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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (ÍZA) DA VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO
JUDICIÁRIA DE SANTA CRUZ DO SUL, RS.
MANDADO DE SEGURANÇA
contra ato do Ilustríssimo Sr. DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM SANTA CRUZ DO
SUL, RS, cujas atividades são de interesse da UNIÃO – FAZENDA NACIONAL, que deve ser
intimada, pela Procuradoria Seccional da Fazenda Nacional de Santa Cruz do Sul, RS, a integrar o
feito como parte interessada, o que faz com base nos substratos fáticos e jurídicos adiante
aduzidos
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(e-STJ Fl.4)
I – DOS FATOS.
Grande parte das mercadorias comercializadas pela Impetrante está sujeita ao regime
de substituição tributária do ICMS (ICMS-ST), regime segundo o qual, nos termos autorizados
pelo art. 150, § 7ª, da CF1, a lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a
condição de responsável pelo pagamento antecipado do imposto (contribuinte substituto), cujo
fato gerador deva ocorrer posteriormente, isto é, ICMS relativo nas operações subsequentes.
que, quando da entrada desses bens (mercadorias sujeitas ao regime da substituição tributária)
em seu estabelecimento comercial, já está incluído no preço de aquisição e, por conseguinte no
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Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo
fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador
presumido.
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(e-STJ Fl.5)
preço de venda, o montante econômico do ICMS que seria devido por ela quando vier a
revendê-los.
Posto isso, é importante para o caso concreto, dizer que no regime da substituição
tributária existem dois sistemas de apuração e recolhimento do ICMS relativo ao imposto das
operações subsequentes.
O primeiro e mais usual é quando o ICMS-ST já vem destacado nas notas fiscais do
fornecedor. Nesses casos, a Impetrante, como contribuinte substituída, ao realizar a aquisição
de mercadorias sujeitas ao regime de substituição tributária para revenda, paga ao substituto
tributário (fornecedor) o preço do bem adquirido com a inclusão do ICMS-ST destacado no
documento fiscal, o qual, na operação de saída (operação subsequente), acaba compondo o
montante da sua receita/faturamento auferida.
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Art. 9° - Na condição de substitutos tributários, são responsáveis pelo pagamento do imposto devido nas operações subseqüentes promovidas
por contribuintes deste Estado com as mercadorias referidas no Apêndice II, Seções II e III, os seguintes contribuintes, deste Estado, que a eles
tenham remetido as mercadorias: [...]
II - o estabelecimento que recebeu as mercadorias oriundas de outra unidade da Federação, salvo se estas tiverem sido recebidas com
substituição tributária;
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(e-STJ Fl.6)
Fica claro que o ICMS, conhecido como ST, em razão de que deve ser apurado e
recolhido de forma antecipada é embutido no valor de venda da mercadoria e acaba,
consequentemente, compondo, ainda que indevidamente, a receita bruta/faturamento,
tributada pelo PIS e a COFINS, já que a Impetrante deve pagar as ditas contribuições, tendo
como base de cálculo o total das receitas auferidas, incluído aí todo o valor do ICMS nelas
embutido.
coisa senão o montante do ICMS que seria devido pela própria Impetrante, caso inexistisse o
regime de substituição tributária.
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(e-STJ Fl.7)
Contudo, a Receita Federal não vem admitindo que a Impetrante exclua da base de
cálculo do PIS e COFINS o valor de ICMS pago e recolhido antecipadamente e que está, sim,
embutido no preço dos bens adquiridos. Eis a posição exarada pela Autoridade Fiscal sobre o
assunto:
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(e-STJ Fl.8)
pelo STF, em sede de Repercussão Geral, de que o ICMS não deve fazer parte da base de cálculo
do PIS e COFINS.
II – DO DIREITO.
II.I – Da apuração do ICMS-ST.
Muito embora seja o contribuinte substituto – que na grande maioria das situações é o
fornecedor, mas podendo ser a própria Impetrante – quem se responsabiliza antecipadamente
pelo cálculo e recolhimento do montante do ICMS, não há dúvida de que ao revender as
mercadorias sujeitas ao regime da substituição tributária, é a Impetrante quem efetivamente
arca com o ônus econômico da imposição, porquanto desembolsa, por antecipação, o
dinheiro destinado ao pagamento do imposto relativo às operações subsequentes. O
substituto tributário se posiciona como mero repassador da quantia retida.
