. O trabalho que abriu a área de nanociência e nanotecnologia foi realizado no laboratório da IBM
em Zurique por G. Binning e H. Rohren, que inventaram o Scanning Tunneling Microscope (patente USPTO 4343993)
e ganharam o Prêmio Nobel de 1986.
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? —Um exemplo dos esforços e investimentos para essa consolidação é o LHC, o acelerador de partículas que
consumiu US$ 9 bilhões entre 1993 e 2008 (Revista Fapesp, n. 147, p. 18-27, maio 2008).
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não é realizada sem custos para a empresa (para o capital): gastos e investimentos
específicos são assumidos por empresas para viabilizar essa aplicação. Esses inves-
timentos também determinam importante metamorfose na natureza do trabalho
empregado nessas empresas, pois o conteúdo de trabalho intelecrual cresce de forma
significativa: em 2009, estavam empregados 5,4 milhões de pessoas em atividades
de ciência e engenharia nos Estados Unidos (NSB, 2012, p. 3-5), dos quais 59%
no setor for-profit (p. 3-5)."
Essa dinâmica torna a produção de máquinas cada vez mais especializada,
configurando um elemento estratégico para o desenvolvimento da economia capi-
talista, como a elaboração de Rosenberg (1976, p. 141-150) ressalta. Um resultado
dessa evolução foi o surgimento de um setor de “fornecedores especializados” na
taxonomia de padrões setoriais de progresso técnico proposta por Pavitt (1984).
A produção especializada de máquinas é parte da crescente complexidade de uma
divisão de trabalho interindustrial que caracteriza economias avançadas. Estudos
sobre a indústria de bens de capital (Mazzoleni, 1999) demonstram como ela
própria depende de conhecimentos e habilidades desenvolvidas em universidades
e centros de pesquisa. Além disso, há uma dinâmica singular, na qual se podem
perceber metamorfoses na própria indústria, dependente do desenvolvimento de
novas indústrias e do surgimento de demandas que podem gerar a transformação
de equipamentos não especializados em equipamentos especializados ao longo do
ciclo de vida de uma indústria (Klepper, 1997). AÀ produção interna de máquinas
e equipamentos em grandes empresas pode também ser transferida para outras (e
novas) empresas ao longo do tempo (Patel; Pavitt, 1995). Esse é um elemento cru-
cial nas metamorfoses das fronteiras das firmas. Tais transformações na estrutura
industrial são importantes para especificar a origem das máquinas que sustentarão
a transformação do local de trabalho ao longo do século XX. As máquinas que
impulsionaram a automação do processo produtivo foram produzidas por trabalho
de crescente conteúdo tecnológico. Ainda no século XIX, Marx menciona o uso de
conhecimentos das ciências mecânicas e químicas para a produção de máquinas.
Ao longo dos séculos XIX e XX, avanços científicos, como eletricidade, eletrônica,
novos materiais e ciências da computação, foram sempre incorporados na produção
de novas máquinas.
A generalização do ensino secundário e superior, na Alemanha e nos Estados
Unidos, apoia e viabiliza essas metamorfoses (o que implica ampliação da especia-
lização e do conhecimento do trabalhador coletivo). Para o processo de carching
up e forging ahead da Alemanha em relação à Inglaterra, no final do século XIX,
* —Essesmovimentos estão descritos como “reposicionamento do trabalho” em texto anterior (Albuguerque, 1996).
Capituio 1 ª
À construção institucional para |
à aplcação tecnologica da ciência |
Para Marx nos Grundrisse, a trajetória da aplicação da ciência à produção não era
ainda a rota principal. Ao colocar-se no centro dinâmico do sistema, multiplica o seu
potencial produtivo e inovador. As implicações dessa nova dinâmica são enormes.
O crescimento da força produtiva do trabalho, dado “o nível do desenvolvimento
da ciência e sua aplicabilidade tecnológica”, determina a possibilidade de enorme
geração de mais-trabalho com jornadas menores. Essa possibilidade técnica só é
viabilizada pela luta sindical e social nos países capitalistas centrais. Essa combina-
ção entre lutas sociais e a possibilidade técnica de extração de massas de mais-valia
maiores com jornadas menores determinou uma transformação estrutural básica,
captada pela elaboração de Celso Furtado na sua diferenciação entre o centro e a
periferia. Nos países centrais, argumenta Furtado, “a pressão social faz que a remu-
neração do trabalho acompanhe a elevação da produtividade física desse trabalho”,
donde a incorporação de parcelas substanciais da classe trabalhadora ao mercado
nacional (1981, p. 89). Ao contrário da periferia, onde a marginalização prosseguia
€ o mercado de consumo limitava-se às elites locais.
Essa observação introduz uma discussão sobre uma das forças constitutivas dos
sistemas de bem-estar social. Marx expõe a dinâmica que impulsiona o desenvolvi-
mento desses sistemas, em comentários sobre a relação entre o capital, a saúde e as
condições de trabalho. Para Marx, “o capital não tem (...) a menor consideração pela
saúde e duração de vida do trabalhador, a não ser quando é coagido pela sociedade
a ter consideração” (1867, t. 1, p. 215). Em relação à “jornada de trabalho normal”,
a sua criação é “o produto de uma guerra civil de longa duração, mais ou menos
oculta, entre a classe capitalista e a classe trabalhadora” (1867, t. 1, p. 236).
Portanto, é a luta social que estabelece um processo que conquista do capital
uma série de avanços sociais viabilizados pela aplicação da ciência à produção.
Esse processo envolveria, então, uma articulação entre possibilidades criadas pela
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AGENDA ROSDOLSKY
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2 —Aqui há uma outra conexão com as discussões relativas ao sistema financeiro, porque segundo Minsky (1986,
p. 22) uma das funções do big government é atuar como comprador (por meio de contratos governamentais).
* — O'Connor(1973, p. 123) descreve o Estado nos Estados Unidos no pós-guerra assumindo tarefas relativas ao
financiamento de pesquisas, entre outras tarefas novas.
1 —A partirdo trabalho de Narin, Hamilton e Olívastro (1997), Ribeiro et al. (2010) apresentam uma metodologia
e dados que demonstram empiricamente essa crescente dependência científica das tecnologias, um fenômeno
inicialmente fortemente influenciado pelo sistema de inovação americano, mas que está se tornando crescentemente
giobal,
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* —“Dados similares são apresentados por Thompson (1963, p. 365-366) e por Wrigley (1969, p. 172-173). Porter
(1998, p. 398-405) descreve as condições de saúde e trabalho nesses tempos, utilizando a obra de Engeis (A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra) como uma fonte. Wrigley (1969, p. 172-173) descreve a grande variação na
mortalidade em diferentes ambientes sociais durante a Revolução industrial. Entre os dados apresentados por ele,
em meados do século XIX a expectativa de vida nas piores partes de Liverpool e Manchester estava abaixo de 20
anos, enquanto seria de 40,2 anos na Inglaterra como um todo e 51 em Surrey.,
* Para uma revisão da literatura em relação aos sistemas de inovação da saúde, ver Albuquerque e Cassiolato
(2000).
Captulo 1
A construção institucional para é
a apheação tecnológica da ciência | 41
1 — Atipologia de Esping-Andersen (1980) - os três mundos do welfare capitalism — envolve a diferenciação entre
o modeio anglo-saxão (o mais mercantilizado e privatista), o continental (conservador e estratificado) e o social-
democrata (universalista, o mais desmercantilizado). Em todos os três modetos o setor público tem papei relevante.
** —“Segundo Esping-Andersen (1990, p. 91), esse era o caso para 70% dos adultos dessa faixa etária nos Estados
Unidos nos anos de 1890.
Capítuto 1
À construcão institucional para
4 aplicação tecnológica da ciência | 43
Essas passagens dos Grundrisse são comentadas por diversos autores, o que per-
mite organizar diálogos para ampliar a compreensão de aspectos do capitalismo
contemporâneo.
Os temas são a natureza do trabalho científico, a forma de apropriação pelo
capital dos produtos do trabalho científico, as metamorfoses do trabalho ao longo
do século XX e a natureza do capitalismo inaugurado pela aplicação da ciência à
produção. Os autores são Paul Virno (1992), Moishe Postone (1993),22 Ruy Fausto
** Penrose (1959) trata as grandes firmas como unidades de planejamento. Coase (1937, p. 31) afirma que “lem]
um sistema competitivo há um nível “ótimo' de planejamento”.
* Em Postone, há quatro problemas na sua elaboração que merecem ser melhor discutidos posteriormente: E
definição de “marxismo tradicional”; 2) a insistência na dicotomia entre produção de valor e a criação de riqueza material
€ a atribuição de um pape! central para essa dicotomia; 3) reconhecer as mudanças no capitalismo contemporâneo
(p. 12 e 39), mas não tratá-las de forma adequada (daí problemas para tratar da aplicação tecnológica da ciência);
4) pequena elaboração sobre a questão monetária.
42
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* “Rosenherg e Birdzel! (1986, p. xi) também chegam a considerar que o termo “economia mista” seria mais
apropriado para identificar a economia contemporânea.
2 — Édignodenotaque o capítulo de Arrighi (1994, p. 247-277) referente ao ciclo sistêmico de acumulação liderado
pelos Estados Unidos intituia-se “a dialética entre mercado e planejamento”.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Em uma nota que tem data de 2001, o autor observa que isso está no interior da
conceituação de Marx e “não na realidade atual”, da pesquisa básica e dos labo-
ratórios das grandes empresas (nota 149, p. 181), mas ele não desenvolve o tema.
Postone se aproxima dessa posição, ao enfatizar o papel criador de riqueza material
da ciência e da tecnologia, em oposição à produção de valor (Postone, 1993, p. 60
e 197) e à clivagem entre o trabalho humano direto e a produção de ciência e a
tecnologia (p. 339).ºº
A ciência e a tecnologia são fruto de trabalho humano. Ao contrário dos produtos
da natureza, clência e tecnologia são resultados de um trabalho bastante específico,
o trabalho intelectual. Como este ganha maior importância na medida em que o
capitalismo se desenvolve, há um conjunto de mudanças no mundo do trabalho:
um movimento geral de seu reposicionamento.* A identificação do processo de
reposicionamento do trabalho contribui para avaliar a questão de sua qualificação/
desqualificação no capitalismo do século XX.
A constatação de que a ciência seja produto de trabalho menral introduz um
conjunto de questões complexas para lidar com a natureza, o lugar e a relação
* —Para Postone, há uma “constituição histórica de capacitações produtivas gerais e modos de conhecimento
científico, técnico e organizaciona! que não são função e nem podem ser reduzidas a força, conhecimento e experiência
dos trabalhadores" (1993, p. 339).
? A identificação desse movimento geral de reposicionamento do trabaiho esté apresentada em texto anterior
(Albuquerque, 1998), em que há um debate com as concepções de Offe (1984) e Habermas (1983).
Capítulo 1
A construção insttucional para
à aplicação tecnológica da ciência ! 45
desse trabalho mental com o valor. Marx, nas Teorias da mais-valia (1974, v. 1, p.
339), ressalta uma singularidade em relação à ciência: como produto de trabalho
mental, o seu valor sempre está abaixo de seu valor, porque o tempo de trabalho
necessário para produzi-la (a ciência) não tem relação com o tempo de trabalho para
reproduzi-la. Ou seja, Marx refere-se a tempo de trabalho na produção como na
reprodução da ciência, mas ressalta que o singular é a desproporção entre ambos.*
Um problema para essa abordagem seria a identificação do trabalho que produz
valor com o trabalho manual. Rubin (1928) discute cuidadosamente o tema do
trabalho produtivo, explicitando que, para Marx, não há diferenças entre o traba-
lho físico e intelectual (p. 284) ou entre um trabalho que produza bens materiais
ou imateriais (p. 279 e 288). Há considerações de Marx sobre produção imarerial,
trabalho de artistas e professores (ver Teorias da mais-valia, v. 1, p. 403-404). Há
anotações sobre a separação entre trabalho manual e mental (engenheiros são os
profissionais citados) no processo material — o que “não impede que o produto
material seja o produto comum dessas pessoas”, que seriam trabalhadores produti-
vos (p. 405). Rubin não está discutindo o trabalho científico especificamente, mas
essas observações contribuem para o nosso tema. O que importa para a definição
do trabalho produtivo é se o capitalista comprou-o com o seu capital variável, “com
a finalidade de extrair mais-valia” (p. 279). Essa passagem sugere que um cientista
empregado por uma grande empresa não apenas produz ciência com o seu trabalho,
mas que o seu trabalho é produtivo.
Esses dois elementos -- a ciência como produto do trabalho humano e a natureza
produtiva (geradora de valor) do trabalho científico realizado em empresas privadas
— são importantes para a construção de um quadro teórico capaz de lidar com o
significado da ciência e da tecnologia para a dinâmica capitalista.
Há outros problemas não menos importantes, como os decorrentes da sua locali-
zação institucional: o peso de instituições públicas e estatais como local privilegiado
para o trabalho científico traz novas questões relativas à sua posição na produção
do valor. De acordo com o raciocínio de Rubin, não produzem valor. Têm, porém,
uma posição no sistema de inovação que coloca outros problemas para a produ-
ção global de valor na sociedade: são questões relacionadas às particularidades da
absorção dos conhecimentos científicos gerados nesse setor e ao seu financiamento.
* =Em uma nota sobre Hobbes, nas Tearias da mais-valia, Marx fornece pistas sobre o significado do trabalho
científico em termos da teoria do valor: “O produto do trabalho intelectual — a ciência — está sempre muito abaixo
do valor. É que o tempo necessário para reproduzi-la não guarda em absoluto proporção alguma com o tempo de
trabalho reguerido na sua produção original. Um colegial, por exempio, pode aprender em uma hora o teorema do
binômio" (v. 1, p. 339).
Capítulo 1
A construção institucional para
a aphcação tecnológica da ciência | 47
? —Anaturezaespecialdos investimentos em P&D em gera! e em pesquisa básica por grandes empresas é discutida
por Rosenberg (1990).
46
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? “No esquema didático apresentado por Marx em sua Crítica do Programa de Gotha, poderia ser interpretado
como um tópico relacionado tanto às deduções para a ampliação da produção como as relacionadas à educação,
Essas deduções do mais-trabalho, por sua vez, alimentam o poder de criação de massas de mais-trabalho com
menor jornada a partir do maior poder das forças produtivas (ver Capítulo 7).
48
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuqguerque
? — Emnotaderodapé, Postone menciona Braverman (1979) e Harvey (1982), buscando discutir “se o capitalismo
tem uma trajetória histórica" (Postone, 1993, p. 345). Aparentemente, Postone é influenciado pela elaboração de
Braverman. A crítica à sua elaboração — por se concentrar no chão de fábrica, não captar as mudanças no restante
da fábrica e na produção de máquinas — está apresentada em trabalho anterior (Albuquerque, 1996, p. 24-34).
Além disso, Braverman focaliza setores estabelecidos (fnos quais gerências podem absorver conhecimentos dos
trabalhadores), e não novos setores, nos quais o conhecimento vem direto de aplicações tecnológicas da ciência ,
portanto, não pode ser expropriado de trabalhadores fabris.
Caprtulo 1
A construcão institucional para
a aphcação tecnológica da ciência | 49
e considera que “[este] trabalhador global explicitamente inclui, para Marx, enge-
nheiros, tecnólogos e até mesmo gerentes”.ºº
Além dos empregados trabalhando em laboratórios, o processo de constituição
da empresa industrial moderna, segundo Chandler (1977; 1992), envolve um forte
processo de ampliação de capacitação organizacional. Para esse autor, uma vari-
ável decisiva para o aproveitamento de economias de escala e escopo depende de
conhecimento, qualificação e trabalho em equipe, o que torna as empresas simul-
taneamente mais intensivas em capital, energia e gerência (Chandler, 1992, p. 3) À
profissionalização de engenharias e o surgimento de departamentos de engenharia
mecânica em institutos e universidades são uma expressão da demanda apresentada
por empresas sobre o sistema educacional (Chandler, 1977, p. 282). Esse quadro não
parece retratar um processo de desqualificação do trabalhador coletivo. Ao contrá-
tio, para lidar com tecnologias mais complexas, novas demandas são colocadas ao
conjunto dos trabalhadores empregados em uma empresa, em especial nas empresas
pioneiras descritas por Chandler (DuPont, GE, GM etc.). Rosenberg (2000) retrata
o lado das universidades, avaliadas como endógenas à economia.
Essa avaliação, a partir da narrativa de Chandler, tem implicações na teoria
do valor, na medida em que um dos movimentos do reposicionamento do traba-
lho é a substituição de trabalho simples (desqualificado) por trabalho complexo
(qualificado).ºº Como Rubin (1928) discute detalhadamente, o crescimento da
especialização do trabalhador tem implicações no valor transferido ao produto, que
pode crescer. Conforme esse autor, uma das diferenças entre o trabalho simples e o
qualificado está “no maior valor dos produtos produzidos pelo trabalho qualificado”
(p. 176). Numa discussão sobre a incorporação do treinamento dos produtores,
Rubin observa que “o trabalho dispendido no treinamento de produtores de uma
dada profissão entra no valor do produto do trabalho qualificado” (p. 182). Há,
entretanto, problemas adicionais para profissões “de qualificações mais elevadas e
maior complexidade do trabalho”, a engenharia, no exemplo dele. Nessas profissões,
“o treinamento de trabalhadores é usualmente realizado através de uma seleção, a
partir de um número de estudantes mais capacitados”. Por isso,
?? “Mandel traduz o termo Gesamtarbeiter para “collective worker" e “global worker" (1978, p. 945).
* Marx(1867,t. 1, p. 142): necessidade de “determinada formação ou educação”, “conforme o caráter mais ou
menos mediato da força de trabalho, os seus custos de formação são diferentes" (p. 142).
Capitulo À
A construção institucional para
a aptlicação tecnológica da ciência | 51
* — Klepper (1997) descreve como esse processo ocorreu em diversas indústrias no século XX, e a indústria
automobilistica nos Estados Unidos é o caso típico de um padrão de evolução industrial. Para uma contextualização
da elaboração de Kiepper, indicando uma maior variedade de padrões de evolução industrial, ver Malerba e Orsenigo
(1996). Grossmann (1929, p. 217-218) avalia esse processo de abertura de novos setores industriais como uma das
contratendências à queda da taxa de lucro.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Esse processo é também dinâmico, pois, segundo Rubin, “a teoria do valor explica
(...) a causa do elevado valor do trabalho altamente qualificado bem como as modifi-
cações desses valores” (p. 187). AÀ queda nos “dispêndios de trabalho necessários para
o treinamento numa dada profissão” leva a uma queda no “valor dos produtos desta
profissão”. Existe uma dinâmica ao longo do tempo, pois as revoluções tecnológicas
estão relacionadas ao surgimento de novas profissões e novos gastos de treinamento,
que demoram algum tempo até a sua generalização. Rubin chega a mencionar
um “prêmio pelo tempo dispendido em adquirir qualificações” (p. 188). Ao não
captar esse movimento, Postone termina associando a tecnologia e a diminuição
da capacidade de produção de valores. A mediação desse processo, por meio dos
impactos sobre a qualificação do trabalho, inverte a avaliação apresentada por
Postone (ou exige a incorporação de novas dimensões na análise).
A construção do Sistema Nacional de Inovação tem como corolário o movimento
geral de reposicionamento do trabalho que, necessariamente, contém uma elevação
nas habilidades e qualificações do trabalhador coletivo?? — é o trabalhador coletivo
que aperfeiçoa o “estado geral da ciência” e viabiliza a sua “aplicação tecnológica”.
Finalmente, um elemento importante do reposicionamento do trabalho é a
produção de máquinas e equipamentos de automação da produção. Por isso, Pavitt
(1984) atribui tanta importância ao setor de “fornecedores especializados”, que
incorpora desde a produção de máquinas até empresas especializadas na produção
de software (elemento essencial para a automação da produção).** Máquinas são
produzidas por máquinas impulsionadas por trabalho humano, e o montante
de valor acumulado em capital fixo deve crescer. O trabalho humano em setores
especializados na produção de máquinas e de robôs está por trás dos processos de
automação — outra manifestação do processo de reposicionamento do trabalho.
reduzir todas essas fases distintas a uma homogênea “pós-grande indústria” pode
ser uma simplificação exagerada. As ondas longas, como uma expressão da luta
entre a tendência e as contratendências à queda da taxa de lucro ao longo do tempo,
sintetizam essas diversas metamorfoses do capitalismo, explicitando o que muda
e o que não muda na dinâmica capitalista. À ênfase nos movimentos da taxa de
lucro no longo prazo é uma explicitação do que não muda: a presença do lucro e
da busca dos superlucros como um elemento essencial do sistema.
* —A discussão sobre a elaboração de Habermas e Offe, que se concentram nos novos problemas, foi realizada
em trabaiho anterior (Albuguerque, 1996).
Capitulo 1
A construção 1mstitucional para
à aplicação tecnológica da ciência | 55
O sistema de crédito, embora não mencionado nessa passagem, tem entre suas
funções exatamente garantir essa fluidez do processo de reprodução de capital.
