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CAPÍTULO 8 a construção do eu na modernidade

O EU E O NÃO EU:

A afirmação de si ocorre à custa de uma sombra projetada. Surge uma


zona de exclusão, representada pela loucura do homem ou pela
animalidade. A referência fundamental sobre esse tema é a obra
fundamental de Michel Foucault, da década de 1960: A História da
Loucura.
No mundo medieval, a garantia sobre a ordem do mundo e todas as
suas certezas era dada por algo externo ao próprio homem, ou seja,
por Deus. Até o século XV, a perda da razão por um homem não
produzia o efeito de medo que então passou a gerar.

No século XVII não havia perspectiva de tratamento, era


simplesmente isolamento por medo de contágio. Foucault nos mostra
que os primeiros hospícios foram os velhos leprosários
remanescentes da Idade Média. Desde então, a única garantia e
ponto de referência do homem é sua crença em um eu pensante
objetivo e consciente.

O nascimento de nossa representação moderna da loucura é


contemporâneo e correlato ao momento de maior afirmação do eu.
Pelo lugar de exclusão que assume, não há música que represente a
loucura no século XVII. Essa referência à pintura barroca é
redesenhada com o estilo claro-escuro.

Hobbes traça um perfil de como seria o homem fora da sociedade. No


estado de natureza, todo homem teria o direito de fazer e ter o que
quisesse. E o que o homem buscaria naturalmente? Como vimos na
citação acima, o homem busca o que lhe faz bem, evitando o que lhe
faz mal.

Em Hobbes, o homem é visto como um ser egoísta, movido pela


busca do prazer e pela fuga dos perigos da morte. Isso muitas vezes o
levará a ser violento e ir para a guerra, impondo-se aos outros. Alguns
homens se contentariam em ter apenas o que precisavam, permitindo
que outros fizessem o mesmo. Outros, movidos pela vanglória,
tentariam vencer os outros.

Hobbes conclui que esse estado de coisas resultaria em uma guerra


eterna de todos contra todos. Nenhum homem poderia se sentir
seguro em poder manter seu maior bem, sua vida. Há, portanto, um
paradoxo fundamental entre as duas máximas da natureza humana, a
sobrevivência e o desejo de tudo se apropriar pela vanglória.

Isso porque, se um homem amasse outro por natureza - isto é, como


homem -, não poderíamos encontrar nenhuma razão para que todos
os homens não amassem todos os homens igualmente, porque ele é
tanto homem quanto qualquer outro. (p. 3) A seguir, investigando com
grande ironia o que os homens fazem quando se unem, Hobbes nos
conta o que acredita serem os fundamentos dessa união. Um contrato
nesse sentido pode estabelecer a paz entre algumas pessoas, mas
certamente é insuficiente para garantir a paz generalizada. Também é
importante dizer que esta transferência e contrato tem um limite, todo
homem preserva o direito à sua sobrevivência e proteção de seu
corpo. Caso ocorra alguma ameaça nesse sentido, ele terá o direito
(ou a obrigação?) de quebrar o contrato, voltando ao estado de
guerra.

Hobbes: Para que exista a instituição do Estado, é necessário que


uma maioria significativa ou mesmo que todos os homens transfiram
seu direito natural a tudo a um soberano ou a uma assembléia. Note-
se que este soberano está de alguma forma excluído do contrato
social, uma vez que não abre mão de nada. Aqueles que realizaram a
transferência, por sua vez, submetem-se igualmente a esse poder
centralizado.

Hobbes: A lei não é para impedir as pessoas de todas as ações


voluntárias, mas para dirigi-las e mantê-las em tal movimento, que não
sejam prejudicadas por seus próprios desejos impetuosos ou
indiscrições. Resumindo: o homem, para Hobbes, é um ser de certa
forma (menos relacionado com as leis naturais)

Hobbes: O Estado contém as vontades como as margens de um rio


contêm suas águas, impedindo-as de se dispersar. O eu será, assim,
a barragem construída para conter a natureza humana, que busca a
afirmação de algo que escapa ao próprio eu: uma busca de prazer
sem fogo

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