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Resumo da obra.

"O Leviatã" é uma obra escrita por Thomas Hobbes que aborda a teoria política e filosófica.
Hobbes argumenta que a natureza humana é essencialmente egoísta e que a sociedade é marcada
pelo conflito e pela busca do poder. Ele defende a necessidade de um governo central forte,
representado pelo "Leviatã", para evitar o caos e garantir a segurança e a ordem. Segundo
Hobbes, as pessoas devem renunciar a certas liberdades individuais em troca da proteção e do
bem-estar proporcionados pelo Estado soberano.
Para Thomas Hobbes, o "Leviatã" é uma metáfora utilizada para descrever um Estado soberano
e poderoso. Ele descreve o Leviatã como uma entidade fictícia, um gigante composto por todos
os indivíduos que formam a sociedade. O Leviatã representa a autoridade máxima e detém o
poder absoluto para manter a paz, a ordem e a segurança na sociedade. É através do
estabelecimento de um Leviatã que Hobbes acredita ser possível evitar o estado de natureza
caótico e alcançar uma vida em sociedade civilizada.

CAP XIII – Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria

1. O autor está enfatizando a ideia de que, apesar das diferenças individuais nas capacidades
físicas e intelectuais, essas diferenças não são tão grandes a ponto de justificar uma
desigualdade fundamental entre os homens. Todos os indivíduos possuem um potencial
suficiente para se defender e buscar seus interesses, mesmo que possam adotar abordagens
diferentes para alcançá-los.
2. Em relação à força corporal, o autor sugere que, mesmo que alguém seja manifestamente
mais forte fisicamente do que outro, essa diferença não garante uma vantagem absoluta. O
autor argumenta que o mais fraco ainda possui recursos suficientes para subjugar o mais
forte, seja por meio de estratégias secretas ou unindo-se a outros que também estejam
ameaçados pelo mesmo perigo. Isso significa que a força bruta não é a única determinante
na capacidade de um indivíduo se proteger ou obter benefícios, pois a inteligência e a
cooperação podem desempenhar um papel crucial.
3. Ele vai falar da prudência, ele diz que a prudência nada mais é do que a experiencia que um
tempo igual igualmente oferece a todos os homens, naquelas coisas a que igualmente se
dedicam. Cautela
4. Mas então ele vai dizer que o problema dessa igualdade é a concepção vaidosa da própria
sabedoria, ou seja, é da natureza do homem que mesmo reconhecendo outros como
inteligentes ou sábios, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios como eles mesmos.
Mas isso provaria para ele que os homens são iguais nesse ponto.
5. Hobbes argumenta que essa tendência demonstra a igualdade dos homens nesse aspecto, e
não a desigualdade. Os homens, de modo geral, tendem a acreditar que há uma distribuição
equitativa de sabedoria, uma vez que estão satisfeitos com a parte que lhes cabe. Essa
satisfação indica que cada um reconhece sua própria sabedoria como adequada e suficiente
para si mesmo.
6. Assim, Hobbes sugere que a percepção de superioridade intelectual individual em relação
aos outros é mais uma ilusão causada pela falta de proximidade com a sabedoria alheia. Ele
defende a igualdade nesse aspecto, afirmando que os homens são iguais em sua capacidade
de alcançar sabedoria e que a satisfação com sua própria parcela de sabedoria é um
indicativo dessa igualdade.
7. Então ele diz que dessa igualdade perante a capacidade surge a igualdade perante a
esperança de atingir o fim. Logo se dois homens desejam a mesma coisa a qual é impossível
que os dois consigam ao mesmo tempo, eles se tornam inimigos. E disso se esforçam para
se destruir e subjugar um ao outro.
8. Ele argumenta que uma maneira razoável de garantir essa segurança é antecipar-se aos
outros, ou seja, subjugar as pessoas o máximo possível por meio da força ou astúcia, até o
momento em que não vejam nenhum outro poder suficientemente grande para ameaçá-las.
9. Hobbes defende essa abordagem como uma medida necessária para a própria conservação
do indivíduo, algo amplamente aceito. Ele ressalta que alguns indivíduos, motivados pelo
prazer de exercer seu poder conquistador, podem se envolver em ações de conquista que
vão além do necessário para sua própria segurança. Nesse caso, se outros indivíduos não
aumentarem seu poder por meio de invasões, aqueles que estendem seu domínio além dos
limites necessários não serão capazes de subsistir por muito tempo se estiverem apenas na
posição defensiva.
10. Portanto, Hobbes argumenta que o aumento do domínio sobre os homens é algo necessário
para a preservação de cada indivíduo e, consequentemente, deve ser admitido por todos. Ele
sustenta que essa abordagem é uma resposta à desconfiança mútua e à busca pela segurança
individual, buscando evitar a aniquilação e a dominação por parte dos outros.
11. Hobbes explora a dinâmica social entre os homens na ausência de um poder que os
mantenha em respeito. Ele afirma que, sem um poder comum que os submeta, os homens
não encontram prazer na companhia uns dos outros, mas sim um grande desprazer. Isso
ocorre porque cada indivíduo deseja ser valorizado pelos outros da mesma forma que se
valoriza, e na presença de sinais de desprezo ou subestimação, naturalmente se esforçará, na
medida em que se atreve (o que pode levar a conflitos violentos entre aqueles que não têm
um poder comum que os subjuguem), para obter o reconhecimento de maior valor,
causando danos aos seus oponentes e aos outros, como um exemplo a ser seguido.

12. Hobbes está destacando a importância do poder político e da autoridade centralizada na


manutenção da ordem social e na prevenção de conflitos entre os indivíduos. Na ausência
desse poder comum que os submeta, as pessoas entram em competição constante por
reconhecimento e valorização, o que leva a uma situação de conflito e violência
generalizada.

13. Ele diz que a natureza do homem existe três formas principais que levam a discórdia.
1 – Competição – Ela leva aos homens atacarem uns aos outros tendo e vista o lucro; 2 –
Desconfiança – Visando a segurança - 3 – A glória – Visando a reputação

14. Essa passagem reflete a visão de Hobbes de que a vida em estado de natureza, sem um
governo ou autoridade centralizada, é caracterizada pela guerra de todos contra todos, em
que os indivíduos estão em constante conflito uns com os outros na busca por poder e
segurança. Portanto, para evitar essa condição caótica, Hobbes argumenta que é necessário
estabelecer um poder político soberano que possa manter todos os indivíduos em respeito e
garantir a ordem social. FICA SE REPETINDO AO LONGO DO TEXTO

15. Onde não há um poder político centralizado para garantir a segurança e a ordem social. Ele
compara esse estado com o tempo de guerra, em que cada homem é inimigo de todos os
outros. Hobbes argumenta que, nessas condições, não há lugar para a indústria, pois não há
garantia de segurança ou retorno dos esforços investidos. Isso significa que não há cultivo
da terra, comércio marítimo, construção de estruturas confortáveis, desenvolvimento de
tecnologias ou avanço do conhecimento.