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(e-STJ Fl.9)
Já não bastasse a Impetrante ter que recolher de forma antecipada o ICMS relativo às
operações subsequentes ao ente público, é ainda lhe retirado o direito de excluir da base de
cálculo do PIS e COFINS esse valor, que é repassado diretamente aos cofres públicos, que nada
tem haver com “receita”, ou menos ainda, caracteriza acréscimo patrimonial.
Tanto é ilegal incidir PIS e COFINS sobre a parcela do ICMS-ST, que por determinação
legal, o contribuinte substituto, responsável por repassar o imposto ao Estado não está
obrigado a fazer incidir COFINS e PIS sobre a parcela de ICMS-ST, uma vez que é considerado
mero depositário. Eis a redação do art. 12, do Decreto-Lei 1.598/77:
Veja-se, o ente público dá com uma mão ao excluir o ICMS-ST da base de cálculo do PIS
e COFINS do mero depositário (contribuinte substituto), e retira com duas mãos, primeiro ao
exigir do contribuinte substituído que apure e recolha o PIS e COFINS sobre o valor total do
preço de venda constante do documento fiscal (incluído ai o ICMS-ST recolhido
antecipadamente), e duas, ao não permitir que o contribuinte substituído sequer possa se
creditar do PIS e COFINS sobre a parcela do ICMS recolhido antecipadamente.
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(e-STJ Fl.10)
contribuição sobre imposto, quando a própria Lei Complementar nº 70/91, fiel à dicção
constitucional, afastou a possibilidade de incluir-se, na base de incidência da Cofins, o valor
devido a título de IPI”. Aduziu, ainda, que o valor correspondente ao ICMS “não tem a natureza
de faturamento”, não podendo, portanto, “servir à incidência da Cofins, pois não revela medida
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(e-STJ Fl.11)
de riqueza apanhada pela expressão contida no preceito da alínea ‘b’ do inciso I do artigo 195 da
Constituição Federal”.
Destarte, considerando a tese firmada pelo STF, no sentido de que o “ICMS não
compõe a base de cálculo para a incidência do PIS e da COFINS”, deve ser destacado que, diante
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disso, a Impetrante não pode ser obrigada a continuar arcando com esses pagamentos
indevidos, haja vista que, da mesma forma que o ICMS relativo ao débito próprio, o ICMS pago
por substituição tributária não é receita do contribuinte, mas do próprio Estado Federativo.
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(e-STJ Fl.12)
Assim como o ICMS próprio, o ICMS-ST também não pode ser receita do Estado e, ao
mesmo tempo, receita do contribuinte, sob pena de violação ao que foi decidido pelo STF no
julgamento do RE 574.706/PR.
O TRF4, aplicando o que decidiu o STF em sede de Repercussão Geral, tem entendido
que o que deve ser excluído do PIS e da COFINS é o “ICMS destacado nas notas fiscais de
venda”:
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Art. 28. O contribuinte substituído, na operação que realizar com mercadoria recebida com imposto retido, emitirá documento fiscal, sem
destaque do imposto, contendo, além das demais indicações:
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(e-STJ Fl.13)
Como visto, não há dúvida de que o valor do ICMS-ST integra a base de cálculo do PIS e
COFINS nas vendas realizadas pelo contribuinte substituído de mercadorias ou serviços em que
esse imposto foi anteriormente apurado e recolhido pelo regime de substituição tributária.
Logo, nas operações praticadas pelo substituído, em que o ICMS foi anteriormente
apurado e recolhido pelo substituto tributário esse imposto também não deve compor a base
de cálculo do PIS e da COFINS.
Há quem diga que o ICMS-ST não é calculado por dentro, mas sim por fora, isto é, sobre
uma base relativa ao preço de venda, ao contrário do ICMS próprio, e que, por isso, não poderia
ser excluído da base de cálculo do PIS e COFINS, contudo, entende-se equivocado esse
entendimento.
montante da operação, isto é, valor de venda da mercadoria (aí incluído o ICMS próprio
calculado por dentro), mais o IPI - se devido -, mais o frete - se destacado no documento -,
enfim todos os valores que compõe o valor total da nota fiscal.
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(e-STJ Fl.14)
A compreensão de que o valor do ICMS-ST é calculado por dentro, fica mais nítida se
analisarmos nas operações interestaduais.
1. [...].
2. A controvérsia dos autos, gira em torno da possibilidade ou não da inclusão do
valor do ICMS por substituição tributária (ICMS/ST), em sua própria base de
cálculo.
