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ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DAS

CIRURGIAS PLÁSTICAS

Prof. Horácio Fittipaldi


CIRURGIA PLÁSTICA
◼ Ramo da cirurgia
que visa a restaurar,
anatômica e
funcionalmente
partes do organismo
alteradas por
deformidades
congênitas ou
adquiridas, assim
como corrigir as
desarmonias de
ordem estética.
CIRURGIA PLÁSTICA
◼ Finalidades reparadoras
ou reconstrutoras:
corrigir condições
deformadoras
congênitas ou
adquiridas e mutilações
resultantes de traumas.
◼ Exemplos: lábio
leporino, reconstrução
mamária pos-
mastectomia,
reparações pos-
queimaduras.
CIRURGIAS PLÁSTICAS
REPARADORAS
CIRURGIAS PLÁSTICAS
REPARADORAS
CIRURGIAS PLÁSTICAS

◼ Finalidades estéticas:
visa a melhoria estético-
funcional do indivíduo,
conferindo-lhe um
aspecto mais
harmonioso,
melhorando a auto-
estima e o bem-estar.
◼ Considerada por parte
do judiciário como uma
atividade com obrigação
“de resultado” e não “de
meios”.
CIRURGIAS PLÁSTICAS ESTÉTICAS
(IMPLANTES MAMÁRIOS)
CIRURGIAS PLÁSTICAS
ESTÉTICAS
CAUSAS PARA O AUMENTO DE
DEMANDAS JUDICIAIS
◼ Em 10 anos : aumento de 609 % no
número de processos julgados pelo
CFM relacionados à cirurgia plástica.
◼ Médicos sem formação em cirurgia
plástica e profissionais não médicos
passaram a executar procedimentos
próprios da especialidade, incluindo
intervenções cirúrgicas como
plástica de pálpebras, rinoplastia e
implantação de próteses mamárias.
◼ Os preços mais reduzidos atraem a
clientela.
◼ Existem cursos de especialização em
“medicina estética” com duração de
1 ano.
◼ Atuam sem respaldo da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica e do
CFM.
PROTOCOLO INFORMATIVO E
COMPARTILHADO EM CIRURGIAS
PLÁSTICAS
◼ Adotado pelo CFM em maio de
2011.
◼ Preenchido pelo médico e o
paciente.
◼ Esclarecer o procedimento a ser
realizado, riscos, complicações e
condutas.
◼ Diagnóstico, indicação, exames
pré-operatórios, cuidados
anestésicos, uso de drenos,
sondas, uso de equipamentos
específicos, cuidados pós-
operatórios.
◼ Orientação aos pacientes: O
médico é membro da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica.
Possui título de especialista
idôneo. Procedimento realizado em
instituição com recursos
adequados.
ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA
INTERSEXUALIDADE
ESTADOS INTERSEXUAIS

◼ “São quadros clínicos que


apresentam problemas
(diagnóstico, terapêutico e
jurídico) quanto ao
verdadeiro sexo da pessoa
considerada”.
◼ Classificação (Guilherme
Arbenz - 1988): 1)
Variações da identidade
sexual (transexualidade);
2) alterações da morfologia
anatômica; 3) alterações
cromossômicas da
sexualidade.
TRANSEXUALIDADE
◼ Apresentam sexo gonadal
e somático definidos.
◼ Desde criança sentem-se
desconfortáveis com o seu
sexo.
◼ Constantemente, muitos
manifestam seu desejo de
mudar de sexo.
◼ Praticam roupagem
cruzada e desempenham
tarefas consideradas mais
comuns no sexo oposto.
◼ Sentem-se incomodados
com seu órgão genital e
muitos demandam a
correção cirúrgica.
RESOLUÇÃO CFM Nº 2.265/2019

◼ Art. 1º Compreende-se por transgênero ou incongruência de gênero a não paridade entre a


identidade de gênero e o sexo ao nascimento, incluindo-se neste grupo transexuais,
travestis e outras expressões identitárias relacionadas à diversidade de gênero.

◼ § 1º Considera-se identidade de gênero o reconhecimento de cada pessoa sobre seu


próprio gênero.

◼ § 2º Consideram-se homens transexuais aqueles nascidos com o sexo feminino que se


identificam como homem.

◼ § 3º Consideram-se mulheres transexuais aquelas nascidas com o sexo masculino que se


identificam como mulher.