16. Hobbes também destaca que, nesse estado de natureza, não há sociedade, e os indivíduos
vivem em constante temor e perigo de morte violenta. Ele descreve a vida nesse estado
como solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta. Essa visão sombria reflete a ideia de
que a ausência de um poder político soberano para estabelecer regras e garantir a segurança
resulta em um estado de caos e conflito, onde os indivíduos estão constantemente
preocupados com sua própria sobrevivência e não podem desfrutar dos benefícios do
progresso social e civilização.

17. Essa descrição serve como base para a defesa de Hobbes sobre a necessidade de estabelecer
um contrato social e um governo centralizado, a fim de evitar essas condições precárias e
garantir a paz, a segurança e a prosperidade para a sociedade como um todo.

18. Hobbes explora as consequências da condição de guerra de todos contra todos. Ele
argumenta que, nesse estado de natureza, não existem noções de bem e mal, justiça e
injustiça, pois não há um poder comum que estabeleça leis e normas para regular as
interações entre os indivíduos. A força e a fraude são os principais meios de sobrevivência
nesse contexto, e não há lugar para conceitos morais.

19. Além disso, Hobbes afirma que, na ausência de um poder político estabelecido, não existe
propriedade ou distinção entre o meu e o teu. Cada indivíduo possui apenas aquilo que é
capaz de obter e manter através de seus próprios esforços. Essa falta de segurança e
estabilidade é a condição miserável em que o homem se encontra naturalmente, de acordo
com Hobbes.

20. No entanto, Hobbes aponta que os homens têm a possibilidade de escapar dessa condição
por meio de suas paixões e da razão. As paixões que os levam em direção à paz são o medo
da morte, o desejo de uma vida confortável e a esperança de alcançá-la por meio do
trabalho. A razão, por sua vez, sugere normas adequadas de paz, em torno das quais os
homens podem concordar. Essas normas são chamadas de "leis da natureza".
CAP. XIV – Da primeira e segunda leis naturais, e dos contratos
21. O direito da natureza é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da
maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza. Ou seja, fazer tudo aquilo
que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.

22. A liberdade seria a ausência de impedimentos externos, impedimentos que muitas vezes
tiram o poder de cada um fazer o que quer. Mas o poder que restar pode ser usado conforme
o seu julgamento e razão ditar.

23. Lei da natureza é uma regra geral que estabelecido pela razão a qual proíbe a um homem
fazer tudo que pode destruir sua vida ou priva-lo dos meios necessários para preserva-la.

24. Mas então ele vai distinguir o direito e lei. Visto que direito é a liberdade de fazer ou omitir.
Já a lei determina ou obriga a uma dessas duas coisas.

25. Em resumo, Hobbes defende que, na condição de guerra de todos contra todos, cada
indivíduo tem o direito a todas as coisas, mas reconhece que a busca pela paz é fundamental
e, caso a paz não seja possível, é permitido usar todos os meios disponíveis para proteger a
própria vida. A solução proposta por Hobbes é estabelecer um governo soberano para
garantir a segurança e a ordem na sociedade.

26. Preceito ou regra geral da razão ‘’que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida
em que tenha esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as
ajudas e vantagens da guerra.’’
27. Em resumo, a passagem de Hobbes destaca que a busca pela paz deve ser priorizada, mas
em casos em que a paz não é viável, os indivíduos têm o direito de buscar e utilizar os
meios da guerra para sua defesa pessoal.

28. Segunda lei ‘’que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida em
que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu
direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma
liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo.’’ Pg 79, p. 1.

29. Segundo Hobbes, quando várias pessoas concordam em renunciar a seus direitos absolutos
e estabelecem um contrato social, elas concordam em ter a mesma liberdade em relação aos
outros que permitem aos outros ter em relação a elas mesmas. Isso implica em um acordo
mútuo para respeitar as liberdades e os direitos dos outros, em troca de segurança e proteção
proporcionadas pelo governo soberano.

30. Portanto, renunciar a um direito implica em privar-se da liberdade de negar aos outros o
benefício desse direito, já que, no contexto do contrato social, todos estão sujeitos às
mesmas leis e limitações. A renúncia individual em prol da ordem social implica em uma
igualdade de direitos e responsabilidades para todos os indivíduos envolvidos no contrato.

31. Ele explica que um direito pode ser abandonado ou transferido de duas maneiras diferentes.
Primeiro, um direito pode ser simplesmente renunciado, o que significa abrir mão dele sem
especificar a quem o benefício será concedido. Nesse caso, a pessoa que renuncia ao direito
não se importa com quem irá se beneficiar dele. Em segundo lugar, um direito pode ser
transferido de forma intencional para uma pessoa ou grupo específico. Nesse caso, o
objetivo é beneficiar diretamente essa pessoa ou grupo em particular.

32. Em resumo, Hobbes argumenta que quando alguém renuncia ou transfere um direito, essa
pessoa tem o dever de não obstruir o benefício concedido a outros. Qualquer tentativa de
impedir ou anular esse benefício é considerada uma violação do princípio de direito
estabelecido pela renúncia ou transferência voluntária do direito

Depois ele entra na questões de atos voluntários.

33. Ele vai falar que esse ato voluntário tem como objetivo algum bem pra si mesmos. Logo, há
direitos que são incapazes de serem transferidos, como o fato de ninguém poder transferir
ou renunciar ao direito de de resisitir a quem o ataque pela força para tirar-lhe a vida , já que
não ah ai algum beneficio próprio. Como também os ferimento, as cadeias, os cárceres.

34. Hobbes ressalta que o motivo e objetivo subjacentes a essa renúncia e transferência de
direitos é a segurança pessoal de cada indivíduo, tanto em relação à sua vida quanto aos
meios de preservá-la, de forma que não chegue a um ponto de exaustão.

35. Então ele chega na afirmação ‘’A transferência mutua de direitos é aquilo a que se chama de
contrato.’’

Algumas definições

36. Pacto ou convenção – que seria quando um dos contratantes entregue a coisa contratada
por seu lado e permiti que o outro cumpra a sua parte em um momento posterior
determinado.
37. Observância da promessa ou fé – ambas as partes contratam e cumprem depois,

38. Doação, dádiva ou graça – São Palavras utilizadas para descrever atos de transferências de
direito que não seja mutuo com a intenção de conquistar a amizade, adquirir reputação de
caridade entre outros.

39. Os sinais desses contratos podem ser expressos ou por inferência. Expressos seriam as
palavras proferidas com a compreensão do que significam, seriam no tempo presente ou
passado ou do futuro. Já os sinais por inferência são as vezes consequencias do silencio ou
palavras, ou ações.

Ele fala um pouco desses contratos

40. Nos contratos, o direito não é transmitido apenas quando as palavras são do tempo presente
ou passado, mas também quando elas são do futuro, porque todo contrato é uma translação
ou troca mútua de direitos. Portanto aquele que apenas promete, por já ter recebido o
beneficio por causa do qual prometeu, deve ser entendido como tencionando que o direito
seja transmitido, porque se não tivesse a intenção de ver suas palavras assim entendidas o
outro não teria cumprido primeiro sua parte. É por esse motivo que na compra e na venda, e
em outros atos de contrato, uma promessa é equivalente a um pacto, e portanto é
obrigatória. Pg 81. P 3.