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(e-STJ Fl.15)
Ainda de que o ICMS-ST não esteja destacado no documento fiscal, o imposto estadual
deve ser excluído da base de cálculo do PIS e COFINS da Impetrante.
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(e-STJ Fl.16)
PIS e da COFINS.
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(e-STJ Fl.17)
para fins de incidência do PIS e da COFINS. Isso porque, tais qualificadores contábeis se
encontram sempre subordinados ao âmbito de significação que se faz presente na regra de
competência tributária prevista na Constituição Federal.
Evidente que não se pode atribuir aptidão ao registro contábil para qualificar ou
desqualificar determinado evento como receita. Pelo contrário, a Ciência Contábil
utiliza-se da linguagem própria para formalizar registros de fatos com repercussão
econômica, seguindo metodologia própria para classificá-la segundo a natureza
implícita, tendo presente finalidade determinada: apuração de resultado. Vale
dizer, é a contabilidade que se curva à natureza revelada pelos fatos, e não o
contrário, cujo registro deve utilizar linguagem compatível que evidencie aquela
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GRECO, Marco Aurélio. Revista Dialética de Direito Tributário nº 50. São Paulo, pag; 131.
5
MINATEL, José Antonio. Conteúdo do Conceito de Receita e Regime Jurídico de sua Tributação. São Paulo, pag. 197.
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(e-STJ Fl.18)
Tem-se, pois, nessas normas tributárias, a positivação de regra de exegese que impõe a
priorização do conceito jurídico de receita e de faturamento sobre a classificação formal
impostas pelas instruções contábeis e aplicadas pelos sujeitos passivos da obrigação tributária
em seus livros comerciais. É, por conseguinte, o conceito jurídico de ‘receita’ e de ‘faturamento’
que merecerá observância para a adequada resolução do presente feito.
O uso e a extensão que se deve dar a estes vocábulos deverá estar de acordo com as
definições que o próprio direito, em outros ramos, lhe dá - não se interpretam isoladamente
textos jurídicos, mas sempre o sistema jurídico -, em consonância com o que dispõe a Carta
Maior, bem como de acordo com as funções com que os mesmos são por ela recebidos. Não se
pode simplesmente presumir que o constituinte utilizou a linguagem normal, desvinculada de
seu sentido, numa Constituição onde este cuidado aparece a todo momento, evidenciando a
prévia ciência dos constituintes sobre deletérios efeitos que a inobservância daquela técnica
poderia acarretar, tendo, aliás, o Código Tributário Nacional disposição expressa neste sentido
(arts. 107, 108 e parágrafo único, 109 e 110 do CTN).
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(e-STJ Fl.19)
disposição constitucional e legal, a incidência de tais contribuições não pode ser sobre quantias
que não correspondam a uma efetiva receita.
Pois bem, iniciando-se pelo conceito de receita, tem-se que, para que determinada
quantia possa ser qualificada como receita, esta quantia deve — necessária e obrigatoriamente
—, incorporar-se, de forma definitiva, ao patrimônio da pessoa jurídica, como elemento novo,
representando uma alteração do patrimônio líquido. Receita representa um ingresso que
incrementa positivamente o patrimônio da pessoa jurídica que pratica o ato ou negócio jurídico,
com a intenção de permanência, a qual deverá, ao final, influenciar a apuração do eventual
lucro obtido na atividade empresarial. Sendo a receita, necessariamente, uma espécie de
ingresso, de pronto excluem-se dessa conceituação as despesas e os custos, os quais, excluídos
do campo dos ingressos, não podem ser tributados como se receitas fossem. Veja-se que a
Constituição Federal em momento algum autorizou a tributação sobre parcelas referentes a
despesas e custos assumidos na prática empresarial, que reduzem o patrimônio da empresa.
Aliás, tal consideração é uníssona na doutrina de Marco Aurélio Greco6:
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GRECO, Marco Aurélio. Revista Dialética de Direito Tributário nº 50. São Paulo, pag; 130.
