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COLHEITAS DE AMOSTRAS PARA DIAGNÓSTICO DE ISTs.

1.1 TRACTO GENITAL


1.1.1 TRACTO GENITAL FEMININO
A flora vaginal normal inclui uma grande variedade de microrganismos, tanto aeróbios como
anaeróbios, pelo que a interpretação das culturas do trato genital feminino, implica um conhecimento
profundo da flora comensal autóctone e envolve uma separação dos comensais dos eventualmente
patogénicos.

As amostras para cultura de N. gonorrhoeae devem ser obtidas diretamente do cervix uterino. As
culturas para anaeróbios não devem ser efetuadas, com exceção de líquido de abcessos aspirado por
seringa e agulha de um abcesso perivaginal. Outras infeções e síndromes, como tricomoníase,
candidiase, e vaginose bacteriana envolvendo vários anaeróbios, Gardnerella vaginalis, Mobiluncus
spp. e Mycoplasma hominis, podem ser diagnosticados por exame direto, coloração de Gram, e outros
testes.

As amostras vaginais de raparigas prepubescentes podem ser cultivadas para determinar o agente
etiológico de vulvovaginite prémenarcal ou de uma doença sexualmente transmitida.

Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento de vulvaginites nas raparigas: diferença
anatómicas na vagina imatura, um pH neutro que facilita o sobre crescimento bacteriano, e uma falta
de higiene pessoal, resultando assim na contaminação fecal das áreas vulvar e uretral. A maioria das
doenças sexualmente transmissíveis nas raparigas em pré-puberdade causa vaginite em vez de
cervicite. Uma amostra de qualquer descarga que possa estar presente pode ser enviada para cultura
bacteriana. Para as crianças com descarga mínima, é necessária uma amostra intravaginal.

1.1.1.1 Exsudados Vaginais


Material Necessário:
• Zaragatoa com meio de transporte
• Zaragatoa sem meio de transporte
• Espéculo estéril (opcional)

Técnica:
Não deve haver higiene nas 2 horas prévias à colheita.
O facto de ter realizado higiene regular não invalida a realização da
colheita. (adicionar nas notas do LIS)

A colheita deve ser feita preferencialmente em posição ginecológica.


Nunca realizar colheita com espéculo estéril, em grávidas ou virgens.
Com a paciente em posição ginecológica, introduzir, se disponível, um espéculo «sem lubrificante».
Colher a amostra sob observação direta, com uma zaragatoa, da zona de maior exsudado ou na sua
ausência, do fundo do saco vaginal posterior. Repetir a operação com uma segunda zaragatoa.
Na ausência de espéculo, com a paciente em posição ginecológica, introduzir, zaragatoa nas regiões
descritas acima.

Obter-se-ão duas zaragatoas, uma destinada ao estudo microscópico e outra à cultura.

Para pesquisa de agentes de IST’s por Biologia Molecular podem ser colhidas em alternativa amostras
de urina.

Nota: A pesquisa de estreptococos Beta-hemolíticos do grupo B em grávidas, não deve ser feita com

espéculo, basta colher com zaragatoa e colocar em meio de transporte.

Transporte e conservação:
O envio das amostras deve ser imediato sempre que seja possível e não demorar mais de 2 horas.
Não refrigerar as amostras.

Observações:
Embora ocasionalmente possa isolar-se N. gonorrhoeae de amostras vaginais, esta não é a
localização habitual da infeção, pelo que não se deve eliminar essa possibilidade com um exame
cultural do exsudado vaginal normal. Quando se suspeite de infeção por Neisseria gonorrhoeae,
Chlamydia trachomatis, Mycoplasma hominis ou Ureoplasma urealyticum, deverá enviar-se
uma amostra endocervical.

Neisseria gonorrhoeae é encontrada nos exsudados, enquanto as Chlamydia são intracelulares e


infetam células específicas.

Não devem utilizar-se nos dias prévios à recolha da amostra, soluções antissépticas vaginais, óvulos
nem pomadas.

1.1.1.2 Exsudados endocervicais


Material necessário:
• Espéculo estéril
• Zaragatoas com meio de transporte
• Zaragatoas e meio de transporte específicos para Mycoplasma
• Zaragatoas e recipientes específicos para pesquisa de microrganismos por Biologia Molecular
Técnica:
Com a paciente, de preferência, em posição ginecológica, introduzir suavemente o espéculo sem
lubrificante (podendo ser molhado em água morna).

Limpar o exocervix do muco e secreções vaginais com uma zaragatoa seca e descartar a zaragatoa.

