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Mayombe
Pepetela
Foco narrativo
A obra é organizada em seis capítulos nos quais há variação do foco narrativo
– um narrador onisciente e onipresente se intercala com as personagens,
guerrilheiros do MPLA, no papel de narrador da história. Com isso, Pepetala
demonstra que nem mesmo a revolução se organiza como um conjunto, sendo
enxergada de forma diferente e conflitante pelos seus próprios membros. Cada
um desses observadores-participantes, com origem, ideologia, visão e
propostas próprias, possuem também ideais distintos que os impedem de lutar
pela mesma unidade libertadora.
Tempo
“O Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o
comunicado e… o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e
eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro”, escreve
o autor numa obra híbrida entre o romance e a reportagem.
Enredo
O livro é dividido em seis capítulos: A Missão; A Base; Ondina; A Surucucu; a
Amoreira e o Epílogo. Os personagens são nomeados como alegoria de
guerra conforme os objetivos do MPLA. Assim, temos o personagem Sem
Medo (o comandante), Teoria (o professor), Verdade e Lutamos
(destribalizados) e Mundo Novo, representante da elite africana que vai
estudar fora de seu país, entre outros.
Interessante notar que Ondina é a personagem que não tem voz na narrativa
de Pepetela, o que reflete a crítica para a desigualdade de gênero na luta
instaurada em Angola por libertação e justiça.
Análise
A obra é uma reflexão, envolta pelos ideais socialistas, sobre a dura realidade
da sociedade angolana, sobre as perspectivas do movimento de libertação e
da população local em relação aos princípios conflitantes do MPLA.
Cada personagens luta a seu modo por seus ideais de libertação. Em meio a
isso, vimos uma Angola despedaçada e sem unidade. O livro procura retratar
esse desfacelamento e critica as lutas de grupos que não se unem por um
ideal comum.
Conexões
Ao retratar a luta de tribos em busca da libertação de seu país, Mayombe pode
ser comparado ao romance indianista Iracema, de José de Alencar. Ambas
apresentam conflitos entre tribos e a tentativa de se isolar do colonialismo
português
Livro Mayombe, de Pepetela
Mayombe é um livro do escritor angolano Pepetela (1941). O romance foi escrito entre 1970 e
1971, quando o autor participava da guerrilha pela libertação da Angola, e publicado em 1980.
Narra a história de um grupo de guerrilheiros na província de Cabinda, junto à fronteira do
Congo.
A guerra colonial
O tema central do romance é a guerra pela independência da Angola. O conflito entre diversos
grupos angolanos com as tropas portugueses durou mais de 13 anos. A luta armada teve
diversas frentes e elementos. Os grupos que defendiam a independência da Angola tinham
características muito diferentes entre si.
O tribalismo
"Somos nós, com a nossa fraqueza, o nosso tribalismo, que impedimos a aplicação da
disciplina. Assim nunca mudará nada."
O MPLA
O MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola, foi e continua sendo uma das
figuras mais importantes da política da Angola. Foi fundado nos anos 1950 pela
união de diversos movimentos nacionalistas angolanos. O movimento organizou
uma luta armada em uma guerrilha de linha marxista-leninista. A luta da guerrilha
estava associada ao movimento político e à doutrinação. A própria linha de
comando dava conta do aspecto militar e ideológico.
Toda essa organização tem os seus conflitos e apoios internos. A visão política e as
leituras diferente da realidade se misturam com o tribalismo numa construção de
relacionamentos extremamente complexa. O centro catalisador das relações é o
comandante Sem Medo.
"Sem Medo resolveu o seu problema fundamental: para se manter ele próprio, teria de
ficar ali, no Mayombe. Terá nascido demasiado cedo ou demasiado tarde? Em todo o
caso, fora o seu tempo, como qualquer herói de tragédia"
As outras personagens orbitam em volta de Sem Medo, que acaba por mediar todas
as relações. Uma das mais importantes é a do Comissário João com a sua noiva, a
professora Odina. Após ser "traído", rompe relações com ela.
O Mayombe
Resumo
A missão
A base
""Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas
transformaram-se fortalezas"
Depois do Comissário encontrar André, que promete levar alimentos para a base,
ele volta para o Mayombe, onde tem uma conversa com Sem Medo sobre a escassez
da comida e o seu relacionamento com Ondina.
Ondina
Porém, junto com o alimento também chegam notícias de Dolisie: Ondina foi pega
tendo relações com André. Todos ficam preocupados com o Comissário,
principalmente o Comandante Sem Medo. Ondina envia uma carta para o
Comissário, contando sobre a sua traição.