◼ § 4º Considera-se travesti a pessoa que nasceu com um sexo, identifica-se e apresenta-se


fenotipicamente no outro gênero, mas aceita sua genitália.

◼ § 5º Considera-se afirmação de gênero o procedimento terapêutico multidisciplinar para a


pessoa que necessita adequar seu corpo à sua identidade de gênero por meio de
hormonioterapia e/ou cirurgias.
RESOLUÇÃO CFM Nº 2.265/2019

◼ HORMONIOTERAPIA

◼ Criança pré-púbere (estágio puberal Tanner I)


◼ A incongruência de gênero em crianças só pode ser definida após acompanhamento ao longo da
infância. Em criança pré-púbere é vedada qualquer intervenção envolvendo uso de hormônios ou
procedimentos cirúrgicos com a finalidade estabelecida de mudanças corporais e genitais.
◼ O médico deve acompanhar, orientar, esclarecer e facilitar o desenvolvimento da criança, envolvendo a
família, cuidadores, responsável legal, instituições de acolhimento e educacionais que tenham
obrigação legal pelo cuidado, educação, proteção e acolhimento da criança.
◼ O envolvimento dos pais, familiares, responsável legal ou instituições de acolhimento e educacionais é
fundamental na tomada de qualquer decisão do acompanhamento que envolva a criança pré-púbere,
respeitando os preceitos éticos e específicos de cada área profissional envolvida.

◼ Criança púbere ou adolescente (a partir do estágio puberal Tanner II)


◼ O bloqueio puberal é a interrupção da produção de hormônios sexuais, impedindo o desenvolvimento
de caracteres sexuais secundários do sexo biológico pelo uso de análogos de hormônio liberador de
gonadotrofinas (GnRH).
◼ A hormonioterapia cruzada é a forma de reposição hormonal na qual os hormônios sexuais e outras
medicações hormonais são administradas ao transgênero para feminização ou masculinização, de
acordo com sua identidade de gênero. Realizada a partir dos 16 anos.
◼ A faixa etária normal de início de desenvolvimento da puberdade se dá dos 8 aos 13 anos de idade no
sexo feminino (cariótipo 46, XX) e dos 9 aos 14 anos de idade no sexo masculino (cariótipo 46,XY).
RESOLUÇÃO CFM Nº 2.265/2019

◼ Hormonioterapia em Adulto (a partir de 18 anos)

◼ A hormonioterapia cruzada no adulto deverá ser prescrita por médico endocrinologista, ginecologista ou
urologista, e tem por finalidade induzir características sexuais compatíveis com a identidade de gênero.
Assim, objetiva-se:
◼ a) reduzir os níveis hormonais endógenos do sexo biológico, induzindo caracteres sexuais secundários
compatíveis com a identidade de gênero;
◼ b) estabelecer hormonioterapia adequada que permita níveis hormonais fisiológicos compatíveis com a
identidade de gênero.
◼ As doses dos hormônios sexuais a serem adotadas devem seguir os princípios da terapia de reposição
hormonal para indivíduos hipogonádicos de acordo com o estágio puberal. Não são necessárias doses
elevadas de hormônios sexuais para atingir os objetivos descritos da hormonioterapia cruzada e os
efeitos desejados, além de estarem associadas a efeitos colaterais. Os hormônios utilizados são:
◼ a) a testosterona, para induzir o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários masculinos nos
homens transexuais;
◼ b) o estrogênio, para induzir o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários femininos nas
mulheres transexuais e travestis;
◼ c) o antiandrógeno, que pode ser utilizado para atenuar o crescimento dos pelos corporais e as ereções
espontâneas até a realização da orquiectomia.
◼ O uso de estrógenos ou testosterona deve ser mantido ao longo da vida do indivíduo, monitorando-se
os fatores de risco.
RESOLUÇÃO CFM Nº 2.265/2019

