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SOBRE A INFLUÊNCIA DA ARTE AFRICANA

NA ARTE MODERNA

Faculdade Paulista de Artes


Licenciatura em Artes Visuais
Wesley Santos Souza
5° Semestre - Noite
Disciplina de Folclore, Cultura Indígena e Afro-Brasileira

São Paulo
2014
SOBRE A INFLUÊENCIA DA ARTE AFRICANA NA ARTE MODERNA

É fato que a arte africana teve um papel importante quando assimilada enquanto
contribuição técnica e estética para o desenvolvimento do que chamados de arte
moderna, durante o fim do século XIX e inicio do XX. E uma das primeiras correntes da
arte moderna a se interessar pela possibilidade de aprender com as manifestações
artísticas africanas foi a dos fauvistas, sobretudo a partir do trabalho de Henri Matisse
(1869-1954).
O pintor francês, que havia se beneficiado de maneira significativa, apropriando-se
da arte oriental persa, também incorporou a cultura africana em sua obra. De acordo com
BARROS (2011, p.02):
“O diálogo com as formas africanas de expressar e representar o
mundo e as expectativas sobrenaturais aparece bastante em uma parte
relevante da produção matissiana, que se desenvolve paralelamente
àquela pintura que o celebrizou, e que se caracteriza essencialmente
pelas cores fortes e puras. “
Um exemplo é a tela “Retrato de Sarah Stein”, de 1916 (figura 1), a forma circular
do rosto, a expressão facial, e o uso de tons terrosos nas cores lembra de perto uma
máscara da cultura Fang (figura 2).
Também a escultura de Matisse (figura 3) é influenciada pela estatuária africana,
sendo este um dos gêneros através dos quais as várias formas de expressão africanas
conseguiram penetrar mais decisivamente na arte moderna.
O movimento fauvista, na sua curta duração que vai de 1904 a 1907, pode ser
considerado o precursor da assimilação das formas e dos recursos expressivos africanos
pela arte moderna.
Entre 1907 e 1910, a então recente fundação de uma série de museus etnográficos
em países da Europa contribuiu bastante para essa súbita eclosão de um notável
interesse de artistas e intelectuais europeus pela arte africana.
Artistas como Constantin Brancusi (1856-1957), um dos principais escultores de
tendência cubista, pôde apropriar-se das talhas em madeira da África, para idealizar e
concretizar um tipo de escultura em que o monólito é reduzido a uma simplicidade
arquetípica que não mais se restringe à massa sólida e às tradicionais formas humanas e
animais (figura 4).
Já Modigliani (1884-1920) se interessou pelas esculturas de rostos alongados, e
chegou a produzir, a partir de 1908, esculturas próximas de alguns estilos africanos (figura
5). Sua pintura também sofreu forte influencia africana, evidente pelo o uso de rostos e
pescoços alongados em seus retratos (figura 6).
Em 1907, Pablo Picasso (1881-1973) começa a elaborar a estética cubista, tendo
como impactante marco o quadro “Les Demoiselles d’Avignon” (figura 7) na sintonia com
algumas pinturas que Georges Braque (1882-1963) já vinha desenvolvendo. Essa nova
estética fundamenta-se, grosso modo, na destruição de harmonia clássica das figuras e
na decomposição da realidade. Mas ela foi primordialmente inspirada nas máscaras
rituais da África (figura 8), com as quais Picasso tivera contato naquele mesmo ano.
Segundo STRICKLAND (1999, p.22) :
“Picasso descreveu sua reação às máscaras africanas da seguinte maneira: “Senti
que eram muito importantes... As máscaras não eram apenas peças esculpidas...
Eram magia...”.Esse quadro foi o ponto de transição da fase de influência africana
para o puro Cubismo de Picasso. Inspirado pelas distorções do entalhe africano,
destinadas a mostrar simultaneamente aspectos múltiplos de um objeto, Picasso
pintava as figuras em planos irregulares.”
As máscaras ritualísticas aparecem em diversas culturas africanas – como a
cultura Benin, na Nigéria, mas também na Fang, no Gabão, a Bambara, e tantas outras.
Quando examinamos algumas das esculturas negras e máscaras, pertencentes às
diversas culturas do continente africano (figura 9), não podemos deixar de admirar a
criatividade e a sofisticação que unem representação e abstração, através desses
artefatos. Algumas dessas obras bem poderiam ter sido criadas por escultores cubistas do
século XX, e entende-se, porque despertaram a atenção de artistas, como Picasso e
Braque. Outras tendem a radicalidade esquemática ou pela redução geométrica, e, nesse
sentido, também concretizam um dos caminhos que começavam a ser assinalados pelos
artistas modernos.
Pensando detalhadamente na arte africana, nas máscaras, esculturas e objetos de
cerâmica, nas peças de adorno e indumentária mágica, entre outros, deve-se ter em
mente que nas suas culturas de origem estes objetos são “objetos de ação na vida
cotidiana” e não para serem contemplados ou consumidos como obra de arte ocidental.
Eis que surge a questão que interessa diversos antropólogos, embora menos aos artistas:
Estes objetos devem ser tratados como obra de arte ou artefatos? Acontece que para os
homens ocidentais, particularmente os artistas, chamar estes objetos de arte sempre foi
um gesto espontâneo.
Na era contemporânea, a influência da estética e dos processos tradicionais
africanos é tão profundamente incorporada na prática artística que raramente o tema é
evocado. A crescente globalização do mundo da arte, que agora inclui artistas africanos
contemporâneos, como Seydou Keita fotógrafo maliano (1921–2001) e o escultor El
Anatsui (1944) nascido em Gana, rende cada vez mais discussões sobre qualquer termo
que pressuponha uma divisão clara entre arte ocidental e não ocidental. A visão de
mundo primitivista está sendo relegada ao passado. Está no esforço para compreender
os fundamentos estéticos do modernismo que uma investigação da influência africana na
arte moderna permanece relevante até hoje.

Figura 1:
Henri Matisse
Retrato de Sarah Stein, 1916,
óleo sobre tela , 28 1/2 x 22 1/4″ (SF MOMA)
Figura 2:
Mascara Fang
Gabão
Madeira policromada
Musee National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou, Paris
Figura 3:
Henri Matisse
Jeannette III
1910-1913 / Bronze..
LACMA
ao lado de escultura africana

Figura 4:
Constantin Brancusi
Adão e Eva, 1921
Solomon R. Guggenheim
Museum, New York
Figura 5:
Amedeo Modigliani
Cabeça, c. 1911-1912
Limestone. 89.2 x 14 x 35.2 cm
Tate

Figura 6:
Pintura de Amedeo Modigliani (retrato de Lunia Czechowska, 1919)
ao lado de escultura africana
Figura 7:
Pablo Picasso
Les demoiselles d'Avignon, 1907
MoMA, New York

F FFigura 8:
Pintura de Pablo Picasso (estudo, 1907)
Lado a lado com máscara africana
Figura 9:
Máscaras Africanas
Guggenheim Museum
New York
REFERÊNCIAS

STRICKLAND, Carol; Arte Comentada: da Pré-História ao Pós-Moderno; Editora


Ediouro; 1999.

BARROS, José D' Assunção. As Influências da Arte Africana na Arte Moderna, Revista
Afro-Ásia, UFBA; 2011. (última atualização em 07/06/2014). Disponível
em:<http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_44_JABarros.pdf>.

How African Art Influenced Modern Art. ART GUIDE - (última atualização em 07/06/2014).
Disponível em: <http://www.artguidenw.com/African.htm>.

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