Você está na página 1de 2

1) - Explicar a abordagem de Kant ao dever de não mentir e ao direito ao suicídio no âmbito da

sua perspetiva moral.


Na abordagem de Kant ao dever de não mentir, este diz-nos que todas as pessoas deveriam
fazer um certo ato dependendo da situação, mesmo que prejudique alguém no futuro só porque
se deve agir por dever.
Por exemplo: Uma pessoa vai na rua a passear e de repente vê a correr um rapaz aflito na sua
direção que de seguida se esconde numa casa abandonada, poucos segundos depois, quando
retomava o percurso, avista um homem com uma pistola na mão que lhe pergunta de se viu algum
rapaz a correr, percebendo de imediato, naquele momento, que o homem teria a intenção de
disparar contra o rapaz e provavelmente de matá-lo. O que a maioria das pessoas faria, seria
responder, que o rapaz seguiu em frente e não denunciando o local onde se encontrava o rapaz.
Segundo Kant, a pessoa que ia na rua, deve dizer a verdade, identificando o local real onde se
encontrava o rapaz, pois no seu ponto de vista se dissermos a verdade ou pura e simplesmente
mentirmos, as consequências são imprevisíveis.
Para Kant o melhor é sempre dizer a verdade, não por ser algo obrigatório, mas porque se deve
agir por dever, para que o dever de não mentir se possa transformar numa lei universal.
Quanto à abordagem de Kant sobre o direito ao suicídio, este diz nos que é duvidoso o princípio
de amor próprio tornar-se uma lei universal da natureza. Por exemplo um homem desiludido
com a vida que se tenciona suicidar. Este considera a máxima de pôr fim à vida, para ele
continuar a viver dar-lhe-á mais dor do que prazer.
Com este exemplo, segundo Kant, vê-se uma contradição no sistema natural, cuja lei fosse
destruir a vida, dando a convicção de que a especial função de tal sistema é promover o
aperfeiçoamento da vida. Assim, tal sistema natural não pode existir, esta máxima não se pode
tornar lei universal da natureza, pois contradiz o princípio supremo de todo o dever. Logo o
direito ao suicídio é errado porque não pode ser universal.

2) Identificar e explicar as críticas à ética Kantiana


A ética de Kant tem apenas 2 críticas. A primeira critica é as regras morais não serem absolutas.
Kant defende que para agirmos moralmente temos de respeitar de forma incondicional um
conjunto de algumas regras morais (deveres ditados pela nossa razão). Para Kant, essas regras
morais são absolutas, são para serem respeitadas de forma incondicional, sem exceções, em todas
as situações do nosso quotidiano.
Uma dessas regras é o dever de não mentir. Para Kant, não devemos mentir em toda e qualquer
situação.
Mas será que este princípio de ação se aplique universalmente a todos os casos possíveis de ação?
Se formos buscar o caso em que é preferível mentir a dizer a verdade, ou seja, em que é
moralmente mais correto mentir a dizer a verdade. Sendo o caso de termos de mentir com
intenção de salvarmos a vida a uma pessoa (lembrando de que Kant não admitia a violação ou
desobediência a estas regras morais).
Vamos colocar as duas opções na balança da decisão ética, opção de mentir e salvar a vida a uma
pessoa e a opção de não mentir podendo salvar ou não a vida de uma pessoa.
O mais provável é de que a maioria das pessoas concordaria com a primeira hipótese.
É claro que Kant iria afirmar que, dizendo a verdade ou pura e simplesmente mentindo, as
consequências são imprevisíveis. Portanto, o melhor é sempre dizer a verdade, aquilo que a nossa
razão nos ordena. Mas isso é absurdo, porque num caso como este que põe em causa a vida de
uma pessoa, neste sentido podemos dizer que as consequências daquilo que afirmamos poderão
provavelmente resultar na morte de alguém.
Este exemplo revela que nem sempre é moralmente correto termos de respeitar de forma
incondicional as regras morais da nossa consciência racional, tal como Kant nos tinha dito. Logo,
concluímos que as regras morais não são absolutas.
A segunda critica à ética de Kant é a situação dos casos de conflito que se trata de uma certa pessoa
ter de optar entre duas possibilidades de ação (fazer A ou fazer B). Verifica-se que fazer A é
moralmente incorreto e fazer B é moralmente incorreto. O que faria o defensor da teoria ética de
Kant perante esta situação?
Atente na seguinte situação: “Durante a Segunda Guerra Mundial, os pescadores holandeses
transportavam, secretamente nos seus barcos, refugiados judeus para Inglaterra e os barcos de
pesca com refugiados a bordo eram por vezes intercetados por barcos patrulha nazis. O capitão
nazi perguntava então ao capitão holandês qual o seu destino e quem estava a bordo. Os
pescadores mentiam e obtinham permissão de passagem.”
É claro que os pescadores tinham apenas duas alternativas, mentir ou permitir que os seus
passageiros (e eles mesmos) fossem apanhados e executados. Não havia terceira alternativa.
Os pescadores holandeses encontravam-se então na seguinte situação: ou “mentimos” ou
“permitimos o homicídio de pessoas inocentes”. Os pescadores teriam de escolher uma dessas
opções. De acordo com Kant, qualquer uma delas é errada, na medida em que as regras morais
“não devemos mentir” e “não devemos matar” (ou permitir o assassínio de inocentes, no caso do
exemplo dado) são absolutas. O que fazer então?
Verificamos que a teoria ética de Kant não saberia responder perante uma situação de conflito,
porque proíbe ambas as possibilidades de ação, por estas se revelarem moralmente incorretas.
A verdade é que, perante uma situação destas, teríamos de optar por uma dessas duas
possibilidades. Se a teoria ética de Kant nos proíbe de optar por uma delas e na realidade somos
forçados a optar por uma, a teoria ética de Kant revela-se incoerente. Incoerente porque
concluímos que existem casos em que temos mesmo de mentir, contradizendo o que Kant defende,
não devemos mentir nunca e em qualquer situação, isto porque para Kant as regras morais são
absolutas.

Você também pode gostar