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586-02
ECG de Ponta a Ponta
ECG como você nunca viu
1˚ Edição
Versão Simplificada
E-book
2020
Eduardo Gabriel Sampaio Cabral - eduardogsampaioc@gmail.com - CPF: 123.213.586-02
Editor
Doutor em Ciência pela Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
(IDPC)
Editores associados
Artista Plástica
Designer
Este material é uma introdução descomplicada a eletrocardiografia. Nossa equipe esteve preocupada
com uma escrita simples, direta e em uma sequência que julgamos apropriada para os alunos que
estão aprendendo eletrocardiograma (ECG), em todos os níveis.
Em muitos momentos você poderá observar que fugimos das explicações e imagens tradicionais dos
materiais já existentes.
Como apenas 12 derivações podem, ao mesmo tempo, trazer tanta informação e tanta dificuldade?
Entender a atividade elétrica do coração manifesta no ECG é sem dúvida alguma um desafio. Com as
ferramentas certas ficará muito mais fácil vencê-lo.
É comum os alunos ficarem perdidos na imensidão de informação sobre o assunto. Uma falha
frequente que detectamos é a tentativa de decorar determinados padrões patológicos do ECG sem
compreender a base eletrocardiográfica, sem ter noção espacial das manifestações elétricas.
A característica principal deste material é a didática, nos empenhamos em traduzir a atividade elétrica
do coração através de uma linguagem lógica, sequencial e filtrada.
Saber interpretar ECG de uma maneira precisa e rápida é fundamental para todo profissional de saúde,
especialmente para médicos que atuam em pronto atendimento, unidade básica de saúde, unidade
de atendimento pré-hospitalar, unidade de terapia intensiva, semi-intensiva e unidade coronária.
Por fim, este material foi criado como apoio ao estudante que está realizando o curso completo “ECG
de Ponta a Ponta”. Este conteúdo resumido é um excelente ponto de partida para abrir a mente ao
aprendizado do ECG.
Capítulo 3. Sobrecargas
Noções Fundamentais
1. Conceitos: o que você precisa saber para iniciar seu entendimento do eletrocardiograma
(ECG)
O coração funciona como uma “bomba” ejetando sangue pouco oxigenado aos pulmões e na
sequência enviando o sangue rico em oxigênio para os demais órgãos.
Cada batimento cardíaco, ou seja, cada atividade mecânica do coração é precedida por uma
atividade elétrica que, em situação de normalidade, acontece de forma regular e sequencial.
O coração humano está localizado no mediastino médio. Possui uma posição oblíqua em
relação à caixa torácica e seu ápice está direcionado para baixo, para esquerda e para frente.
Aproximadamente 2/3 de sua massa está à esquerda da linha média do tórax.
O coração humano possui um complexo e especializado sistema elétrico capaz de propagar de
modo rápido e eficaz a atividade elétrica do coração.
Na Figura 1, podemos observar estruturas importantes deste sistema. Na porção superior do
átrio direito, próximo da desembocadura da veia cava superior, há um grupamento de células
capazes de gerar atividade elétrica de maneira automática, esta estrutura é chamada de Nó
Sinoatrial (NSA). A atividade elétrica oriunda do NSA se propaga para o átrio esquerdo através
dos Feixe de Bachmann, despolarizando os átrios da direita para a esquerda. Esta atividade
elétrica se propaga, da mesma forma, do NSA para o Nó Atrioventricular (NAV) por meio dos
Feixes Internodais. No final da diástole (fase de relaxamento ventricular) ambos os átrios se
contraem simultaneamente.
O estímulo elétrico oriundo dos átrios chega ao NAV onde, habitualmente, há uma lentificação
na passagem do estímulo. Vale lembrar que o NAV também possui um grupamento de células
com a capacidade de automatismo, semelhante ao NSA, mas com uma frequência automática
menor.
O ECG é um método diagnóstico capaz de registrar a atividade elétrica do coração por meio
de eletrodos adequadamente posicionados na superfície corporal (Figura 2).
O registro desta atividade elétrica se dá através de papel quadriculado (impresso ou
digitalizado) (Figura 3).
Figura 2: Posicionamento dos 10 eletrodos que irão formar as 12 derivações do ECG. MSD= Membro Superior
Direito; MSE= Membro Superior Esquerdo; MID= Membro Inferior Direito; MIE= Membro Inferior Esquerdo;
Derivações Precordiais de V1 a V6. De modo padrão V1 está localizado na borda esternal direita (4 EIC); V2
na borda esternal esquerda (4 EIC); V3 na metade do trajeto entre V2 e V4; V4 na linha hemiclavicular
esquerda (5 EIC); V5 linha axilar anterior esquerda (5 EIC); V6 linha axilar média esquerda (5 EIC)
Por padronização do método, o ECG é registado em papel quadriculado, vale lembrar que cada
quadrado grande é constituído por 5 quadrados pequenos.
O lado do quadrado pequeno possui 1 mm e corresponde, na horizontal, a 40 milissegundos
(ms) ou 0,04 segundos (s) de duração. Na vertical 1 mm equivale a 0,1 mV de voltagem (Figura
4).
Os critérios utilizados para a interpretação do ECG pressupõem a padronização da gravação,
sendo assim, ao analisar um ECG, é necessário que o registro tenha sido adquirido com uma
velocidade de 25 mm/s e uma amplitude (voltagem) de 10 mm/mV (Figura 3, porção inferior
esquerda).