Nas páginas do segundo volume de O capital, essa relação é apresentada de forma
abrangente. Há nesse tema uma nova articulação entre os Grundrisse e o capítulo
27 do terceiro volume, no qual Marx anota como uma das funções do crédito na
produção capitalista a “diminuição dos custos de circulação” (1894, t. 1, p. 331)*
Em terceiro lugar, há uma referência de Marx ao esforço de confinar as forças
da ciência e da cooperação social “no interior dos limites requeridos para manter
o valor já criado como valor” (Marx, 1857-1858, p. 706). O sistema de crédito, na
elaboração de Marx, tem um papel estratégico para a manutenção do valor criado
como valor, por meio de sua contribuição aos processos de metamorfose das mer-
cadorias — acelerando os processos de conversão de M-D e D-M, através de seu
papel de unificador de fundos de reserva dispersos entre os diversos capitalistas
individuais, através de sua contribuição ao processo de transformação de dinheiro
em capital (via empréstimo de capital monetário para capitalistas industriais). O
crescimento do processo de acumulação, por meio das forças produtivas colocadas
em movimento leva à crescente acumulação de massas monetárias que devem ser
mediadas pelo sistema de crédito. Há também o desenvolvimento de novas insti-
tuições financeiras (ou novas funções, como seguros, fundamentais para garantir
máquinas cada vez mais caras).º
Em quarto lugar, ao considerar o “estado geral da ciência e da tecnologia” como
parte das “condições gerais de produção”, o setor público assume novas funções,
o que tem como pré-requisito um aperfeiçoamento das finanças públicas. Estas,
por sua vez, estão relacionadas ao sistema público de crédito, à dívida pública e ao
desenvolvimento do Estado.
As contribuições do sistema de crédito para a dinâmica capitalista de aplicação
da ciência à produção são acompanhadas por uma outra questão decisiva: o papel do
capital por ações, indicado por Marx nos Grundrisse como a “forma mais adequa-
da” do capital (p. 657-658). O capital por ações se consolida no século XX, como
sociedade anônima, viabilizando tanto organizacional quanto financeiramente o
trato das questões complexas determinadas pela aplicação da ciência à produção
pelas grandes empresas. Minsky (1986, p. 365) apresenta as sociedades anônimas
(corporations) como a forma dominante de negócios atualmente, embora “como
* — Krátke (2000, p. 14-15) chama atenção para a relação entre o crescimento de capital fixo, sistema de crédito e
a emissão de títulos para assegurar tais investimentos - tema que está em Marx (1885, p. 120).
%º — Seguro seria uma (outra) forma de tentar manter o valor já criado como valor (Marx, 1885, p. 130).
54
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
[O] valor do capital fixo é reproduzido apenas na medida em que ele é usado
no processo de produção. Através do desuso ele perde seu valor de uso sem
o seu valor passar para o produto. Por isso, quanto maior a escala na qual o
capital fixo se desenvolve (...) mais a continuidade do processo de produção ou
o fluxo constante de reprodução se torna uma condição externa compulsiva
(que compele) do modo de produção fundado no capital (p. 703, grifo
no original).
Sistema financeiro e
sobrevida da produção fundada no valor
? —Uma observação preliminar sobre o plano de Marx para lidar com o crédito: segundo ele, está fora do escopo
da obra uma análise detalhada do “sistema de crédito e dos instrumentos que ele cria”, além da conexão entre o
crédito comercia! e bancário com o crédito público “fica(r] fora da área examinada” (1894, t. 1, p. 301).
Capítulo 2
Sistema finançerro e
sobrewida da producão fundada no vator | 59
? —A associação entre os problemas apresentados pelo capítal fixo à questão do financiamento por Marx é
preservada em textos diversos. Freund (1970, p. 21-22) afirma: “Na verdade, é a injeção de capital de fora no
setor empresaria! que financia a maior parte do incremento do investimento em capital fixo.” E Minsky (1986,
p. 352) escreve: “(...) sociedade anônima (...) um instrumento para estender o financiamento seguro para ativos
de capital de longa duração (...).”
? —“NoPrefáciode 1894, Engels descreve a condição dos manuscritos de Marx, e detalha que o capítulo 27 pôde
ser reproduzido “quase totalmente de acordo com o manuscrito", ao contrário de outros capítulos da seção 5
(1894, t. 1, p. 7-8).
60
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? —Ações como um título e como representante do capital fícticio. Marx lista, no capítulo 25, “papéis portadores
de juros" — “títulos públicos e ações de todas as espécies” (1894, t. 1, p. 304); menciona propriedade “na forma de
ação" (1894, t. 1, p. 334). No capítulo 30, trata de ações: “títulos de propriedade sobre empresas por ações, ferrovias,
minas etc””, “títulos sobre capítal real”, que “apenas dão direitos a uma parte da mais-valia produzida pelo mesmo”,
“duplicatas de papel do capital real” e, o que é importante para o raciocínio deste capítulo, “a acumulação desses
papéis expressa a (,..) ampliação do processo real de produção” (1894, t. 2, p. 20); crises e desvalorização de capital
fictício (1894, t 2, p. 31). Hilferding (1910, p. 135), em outra fase, específica que bolsas negociam títulos de dois
tipos: 1) títulos de dívidas (letras de câmbio como principal expoente); 2) títulos que significam rendimentos (títulos
de juro fixo: dívida pública e obrigações; títulos de dividendos: ações). A “esfera da verdadeira atividade da boisa é
o mercado de títulos a juro ou do capita! fictício” (p. 138).
Capítulo 2
Sistema financerro e
sobrewida da produção fundada no vator | 61
de reprodução “até os seus limites extremos” (p. 335), porque “grande parte do
capital social é aplicada por não proprietários do mesmo, que procedem, por isso,
de maneira bem diversa do proprietário, que avalia receosamente os limites de seu
capital privado” (p. 335). Essa maior ousadia é necessária para lidar com um tipo
de investimento estratégico como o gasto com P&D — investimento carregado de
incerteza, por definição.
Os editores da MEGA 2 observam que “Marx referiu-se apenas superficialmente
à Bolsa de Valores, seja como instituição seja sobre o papel por ela desempenhado”
(IIl. 1á, p. 898), embora existam nos volumes 1 e 2 referências a ferrovias, centra-
lização e concentração de capital.
O interesse de Engels sobre a bolsa de valores pode ser identificado em duas
passagens, separadas por mais de 10 anos. Em carta a Bernstein, que tinha uma
especial atenção ao tema, Engels (Marx; Engels, 1975, v. 46, p. 433-434) comen-
ta o papel das bolsas de valores como estimuladoras da ampliação da escala das
empresas, nos Estados Unidos:
? Chandier (1990, p. 289) relata a formação da United Alkali, um estágio intermediário para a criação da IC]
(1999, p. 357).
Caprtulo 2
Sistema financeiro e
sobrevida da produção fundada no valor 65
(1986, p. 189-210) discutem a transição de sociedades por ação (joint stock) para
sociedades anônimas (corporation): as sociedades por ações como ancestrais da
moderna sociedade anônima (p. 195) -- com o exemplo da Standard Oil, o primeiro
truste, mas o último a se transformar em sociedade anônima (p. 202). Chandler
(1977, p. 319) nota a transição para trustes:
* — Ainterpretação de Minsky sobre a elaboração de Keynes oferece uma leitura similar dessa gênese simultânea.
Segundo Minsky (1975, p. 130), “em termos de portfólio, a produção de um incremento no estoque de capítal é
equivalente à criação de uma adição ao estoque de ativos financeiros (...) Isso implica que o investimento deixa atrás
um resíduo de instrumentos financeiros apropriados.”
* Em trabalho anterior (Paula; Cerqueira; Albuquerque, 2001), a elaboração de Hiiferding foi contextualizada,
e a influência da acumulação de capita! fictício sobre a dinâmica do capital real foi discutida sob a forma de “três
movimentos entre o capítal real e o fictício”: 1) criação de capitai fictício; 2) acumulação de capital fictício; 3) capital
ficticio impacta o capital real.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* — Paulaetal.(2001) propõem uma reavaliação das contribuições de Hilferding, com a sugestão de que a contribuição
original mais importante está na parte segunda do livro (*A mobilização de capital. O capital fictício”). Hilferding tem
sido corretamente criticado por generalizar indevidamente o modelo alemão de articulação entre empresas, bolsas
e bancos, insistindo na supremacia dos bancos. Uma interpretação mais aberta de Hilferding permite identificar sua
principal contribuição como localizada na articulação entre as sociedades anônimas e as bolsas de valores, como
esta seção enfatiza. Na verdade, como Michie (1992, p. 664-665) aponta, as bolsas de valores diferem entre si,
inter alia, pela forma como os bancos participam dos seus negócios. No modeio alemão eles puderam ser membros
das bolsas, posição não obtida por eles em outras bolsas. Ao se prestar atenção a este ponto, é possíve! utilizar a
contribuição de Hilferding para atém da descrição do caso específico da Alemanha. Por exemplo, Henrik Grossmann,
que avalia criticamente a posição de Hilferding sobre a relação entre o capita! bancário e o industrial, ressalta que a
emissão de ações é um mecanismo importante para as operações financeiras de grandes grupos industriais (1929,
p. 369-373). Nas elaborações mais recentes sobre arranjos financeiros, a questão que diferencia esses arranjos
não é a propriedade das ações, mas quem detém essas ações e através de quais instituições elas são negociadas
(Dore; Lazonick; O'Suilivan, 1999).
68
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
7 —Nessa passagem, Hilferding (1910, p. 122) comenta um movimento possível, o de “retirada” de capital de uma
empresa que se transforma em sociedade anônima, pois com apenas a metade do capital da empresa o controle de
uma sociedade anônima estaria garantido. Esse movimento descrito por Hilferding é uma das vias para a propagação
inícial das sociedades anônimas nos Estados Unidos, como será discutida no próximo capítulo (ver Navin; Sears,
1955, p. 123).
* Para uma articulação institucional entre as elaborações de Marx, Simmel, Knapp, ver Albuquerque (20102a).
Nesse trabalho, o comentário de Keynes sobre Knapp permite uma interessante conexão institucional que toma por
referência as metamorfoses no dinheiro. Nesse capítulo, a sugestão de diálogo entre Keynes e Marx realiza-se via
Hiiferding, através da identificação de mudanças na estrutura financeira e no papei das bolsas de valores.
Caprtuto 2
Sistema financeiro e
sobrevida da produção fundada no valor | 69
deposits (p. 30-31) em sua análise do dinheiro bancário (bank money). Por outro
lado, há uma outra divisão, de acordo com a sua utilização, que Keynes sugere
entre os depósitos bancários: há a circulação industrial e a circulação financeira
(p. 217).º Para Keynes, finance é “o negócio de manter e trocar títulos de riqueza
existentes (...) incluindo transações de bolsas de valores e de mercados monetários,
especulação e o processo de transferência de poupanças e lucros correntes para as
mãos dos empresários” (p. 217).
A mudança institucional mais importante detectada por Keynes estaria na
relação entre as duas funções básicas da bolsa, segundo a avaliação de Hilferding:
emissão de ações e especulação.?º O que se destaca na análise de Keynes é a pre-
ponderância da atividade de especulação frente à atividade de emissão de ações. Na
discussão sobre o volume da circulação financeira, Keynes ressalta — aqui, de forma
similar à de Filferding — que o volume das transações financeiras “não tem relação
direta com o volume do produto” (p. 222), além de destacar uma clivagem entre o
comércio com esses títulos e a taxa com que eles são criados. Ou seja, a atividade
do mercado secundário de títulos não está diretamente conecrada à atividade do
mercado primário. AÀ novidade descrita por Keynes está na relação entre os dois
conjuntos, dado o crescimento do peso relativo dos títulos negociados em bolsa em
relação à atividade de emissão: “Em uma moderna comunidade equipada com bolsa
de valores a rotação de capital fixo correntemente produzido é uma proporção bem
pequena da rotação total de títulos” (1930a, p. 222). À ampliação da acumulação
de capital fictício (o volume de ações como títulos negociados em bolsa) nas três
primeiras décadas do século XX estabelece um conjunto de influências recíprocas
entre o capital real e o capital fictício. À crise de 1929 foi uma demonstração dos
efeitos de movimentos de desvalorização do capital fictício sobre o capital real. Esse
contexto institucional distinto permite a Keynes, ao discutir a divisão do estoque
monetário entre duas circulações — a “financeira” e a “industrial” —, investigar como
elas se relacionam e se influenciam murtuamente.
Esse novo arranjo institucional, com as sociedades anônimas e as bolsas de
valores, oferece mais flexibilidade para as empresas que podem financiar a sua
expansão através de “lucros retidos”. Keynes explica que essa retenção de lucros
* —Keynes analisa uma estrutura institucional legada pela efetiva transformação nas sociedades anônimas como
forma predominante de organização industrial e a ampliação do papel das bolsas de vatores no capitalismo. Ou
seja, um formato mais avançado do que o analisado por Hilferding (1910). Como o Capítulo 3 menciona, no caso
dos Estados Unidos será entre 1890 e 1914 que o predomínio das sociedades anônimas como organização típica
de empresas industriais irá se impor.
* Berle, naintrodução de 1967 (Berle; Means, 1987, p. 14), anota o novo papel das bolsas de vatores, a partir de
uma avaliação de mudanças na relação “especulação X mobilização de capital”,
Capituto 2
Sistema financeiro e
sobrevida da produção fundada no vator | 71
?! Lucroretido é um corolário de dividendo, categoria econômica que pressupõe a forma sociedade anônima, Por
isso, toda a análise de Chandler, que destaca o papel dos lucros retidos, depende da forma sociedade anônima
discutida por Hiferding.
? Essepiconofinanciamento de empresas por emissão de ações é mencionado no Capítulo 3, a partir de dados
de O'Sullivan (2007, p. 168), que mostra como as emissões de ação alcançaram 6,5% do PNB em 1929.
? Os gastos governamentais estão divididos em quatro categorias: 1) emprego no governo; 2) contratos
governamentais; 3) transferências; 4) juros da dívida pública (Minsky, 1986, p. 22). Os títulos da dívida pública,
necessários para o financiamento do big government, são um dos pilares da nova etapa da acumulação financeira
sugerida por Chesnais (2004, p. 21).
72
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
AÀ discussão dessas características técnicas dos ativos de capital pode ser esten-
dida para avaliar a especificidade do P&D como investimento — os seus problemas
adicionais em relação ao já complexo investimento em capital fixo. As soluções
para esse problema partem da capacidade adicional de investimento das socieda-
des anônimas (capacidade para lidar com incerteza) e chegam a envolver diversas
políticas públicas (e recursos estatais) para lidar com essas características específicas
dos investimentos em P&D (em termos de incerteza quanto aos resultados, cálculos
financeiros, questões de apropriabilidade etc.). Nessa discussão está uma importante
conexão teórica entre sistemas financeiros e sistemas de inovação.
Em Minsky, a instabilidade financeira advém de uma maior complexidade do
sistema financeiro (necessidade de compartibilidade entre vencimento de dívidas de
curto e longo prazo — “descasamento de arivos”). Esse desenvolvimento em termos
de complexidade é uma espécie de extensão dos problemas relativamente simples
entre os portadores e pagadores de letras de câmbio. Agora, no tempo de Minsky,
transforma-se em acertos entre portadores de títulos de diversos prazos de maturação.
Isso porque o desenvolvimento do sistema financeiro envolve a criação de instru-
mentos financeiros diversos, com períodos de maturação dificilmente coincidentes
(empréstimos bancários de curto prazo, títulos com vencimento de médio e longo
prazo, ações) e compromissos financeiros também de prazos diversos (pagamento
de títulos, pagamento de dívidas, pagamento de dividendos etc.). Surgem diversos
problemas relacionados a “descasamento de ativos” (Carvalho et a/., 2001, p. 404).
O que no passado era um problema de acerto em vencimento de letras de câmbio
transforma-se em um complexo problema de descasamento de ativos, dada a maior
complexidade do mercado financeiro, necessária para responder às novas tarefas
advindas da aplicação tecnológica da ciência.
O arranjo institucional seguinte é descrito por Chesnais (2004; 2006). Este é
representativo de interpretações que sustentam a existência de um “novo regime de
acumulação financeira”. A interpretação é controversa, embora seja extremamente
útil para sistematizar o peso de novos agentes financeiros no capitalismo atual. Para
Chesnais, na caracterização de uma “nova configuração do capitalismo”, as formas
de organização são as empresas multinacionais e as instituições financeiras (2004,
Capiítulo 2
Sistema financeiro e
sobrevida da produção fundada no valor 4 73
p. 15). Um dos pontos fortes de sua análise é a atenção para o novo salto na inter-
nacionalização das atividades econômicas, produtivas e financeiras. Relativamente
às instituições financeiras, Chesnais trabalha com dados da Organization for
Economic Cooperation and Development (OECD, 2002) para indicar o peso de
novos atores institucionais: fundos de pensão, fundos mútuos, empresas de seguros,
bancos que gerenciam sociedades de investimento, Esses novos atores utilizam os
“fundos não reinvestidos das empresas e as rendas não consumidas das famílias”
como “trampolim de uma acumulação financeira” enorme (p. 16). Na elaboração
de Chesnais, o progresso da acumulação financeira está ligado à ação estatal de
liberalização dos movimentos de capitais e à interconexão internacional dos merca-
dos financeiros. Desde 1950, segundo ele, sucederam-se cinco etapas do processo
de acumulação financeira (p. 17-24). À última delas é caracterizada pelo peso dos
investidores institucionais e pelos impactos derivados desse peso sobre a dinâmica
capitalista: os mercados de ações se transformam em centro de arividade, surgem
elaborações sobre “governança empresarial, formas de pressão dos mercados sobre
grupos industriais”. Nesse regime, haveria um “regime específico de propriedade
de capital” (p. 29), caracterizado como “patrimonial”, dominado pela figura do
proprietário de ações (p. 29). Outra mudança seria relativa à relação entre “finan-
ças e indústria”, dado o surgimento da “exterioridade das finanças em relação à
indústria” — que seria caracterizada pela restauração “do poder das finanças” no
interior das empresas (p. 34-37).
Nesse novo arranjo, Carvalho er 2/. (2001, p. 404) sugerem que “a existência
de investidores institucionais não só facilita a existência de mercados de capitais
robustos” como também “estimula o aumento da profundidade e eficiência dos
mercados de capitais”.
* — Os problemas para lidar com a natureza dos investimentos em capital fixo, que foram percebidos por Marx e
ressaltados por Minsky, são aprofundados quando uma empresa pretende realizar investimentos em P&D. Rosenbera
(1990) discute esses problemas e Sicsú e Albuquerque (1998) discutem implicações desses problemas a partir da
elaboração de Minsky.
76
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
reforçados por três fatores: 1) maior riqueza dos Estados europeus; 2) elasticidade
do moderno sistema de crédito; 3) aparição de cartéis industriais. Dessas mudan-
ças deriva a pergunta de Bernstein: até que ponto elas limitam as perturbações,
“de modo que as crises comerciais gerais, semelhantes às mais antigas, tenham de
ser encaradas como improváveis?” (p. 78). No raciocínio mais geral de Bernstein,
o desenvolvimento do sistema de crédito combina-se com o desenvolvimento de
organizações patronais e dos meios de comunicação, além da persistência das classes
médias e da melhoria da condição de vida da classe trabalhadora em função das
lutas sindicais (temas que ele discute em capítulos anteriores).
A intervenção de Rosa Luxemburgo (1899) ressalta que o sistema de crédito tem
múltiplas funções, destacando a de “aumentar a capacidade de extensão da produção
€ facilitar a troca” (p. 14). Ao lado dessas funções, o “crédito age diversamente na
formação das crises” (p. 15). Ao invés de mitigá-las, o crédito é “um meio particu-
larmente poderoso de formação de crises” (p. 15). Ao invés de meio de adaptação
do capitalismo, o sistema de crédito “reproduz todos os antagonismos fundamentais
do mundo capitalista, acentua-os, precipita o desenvolvimento, fazendo correr o
mundo capitalista para a sua própria supressão, isto é, para o desmoronamento” (p.
16). Entre as críticas mais gerais de Rosa Luxemburgo a Bernstein está o “abandono
da teoria do desmoronamento” (p. 71).5
Bernstein responde a Rosa Luxemburgo, criticando-a por não considerar um
dos lados mencionados por Marx. Bernstein (1899, p. 79) ressalta “as características
duplas do sistema de crédito” para insistir que Rosa Luxemburgo refere-se “exclu-
sivamente ao aspecto destrutivo do sistema de crédito”.
A importância desse debate é a inauguração, entre leitores de Marx, de discus-
sões sobre a interpretação da natureza do crédito e dos impactos que apresenta esse
sistema em evolução.
produção capitalista. Para Marx, essa associação é importante, pois “nessas empresas
o capital constante é máximo em relação ao capital variável” (1894, t. 1, p. 182).
