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oral de português

O estilo barroco nasceu em Roma, no final do século XVI até ao séc. XVIII, e surgiu
com a contrarreforma católica, numa época de profunda crise da Igreja. Para além
da arte, da arquitetura, escultura, pintura, o estilo barroco manifestou-se também na
música, moda e literatura.

Apesar de um desenvolvimento na arte, a sociedade continuava com a mesma


mentalidade. No entanto, já havia uma maior liberdade, especialmente em relação à
figura feminina, pois foi neste período que algumas mulheres começaram a
expressar a sua opinião, a defender os seus direitos e ocupar-se de algo, para além
das funções de casa, como era vista até então.

A mulher barroca é descrita nos poemas como alguém dual, e era mencionada
maioritariamente na literatura e na arte.

Era vista como um ser desejado pela beleza do seu corpo, cujos atributos
superaram tudo quanto à natureza pudesse oferecer de belo. Se, por um lado, a
mulher barroca foi apresentada como exemplo de beleza,
paradoxalmente/ironicamente, também tornou-se alvo de críticas.

Deste modo, contra ela foram dirigidos as mais cruéis críticas: salientando-se
algumas imperfeições e defeitos físicos, e alguns vícios repulsivos, como a ganância
por dinheiro e a ambição desmedida. A licenciosidade e luxúria de certas mulheres
também não escaparam ao reparo da sociedade, especialmente aos dos poetas,
que depois julgavam-nas nas suas obras, explicitando esses vícios.

Quando se aborda o papel da figura feminina na sociedade, é sempre posto em


destaque o papel que desempenha na família, pois era vista apenas como mãe,
esposa e reprodutora, e a sua ocupação era a casa e a educação dos filhos.

Mas essa visão começou a ser considerada demasiado estreita, uma vez que no
período barroco a mulher era também "heroína'', ou seja, cortesã e artista,
demonstrando por vezes a sua capacidade de afirmação pessoal, antecipando o
feminismo moderno, visto que começaram a ter mais liberdade.

Porém, essa maior liberdade dependia do estatuto social das respetivas famílias,
como por exemplo, o acesso à educação.

Se fosse nobre ou rica, poderia ter acesso ao ensino e à cultura, dependendo dos
interesses da sua família e da sua capacidade intelectual.
Se fosse religiosa, poderia ser ou não instruída, e caso o fosse poderia aceder aos
mais altos cargos dentro da hierarquia do seu convento e da sua Ordem. E a sua
doutrina era controlada, ou pela família civil, mais precisamente pelo pai, ou pela
comunidade religiosa, dominada pelos preceitos da religião e da sua Ordem.

Por sua vez, as mulheres do povo eram simplesmente analfabetas e a transmissão


da cultura era feita por via oral.

Um dos motivos para a mulher ter tido acesso à educação, para além de algumas
se terem revoltado, foi porque acreditava-se que, se as mulheres recebessem a
mesma educação que os homens, os "vícios femininos”, como a ganância e a
cobiça, como foram referidos anteriormente, seriam de certa forma reduzidos.

Algumas mulheres, maioritariamente as de estatutos sociais superiores, começaram


a ocupar-se de algo, que até então não era comum mulheres fazerem-no. Muitas
foram escritoras, publicando obras da sua autoria, onde retratavam a sua vida e as
injustiças que sofriam naquela época ou numa época passada.

Para além da escrita, também expressavam-se através da arte, como a pintura e a


escultura, onde começaram a ter bastante reconhecimento. A moda também foi
muito importante para as mulheres no barroco.

Uma curiosidade, é que, mais no final do período barroco, um número significativo


de mulheres começou a ser aceite em escolas privadas de arte, mas pagavam o
dobro do valor em relação ao dos homens; e apenas entravam as mulheres que
tinham homens artistas na sua família.

Apesar disso, no trabalho continuavam a receber menos que os homens e o


casamento e a criação dos filhos continuava a ser vista como a sua principal função.

Contudo, já tinham acesso a melhores condições de vida, como: o acesso a


cirurgiões no parto; melhor alimentação que garantia o desenvolvimento dos filhos;
e começou a haver um controlo da natalidade.

Nesta época, a religião era muito importante e a maior parte da população era
religiosa. Devido a essa devoção, a mulher podia escolher uma vida num convento.

Acredita-se que, a vida no convento parecia ter sido, em muitos casos, uma melhor
opção do que a vida em família, e sobretudo no matrimónio, dada a singular
prepotência de muitos maridos que, abusando dos direitos que a lei e o costume
lhes concediam, maltratavam e até matavam as esposas com a maior impunidade.
A esse respeito são elucidativas as observações de alguns estrangeiros letrados
que visitaram Portugal durante estes séculos, que nos seu escritos puseram em
destaque a vida de clausura que as mulheres casadas levavam, sempre fechadas
em casa e ameaçadas pelos ciúmes dos maridos, que não lhes consentiam que
convivessem com nenhuns homens, mesmo que fossem da sua família.

A única excepção era o confessor - daí talvez os muitos casos de adultério com
religiosos, que esse contacto único e supremamente íntimo permitia.

Assim, conseguimos perceber que a vida das mulheres neste período não era nada
fácil. E no fundo, nem nos dias de hoje é, que apesar de já terem igualdades e
direitos na educação, trabalho, etc; muitas continuam a sofrer abusos, tanto
fisicamente, como mentalmente, assim como as mulheres do antepassado, e muito
possivelmente as mulheres do futuro.

Porque a mentalidade da sociedade neste aspeto, não avança, porque vai haver
sempre desculpas e justificações para esses comportamentos, que mulheres
inocentes, são obrigadas a sofrer. Por isso, nesse aspeto, algumas mulheres,
continuam a ter essa vida e a viver com essa angústia.

Mas de um modo geral, com várias revoluções e várias mulheres, que em épocas
difíceis ou em países, se opuseram, é que hoje em dia, nós, mulheres, temos
igualdade nos direitos e muitas já têm o seu próprio reconhecimento.

Durante o período barroco, vários foram os que defenderam os seus direitos. Um


deles foi o Padre António Vieira, autor da obra que atualmente estamos a estudar
em aula: “O Sermão de Santo António”.
António Vieira foi um notável defensor dos direitos humanos, entre os quais os
direitos das mulheres, e combateu a escravatura tendo sido um abolicionista.

Concluindo, a figura feminina não tinha uma vida facilitada, mas foi neste período
que começaram a ter mais liberdade e direitos, e começaram a ter outras
ocupações para além da casa e da educação dos filhos.

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