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Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3º ciclo e Ensino Secundário

Psicologia da Educação | 1º Semestre | Ano Letivo: 2022/2023 1

O Desenvolvimento Moral
Inicia-se este texto com a referência a uma grande discordância entre os psicólogos e os educadores,
em que os educadores, julgavam que o desenvolvimento moral, moldava o carácter e os valores,
defendiam que as virtudes do desenvolvimento do carácter e cidadania deveriam ser o objeto central
do ensino. Por outro lado os psicólogos afirmavam que os valores não poderiam ser ensinados.
Surge então, a destruição do mito da educação do carácter, Hugh Hartshone e Mary May, realizaram
uma série de estudos, em todos se chegou á mesma conclusão, a instrução formal do carácter não
tinha efeitos positivos, concluíram ainda que o treino da educação do carácter e as virtudes ou
comportamentos atuais, não tinham qualquer relação.
Verificou-se igualmente não existir um comportamento moral constante numa pessoa, este modifica-
se de uma situação para outra. Realizaram um teste de honestidade que solidificava esta afirmação,
em que, não encontraram qualquer relação entre o que as pessoas dizem sobre a moralidade e a
forma como essas pessoas agiam. Uma das criticas realizadas a estes estudos foi a de que as
investigadoras não criavam uma verdadeira batalha de consciência, devido ao facto do interesse dos
estudantes nas atividades propostas ser demasiado baixo, e estes só as realizavam por curiosidade.
No âmbito de confirmar a eficácia desta teoria, um outro investigador, criou um jogo mais complexo,
em que através de um ecrã com aspeto de computador, vários níveis e algumas alterações de forma
a aumentar a batalha de consciência, se concluiu que mesmo ativando conflitos emocionais mais
fortes, o comportamento moral é essencialmente definido por fatores situacionais. Verifica-se que o
que se passa com as virtudes mais antigas de Hartshone e May, passa-se igual nos dias de hoje.
Ao nível do desenvolvimento moral, surge a teoria de Lawrence kholberg, conduziu o seu trabalho
através dos estudos de Piaget e Erickson, no sentido em que os Estádios de desenvolvimento estão
relacionados com a idade, e numa perspetiva desenvolvimentista, revolucionou a nossa
compreensão do desenvolvimento moral, descobriu que as pessoas não podem ser rotuladas ou
agrupadas. Pelo contrário, defende que o carácter moral se faz de acordo com uma sequência de
desenvolvimento.
Refutando a definição da moralidade através de traços fixos, o carácter moral evolui
independentemente da cultura, subcultura, continente ou país do sujeito, de acordo com uma
sequência, de seis Estádios de Desenvolvimento, inseridos em três níveis.
Iniciando-se o Nível pré-moral ou moralidade pré-convencional que engloba o Estádio 1,
preocupação com o próprio, a obediência e as decisões morais baseadas em formas de poder muito
simples, do tipo físico ou material. O comportamento é baseado no desejo de evitar uma punição
física severa por parte de um poder superior; Estádio 2, preocupação de sentido único com uma
pessoa, as ações baseiam-se na satisfação das necessidades pessoais do individuo. Há uma
orientação materialista no sentido em que as discussões morais se expressam em tempos
instrumentais e físicos. Relativamente ao Nível 2, considera-se o Nível de moralidade convencional
ou da conformidade com os papéis sociais, que engloba o Estádio 3, preocupação com grupos de
pessoas e conformismos ás normas do grupo. Os afetos desempenham um forte papel, existe um
maior relacionamento de sentido duplo; o Estádio 4, preocupação com a ordem na sociedade, a
honra e o poder resultam da manutenção das regras da sociedade. Finalizando com o Nível 3.
Moralidade pós convencional ou da aceitação dos princípios morais, que engloba o Estádio 5, o que
é correto é o que toda a sociedade decide, a sociedade pode alterar normas através de concordância
de todos, as alterações da lei são geralmente realizadas por e para o maior número de pessoas; e
ainda o Estádio 6. Princípios universais. Os princípios de justiça e ética são parte da consciência,
sendo questões de escolhas individuais dentro de princípios axiológicos universais, mesmo que
contra as leis e regras socialmente estabelecidas.