0,1 mV 1 mm
0,5 mV
0,04 s
0,2 s
Figura 4: Medidas referentes ao papel quadriculado. 0,04 segundos = 40 milissegundos
QRS
P T
U
2
3
4
Figura 5: Intervalos:
1 = Duração onda P
2 = Duração intervalo PR
3 = Duração complexo QRS
4 = Duração intervalo QT
*medidas em ms
Figura 6: Fórmula de Bazzet. QT= duração intervalo QT em segundos; QTc= duração do intervalo QT
corrigido; RR= duração entre dois complexos QRS em segundos
1.6. Vetores
Quando uma frente de despolarização elétrica vai em direção (se aproxima) de uma
determinada derivação, gera no ECG o registro de uma onda positiva. Quando, ao contrário,
esta frente de ativação foge de uma determinada derivação, gera uma onda negativa.
Em breve será demostrado o ponto de vista de cada derivação. Por exemplo: o ponto de vista
da derivação DI é do MSE, se a despolarização atrial ocorrer da direita para a esquerda, como
no ritmo sinusal, aparecerá no ECG uma onda P positiva. Esta mesma onda P, vista da direta,
como por exemplo aVR, será negativa, pois a frente de ativação está fugindo de aVR (Figura
7).
Este raciocínio básico de vetores serve tanto para a onda P quanto para o QRS.
Figura 7: Vetores. A polaridade da onda P e do complexo QRS de acordo com o sentido da frente de
ativação
Figura 8: Triângulo de Einthoven. Eletrodos colocados nos membros superiores e no MIE formam um
triângulo. Cada par de eletrodo forma uma derivação bipolar do plano frontal (DI, DII e DIII).
Uma vez que a ativação elétrica se inicia no NSA (átrio direito) e se propaga para a esquerda e
para baixo, há a formação de um vetor elétrico resultante, tanto nos átrios quanto nos
ventrículos.
O eixo elétrico normal da onda P (átrios) está entre 0 e + 90˚.
Neste momento, iremos priorizar a avaliação do eixo elétrico resultante da despolarização
ventricular (QRS). Considera-se normal um eixo de despolarização ventricular entre -30˚ e +90˚
(Figura 10).
10
O sistema Hexaxial de Bailey tem a finalidade de calcular o eixo elétrico médio (vetor
resultante) do coração. É construído através do triângulo de Einthoven e das derivações
aumentadas (em conjunto formam o plano frontal) (Figura 10).
Conhecer o eixo elétrico é fundamental para uma boa análise do eletrocardiograma. Muitas
alterações patológicas do coração causam desvio do eixo cardíaco para a direita (> 90˚) ou para
a esquerda (< -30˚). Vale citar que existem situações não patológicas de desvio do eixo
cardíaco, como por exemplo o biotipo do paciente. Nos pacientes brevilíneos, o eixo cardíaco
tende a ficar horizontalizado (< -30˚), nos longilíneos tende a ficar verticalizado (> 90˚).
Mais precisamente, eixo entre -30˚ e – 90˚ está desviado para a esquerda, entre 90˚ e 180˚
está desviado para a direita e entre -90˚ e -180˚ apresenta desvio extremo do eixo.
Uma maneira mais prática, que resolve a maioria dos casos, é verificar se o eixo está no
primeiro quadrante (0 a + 90˚). Isto ocorre se a polaridade do QRS predomina positiva em DI
(zero grau) e positiva em aVF (+ 90˚). Se isto ocorrer é sabido que o eixo está normal.
Para uma análise mais precisa, o eixo elétrico pode ser estimado, passo a passo, da seguinte
forma:
Passo 3: Ver qual a polaridade do QRS na derivação encontrada no passo 2. Se o QRS for
positivo, o eixo acompanha o sentido da derivação, se for negativo, o eixo está no sentido
contrário (Figura 13).
11
A B C
Figura 11: Passo 1: Pesquisa da derivação com QRS isodifásico. A= QRS negativo; B= QRS isodifásico; C= QRS
positivo.
12
aVL
Figura 12: Passo 2: Supondo que a derivação mais isodifásica seja DII (azul), o eixo elétrico está perpendicular a
DII (aVL, em vermelho).
Figura 13: Passo 3: A derivação aVL aponta para o MSE (+). Se o QRS de aVL estivesse positivo, o eixo estaria no
sentido de aVL (- 30˚), como o QRS de aVL está negativo, o eixo está a + 150˚.
13
O ritmo cardíaco é determinado pela estrutura que apresenta a despolarização mais precoce
no coração.
Duas estruturas cardíacas são formadas por grupamento de células especializadas, as
chamadas células marcapasso, responsáveis pelo início automático da atividade elétrica
cardíaca.
Estas estruturas são denominadas NSA e NAV. Dentre elas, o NSA é a estrutura com
automatismo mais rápido e que, hierarquicamente, comanda o ritmo do coração.
Quando o estímulo elétrico é iniciado no NSA, a FC em repouso considerada normal, para
adultos, é de 50 a 100 bpm.
Durante nosso estudo você aprenderá a identificar um ECG cuja ativação elétrica foi iniciada
no NSA. É possível, em situações de anormalidade, que a ativação elétrica se inicie em um foco
ectópico atrial, no NAV ou até mesmo nos ventrículos. Estes cenários serão explorados em
outros capítulos.