Sob observação direta, comprimir levemente o cervix com os bordos do espéculo e introduzir uma
zaragatoa no canal endocervical, fazendo suaves movimentos de rotação com a zaragatoa de modo a
obter o produto da região endocervical. Repetir a operação com uma segunda zaragatoa.

Para a investigação de Mycoplasma e pesquisa de ISTs por metodologias moleculares, colher com
uma zaragatoa com meio de transporte específico. Para a pesquisa destes agentes é necessário rodar
bem a zaragatoa de encontro às paredes, a fim de obter quantidade de células suficiente.

Para pesquisa de agentes de IST’s por Biologia Molecular podem


ser colhidas em alternativa amostras de Urina.

Transporte e conservação:
O envio da amostra deve ser imediato sempre que possível e não
demorar mais de 2 horas. As zaragatoas têm de ser enviadas em
meio de transporte á temperatura ambiente. Não refrigerar.

Não se pode garantir a viabilidade de Neisseria gonorrhoeae


passadas 6 – 8 horas.

Deve evitar-se o uso de zaragatoas de algodão, já que contém


ácidos gordos que podem inibir o desenvolvimento de N.
gonorrhoeae (utilizar-se-ão de alginato de cálcio ou dacron).
1.1.2 TRACTO GENITAL MASCULINO
1.1.2.1 Exsudados Uretrais

Material
• Zaragatoas uretrogenitais com meio de transporte

Técnica:
Quando existe exsudado franco, abundante, pode colher-se exsudado com uma zaragatoa, o
exsudado deve estimular-se espremendo a uretra. A colheita deve ser feita sempre em laboratório.

Quando não se obtenha exsudado, deve-se introduzir uma zaragatoa suavemente com um movimento
de rotação, até penetrar uns 2 cm dentro da uretra (3 – 4 cm para a investigação de Chlamydia
trachomatis).
Se possível, nos pedidos de cultura convencional, repetir a operação com uma segunda zaragatoa.

Para pesquisa de agentes de IST’s por Biologia Molecular podem ser colhidas em alternativa amostras
de Urina.

Transporte e conservação:
Deve ser imediato e nunca ser superior a 2 horas. As zaragatoas têm de ser enviadas sempre em meio
de transporte.

Não refrigerar a amostra. Enviar à temperatura ambiente.

A amostra deve ser colhida preferencialmente, antes da primeira micção da manhã, ou pelo menos 1
hora depois do paciente ter urinado.

Observações:
O diagnóstico de gonorreia nos homens pode frequentemente ser confirmado
pela coloração de Gram do exsudado uretral.

Para as mulheres, a confirmação pela coloração de Gram nas secreções


vaginais ou cervicais não é possível porque algumas espécies não
patogénicas da vagina podem assemelhar-se morfologicamente aos
diplococos de N. gonorrhoeae.

Neisseria gonorrhoeae é nutricionalmente exigente e muito sensível e frágil


ao meio ambiente, e não pode tolerar temperaturas frias ou falta de CO2.
Em conjunto com o teste para N. gonorrhoeae, considerar também uma pesquisa para Chlamydia
porque este agente é frequentemente encontrado em pacientes com uretrites.

A escolha do tipo de zaragatoa é crítica. Verificar a embalagem ou contactar o laboratório para


determinar que tipo de zaragatoas (algodão, alginato de cálcio ou Dacron) devem ser usadas com o
procedimento selecionado.

1.1.3 AMOSTRAS PARA O ESTUDO DE CHLAMYDIA TRACHOMATIS E MYCOPASMA


SP.
Amostras para pesquisa direta de Chlamydia trachomatis
As amostras adequadas não são as secreções, já que C. trachomatis só afeta as células colunares do
epitélio de transição do cervix. Não são adequadas amostras vaginais para estas determinações

A amostra é colhida rodando energicamente a zaragatoa de encontro às paredes, a fim de obter


quantidade de células suficiente. Basta uma zaragatoa com meio de transporte específico destinado
exclusivamente ao estudo de Chlamydia.

Durante o transporte, as amostras endocervicais e uretrais podem ser conservadas entre 2º e 25º C
durante 8 horas. Logo após a recepção, o laboratório deve colocar as amostras entre 2º e 8º C e
analisá-las nos 7 dias subsequentes. Não congelar.

Amostras para pesquisa directa de Mycoplasmas urogenitais


Seguem-se as mesmas instruções que para as amostras de Chlamydias. Com a diferença de o meio
de transporte específico ser outro e destinado exclusivamente para o estudo dos Micoplasmas
urogenitais.

O tempo de conservação do Mycoplasma semeado em R1 (Caldo com elementos nutritivos estáveis,


necessários para a preparação da amostra), 18º e 25ºC durante 5 horas, 2º e 8º C durante 48 horas
1.2 COLHEITA DE AMOSTRAS PARA DIAGNÓSTICO DE ISTs.