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Os problemas morais eram estudados com base em questões como o “dilema de Heinz”. Qual seria
a reação do pobre Heinz ao descobrir que sua mulher está a morrer com cancro e o único remédio
foi descoberto pelo farmacêutico local. Entretanto, o farmacêutico está interessado em fazer dinheiro
com a descoberta, inflacionando o preço de modo que Heinz não o possa pagar. Desesperado, Heinz
rouba a farmácia. Deveria ter feito isto? Porquê? Com base na aplicação deste e outros dilemas
investigados, Kholberg examina as respostas dos sujeitos em estudo, examinando o porquê, visto
que este é que nos leva á classificação de cada estádio de desenvolvimento.
Através de vários estudos transculturais feitos por Kholberg, salienta-se que as tendências são
constantes, o Estádio 1 e 2, tornam-se menos frequentes á medida que a idade avança e o
comportamento dos Estádios 4,5 e 6, são mais frequentes ao longo do mesmo ciclo, deste ponto de
vista, podemos dizer que o comportamento moral desenvolve-se de forma sequencial e variavel,
desenvolve-se dos Estádios mais baixos para os mais elevados, e não se saltam quaisquer Estádios,
á semelhança com o desenvolvimento cognitivo. Realizaram-se outros estudos para aumentar a
precisão dos dados obtidos nos estudos iniciais, onde os sujeitos partilhavam as mesmas faixas
etárias, ou seja, não se saltaram estádios. Para Kholberg, muitos adolescentes são orientados para
as ideias de outros adolescentes em geral, a fragilidade de raciocínio do Estádio 3 é de certa forma,
nestas condições evidente, os alunos do Ensino Secundário podem estar mais dispostos ás
diligências.
Dois discípulos de Kholberg, James Rest e Eliot Turiel, demonstraram ainda que, não ocorrem
regressões fundamentais no desenvolvimento moral, quando se está num determinado Estádio de
raciocínio, nunca passamos para outro inferior, segundo os estudos que realizaram, o
desenvolvimento racional ocorre por um Estádio de cada vez, sem saltar estádios, mas, proferem
juízos morais num nível superior ao seu.
Um outro elemento-chave em relação aos Estádios de desenvolvimento moral, é o comportamento
moral nos desafios do dia-a-dia, os Estádios são determinados através de propósitos e intenções
que o ser humano utiliza para fundamentar as suas decisões, os Estádios mais elevados apresentam
uma perspetiva mais universal. Stanley Milgram com a experiência ao nível da obediência e Shari
McName com a sua conhecida experiência da “Regra de ouro”, apresentam também estudos que
apoiam a teoria de Kholberg, é evidenciada uma inexistência de relação entre Estádio moral e
comportamento moral.
Quando a teoria de Kholberg foi validada, realizaram-se outros dois estudos com a intenção de
examinar a relação entre género e estádio, finalizando-se que não existiam diferenças entre géneros
e caíram em desuso ao longo do tempo, até que, Carol Gilligam, contestou os resultados, proclamou
que a teoria de Kholberg seria sexista, direcionada para Homens e definia o raciocínio baseado em
princípios objetivos e excessivamente racionais.
A investigadora, bastante criticada, ganhou visibilidade assim como a sua contestação, acabando
outros investigadores por dedicar atenção a esta temática, concluindo que a constatação mais
frequente foi a de não haver diferenças entre os resultados dos homens e das mulheres
independentemente da amostra. Mais tarde outros estudos demonstraram que o desenvolvimento
do ego era superior ao desenvolvimento moral, durante a adolescência e na idade adulta, já na idade
adulta, estão bem preparados e numa fase mais tardia, os papéis invertiam-se, assim o estudo de
Gilligam, serviu para relembrar a importância de assuntos como os cuidados pessoais, a compaixão
que têm enquanto componentes do juízo moral. Kholberg, mostrou-se solidário com Gilligam, em
estudos mais recentes, descreveu a “Rega de Ouro” como tendo dois alimentos, procede para com
os outros como gostarias que procedessem para contigo e ama o próximo como a ti mesmo,
fundamentando que a sua teoria tinha como sistema de cotação, incluído ambas as éticas, justiça e
cuidado.
Kholberg, também realizou estudos interculturais, em diversas culturas assim como, intraculturais
dentro de uma própria cultura, nos quia demonstra que a sequência é a mesma em qualquer parte
do mundo, a sequência de desenvolvimento moral é limitada pela idade e estádios. O conteúdo pode
variar consoante a cultura, mas a estrutura mantém-se. John Snarey realizou também estudos no

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âmbito de comprovar esta teoria, analisando o desenvolvimento moral como conceito universal,
através dos quais salienta, que o desenvolvimento moral não é automático, depende do ambiente e
da integração.
Verifica-se também que a quantidade e qualidade da interação entre pares é um aspeto importante
para o desenvolvimento moral, pois existe um desequilíbrio de autoridade na relação entre adultos e
crianças. William Damon, analisa este processo em crianças da escola primária e observa que as
suas interações são estimuladas pela reciprocidade, assim a criança aprende mais facilmente a
respeitar as regras estabelecidas no contexto social.
As crianças e os Jovens entendem os seus estádios morais e um acima, sendo que o estádio acima
é mais universal do que o anterior, o que necessita de menos racionalização, deste modo, é
necessário o debate, ao nível do ensino secundário, com o objetivo de treinar e de fazer entender os
estádios mais elevados e os princípios universais.
Conclui-se então que os debates auxiliam a consciencialização da razão para as normas e ideias,
Stephen Thoma, refere o debate como um método eficaz, sendo o tempo uma variável constante,
inclusive verifica-se que o debate funciona com todos os grupos etários, onde os ganhos são
modestos. O processo de desenvolvimento moral está relacionado com a idade e não pode ser
mudado rapidamente. Em paralelo, os debates têm um lento progresso, e o professor deve orientá-
los corretamente. Marvin Berkowitz, estuda também este método do debate, analisando diferentes
métodos de condução de diálogo entre grupos conforme o formato do debate. Para este ser eficaz é
necessário flexibilidade e estratégias de ensino indiretas. Neste sentido o professor deve equilibrar
as questões de apoio e contestação, a crítica excessiva conduz a uma redução do sucesso
académico, então, o debate deve ser um espaço livre e expositivo. O orientador deve direcionar o
raciocínio dos alunos a compreender os estádios mais elevados, para além do conformismo social.
Em contexto de sala de aula, o professor deve estimular o pensamento dos seus alunos a um estádio
acima. Porém, o orientador não deve expor as suas próprias ideias. O debate é um formato eficaz
mas lento, não podendo ser apresentado. Em consideração a psicologia da educação, confronta o
ensino com o desenvolvimento moral, juntos são uma ferramenta bastante eficiente para o
crescimento de uma sociedade empática e justa.
Referência Bibliográfica: Psicologia Educacional – Uma Abordagem Desenvolvimentista, Copyright©
1993 da Editora McGRAW – HILL de Portugal, L.da, do Original: Educational Psychology – A
Developmenal Approach, Fifth Edition Copyrignht© 1990 by McGRAW-HILL. Inc. all rights reserved.
Autores: Norman A. Sprinthall e Richard C. Sprinthall, 1ª parte, Capítulo: 7 Desenvolvimento Moral
(páginas 167 a 202).

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