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(e-STJ Fl.20)
Logo, não são todos os ingressos no caixa da empresa que podem ser qualificados
como receitas, como bem ilustra Sólon Sehn8 no seguinte excerto:
Desta forma, os ingressos abrangem, além das receitas, também aquelas quantias que
correspondem a meros fluxos financeiros que transitam temporariamente pela contabilidade da
pessoa jurídica, mas que, em verdade, são da titularidade de terceiros. Os ingressos
representam, pois, gênero mais amplo que abrange todos os valores que contabilmente
transitam pela empresa, alcançando tanto as receitas propriamente ditas quanto as somas que
apenas representam movimentação financeira temporária, que incrementam o patrimônio de
terceiro. Tem-se, então, os seguintes traços essenciais que deverão estar sempre presentes na
identificação de uma determinada quantia, para que ela possa ser considerada como receita: a)
positividade patrimonial; b) titularidade e disponibilidade; c) definitividade; e d) potencialidade
de lucro.
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LEMKE, Gisele. Imposto de Renda – os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo; pag. 60 e seguintes.
8
SEHN, Sólon. Revista Dialética de Direito Tributário nº 127; pag. 98.
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LEMKE, Gisele.
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(e-STJ Fl.21)
Por tal razão, não se pode qualificar como receitas as quantias recebidas pela pessoa
jurídica que juridicamente pertencem a terceiros e que, por obrigação contratual ou por dever
legal, deverão ser repassadas aos seus efetivos titulares.
Com isso, entende-se que a receita representa ingresso que incrementa, em definitivo,
o patrimônio da pessoa jurídica, com a intenção de permanência, sem qualquer obrigação de
repasse futuro. Ou seja, para que se tenha receita, o valor deve ingressar no patrimônio da
pessoa jurídica com intenção de definitividade.
Nesse sentido, José Antonio Minatel10 expõe a importância da definitividade para que
determinada entrada seja qualificada como ‘receita’, bem como a sua necessária relação com os
critérios da titularidade e disponibilidade:
Nem todo ingresso tem natureza de receita, sendo imprescindível para qualificá-lo
o caráter de definitividade da quantia ingressada, o que não acontece com valores
só transitados pelo patrimônio da pessoa jurídica, pois são por ela recebidos sob
condição, ou seja, sob regime jurídico, o qual, ainda que lhe dê momentânea
disponibilidade, não lhe outorga definitiva titularidade, pelo fato de os recursos
adentrarem o patrimônio carregando simultânea obrigação de igual grandeza. O
mesmo acontece com os valores recebidos na qualidade de mandatário, por conta
e ordem de terceiros, ou recebidos a título de empréstimo, de depósito, de
caução. Há momentânea disponibilidade, é inegável, mas não com o definitivo
animus rem sibi de titular, de dono, de proprietário, e sim com animus de devedor,
de responsável, de obrigado. [...] A definitividade do ingresso, aqui registrada
como imprescindível para identificar a existência de receita, não se refere ao
tempo de permanência no patrimônio da pessoa jurídica. Tem a ver com a
titularidade e disponibilidade dos valores ingressados [...].
10
MINATEL, José Antonio. Conteúdo do Conceito de Receita e Regime Jurídico de sua Tributação. São Paulo.
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(e-STJ Fl.22)
Pelo que se conclui que o ICMS-ST não se enquadra nos moldes de receita ou
faturamento, configurando-se como mero ingresso na contabilidade da Impetrante do valor já
repassado antecipadamente ao Estado, não podendo ser incluído na base de cálculo do PIS e da
COFINS.
Além do mais, por força do comando contido no art. 110 do CTN11, não se admite que
as bases econômicas enunciadas nas normas de competência tributária sejam alargadas pelo
legislador infraconstitucional, mediante manipulação dos institutos, conceitos e formas
empregados pelo constituinte ao redigir o texto da Constituição Federal.
criando um imposto novo que a lei não criou. Como sustentei muitas vezes, ainda
no Rio, se a lei pudesse chamar de compra e venda o que não é compra e venda,
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Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados,
expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos
Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
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(e-STJ Fl.23)
A partir do que concluiu o STF no RE 574.706, diversos Tribunais Regionais do país têm
reconhecido que o ICMS-ST, por não se enquadrar como faturamento/receita, também não
pode compor a base de cálculo do PIS e da COFINS do contribuinte substituído – caso da
Impetrante:
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(e-STJ Fl.24)
esse o alcance exato que pode ser conferido à legislação tributária de regência
(Leis n. 9.718/98, n. 10.637/2002 e 10.833/2003 e 12.973/2014), à luz do art. 110
do CTN. A legislação tributária, diga-se, não pode alterar a definição, o conteúdo e
o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa
ou implicitamente, pela Constituição Federal.