As sociedades por ações atuariam como contratendência à queda da taxa de lucro
porque essas empresas “são ainda viáveis quando meramente proporcionam juros”
(1894, t. 1, p. 332). Por exemplo, Marx apresenta as estradas de ferro (p. 182): como
sociedades por ação, não entrariam na equalização da taxa geral de lucro — “caso
entrassem, esta então cairia muito mais” (p. 182).º
Hilferding (1910, p. 118) afirma que a sociedade anônima “está sujeita às mesmas
leis de formação dos preços do que as empresas individuais”. Para Hilferding, o
diagnóstico de Marx baseava-se nas empresas ferroviárias de seu tempo, mas com
“a difusão da sociedade anônima, seu lucro tem de contribuir para a estabilização
da taxa geral de lucro, da mesma forma como na empresa individual” (p. 118).
Grossmann (1929, p. 241) reconhece “o aumento do capital acionário” como uma
contratendência importante, Ele considera que a limitação de uma parte importante
da classe capitalista aos juros normais (dividendo) viabiliza a formação de um fundo
de reserva para fins de acumulação que permitiria prosseguir a acumulação por um
tempo mais prolongado, o que constituiria um motivo para debilitar a tendência
à derrocada (p. 241).
Steindl (1952, p. 157-174), por sua vez, discute o caso dos Estados Unidos no
pós-guerra, um cenário histórico mais recente do que o avaliado por Hilferding e
Grossmann. Steind] avalia um cenário que alcançou o estágio descrito por Keynes
(1930), caracterizado pelo papel crescente da atividade de especulação. Esse horizon-
te histórico permite a esse autor avaliar o “efeito líquido do sistema de capital por
ações”, que tem no ano de 1929 um marco. Segundo Steindl, até 1929 o efeito do
sistema de capital por ações foi estimulante (p. 173) e, a partir de então, depressivo.
O seu diagnóstico, portanto, indica um ponto de inflexão:
O sistema de capital por ações serviu para retardar os efeitos da taxa de lucro
em declínio, porém, a partir de certo ponto, já não podia exercer essa influên-
cia. O reverso da medalha, portanto, ficou exposto: já não havia emissão de
ações, mas a criação de poupanças externas, por meio de dividendos elevados,
continuava (Steindl, 1952, p. 173).
A evolução das sociedades por ações para sociedades anônimas e todas as mudan-
ças institucionais relacionadas a ela — novo papel das bolsas de valores, crescimento
do capital fictício e das instituições para a sua administração — contribuem para que a
aplicação da ciência à produção se desenvolva. À instituição do venture capital é uma
expressão desse longo desenvolvimento, na medida em que a sua origem pressupõe a
sofisticação existente tanto na dimensão tecnológica como na dimensão financeira.
Essas transformações estruturais impactam a operação da lei do valor
(Preobrajesnky, 1926). Em primeiro lugar, toda a ampliação do Estado (big
government é um termo-chave aqui) estabelece restrições à operação dessa lei. Em
segundo, Harvey (1982) sugere a mudança do lócus da competição, atribuindo ao
mercado de capitais um lugar mais importante. Em terceiro lugar, Arrighi (1994,
p. 26) menciona as “altas finanças” e sua esfera como o “antimercado”, enquanto
Braudel (1979, p. 197) define a camada do poder e do dinheiro como a “zona do
contramercado”. '
Porém, o sistema de crédito, ao conter o colapso do valor, introduz novos pro-
blemas. A “eliminação das medidas” oferecida pelo desenvolvimento do sistema de
crédito e do sistema financeiro é provisória e temporária: os problemas reaparecem
de outra forma, em outro lugar. Essa dinâmica provoca o aparecimento de novos
atores e instituições, sempre incapazes de eliminar a raiz das crises — o que ocorre
é a mudança da natureza das crises.
O resultado é um quadro atualizado da mesma ambiguidade apresentada por
Marx em relação ao sistema de crédito: por um lado, expande as forças produtivas;
por outro, abre novas possibilidades de crises.
Reflexões de autores dedicados ao tema monetário-financeiro sugerem, cons-
cientemente ou não, possíveis articulações com dinâmica de longo prazo. Minsky,
a partir da sua elaboração sobre as fontes da instabilidade financeira no capitalismo,
desenvolve um raciocínio que contém uma dinâmica de mudanças estruturais
sucessivas, impulsionadas por reformas que respondem a crises. Segundo ele,
Capítulo 2
Sistema financeiro e
sobrevida da produção fundada no vator 1 81
nesse sentido, a crise serviu como um lembrete útil de como a relação intrin-
cada, instável, no final das contas autocorretiva, entre o capital fictício, o
capital portador de juros e o capital industrial é a mais importante força na
dinâmica de onda longa do nosso sistema econômico (1994, p. 320).
Metamorfoses do capitalismo
Capítulo 3
Engels sobre esse ponto, a partir de comentários de Engels no Vorwaãrts em 1878, nos
quais destaca que a partir de então determinados meios de produção e de transporte
capital-intensivos poderiam ser organizados apenas através de sociedade por ações
(p. 455). Engels, em nota acrescentada ao capítulo 27 do terceiro volume, comenta
como, nos Estados Unidos, as bolsas de valores constituíram-se um campo para o
movimento de criação de trustes (1894, p. 569).!
A terceira razão é o interesse de Marx por acontecimentos importantes que
associam o desenvolvimento industrial com esferas financeiras nos Estados Unidos.
Isso pode ser exemplificado por um recorte de jornal que Marx colou na página 83
do caderno que está na caixa B108, dos Arquivos Marx e Engels do International
Institute for Social History (IISH), de Amsterdã.? Nesse recorte, uma matéria do
jornal Standard, de 4 de outubro de 1868, sobre “The Great Eire Railway War”,
na qual os personagens são Belmont, Lucke, Gould e Fisk, em uma disputa sobre
“açoes ordinárias”. Essa ferrovia e esses personagens estão presentes tanto em um
livro sobre desenvolvimento industrial (Chandler, 1977, p. 149) quanto em outro
sobre a bolsa de Nova York (Geisst, 2004, p. 59). No caderno arquivado na caixa
B109, Marx organiza suas resenhas de leituras do The Economist e do The Money
Market Review, colocando sob o tópico dos Estados Unidos temas como “finance”,
“banking”, “American Money Market”, “US Banks” e “US railtoads”.
O desenvolvimento do país no final do século XIX e ao longo do século XX e
as consequentes metamorfoses na economia internacional e no papel hegemônico
por ele exercido naquele tempo (Arrighi, 1994) transformaram os Estados Unidos
no “caso clássico” de desenvolvimento do capitalismo* — uma discussão do país
que alcançou o ápice da aplicação tecnológica da ciência e do desenvolvimento do
sistema de crédito.
A elaboração de Sylla (1982; 1999), através da permanência da “inovação mone-
tária” na história dos Estados Unidos, introduz a avaliação.!
? — Esse movimento descrito por Engels em 1894 é comentado por Chandier (1977), que indica ter sido o primeiro
movimento de fusões (nos anos de 1880) a primeira oportunidade na qual industriais se voltam para o mercado de
capitais em busca de recursos externos.
? —Parainformações sobre o Arquivo Marx e Engeis, ver Cergueira (2010) e Paula et al. (2012).
? Trataros Estados Unidos como caso clássico implica reconhecer a existência de diversas variedades de
capitalismo, como Dore et al. (1999) apresentam e discutem.
* —Outrasperiodizações são possíveis: Sylla (1982), Minsky (1986, p. 77) e Guttmann (1994) apresentam diversas
possibitidades. Este capítulo combina essas diferentes periodizações.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Finalmente, a discussão sobre os Estados Unidos, país que pode ser considerado
como a mais privatista das variedades de capitalismo em vigor, é um teste para a
proposta deste livro: há germes visíveis no arranjo institucional que caracteriza o
capitalismo no início do século XXTI?
Tratar os Estados Unidos como o caso clássico de desenvolvimento capitalista
remete esta introdução a uma referência sobre a elaboração de Marx e o seu interesse
sobre o país. Entre os elementos destacados pela edição do MEGA 2, em especial
nos materiais relativos ao terceiro volume de O capital, está o interesse de Marx em
estudar e acompanhar os Estados Unidos (MEGA 2, IL.1á, p. 451-454). As razões
são diversas, e as indicações, também.
A primeira é a percepção de Marx sobre a transformação dos Estados Unidos
no “caso clássico” do desenvolvimento capitalista (MEGA 2, IL.lá, p. 452). Essa
percepção vinha sendo construída ao longo do tempo, em um processo que pode
ser rastreado através dos comentários diversos, em especial, relativos à natureza
do trabalho e do capital nos Estados Unidos. Para Marx, o trabalho estaria livre
dos “preconceitos aristocráticos” e dos “resíduos feudais” (bangovers of feudalism) e
“em nenhum outro lugar está o povo tão consciente que o seu trabalho produz o
mesmo produto, dinheiro, e em nenhum outro lugar eles passam através dos mais
diferentes tipos de trabalho com a mesma indiferença”. Mais adiante, Marx men-
ciona a “fluidez do capital, versatilidade do trabalho e indiferença do trabalhador
em relação ao conteúdo do seu trabalho” (1976, p. 1.014).
Essa singularidade do caso dos Estados Unidos também é enfatizada por C. W.
Mills (1956, p. 12): “(..) a elite dos Estados Unidos entrou na história moderna
como uma burguesia sem oposição. nenhuma burguesia, antes ou depois, nunca teve
tais oportunidades e vantagens.” Por isso, a discussão do caso dos Estados Unidos
oferece uma oportunidade singular para a compreensão desse processo combinado
de construção institucional em relação à tecnologia e às finanças.
A segunda razão é a atenção de Marx para com os desenvolvimentos do sistema
de crédito nos Estados Unidos. Em uma entrevista a John Swinton, do jornal The
Sun, publicada em 6 de setembro de 1880, Marx apresenta sua intenção de escrever
uma “trilogia” sobre “terra, capital e crédito”, na qual a discussão sobre crédito seria
ilustrada pelos Estados Unidos, “onde o crédito tem tido um desenvolvimento espan-
toso” (MEW, v. 24, p. 584). Essas preocupações estariam articuladas com outros
pontos também destacados pelos editores da MEGA 2: o seu crescente interesse por
questões monetário-financeiras (MEGA 2, IIL.14, p. 455) e as reiteradas menções
à associação entre o desenvolvimento do sistema de crédito com os processos de
concentração e centralização de capital (MEGA 2, IL.14, p. 455). Os editores do
volume I1.1á do MEGA 2 destacam uma concordância de opiniões entre Marx e
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* —Nafundamentação teórica de seu artigo, Sylla (1982) sugere que a inovação monetária é uma resposta a
desafios definidos pelo contraste entre o crescimento da economia colonial, em função da demografia, tecnologia,
produção de bens e serviços, com a consequente demanda por dinheiro (meio de troca e reserva de valor) e o
caráter relativamente inelástico da oferta de metais preciosos. Esse contraste foi ressaltado de uma forma mais
geral por Marx, para quem a circulação metálica é uma barreira ao desenvolvimento do potencia! produtivo do
capitalismo (1884, p. 255).
Capitulo 3
Os Estados Unidos
como o casa clássico | 89
$ —“Michie(1986,p.172)relata a origem quase simuitânea das bolsas de Londres e Nova York, “da necessidade
de organizar o comércio de rua com os títulos governamentais”. A London Stock Exchange foi estabelecida em
1773 (com existência formal em 1801) e a New York Stock Exchange foi estabelecida informalmente em 1792
(existência formal a partir de 1817). O artigo de Michie é interessante por mostrar a origem comum das duas
bolsas, a partir do comércia de títulos governamentais, assim como o pequeno atraso relativo da criação da Bolsa
de Nova York em relação à de Londres
Capitulo 3
Os Estados Unidos
como o caso clássico | 91
de títulos estavam presentes para financiá-la”" (p. 261), e a lista segue com canais,
ferrovias, colonização do Oeste, guerras, expansão territorial,
Foi nesse período que Tocqueville realizou a sua viagem aos Estados Unidos, Ele
menciona que “toda a população está envolvida em atividades produtivas” (p. 156, v.
1D); mas o que de fato o impressionou “não foi tanto a grandeza maravilhosa de alguns
empreendimentos, mas a multidão incalculável dos pequenos”. Caracterização que
é útil para a investigação das condições monetário-financeiras que apoiaram essa
estrutura produtiva, também descrita por Chandler (1977).
A discussão desse período é importante por várias razões. Em primeiro lugar, é
o período em que ocorreu a multiplicação de contradições entre o Norte e o Sul,
em um quadro de forte predomínio econômico, industrial e inanceiro do Norte
(McPherson, 1988, p. 318). Tais contradições foram resolvidas com a vitória militar
do Norte, que abriu uma nova era na história monetária dos Estados Unidos (Sylla,
1999, p. 266-268; Guttmann, 1994, p. 69-71). Em segundo lugar, esse período legou
uma estrutura econômica e industrial que foi o ponto de partida para a grande trans-
formação da economia americana no início do século XX. A narrativa de Chandler
(1977), por exemplo, inicia-se com um conjunto amplo de empresas tradicionais,
pequenas e não integradas, servindo a mercados locais. Esse conjunto de empresas
foi capaz de gerar o sucesso dos Estados Unidos na Crystal Palace Exhibition, em
1851. Esse sucesso, por sua vez, estimulou a vinda de especialistas britânicos para
os Estados Unidos, visita que resultou nos relatórios sobre a indústria americana.
Para Rosenberg (1969, p. 1), as visitas simbolizam, “num sentido importante, a
emergência dos Estados Unidos como um poder econômico mundial” e o início de
uma “considerável reversão do fluxo de conhecimento técnico que por tanto tempo
flui do Velho Mundo para o Novo Mundo”. As realizações industriais e tecnoló-
gicas dessas empresas envolveram tecnologias de armas de fogo, navios a vapor,
colhedeiras agrícolas, indústria têxtil e uma indústria de máquinas-ferramentas. Na
argumentação de Rosenberg, essa indústria de máquinas foi crucial para o sucesso
tecnológico posterior do país, pois se relacionou ao processo de “convergência tec-
nológica”, na medida em que esse ramo industrial teria sido instrumental para “a
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AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
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* —Chandier, um historiador da empresa que tem importantes contribuições para a teoria da firma, pode ser
classificado como um autor evolucionista, seguindo uma deciaração que ele próprio apresenta (Chandler, 1992,
p. 85-86). Lidar com a elaboração de Chandier é manter o diálogo geral proposto neste livro.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? —AFigura31 atualiza os dados apresentados por Atack e Passell (1996), O formato gera! do gráfico é o mesmo,
com destaque para os três picos representados pelas Guerra Civil (1861-1865), Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
e Segunda Guerra Mundia! (1939-1945).
9%
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
(...) a maior parte da ampliação no volume das transações deveu-se aos títulos
industriais. O número de emissões industriais listadas pela bolsa cresceu de
15 para 191 entre 1867 e 1913, enquanto as relativas às ferrovias cresceram
apenas de 63 para 147. À sociedade anônima como forma de organização de
empresas, que havia realizado pequenos avanços durante os três primeiros
quartos do século, acelerou-se no último quarto do século.
comerciais locais” (p. 331). Entretanto, como no início dos anos de 1890 as ferrovias
começavam a se esgotar como oporrunidade de investimentos, o interesse de Wall
Street se moveu para novas áreas. Segundo Chandler, “industriais logo percebe-
ram que poderiam usar o mercado que crescia como fonte de fundos para capiral
de giro e para investimentos” (p. 332). Nesse processo, continua Chandler, “tanto
industriais como financistas aprenderam rapidamente como lucrar com o processo
de consolidação legal” (p. 332). O Sherman Act e decisões judiciais aceleraram os
processos de fusão, e “investidores, banqueiros de investimento, corretores e pro-
motores de todos os tipos continuavam a buscar novas oportunidades para obter
ou promover novas emissões de títulos. As fusões industriais pareciam ser as mais
promissoras” (p. 333).
Chandler comenta que os empresários do setor industrial conseguiam obter
recursos em bancos locais. Numa passagem anterior, relativa a “produtores especia-
lizados de máquinas”, esclarece-se que eles foram capazes de financiar seus processos
de integração através de seus fluxos de caixa, “suplementados por empréstimos de
curto prazo de bancos comerciais locais”, que conjuntamente “proviam fundos para
capital fixo e de giro” (p. 311). Ou seja, os bancos comerciais locais desempenharam
um papel importante como fonte de fundos — confirmando as descrições de Sylla
€ Bodenhorn apresentadas na seção anterior. A história do final do século XIX foi
a de ampliação de alternativas do financiamento pela oferta de títulos negociáveis
em bolsa.
À narrativa de Chandler é comparível com os dados apresentados por O'Sullivan
(2007, p. 166), que identifica que, nas décadas de 1880 e 1890, “diversos desen-
volvimentos prepararam as bases para a emergência de um mercado considerável
para títulos industriais”, O'Sullivan explicita que esses desenvolvimentos são os
movimentos de trustificação e posterior transformação dos trustes em sociedades
anônimas (corporations).
Esses desenvolvimentos foram acompanhados por Engels, em nota adicionada
ao capítulo 27 do terceiro volume de O capital. Após o comentário sobre a “terceira
potência da sociedade por ações” (1894, t. 1, p. 332), Engels menciona explicitamente
os Estados Unidos, ao tratar de uma nova fase no crescimento da empresa industrial,
em que “chegou-se, em ramos isolados, em que o nível de produção o permitia, a
concentrar a produção toda desse ramo de negócios numa grande sociedade por
ações com direção unitária. Na América isso já se realizou várias vezes” (p. 333).
Na narrativa de Chandler, a General Motors (ao lado da DuPont) tem um
papel de liderança na revolução gerencial que estabelece a empresa multidivisio-
nal, pioneira do processo de amadurecimento da “empresa industrial moderna”.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? —“Inicia-se nesse período uma longa acumulação de ações que alcançará a marca de 152% do PNB dos
Estados Unidos no fina! do século XX. Essa longa acumulação de títulos negociáveis traz novas possibilidades de
financiamento, mas também um novo conjunto de problemas para admimstração da dinâmica econômica Segundo
Hannah (2007, p. 4-8), em 1900, os títuios das companhias listadas na Bolsa de Nova York representavam 15%
do PNB dos Estados Unidos. Rajan e Zingales (2003, p 15) apresentam a evolução da capitalização de mercado
nos Estados Unidos, que alcança 39% do PNB em 1913, salta para 75% em 1929, retorna para 33% em 1950, 66%
em 1970 e 152% em 1999, Embora plena de altos e baixos, a trajetória é de crescente disponitilidade de ações no
mercado de capitais,
Capítuio 3
Os Estados Unidos
como o caso classico | 10]
universidades (Kennedy, 1999, p. 661). Para Kennedy, “a« OSRD estabeleceu uma
relação duradoura entre a pesquisa científica financiada pelo governo e a educação
superior nos Estados Unidos, relação que foi institucionalizada após a guerra com a
criação da National Science Foundation em 1950” (p. 661). O Projeto Manhattan,
que consumiu US$ 2 bilhões e empregou 150.000 pessoas (p. 664-665), possivel-
mente um ápice da “aplicação da ciência à guerra”, foi um marco desse envolvimento
e contribuiu fortemente para moldar a natureza do sistema de inovação dos Estados
Unidos no pós-guerra, consolidando e legitimando o expressivo envolvimento
militar nesse sistema.
Essas transformações foram essenciais para definir a estrutura do sistema de
inovação dos Estados Unidos, descrita por Mowery e Rosenberg (1989). A Segunda
Guerra Mundial foi um divisor de águas na estruturação do sistema de inovação
dos Estados Unidos. À amplitude do investimento federal em pesquisa e desen-
volvimento — uma característica distintiva do sistema de inovação dos Estados
Unidos no período — esteve bastante à frente das outras nações desenvolvidas nas
décadas de 1950 e 1960 (Nelson; Wrighr, 1992). O New Deal começou a criar os
instrumentos para esse pesado comprometimento de recursos federais, enquanto
a Segunda Guerra Mundial gerou diversas inovações tecnológicas decorrentes de
investimentos do esforço de guerra (desde a produção industrial de antibióticos
até a produção em massa de aviões). Além disso, legitimou junto à opinião pública
do país os gastos federais em ciência e tecnologia. O sistema de inovação moldado
durante esse período e as características estruturais que o definiram, em especial o
peso dos gastos com objetivos militares, foram fundamentais para a preservação do
poderio militar dos Estados Unidos, essencial para a consolidação da hegemonia
do país na economia mundial (Arrighi er ad., 1999, p. 93).
O contexto da Guerra Fria preservará essas características estruturais do siste-
ma de inovação dos Estados Unidos (Kennedy, 1999, p. 854). Um exemplo dessa
persistência será a política de rearmamento militar do governo Reagan (Guremann,
1994, p. 168-169).
Minsky (1982, p. xili) destaca o ponto de partida do pós-guerra:
* Brenner(2006, p. 52) discute como o rearmamento, a preparação para a guerra e a própria guerra contribuíram
para uma das taxas de lucro mais elevadas do século XX. Além disso, “o aumento da rentabilidade durante a guerra
foi marcante, porque criou a base fundamental para um boom forte e prolongado, que durou toda a guerra e que
quase não foi interrompido pela conversão, surpreendentemente suave e rápida, para a economia civil do pós-guerra”,
Capritulo 3
Os Estados Umidos
como o caso clássico | 107
* Brenner(2002,p.290) trata do papel e de algumas mistificações em torno das contribuíções do venture capital
no período recente. A revista The Economist ("Time to rebalance -- a special report on America's economy”) apresenta
dados relativos à forte sensibilidade dos investimentos de venture capital às oscilações conjunturais (3 abr. 2010,
p. 11) — em 2009 apenas a metade da média dos quatro anos anteriores.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* — Paraumasequência histórica das moedas nacionais que assumem o papel de dinheiro mundial, ver Villar (1974).