41. Em suma, Hobbes argumenta que, em uma condição de guerra e falta de confiança mútua,
os pactos podem ser anulados se não houver uma autoridade superior para garantir seu
cumprimento. A presença de um poder coercitivo é essencial para conter as paixões
humanas e assegurar a confiança nas obrigações assumidas nos pactos e contratos.

42. Em resumo, Hobbes argumenta que, em um Estado civil, o medo de não cumprir um pacto
perde sua razão de existir devido à presença de um poder coercitivo. Aqueles que assumem
a obrigação de cumprir o pacto são obrigados a fazê-lo, pois a autoridade governante
garantirá que o pacto seja cumprido e que haja consequências para aqueles que o violarem.

Voltando um pouco para a questão da transferência de direitos

43. Aquele que transfere o direito, transfere também os meios de gozá-lo.

44. Em resumo, Hobbes argumenta que, ao transferir um direito, também são transferidos os
meios necessários para desfrutar desse direito, desde que esses meios estejam sob o controle
do indivíduo que está transferindo o direito. Isso se aplica a diferentes exemplos, como a
transferência de propriedade de terras, venda de equipamentos ou concessão de poderes de
governo.

45. Sobre pactos com animais, Hobbes vaia firma que é impossível que isso aconteça. Pois eles
não compreendem nossa linguagem. Seria impossível transferir algum direito a eles.

46. Nessa fala, Thomas Hobbes aborda a questão dos pactos com Deus e argumenta que é
impossível fazer esses pactos diretamente, a menos que haja uma mediação entre os seres
humanos e Deus. Essa mediação pode ocorrer por meio da revelação divina sobrenatural ou
através dos líderes religiosos que governam em nome de Deus.
47. Hobbes argumenta que, sem a mediação adequada, os seres humanos não têm como saber se
seus pactos com Deus foram aceitos ou não. Não temos um meio direto de comunicação
com Deus para confirmar se nossos pactos foram aceitos ou se estamos cumprindo a
vontade divina.

48. Nesse trecho, Thomas Hobbes aborda a natureza da matéria ou objeto de um pacto. Ele
argumenta que o objeto de um pacto é sempre algo que está sujeito a deliberação, pois fazer
um pacto é um ato da vontade que envolve tomar uma decisão consciente. Portanto, o
objeto do pacto é algo que está no futuro e é considerado possível de ser cumprido pela
pessoa que faz o pacto.

49. Em outras palavras, ao fazer um pacto, as partes envolvidas deliberam sobre um assunto que
ainda não ocorreu, mas que é considerado viável e realizável no futuro. O objeto do pacto
pode ser qualquer coisa que seja objeto de deliberação e que seja considerada factível para
as partes envolvidas.

50. Nessa fala, Thomas Hobbes argumenta que os pactos feitos por medo, na condição de
estado natural de guerra, são obrigatórios. Ele dá o exemplo de um pacto em que alguém se
compromete a pagar um resgate ou oferecer um serviço em troca da própria vida, para um
inimigo. Hobbes afirma que nesse caso, a pessoa fica vinculada por esse pacto, pois se
estabelece um contrato em que uma das partes recebe o benefício da vida e a outra recebe
dinheiro ou serviços em troca.

51. Thomas Hobbes argumenta que um pacto anterior anula outro pacto posterior. Essa ideia
está relacionada à noção de que um pacto implica em uma transferência de direitos e
obrigações entre as partes envolvidas. Uma vez que um indivíduo tenha realizado essa
transferência em um pacto anterior, ele não possui mais o direito disponível para transferir
novamente a outra pessoa em um pacto posterior.

52. Thomas Hobbes argumenta que um pacto em que alguém se comprometa a não se defender
da força pela força é sempre nulo. Isso ocorre porque uma pessoa não pode transferir ou
renunciar ao seu direito de se proteger da morte, ferimentos ou aprisionamento. A renúncia a
esse direito é o único propósito desse tipo de pacto, mas a promessa de não resistir à força
não transfere qualquer direito e não é obrigatória.

53. Hobbes sustenta que, por natureza, os seres humanos escolhem o mal menor, que é o perigo
de morte ao resistir à força, em vez do mal maior, que é a morte certa e imediata se não
resistirem.

54. Thomas Hobbes argumenta que um pacto em que alguém se acusa a si mesmo, sem garantia
de perdão, também é inválido. Na condição de natureza, em que cada indivíduo é o juiz de
suas próprias ações, não há espaço para a acusação. Já no estado civil, a acusação é seguida
de punição, que é exercida por meio da força. Nesse contexto, ninguém é obrigado a não
resistir ao castigo.

55. Thomas Hobbes argumenta que, devido à fragilidade da força das palavras para obrigar os
homens a cumprirem seus pactos, existem apenas duas maneiras de fortalecer a observância
dos pactos na natureza humana. Essas formas são o medo das consequências de quebrar
uma promessa e o orgulho de manter a aparência de não precisar quebrá-la.
56. O medo das consequências está relacionado ao receio de sofrer punições ou retaliações por
não cumprir um pacto. Esse medo pode ser motivado pela ameaça de perda de reputação,
confiança, oportunidades futuras ou até mesmo por retaliações físicas.

57. O orgulho de aparentar não precisar faltar à palavra dada refere-se à motivação de manter
uma imagem positiva diante dos outros. Os indivíduos podem se sentir incentivados a
cumprir seus pactos para mostrar sua integridade, confiabilidade e respeito pelos
compromissos assumidos.

58. Thomas Hobbes afirma que quando dois indivíduos não estão sujeitos a um poder civil que
possa coagi-los a cumprir seus pactos, a única forma de reforçar o compromisso é por meio
de juramentos. O juramento é uma linguagem adicionada à promessa, na qual aquele que
faz a promessa expressa que, caso não a cumpra, renuncia à graça de Deus ou pede que
sobre si mesmo recaia a vingança divina.

59. Hobbes menciona que essa prática existia tanto nas antigas sociedades pagãs quanto nas
religiões de sua época. Por exemplo, um juramento pagão poderia envolver expressões
como "Júpiter me mate, como eu mato este animal", onde se invocava a divindade como
testemunha e como garantia de cumprimento da promessa. Além disso, rituais e cerimônias
específicas eram realizados para aumentar o temor de faltar à palavra e reforçar o
compromisso. Assim, para Hobbes, o juramento acrescenta uma dimensão religiosa e moral
à promessa, fortalecendo a obrigação de cumpri-la, mesmo quando não há um poder civil
para garantir sua observância.

CAP. XV – De outras leis de natureza


60. Terceira lei: Que os homens cumpram os pactos que celebrarem. Sem esta lei os pactos
seriam vãos, e não passariam de palavras vazias; como o direito de todos os homens a todas
as coisas continuaria em vigor, permaneceríamos na condição de guerra. Ao cumprir os
pactos, a sociedade se mantém em ordem e assegura a paz e a justiça.