O Comissário tenta partir imediatamente para Dolisie, mas Sem Medo o impede. No
dia seguinte, Sem Medo e o Comissário partem para a cidade. Por conta da traição,
André é afastado do seu cargo de dirigente e Sem Medo tem que assumir as suas
funções na cidade.
Em Dolisie, o Comissário procura logo por Ondina e, mesmo tendo relações sexuais,
ela se recusa a reatar com o guerrilheiro. Ele procura Sem Medo para que ele
converse com Ondina. O diálogo também não é favorável para o Comissário. Na
verdade Sem Medo compreende o que acontece entre os dois e sabe que uma
reconciliação agora é impossível.
A surucucu
Enquanto o Comissário volta para a base, Sem Medo fica na cidade com Ondina. Os
dois passam bastante tempo conversando sobre relacionamentos e o Comandante
conta sobre Leli, uma mulher com que ele se envolveu há alguns anos e que foi
morta quando tentou ir ao seu encontro.
Sem Medo prepara uma operação para retalhar o ataque. Ele consegue juntar
muitos homens, entre os militantes e os civis que vivem em Dolisie, e se direcionam
para a base. Os momentos que antecedem a chegada são muito tensos, porém, ao
alcançar a base, eles descobrem que ela não foi atacada.
Na verdade Teoria encontrou uma cobra enquanto tomava banho e disparou contra
ela, assustando Vêwe, que achou que os tiros eram dados pelos portugueses. Sem
Medo começa a planejar um ataque à base portuguesa, sabendo que é só questão
de tempo até os "tugas" encontrarem os guerrilheiros.
A amoreira
Quando Sem Medo chega à cidade, ele encontra um dirigente que lhe dá novas
ordens. O Chefe de Operações, Mundo Novo, assumirá as suas funções na cidade e,
depois do assalto à base portuguesa, Sem Medo será direcionado para abrir uma
nova frente de luta no leste do país, enquanto o Comissário se tornará o
comandante da operação.
O ataque ao Pau Caído começa a ser planejado. Eles se direcionam para a base no
Mayombe de onde eles partem para o assalto. O Comandante deixa o Comissário
assumir a operação para prepará-lo para assumir o controle. A emboscada é
preparada e o ataque é um sucesso. Para proteger o Comissário do ataque, Sem
Medo é ferido gravemente e um outro guerrilheiro morre.
"Lutamos, que era cabinda, morreu para salvar um kimbundo. Sem Medo, que era
kikongo, morreu para salvar um kimbundo. É uma grande lição para nós, camaradas"
Prontos para se retirarem, os guerrilheiros percebem que Sem Medo não vai
sobreviver aos ferimentos, param e esperam ele morrer. Depois o enterram no
mesmo local, bem ao lado de uma grande amoreira. O tribalismo foi superado pois
tanto Sem Medo como o outro guerrilheiro que morreu eram de etnias diferentes do
Comissário.
Epílogo
O livro termina com o Comissário na nova frente, no lugar de Sem Medo. Refletindo
sobre a vida e sobre a sua relação com o falecido amigo.
Questões
Questões 1ª fase – Fuvest 2017
Questão 2
Questão 3
Questão 2ª fase – Fuvest 2017
Gabarito 1ª Fase
Questão 1 – A
Nessa questão, o candidato deveria identificar, na narração dos momentos
finais de Sem Medo, uma reflexão presente em toda a obra: a relação entre o
coletivo e o indivíduo. Nas reflexões de Sem Medo acerca das árvores
destaca-se a individualidade dos troncos e coletividade dispersa em suas
copas que se confundem, nas folhas. Assim seria a vida dos homens e de seu
grupo do MPLA: um eterno conflito polifônico entre valores, desejos e
ideologias individuais e coletivas.
Questão 2 – D
Nessa questão, de literatura comparada, o candidato deveria identificar qual
outra personagem apresentava o mesmo comportamento consciente da
relação entre o individual e o coletivo. Dentre as alternativas, facilmente
destacava-se Pedro Bala, de Capitães da areia, como podemos identificar no
final do romance, principalmente depois do protagonista envolver-se com o
estudante Alberto.
Questão 3 – C
A floresta pluvial encontrada em Mayombe é típica das regiões equatoriais,
com vegetação densa, latifoliada e perenifólia, adaptadas ao clima quente e
úmido, assemelhando-se à Floresta Amazônia, no norte do Brasil.
Gabarito 2ª Fase
REFErências
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/mayombe-analise-da-obra-de-pepetela/