3. Frequência Cardíaca
14
P T P
Figura 14: Cálculo da FC. Entre 2 complexos QRS há distanciamento de 17 quadrados pequenos. FC=
1500/17 = 88 bpm.
Para o cálculo da FC em ritmos irregulares, como na fibrilação atrial, é necessário fazer uma
média baseada no número de complexos QRS durante 6 segundos (Figura 15).
Figura 15: Cálculo da FC em ritmos irregulares. Deve-se contar o número de complexos QRS existentes durante
6 segundos de registro. É necessário utilizar uma derivação com gravação prolongada (por exemplo DII longo).
Como cada quadrado grande tem 200 ms, serão necessários 30 quadrados grandes para obter 6000 ms, ou
melhor, 6 segundos. O número de complexos QRS encontrados deve ser multiplicado por 10. Neste exemplo
temos uma FC aproximada de 70 bpm (7 × 10).
15
As células vivas em repouso apresentam uma diferença de potencial elétrico entre os lados da
membrana celular, sendo o interior negativo em relação ao exterior, chamado potencial de
repouso. No coração, esta diferença de potencial pode ser de 50 mV nas células automáticas,
até 90 mV a 100 mV nas células de condução.
O potencial de repouso é fundamental para a homeostase celular. A inversão ou anulação
momentânea das cargas elétricas pode gerar sinais elétrico propagados capazes de deflagrar
e controlar uma atividade tecidual organizada, como a contração muscular. Esta modificação
momentânea e propagada do potencial de repouso é chamada de potencial de ação.
O potencial de ação é um fenômeno passivo (sem gasto de energia) que se propaga
rapidamente por toda a membrana celular e de uma célula a outra. Adicionalmente o potencial
de ação também se propaga dentro da célula por todo o retículo sarcoplasmático, liberando
cálcio. Quando, num determinado local da membrana, por efeito de algum estímulo, o
potencial de repouso é reduzido em 20 mV a 25 mV, surge o potencial de ação, que
rapidamente se propaga por toda a célula.
As células cardíacas apresentam intensa interdigitação com as células vizinhas visíveis na
microscopia ótica, como linhas escuras chamadas “discos intercalares”. Essas regiões são ricas
em desmossomos e conexinas, as quais promovem grande aumento da condutância iônica.
Por conta disso, graças a essas junções, as células cardíacas transmitem o estímulo elétrico
diretamente de uma célula à outra.
Disco Intercalar
Figura 16: Representação esquemática simplificada da ativação elétrica de uma célula cardíaca à outra.
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I. Pastore CA, Pinho JA, Pinho C, Samesima N, Pereira-Filho HG, et.al. III Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos
Eletrocardiográficos. 2016. Vol 1 (4), Supl.1.
II. Mateos JCP. Marca-passos, desfibriladores e ressincronizadores cardíacos: noções
fundamentais para o clínico. 2014. Ed. Atheneu.
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1. Visão Geral
Antes do estudo dos traçados eletrocardiográficos patológicos, é fundamental que o aluno saiba
identificar um eletrocardiograma normal.
Vale ressaltar, porém, que a identificação de um eletrocardiograma normal, não afasta a probabilidade
de um evento cardiovascular agudo.
Antes de sequer pensar em laudar um ECG, você precisa conferir se o referido registro foi obtido nos
padrões recomendados para análise e emissão de laudos.
A padronização foi citada no capítulo anterior e contempla uma velocidade de gravação de 25 mm/s e
uma voltagem de 10 mm/mV (N = normal).
É preciso ter em mente a sequência dos eventos elétricos do coração, a correlação destes eventos com
o eletrocardiograma de superfície e, por fim, dos valores de normalidade no que diz respeito à duração
e à voltagem (Figura 17).
A análise do ECG pediátrico apresenta uma série de particularidades que serão abordadas nas aulas
do módulo pediátrico do curso ECG de Ponta a Ponta.
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2
3
4
Figura 17 : Intervalos:
1 = Duração onda P (< 120 ms)
2 = Duração intervalo PR (120-200 ms)
3 = Duração complexo QRS (<120 ms)
4 = Duração intervalo QT (<470 ms em mulheres e < 450 ms em homens)
3. Sequência de análise
Para evitar esquecimentos na hora de se analisar um ECG, é fundamental a sistematização da
análise.
A nossa sugestão é sempre seguir a sequência elétrica dos acontecimentos, ou seja, dos átrios
para os ventrículos.
Outro detalhe interessante é que as medidas dos intervalos são habitualmente realizadas na
derivação DII.
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Neste momento deve-se procurar qual o local de ativação mais precoce, esse local, em
situação de normalidade, deve ser o NSA. Deste modo, a primeira atividade no ECG deve ser a
onda P.
3.2. Onda P
A onda P representa a despolarização dos átrios (átrio direito + átrio esquerdo) (Figura 18).
Quando o ritmo é oriundo do NSA, a despolarização dos átrios irá ocorrer da direita para a
esquerda e de cima para baixo, originando assim onda P positiva em DI, DII e aVF (Figura 19),
pois o vetor elétrico irá em sentido à estas derivações.
Figura 18: Onda P. Composta por dois componentes (AD + AE). AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo.
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Uma vez a onda P iniciando no NSA, deve-se avaliar se os átrios possuem dimensões normais
ou se há indícios de sobrecarga.