61. Hobbes define a injustiça como o não cumprimento de um pacto, o rompimento da


obrigação assumida. Portanto, quando os pactos são quebrados, ocorre uma violação da
justiça, prejudicando a confiança e a estabilidade da sociedade.

62. No estado natural de guerra, em que os homens estão constantemente em conflito, não é
possível estabelecer de forma efetiva o cumprimento dos pactos e garantir a justiça. Para
que as palavras "justo" e "injusto" tenham significado, é necessário algum tipo de poder
coercitivo que seja capaz de obrigar os homens a cumprirem seus pactos. Esse poder
coercitivo deve ser capaz de impor um castigo que seja mais temido do que os benefícios
que se poderiam obter ao romper o pacto. Para estabelecer esse poder coercitivo, Hobbes
argumenta que é necessário erigir um Estado.

63. Na continuação do pensamento de Hobbes, ele argumenta que a definição comum de justiça
nas escolas é a vontade constante de dar a cada um o que é seu. No entanto, ele observa que,
onde não há propriedade, não pode haver injustiça. Isso significa que a noção de justiça está
intrinsecamente ligada à ideia de propriedade.

64. Hobbes afirma que, no estado natural, onde não foi estabelecido um poder coercitivo (ou
seja, onde não há Estado), não existe propriedade no sentido de direitos exclusivos sobre os
recursos. Nesse estado, todos os homens têm direito a todas as coisas, o que implica que
ninguém tem o direito exclusivo de possuir algo.

65. Assim, a ausência de um Estado leva à ausência de propriedade privada e,


consequentemente, à inexistência de injustiça. Para Hobbes, o estabelecimento de um
Estado forte e centralizado é essencial não apenas para garantir a proteção da propriedade,
mas também para definir e aplicar a justiça de acordo com as regras e leis estabelecidas.

66. Hobbes argumenta que a pretensão de adquirir uma segura e perpétua felicidade no céu, por
qualquer meio, é frívola. Ele sustenta que a única maneira de alcançar essa felicidade é
através do cumprimento dos pactos estabelecidos.

67. No contexto do pensamento de Hobbes, o cumprimento dos pactos é fundamental para a


estabilidade e a ordem da sociedade. Ele argumenta que, ao celebrar pactos e cumpri-los, os
indivíduos estabelecem uma base sólida para a confiança mútua e a cooperação. Isso é
necessário para evitar o estado de guerra e para promover uma convivência pacífica.

Entramos em uma outra fala de Hobbes

68. Quanto à outra hipótese, de conquistar a soberania pela rebelião, é evidente que a tentativa,
mesmo que seja coroada de êxito, é contrária à razão: por um lado porque não é razoável
esperar que tenha êxito, antes pelo contrário; por outro lado porque ao fazê-lo se ensina aos
outros a conquistar a soberania da mesma maneira. Portanto a justiça, isto é, o cumprimento
dos pactos, é uma regra da razão, pela qual somos proibidos de fazer todas as coisas que
destroem a nossa vida, e por conseguinte é uma lei de natureza. PG 88. P 3

69. Hobbes argumenta que a tentativa de conquistar a soberania por meio da rebelião é contrária
à razão. Ele apresenta dois motivos principais para essa afirmação.

70. Primeiro, Hobbes afirma que é irracional esperar que uma rebelião seja bem-sucedida. A
rebelião implica em desafiar a autoridade estabelecida e tentar derrubá-la. No entanto,
Hobbes acredita que o poder soberano é essencial para a estabilidade e a ordem da
sociedade. Ele argumenta que é improvável que uma rebelião bem-sucedida resulte em uma
situação mais favorável, uma vez que a ausência de um poder soberano levaria ao retorno
do estado de guerra e da instabilidade.

71. Segundo, Hobbes aponta que, ao promover uma rebelião e obter sucesso, ensina-se aos
outros a conquistar a soberania da mesma maneira. Isso cria um ciclo de instabilidade, onde
diferentes grupos e indivíduos tentam tomar o poder através da força. Essa situação é
contrária à razão, pois não promove a paz e a ordem social.

Entramos na questão do perdão

72. Ele explica que os homens podem perdoar uns aos outros suas dívidas porque o não
pagamento de uma dívida é uma injúria feita a eles mesmos. Nesse contexto, a injúria é
vista como uma violação das obrigações e dos acordos estabelecidos entre as partes
envolvidas.

73. No entanto, quando se trata de roubos ou violências que causam danos, Hobbes argumenta
que essas ações são injúrias feitas à pessoa do Estado. Isso ocorre porque o Estado é
responsável pela proteção dos indivíduos e da sociedade como um todo. Quando ocorre um
roubo ou uma violência que causa danos, é uma injúria feita não apenas à vítima, mas
também à ordem e à autoridade do Estado.

74. O autor divide a justiça das ações em comutativa e distributiva. A justiça comutativa está
relacionada à igualdade de valor das coisas envolvidas em um contrato. Por exemplo,
vender algo por um preço mais alto do que foi comprado seria considerado injusto nesta
perspectiva. Já a justiça distributiva está relacionada à distribuição de benefícios iguais a
pessoas de mérito igual. Seria considerado injusto dar a alguém mais do que ele merece.

75. No entanto, Hobbes argumenta que o valor das coisas contratadas é determinado pelo
apetite dos contratantes, ou seja, pelo que eles acham conveniente oferecer. Portanto, o
valor justo é definido pelos próprios contratantes, e não por uma proporção aritmética ou
geométrica fixa.

76. Além disso, Hobbes afirma que o mérito não é devido por justiça, mas sim recompensado
apenas pela graça. O mérito está fora do âmbito da justiça e é atribuído por vontade ou
generosidade, não por obrigatoriedade.

77. Portanto, Hobbes critica a distinção tradicional entre justiça comutativa e distributiva,
argumentando que a justiça comutativa se refere ao cumprimento de pactos e acordos em
transações comerciais e contratos, enquanto a justiça distributiva está mais relacionada à
recompensa do mérito, mas não por uma obrigação estrita da justiça. E ele diz que o melhor
termo para se referir a isso é a eqüidade

78. Quarta lei – Que quem recebeu beneficio de outro homem, por simples graça, se esforce
para que o doador não venha a ter motivo razoável para arrepender-se de sua boa vontade..

79. O ato de dar é motivado pelo benefício próprio, pois a doação é voluntária e o objetivo de
todos os atos voluntários é o benefício individual. Se essa expectativa for frustrada, não
haverá benevolência, confiança, ajuda mútua ou reconciliação entre as pessoas. Nesse caso,
elas não poderão sair da condição de guerra, que vai contra a lei fundamental de natureza
que ordena a busca pela paz. O desrespeito a essa lei é chamado de ingratidão, e tem a
mesma relação com a graça que a injustiça tem com a obrigação por contrato.