LOCALIZAÇÃO MODO DE COLHEITA MATERIAL NECESSÁRIO COMENTÁRIOS

Insira a zaragatoa 2-3 cm no canal


Cultura NG: swabs de
anal. Pressione lateralmente para Dacron ou rayon com
evitar colher apenas matéria fecal e meio de transporte tipo
ANAL favorecer a obtenção de células
Stuart-Amies com
/ epiteliais. Rode a zaragatoa durante carvão ativado.
RECTAL 10-30 segundos. Se for encontrada
contaminação fecal visível, descarte TAAN: zaragatoas
específicas e recipientes
a zaragatoa e obtenha uma nova
amostra. específicos.

TAAN e Pesquisa de
Use um espéculo não lubrificado Micoplasmas:
para visualizar o colo do útero. zaragatoas específicas e
CÉRVIX (ENDO Limpe o muco cervical com um recipientes específicos
CERVIX) cotonete seco e descarte-o. Insira o
Citologia: Zaragatoa
cotonete 2 a 3 cm no canal cervical e
especifica e meio
gire por 5 a 10 segundos.
líquido

Homens: Usar zaragatoas finas com


uma haste de arame ou plástico Cultura NG: swabs de
(flexível). Dacron ou rayon com
meio de transporte tipo O paciente não deve ter
-Caso haja secreção, colha amostra
Stuart-Amies e carvão urinado na hora anterior à
URETRA da secreção com zaragatoa.
ativado. colheita da amostra. Enviar a
-Na ausência de amostra refrigerada (4ºC).
TAAN: zaragatoas
secreção, insira a zaragatoa 2-3 cm e
específicas
gire 5 a 10 segundos.
Mulheres: - Limpar com gaze estéril
ou cotonete.

-Estimular a secreção mediante


massagem da uretra contra a sínfise
pubis, através da vagina.

Use um depressor de língua para


visualização correta e gire a
TAAN: zaragatoas Evitar contaminação com a
zaragatoa por 5 a 10 segundos.
específicas e recipientes microbiota das mucosas e da
FARINGE
Colher da região dos pilares específicos língua. Enviar a amostra
tonsilares, faringe posterior e áreas refrigerada (4ºC).
ulceradas, inflamadas ou com
exsudado purulento.

Limpar a superfície da lesão com


gaze humedecida com soro
fisiológico estéril. Evitar aplicação
TAAN: zaragatoas
prévia de antissépticos.
ÚLCERA específicas e recipientes
GENITAL Na presença de uma vesícula, aspirar específicos
o conteúdo com uma seringa. Na
ausência de vesículas, esfregue
vigorosamente a base da lesão com
a zaragatoa (sem sangrar).

Colheita com espéculo (sem


Para cultura: O exsudado vaginal é ideal
lubrificante): Recolha a amostra da
Zaragatoas de Dacron para a recuperação de
área onde o exsudato é mais
ou rayon com meio de Candida spp. e TV.
abundante.
transporte tipo Stuart-
Na ausência de exsudato, colher Se suspeita de infeção por
Amies.
VAGINA NG ou CT, deve ser colhido
uma amostra do fundo do saco
vaginal posterior. um exsudado endocervical
TAAN: zaragatoas
(exceto em mulheres
específicas. Enviar a
Colheita sem espéculo: colher uma
histerectomizadas em que a
amostra refrigerada
amostra da região do fundo do saco
colheita deve ser realizada
(4ºC).
vaginal posterior.
no fórnice posterior).
Para testes serológicos.
Desinfete a área onde a punção
Tubo de vácuo com Deve ser aconselhada a
SORO venosa será realizada, obtenha 5-10
separador de soro serologia para sífilis e HIV
mL de sangue total
em todos os pacientes com
suspeita de IST.

Exclusivamente para técnicas


TAAN.

Micção espontânea. A colheita de volumes


Tubo de vácuo para superiores a 20 mL dilui a
URINA Obtenha 10 mL de urina da porção
urina sem conservantes amostra e pode afetar a
inicial.
sensibilidade dos ensaios.
Enviar a amostra refrigerada
(4ºC).

NOTA: o sêmen não é uma amostra adequada para o estudo de ISTs, nem para diagnóstico molecular uma vez que
possui muitos inibidores e pode dificultar o diagnóstico.

TAAN – Técnicas de amplificação de ácidos nucleicos (Biologia Molecular); TV – Trichomonas Vaginalis; CT – Chlamydia Trachomatis; NG – Neisseria
Gonorrhoeae, Swab - Zaragatoa

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