3.3. Intervalo PR
Após analisar os átrios, vamos analisar a “descida” da propagação elétrica aos ventrículos.
Esta análise se refere à interpretação da condução atrioventricular (intervalo PR).
O intervalo PR vai desde o início da onda P até o início do complexo QRS (Figura 20).
Toda despolarização atrial (P) deve ser seguida de despolarização ventricular (QRS), ou seja,
relação átrio-ventrículo (P-QRS) de 1:1.
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PRi
QRS
Figura 20: PRi= intervalo PR. QRS= complexo QRS
Quando a ativação ventricular se faz por meio de um sistema His-Purkinje íntegro, ambos os
ventrículos são despolarizados rapidamente, gerando um complexo QRS com duração
inferior a 120 ms (3 quadradinhos).
A medida do QRS deve ser realizada do início ao final do complexo QRS (Figura 20).
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O eixo elétrico dos ventrículos, em situação de normalidade, deve estar entre - 30˚ e + 90˚
(Figura 21).
Vale ressaltar que é possível calcular o eixo dos átrios, mas, indiscutivelmente, a maior
relevância clínica se dá para a análise do eixo do QRS.
Para esta análise, utilizam-se as derivações do Plano Frontal, como mencionado no capítulo
anterior.
Uma dica que resolverá a imensa maioria dos ECGs, se o QRS for predominantemente
positivo em DI e em aVF quer dizer que o vetor vai em direção à DI e aVF, simultaneamente,
sendo assim, o eixo encontra-se em 0 e +90˚ (normal).
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Deve ser observado o padrão de progressão dos complexos QRS nas derivações
precordiais (V1-V6). Em V1 predomina QRS negativo (padrão rS), as derivações
intermediárias (V3, V4) com padrão isodifásico e V6 com predomínio positivo (qR) (Figura
22).
Figura 22: Padrão eletrocardiográfico do plano Horizontal. Observe que o vetor de despolarização ventricular
foge de V1 (QRS negativo) e vai em direção à V6 (QRS positivo).
3.5. Segmento ST
Faz parte da repolarização ventricular e deve estar nivelado em relação à linha de base
(segmento PR) (Figura 23).
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3.6. Onda T
A onda T é assimétrica, com ascensão mais lenta e descenso mais rápido. A polaridade tende
a acompanhar a polaridade do QRS e a amplitude corresponde a cerca de 10 a 30% da
amplitude do QRS (Figura 24).
Figura 24: Onda T. Observe a polaridade semelhante ao QRS (positiva). Observe a fase de ascensão mais lenta
e descenso mais rápido.
3.7. Intervalo QT
Intervalo de extrema importância para a análise do ECG. Alteração do mesmo, pode estar
relacionada a arritmia fatal.
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Figura 25: Método da tangente. Traçar uma linha tangenciando o descenso da onda T (verde). O ponto de
intersecção com a linha de base corresponde ao final da onda T. Com isso determina-se o intervalo QT.
O valor do intervalo QT deve ser corrigido (QTc) de acordo com a frequência cardíaca.
Existem algumas fórmulas para esta correção, a mais utilizada é a fórmula de Bazzet (Figura
26). Esta fórmula tem maior validade no seu uso quando a frequência cardíaca encontra-se
entre 60 e 90 bpm.
Para adultos do sexo masculino o intervalo QTc deve estar entre 340 e 450 ms.
Para adultos do sexo feminino o intervalo QTc deve estar entre 340 e 470 ms.
Qtc = QT / √𝑹𝑹
Figura 26: Fórmula de Bazzet. QT= duração intervalo QT em segundos; QTc= duração do intervalo QT
corrigido; RR= duração entre dois complexos QRS em segundos
4. Considerações finais
Para que um ECG seja considerado normal é fundamental saber a idade, o sexo e a história
clínica do paciente.
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1. Conceitos
Por meio da análise da onda P e da análise do complexo QRS é possível avaliar a presença de
sobrecarga de câmaras atriais ou ventriculares, respectivamente.
DII
Figura 27: A esquerda: onda P de dimensão normal. Observe a presença dos componentes de AD e AE
formando uma onda P individualizada. A direita: sobrecarga atrial esquerda com o componente de átrio
esquerdo aumentado, acarretando um aumento na duração da onda P (> 120ms) e um entalhe na morfologia
da mesma. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo
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Figura 28: Observe a onda P difásica em V1. Observe também, conforme destacado em amarelo, que a fase
negativa é mais proeminente e possui mais que 40 ms (1 quadradinho) de duração e mais que 1 mm (1
dradradinho) de profundidade. Estes achados são sugestivos de sobrecarga de átrio esquerdo.
DII V1
Figura 29: A esquerda: onda P entalhada, com mais de 120 ms de duração em DII. A direita: onda P bifásica,
com porção negativa maior que 1 quadradinho de profundidade e de extensão em V1 (Morris).
29
Figura 30: A esquerda: onda P com amplitude maior que 2,5 mm em DII. A direita: fase inicial da onda P
positiva e maior que 1,5 mm.
30
31
Figura 32: Critérios de Cornell. Parte positiva (onda R) de aVL (15 mm) + parte negativa (onda S) de V3 (7 mm)
= 22 mm. Considerado positivo para mulheres se > 20 mm e positivo para homens se maior que 28 mm
(Sensibilidade= 42%; Especificidade= 96%).