80. Quinta lei - Que cada um se esforce por acomodar-se com os outros.

81. Isso se baseia na compreensão de que as pessoas têm naturezas diferentes, derivadas das
suas próprias inclinações. É como quando construímos um edifício e selecionamos pedras,
deixando de lado aquelas que são ásperas ou têm formas irregulares, pois ocupam mais
espaço e são difíceis de aplainar. Da mesma forma, aqueles que, devido à aspereza da sua
natureza, insistem em guardar coisas supérfluas para eles, mas necessárias para os outros, e
não podem ser corrigidos devido à obstinação das suas paixões, devem ser abandonados ou
expulsos da sociedade, pois são hostis a ela.
82. Sexta lei – Que como garantia do tempo futuro se perdoem as ofensas passadas, àqueles que
se arrependam e o desejem. Porque o perdão não é mais do que uma garantia de paz, a qual,
embora quando dada aos que perseveram em sua hostilidade não seja paz, mas medo,
quando recusada aos que oferecem garantia do tempo futuro é sinal de aversão pela paz, o
que é contrário à lei de natureza.

83. Sétima lei – Que na vingança (isto é, a retribuição do mal com o mal) os homens não olhem
à importância do mal passado, mas só à importância do bem futuro. Isso significa que o
castigo deve ter como objetivo corrigir o ofensor ou servir de exemplo para os outros. Além
disso, a vingança que não busca um exemplo ou benefício futuro é apenas uma busca por
triunfo ou glorificação baseada no dano causado ao outro, sem nenhum propósito final.

84. Oitava lei - Que ninguém por atos, palavras, atitude ou gesto declare ódio ou desprezo pelo
outro.
Usando essa lei ele vai introduzir o pensamento de aristoteles em sua obra a Política.

85. Bem sei que Aristóteles, no livro primeiro de sua Poética, como fundamento de sua
doutrina, afirma que por natureza alguns homens têm mais capacidade para mandar,
querendo com isso referir-se aos mais sábios (entre os quais se incluía a si próprio, devido a
sua filosofia), e outros têm mais capacidade para servir (referindo-se com isto aos que
tinham corpos fortes, mas não eram filósofos como ele); como se senhor e servo não
tivessem sido criados pelo consentimento dos homens, mas pela diferença de inteligência, o
que não só é contrário à razão, mas é também contrário à experiência. Pois poucos há tão
insensatos que não prefiram governar-se a si mesmos a ser governados por outros. E os que
em sua própria opinião são sábios, quando lutam pela força com os que desconfiam de sua
própria sabedoria, nem sempre, ou poucas vezes, ou quase nunca alcançam a vitória.
Portanto, se a natureza fez todos os homens iguais essa igualdade deve ser reconhecida; e se
a natureza fez os homens desiguais, como os homens, dado que se consideram iguais, só em
termos igualitários aceitam entrar em condições de paz, essa igualdade deve ser admitida.
pg 91. p 5.
Alfinetada em Aristóteles e propõe assim sua próxima lei que vai contra a Aristóteles
86. Nona lei de natureza - Que cada homem reconheça os outros como seus iguais por natureza.
A falta a este preceito chama-se orgulho.
87. 10° Lei - Que ao iniciarem-se as condições de paz ninguém pretenda reservar para si
qualquer direito que não aceite seja também reservado para qualquer dos outros.

88. Para alcançar a paz, os indivíduos precisam renunciar a certos direitos naturais, ou seja,
abrir mão da liberdade de fazer tudo o que desejam. No entanto, há certos direitos essenciais
para a vida humana que devem ser preservados, como governar o próprio corpo, desfrutar
de ar, água, movimento, meios de transporte e todas as outras coisas necessárias para uma
vida digna. Se, ao fazer a paz, alguém exigir para si o que não está disposto a conceder aos
outros, estará indo contra a lei anterior, que estabelece a igualdade entre os homens, e,
portanto, estará agindo contra a lei da natureza.
89. 11° lei – Se a alguém for confiado servir de juiz entre dois homens, é um preceito da lei de
natureza que trate a ambos eqüitativamente.

90. 12 Lei – Que as coisas que não podem ser divididas sejam gozadas em comum. Se a
quantidade permitir, o desfrute deve ser sem limites; caso contrário, deve ser distribuído de
forma proporcional entre aqueles que têm direito a ele. Essa distribuição garante a igualdade
e a equidade, evitando desigualdades injustas.

91. 13 LEI - Portanto aquelas coisas que não podem ser gozadas em comum, nem divididas,
devem ser adjudicadas ao primeiro possuidor, ou adquiridas por sorteio. Existem dois tipos
de sorteio: o arbitrário, acordado entre os envolvidos, e o natural, como a primogenitura ou
a primeira apropriação.

92. 15 LEI - Que aqueles entre os quais há controvérsia submetam seu direito ao julgamento de
um árbitro. Essa passagem afirma que, dado que cada pessoa age visando seu próprio
benefício, ninguém pode ser um juiz imparcial em sua própria causa. Como a equidade
exige que cada parte receba um benefício igual, na ausência de um juiz adequado, se uma
pessoa for aceita como juiz, a outra também deve ser. Isso leva a uma disputa contínua, que
é contrária à lei natural. Em resumo, quando as partes envolvidas não podem encontrar um
juiz imparcial, a controvérsia persiste, impedindo uma resolução equitativa. Assim como o
juiz não pode ser aceito se para ele ser mais proveito a vitória de uma das partes.

Pode se resumir todas essas leis na frase – Faz aos outros o que gostarias que fizessem a ti.

93. As leis de natureza têm um efeito interno, ou seja, elas impõem um desejo de serem
cumpridas. No entanto, externamente, nem sempre obrigam as pessoas a colocá-las em
prática. Se alguém fosse modesto e cumprisse todas as suas promessas em um contexto em
que ninguém mais o fizesse, essa pessoa se tornaria uma presa fácil para os outros e
acabaria se arruinando, indo contra o objetivo fundamental de preservação da natureza das
leis de natureza. Por outro lado, se alguém tivesse garantias de que os outros também
seguiriam essas leis, mas mesmo assim não as cumprisse, essa pessoa estaria buscando a
guerra e, consequentemente, a destruição de sua própria natureza pela violência. Em
resumo, as leis de natureza têm um efeito interno, mas nem sempre são obedecidas
externamente, e o equilíbrio entre a confiança nas ações dos outros e a preservação da
própria segurança é essencial.