Capítulo 3
Os Estados Unidos
como o caso classico | 111
* Um desses ângulos é a situação da Genera! Motors. Ao longo deste capítulo, em especial a partir da narrativa
de Chandler (1977), foi descrito o pioneirismo da General Motors na transição para a empresa multidivisional, que em
sua formação envolveu complexas articulações entre a empresa (de uma área tecnológica de ponta) com bancos,
bancos de investimento e bolsa de valores. À crise de 2007-2008 atingiu essa sociedade anônima fortemente. Em
2009, a General Motors — segundo o New York Times - equivalia a US$ 82,3 bilhões em ativos, mas detinha US$
172,8 bilhões em dívidas (as informações relativas à General Motors foram obtidas no site do New York Times. Háà
um tópico específico sobre a General Motors. Essas informações foram capturadas em 3/01/2010). Os maiores
credores da empresa: Wilmington Trust Co — US$ 22,8 bilhões — e associadas da United Auto Workers Union, que
detêm cerca de US$ 20,8 bilhões em “encargos trabalhistas”. Para enfrentar essa situação, informa o New York
Times: “No dia 10 de julho a General Motors e o governo concluiram o trabalho legal para colacar os ativos mais
desejáveis da companhia (..) na nova empresa. (...) O governo federal manterá cerca de 61% da nova companhia e
o resto divídido entre o governo canadense, a associação de saúde de um sindicato (United Auto Workers Union) e
antigos proprietários de ações.” No número de 10 de julho de 2009, há uma explicação didática: “Questão: Quem é
dono da nova General Motors? Resposta: Os proprietários majoritários são os governos americano e canadense,
que detêm 72,5%, uma associação de saúde de um sindicato, chamada VEBA, detém 17,5% e 10% são detidos pela
antiga General Motors.' No debate eleitoral de 2012 o tema da intervenção do governo na GM reaparece -- o editorial
do New York Times de 25/02/2012 defende a intervenção. Segundo o editorial, quatro anos após a intervenção de &.
W. Bush e Obama, “há 1,45 milhão de pessoas que estão trabalhando como um resultado direto do socorro de US$
80 bilhões”, O destino e a transformação da General Motors podem ser um sintoma de mudanças mais profundas
em curso, envolvendo a posição dos Estados Unidos no cenário mundial.
10
AGENDA ROSDOLSKY
| Eduardo da Motta e Albuquerque
O Relatório Anual do BIS de 2009 apresenta uma boa cronologia da crise e das
operações para a sua contenção, desdobrada em cinco fases, entre um prelúdio antes
de março de 2008 e os primeiros sinais de estabilização a partir de março de 2009
(BIS, 2009, p. 16-36).
Segundo um sumário apresentado pelo Relatório Anual de 2010, entre as causas
microeconômicas, houve incentivos errados, falhas na mensuração e gerência de
riscos e debilidades na regulação e supervisão. Esses três problemas “permitiram
toda indústria financeira a contabilizar lucros muito cedo, muito facilmente e sem
adequados ajustes de risco” (BIS, 2010, p. 11).
Entre as causas macroeconômicas, o BIS define duas categorias amplas. À primeira
está associada a desequilíbrios nas dívidas internacionais (international claims), e a
segunda, relacionada às dificuldades criadas por um “longo período de taxas de juros
reais baixas” (BIS, 2010, p. 12). No primeiro caso, o BIS menciona fluxos de capitais
e estoques de dívidas (claims), derivados de uma simbiose entre “crescimento liderado
Capitulo 3
Os Estados Unidos
como o caso clássico | 113
Após afirmar que não tinha previsto o formato específico dessas bolhas nos seus
trabalhos da década de 1990, Arrighi conclui de forma enfática: “(..) com o estouro
? — Wood(2003) e Panitch e Gindin (2005) podem ser consideradas análises que idam com o cenário global e que
se utilizam da avaliação de Brenner como ponto de partida.
Capitulo 3
Os Estados Unidos
como o caso classico à 1) 7
A China e a reconfiguração
do capitalismo mundial
? — Arrighi (1994) discute três cenários: 1) antigos centros detêm o processo histórico e preservam a liderança; 2)
emergência do Leste Asiático; 3) caos sistêmico.
AGENDA ROSDOLSKY
3 Eduardo da Motta e Albuguerque
Para Maddison (2001, p. 42), é apenas entre 1200 e 1300 que a Europa Ocidental
teria ultrapassado a China em termos de renda per capita. Spence (1990, p. 27)
avalia que ainda em 1600 “o império da China era o maior e o mais sofisticado de
todos os reinos unificados da Terra”,
? — Naughton (2007, p. 82) ressalta a “base de capítal humano”, com os fluxos de recursos para a educação e a
satide durante o período 1949 e 1978 como um legado positivo da era Mao.
Capítulo 4
À China e a reconfiguração do
caprtalismo mundial | 121
Maddison (2001, p. 42) indica graficamente uma longa estagnação de 1300 até
1800, situação que se deteriora no século XIX, com regressão da renda per capita
até meados do século XX. Essa longa estagnação do Império Chinês coincide
com o período histórico em que ocorreram as transformações impulsionadas pela
Revolução Industrial inglesa. À natureza do impacto da Revolução Industrial é
definido pelo choque entre um império estagnado com outro império em ascensão
mundial,
Esse longo período, seguindo a análise de Skocpol (1979), pode ser avaliado como
uma fase de crise, fragmentação nacional — sob o domínio colonial — e reconstrução
nacional. À fundação da República Popular da China, em 1949, é fundamental-
mente um momento de reconstrução do Estado-nação, sob a liderança do PCC.
Os acontecimentos históricos posteriores ao início da reação ao imperialismo em
1898, data de início do movimento reformista na cronologia de Spence (1990), são
disputas em torno da direção dessa reconstrução.
Um bom roteiro para o conjunto desse período é apresentado por Theda Skocpol
(1979). A dinastia Ching (1644-1911) delimita um período histórico longo. Durante
a maior parte dessa dinastia, estabilidade e paz prevaleceram. Os dados de Maddison
(2001, p. 42) indicam também uma longa estagnação econômica — o PIB per capita
mantém-se constante até o século XIX, quando regride. Será no século XIX que a
China sofrerá pressões estrangeiras intensas e sem precedentes, segundo Skocpol
(1979, p. 125).
Essas pressões são expressas por invasões estrangeiras, das quais a Guerra do
Ópio é um evento síntese (1839-1842). Há riscos severos sobre a soberania nacional
(Skocpol, 1979, p. 126). Polanyi (1944, p. 25), na descrição da “civilização do século
XDX”, menciona que “a China foi obrigada a abrir suas portas por exércitos invasores”.
Skocpol associa a incapacidade do “antigo regime” de responder aos desafios
internacionais a um progressivo enfraquecimento do “Estado imperial”, que abre
espaço para rebeliões internas apoiadas em movimentos camponeses entre 1850 e
1870 — entre elas a rebelião de Taiping (1850-1864), tão importante para a trajetória
revolucionária da primeira metade do século XX.
O episódio da derrota para o Japão na guerra de 1895-1896 (Skocpol, 1979,
p. 132) é também expressão tanto dos novos desafios internacionais como da
incapacidade nacional em respondê-los. É instrutivo o mapa preparado por Spence
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Naughton (1995, p. 52) apresenta uma apreciação geral desse período, também
destacando seus enormes avanços:
? —Um outro indicador das mudanças estruturais no período é a população ocupada na agricultura. Em 1957,
segundo uma das estimativas apresentadas por Rawski (1979, p. 39), a agricultura empregava 82,2% do total da
força de trabalho (281,6 milhões). Em 1975 essa porcentagem cai para 76,3% do total (430,1 mihões de pessoas).
O emprego não agrícola cresceu de 42,3 milhões em 1957 para 100,3 milhões em 1975,
Capitulo 4 |
À Clhuna e a reconfiguração do |
capitalismo mundias | 125
Uma avaliação mais deralhada desse período mostra que esses resultados gerais
foram alcançados em processos que envolveram mudanças extremas ao longo
do tempo. A China, entre 1949 e 1978, passa por diferentes fases, marcadas por
dinâmicas econômicas razoavelmente distintas entre si, nas quais o papel do pla-
nejamento central e sua articulação com níveis locais varia e muda: há fases nas
quais o planejamento central está em alta — 1953-1957, 1961-1965 — e fases em
que a descentralização é mais importante — 1958-1960, 1966-1974. Apesar dessas
enormes vicissitudes, o resultado alcançado impressiona. Isso pode ser indicação de
dois elementos constitutivos do processo chinês: 1) a existência de poderosas forças
pró-crescimento, que sobrevivem a todas as mudanças ocorridas; 2) um enorme
aprendizado com a sobrevivência em sistemas econômicos distintos, uma pista sobre
a vitalidade e a contribuição potencial de diversas fontes e dos diferentes períodos
para o crescimento econômico,
Segundo a periodização sugerida por Yefei Sun (2002), há uma fase inicial
de “reconstrução e retomada”. Nesse período, segundo Spence (1990, p. 490), é
implementado o “Programa Comum” (definido em setembro de 1949). Para ele,
Há uma ampla extensão da reforma agrária na segunda metade de 1950 (p. 490),
que, de acordo com dados para a China Meridional, envolveu 40% da terra culti-
vada, beneficiando 60% da população (p. 491). No balanço de Spence, a “reforma
Camtulo 4 |
A China e a reconfiguração do
camtalismo mundiat | 127
destruiu efetivamente a base de poder da velha elite fundiária no campo” (p. 491).
Do ponto de vista tecnológico (Sun, 2002), é um período de reconstrução e reto-
mada, com a fundação da Academia Chinesa de Ciências e de muitos institutos
de pesquisa industrial.
A relação com a URSS é complexa, e suas vicissitudes devem ser acompanhadas.
Fá uma vasta literatura sobre a independência de Mao em relação a Stalin na ela-
boração da estratégia revolucionária chinesa e em relação à condução das relações
com o Guomindang. Hannah Arendt menciona que Mao e Chu En-lai abordaram
o presidente Roosevelt em janeiro de 1945, “tentando estabelecer relações com os
Estados Unidos para evitar a total dependência da União Soviética” (Arendre, 1972,
p. 34, grifo no original). A irrupção da Guerra na Coreia (1950-1953) restringe
a margem de manobra e força uma aproximação com a URSS, característica da
próxima fase do período sob Mao.
Skocpol (1979, p. 277) destaca as ligações políticas diretas do POC com as vilas
camponesas como uma enorme vantagem em relação aos bolcheviques nos anos de
1920. Essas diferenças políticas no campo expressam-se também no fenômeno do
“emprego rural não agrícola”, quantificado por Rawski (1979).
Segundo Rawski (1979, p. 36-38), em seu esforço para descrever e quantificar
o “emprego rural não agrícola”, em 1957 estavam empregados em atividades rurais
não agrícolas 42,3 milhões de trabalhadores, número que em 1975 alcançou um
toral de 100,3 milhões (p. 37). É importanrte ressaltar a importância da indústria
Cagtulo 4
ÀA China e a reconfiguração do
capitalismo mundial 129
rural, que passa de 14,6 milhões de empregados em 1957 para 39,6 milhões em
1975. Neste ano, 25 milhões estavam em empresas estatais e 14,3 milhões, em
empresas coletivas. À dimensão desse fenômeno, uma importante especificidade do
processo de desenvolvimento chinês, merece ser destacada porque está diretamente
relacionada com o papel das chamadas empresas de vilas e aldeias (TVEs, townships
and villages enterprises) no processo de crescimento chinês no período inicial das
reformas pós-1978.
Skocpol (1979, p. 270-271) destaca outros contrastes com a URSS: “No con-
texto de tais planos de desenvolvimento, a agricultura camponesa coletivizada se
tornou um setor dinâmico na China, produtivo por si só e capaz de apoiar avanços
complementares nas indústrias locais e nos serviços sociais” (p. 270).
No plano tecnológico, segundo Sun (2002), há tentativas de romper com a
influência do modelo soviético, acelerando o crescimento tanto na agricultura como
na indústria, tanto em grandes como em pequenas empresas, usando métodos
modernos e também métodos locais.
foram criticados e os bônus, eliminados, mais uma vez o controle sobre as decisões
foi descentralizado, mais uma vez foi feita uma tentativa de desenvolver simultane-
amente as indústrias rural e urbana” (p. 77). Entre 1972 e 1976, novo período de
reentrincheiramento (“retrenchment”), com um rumo mais moderado sob a direção
de Chu En-lai, inicialmente, e Deng Xiaoping, após 1975. Em 1972 Nixon visita
a China, e há o restabelecimento de relações comerciais com o mundo capitalista.
Entre 1972 e 1973 há uma importante reestruturação da economia chinesa —
uma política de “contratos para fábricas inteiras” (Spence, 1990, p. 600): 1.259
em 1973, 831 em 1974 e 6.934 em 1978. Naughton (2007, p. 77) menciona um
consórcio Holanda-Estados Unidos, que implantou 11 grandes fábricas de fertili-
zantes. Após 1974 inicia-se um período de paralisia política (Naughton, 2007, p.
77), caracterizado pela disputa entre os líderes da Revolução Cultural e “os plane-
jadores chineses” (Chu En-lai, Chen Yun e Deng Xiaoping) (Spence, 1990, p. 597).
No plano tecnológico, Sun (2002) avalia o período como caótico. Com exceção
de atividades relacionadas aos setores militares, atividades de P&cD foram seriamente
desorganizadas. No ano de 1965, a CAS administrava 106 laboratórios e 22.000
cientistas e engenheiros; em 1973, os laboratórios caíram para 53, e cientistas e
engenheiros, para 13.000. As principais realizações do perfodo foram relacionadas
à defesa nacional (bombas A e H, mísseis, satélites).
Em 1976 morre Mao. AÀ disputa política é resolvida no final de 1978, com o
retorno de Deng à liderança do PCC. Uma nova fase na história econômica da
China seria iniciada. Naughton (2007, p. 77-79) menciona um “grande salto para
o exterior” em 1978, o início do fim da era Mao.
compressão inicial proposta por Chen Yun fora levada a cabo, levando à
remoção de milhões de trabalhadores urbanos improdutivos da folha de
pagamentos do Estado e ao fechamento de 25 mil empresas. (...) Em 1965, os
níveis de produção agrícola tinham voltado aos anteriores ao GSA, enquanto a
produção da indústria leve estava se expandindo 27% ao ano e a da indústria
pesada, 17% (p. 561).
* — Naughton (2007,p.76) sugere que o “modelo maoista” (da Revolução Cuitural) seria uma variante do “modelo
soviético”, em função de cinco características distintivas: 1) militarização generalizada da economia; 2) operação
descentralizada da economia, indústrias rurais encorajadas; 3) isolamento relativo da economia capitalista mundial;
4) ausência de incentivos materiais; 5) mobilidade do trabalho pelo mercado contida, migrações restritas.
Capitulo 4
A China e a reconfiguração do |
caprtalismo mundial t 133
Nos últimos 30 anos a economia chinesa cresceu a uma taxa média de 9,5% ao
ano, e nos últimos 10 anos o seu PIB triplicou, alcançando US$ 11 trilhões (The
Economist, 2012, p. 1). Essa dinâmica de crescimento econômico se realizou ao
longo do processo de reformas inaugurado em 1978.
As oscilações e a instabilidade do período Mao (1949-1976), com todas as
mudanças econômicas subjacentes, são fonte de aprendizado para um conjunto
de dirigentes e especialistas do PCC. Esse aprendizado é um elemento importante
na moldagem do processo de reformas chinês. A natureza gradual dessas reformas
pode ser um resultado de avaliações sobre o alto preço pago por mudanças abruptas,
como as representadas nas fases entre 1949 e 1978.
Desde 1978 há mudanças na relação entre plano e mercado e na estrutura do
Estado chinês e de sua capacidade de influir tanto na formação de mercados como
na direção do processo de desenvolvimento.
AÀ natureza da economia chinesa entre 1949 e 1978, uma variante de uma econo-
mia de comando, é plena de singularidades em relação ao modelo stalinista, como
Skocpol (1979) e Naughton (2007) avaliam. Entender a natureza da transição para
uma “economia de mercado” é uma questão complexa, mas vital.
Capritulo 4
A China e a reconfiguração do
capitalismo mundia! | 135
Em Growing out of the plan, Naughton (1995) sugere a existência de uma coe-
rência ex-post para o conjunto das reformas do processo chinês pós-1978 (p. 13). À
importância dessa coerência ex-post pode ser avaliada de diversas formas. À primeira
delas pela ausência de esquema preciso pelos reformadores do sistema (p. 59), ponto
com o qual Perkins (1988, p. 601) também concorda. Segundo Naughton (1995, p.
59), “a força motriz das mudanças em 1978-1979 foi a reorientação da estratégia de
desenvolvimento chinesa”. Dessa reorientação surge o compromisso com a reforma
como um efeito colateral (p. 59). O autor insiste nessa natureza não prevista das
reformas. Por um lado, destaca o improviso e a ausência de formulações prévias claras
(p. 20). Por outro, o padrão de reforma foi moldado mais por condições econômicas
e pela interação entre política e economia do que por ideologia política (p. 21-23).
Em um sumário do processo de reforma na China, Naughton (1995) avalia suas
características distintivas (p. 7-13):
Caprtulo 4
À Chuna e à reconfiguração do
caprtabismo mundiat | 137
* —“Emtermosda população empregada, a porcentagem empregada no setor primário passa de cerca de 70% de
um total de 402 milhões de pessoas em 1978 para cerca de 49% de um total de 744 milhões de pessoas em 2003
(Naughton, 2007, p. 151 e 182). O setor secundário passa de 18% em 1978 para 23% do totai em 2004, enquanto o
setor terciário amplia-se de 11% em 1978 para 30% em 2094 (p. 151),
138
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Um elemento importante que não aparece com o devido destaque nesse esquema
de Naughton é a estrutura do sistema financeiro chinês. Um estudo da OECD
(2002, p. 240) avaliou o sistema chinês e relatou que “a característica distintiva
do sistema bancário da China é a propriedade e o controle público, virtualmente
completo, dos bancos nacionais” - uma indicação importante para compor um
diagnóstico da natureza do capitalismo em desenvolvimento na China.
Outro elemento importante é o papel das Townships and Villages Enterprises
(TVEs) na economia. Essas empresas de economia pública, segundo a OECD (2002,
p. 86), empregaram em 2000 um total de 128 milhões de trabalhadores, responden-
do no mesmo ano por cerca de 42% das exportações do país. Na medida em que
esse setor de propriedade coletiva tem a sua origem na indústria rural desenvolvida
entre 1949 e 1978, é importante destacar a sua contribuição para a complexidade e
singularidade da transição na China. Segundo a OECD (2002, p. 132), as empresas
de propriedade coletiva respondiam por cerca de 22% da produção industrial em
1980, com as empresas estatais respondendo pelos 78% restantes. Em 1999, após
intenso crescimento da economia chinesa, as empresas públicas respondiam por
cerca de 33% da produção industrial, com o setor estatal respondendo por 30% do
total (o setor privado cresceu cerca de 37% da produção industrial).
Naughton (1995) organiza o processo de transição em três grandes períodos.
Entre 1979 e 1983 houve a fase de “experimentos iniciais”ó Entre 1984 e 1988,
“as reformas avançam”. À partir de 1988, um movimento em direção a uma
“economia socialista de mercado”. O autor destaca a explicitação pela direção do
PCC em 1993 do objetivo final da transição: transformar a economia chinesa em
uma economia de mercado (1995, p. 306). Nesse período, segundo Naughron,
o governo teria conseguido desfazer os últimos vestígios de planejamento. As
reformas implementadas entre 1978 e 1994 alteraram a natureza da economia
chinesa, identificada como “uma economia de mercado com uma estrutura mista
de propriedade” (1995, p. 307),
A avaliação da OECD, que utiliza amplamente a contribuição de Naughton,
sintetiza uma apreensão corrente no início do século XXI: qual a capacidade de
manutenção do ritmo de crescimento da economia chinesa. Segundo a OECD
(2002, p. 10-11), até aquele momenrto a dinâmica do growing out of the plan teria
sido bem-sucedida. À partir de então, “se tornou crescentemente aparente que a sua
capacidade de impulsionar o desenvolvimento econômico chinês está se esgotando”.
* —“Nesse período é proclamada a política das *Quatro Modernizações”, A prioridade à ciência e tecnologia está
definida desde então, na medida em que ela é a “quarta modernização”; um programa de treinamento concentrado
para 800.000 trabalhadores em pesquisa científica (Spence, 1990, p. 811).
AGENDA ROSDOLSKY
| Eduardo da Motta e Albuquerque
Uma comparação útil seria com os casos do Japão e da Coreia do Sul durante
os seus processos de catch up. À singularidade do caso japonês está na interação
entre o setor público e o privado, descrita por Ohkawa e Kohama (1989, cap. 7).