◼ PROTOCOLOS CIRÚRGICOS

◼ É vedada a realização de procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero em pacientes


menores de 18 (dezoito) anos de idade.
◼ A hormonioterapia é obrigatoriamente utilizada sob supervisão endocrinológica,
ginecológica ou urológica no período pré-operatório, devendo ser avaliado se as
transformações corporais atingiram o estágio adequado para indicar os procedimentos
cirúrgicos.
◼ Os procedimentos cirúrgicos para a afirmação de gênero são os seguintes:
◼ 1. Procedimentos de afirmação de gênero do masculino para o feminino:
◼ 1.1 Neovulvovaginoplastia
◼ A neovulvovaginoplastia primária compreende: orquiectomia bilateral, penectomia,
neovaginoplastia, neovulvoplastia.
◼ A neovaginoplastia com segmento intestinal só deverá ser realizada quando da falha ou
impossibilidade do procedimento primário.
◼ Deve ser avaliada a condição da pele e prepúcio (balanopostites/fimose) com objetivo de
planejar a técnica cirúrgica de neovaginoplastia e a adequada disponibilidade de tecidos
saudáveis. Além disso, deve ser realizada depilação definitiva da pele da haste peniana.
◼ 1.2 Mamoplastia de aumento
◼ A mamoplastia de aumento poderá ser realizada nas mulheres transexuais e nas travestis,
de acordo com o Projeto Terapêutico Singular.
RESOLUÇÃO CFM Nº 2.265/2019

◼ 2. Procedimentos de afirmação de gênero do feminino para o masculino:


◼ 2.1 Mamoplastia bilateral
◼ 2.2 Cirurgias pélvicas: histerectomia e ooforectomia bilateral
◼ 2.3 Cirurgias genitais
◼ 2.3.1 Neovaginoplastia, que pode ser realizada em conjunto com a histerectomia e
ooforectomia bilateral ou em momentos cirúrgicos distintos.
◼ 2.3.2 - Faloplastias
◼ a) Metoidoplastia, que compreende retificação e alongamento do clitóris após estímulo
hormonal, sendo considerada o procedimento de eleição para faloplastia.
◼ b) Neofaloplastia com retalho microcirúrgico de antebraço ou retalho de outras regiões. É
considerada experimental, devendo ser realizada somente mediante as normas do Sistema
CEP/Conep.
◼ Para complementar as faloplastias (metoidoplastia e neofaloplastia) são realizadas
uretroplastia em um ou dois tempos com enxertos de mucosa vaginal/bucal ou
enxerto/retalhos genitais, escrotoplastia com pele dos grandes lábios e colocação de
prótese testicular em primeiro ou segundo tempo.

◼ Acompanhamento psicológico e psiquiátrico, afastando a existência de transtornos


