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ANEXO VI
(Resolução no 75/2009 CNJ)
NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
SOCIOLOGIA DO DIREITO
1. Introdução à sociologia da administração judiciária. Aspectos geren-
ciais da atividade judiciária (administração e economia). Gestão.
Gestão de pessoas.
2. Relações sociais e relações jurídicas. Controle social e o Direito. Trans-
formações sociais e Direito.
3. Direito, Comunicação Social e opinião pública.
4. Conflitos sociais e mecanismos de resolução. Sistemas não-judiciais de
composição de litígios.
PSICOLOGIA JUDICIÁRIA
1. Psicologia e Comunicação: relacionamento interpessoal, relaciona-
mento do magistrado com a sociedade e a mídia.
2. Problemas atuais da psicologia com reflexos no direito: assédio moral
e assédio sexual.
3. Teoria do conflito e os mecanismos autocompositivos. Técnicas de
negociação e mediação. Procedimentos, posturas, condutas e meca- 3
nismos aptos a obter a solução conciliada dos conflitos.
4. O processo psicológico e a obtenção da verdade judicial. O compor-
tamento de partes e testemunhas.
FILOSOFIA DO DIREITO
1. O conceito de Justiça. Sentido lato de Justiça, como valor universal.
Sentido estrito de Justiça, como valor jurídico-político. Divergências
sobre o conteúdo do conceito.
2. O conceito de Direito. Equidade. Direito e Moral.
3. A interpretação do Direito. A superação dos métodos de interpretação
mediante puro raciocínio lógico-dedutivo. O método de interpretação
pela lógica do razoável.
Análise da Questãox
Dentre os pontos do anexo VI da Resolução 75 do CNJ, a questão espraia-se
pelos conteúdos da área de Sociologia do Direito, com destaque no
item 2, especialmente na relação Controle social e o Direito. Cuida-se
de questão discursiva a respeito de um dos principais pontos de direito
penal. A bem da verdade, o enunciado exige a elaboração de um curto
texto versando sobre a sanção penal com ênfase na teleologia desse insti-
tuto, ou seja, nesta indagação: penalizamos o delinquente para quê? Com
esse desiderato, o candidato deverá organizar-se. Um pequeno planeja-
mento, por mais improvisado que seja, ajudará – e muito – no momento
de organizar o raciocínio para confeccionar a melhor resposta. Nesse
eito, um bom texto poderia ser dividido em três partes. Primeiro, uma
breve noção de sanção penal é ponto importante que deve anteceder a
segunda parte, consubstanciada na descrição das principais teorias que
tratam de sua finalidade. Por fim, a exposição da visão kantiana dispo-
nível na obra Metafísica dos Costumes1. Vejamos, a seguir, uma sugestão
de resposta com base na qual o candidato poderia orientar-se.
Resposta Possível
Porque um sistema sem coerção não pode ser jurídico, a sanção é
1 Boas traduções para português foram publicadas em Lisboa pela Edições 70 (dois volumes), no Brasil, pela
EDIPRO.
2 A Comissão Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) estabelece: “As penas privativas
da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados” (art. 5o, 6).
3 A propósito da justiça corretiva, escreveu Aristóteles: “Mas a justiça nas transações entre um homem e outro
é efetivamente uma espécie de igualdade, e a injustiça uma espécie de desigualdade; não de acordo com
essa espécie de proporção, todavia, mas de acordo com uma proporção aritmética. (...) no caso em que
um recebeu e o outro infligiu um ferimento, ou um matou e o outro foi morto, o sofrimento e a ação foram
desigualmente distribuídos; mas o juiz procura igualá-los por meio da pena, tomando uma parte do ganho
do acusado” (Ét., 1.132 a 5).
4 CP, art. 59 – “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
5 LEP (Lei 7.210/1984): “Art. 1o A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”; “Art. 22.
A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade.”