No pós-guerra, o mecanismo de adminstrative guidance caracterizava uma forma
de política industrial, na qual o governo tinha a capacidade de orientar bancos e
empresas privadas em direção a áreas que definia como estratégicas” O caso da
Coreia do Sul amplia a presença do Estado em relação ao caso japonês, porque os
bancos são estatais, o que torna mais direto o processo de alocação de crédito para
? —Zysman(1983) atribui um status importante ao mecanismo de admíinistrative guidance em sua discussão sobre
arelação entre os sistemas financeiros e a industrialização. Para Zysman, as especificidades do arranjo financeiro
japonês — um sistema baseado no crédito e com preços administrados — possibilitam uma maior capacidade de
intervenção na política industrial, O administrative guidance tipifica uma situação de dependência das firmas em
relação aos bancos. Por sua vez, estes encontram-se em uma situação de dependência em relação ao governo.
Essa hierarquia (governo-bancos-firmas) é crucia! para a compreensão da capacidade governamental de intervenção
na política industrial. Em função do baixo nível dos juros (preço adminisírado pelo governo), os bancos atuam
concedendo um montante elevado de empréstimos (overlending, segundo Zysman), o que determina a necessidade
de recorrer ao Banco do Japão (o único emprestador aos bancos). Havendo uma “fila" de demandantes desses
empréstimos, pode o Banco do Japão adotar um procedimento que prioriza a concessão de empréstimos para os
bancos que estejam acompanhando orientações sinalizadas pelo governo e seus ministérios. Os bancos, portanto,
dada essa hierarquia, acompanham de forma atenta os sinais emanados pelas agências governamentais quanto
a prioridades de políticas industriais.
Capítulo 4
A China e a reconfiguracão do
capitahsmo mundiat | 141
? — Segundodados do Banco Mundial, o PIB per capita da China em 2010 era US$6.816,00, enquanto o dos Estados
Unidos alcançava US$ 42.297,00 (critério PPP, dólares internacionais de 2005) (dados acessados em <http:/fdata.
worldbank.orgiindicator/NY. GDP.PCAP.PP KD>)
AGENDA ROSDOLSKY
1 Eduardo da Motta e Albuquerque
indicam que não há perspectiva de curto prazo para a ascensão da China como
alternativa hegemônica.
A segunda conclusão indica que o processo chinês atual já é uma fonte de fôlego
para o capitalismo mundial -- um sinal de mudanças importantes no capitalismo
contemporâneo. À dinâmica econômica da China já foi relevante para a atenuação
dos efeitos e da duração da crise de 2007-2008, detonada nos Estados Unidos. Os
indicadores relativos à responsabilidade da China sobre o crescimento econômico
mundial devem ser aqui lembrados (The Economist, 2004, p. 4). Outra forma de
ressaltar a contribuição chinesa à retomada de fôlego do capitalismo mundial é a
observação de Richard Freeman (2007, p. 26), que analisa a inclusão de 1,47 bilhão
de trabalhadores no mercado internacional de trabalho — parte de um movimento
de transição em curso — decorrente da incorporação, durante as décadas de 1980
e 1990, de países como a China e a Índia, em especial, no mercado global. Essa
“duplicação” do mercado global de trabalho (p. 25) relaciona-se com uma queda na
relação capital-trabalho em termos globais para cerca de 60% da proporção existente
antes da inclusão das economias da China e da Índia na economia mundial — uma
poderosa causa contrariante da queda da taxa de lucro.
A contribuição da China a uma maior internacionalização do capital também não
pode ser subestimada — uma fonte de fôlego adicional, saída clássica do capital em
busca de novos territórios para aplicação. Essa contribuição viria da multiplicação
em curso nas últimas três décadas dos fluxos financeiros, produtivos e tecnológi-
cos em direção da China (UNCTAD, 2010), da emergência de uma nova fase da
internacionalização aberta com as global innovation networks (Ernst, 2006) e da
crescente presença de transnacionais de origem chinesa no cenário internacional
(UNCTAD, 2010; Ernst; Naughton, 2008). É notável a ampliação da participação
das empresas chinesas entre as 500 maiores empresas globais, segundo a revista
Fortune — em 2011 a China era o terceiro país na lista, com 61 empresas, logo após
os Estados Unidos (com 133) e o Japão (com 68).
À terceira conclusão aponta para os elementos distintivos da articulação entre
plano e mercado no caso chinês, As singularidades seriam de tal monta que é pos-
sível mencionar uma nova variedade de capiralismo, que nasce da singularidade da
transição chinesa para uma “economia de mercado” (Kornai, 2000; King; Szelényi,
2005), processo que incorporou as lições da transição russa (negativas, nesse caso)
e do desenvolvimento do Japão, da Coreia do Sul e de Taiwan. O resultante é uma
nova variedade de capitalismo no qual o peso do Estado e o estilo da articulação
planejamento e mercado é bastante distinto do existente nos Estados Unidos. As
mudanças são importantes, a ponto de a revista The Economist sugerir que a disputa
Capitulo 4
A Cluna e a reconfiguração do
caprtaiismo mundial | 145
? "Uma observação sobre diferenças entre transições sistêmicas: segundo Arrighi (1994, p. 179), “o papel da
Inglaterra como câmara de compensação da economia mundial precedeu e durou mais do que o seu papel como
oficina do mundo”.
* Ernst(2006, p. 28) também apresenta as suas dúvidas, ao considerar enganosas as metáforas sobre a queda
dos Estados Unidos e a ascensão da Ásia Oriental: aponta a concentração nos Estados Unidos das “fontes de
inovação”, Mas Ernst avalia que há razões para uma erosão no longo prazo da liderança dos Estados Unidos (p. 29)
e sugere um conjunto de políticas para impedir o seu enfraquecimento do sistema de inovação (p. 30-36).
Capítulo 5
Limite econômico
ou metamorfoses do capitalismo?
* Ribeiroefal (2006, p. 92) apresentam dados de artigos e patentes que apontam o crescimento da produção
da China tanto na dimensão científica como na tecnológica.
I AGENDA ROSDOLSKY
| Eduardo da Motta e Albuquerque
* —Um especialista em regimes monetários internacionais, Eichengreen, não tem dúvidas sobre a relação entre
dinheiro e poder no plano internacional: “historicamente, a moeda internacional mais importante é emitida pelo poder
internacional mais importante” (2011, p. 133).
? —“Polanyi(1944,p.32) refere-se à Pax Brittanica comao um equilibrio às vezes mantido “através dos canhões de
seus navios, entretanto, mais frequentemente, ela prevalecia puxando os cordéis da rede monetária internacional”:
dinheiro (mundial) e poder no centro da hegemonia britânica.
Capítulo &
Limite econômico ou metamortoses
do capitaismo? | 149
mais, esse diálogo não foi até hoje realizado entre os autores mais importantes das
duas abordagens.
De forma às vezes direta, às vezes indireta, um tema foi se introduzindo nas dis-
cussões dos capítulos anteriores: há limites para o sistema capitalista? Essa questão é
colocada pelo constante reaparecimento de crises e de subsequentes transformações
estruturais para contê-las e superá-las. Essa repetição coloca uma outra questão sobre
a renovação permanente da capacidade do capitalismo em contê-las. Essas questões
podem ser sintetizadas em um diagnóstico do próprio Marx sobre o capitalismo:
“(...) [a] produção capitalista procura constantemente superar essas barreiras que
lhe são imanentes, mas só as supera por meios que lhe antepõem novamente essas
barreiras e em escala mais poderosa” (Marx, 1894, p. 189).
Tratar da existência de limites econômicos para o capitalismo como uma questão
acadêmica não é simples. Para tanto, é necessário lidar com elaborações capazes
de integrar os elementos relacionados com a dinâmica de longo prazo. O ponto de
partida em Marx (1894), que sintetiza e supera o tratamento dos clássicos da econo-
mia política, é a lei da queda tendencial da taxa de lucro. À importância atribuída
por Rosdolsky (1968, cap. 26 e Apêndice do cap. 27) ao tema deve ser lembrada.
Grossmann (1929) apresenta uma ampla discussão sobre a tendência decrescente
da taxa de lucro. Ao tratar da “teoria da derrocada” em Marx, Grossmann siste-
matiza e avalia diversas contratendências à queda da taxa de lucro e à derrocada,
que permite a elaboração de uma visão dinâmica do capitalismo, que o leva à
vizinhança da elaboração sobre as ondas longas (ver, em especial, Grossmann,
1929, p. 92-95).º Por isso, Grossmann pode ser lido como um teórico das con-
tratendências e da dificuldade da derrocada — sua análise contempla a flexibili-
dade do capitalismo e o vasto estoque de circunstâncias contrariantes à queda
do lucro, que contribuem para moldar seu dinamismo a longo prazo. Além do
mais, Grossmann (1929, p. 19 e 119) trabalha com a referência de Lênin sobre
a “inexistência de situações sem saída”, inclusive para criticar elaborações que
sugeririam um fim automático ou mecânico do capitalismo.
A relação teórica das elaborações sobre ondas longas e ciclos sistêmicos de
acumulação com a obra de Marx merece um comentário específico. Freeman e
? —“Rosdoisky (1968, cap, 26) elogia a intervenção de Grossmann nos debates sobre à queda do lucro e sabre a
derrocada.
* —“Grossmann (1929) discute a derrocada do capitalismo entre as páginas 54 e 186 e as contratendências entre
as páginas 187 e 373.
* — Grossmann (1929, p. 19) considera que “na base da concepção de Rosa Luxemburgo está suposto um fim
mecânico do capitalismo" - certamente uma injustiça com a autora do slogan “socialismo ou barbárie",
Capitulo 5 |
Limite econômico ou metamorfoses :
do capitahismo? | 151
? —Aelaboraçãosobre as General Purpose Technologies (Heipman, 1998) é interessante por reconhecer o papei
distintivo de inovações radicaís de ampla aplicação geral, que estão na raiz de movimentos econômicos como as
ondas longas.
* —“Essareflexão sobre as ondas longas e a listagem de diferentes interações entre a dimensão industrial e a
financeira está apresentada em trabalho anterior (Albuquerque, 2010a),
150
ã AGENDA ROSDOLSKY
| Eduardo da Motta e Albuquerque
Perez (2002), por sua vez, focaliza as diversas regularidades existentes ao longo das
diversas fases em termos do que ela identifica como capital financeiro e capital pro-
dutivo, em cujo relacionamento ela aponta a dinâmica de sinergia e crise existente.º
À elaboração dos ciclos sistêmicos de acumulação, na medida em que absorve as
contribuições de Marx e Braudel, traz implícito o papel da tecnologia na definição
de sua dinâmica. A contribuição mais importante dessa elaboração está em sua
ênfase na questão financeira, desenvolvida através da extensão do ciclo do capiral
dinheiro (D-M-D”) para períodos históricos mais amplos. Arrighi (1994) reinter-
preta esse ciclo a longo prazo, sugerindo a existência de uma sequência de duas
fases. À primeira, de expansão material (que corresponderia ao D-M), na qual as
condições de produção e as oportunidades de investimentos são tais que as massas
monetárias geradas no processo produtivo são continuamente reinvestidas no
processo produtivo, o que permite caracterizar o país no qual tal processo está em
curso como “oficina do mundo”. A segunda fase, inspirada na narrativa histórica
de Braudel, seria a fase de expansão financeira, caracterizada por uma combinação
entre a existência de massas monetárias amplas, geradas pelo sucesso da expansão
material em curso, e o surgimento de mais dificuldades em termos de oportunidades
de investimento, com perspectivas de queda do lucro no país da expansão mate-
rial — superabundância de capitais e rarefação das oportunidades de investimento.
À elaboração sobre os ciclos sistêêmicos não enfatiza a questão da recnologia,
embora ela esteja implícita de diversas formas, especialmente no poderio militar
associado às regiões ou aos países hegemônicos. Uma contribuição importante dessa
elaboração, baseada na obra de Braudel (1986), é a apresentação de um quadro
histórico que permite identificar a colocalização nos centros hegemônicos da lide-
rança em termos científicos, tecnológicos e monetário-financeiros (Veneza-Gênova,
Amsterdá, Inglaterra e Estados Unidos).
? —Essetrabalho é uma grande contribuição às tentativas de articular teoricamente a dimensão inovativa com a
dimensão financeira, mas o set esforço enfatiza o que se repete ao longo das ondas longas, com o destaque para
as diversas formas de relacionamento entre o que a autora define como capital financeiro e as atividades inovativas.
À partir da existência de acoplamento e desacoplamento entre instituições ao longo das mudanças de paradigmas,
Perez sugere quatro tipos de relacionamento entre o capítal produtivo e o financeiro (p. 74): 1) irrupção (“love affair”);
2) frenesi ('desacoplamento”); 3) sinergia (“reacoplamento”); 4) maturidade (“sinais de separação”). Por 18so, não
são objeto de sua investigação as enormes transformações estruturais na dimensão financeira. Como Perez (2002)
focaliza as regularidades no interior das fases das ondas longas, fica em aberto a questão das profundas mudanças
institucionais que têm lugar entre as diferentes ondas longas, tal como parece ser a sugestão do esquema de Freeman
e Perez (1988).
Capítulo &
Limite económico ou metamorfoses
do capitalismo? | 153
Qual a melhor integração entre essas duas abordagens? De uma forma explo-
ratória, é possível identificar como os pontos fortes de cada uma das abordagens
podem enriquecer a outra.
Por um lado, a elaboração das ondas longas pode enriquecer a elaboração dos
ciclos sistêmicos de acumulação através de uma melhor articulação entre revoluções
tecnológicas, emergência de novos paradigmas e transições de hegemonia. Não é
difícil a associação entre novas tecnologias € as relocalizações dos centros líderes
no capitalismo mundial. Possivelmente, há uma lógica espacial nesses movimentos,
associada às “vantagens do atraso” discutidas por Gerschenkron (1952), em que se
combinam o esgotamento das oportunidades de investimento no centro hegemônico
€ o aparecimento de novas oportunidades e novos setores em centros emergentes. Às
diferenças de cronologia podem ser elucidarivas — pois pelo menos nos dois últimos
ciclos sistêmicos de acumulação (Inglaterra e Estados Unidos), há duas ondas longas
que persistem sob um mesmo centro hegemônico (Inglaterra, nas duas primeiras
ondas longas; Estados Unidos, na quarta e na quinta ondas longas).
Por outro lado, a elaboração dos ciclos sistêmicos de acumulação traz inúmeras
contribuições para a elaboração das ondas longas, especialmente quanto à questão
monetário-financeira e à questão do poder (Estado).
Na questão monetário-financeira, são importantes as questões relativas à
expansão financeira como uma fase recorrente desses ciclos e ao poder do centro
hegemônico derivado da emissão do dinheiro mundial. Essas duas questões estão
fortemente associadas na medida em que o país destinatário dos capitais excedentes
do centro em declínio — a expansão financeira como “sinal do outono” (Braudel,
1986, p. 225-226) — é aquele cuja moeda se tornará o dinheiro mundial. Ou, de
outra forma, a “função de banco central de compensação” é “inseparável do papel
de oficina do mundo” (Arrighi et al., 1999, p. 72).
Há aqui uma articulação teórica que envolve tanto a narrativa histórica de Villar
quanto a elaboração teórica de Preobrajenslky.
Villar (1974) sugere uma sequência dos diversos “dólares do mundo”: o florim, de
Florença; o ducado, de Veneza, durante a Idade Média (p. 41); a moeda holandesa,
no século XVII como o “dólar' de sua época” (p. 208); a emergência da Inglaterra
como o país do “padrão ouro” (p. 216 e 325); e o dólar dos Estados Unidos como
base de pagamentos internacionais após a Segunda Guerra Mundial (p. 348).
Preobrajensky (1926, p. 176) apresenta reflexões sobre a hegemonia do dólar, asso-
ciada à “crescente tendência da hegemonia norte-americana na economia mundial”
(p. 177). Em uma nora de rodapé, Preobrajensky lembra que, “no desenvolvimento da
história, a ditadura das divisas pertencia habitualmente ao país que desempenhava o
Caprtulo 5
Limite econômico ou metamorfoses
do camitatismo? | 155
º —“Esseponto está presente nos estudos comparativos sobre sistemas de inovação. Mowery e Rosenberg (1993)
destacam o peso dos gastos militares no sistema de inovação americano, enquanto Keck (1993) destaca limítes para
pesquisas em algumas áreas estratégicas decorrentes do resultado da Segunda Guerra Mundial como um elemento
que estimula a persistência de competências da Alemanha em áreas mais tradicionais do país.
156
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* —Asreferências de Arrighi à queda dos lucros são importantes para a explicação da origem dos capitais excedentes
gerados pelo não reinvestimento dos lucros em atividades comerciais/manufatureiras: quando os rendimentos do
capita! caem abaixo de um nível crítico, “todos os excedentes de caixa que eles acumularam são desviados do
mercado dos produtos para os mercados financeiros" (p. 236). Em diversas passagens o autor insiste e destaca o
pape! da queda dos lucros como condição de movimentos e superacumulação de capitais monetários, característicos
de fases de expansão financeira (p. 239). Arrighi (2007, p. 87) também destaca o papel do sistema de crédito para
transferir recursos de áreas em declínio para áreas em ascensão.
* Essa dinâmica de longo prazo é identificada, através da utilização de outros conceitos, por estudiosos do
desenvolvimento tecnológico no capitalismo Nelson e Winter (1977, p. 58) descrevem o papel de “trajetórias naturais”
na “geração de inovação” no capitalismo. Entre essas trajetórias naturais, destacam duas — “exploração progressiva
de economias de escala latentes” e “crescente mecanização de operações manuais” — como importantes avenidas
para o progresso tecnológico nos séculos XIX e XX. Essas duas trajetórias envolvem a ampliação da intensidade
de capitais na indústria, com a consequente ampliação da composição orgânica Klevorick et al. (1995, p. 200), em
pesquisa empírica posterior, mostram que essa trajetória natural — “mecanização” - é considerada relevante para
mais de 2/3 das empresas entrevistadas pelo Yafe Survey.
Caprtulo 5
Limite económico ou metamorfoses |
do captaismo? : 157
* Grossmann (1929, p. 78) menciona como essa elaboração de Miil influenciou a de Marx.
Capitulo &
Limite económico ou metamarfoses
do capitalismo? | 159
* —Essa nova fase está relacionada também com uma nova fase do impertalismo - “imperialismo capitalista” —,
distinta da fase clássica do imperialismo discutida por Hilferding, Lênin, Rosa Luxemburgo, entre outros (Wood,
2003, p. 124-130).
AGENDA ROSDOLSKY
* Eduardo da Motta e Albuquerque
Grossmann (1929), por sua vez, no capítulo 3 de seu livro A lei da acumulação
e a derrocada do sistema capitalista, discute exaustivamente as “contratendências
modificantes” relativas à tendência à derrocada. A primeira parte do capítulo 3
trata do “restabelecimento da rentabilidade por modificações estruturais internas
no mecanismo dos Estados capitalistas”, enquanto a segunda trata do “mercado
mundial: o restabelecimento da rentabilidade através do domínio do mercado
mundial”. Entre os 13 fatores envolvidos no “restabelecimento da rentabilidade”,
pelo menos sete deles estão diretamente relacionados ao progresso tecnológico
(barateamento do capital constante, redução dos custos do capital variável pelo
progresso da maquinaria, redução do tempo de rotação, barateamento dos elemen-
tos da produção, surgimento de novas esferas de produção com menor composição
orgânica de capital, luta para eliminação do lucro comercial, influência das des-
valorizações periódicas do capiral existente,* aumento do capital por ações). Em
relação ao mercado mundial, para Grossmann (1929, p. 235), o peso do progresso
tecnológico é uma precondição elementar, pois “o avanço técnico constitui o único
método para afirmar-se no mercado mundial”. Grossmann (1929, p. 217) explicita-
mente avalia “o surgimento de novas esferas de produção com menor composição
orgânica de capital” — claramente se apoiando no que identifica em Marx —, “o
capital penetra sempre em novas esferas” (p. 217). Novamente, entre as contraten-
dências encontram-se elemenros para a compreensão da mobilidade dos capitais,
para fugas em direção a áreas de maior rentabilidade.
Na medida em que as ondas longas se sucedem, esses elementos centrais mudam
de formato. Por exemplo: a emigração de capitais (Mill, 1848) ou o “comércio
exterior” (Marx, 1894) — causas neutralizantes ou contrariantes da queda da taxa
de lucro — estão relacionados a uma dinâmica que, através do envolvimento de
empresas com o comércio exterior, é o início de um processo relacionado à inter-
nacionalização das empresas (Dunning, 1994, p. 193-208), processo típico das
empresas líderes especialmente após a Segunda Guerra Mundial — e as empresas
multinacionais tornam-se as empresas líderes da quarta onda longa no esquema de
Freeman e Perez (1988).