psiquiátricos.
◼ Em 2017, o HC atendia a 260 pessoas (180 mulheres e 80 homens).
DIREITOS DOS INDIVÍDUOS
TRANSGÊNEROS
◼ Decreto Nº 8.727/2016:
◼ Art. 1o Este Decreto dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento
da identidade de gênero de pessoas travestis ou transexuais no âmbito da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional.
◼ Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, considera-se:
◼ I - nome social - designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se
identifica e é socialmente reconhecida; e
◼ II - identidade de gênero - dimensão da identidade de uma pessoa que diz
respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e
feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação
necessária com o sexo atribuído no nascimento.
◼ Art. 2o Os órgãos e as entidades da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional, em seus atos e procedimentos, deverão adotar o
nome social da pessoa travesti ou transexual, de acordo com seu
requerimento e com o disposto neste Decreto.
◼ Parágrafo único. É vedado o uso de expressões pejorativas e discriminatórias
para referir-se a pessoas travestis ou transexuais.
DIREITOS DOS INDIVÍDUOS
TRANSGÊNEROS
◼ Art. 3o Os registros dos sistemas de informação, de cadastros, de programas,
de serviços, de fichas, de formulários, de prontuários e congêneres dos órgãos
e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e
fundacional deverão conter o campo “nome social” em destaque,
acompanhado do nome civil, que será utilizado apenas para fins
administrativos internos.
◼ Art. 4o Constará nos documentos oficiais o nome social da pessoa travesti ou
transexual, se requerido expressamente pelo interessado, acompanhado do
nome civil.
◼ Art. 5o O órgão ou a entidade da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional poderá empregar o nome civil da pessoa travesti ou
transexual, acompanhado do nome social, apenas quando estritamente
necessário ao atendimento do interesse público e à salvaguarda de direitos de
terceiros.
◼ Art. 6o A pessoa travesti ou transexual poderá requerer, a qualquer tempo, a
inclusão de seu nome social em documentos oficiais e nos registros dos
sistemas de informação, de cadastros, de programas, de serviços, de fichas,
de formulários, de prontuários e congêneres dos órgãos e das entidades da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional.
DIREITOS DOS INDIVÍDUOS
TRANSGÊNEROS
◼ Atualmente, transexuais podem adotar o nome social em identificações não
oficiais, como crachás e formulários de inscrição no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem). A administração pública federal também autoriza o uso do
nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e
transexuais desde abril de 2016.
◼ O nome social é escolhido por travestis e transexuais de acordo com o gênero
com o qual se identificam, independentemente do nome que consta no
registro de nascimento.
◼ O STF iniciou em abril de 2017, o julgamento se transexuais podem alterar o
nome no registro civil sem a realização de cirurgia de mudança de sexo (a
decisão foi adiada).
◼ O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou em dezembro de 2016, entre
os conselhos regionais, orientação para que médicos transgêneros possam
usar o nome social em documentos internos, como crachás, folhas de ponto e
contracheques, em seus locais de trabalho. O parecer da entidade, porém, não
inclui a alteração da carteira profissional, que vale como documento de
identificação civil e precisa de autorização judicial para ser modificada.
DIREITOS DOS INDIVÍDUOS
TRANSGÊNEROS
◼ Em 01 de março de 2018, por
unanimidade, o plenário do STF
(Supremo Tribunal Federal), decidiu
que transexuais têm o direito de
correção de nome e de gênero em
documentos de registro civil
mesmo sem a realização de cirurgia
de mudança de sexo. A decisão irá
servir de base para todo o País.
Também não serão necessários
decisão judicial autorizando o ato ou
laudos médicos e psicológicos.
◼ Nessa mesma data, o plenário do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
autorizou que candidatos
transgêneros possam usar o nome
social nas urnas a partir das eleições
daquele ano.
ESTADOS INTERSEXUAIS COM
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS
◼ Hermafroditismo
verdadeiro.
◼ Pseudohermafro
ditismo feminino.
◼ Pseudohermafro
ditismo
masculino.
HERMAFRODITISMO
VERDADEIRO
◼ Muito raro.
◼ Em geral, são 46XX, mas
podem ser 46XY ou
mosaico.
◼ Apresentam tecido
testicular e ovariano, na
mesma gônada ou em
gônadas opostas.
◼ Mostram genitália
ambígua, com tendência à
masculinização, com pelos
escassos e podem
apresentar hipertrofia
mamária.
PSEUDOHERMAFRODITISMO
FEMININO
◼ Mais comum (60% dos
casos).
◼ São 46XX.
◼ Apresentam hipertrofia de
clitóris e fusão dos lábios
maiores.
◼ Possuem ovários
funcionantes, útero e
tubas.
◼ A causa principal é a
síndrome adrenogenital
(hiperplasia congênita da
córtex adrenal com
produção de testosterona e
virilização da genitália.
SÍNDROME ADRENOGENITAL:
VIRILIZAÇÃO DA GENITÁLIA
PSEUDOHERMAFRODITISMO MASCULINO
(SÍNDROME DE INSENSIBILIDADE
ANDROGÊNICA PARCIAL)

◼ São 46XY.
◼ Apresentam
insensibilidade parcial
aos hormônios
androgênicos.
◼ Os testículos são intra-
abdominais.
◼ Possuem pênis infantil,
com ou sem tecido erétil
e hipospádia.
FEMINIZAÇÃO TESTICULAR
(SÍNDROME DE INSENSIBILIDADE
ANDROGÊNICA COMPLETA)

◼ Forma extrema de
pseudohermafrodistismo
masculino.
◼ Insensibilidade total aos
hormônios androgênicos.
◼ Descoberta na adolescência
(ausência de menstruação).
◼ Apresenta conformação
feminina, com mamas
desenvolvidas e genitália
feminina bem-constituída.
◼ Possuem testículos
criptorquídicos, vagina em
fundo cego e ausência de
útero.
◼ Normalmente procuram um
ginecologista com história de
ausência de menarca.
CORREÇÃO CIRÚRGICA DOS ESTADOS
INTERSEXUAIS COM ALTERAÇÕES
ANATÔMICAS
◼ Indicação da correção
cirúrgica preferencialmente
até o 3º ano de idade.
◼ Os pediatras recomendam
intervir antes de se
estabelecer identidade sexual
de gênero (emergência
pediátrica).
◼ Pseudohermafrodita Feminino:
Realizar clitoroplastia
preservando terminais
nervosos.
◼ Pseudohermafrodita
Masculino: caso apresente
pênis sem tecido erétil,
realizar neocolpovulvoplastia
e retirar os testículos.
◼ Feminização testicular: retirar
os testículos, sem informar
sobre o diagnóstico.

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