Figura 33: Paciente 55 anos, sexo feminino, em acompanhamento ambulatorial por Hipertensão Arterial
Sistêmica, apresenta alteração da repolarização ventricular (infradesnivelamento do segmento ST e inversão
da onda T assimétrica) na parede lateral (V4-V6) e achatamento em DI e aVL. ECG compatível com padrão de
SVE tipo Strain.
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Figura 34: Sobrecarga ventricular direita. Observe o eixo desviado para direita (Complexo QRS positivo em aVF
e negativo em DI); onda R de alta voltagem em V1 e V2; onda S profunda em V6.
6. Considerações finais
Quando houve a presença de bloqueios intraventriculares (QRS ≥ 120 ms) não se pode utilizar
estes mesmos índices mencionados para a análise de sobrecarga ventricular.
Para se analisar critérios de voltagem é fundamental verificar o padrão da voltagem de
gravação (N= Normal; 10 mm/mV).
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1. Conceito
NSA
NAV
Figura 35: Representação da ativação cardíaca fisiológica, com impulso gerado no nó sinoatrial (NSA),
propagando-se em direção ao nó AV (NAV) e posteriormente aos ventrículos pelo sistema His-Purkinje.
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Como mencionado anteriormente, refere-se à bradicardia cuja origem está no NSA. Embora
possa ser fisiológica, algumas situações clínicas patológicas podem estar relacionadas.
Figura 36: Bradicardia sinusal em paciente em uso de betabloqueador via oral . Observe as ondas “P” positivas
nas derivações DI, DII e aVF. Pela regra dos (1.500/ n quadrados pequenos), a FC encontra-se aproximadamente
48 bpm.
35
O intervalo PR normal, em adultos, possui uma duração entre 120 e 200ms. A medida vai do
início da onda P ao início do complexo QRS. Quando este intervalo dura mais de 200 ms e a
relação entre ondas P e QRS é mantida (relação 1:1), caracteriza-se o BAV de Primeiro Grau.
A presença do BAV de 1 Grau não implica, necessariamente, na presença de bradicardia
associada.
Dentre as origens deste bloqueio, destacam-se a influência do sistema nervoso autonômico e
o efeito de fármacos. O paciente costuma apresentar-se sem sintomas, com uma evolução
clínica benigna na imensa maioria dos pacientes.
Figura 37: Traçado de Holter de 24h, mostrando período de ritmo sinusal, com Bloqueio AV de Primeiro Grau.
Intervalo PR de 280ms.
36
Vale lembrar que a classificação eletrocardiográfica dos BAV faz correlação com o nível do
“bloqueio”. Teoricamente, quanto maior o grau de bloqueio, mais “baixo” o nível da lesão.
Os BAV de segundo grau se subdividem.
37
Figura 39: Bloqueios AV de primeiro grau e segundo grau Mobitz tipo 1 ocorrem habitualmente no nível do nó
AV. Podendo ser permanentes ou intermitentes.
Figura 40: Bloqueio AV de segundo Grau Mobitz tipo 1. Note o aumento progressivo dos intervalos PR que
antecedem o bloqueio. Note a presença de onda P sem QRS (bloqueio) e observe também que o intervalo PR
após o bloqueio é mais curto que o intervalo PR que antecede o bloqueio.
38
39
Figura 43: Traçado de Holter de 24h registrando Bloqueio AV avançado ou 2:1 (presença de 2 ondas P para
cada 1 complexo QRS).
40
Figura 44: Bloqueio AV total. Note a frequência atrial (P) mais elevada e a frequência ventricular lenta (QRS),
observe que as ondas P possuem atividade regular entre elas (em vermelho) e que os complexos QRS possuem
atividade regular entre eles (em azul), não há, no entanto, relação entre ondas P e QRS, evidenciando a
dissociação atrioventricular.
Figura 45: Paciente com Fibrilação Atrial permanente, apresentando BAV total súbito, sem ritmo de escape.
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1. Conceitos
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Todo processo que interfira no processo de ativação normal dos ventrículos, que é
praticamente simultânea, pode alterar a duração do QRS e/ou seu eixo de ativação.
Discutiremos os efeitos que os atrasos ou bloqueios na condução elétrica do sistema His-
Purkinje provocam nos complexos QRS e segmento ST-T.
Durante a ativação ventricular, os impulsos podem se propagar por 2 tipos de tecido condutor:
Ex.: Se o fascículo ântero-superior do ramo esquerdo for o único bloqueado, todo o restante do
VE será despolarizado ANTES, pelo sistema especializado, e a região ântero-superior será a
ÚLTIMA a ser despolarizada, pela condução lenta célula-a-célula, desviando o eixo FINAL do
QRS para essa região.
43
A segunda fase (fig.48), é a da despolarização simultânea dos ventrículos, feita pelos dois
ramos. Essa fase também não é afetada no BRD, já que o VE possui a maior massa, e por isso
a dominância em trazer o vetor elétrico do QRS em sua direção, gerando ondas R altas nas
precordiais esquerdas, e ondas S profundas nas precordiais direitas.
Nesta fase, enquanto o VD ainda está no começo de sua despolarização, o VE já se
despolarizou.
44
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De maneira complementar, vale lembrar que assim como V6, outras derivações laterais, como
DI e aVL, apresentam sua fase final do QRS alargada, “empastada”
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O BRD pode ter diversas causas. Muitas vezes aparece como um achado isolado de
eletrocardiograma, sem nenhum significado clínico ou cardiopatia identificável subjacente. Em
alguns pacientes, aparece de maneira intermitente, ou até frequência-dependente, ou seja, só
ocorre acima de determinado valor da frequência ventricular.
