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O Dilema do Estado

02 Agosto 2013
AUTOR: JORNAL ECONOMIA & FINANÇAS
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Rui Malaquias
Economista e docente universitário.
Foto por Vigas da Purificação

Em condições astronómicas de dificuldades de obtenção de


financiamento público, com um crescimento exponencial da
população
nacional, somos levados a concluir, ainda que no primeiro
parágrafo do artigo, que o Estado não poderá ter o mesmo
papel que tinha há anos e que nós angolanos já estivemos e
muitos ainda estão habituados, que era de fazer
objectivamente tudo, prover bens públicos – criar diplomas
legais, construir estradas, hospitais, escolas e outros bens
públicos - criar empregos, construir campos de futebol, criar
serviços televisivos e radiofónicos, ou seja, resolver todos os
problemas do povo sozinho.
A verdade é que o Estado já não pode fazer isso
directamente, pois a medida que cria empresas públicas e
estas mostram-se ineficientes, pois na sua maioria não gera
proveitos para cobrir os seus próprios custos,
o que quer dizer que o Estado é que tem de arranjar recursos
para pagar salários e outros custos destas empresas
ineficientes
sob pena de levar a despedimentos e tensões sociais.
O problema central aqui é que se o Estado mantiver estas
situações que são insustentáveis no longo prazo deixa de
fazer exactamente o que é seu papel, que é prover bens
públicos estruturais, de base zero, para que a actividade
económica do país consiga caminhar sozinha. Por exemplo,
cabe ao Estado e a mais ninguém revitalizar as estradas e as
linhas ferroviárias, saneamento básico, sistemas funcionais
de água e energia eléctrica, para que os projectos de
investimentos privados (fábricas, supermercados,
universidades) possam ter o básico para funcionar.
Por outro lado, temos as subvenções ou subsídios que o
Estado concede a determinados produtos essenciais,
fazendo com que estes produtos sejam vendidos abaixo do
preço de mercado. Este facto constitui um verdadeirodilema,
visto que efectivamente o Estado terá de “enterrar” milhares
de kwanzas para manter uma situação de bem-estar artificial,
em detrimento de uma maior resposta em termos de bens
públicos mais adequados ao nível de exigência sempre
crescente dos cidadãos.
É o mesmo que dizer que o Estado tem de escolher entre
pagar os custos de uma empresa pública às portas da
falência, manter subsídios para que o preço do litro da
gasolina se mantenha nos 60 kwanzas ou pagar melhor aos
efectivos das forças de segurança ou ainda construir mais e
melhores estradas, hospitais mais modernos e com maior
capacidade nos municípios mais longínquos da nossa
Angola.
O embaraço é meramente financeiro, pois o facto de o
Estado arrecadar poucos impostos, depender das oscilações
dos preços
do petróleo e outros minerais, chegando a precisar de se
endividar junto do mercado, emissão de papéis de dívida
pública, para se financiar, faz com que deixe de potenciar o
empresariado nacional privado para criar mais matéria
colectável, gerar postos de emprego, criar competitividade na
economia e piscar o olho às exportações. Esta linha de
pensamento privilegia as gerações vindouras, pois o Estado
sempre foi levado a gastar hoje, em subsídios e
transferências para empresas públicas ineficientes, do que
investir no amanhã.
O presente Executivo demonstra uma perspectiva mais
sustentável, pois na sua estratégia plano de desenvolvimento
nacional,
prevê a resolução das questões básicas, bem como na
potenciação do investimento privado, pois estes é que criam
emprego e os mantêm, criam corporações eficientes e
concorrências sob pena de falirem, porém, não haverá
Estado para as resgatar. A iniciativa
privada, preferencialmente nacional,
deverá ser vista como “muleta” para o Estado na
prossecução do bem comum, bem como para libertá-lo do
fardo de, por exemplo, construir astronómicos bairros sociais
e ser obrigado a criar/manter postos, empregos directamente
ainda que insustentáveis.O certo é o privado nascer,
engatinhar, andar pelas suas próprias pernas, gerar
rendimentos suficientes para que os seus funcionários
detenham poder de compra que lhes confira o poder de
escolha entre um bairro social e outras alternativas, sendo
que no fim do dia, sempre ganha o Estado, pois terá um
maior Produto Interno Bruto, um crescente nível de
arrecadação, pelo facto de, as empresas com maior
facturação pagam mais impostos e um maior número de
cidadãos no activo descontam sob forma de imposto sob
rendimento de trabalho.
Naturalmente que o “laissez faire laissez passer” ou a mão
invisível de Adam Smith não são a opção para a econo

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