Podemos finalizar essas leis com o seguinte parágrafo

94. As leis de natureza são imutáveis e eternas, pois a injustiça, a ingratidão, a arrogância, o
orgulho, a iniqüidade, a acepção de pessoas e os restantes jamais podem ser tornados
legítimos. Pois jamais poderá ocorrer que a guerra preserve a vida, e a paz a destrua. Pg 94

95. E a ciência dessas leis é a verdadeira e única filosofia moral. Porque a filosofia moral não é
mais do que a ciência do que é bom e mau, na conservação e na sociedade humana.
CAP XVI – Das pessoas autores e coisas personificadas.
96. Ele começa o capitulo definindo o que seria uma pessoa. E resumindo, uma pessoa pode ser
considerada como suas próprias palavras e ações, ou como representando as palavras e
ações de outra pessoa ou entidade. Quando considerada como suas próprias, é uma pessoa
natural. Quando considerada como representante de outra, é uma pessoa fictícia ou
artificial. A palavra "pessoa" tem origem latina e originalmente se referia à máscara usada
por atores no palco. Ao longo do tempo, passou a ser usada para descrever qualquer
representante da palavra ou da ação. Assim, uma pessoa pode ser vista como um ator tanto
no teatro quanto na conversação comum. Existem diversas designações para uma pessoa
que representa outra, como representante, mandatário, vigário, advogado, entre outros.

97. Resumindo, quando um ator faz um pacto em nome de outra pessoa, ele obriga o autor do
pacto da mesma forma como se o autor o fizesse pessoalmente. O ator está sujeito a todas as
consequências do pacto. Portanto, tudo o que foi mencionado anteriormente sobre a
natureza dos pactos entre os indivíduos também se aplica aos pactos feitos por atores,
representantes ou procuradores, desde que tenham autoridade dentro dos limites da sua
comissão.

98. Crianças, imbecis e loucos podem ser personificados por guardiões ou curadores, mas eles
próprios não podem ser autores de ações, a menos que considerem essas ações razoáveis
quando recuperarem o uso da razão. Durante a loucura, aqueles que têm o direito de
governá-los podem conferir autoridade aos guardiões. Isso também só pode ocorrer em um
estado civil, pois antes desse estado não há controle sobre as pessoas.

99. Ídolos ou meras criações mentais podem ser personificados, como os deuses pagãos, que
eram personificados pelos funcionários nomeados pelo Estado. No entanto, os ídolos não
podem ser autores, pois não são nada. A autoridade derivava do Estado, então antes da
instituição do governo civil, os deuses pagãos não podiam ser personificados.

100. O verdadeiro Deus pode ser personificado. Moisés personificou Deus ao governar os
israelitas em nome de Deus. Jesus Cristo, como filho de Deus, personificou Deus ao induzir
as nações a entrar no reino de seu pai em nome de seu pai. O Espírito Santo, enviado pelos
outros dois, também falava e agia nos apóstolos.

101. Existem duas espécies de autores. O autor da primeira espécie é aquele que
simplesmente realiza a ação em nome de outro. O autor da segunda espécie é aquele que
realiza a ação ou assume um pacto em nome de outro, sob condição de que o outro não o
faça até um determinado momento. Esses autores condicionais são conhecidos como
fiadores, e em latim são chamados de fidejussores e sponsores. Para dívidas, são chamados
de praedes, e para comparecer perante um juiz ou magistrado, vades.
XVII – Das causas, gerações e definição de um Estado.
102. O objetivo final dos seres humanos, que têm uma inclinação natural para a liberdade e o
domínio sobre os outros, ao estabelecer restrições sobre si mesmos nos Estados, é cuidar de
sua própria preservação e ter uma vida mais satisfatória. Eles desejam escapar da miserável
condição de guerra, que é a consequência inevitável das paixões naturais dos seres humanos
quando não há um poder visível capaz de mantê-los sob controle, obrigando-os, por meio do
medo de punição, a cumprir seus pactos e respeitar as leis de natureza discutidas nos
capítulos décimo quarto e décimo quinto.

103. Mesmo que as leis de natureza sejam respeitadas por vontade própria quando é
conveniente e seguro fazê-lo, é necessário estabelecer um poder suficientemente forte para
garantir nossa segurança. Sem esse poder, cada indivíduo confiará e terá o direito legítimo
de confiar apenas em sua própria força e habilidade como proteção contra os demais

104. Se as ações de uma multidão forem determinadas pelos interesses individuais e pelos
julgamentos individuais de cada pessoa, não se pode esperar que essa multidão ofereça
defesa ou proteção a ninguém. Ao divergirem em opiniões sobre o melhor uso de sua força,
em vez de se ajudarem, acabam atrapalhando uns aos outros, enfraquecendo assim sua força
coletiva. Isso não apenas os torna vulneráveis a serem subjugados por um pequeno grupo
que esteja unido, mas também leva a conflitos internos, mesmo na ausência de um inimigo
comum, devido a interesses particulares.

105. É certo que há algumas criaturas vivas, como as abelhas e as formigas, que vivem
sociavelmente umas com as outras (e por isso são contadas por Aristóteles entre as criaturas
políticas), sem outra direção senão seus juízos e apetites particulares, nem linguagem
através da qual possam indicar umas às outras o que consideram adequado para o beneficio
comum.
Ele afirma que a humanidade não poderá fazer isso pelos seguintes motivos

106. Primeiro, os homens competem por honra e dignidade, ao contrário das criaturas
irracionais, o que leva à inveja, ódio e guerra entre os homens, mas não entre as criaturas.
Segundo, as criaturas irracionais não distinguem entre o bem comum e o bem individual,
promovendo assim o bem comum. Os homens, por sua vez, encontram felicidade na
comparação com outros e buscam prazer no que é eminente. Terceiro, as criaturas
irracionais não questionam a administração da existência comum, enquanto muitos homens
se consideram mais sábios e capacitados para governar, levando a reformas e inovações que
podem resultar em desordem e guerra civil. Quarto, as criaturas irracionais possuem uma
forma limitada de comunicação, enquanto os homens têm a habilidade de usar palavras para
manipular e influenciar os outros, semear descontentamento e perturbar a paz. Quinto, as
criaturas irracionais não distinguem entre injúria e dano, enquanto os homens tendem a se
tornar mais implicativos quando estão satisfeitos, buscando mostrar sua sabedoria e
controlar os governantes. Por último, o acordo entre as criaturas irracionais é natural,
enquanto o acordo entre os homens é alcançado através de um pacto artificial. Portanto, é
necessário um poder comum além do pacto para manter o acordo dos homens constante e
duradouro, direcionando suas ações para o benefício comum.
107. A única maneira de estabelecer um poder comum capaz de proteger as pessoas de
invasões externas e conflitos internos é delegar todo o seu poder a um homem ou a uma
assembleia de homens, que representará suas vontades por meio de votos. Cada indivíduo
reconhece esse representante como autor de suas ações relacionadas à paz e segurança
comuns, submetendo suas vontades à vontade do representante. Isso cria uma verdadeira
unidade em que cada pessoa transfere seu direito de governar-se para o representante,
formando um Estado. Esse Estado é responsável pela paz e defesa coletivas, possuindo
autoridade e poder para conformar as vontades dos indivíduos. O portador dessa pessoa é
chamado de soberano, e os demais são súditos. O poder soberano pode ser adquirido pela
força natural, quando um indivíduo impõe sua autoridade sobre os outros, ou pela vontade
dos indivíduos que concordam em submeter-se a um governante em troca de proteção. Isso
cria um Estado político ou um Estado por instituição.

