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A Sociologia tem por objeto de estudo, como vimos, os factos sociais.

No entanto, é possível
estudar os factos sociais de acordo com vários graus de aprofundamento.

Assim, a Sociologia geral estuda o funcionamento da sociedade e a mudança social, por exemplo,
numa abordagem global e geral.

Se se quiser estudar com mais profundidade aspetos particulares do domínio social, teremos de
recorrer às sociologias especializadas, como a Sociologia da Família, a Sociologia do Trabalho, a
Sociologia da Educação e a Sociologia Urbana, entre outras.

Estas surgem-nos da necessidade de dar resposta a problemas concretos, em domínios específicos


que o funcionamento da sociedade levanta.

Estuda as correlações que existem entre o fator antropológico e as sociedades humanas.

Exemplos: Influência dos grupos étnicos numa sociedade; nichos étnico-culturais.

Estuda a organização política dos diversos tipos de sociedade, as implicações sociais dos
diferentes movimentos políticos e das ideologias; origem, desenvolvimento e funções do
Estado nos seus aspetos teóricos e práticos; as inter-relações entre Estado e Direito, Política e
Economia, com especial destaque para as relações de dominação e subordinação, liberdade e
coação.

Exemplos: Revoluções; participação em atos eleitorais; caciquismo.


Estuda a origem, evolução e função da instituição família, as suas formas distintas e as relações
entre os seus membros, nas diversas sociedades, no passado e no presente.

Exemplos: Papéis conjugais; conciliação entre a vida profissional e familiar; novos tipos de famílias.

Estudam, respetivamente, a organização, os problemas sociais das comunidades e a


diferenciação do espaço socio-ecológico; o modo de vida rural e a natureza das diferenças
rurais e urbanas; as alterações socioculturais que ocorrem no contínuo rural-urbano, a origem
e evolução das cidades e o urbanismo como modo de vida; mudanças socioeconómicas e
culturais determinadas pela concentração de uma elevada população, de composição
heterogénea, em limitada área geográfica.

Exemplos: Vizinhança; resistências às mudanças no meio rural; desumanização do indivíduo na


grande cidade.

Preocupa-se com o estudo da comunicação entre seres humanos. Analisa os comportamentos


sociais em face dos meios de comunicação. Um dos aspetos mais relevantes é o estudo da
cultura de massa.

Exemplos: Papel dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública;


interferências provocadas pela imprensa ou pelas redes sociais numa campanha eleitoral.

Referem-se ao estudo sistemático das relações sociais e à interação entre indivíduos e grupos
relacionados com a função económica da produção e distribuição de bens e serviços
necessários à sociedade. Especificamente, analisam o conteúdo dos papéis profissionais, as
normas e as expectativas a eles associadas em diferentes organizações de trabalho.

Exemplos: Influência da indústria no sistema de estratificação social; sindicatos e associações


profissionais; a motivação para o trabalho; estudo do status profissional.

São expressões mais ou menos equivalentes: ambas estudam os fenómenos que decorrem da
estrutura das organizações enquanto sistemas especiais. Em rigor, a expressão cientificamente
mais adequada seria Sociologia das Organizações, corrente entre os autores franceses.
Exemplos: Conflitos de hierarquia; fenómenos decorrentes das disfunções internas
(desajustamentos provocados pelos excessos da organização formal); análise da liderança na
organização.

Estuda os fenómenos decorrentes da redução do número de horas de trabalho na sociedade


industrial e a ampliação do tempo livre, cuja utilização é o objeto de estudo desta área da
Sociologia.

Exemplos: O quotidiano rotineiro vivido nas cidades industriais obriga a que muitas pessoas, durante
o fim de semana, se dediquem a tarefas diversas como a bricolagem e a jardinagem, ou a atividades
físicas e culturais, por exemplo.

O quadro que se segue sintetiza a evolução da Sociologia nos séculos XIX e XX.

Tipo de Grau de independência


Objeto da Objetivo principal da
Período Sociologia em do sociólogo face ao
Sociologia Sociologia
desenvolvimento poder dominante
Século XIX
I Guerra Sociedade geral Sociedade geral Independente Conhecer/Compreender
Mundial
Entre as
Grupos sociais;
duas Sociologias Resolver/atenuar/prevenir
Instituições Dependente
Guerras especializadas os problemas sociais
sociais
Mundiais
Depois da II Grupos sociais;
Sociologias “Controlar” os grupos
Guerra Instituições Dependente
especializadas sociais
Mundial sociais

Ao falarmos em «sociologias especializadas» não estamos a compartimentar o «real» e, em


consequência, a dificultar o seu conhecimento.

Pelo contrário, a complexidade da realidade social é que nos obriga a uma divisão de forma a
tornar mais fácil a leitura inicial do fenómeno. Todavia, será da compreensão do fenómeno à luz
das diversas explicações fornecidas por cada «Sociologia» que poderemos conhecer melhor
esse fenómeno.

De facto, e a título de exemplo, o estudo do insucesso escolar exige que este fenómeno seja estudado
tendo em conta a Escola e a sua função social (Sociologia da Educação), a articulação entre as
aprendizagens efetuadas e o mercado de trabalho (Sociologia do Trabalho), a origem social e
económica dos alunos (Sociologia Económica e Sociologia da Família), as dificuldades de
aprendizagem e a constatação de se promoverem processos de resposta a necessidades educativas
especiais (Sociologia da Educação), a forma de ocupação dos tempos
livres (Sociologia do Lazer), entre outras.

Quer isto dizer que a investigação social exige o recurso a diferentes


disciplinas científicas e diferentes «olhares», sob pena de
«perdermos» contributos importantes para a explicação e compreensão do fenómeno.

Como já tínhamos referido na unidade 1, a interdisciplinaridade consiste na atitude metodológica


que procura integrar o contributo de várias ciências (ou disciplinas) no sentido de encontrar
uma explicação e um entendimento mais profundo da realidade social.

Assim, e na continuidade do exposto, a investigação social exige e recorre cada vez mais à
interdisciplinaridade como a abordagem indispensável à melhor compreensão dos fenómenos
sociais.

Dada a especialização no domínio social, o sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss (1872-
1950) defendeu a necessidade de um estudo integrado das diferentes componentes sociais,
introduzindo o conceito de fenómeno social total de que também já falámos na unidade 1.

Constatamos, pois, que todos os fenómenos da realidade social são fenómenos sociais totais,
isto é, têm implicações em diferentes níveis do real (histórico, jurídico, religioso, sociológico, entre
outros), podendo, portanto, ser objeto de pesquisa por parte de todas ou apenas de algumas
ciências sociais. Cada um deles é um fenómeno social total.

Outro aspeto importante na investigação é a reflexividade, ou seja, a capacidade de nos pormos


em causa permanentemente e de nos confrontarmos com o próprio conhecimento, sempre
inacabado.

 Fenómenos sociais totais: são complexos, unos e pluridimensionais. Têm implicações em


várias dimensões do real social.

 Para investigarmos de forma mais aprofundada a realidade social é necessário o recurso às


sociologias especializadas como a Sociologia da Família, a Sociologia do Trabalho, a
Sociologia da Educação e a Sociologia Urbana, por exemplo. Estas têm como objeto de estudo
categorias específicas dos factos sociais.
 A interdisciplinaridade é a atitude metodológica que procura integrar o contributo de várias
ciências (ou disciplinas), no sentido de encontrar uma explicação e um entendimento mais
profundo da realidade social (fenómenos sociais totais).

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