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Nos cenários de atendimento na fase aguda do infarto agudo do miocárdio, dois achados
merecem atenção: o surgimento de BRD associado a infarto agudo com supradesnivelamento
do ST (IAMCSST) da parede anterior, é um marcador de lesão miocárdica extensa,
frequentemente associado a insuficiência cardíaca aguda, e um preditor de risco de BAVT
iminente.
A presença de QRS com duração ≥ 120 ms também é fundamental para o diagnóstico do BRE,
porém, apresenta diferenças marcantes em relação ao BRD, já que este afeta somente a
porção final do QRS, enquanto o BRE altera a totalidade da despolarização ventricular.
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Portanto, no BRE, todos os períodos da despolarização serão atrasados, desde o início, e todo
o processo terá seu vetor resultante orientado para a esquerda, já que o VE possui a maior
massa ventricular, e todos os seus segmentos serão ativados por último. A precordial esquerda
V6 registrará onda R alta e alargada desde o início, e a precordial direita V1 terá ondas S
profundas (complexos QS, pela ausência da r septal) e alargadas desde o início (fig.51).
Figura 52: ECG de paciente portador de BRE. Exame mostra ritmo sinusal, com FC de 75 bpm. Eixo no
plano frontal normal (+ em DI, - em aVF, porém + em DII: entre 0 e -30°). QRS tem duração > 120ms.
Ondas R monofásicas em DI, aVL e V6. QRS francamente negativo de V1-V3. Ainda de V1-V3, elevação
do ST discreta (1-2mm), em direção oposta ao QRS (achado muito comum no BRE).
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Além de ser um marcador de cardiopatia estrutural, a perda da função do ramo esquerdo pode
levar à falta de sincronia interventricular, que pode, isoladamente, piorar a função sistólica
ventricular esquerda, em especial em portadores de cardiopatia avançada.
Em resumo, o diagnóstico de BRE pode ser verificado rapidamente pelas derivações V1 e V6:
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Figura 55: ECG de paciente portador de BDAS. Ritmo sinusal, com FC de 78 bpm. Eixo no plano frontal
desviado para cima e para a esquerda (+ em DI, - em aVF; Onda S DIII > onda S D II: Eixo além de -45°).
QRS tem duração < 120ms. O plano precordial mostra lenta progressão de ondas r de V1 a V3, além de
ondas S de V4 a V6, característicos desse bloqueio fascicular.
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1. Conceito
Refere-se como taquicardia o aumento de FC acima de 100 bpm em adultos. Quando o impulso
gerador da taquicardia provém do Nó Sinusal, chama-se de Taquicardia Sinusal. Esta é
fisiológica na maioria dos casos, sendo secundária a estados hiperdinâmicos como febre, dor,
anemia, atividade física e assim por diante.
2. Mecanismos
3. Taquicardia Sinusal
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4. Taquicardia Atrial
São taquicardias que tem sua origem no músculo cardíaco atrial. Existem diversos mecanismos
de origem (automatismo, atividade deflagrada, microreentradas, dentre outros), porém a
manifestação eletrocardiográfica será sempre similar, normalmente com onda P de morfologia
distinta da P sinusal. É digno de nota que os mesmos mecanismos podem gerar extrassístoles
atriais, com suas também diversas formas de apresentação (isoladas, pareadas, em ciclos de
bigeminismo, trigeminismo e assim por diante).
NSA
NAV
Figura 59: Foco ectópico atrial. Observe que a origem do batimento encontra-se fora do NSA. NSA= Nó Sinoatrial;
NAV= Nó Atrioventricular.
56
Figura 61: Registro de Holter de 24 horas com extrassístoles supraventriculares intercaladas com batimentos
sinusais, conhecido como padrão de Bigeminismo (1 batimento de origem sinusal, 1 batimento de origem
ectópica).
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Figura 63: Registro de Holter com início de Taquicardia (3 ou mais batimentos extrassitólicos em sequência), com
presença de onda P negativa, compatível com Taquicardia Atrial.
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Uma extrassístole pode encontrar a via de condução preferencial (via rápida) em seu período
refratário, propagando-se assim pela segunda via (via lenta). Na sequência pode ser conduzida
retrogradamente de volta para o átrio pela via rápida livre e entrar em uma espécie de “loop”.
A manifestação clínica é de taquicardia de QRS estreito, bastante rápida, normalmente em
pacientes jovens com coração morfologicamente normal.
Figura 65: ECG de 12 derivações com Taquicardia de QRS estreito, intervalos R-R regulares e sem onda P visível.
Achados habitualmente compatíveis com Taquicardia por Reentrada Nodal AV.
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Essa mesma via pode mediar taquicardias rápidas, quando o impulso elétrico propaga-se pelo
nó AV em sentido anterógrado (do átrio para o ventrículo) e retorna para o átrio pela via
acessória retrogradamente, o que convencionou-se chamar de taquicardia ortodrômica (Fig.
68). Quando o sentido da taquicardia é inverso, pode gerar uma taquicardia de QRS largo de
difícil distinção eletrocardiográfica de uma taquicardia ventricular, chamada de taquicardia
antidrômica.