4. O ICMS, não se incorpora ao patrimônio do contribuinte como receita e, dessa
forma, não pode integrar a base de cálculo dessas contribuições (PIS e COFINS),
que são destinadas ao financiamento da seguridade social, conforme o
entendimento firmado pelo STF quando da apreciação do RE n. 574706, no regime
de repercussão geral.
5. O ICMS--ST é tributo recuperável, uma vez que vai ser embutido
(contabilizado) no preço praticado pelo contribuinte substituído quando da
revenda do produto ao consumidor final. Assim é que, analisada a operação de
venda ao consumidor final, fica evidente a necessidade de se dar ao ICMS--ST o
mesmo tratamento conferido ao ICMS destacado na nota fiscal fora do regime
de substituição tributária, uma vez que, num caso como no outro, o valor
relativo ao ICMS (ou ICMS--ST) constitui ônus fiscal que não integra o patrimônio
do contribuinte substituído. Não se trata, pois, de receita ou faturamento do
contribuinte (substituído), ainda que tenha sido embutido no preço da
mercadoria.
6. A mesma inteligência do raciocínio aplicado pelo STF quando do julgamento
do RE 574.706, para fins de exclusão do ICMS da base de cálculo das
contribuições ao PIS e da COFINS, aplica-se, sem dúvida, ao ICMS-Substituição
(ICMS-ST).
7. Apelo interposto por MARBRASA MÁRMORES E GRANITOS DO BRASIL LTDA
provido para 1 assegurar ao contribuinte o direito à exclusão do ICMS e do ICMS-
ST da base de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS, bem como a
compensar o respectivo indébito tributário.
(TRF2, 3ª Turma Especializada, Apelação 2015.50.01.126064-5, Rel. THEOPHILO
ANTONIO MIGUEL FILHO, julgada em 26/10/2018, publicada no DJ em
30/10/2018).
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(e-STJ Fl.25)
No TRF4, ainda que a matéria não esteja totalmente pacificada, para o Desembargador
Federal Sebastião Ogê Muniz, o ICMS-ST também deve ser excluído da base de cálculo do PIS e
COFINS do contribuinte substituído, “pois ele deve ter o mesmo tratamento fiscal assegurado
aos contribuintes que recolhem o ICMS fora do regime de substituição tributária”:
COFINS.
Indaga-se, então, acerca da inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e das
COFINS, nas vendas de produtos sujeitos ao regime de substituição tributária,
realizadas pelo contribuinte substituído.
A solução da controvérsia depende do entendimento acerca da natureza do
regime de substituição tributária.
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(e-STJ Fl.26)
É ele final, ou seja, dali em diante nada se apura, ou ele permite a apuração de
eventual excesso do valor pago pelo substituído ao substituto (para repasse à
Fazenda), nas vendas por ele promovidas.
[...]
Se assim é, o valor do ICMS incluído no preço das mercadorias pelo contribuinte
substituído também deve ser excluído da base de cálculo do PIS e da COFINS, nos
moldes definidos pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº
574.706.
Assim, sendo relevante a fundamentação do impetrante, ora agravante, e
concorrendo o risco de dano irreparável ou de difícil reparação, pois ele deve ter o
mesmo tratamento fiscal assegurado aos contribuintes que recolhem o ICMS fora
do regime de substituição tributária - assiste-lhe o direito à medida liminar que lhe
foi negada pela decisão agravada.
(TRF4 5021496-21.2018.4.04.0000, SEGUNDA TURMA, Relator para Acórdão
ANDREI PITTEN VELLOSO, juntado aos autos em 17/09/2018).
Esse também foi o entendimento exarado pelo Desembargador Federal Amaury Chaves
de Athayde, da Primeira Turma do TRF4, ao conceder tutela provisória de evidência para
reconhecer o direito do contribuinte de excluir o valor do ICMS-ST da base de cálculo do PIS e da
COFINS, nos termos da decisão, conforme trecho abaixo colacionado:
24
(e-STJ Fl.27)
De nada são válidos os argumentos de que a Impetrante não teria direito de excluir os
valores correspondentes ao ICMS-ST da base de cálculo do PIS e da COFINS, porque “o
substituído não recolhe o imposto ao Fisco”. Isso porque, o ICMS-ST compõe diretamente o
custo da mercadoria adquirida para revenda, sendo o ônus tributário repassado para a
Impetrante, contribuinte substituída.
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(e-STJ Fl.28)
contribuinte substituto, por determinação legal, está autorizado de excluir tais valores da base
de cálculo dessas contribuições.