XVIII – Dos direitos dos soberanos por instituição


108. Um Estado é instituído quando uma multidão de pessoas concorda que um indivíduo ou
uma assembleia representará e tomará decisões em nome de todos.

109. Em primeiro lugar, aqueles que instituíram um Estado estão obrigados pelo pacto a
reconhecer e obedecer às decisões daquele que detém o poder soberano. Eles não podem,
sem permissão, renunciar à monarquia ou transferir sua lealdade para outro indivíduo ou
assembleia.

110. Em segundo, a ideia central é que, no contexto da instituição de um Estado, o soberano


é aquele que recebe o direito de representar a todos os indivíduos. O poder soberano é
conferido através de um pacto celebrado entre cada indivíduo e todos os outros. No entanto,
esse pacto não é um acordo prévio feito com o soberano, pois seria impraticável celebrar um
pacto com cada indivíduo separadamente ou com toda a multidão como um todo antes da
formação do Estado.
111. Uma vez que o soberano adquire o poder, não há possibilidade de quebrar o pacto da
parte dele. Além disso, nenhum dos súditos pode se libertar da sujeição ao soberano, mesmo
em caso de suposta infração do pacto. Se houver divergências entre os súditos sobre a
existência ou não de infração, não haverá um juiz capaz de decidir a controvérsia, levando
novamente ao uso da força para resolver o conflito.
112. A noção de que o poder do soberano deriva de um pacto prévio é equivocada, pois os
pactos em si não têm poder para obrigar ou proteger as pessoas. A força, representada pela
autoridade do soberano e apoiada pela união dos súditos, é o que efetivamente confere
poder e garante ações dentro do Estado.

113. Em terceiro lugar. No contexto da escolha de um soberano por maioria de votos,


aqueles que discordaram devem aceitar e consentir com a decisão da maioria. Caso
contrário, enfrentarão a destruição justa pelos demais.

114. 4 Devido à instituição do Estado, cada súdito é autor de todos os atos e decisões do
soberano. Portanto, nada que o soberano faça pode ser considerado injúria para qualquer um
dos súditos, e estes não podem acusá-lo de injustiça. Uma vez que agem em conformidade
com a autoridade do soberano, não podem ser prejudicados por suas próprias ações. Assim,
qualquer queixa de injúria contra o soberano é, na verdade, uma queixa contra si mesmo, o
que é impossível

115. 5 A soberania tem o papel de julgar quais opiniões e doutrinas são contrárias à paz e
quais são favoráveis a ela. Isso implica determinar em que medida, em quais ocasiões e o
que deve ser permitido àqueles que falam para grandes audiências, bem como examinar as
doutrinas de livros antes de sua publicação. O bom governo das opiniões é essencial para o
bom governo das ações humanas em busca da paz e da concórdia. Embora a verdade deva
ser o critério na avaliação das doutrinas, a regulação em prol da paz não é contrária a isso.
Uma doutrina contrária à paz não pode ser verdadeira, pois a paz e a concórdia estão em
conformidade com a lei natural.

116. 6 A soberania tem o poder de estabelecer as regras que determinam os direitos de


propriedade de cada indivíduo e as ações que podem ser praticadas sem interferência de
outros. Isso é essencial para garantir a paz, pois antes da existência da soberania, todos os
homens reivindicavam direito sobre todas as coisas, o que levava inevitavelmente à guerra.
A propriedade, que é necessária para a paz, depende do poder soberano e é estabelecida por
meio das leis civis de cada Estado, que definem o que é legítimo e ilegítimo nas ações dos
cidadãos.

117. 7 A soberania possui o poder de ser a autoridade judicial, ou seja, de ouvir e julgar todas
as disputas relacionadas às leis civis, leis naturais ou fatos. Isso é necessário, pois sem um
poder soberano que resolva as controvérsias, não haveria proteção contra a violência entre
os cidadãos. Seriam inúteis as leis sobre propriedade, e cada pessoa teria o direito de se
proteger individualmente, o que levaria a um estado de guerra contrário aos objetivos da
instituição do Estado.

118. 8 a soberania tem o direito de decidir quando fazer guerra ou paz com outras nações,
determinar a força militar necessária, levantar recursos financeiros dos súditos para custear
as despesas e ter o comando supremo sobre o exército. O soberano é o generalíssimo,
independentemente da escolha de um general específico.

119. 9 a soberania tem o poder de selecionar todos os conselheiros, ministros, magistrados e


funcionários, tanto em tempos de paz como de guerra. O soberano tem a autoridade para
escolher os meios que considerar mais adequados para atingir os objetivos comuns de paz e
defesa.
120. 10 ao soberano é confiado o direito de recompensar com riquezas e honras, assim como
punir com castigos corporais, multas ou desonra qualquer súdito, de acordo com a lei
previamente estabelecida ou com base no que considerar melhor para o serviço do Estado.

121. a autoridade soberana é indivisível e inseparável. Não há fundamentos para a opinião de


que os reis soberanos têm menos poder do que todos os seus súditos juntos. O poder da
soberania, seja exercido por uma assembléia do povo ou por um monarca, é o mesmo.

122. Independente do governo, sempre haverá incomodidades. No entanto, esses


inconvenientes enfrentados pelos súditos são poucos se comparados a miséria e calamidade
de uma guerra civil ou a falta de um governo.
XIX - Das diversas espécies de governos por instituição, e da sucessão do poder soberano
123. O texto discute as diferentes formas de governo com base na diferença do soberano, que
é a pessoa que representa todos os membros da sociedade. Existem três tipos de governo
principais: monarquia, democracia e aristocracia. A monarquia ocorre quando há um único
indivíduo como soberano. Quando é uma assembléia de todos os que se uniram, é uma
democracia, ou governo popular. A aristocracia ocorre quando a soberania é exercida por
uma assembleia composta apenas por uma parte selecionada dos membros. Não existem
outras formas de governo, pois o poder soberano, que é indivisível, deve pertencer a um ou
mais indivíduos ou a todos os membros da sociedade.
Ele vai dizer que não existe outras formas de governo, e as outras denominações são termos
usados quando há um incontentamento com o governo.
124. monarquia podem chamar de tirania, e aqueles que não gostam de uma aristocracia
podem chamar de oligarquia. Da mesma forma, aqueles que se sentem prejudicados por
uma democracia podem chamar de anarquia, embora a ausência de governo não seja
considerada uma nova forma de governo. Portanto, é importante entender que o mesmo
sistema de governo pode ser rotulado de maneiras diferentes com base nas preferências ou
perspectivas das pessoas.

125. Uma vez estabelecido um poder soberano, não é possível ter outro representante das
mesmas pessoas, a menos que seja para fins específicos determinados pelo próprio
soberano. Isso ocorre porque ter dois soberanos resultaria em uma divisão do poder que,
para garantir a paz da sociedade, deve ser indivisível. Caso contrário, haveria conflitos e a
situação se transformaria em guerra, o oposto do objetivo de toda soberania, que é garantir a
ordem e a estabilidade para as pessoas viverem em paz.