Figura 66: Representação de via acessória (em laranja), onde em ritmo sinusal o impulso propaga-se
simultaneamente pela via acessória e pelo nó AV.
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Figura 68: Representação esquemática da taquicardia ortodrômica mediada por via acessória. Os ventrículos
são ativados anterogradamente por meio do sistema His-Purkinje e os átrios são ativados retrogradamente
pela via acessória. Este tipo de taquicardia se manifesta no ECG por taquicardia de QRS estreito.
61
São arritmias comuns, especialmente na população idosa, sendo a Fibrilação Atrial (FA) a
taquiarritmia crônica mais prevalente na população acima dos 65 anos de idade.
O Flutter Atrial (FLA) caracteriza-se por um circuito macrorrentrante localizado no átrio direito,
de ativação rápida (150 – 220bpm). A condução para o ventrículo ocorre de maneira variável
e o padrão eletrocardiográfico característico é o serrilhado da linha base, semelhante a
“dentes de serra” ou serrote – chamado de ondas F.
A FA, por sua vez, caracteriza-se por atividade elétrica desorganizada e rápida proveniente do
átrio esquerdo, com presença de serrilhado grosseiro e desorganizado na linha de base – ondas
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Figura 70: À esquerda, modelo esquemático do circuito de macroreentrada atrial do Flutter. À direita, modelo
esquemático da atividade elétrica multifocal desorganizada da Fibrilação Atrial.
Figura 71: ECG de 12 derivações do Flutter Atrial típico. Note o padrão serrilhado da linha de base do ECG.
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Arritmias Ventriculares
1. Conceitos
Figura 75: Bigeminismo ventricular: Para cada batimento sinusal, nota-se uma extra-sístole ventricular
(1 QRS estreito, 1 QRS alargado).
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São definidas como taquicardias de QRS largo, aquelas em que a duração do complexo QRS é
superior a 120 ms. Na maioria desses eventos, temos como diagnóstico a taquicardia
ventricular. Porém, existem quatro causas frequentes para a duração aumentada do QRS nos
episódios de taquicardias de QRS largo. Seu mecanismo e o traçado eletrocardiográfico
correspondente ficam mais claros ao analisarmos a ativação ventricular inicial.
Figura 76: Circuito arritmogênico no miocárdio ventricular esquerdo, reentrante. Taquicardia regular, de
QRS largo. Sistema His-Purkinje ativado passivamente.
NS: Nó sinusal; NAV: Nó átrio-ventricular; VT: Valva tricúspide; VM: Valva mitral; HIS: Tronco do feixe de
His; RD: Ramo direito; RE: Ramo esquerdo.
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Figura 77: Circuito arritmogênico mediado por via acessória (VA). A ativação ventricular inicial ocorre no
miocárdio (condução lenta), próximo à inserção da VA (área sombreada). Assim, o QRS já é alargado
desde o seu início. O circuito se completa após o estímulo ativar o sistema His-Purkinje retrogradamente,
i.e., de baixo para cima, e ao retornar aos átrios, desce novamente pela via acessória: a condução é
chamada de ANTIDRÔMICA (circuito em verde-claro).
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• Morfologicamente:
o De acordo com o padrão de bloqueio de ramo (direito ou esquerdo)
o Monomórfica ou polimórfica (apenas uma ou mais de uma morfologia de
QRS registrada pela mesma derivação)
• Em relação à regularidade:
o Regulares:
▪ Taquicardia ventricular (TV): cerca de 80% dos casos
▪ Taquicardia supraventricular (TSV) de condução aberrante: cerca de
14%
▪ Taquicardia antidrômica: 4,5%
o Irregulares:
▪ Taquicardia ventricular polimórfica (torsades de pointes)
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Figura 80: Algoritmo para o diagnóstico diferencial das taquicardias de QRS alargado, regulares e
irregulares.
70
O algoritmo de Brugada (fig. 82), consagrado na literatura por sua acurácia, coloca de forma
ordenada 4 características eletrocardiográficas para diagnóstico diferencial entre taquicardia
ventricular (TV) e taquicardia supraventricular (TSV) com aberrância. Tais critérios devem ser
pesquisados sequencialmente. Quando obedecido o fluxo sugerido por esse algoritmo passo-
a-passo, atingimos uma sensibilidade de 98% e especificidade de 96% para reconhecer a
etiologia da taquicardia de QRS largo.
71
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Figura 83: Taquicardia regular de QRS largo, FC 214 bpm. Notar a ausência de ondas R (portanto RS)
de V1 a V6. Ativação ventricular inicial é NEGATIVA, gerando complexos QS. Achado 100% específico de
taquicardia ventricular
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Figura 84: Avaliação das derivações precordiais em taquicardia de QRS largo, com morfologia de BRD
(notar V1 positivo). De V3 a V6, notamos complexos RS e descartamos o critério 1. A aferição do início
da R ao ponto mais profundo da S mostra em V6, RS curto (80ms) sugerindo arritmia supraventricular.
Porém, V4 mostra RS 160ms (maior que 100ms), confirmando critério para TV.
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Figura 85: Tira de ritmo, derivação DII em destaque. Ondas atriais “P” visíveis de maneira ocasional
entre complexos QRS. Prova de dissociação ventricular (achado presente em ¼ dos casos de TV).