6 A pena – diz Kant – “jamais pode ser infligida meramente como um meio de promover algum outro bem
a favor do próprio criminoso ou da sociedade civil. Precisa sempre ser a ele infligida somente porque ele
cometeu um crime...” (KANT, 2003, p. 174).
7 Eis a terceira formulação do imperativo categórico kantiano: “Age de tal maneira que uses a humanidade,
tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca
simplesmente como meio” (KANT, 1988, p. 69). Observo que algumas traduções em substituição ao termo
“nunca”, usam a expressão “não apenas”.
8 ‘É melhor que um homem morra do que pereça um povo inteiro.’ Se a justiça desaparecer não haverá mais
valor algum na vida dos seres humanos sobre a Terra” (KANT, 2003, p. 175).
9 “Mas somente a Lei de Talião (ius talionis) – entendida, é claro, como aplicada por um tribunal (não por
teu julgamento particular) – é capaz de especificar definitivamente a qualidade e a quantidade de punição;
todos os demais princípios são flutuantes e inadequados a uma sentença de pura e estrita justiça, pois neles
estão combinadas considerações estranhas” (KANT, 2003, p. 175).
Conceitos Relevantes
Imperativo categórico: enunciação da estrutura formal de nossos juízos morais10.
Cuida-se de um enunciado prático, que, diferente do teórico, não diz o que é, mas
o que deve ser. Categórico é o imperativo que expressa uma ação que deve ser
por si mesma, independente de qualquer finalidade (Imperativo categórico. In:
CAYGILL, 2000). Como se pressente, a moral kantiana, longe de ser teleológica,
é tipicamente deontológica. Em sua primeira formulação, eis o IC: age apenas
segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal (KANT, 1988). É a lei moral kantiana. Toda ação possui valor moral, é boa
em si mesma, se pudermos querer que ela ser torne uma lei universal.
Metafísica dos Costumes: trata-se da denominação kantiana, em oposição à filo-
sofia especulativa (meramente teórica), da filosofia prática (conhecimento ético e
político), estabelecida a partir do dever ser, daquilo que deve ocorrer, mesmo que
não ocorra. Noutras palavras, a filosofia das ações humanas preconiza como elas
devem ser, não como são efetivamente.
Pena: sanção penal imposta pelo Estado ao culpado pela prática de uma infração
penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico de acordo com a
culpabilidade. Segundo o Código Penal, as penas são: a) privativas de liberdade
(reclusão e detenção); b) restritivas de direitos (prestação pecuniária, perda de bens
e valores, prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição
8 temporária de direitos, limitação de fim de semana); c) de multa. A Constituição
proíbe as penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada; b) de caráter per-
pétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis (CF, art. 5o, XLVII).
Sanção: no âmbito jurídico, dois significados: (i) ato praticado pelo Presidente da
República após aprovação do projeto de lei (CF, art. 66, caput e § 1o); (ii) meio
coercitivo imposto pelo Direito como consequência da não observância de seus
mandamentos. Nessa segunda acepção, as sanções podem ser civis, administra-
tivas, penais; repressivas ou preventivas.
Sanção penal: consequência decorrente da violação da norma penal incriminadora.
Trata-se de sanção penal repressiva cujas espécies são: pena, medida de segurança
e medidas alternativas. Quanto à primeira, vide página anterior. Medida de segu-
rança é a sanção penal destinada ao inimputável ou ao semi-imputável de acordo
com sua periculosidade. Medidas alternativas não são penas, mas se inserem no
gênero sanções penais, pois constituem consectários da violação da norma penal,
exemplos delas são a composição dos danos civis, a transação penal e a suspensão
condicional do processo (Lei no 9.099/1995, respectivamente arts. 72 a 75, 76 e 89).
10 “Embora a representação de um objeto que comanda a Vontade seja um mandamento, a fórmula de tal
mandamento é um imperativo” (Imperativo. In: CAYGILL, 2000).