A identificação das expansões financeiras como movimentos de capirais supe-
rabundantes (em busca de áreas de maior rentabilidade) é outra relação entre a
elaboração dos ciclos sistêmicos de acumulação e a lei da queda tendencial da taxa
de lucro. Arrighi (1997, p. 157) esclarece que “(...) eu me apoio na hipótese de
Marx sobre o sistema de crédito como um instrumento-chave, tanto nacional como
* — Grossmann, no tópico sobre desvalorizações periódicas, refere-se a guerras. Essa referência é importante por
destacar a natureza bélica do capitalismo e por, indiretamente, tocar na associação entre tecnologia e a questão
mílitar.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta é Albuquerque
* Umdosprimeirostópicos dessa agenda seria uma avaliação da elaboração de Marx sobre o Estado, que, como
Rosdolsky (1968, p. 27) informa, seria um dos temas do livro 8 do plano de redação de O capital, que consta dos
Grundrisse (Marx, 1857-1858a, p. 264). Há obras importantes de Marx sobre o tema (por exempio, O 18 brumário).
E um balanço acabado da elaboração de Marx ainda não foi realizado, até mesmo porque, conforme Krãike (2008a),
o Projeto MEGA 2 conterá um conjunto de escritos sobre a Espanha (redigidos em 1854) que apresenta uma teoria
política de Marx (Krâike, 2008a),
Capitulo 5
Limte econômico ou metamorfoses
do capttaismo? | 161
* —Nessa relação entre demandas sociais e inovações institucionais, há uma dinâmica particular sugerida por
Faria (2005): “o Estado em movimento”, em reação a iniciativas de mudança institucional que emergem de novas
correlações de força na sociedade e propostas decorrentes dessas novas situações. Essa sugestão contribui para
diferenciar germes visíveis do socialismo e transformações estruturais no Estado. Especialmente porque germes
visíveis do socialismo incidem sobre o Estado e podem contribuir para a sua reconfiguração. Daí a importância do
conceito de “Estado em movimento",
* Habermas(1973,p. 53-60) apresenta quatro categorias da atividade governamental. 1) Estado constituí o mercado
(leis, proteção contra elementos autodestrutivos do mercado, organiza as condições gerais de produção, promove a
competitividade da sconomia nacional nos mercados internacionais); 2) adaptação do sistema legal às novas formas
de organização, competição e finanças; 3) ações do Estado que substituem o mercado, assumindo funções que o
mercado não assumíria (como gastos em P&D, formação profissional); 4) compensação para disfunções sistêmicas
— gastos sociais Para Habermas, as duas úÚltimas categorias são típicas do capitalismo organizado — o capitalismo
do pós-guerra. A elaboração de Habermas é uma referência para investigações sobre metamorfoses do Estado.
Capiítulo 8
Limite econômico ou metamorfoses
do capitalismo? | 163
?º? Tilly (1993), em seu estudo sobre a formação dos Estados na Europa, a partir do século X, discute “como a
guerra fez os Estados e více-versa” (p. 123-156), expondo uma dinâmica em que na origem está a preparação para
a guerra, mas que por diversos mecanismos força os Estados em construção a expandirem “atividades não militares”
(p. 180) Essa dinâmica inclui “encargos não planejados” (p. 182) e termina com um “resultado surpreendente”: “o
controle civil do governo” (p. 188).
162
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* —“OpesodoEstado no caso dos Estados Unidos é parte de caracteristicas definidas pela vaniedade de capitalismo
que ele representa. Outras variedades de capitalismo também detêm expressivas participações do Estado: Japão
(39,7% do PÍB), Alemanha (47,8%), França (56,0%) e Suécia (52,7%) (The Economist, 2011a, p. 2).
* — Diversaselaborações sugerem essa relação de interdependência entre as mudanças no Estado e na economia.
Em Marx (1869), há uma passagem na qua! é sintetizada uma dinâmica de mudanças no Estado trancês desde a
monarquia absoluta até o “segundo Bonaparte”: ao lado das mudanças políticas, Marxindica como uma maior divisão
do trabalho no interior da “máquina estata!” “(...) que crescia na mesma proporção em que a divisão de trabalho dentro
da sociedade burguesa criava novos grupos de interesse e, por conseguinte, nova material para a administração
do Estado" (p. 113-114). Offe (1984, p. 265) sintetiza a visão de Weber, que trataria como paralelas a expansão da
burocratização do Estado e da forma capitalista de produção — uma unease coexistence. Poulantzas (1978, p. 136)
apresenta uma periodização das formas do Estado capitalista que acompanha as diversas fases do capitalismo:
Estado liberal, Estado intervencionista e estatismo autoritário seriam as três formas de Estado. Poulantzas (1968,
p. 151) menciona “fenômenos de defasagem” nessa relação.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
organizado de forma centralizada” (p. 146). Polanyi (p. 139) especifica o papel da
legislação fabril e das leis sociais, leis para a terra, tarifas agrárias, bancos centrais
e gestão do sistema monetário para a autoproteção da sociedade em relação aos
mercados autorregulados de trabalho, terra e dinheiro.
A elaboração de Polanyi descortina um elemento dinâmico importante na
ampliação das funções do Estado, ao discutir o “duplo movimento” (p. 139 e 153)
relacionado à emergência dos mercados autorreguláveis e à reação espontânea de
autoproteção da sociedade. Como afirma Polanyi, “o laissez-faire foi planejado, o
planejamento não” (p. 146). Essa dinâmica de autoproteção da sociedade, no racio-
cínio de Polanyi, leva a um crescimento qualitativo de funções do Estado, como
a legislação fabril e as leis sociais, leis e tarifas para a terra, necessidade de bancos
centrais para a gestão do sistema monertário (p. 139).ºº
Preobrajensky (1926, p. 173-181) estuda mudanças estruturais durante a Primeira
Guerra Mundial, avaliando os efeitos das mudanças dos tempos de guerra sobre
a dinâmica econômica dos tempos de paz. Adam Smith antecipa essa formulação
de Preobrajensky ao chamar atenção para um fenômeno relacionado à forma de
financiamento de guerras: “A redução da dívida pública em tempo de paz nunca
manteve proporção alguma com o acúmulo da mesma em tempo de guerra” (1776,
v. 2, p. 324).º Essa elaboração de Preobrajensky é parte de um raciocínio mais
amplo sobre os limites à operação da lei do valor no capitalismo monopolista.
Inicia-se com a identificação, por ele, de quatro fases do capitalismo: clássico,
?? A persistência e os novos ditemas da operação desse “duplo movimento” polanyiano são discutidos por Block
e Evans (2005, p. 516-517) ao tratarem da construção de instituições globais na era atual.
* Osmovimentos da dívida pública apontam uma Íntima relação entre o desenvolvimento da dimensão financeira
e períodos de guerra. É vasta a lista de eventos que relacionam esforços para administrar em tempos de paz gastos
com a guerra anterior e que implicam saltos consideráveis na articulação interna de sistemas financeiros — mercados
para lidar com os títulos públicos criados para administrar gastos incorridos em tempos de guerra. Alguns exempilos:
1) a criação de um mercado de capitais nos Estados Unidos após a Guerra da independência (Sylia, 1999, p. 259-
260); 2) durante a Guerra Civil, a venda de US$ 1 bilhão em bônus de guerra, operação que envolveu Jay Cooke,
significa um salto na história de Wall Street (Geisst, 2004, p. 57); 3) durante a Primeira Guerra Mundial, o lado
financeiro do esforço de guerra nos Estados Unidos fez saltar o número de detentores de títulos de 350 mil em 1917
para 11 milhões em 1919, que subscreveram os empréstimos de guerra (Geisst, 2004, p. 151). Como comenta Geisst,
“inadvertidamente, o esforço de guerra deu a uma vasta maioria de pequenos investidores um gosto por títulos que
cresceria durante a década de 1920” (p. 151). Quando esses títuios venceram e o dinheiro estava disponível para
novos investimentos, “Wail Street e o sistema bancário estavam bem preparados para atender a essa nova classe de
investidores" (p. 158); 4) na Segunda Guerra Mundial, emissões de títulos pelo Tesouro alcançaram US$ 11 bilhões
em 1944 e chegaram a US$ 53 bilhões em 1945, Após Pear! Harbor, o Tesouro rapidamente levantou US$ 2,5 bilhões.
Para essas iniciativas, “o Tesouro solicitou aos banqueiros de investimento e às companhias que não ofertassem
nenhum título (...) para evitar que eles se chocassem com as suas emissões. Quando as operações de mercado
foram combinadas com o esforço industrial dirigido pela Defense Plant Corporation, esse esforço coordenado se
tornou o maior da história” (Geisst, 2004, p. 267).
Capiítulo 5 i
Limite econômico ou metamorfoses
do capitahismo? | 167
? O papel da questão militar na moidagem dos formatos de interação entre Estado e mercado não se limita
ao caso dos Estados Unidos, como a avaliação de Preobrajensky comprova. O efeito e os impactos dos
imperativos militares são importantes na esfera mundial e na construção, longa e lenta, do capitalismo global.
Wood (2003, p. 120-124) analisa o efeito de “pressões militares externas” (p. 123) sobre o desenvolvimento do
capitalismo e a industrialização na França e na Alemanha, no século XIX — passo importante para o que Wood
denomina “internalização dos imperativos capitalistas”. Esse raciocínio pode também ser aplicado ao processo
de industrialização do Japão no final do século XIX: pressão militar externa (Anderson, 1974, p. 536-539) e um
padrão de desenvolvimento no qual “a produção relacionada a questões míilitares ocupava uma parcela significativa
da economia do Japão” (Odagiri; Goto, 1993, p. 80).
166
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Esse sistema de diversos Estados tem problemas próprios, adverte Wood (2003,
p. 1á4).
Esse papel do Estado nacional é também destacado por Block e Evans (2005,
p. 517): empresas transnacionais dependem de apoio dos Estados nacionais de suas
sedes. Panitch e Gindin (2005, p. 112), também investigando novas funções para o
Estado dos Estados Unidos, discutem o seu papel na formação e no gerenciamento
do capitalismo global. A construção atual do que Wood (1999) denomina “transna-
cionalização de mercados e do capital”, processo supervisionado pelos Estados nacio-
nais mais importantes, determina o surgimento de novos problemas. Hobsbawm
(2010, p. 140-141) identifica a existência de entidades e práticas transnacionais em
choque com o Estado nacional — choque que pode ser entendido não como um
enfraquecimento do Estado nacional em si, mas a sua crescente incapacidade para
lidar com os problemas derivados da “internacionalização dos mercados”. Isso coloca
em discussão a necessidade de emergência de controles supranacionais para lidar
com os problemas da nova fase do capitalismo. Block e Evans (2005) perguntam
sobre a possibilidade de um contramovimento polanyiano na esfera internacional.
?*? —“Globalização que, por sua vez, está relacionada à revolução das tecnologias da informação e da comunicação
— ligação que Hobsbawm acentua (2010, p. 140) e Wood (1998, p. 41) problematiza.
Captulo 5
Liunte econômico ou metamorfoses
do capitaismo? | 171
? —Essaavaliação está em carta apresentada por Marianne Weber em sua biografia (Max Weber, carta de 24 nov.
1918, transcrita por Mariane Weber, 1926, p. 745).
172
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
2007, US$ 19 trilhões, em 2008, US$ 11,5 trilhões. A própria expansão anterior à
crise do mercado subprime de hipotecas imobiliárias (Brenner, 2006, p. 316 e 322)
pode ser interpretada como uma tentativa de encontrar canais de “valorização”
interna das massas de capitais excedentes circulantes nos Estados Unidos — movi-
mentos de capitais excedentes em busca de aplicação em ativos não direcionados à
produção, dado os limites de rentabilidade existentes.
À atual fase de “turbulência sistêmica” caracteriza-se pela combinação de diver-
sos elementos: declínio da hegemonia dos Estados Unidos, emergência da Ásia
Oriental como “oficina do mundo” (mas a preservação dos Estados Unidos como
principal “laboratório do mundo”), im do monopólio do dólar como divisa das
reservas internacionais e inexistência de uma nação ou um grupo de nações como
alternativa imediarta à hegemonia dos Estados Unidos. Além deles, há o surgimento
de dois elementos novos: 1) iniciativas internacionais concertadas entre os bancos
centrais dos países avançados (superando uma fase em que as medidas nacionais
eram o elemento fundamental) -- iniciativas que indicam uma nova natureza das
ações estatais anticrise; 2) um novo salto no big government para conter nacional e
internacionalmente a difusão da crise. Essas iniciativas podem ter efeitos não des-
prezíveis sobre a velocidade da transição hegemônica e a duração da fase de turbu-
lência sistêmica. Porque são iniciativas que postergariam o reencontro em um país
(ou região) da “função de banco central de compensação” com o “papel de oficina
do mundo” — características básicas de um novo centro de um ciclo sistêmico de
acumulação (Arrighi er a/., 1999, p. 72).
Há uma vasta polêmica em torno do diagnóstico de Arrighi: Panitch e Gindin
(2005) consideram prematura a identificação do fim da hegemonia dos Estados
Unidos. Porém, Panitch e Gindin reconhecem que a China tem potencial para
emergir como rival do US empire, embora essa possibilidade ainda esteja distante
(p. 122-123). Um ponto de concordância entre a elaboração de Panitch (e mesmo de
Wood) e Arrighi estaria no diagnóstico da “bifurcação” entre o poder econômico e
militar aparentemente em curso. Arrighi e Silver (1999, p. 285) consideram que não
há precedente nas transições anteriores. Wood (2003, p. xil), por sua vez, reconhece
que a supremacia econômica dos Estados Unidos “não é mais tão incontestada como
antes”. Entre estudiosos da China há dúvidas sobre a sua capacidade em assumir
a liderança hegemônica no lugar dos Estados Unidos (Naughton, 2007, p. 349).
Para a discussão das metamorfoses do capitalismo, o crescimento do peso da
Ásia Oriental na dinâmica econômica atual é expressão de uma mudança estrutural
importante — e expressão da variedade de capitalismos. À natureza do capitalismo
no Japão (Ohkawa; Kohama, 1989), na Coreia do Sul (Amsden, 1989) e em Taiwan
(Wade, 1990) envolve uma nova forma de interação entre plano e mercado, dada
Capitulo 5
Limite econômico ou metamorfoses
do capitalismo? | 175
? Emtrabalhoanterior é realizada uma resenha em relação às elaborações sobre ondas tongas (Albuquerque,
1990, cap. 1), basicamente a partir de um diálogo entre as contribuições de Mandel (1980) e Freeman (1984).
Nesse trabalho, tentam-se articular as metamorfoses que o sistema sofre em cada onda longa com mudanças
nos mecanismos de operação da lei do valor (Albuquerque, 1990, p. 28). Essa tentativa foi avaliada de forma
crítica posteriormente (Albuquerque, 1996, p. 191), o que levou à sugestão de existência de um “curto-circuito
no valor". À incorporação da dimensão financeira e de seu papel na contenção da explosão do valor amplia a
discussão do tema.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* É verdade que Schumpeter (1911) já colocava o mercado de capítais como o “quartel-general” do sistema
capitalista.
Caprulo 5 |
Limite econônico ou metamorfoses
do capitalismo? | 179
US$ 60,87 trilhões (World Federation of Exchanges, 2007, p. 74). Dentro de certos
limites, a acumulação de capital fictício pode ser uma arma na luta competitiva,
uma vez que firmas podem ser adquiridas por emissão de ações e a recomposição
da capacidade produtiva e inovativa pode ter lugar apenas com a utilização dessa
acumulação de capital fictício.
Dada a ampliação do peso do capital fictício, desenvolvem-se novas funções para
os sistemas estatais de administração monetária, entre elas está a função de barreira
de contenção da cotação das “ações” e do capital fictício em geral.
Finalmente, a flexibilidade do capital financeiro, seguindo a lógica enfatizada
pela abordagem dos ciclos sistêêmicos de acumulação, permite a fuga de problemas
derivados da operação minada da lei do valor, buscando novos locais de acumu-
lação — o mundo das finanças como o “antimercado”, como sugere Arrighi. Cada
expansão financeira tem um diferenrte formato institucional decorrente da natureza
das instituições financeiras mais importantes em cada fase, com destaque para as
diferenças entre os tipos e o peso do capital fictício envolvido.
Há aqui uma sucessão de formas organizacionais, que coevoluem com as organi-
zações econômicas e oferecem diversas alternativas de saída — de forma diferenciada
— aos entraves que surgem no processo de acumulação. As mudanças na organização
do sistema financeiro repercutem sobre o formato das crises que surgem.
544 O Estado
? Wood(1998, p 38-40) discute questões relacionadas à periodização no capitalismo. O texto é uma crítica à
divisão entre a modernidade e a pós-modernidade, mas identifica um conjunto de questões que contribuiriam para um
debate (necessário) sobre como periodizar o capitalismo. Wood considera a existência de mudanças tecnológicas ao
longo da história do sistema, mas alerta para os riscos de determinismos tecnológicos. Wood sugere uma mudança
histórica importante na atualidade — mais um salto na internacionalização dos mercados.
Capitulo 5 !
Limite econômico ou metamorfoses ,
do capitalismo? 181
Por outro lado, esse resultado e essa compreensão teórica podem ser contrapostos
à elaboração de Hayek, que sugere que o mercado responderia à complexidade da
atividade econômica — e deve ser deixado à sua própria regulação.
A articulação entre a abordagem das ondas longas com os ciclos sistêmicos de acu-
mulação enfatiza a capacidade de persistente transformação do sistema capitalista.
Essa ênfase na capacidade de transformação do sistema capitalista é um elemento
de análise que muitas vezes falta em avaliações mais localizadas sobre o destino do
atual modo de produção. Essa lacuna pode ser percebida nas controvérsias sobre a
aplicação da ciência à produção e sobre o crédito,
A dinâmica de longo prazo é uma exposição sobre a superação de barreiras e a
criação de outras, como sugere Marx. A partir da ênfase colocada na capacidade
de transformação e na capacidade de superação de barreiras, recoloca-se a questão:
há um limite para esse processo? À escala dessas barreiras alcançaria um nível que
não pode ser ultrapassado?
A literatura econômica trata desse tema em diversos momentos.
Grossmann (1929) é explícito na formulação da teoria da derrocada. Porém,
uma leitura cuidadosa desse livro revela o arsenal de “circunstâncias neutralizantes”
à disposição do capitalismo para evitar a chegada da derrocada. O conjunto das
contratendências à queda da taxa de lucro é vasto o suficiente para sempre — até
aqui — conseguir se contrapor aos fatores determinanrtes da queda da taxa de lucro.
Nesse sentido, Grossmann traz uma importante contribuição para as elaborações
sobre ondas longas e ciclos sistêmicos ao escrever um livro que na verdade lida com
a flexibilidade do sistema, e não com a sua derrocada.
Schumperter (1942) é o autor mais enfático sobre o fim do capitalismo. À sua
superação seria resultado do seu sucesso, e o socialismo poderia ser democrático e
mais inovativo do que o capitalismo. É curioso que um autor tão importante na
elaboração da abordagem das ondas longas do desenvolvimento capitalista tenha
realizado esse diagnóstico. A ênfase de Schumpeter na emergência das grandes
sociedades anônimas no século XX, que tornaria obsoleta a função empresarial ao
tornar a atividade inovativa rotineira, é a base desse diagnóstico sobre os limirtes do
Capitulo &
Limite econômico ou metamorfoses
do capitaiismo? | 183
para se contrapor a essas barreiras mais poderosas também crescem de forma sig-
nificativa — o Estado tem aqui um papel central. A ação para a contenção da crise
implica o início de algumas transformações estruturais que afetam a natureza da
dinâmica capiralista, o que implica novas fontes para indeterminação em relação
aos resultados e novos testes para a flexibilidade do capitalismo como sistema global.
A ação para a contenção da crise de 2007-2008 pode significar o início de
uma nova fase, À ação concertada de Estados nacionais (BIS, 2009, p. 18) foi um
ponto-chave para a contenção da crise. Essa ação pode abrir uma nova fase para a
dinâmica capitalista global, em especial por definir um novo estágio para a ação
do Estado nos países centrais.
A resposta do governo dos Estados Unidos à crise financeira de 2008 é instrutiva,
dado o peso da intervenção pública para evitar a quebra de bancos importantes para
o sistema financeiro. Essa ampliação do alcance e da dimensão do setor público
estabelece, potencialmente, novas demandas para as instituições democráticas:
controle democrático sobre gastos públicos.
À crise de 2007-2008 e sua contenção devem ser entendidas como resultado de
uma dinâmica na qual os efeitos recíprocos (ou o interplay) entre o Estado e o merca-
do se processam de uma forma na qual predominam as negociações entre setores das
elites — classes dominantes -- com pequena participação popular: o sufrágio universal
é importante para conter ações mais pesadas de natureza antipopular — ver o special
report “Repent at leisure” (The Economist, 26 jun. 2010, p. 13) e a impossibilidade
de um free-market Stalin. Ou seja, o rearranjo entre Estado e mercado ocorre de
uma forma na qual a pressão popular está presente na parte defensiva — instituições
construídas em fases anteriores — e ausente na parte propositiva (fruto da debilidade
dos movimentos sociais e dos movimentos dos trabalhadores em escala mundial).
À mudança de tom nas matérias do The Economist é um indicador de uma nova
preocupação: em 2010 há um special report sobre endividamento, com especial
ênfase na dívida pública; em 2011 publica-se um special report sobre o Estado.