Figura 86: Taquicardia regular, de QRS largo, com FC: 150 bpm. As precordiais V1 e V6 são compatíveis
com morfologia de bloqueio de ramo esquerdo. Taquicardia de origem ventricular (região de via de
saída do ventrículo direito em paciente com coração estruturalmente normal).
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Se os três primeiros critérios não definiram o diagnóstico de TV, utilizamos o quarto critério,
analisando a morfologia dos complexos QRS em V1-V2 e V6. Primeiro, definimos se a
morfologia se assemelha a um padrão de bloqueio de ramo direito ou esquerdo (Fig. 87). Em
seguida, análise minuciosa dos complexos QRS. Se as características que sugerem taquicardia
ventricular não forem contempladas, ficamos com o diagnóstico de taquicardia
supraventricular.
Figura 87: Padrão morfológico das Taquicardias de QRS alargado. BRE= Bloqueio de Ramo Esquerdo;
BRD= Bloqueio de Ramo Direito.
Outros achados muito úteis nas taquicardias de QRS largo, de fácil memorização, foram
propostos por Wellens e col. Seguem os tópicos mais utilizados:
76
Figura 88: Traçados A e B, mostrando taquicardias de QRS largo regulares, com concordância positiva
nas derivações precordiais (V1-V6). Ambos pacientes portadores de cardiopatia chagásica, submetidos a
estudo eletrofisiológico invasivo por síncope de etiologia a esclarecer. Confirmada taquicardia
ventricular nos dois casos.
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Figura 89: Durante registro de ritmo sinusal, observa-se início de taquicardia irregular de QRS largo,
polimórfica, não-sustentada, do tipo torsades de pointes (“torção das pontas”). Observe a inversão de
polaridade do QRS na derivação aVR, inicialmente positiva, com transição para negativa ao final da
arritmia. DII registra o QRS da arritmia inicialmente negativo, com transição para positiva.
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Leitura adicional:
1. Akhtar M, Shenasa M, Jazayeri M, Caceres J, Tchou PJ. Wide QRS complex tachycardia. Reappraisal of a
common clinical problem. Ann Intern Med. 1988;109(11):905‐912. doi:10.7326/0003-4819-109-11-
905.
2. P Brugada, J Brugada, L Mont, J Smeets, E W Andries. A new approach to the differential diagnosis of a
regular tachycardia with a wide QRS complex. Circulation. 1991; 83:1649–1659. doi:
10.1161/01.cir.83.5.1649.
3. Wellens HJ. Ventricular tachycardia: Diagnosis of broad QRS complex tachycardia. Heart 2001; 86:579-
585. doi: 10.1136/heart.86.5.579.
80
1. Introdução
Do ponto de vista didático, podem-se dividir entre alterações agudas e crônicas de isquemia
coronariana, assim como classificá-las de acordo com a localização anatômica da isquemia.
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Artéria descendente
anterior – IAM de
parede septal e
anterior
Artéria coronária direita –
IAM inferior
Figura 92: Territórios irrigados pelas principais artérias coronárias e seus ramos, assim como nomenclatura usual
das paredes acometidas, quando avaliadas pelo eletrocardiograma.
Nestas patologias ocorre isquemia cardíaca súbita, podendo ocorrer por oclusão total de uma artéria
coronária ou seus ramos, ou então por obstruções parciais ou também de microcirculação.
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Tal infarto é decorrente de oclusão completa de uma artéria coronária ou sub-ramo, causando
inicialmente alteração de repolarização ventricular típica, o supradesnível do segmento ST da parede
acometida.
O supradesnível deve ser aferido tomando-se como parâmetro a linha de base do ECG, considerado
patológico quando há desnível maior que 1,0 mm em pelo menos duas derivações contíguas. Vale
ressaltar que nas derivações V2 e V3 considera-se supradesnível patológico quando maior que 1,5 mm
para mulheres e maior que 2 mm para homens (na ausência de bloqueio de ramo).
Caso não seja adequadamente tratado com reperfusão, as alterações progridem, com sinais
progressivos no segmento ST (repolarização) até sinais tardios de isquemia (necrose) com surgimento
de onda Q profunda, também chamada de onda Q patológica.
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Figura 95: IAM com supra-ST de parede posterior e lateral, com supradesnível discreto em avL e infradesnível na
parede inferior. Tal infradesnível corresponde a “imagem espelho”, podendo as derivações posteriores V7 e V8
evidenciarem o supradesnível. Para isso é necessário o registro de um novo traçado com as derivações especiais.
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Essas alterações isquêmicas ocorrem quando existe isquemia miocárdica, persistente ou transitória,
contudo sem obstrução completa do fluxo sanguíneo para uma determinada porção do músculo
cardíaco.
Tais alterações podem ser transitórias ou persistentes, normalmente acometendo o segmento ST e
ondas T em pacientes com dor torácica, devido às alterações de perfusão afetarem principalmente a
repolarização ventricular.
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Figura 97: ECG de 12 derivações evidenciando isquemia subepicárdica anterolateral. Presença de ondas T
invertidas e simétricas nas derivações precordiais, compatíveis com alterações isquêmicas em paciente com
infarto do miocárdio SEM supradesnível de segmento ST.
** Este material didático é uma versão eletrônica simplificada de apoio para os alunos que
realizam o curso extensivo “ECG de Ponta a Ponta”.
Este conteúdo é protegido e todos os direitos são reservados ao Medclass e ao Grupo
Eletrofisiologia Cardíaca Londrina.
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