126. Resumindo, na monarquia, o interesse pessoal do monarca se confunde com o interesse


público, já que sua própria segurança e prosperidade dependem da segurança e prosperidade
de seus súditos. No entanto, em democracias e aristocracias, a busca pelo interesse pessoal
pode entrar em conflito com o interesse público, resultando em consequências negativas
para a sociedade. Visto que a prosperidade do publico contribui menos para a fortuna
daqueles ambiciosos.

127. Em segundo lugar, na monarquia, o monarca tem a liberdade de escolher quem deseja
receber conselhos, quando e onde preferir. Isso permite que ele consulte especialistas na
área em que está tomando decisões, independentemente de sua posição social, e com
antecedência e confidencialidade conforme necessário. Por outro lado, em uma assembleia
soberana, apenas aqueles que têm o direito desde o início são admitidos para dar conselhos.
Geralmente, essas pessoas têm mais conhecimento sobre como adquirir riquezas do que
conhecimentos específicos relevantes para a tomada de decisões. Além disso, seus
conselhos são frequentemente dados em longos discursos que podem inspirar ação, mas não
contribuem necessariamente para orientar essa ação. Isso ocorre porque o raciocínio
humano, quando influenciado pelas paixões, é obscurecido, e uma assembleia não tem a
privacidade necessária para receber conselhos de forma confidencial, devido ao grande
número de participantes.

128. Em terceiro lugar, as decisões de um monarca estão sujeitas apenas à inconstância da


natureza humana, enquanto nas assembleias ocorre tanto a inconstância humana quanto a
inconstância do número de participantes. A ausência de alguns membros que poderiam
manter uma decisão firme, seja por motivos de segurança, negligência ou impedimentos
pessoais, ou a presença diligente de alguns membros com opiniões contrárias, podem
desfazer o que foi decidido no passado. Em resumo, nas assembleias, a falta de constância
tanto nos membros presentes quanto nas opiniões pode levar à reversão de decisões
previamente estabelecidas.

129. Em quarto lugar, é impossível um monarca discordar de si mesmo, seja por inveja ou
por interesse; mas numa assembléia isso é possível, e em grau tal que pode chegar a
provocar uma guerra civil.

130. Em quinto lugar, tanto na monarquia como em uma assembleia soberana, há o


inconveniente de um indivíduo ou um grupo ser privado de seus bens e posses por interesse
de um monarca ou por influência de membros de uma assembleia. Esse é um grande
inconveniente inevitável. Na monarquia, isso pode ocorrer quando um monarca favorece
um favorito ou adulador em detrimento dos súditos. Da mesma forma, em uma assembleia,
os membros estão sujeitos a maus conselhos e podem ser seduzidos por oradores, servindo
assim à cobiça e ambição uns dos outros. Embora o número de favoritos em uma monarquia
seja menor e geralmente limitado a parentes do monarca, em uma assembleia soberana há
muitos favoritos e parentes em maior quantidade. Além disso, os favoritos de um monarca
podem tanto ajudar seus amigos quanto prejudicar seus inimigos, enquanto os oradores em
uma assembleia têm menos poder para ajudar e mais para prejudicar. Acusar requer menos
eloquência do que defender, e a condenação parece mais justa do que a absolvição, de
acordo com a natureza humana.

131. Em sexto lugar, um inconveniente da monarquia é a possibilidade de um monarca ser


uma criança ou alguém incapaz de discernir entre o bem e o mal. Isso requer que outra
pessoa ou uma assembleia governe em seu nome, atuando como tutor e protetor de sua
autoridade. Mas ele vai falar que esse problema não é necessariamente da espécie de
governo de uma monarquia e sim a falta de organização para decidir quem será o próximo
soberano ou quem sera o tutor da criança enquanto ela não alcança a maioridade. Além da
ambição de governar.

132. Embora existam apenas três formas de soberania - monarquia, democracia e aristocracia
- ao examinar os Estados que existiram e existem no mundo, pode-se perceber que nem
sempre é fácil classificá-los apenas nessas três categorias. Podem surgir formas de governo
derivadas da mistura dessas três formas principais. Por exemplo, as monarquias eletivas, em
que o poder soberano é temporariamente atribuído a reis eleitos, ou monarquias em que o
poder do rei é limitado. Embora essas formas sejam chamadas de monarquias, na verdade,
os reis eleitos ou com poder limitado são considerados ministros do soberano ou dos
detentores do poder soberano. Da mesma forma, quando um Estado popular ou aristocrático
subjuga um país inimigo e governa através de um presidente, procurador ou outro
magistrado, pode parecer à primeira vista que é um governo popular ou aristocrático. No
entanto, nesses casos, as províncias submetidas não são governadas democraticamente ou
aristocraticamente, mas sim de forma monárquica.

133. O autor argumenta que um monarca eleito, cujo poder está limitado à sua vida, pode se
tornar hereditário se tiver o direito de escolher seu sucessor. Caso contrário, se não houver
um processo claro para nomear um novo monarca após sua morte, o Estado poderia entrar
em colapso, voltando a um estado de guerra. Nesse caso, o monarca eleito tem o poder e a
obrigação de garantir a continuidade do governo escolhendo um sucessor, a fim de evitar
conflitos internos. Assim, quando eleito, o monarca é designado como soberano absoluto,
responsável por preservar a paz e a estabilidade do Estado.

134. O autor argumenta que um rei cujo poder é limitado não é superior àqueles que têm o
direito de impor essas limitações. Portanto, ele não é supremo nem soberano. A soberania,
então, reside na assembleia que possui o direito de impor essas restrições, resultando em um
governo que não é uma monarquia, mas sim uma democracia ou aristocracia. Isso pode ser
exemplificado pela antiga Esparta, onde os reis tinham o privilégio de comandar os
exércitos, mas a soberania residia nos éforos.

135. Direito de sucessão. Não existe qualquer forma perfeita de governo em que a decisão da
sucessão não se encontre nas mãos do próprio soberano

136. Em uma democracia, é impossível que a assembleia inteira falte, a menos que falte
também a multidão que deve ser governada. Portanto, questões de sucessão não têm lugar
nesse tipo de governo.

137. Em uma aristocracia, a eleição de um novo membro para substituir aquele que faleceu é
responsabilidade da própria assembleia, que é soberana e tem o direito de escolher seus
conselheiros e funcionários. A assembleia detém a autoridade para fazer a eleição e pode
revogá-la se necessário em nome do interesse público.

138. Na monarquia, a dificuldade reside em determinar quem deve designar o sucessor e o


direito de herança. Essa questão pode ser atribuída ao detentor atual do poder soberano ou à
multidão dissolvida. No entanto, a morte do monarca deixa a multidão sem um
representante unificador, levando à incapacidade de eleger um novo monarca e
potencialmente resultando em conflitos. Assim, na monarquia, a escolha do sucessor é
deixada ao julgamento e à vontade do monarca em exercício.

139. Apesar de existir dificuldades em interpretar para quem o monarca desejou deixar o
poder, mas isso pode se fazer através de testamentos, ou falas ou intenções. Problemas dos
estrangeiros

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