Novas funções de regulação para o Estados nos países capitalistas centrais devem
ser definidas (há um vasto consenso, que pode ser visto em publicações do BIS, do
FMI e do próprio The Economist). Problemas derivados da administração da dívida
pública devem determinar uma nova expansão dos Estados. Daí deve derivar-se
um novo arranjo.
À repercussão mais importante da ação combinada entre a crise e as medidas
para a sua contenção é a aceleração da transição para uma nova fase do capitalismo
global. As evidências são diversas:
182
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Não é simples a questão sobre a “escala” das barreiras erguidas pelo capitalismo.
Porque, por um lado, elas são de fato cada vez maiores. Por outro, porém, os recursos
* Lêninapresenta esse balanço no informe ao Segundo Congresso da !!! Internacional! tratando de uma conjuntura
que pode ser descrita como revolucionária — em especial na Alemanha (ver Broué, 1971). A ênfase nessa alta
capacidade de manobra da burguesia em um contexto desfavorávei é uma demonstração cabal da ausência de
qualquer determínismo na transição para o socialismo, O informe de Lênin utiliza-se ampla e elogiosamente de um
texto de Keynes (As consequências econômicas da paz).
184
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
E
Um special reportdo The Economistconsidera que “a crise do sistema bancário ocidental, ainda ressoando no sul
da Europa, parece ter acelerado a mudança da força dos bancos dos países ricos para o mundo em desenvolvimento”
(2010b, p. 1). O papel do sistema financeiro chinês é evidente nessa mudança.
Capitulo 5 |
Limite econômico ou metamorfoses :
do capitahsmo? : 185
capiralismo, a longo prazo, tem originado novos problemas que podem colocar um
limite à existência humana: os riscos de uma carástrofe ambiental expressam uma
nova escala dos problemas criados pelo capitalismo.”?
Esse resultado indeterminado em relação aos limites econômicos do capitalismo,
dada a sua flexibilidade, e esses novos desafios provocam a discussão de alternati-
vas ao capitalismo. Porque a eventual superação do modo de produção capitalista
depende do processo democrático (e de seu aprofundamento) e de uma escolha da
população no sentido da construção de uma nova sociedade.
* Comoumtrabalhorepresentativo dessas novas questões, Rockstróm ef at. (2009) descrevem um balanço delicado
para a existência humana na Terra. Existiriam nove condições planetárias cujo respeito garantiria a permanência do
nosso planeta habitável pela espécie humana. Entre essas condições estão “acidificação de oceanos”, espessura da
camada de ozônio, uso de água potável, poluição química. Segundo Rockstrom et a/. (2009), três dessas condições
já tiveram os limites toleráveis ultrapassados (mudança climática, ritmo de perda de biodiversidade e os ciclos de
nitrogênio e fósforo).
Parte 3
Alternativas ao capitalismo
Capitulo 6
? Kirzner(1988,p.1)ressalta a importância dos debates entre 1908 e 1945 como um elemento impuisionador da
elaboração teórica da Escola Austriaca.
* —Emirabalho anterior (Albuquerque, 2008), avaliam-se as rodadas da discussão sobre plano e mercado no
século XX.
S —"Nesse balanço é crucial discutir por que o resultado da bancarrota das burocracias do Leste Europeu foi a
restauração da economia de mercado e não a transição para uma forma mais democrática de organização social
não capitalista. Essa alternativa é considerada por Mandel (1989, p. 15) como uma das possibilidades. É interessante
anotar que Mandel (1988), nessa análise realizada durante o períado Gorbatchov, avalia quatro cenários, dentre os
quais não consta a restauração do capitalismo. Essa alternativa, entretanto, é avaliada por Trotsky (1937), em seu livro
ÀA revolução traída. Nesse livro, Trotsky destaca a superioridade econômica e tecnológica do capitalismo, considera
a “intervenção das mercadorias a baixo preço” como o maior perigo para a URSS (p. 11) e pergunta se “os êxitos
econômicos e culturais obtidos previnem-nos do perigo de uma restauração capitalista” (p. 34). O final da URSS,
em 1991, responde essa pergunta de Trotsky. À natureza da bancarrota das burocracias demanda uma reavaliação
crítica da visão de Trotsky sobre a natureza do Estado soviético. À elaboração de Hannah Arendt (1968) é uma
referência teórica indispensável - para caracterizar a natureza totalitária do stalinismo. Essa caracterizaçãojá havia
$ido esboçada por Hilferding (1940) durante a Segunda Guerra Mundial. Um trabalho anterior (Albuquerque, 2005)
apresenta uma discussão inicial de um balanço da URSS, com ênfase na dimensão tecnológica. As duas principais
ausências desse trabalho são a crítica de Rosa Luxemburgo (1918) à dissolução da Assembleia Constituinte pelos
bolcheviques e a refiexão de Hannah Arendt (1968) sobre a natureza do totalitarismo stalinista.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* — Hayek, mercadoe o
“problema do conhecimento”
A definição dos novos termos do debate envolve uma visão crítica de pontos
centrais da elaboração da Escola Austríaca;em especial a visão sobre a natureza
do mercado na sociedade capitalista. Essa visão crítica é importante também
porque boa parte das propostas atuais de socialismo de mercado contém (explí-
cita ou implicitamente) a aceitação da interpretação de Hayek sobre o mercado.
Uma delas, explicitamente, propõe ser Hayek uma das vertentes básicas para a
construção de uma alternativa de socialismo, ao lado de Marx e de Aristóteles
(Burczak, 2006, p. 4)
A trajetória de Hayek inicia-se com a sistematização das posições de von Mises
na controvérsia sobre o cálculo socialista (1935), passa ao ataque de propostas
de socialismo de mercado (1940), ataca as políticas relacionadas ao New Deal
(1944), chega a uma crítica a políticas keynesianas em geral (1974) e aos sistemas
de bem-estar social em particular (1976a).
Uma das principais elaborações de Hayek é a definição do “problema do
conhecimento”, que se transformou em um tópico aceito de forma pouco crí-
tica nos debates atuais. À importância desse ponto é perceptível na elaboração
* —O Capítulo 4 deste livro é um início de reflexão sobre a natureza da experiência chinesa em relação ao
soclalismo. O número especial da Historical Materialism (v 18, n. 1, de 2010), um simpósio sobre a elaboração
de Arrighi sobre a China, é uma leitura importante.
? —Adamane Devine (1997), anteriormente, apresentaram uma proposta de “modelo austriaco de socialismo de
mercado" (ver Albuquerque, 2008).
Capitulo 6 |
Uma resenha do debate atual í
193
? —“Oproblema do conhecimento é o argumento de que um escritório de planejamento central, mesmo que bem-
“intencionado, não teria o conhecimento para combinar recursos de uma forma econômica o suficiente para sustentar
a tecnologia moderna” (Lavoie, 1985a, p. 52).
? —Acríticaaos problemas do planejamento centralizado, burocrático e autoritário da URSS foi realizada por Trotsky,
desde a década de 1920 (ver Nove, 1981).
* “Seriainteressante observarque o tom de Hayek contra a abordagem do equilíbrio geral cresce à medida que os
textos se sucedem,. O que está em curso, de forma paralela, é o desenvolvimento da visão de mercado por Hayek,
que o faz distanciar-se crescentemente da visão apresentada pela abordagem do equilíbrio geral. É importante
lembrar que a elaboração de Taylor e Lange apoia-se na abordagem do eguilíbrio geral.
Capítuto 6
Uma resenha do debate atual
195
o conhecimento (p. 223).* Nesse texto, Schumpeter é criticado por sua posição
no livro Capitalismo, socialismo e democracia (p. 222) em relação ao debate sobre
plano e mercado.
Após essas intervenções no debate específico sobre o “cálculo econômico sob o
socialismo”, Hayek avança na crítica a intervenções públicas ou estatais nas eco-
nomias capitalistas: critica o keynesianismo (1973) e tentativas de reformas sociais
(1976a). Esse caminho de FHayek pode ser captado desde o seu livro The road to
serfdom, no qual é apresentada a sua forte propensão teórica para insinuar que
tudo o que interfere no mercado (incluindo o New Deal, políticas keynesianas e o
Welfare State) tem o potencial de levar a sociedade ao full-fledged socialism — como
Hayek escreve na introdução da edição de 1956 do livro (Hayek, 1999, p. xxxiv).
Enfim, ele transita do debate sobre o “socialismo” para o debate sobre reformas no
capitalismo.”?
Em textos posteriores (1976a, p. 107-109; 1978), Hayek explicita uma visão mais
geral da ordem de mercado. Os problemas mais importantes dessa elaboração são o
seu caráter a-histórico (o mercado seria uma instituição que não se transforma com
o tempo) e a ausência de reflexões sobre a natureza da sua relação com o Estado
(que esteve na origem dos mercados modernos e preserva a capacidade de definir a
abertura de novas áreas para a atuação do mercado).
Nessa visão mais geral, há a associação entre mercado (como ordem espontâ-
nea) e complexidade, na qual a posição de Hayek é inequívoca: a complexidade da
economia só pode ser adequadamente processada pelo mercado, em função da sua
natureza como um organizador e coordenador de milhões de planos individuais e
informações dispersas que não são processadas e nem processáveis por nenhuma
entidade/instituição central (Hayek, 1945; 1976a, p. 107-109). Porém, historica-
mente, a crescente complexidade da economia tem se associado ao surgimento de
diversas novas instituições não mercantis para responder aos novos problemas e às
novas questões que emergem,
? “Nessetexto, Hayek considera que é errôneo considerar que "nossa análise de equilíbrio (..) tenha relevância
direta para a solução de problemas práticos" (1945, p. 223).
? Essamudançatambém pode ser acompanhada em Lavoie (1985a, p. 2-3), que parte da crítica ao “planejamento
compreensivo" (modelo stalinista) para a crítica do “planejamento não compreensivo”, que inclui experiências como
a da Reconsíruction Finance Corporation — criada em 1932 por H. Hoover — e a do MITI japonês.
* —A elaboração de Weber é importante para indicar essa relação Em uma resenha, Held (1989) sintetiza o que
seria a visão de Weber: “Na medida em que a vida econômica se torna mais complexa e diferenciada, a administração
burocrática se torna mais essencial” (p. 42).
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* Lavoie(1985a, p. 87) indica o papel da teoria do conhecimento de Hayek como base de toda a sua elaboração,
inclusive da crítica ao planejamento central.
1961
É AGENDA ROSDOLSKY
| Eduardo da Motta e Albuquerque
* Pelikan(2003) formula explicitamente esse ponto, ao propor a ideia de uma “pausa evolucionária”.
Capitulo 6 |
Uma resenha do debate atual
* —“Essadistinção entre justaposição espacial e sucessão temporal é utilizada por Marx (1894, t. 1, p. 188) em outro
contexto,
Capítulo &
Uma resenha do debate atual
199
Por isso, explicita Lavoie (1985b, p. 30), “(...) Marx ensinou que implícitos na sua
crítica negativa do capitalismo estavam os pontos essenciais de sua teoria positiva
do socialismo”.
Assim, todos os estudos de Marx sobre o capitalismo teriam por objetivo
compreendê-lo para, a partir do negativo de suas características estruturais, definir
as características constitutivas do socialismo. O roteiro de Lavoie sobre Marx está
organizado em torno da oposição entre a “produção social anárquica” do capita-
lismo e a “produção conscientemente organizada” do socialismo. Ou seja, a partir
do método do socialismo como o negativo do capitalismo, a abolição do mercado
assumiria uma característica-chave do socialismo na visão de Marx: Lavoie chega
a sugerir que a crítica de Marx ao capitalismo está fortemente interligada com
seu “conceito de planejamento econômico central” (1985b, p. 39). É interessante
observar que Bukharin, em sua fase de <comunista de esquerda”, é um autor ampla-
mente citado por Lavoie (1985b, p. 40). Nessa fase, Bukharin buscou sistematizar
as características do período como um caminho na transição ao socialismo — uma
formulação teórica apressada e pouco crítica em relação às condições históricas
peculiares ao período. Malle (1985, p. 8) descreve o principal trabalho de Bukharin
no período como uma racionalização da organização econômica do comunismo de
guerra. Lavoie (1985b, p. 40) justifica o uso das referências de Bukharin porque,
no momento em que Mises escreveu o seu ensaio, ele seria o teórico marxista mais
importante. Essa conexão teórica pode ser mais bem compreendida a partir da
segunda contribuição específica de Lavoie.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
17 —A profusão de avaliações desse grande debate chegou a um ponto em que é possíve! e úti! a redação de um
artigo específico sobre o debate em torno do debate - a primeira rodada do grande debate, de acordo com a
pariodização proposta anteriormente (Albuquerque, 2008), Interpretações como Murre! (1983), Caidwell (1997), Boetike
(2001), Stiglitz (1994), Howard e King (1992), entre outras, levantam diversos pontos e geram uma controvérsia rica
teoricamente.
* Oqueimplica uma divisão de trabalho entre Mises (que teria focalizado a visão de Marx sobre planejamento
central) e Hayek (que teria redirecionado a discussão para o socialismo de mercado) (Lavoie, 1985b, p. 50).
200
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* —Adiscussão crítica dessas duas posições é importante e necessária, mas ultrapassa os limites deste capítulo.
Em uma avaliação recente da trajetória geral do processo histórico da URSS (em contraste com a China), Perry
Anderson (2010) contribui para o entendimento das peculiaridades do período pós-revolucionário (e das diversas
possibilidades alternativas de desenvolvimento histórico). Um elemento definidor da trajetória da revolução russa é
a sequência entre a revolução e a guerra civil - enquanto na Rússia essa foi a ordem, na China ocorreu o inverso (a
revolução foi posterior à guerra civil). Essa sequência tem enorme repercussão sobre o desdobramento do processo
revolucionário.
Capitulo 6 ;
Uma resenha do debate atual |
201
Com o fim da URSS, em 1991, teria sido aberta a quarta rodada do grande debate
econômico entre plano e mercado — rodada relativa ao “socialismo de mercado”.
Em relação às características discutidas anteriormente (Albuquerque, 2008), três
tópicos sintetizam essa rodada.
?º Aassociação entre stalinismo e socialismo é explicitada em Hayek (1944, p. 32), que também se esforça para
associar socialismo com o nazifascismo. Para Hayek (1944, p. 6), “a ascensão do fascismo e do nazismo não foi uma
reação contra as tendências socialistas do período precedente, mas um resultado necessário dessas tendências”.
Caprtulo 6
Uma resenha do debate atual
?? —Asofisticação dos mercados financeiros e da regulação pública desses mercados é pré-requisito para a proposta
de socialismo de ações (coupon economy) - o caso dos Estados Unidos, Para países com níveis mais baixos de
desenvolvimento, o modelo apoiado em bancos — estilo keiratsu — é sugerido (Roemer, 1994, p. 83).
202| AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Para Roemer (1994), os modelos da atual fase dos debates (“quinta geração”
na sua cronologia) partem de três circunstâncias. Em primeiro lugar, “os propo-
nentes do socialismo de mercado não apenas deixaram de insistir como Lange na
determinação dos preços industriais pelos planejadores, e não pelo mercado, mas
também dispensaram a propriedade pública ( no sentido de um controle exclusivo
pelo Estado)” (1994, p. 33). Em segundo, “o ponto de Kornai e de Hayek foi aceito,
na medida em que os governos não podem comprometer-se com a não interferência
no processo competitivo e que, portanto, os gerentes não serão maximizadores de
lucro e a ineficiência econômica será o resultado” (p. 34). Em terceiro, esses modelos
de quinta geração seriam socialistas porque as firmas não são propriedade privada
(p. 34).
* Umacontribuição teórica adiciona! desse modelo é a inclusão dos chamados public bads, que são gerados pelo
processo produtivo capitalista. A inclusão dessa variável na avaliação do modelo é importante em nosso tempo de
enormes problemas ambientais.
* — Hayek(1976a,p.67-70) discute a inaplicabilidade do conceito de justiça para os resuitados da “ordem espontânea”,
Capituto 6
Uma resenha do debate atual E
205
? —Miguel (2006, p. 106) destaca esse ponto com muita propriedade em sua avaliação da proposta de van Parijs.
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Burczak (2006) ressalta os elementos de síntese que sua proposta contém, sempre
com o objetivo de preservar os mercados competitivos: “se fosse adotada alguma
versão da proposta de Ackerman e Alsttot (statkeholder society) e alguma forma da
emenda de Vanek (abolição do trabalho assalariado), a autogestão operária poderia
funcionar bem em um processo de mercado competítivo” (p. 140).
Finalmente, a similaridade à proposta de Bowles e de Gintis (1998) é reconhe-
cida: um socialismo de mercado que contenha democracia no local de trabalho e
distribuição de ativos (p. 144),
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
* Namesmalinhaderaciocínio está a elaboração de Mandel (1967), com um capítulo no qual discute “os Grundrisse
e a dialética do tempo de trabalho e tempo livre”.
Capitulo &
Uma resenha do debate atual
A posição de Pelikan (1988), dada a sua presença em uma obra teórica de refe-
rência da abordagem evolucionista (Dosi et al., 1988), merece uma discussão mais
cuidadosa. Na medida em que esse trabalho de Pelikan conclui a parte 5 do livro de
Dosi et a/. (1988), relativa aos sistemas nacionais de inovação, a pergunta do título é
relevante: “Can the imperfect innovation systems of capitalism be outperformed?” A
resposta de Pelikan é negativa. Para ele, “os regimes mais avançados, que promovem
o progresso tecnológico melhor do que todos os outros regimes, pertencem à classe
de regimes capitalistas — ou seja, regimes que permitem a propriedade privada de
capital, transferível através dos mercados de capital” (1988, p. 389-393). A razão
para isso, desenvolve Pelikan, envolve a alocação de “competência econômica”, tarefa
da “auto-organização econômica”: “a auto-organização econômica não pode ser
planejada previamente de forma ótima, mas deve envolver experimentação através
de tentativa e erro” (p. 390). Isso envolve “a geração de tentativas e eliminação de
erros subsequentes ou, alternativamente, a seleção de sucessos”.”/
A influência de Hayek, nesse texto de Pelikan, também é perceptível — mais clara
em texto posterior (Pelikan, 2005). Em um livro com a importância e a ambição
de Dosi et al. (1988), deve ser observado o tratamento ligeiro dado a autores como
Marx e Schumpeter no texto de Pelikan — que trataria de alternativas socialistas.
Afinal, Schumpeter (1942) tem uma avaliação sobre o destino do capitalismo, sobre a
viabilidade do socialismo (nos países maduros para tal experiência) e sobre a possível
superioridade tecnológica do socialismo sobre o capitalismo. Esses temas não são
tratados por Pelikan (1988), que ilustra empiricamente a superioridade do sistema
capitalista a partir de comparações com a URSS (país avaliado por Schumpeter
como não maduro para um experimento socialista).
Para um trabalho em um livro associado a uma abordagem evolucionista da
economia, seria bastante curiosa a definição do sistema capitalista como o fim
da evolução econômica. Aliás, outro texto de Pelikan (2005) trata desse tema e
chega a uma formulação paradoxal em termos evolucionários — a defesa de uma
“pausa evolucionária” (p. 255). Essa pausa seria justificada porque “evolução é
menos um processo de mudança incessante do que uma busca por uma solução
? —Aposição do editor da parte relativa aos sistemas de inovação no livro de Dosi et ai. (1988), Richard Nelson, pode
ser interpretada como um distanciamento elegante, Nelson, na introdução da parte 5, anota o ponto que considera
mais importante no capítulo de Pelikan (sua crítica à incapacidade gerencial dos responsáveis pelas empresas
socializadas), mas ressalta como ausentes temas como os problemas existentes para a dinâmica estritamente
mercantil e toda a discussão realizada nos demais capítulos do livro. Em outro trabalho (Neison, 2005), no qual
discute temas relacionados ao capítulo de Pelikan, é notável a inexistência de qualquer referência a esse trabalho.
Essas indicações podem sinalizar um relativo desconforto de Nelson com a elaboração de Pelikan.
Capítulo 6
Urma resenha do debate atua!
1211
atribuídas apenas ao mercado. Essa postura teórica e histórica perpassa boa parte
das elaborações relativas à impossibilidade do socialismo e sobre o socialismo de
mercado.
Nesse ponto, a contribuição dos neo-schumpeterianos é importante. Não parece
ser causal, portanto, a reprimenda que Kirzner (1988, p. 16) faz em relação à visão de
Richard Nelson sobre a natureza do progresso tecnológico no capitalismo moderno.
A discussão da natureza do progresso tecnológico no capitalismo contemporâneo
é importante porque prepara a elaboração sobre o papel do arranjo institucional,
sintetizado pelo conceito de sistema de inovação, como um dos “germes visíveis”
do socialismo.
trabalhável, e portanto pode parar, ou pelo menos fazer uma pausa longa, sempre
que uma solução bem-sucedida é encontrada” (p. 255). À economia capitalista
contemporânea teria alcançado essa posição (p. 256).