Dessa forma, conclui-se que a inclusão do ICMS-ST, incidente nas operações praticadas
pela Impetrante, na base de cálculo do PIS e da COFINS, acaba por deturpar os conceitos
jurídicos de receita e faturamento contidos na Constituição Federal que define a competência
tributária para instituir as citadas contribuições, em clara violação ao art. 110 do Código
Tributário Nacional.
Além disso, cabe lembrar que, da mesma forma, o princípio da capacidade contributiva
obsta a submissão dos valores relativos ao ICMS-ST, pago pela Impetrante, na base de cálculo
do PIS e da COFINS. Com efeito, a competência para a instituição de tributos, conferida pela
Constituição aos entes federados, não é absoluta, encontrando limites jurídicos que devem ser
obrigatoriamente respeitados pela legislação infraconstitucional. Entre os limites invioláveis da
competência tributária está o princípio da capacidade contributiva, expresso no parágrafo 1º do
art. 145 da CF, que determina:
De acordo com esse preceito constitucional, a norma tributária que pretender fazer
incidir imposto sobre fato que não revele capacidade contributiva, estará extrapolando os
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(e-STJ Fl.29)
limites postos pela Constituição à competência tributária dos entes federados e atraindo para si
a pecha de inconstitucional.
Fixados tais pressupostos, percebe-se com clareza que o ICMS-ST incidente nas
operações realizadas pela Impetrante não constitui manifestação de riqueza, na medida em
12
NAVARRO COÊLHO, Sacha Calmon. Comentários à Constituição de 1988: sistema tributário; pag. 51.
27
(e-STJ Fl.30)
Difícil é conceber a existência de tributo sem que se tenha uma vantagem, ainda
que mediata, para o contribuinte, o que se dirá quanto a um ônus, como é o ônus
fiscal atinente ao ICMS. O valor correspondente a este último não tem a natureza
de faturamento. Não pode, então, servir à incidência da Cofins, pois não revela
medida de riqueza apanhada pela expressão contida no preceito da alínea ‘b’ do
inciso I do artigo 195 da Constituição Federal.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...]
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou
função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos
rendimentos, títulos ou direitos.
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(e-STJ Fl.31)
Nesse sentido é importante destacar o Estado de Santa Catarina, que desde o final do
ano de 2017, vem revogando do regime da substituição tributária em seu RICMS, a maioria das
mercadorias antes sujeitas a esse sistema. Nessa situação, além dos contribuintes poderem se
creditar, seja do ICMS, seja do PIS e COFINS na entrada da mercadoria, estarão albergados pelo
RE 574.706, eis que, poderão destacar o ICMS na revenda das mercadorias, e, por conseguinte,
excluir o ICMS da base de cálculo do PIS e COFINS.
Tal situação, certamente gerará uma nova guerra fiscal entre os entes federados, em
que aos contribuintes substituídos localizados no RS, caso da Impetrante, não será permitida a
exclusão do ICMS-ST da base de cálculo do PIS e COFINS, havendo, portanto, tratamento
diferenciado na revenda das mesmas mercadorias.
Tem-se, desse modo, que a inclusão do valor do ICMS-ST na base de cálculo da COFINS
e do PIS dos contribuintes substituídos influenciará a quantificação dessas contribuições,
tornando-as mais ou menos onerosa, conforme o tratamento dado por cada Estado ao
Documento recebido eletronicamente da origem
contribuinte daquele imposto, e assim acabando por tratar contribuintes e não contribuintes do
ICMS, no que tange à quantificação da COFINS e do PIS, de forma diferente, apesar de estarem,
quanto às contribuições, em situação equivalente, o que fere o princípio da isonomia tributária.
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(e-STJ Fl.32)
c.1) declarar o direito de a Impetrante excluir de sua receita bruta para a apuração da
base de cálculo do PIS e da COFINS, o valor ICMS-ST pago antecipadamente por ocasião
da aquisição de mercadorias submetidas ao regime de substituição tributário.
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(e-STJ Fl.33)
DOCUMENTOS ANEXOS:
Doc. 01 – Procuração;
Doc. 02 – Contrato Social;
Doc. 03 – ICMS ST destacado NF-e Fornecedor e a respectiva NFC-e de Revenda;
Doc. 04 – ICMS ST sem destaque na NF-e Fornecedor e a respectiva NFC-e de Revenda;
Doc. 05 – DARF PIS e COFINS.
Documento recebido eletronicamente da origem
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