Entre os dois textos de Pelikan há uma associação: em um (1988) o autor negaa
possibilidade de sistemas de inovação mais produtivos do que os “imperfeitos siste-
mas capitalistas de inovação”, enquanto em outro (2003) sugere que a evolução deve
tomar uma patisa. Fica aí uma contradição importante: uma economia evolucionista
sem evolução, em termos de sistemas econômicos. Para essa pausa evolucionária,
a justificativa é a elevada taxa de mudança tecnológica no capitalismo (p. 256).º8
Há nessas colocações outro elemento curioso. Afinal, essa visão sobre tecnolo-
gia e a sua relação imediata e não qualificada com o mercado é uma peça central
seja para justificar a impossibilidade do socialismo (Lavoie, 1985b, p. 34; Pelikan,
1988; Howard; King, 1994, p. 143), seja para sustentar teoricamente o papel do
mercado nos diversos modelos de socialismo de mercado (Hodgson, 1999, p. 46;
Stiglitz, 1994, p. 152). Roemer (1996, p. 8) é um bom exemplo dessa associação: “a
eficiência dinâmica com a qual os mercados são sempre relacionados — eles geram
inovações em tecnologia e mercadorias mais efetivamente do que qualquer outro
mecanismo econômico (...).”
O problema principal dessa visão é o descaso com os estudos da economia da
tecnologia, em especial as investigações a partir do conceito de sistemas nacionais
de inovação, que ressaltam como o progresso tecnológico é produto não apenas
do mercado, mas de um complexo arranjo institucional que envolve muiro mais
do que o mercado.** O vigor do progresso tecnológico das economias avançadas
é consequência de uma singular interação entre instituições governamentais, não
governamentais e o mercado — a interação é tão forte que chega a caracterizar a
moderna economia capitalista como uma economia mista, e não puramente mer-
cantil. Esse complexo arranjo institucional é posto de lado na avaliação do progresso
tecnológico nas sociedades capitalistas desenvolvidas e na discussão de proposições
e de avaliações de longo prazo das sociedades capitalistas. Ou seja, as realizações do
capitalismo como uma economia mista (Nelson, 2009) e da singular combinação
entre plano e mercado existente no capitalismo moderno (Arrighi, 1994) são todas
* Uma questão para avaliação posterior é relativa à possível influência de Pelikan (1988) na contenção da
capacidade crítica da elaboração neo-schumpeteriana e no estímulo a uma ênfase exagerada na limitação de todas
as discussões dessa importante corrente teórica aos limites do sistema capitalista.
?? —A elaboração de Hayek sobre o mercado como processo de descoberta, no qua! a ação empresarial descobre
oportunidades, não inclui na análise o papel das oportunidades abertas por avanços na ciência financiados
publicamente. Essa é uma limitação importante das análises da Escola Austriaca.
Capítulo 7
À forma como Marx lida com o tema do socialismo é alvo de uma polêmica
entre diversas abordagens. É possível organizar as diferentes interpretações em pelo
menos três posições distintas.
À primeira posição considera que Marx desenvolveu pouco a questão do socialis-
mo, sintetizada na formulação de Blackburn (1991), que avalia a existência de uma
* —“HánoMEGA2, blocoll,v.15,p 1142, uma nota na qual os editores informam que a passagem foi traduzida
por Rubel de forma diferente, pois ele considerou que Engeis teria confundido a letra de Marx, trocando um rpor
um $ (seria es ao invés de er). O que mudaria a interpretação da passagem, pois quem se manifesta seria não a
contradição (er, Widerspruch), mas o sistema de ações (es, Atkienwesen)
? —“Paraumbalançodacríticade Marx sobre o papel do crédito na transição nas propostas proudhontanas e saint-
“Simonianas, ver Albuquerque (2010b).
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
operários à ordem capitalista (com as diversas concessões necessárias para tal objetivo
político). Por isso, políticas sociais, certas medidas isoladas relacionadas aos sistemas
de bem-estar social, não correspondem aos germes visíveis.
Em segundo lugar, há outras elaborações que explicitam a origem de uma nova
sociedade a partir de elementos presentes na dinâmica da sociedade capiralista.
Autores como Vadée (1992) avaliam “tendências imanentes” no coração da dinâmica
capitalista apontando para a transformação. Paula (2003, p. 150) discorre sobre as
“virtualidades emancipatórias” das cidades no capitalismo. Essas elaborações enfa-
tizam no que a formulação sobre “germes visíveis” busca insistir: a possibilidade
do socialismo está ancorada na própria realidade do capitalismo. Embora exista
essa similaridade metodológica, a identificação de germes visíveis acrescenta a essas
duas importantes forças potencialmente transformadoras — tendências imanentes no
capitalismo e virtualidades emancipatórias de diversas construções humanas — um
novo elemento institucional,
Germes visíveis do socialismo são arranjos institucionais que se desenvolvem ao
longo da história do capitalismo. Germes visíveis se materializam em instituições e
arranjos institucionais, corporificam-se e passam a ser parte da própria dinâmica da
sociedade capitalista. Como arranjos institucionais específicos, têm vida e dinâmica
que lhes são singulares. Por isso, não se confundem com o Estado ou com suas
transformações estruturais ou com outras forças potencialmente transformacdoras.
A ênfase na natureza distinta e específica desses germes visíveis é apoiada
em estudos voltados para esses arranjos institucionais. Por exemplo, a literatura
neo-schumpeteriana sobre sistemas de inovação insiste na singularidade desses
arranjos institucionais específicos (Freeman, 1988; Nelson, 1993). Sobre o sistema
de bem-estar social, Esping-Andersen (1995, p. 714) avalia “a emergência de uma
construção institucional historicamente nova e única”, enquanto Goodin (1988,
p. 3) o descreve como “um artefato político”.é
Em geral, os “germes visíveis” são resultado de lutas sociais, de forças fortemente
emancipatórias ou de elementos intrinsecamente comunitários incrustados nesses
arranjos institucionais. O potencial emancipatório da ciência é básico para a carac-
terização do arranjo institucional “sistema de inovação” como um germe visível — a
dificuldade da subordinação completa da ciência ao capital é uma demonstração
dessa natureza. À origem anticapital e a força civilizatória dos sistemas de bem-estar
social, com a sua capacidade de incorporar parcelas excluídas, desmercantilizar a
força de trabalho e gerar mobilidade social ascendente, permitem a sua caracterização
* — Rosdolsky não pôde beneficiar-se das elaborações acadêmicas sobre sistemas de inovação (a elaboração de
Freeman é de meados da década de 1980) e sobre os sistemas de hem-estar social (o trabalho de Esping-Andersen
é publicado em 1990),
Capitulo 7
Uma proposta para o debate
1217
* — Adicionalmente, a restrição da experiência mais avançada de sistemas de bem-estar social a uma sociedade,
pequena e homogênea, como a sueca é uma demonstração das dificuldades enormes que o capital tem em generalizar
o potencial! contido nesse arranjo institucional.
Capitulo 7 ;
Uma proposta para o debate
219
muito provocadas pela presença de movimentos sociais na vida política dos países
capitalistas centrais, determinaram (de forma não intencional) mudanças no capi-
talismo que implicaram expansão de mercado, melhorias na distribuição de renda e
diversos novos impactos sobre a dinâmica do sistema, que ofereceram novas fontes
para o crescimento de mercados e novas oportunidades para economias de escala
e de escopo.
Essa dinâmica é importante até mesmo para a definição da natureza do dinheiro,
como Eichengreen (2008, p. 30, 42-43) sugere: uma nova configuração político-
“institucional, com a emergência de sindicatos e partidos operários na cena nacional,
contribuiu para a crise do padrão-ouro e a substituição pelo papel-moeda adminis-
trado por instituições estatais.
A própria dinâmica dos movimentos sociais também determina o surgimen-
to de inovações institucionais, exemplificadas pela implementação de medidas
relacionadas à proteção social em relação a doenças (1883), acidentes de trabalho
(1884) e aposentadorias (1889) por Bismarck — ao mesmo tempo que a legislação
antissocialista era implantada na Alemanha (Stachura, 2003, p. 229). Essas medi-
das são importantes para a história dos sistemas de bem-estar social do século XX
(Polanyi, 1944, p. 177; Esping-Andersen, 1990, p. 24). O resultado histórico dessas
complexas interações é o processo de formação desses sistemas de bem-estar social
nos países capitalistas avançados, que se transformaram em uma importante fonte
de vitalidade para o próprio sistema capitalista. Há autores que associam o ápice dos
sistemas de bem-estar social com uma das melhores fases do capitalismo central,
no pós-guerra (Putterman er a/., 1998).
Finalmente, uma quarta fonte para as metamorfoses do capitalismo central é a
reação defensiva frente a temores reais ou imaginários de acontecimentos importan-
tes no cenário internacional. Abendroth (1977, p. 178-179), por exemplo, destaca
como a existência da URSS contribuiu para importantes concessões às classes
trabalhadoras na Europa Ocidental, tanto em termos de padrão de vida quanto
em termos de direitos democráricos. Amsden (1989) e Wade (1990) associam as
reformas agrárias realizadas, sob influência dos Estados Unidos, na Coreia do Sul
e em Taiwan como reações à fundação da República Popular da China.
As metamorfoses do capitalismo, assim, seriam determinadas por essas quatro
diferentes, embora entrelaçadas, fontes de mudanças. À resultante dessas fontes
entrelaçadas de mudanças são as diversas fases do capitalismo, com suas caracterís-
ticas estruturais distintas. Por isso, a dinâmica do sistema capitalista a longo prazo
coloca sistematicamente novas questões ao conjunto dos movimentos sociais e dos
movimentos políticos socialistas. As exigências de recomposições programáticas são
elevadas. Wood (1995, p. 4) enfatiza a necessidade e complexidade desse esforço.
AGENDA ROSDOLSKY
i Eduardo da Motta « Albuquerque
* —“MaxWeber- em uma carta escrita em novembro de 1918, transcrita por Marianne Weber (1926, p. 746) - e
Trotsky (1937, p 65 e p. 76) referem-se a esse fenômeno social em situações mais extremas: o esgotamento de
energias nas mobilizações da classe trabalhadora após períodos de intensa atividade potítica em crises revoltucionárias
ou nacionais. Esse esgotamento de energias tem consequências para a estruturação política do período seguinte.
? LoeSmyth(2004) apresentam uma interessante reinterpretação do debate sobre o cálculo econômico sob
o socialismo no qual articulam como as transições de paradigmas tecnoeconômicos (Freeman; Perez, 1988)
determinariam mudanças nas propostas socialistas. Para eles o paradigma tecnosconômico cria condições para a
emergência de modelos de “socialismo participativo”,
Capitulo 7
Uma proposta para o debate
221
? — Areferência ao orçamento participativo, originada em um país da periferia capitalista -- portanto fora do escopo
deste livro — justifica-se por sua inclusão no livro de Cohen e Rogers (1995), mencionado como parte da literatura
acadêmica sobre alternativas ao capitalismo na introdução deste livro. Para uma avaliação sobre o orçamento
participativo em municípios e em um estado do Brasil, ver Faria (2005).
Capitulo 7
Uma proposta para o debate
Essa pode ser uma vantagem importante sobre outras propostas presentes no debarte
atual sobre o socialismo.
* — Segundo Esping-Andersen (1990, p. 23), “sistemas de bem-estar social desmercantilizadores são, na prática,
muito recentes. Uma definição mínima deve implicar que os cidadãos podem livremente, sem risco de perda de
emprego ou de bem-estar, optar por não trabalhar quando eles próprios considerarem necessário.”
* — Adicionalmente, a inclusão dos sistemas de saúde contribuiria para diferenciar o caso britânico (com o seu
National Healih Service) do caso dos Estados Unidos (com o sistema de saúde muito mais apoiado no setor privado,
apesar da presença do Medicare).
Capitulo 7
Uma proposta para o debate
227
? Há um curioso elemento na iustória dos sistemas de bem-estar social. Instituíções criadas inicialmente como
parte de uma lei antissocialista (Bismarck) tornam-se, no processo de seu desenvolvimento, elementos socializantes,
de acordo com Hayek. Essa transformação diz algo sobre a dinâmica dos sistemas de bem-estar social e de seus
componentes.
26 |
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? Putterman(1996, p. 141) comenta a moderação de Marx nesse programa. O ponto de partida pode ser tímido,
em termos das realizações dos sistemas de bem-estar no século XX, mas Marx ressalta algo que Putterman não
destaca: o aumento desses investimentos à medida que progrida a transição para a nova sociedade.
228 I
| AGENDA ROSDOLSKY
| Eduardo da Motta e Albuquerque
* Hebb (2001, p. 6) aponta uma mudança estruturai importante, na medida em que “crescentemente os
trabalhadores descobrem que a sua habilidade de influenciar a gerência decorre da sua posição como acionistas
da empresa e não como trabalhadores”.
* Essa perspectiva está presente na proposta de Maurício Borges Lemos (1991) - uma alternativa às
privatizações no Brasil baseada em uma transferência patrimomal do Estado brasileiro para dois novos institutos,
que teriam “diretorias eleitas pelo voto de todos os trabalhadores sindicalizados” (p. 81). Esses dois novos
instítutos, segundo a proposta de Lemos, receberiam “uma transferência maciça de ações de posse direta ou
indireta do Tesouro Nacional” (1991, p. 81). À existência de uma “dívida histórica do Estado brasileiro para com
os trabalhadores” justífica tal transferência patrimonial (p. 79-81). Essa dívida foi criada pelo uso estatal dos
recursos da Previdência Social, cujos saldos financiaram o Tesouro Nacional até 1979 (1991, p. 79).
Caprtulo 7
Uma proposta para o debate
1 Drucker (1976, p. 42-43) critica a proposta e a compara com a estrutura dos fundos de pensão nos Estados
Unidos.
Capítulo 7 ;
Uma proposta para o debate
1231
” Cohene Rogers (1983, p. 158) citam à posição de Mandel, entre outros, para fundamentar a natureza
multipartidária da democracia. Essa menção — e o que ela pode significar em termos de um diálogo com a teoria
democrática -- é importante para sublinhar a relevância da elaboração de Mandel sobre a questão da democracia e
o seu papei estratégico e estrutura! na transição e no socialismo.
232
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
Ellen Wood (1995) apresenta outro elemento central para as discussões sobre
democracia: o seu papel na substituição do mecanismo de mercado. Wood sugere que
a democracia se torne o novo mecanismo diretor da economia (“driving mechanism
of the economy”) (p. 290), um novo regulador econômico (p. 292)'*
Essa abordagem do processo democrático, associada a uma forte capacidade de
inovação institucional, é necessária para responder às diversas demandas colocadas
pelos “germes visíveis”. Sistemas de inovação, sistemas de bem-estar social, institui-
ções financeiras e ordenação internacional cobram maior capacidade das instituições
democrárticas para lidar com esses temas de complexidade crescente. De outra forma,
essa articulação explicita a precedência da democracia — e a sua associação com um
pré-requisito essencial, a redução da jornada de trabalho, possibilitada pela aplicação
científica da tecnologia, como Marx sugere desde 1857-1858.
Outro resultado importante do processo de metamorfose do sistema capitalista —
a ampliação quantitativa e qualitativa da ação do Estado — coloca sempre a questão
do seu controle democrático. Por isso, o desenvolvimento e aperfeiçoamento das
instituições democráticas são pré-requisitos para a definição de prioridades de gastos
e de utilização dos recursos públicos. Esse crescimento quantitativo e qualitativo
da intervenção estatal deve ter como contrapartida avanços similares em rermos
do alcance das instituições democráticas.
A vitalidade do processo democrático, entretanto, depende da ação política
cotidiana de cidadãos e cidadãs conscientes e com capacidade de intervenção em
novos fóruns de participação direta. Essa fonte do desenvolvimento democrático
está presente no que Hannah Arendt denomina “o tesouro perdido da tradição
revolucionária”, diretamente relacionada à emergência espontânea de conselhos
operários nas grandes revoluções: Comuna de Paris, 1871, revoluções russas de
1905 e 1917, Revolução Alemã de 1918-1919 e Revolução Húngara de 1956. Os
conselhos são para Hannah Arendt “espaços da liberdade” (1963, p. 256). Esses
“espaços da liberdade”, produro da ação espontânea e dependentes de processos
tevolucionários, são fundamentos para a precedência da democracia em relação aos
outros germes visíveis aqui discutidos.
Finalmente, é também necessário ressaltar que a precedência da democracia
determina o papel da discussão programática, dado o seu papel na conquista de
apoio e simpatia para a experimentação — o debate acadêmico e teórico tem uma
contribuição nesse ponrto.
** G.A Cohen(2009,p.82) apresenta a sua concepção de socialismo como alternativa democrática ao mercado.
Capitulo 7
Uma proposta para o debate E
1235
* —“Segundo Marx, “uma vez que a burguesia liquidara temporariamente a luta de classes, ao abolir o sufrágio
universal” (1869, p. 77).
'
AGENDA ROSDOLSKY
Eduardo da Motta e Albuquerque
? — “Novos métodos podem ser encontrados para tornar um serviço vendável, serviços que antes não poderiam ser
restritos àqueles que desejam pagar por ele, e assim o método do mercado pode ser aplicável a áreas a que antes
não poderia ser" O exemplo que ele apresenta é a televisão (wireless broadcasting): “(...) avanços técnicos podem
abrir a possibilidade de confinar a recepção a quem utiliza um equipamento específico, tornando a operação do
mercado possível” (Hayek, 1979, p. 47).
?? —Segundo Aarons, em Hayek a prioridade do mercado é tal que justifica a existência temporária de ditaduras —
uma entrevista de Hayek ao periódico chileno E! Mercurio, em 12 abr. 1981, é citada por Aarons (2009, p. 134-135).
Disponível em: <http:lwww fahayek.orgiindex.php?option=com content&viewsarticie&id=121 linstitut-hayek-publie-
dewx-interviews-intes-en-anglais-de-fa-hayek&catid=79:divers<emid=54>. Acesso em: 3 fev, 2010. Burczak (2008,
p. 80) lembra essa forte deficiência em Hayek.
Capitulo 7
Uma proposta para o debate
237
?? Parauma avaliação da dimensão da participação eleitoral de acordo com a visão de democracia de Hayek, o
trecho a seguir é didático. Hayek (1973, p. 20) discute a participação no legislativo. Segundo ele, “tal assembleia
tegislativa poderia ser implementada se, em primeiro lugar, seus membros fossem eleitos por períodos longos; em
segundo lugar, eles não poderiam ser reeleitos; e, em terceiro lugar, para assegurar uma renovação contínua do
corpo legislativo de acordo com as opiniões que mudam gradualmente entre o eleitorado, seus membros não seriam
eleitos todos ao mesmo tempo, mas uma fração constante de seu total seria substituída cada ano, à medida que
seus mandatos expirassem; ou, em outras palavras, se todos fossem eleitos, por exemplo, por quinze anos e um
quinzeavos de seu total renovado a cada ano. Para mim isso seria conveniente por proporcionar que a cada eleição
os representantes fossem escolhidos por e entre apenas um grupo etário, de forma que cada cidadão poderia votar
apenas uma vez em sua vida, por exemplo, aos 40 anos, para uma representação escolhida de seu grupo etário”
(grifos do autor). v
* — Anaturezapolemista de Hayek é identificada pelos diversos meios para propagar as suas ideias. Destaque-se
a edição compacta de The road to serfdaom em um número especial em 1945 da revista Seleção Reader's Digest,
com uma tiragem de 800 mil exemplares — conforme relata Milton Friedman na intradução de 1994 de uma reedição
da obra (Friedman, 1994, p. xix).
* Oestudoacadêmicodasrevoluções sociais é uma contribuição importante de Theda Skocpoi (1979), em especial
para repensar o significado e a possibilidade de revoluções sociais como as discutidas em seu livro (França, Rússia
e China). Skocpol avalia que é impossível, em países capitalistas avançados, que Estados modernos se desintegrem
como ocorreu nos três casos discutidos em seu livro. Essa avaliação pode ser reforçada por uma análise do destino
do processo revolucionário na Alemanha, em especia! entre 1918 e 1919 (Broué, 1971). Essa reavaliação, ao lado
da percepção do significado apontado por Hannah Arendt da contribuição dos processos de formação de conselhos
de trabalhadores e da ação política revolucionária para a vitalidade da experiência democrática (1963), reconfigura
a antiga dicotomia “reforma ou revolução”: para Skocpol (1979), a articulação de “reformas não reformistas”, como
sugere Gorz.
Capitulo 7
Uma proposta para o debate
239
? Barret (2009, p. 73) expressa a natureza necessariamente internaciona! dessas iniciativas: “A cooperação
internacional é necessária para estabelecer
uma penalidade de carbono, para ampliar o gasto em P&D e para realizar
investimentos complementares, para coordenar o estabelecimento de padrões e para governar o uso de novas
tecnologias (..) À mudança climática está ocorrendo, e nossas instituições globais e a base tecnológica mundial
estão iniciando um processo de coevolução.”
* Theda Skocpol (1979, p. 451-452) destaca que “para que seja possível uma verdadeira democratização dentro
de qualquer país industrialmente avançado, sem dúvida seria necessário que os movimentos democratizantes
procedessem quase simultaneamente em todos os países avançados e que o objetivo-chave de cada movimento
fosse um progresso contínuo em direção ao desarme e à paz internacional”.
Conclusão
243
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