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Capítulo 2

O Sistema Empresa com o Objetivo da Eficácia

A s organizações empresariais i n t e r a g e m c o m a socieda- " . . .os sistemas abertos envolvem a ideia de que
de de m a n e i r a completa. A empresa é n m sistema e m determinados inputs são introduzidos no siste-
que há recursos i n t r o d u z i d o s , que são processados, e h á ma e, processados, geram certos outputs. C o m
a saída de p r o d u t o s o u serviços. U m a empresa é consi- efeito, a empresa vale-se de recursos materiais,
derada u m sistema aberto e m razão de sua interação humanos e tecnológicos, de cujo processamen-
c o m a sociedade. Esta interação p r o v o c a influência nas to resultam bens o u serviços a serem fornecidos
pessoas, a u m e n t o nos padrões de v i d a e o d e s e n v o l v i - ao mercado."^
m e n t o da sociedade.
Essa visão da empresa c o m o u m sistema aberto, con-
f o r m e mostra a F i g u r a 2.1, ressalta as diversificadas e
Toda empreita Icm uma missão em relação à sociedade e a
enormes pressões a que o ambiente submete a empresa.
missão das empresas corresponde aos seus objetivos
C a t e l l i classifica as pressões ambientais, d e n t r o d o
permanentes, que consistem em otimizar a satisfação
ambiente r e m o t o e d o ambiente próximo, e m variáveis
das necessidades humanas.'
e entidades. A seguir, m o s t r a m o s u m a representação
esquemática da empresa c o m o sistema aberto, baseada
C o n f o r m e Bio, e m Bio e na visão de Catelli:

Entradas Processamento Saídas


Materiais
Equipamentos Produtos
Energia A Empresa Bens
Pessoas Serviços
Informações

Acionistas

Figura 2.1 A Empresa como u m sistema aberto

C o m o a empresa deve p r o c u r a r o d e s e n v o l v i m e n t o sos introjetados para processamento (as entradas d o sis-


da sociedade, ela t e m de d e v o l v e r p r o d u t o s o u serviços tema), u m a vez que os recursos c o n s u m i d o s e x a u r e m o
(as saídas d o sistema) c o m v a l o r superior aos dos recur- m e i o ambiente. A c k o f f d i z :

' CATELLI, Armando. Apontamentos de sala de aula. Disciplina Controladoria. Doutorado em Controladoria e Contabilidade. São
Paulo: FEA/USP, 1994.
^BIO, Sérgio Rodrigues. Sistemas de informação: um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas, 1985, p. 19.

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14 CONTROLADORIA ESTRATÉGICA E OPERACIONAL

" A riqueza produzida por uma corporação é A s s i m , p o d e m o s entender a afirmação acima d e


a diferença entre os consumos por ela possibili- A c k o f f c o m o u m a visão da eficiência da empresa. Esta
tados e seu próprio consumo."' questão é i m p o r t a n t e p o r q u e n ã o h á mais dúvidas d e
que a sociedade exige de todos que dela p a r t i c i p e m , e
Desta f o r m a , a eficiência empresarial é componente de
nisso as empresas n ã o são excluídas, u m c o m p o r t a m e n -
sua missão. Podemos definir eficiência como a relação
to compatível c o m a utilização dos recursos naturais
existente entre o resultado o b t i d o e os recttrsos c o n s i m i i -
existentes, sob pena de deterioração d o ambiente e p r e -
dos para conseguir aquele resultado. C i t a m H o m g r e n ,
juízo ao f u t u r o da sobrevivência d a sociedade.
Foster e Datar:
A visão clássica d o f i m c i o n a m e n t o d e um sistema,
"Eficiência: a importância de entrada usada c o m o já v i m o s , é a seguinte:
para atingir u m dado nível de saída."*

Entradas Processamento Saídas

Figura 2.2 Fvmcionamento básico dos sistemas

A definição de eficiência p o d e ser evidenciada da seguinte maneira:

Entradas
Eficiência
• Saídas

Figura 2.3 Representação da eficiência

C o m o a empresa é u m a e n t i d a d e q u e processa que, n o enfoque sistémico, são relacionados p e l o ele-


recursos e entrega p r o d u t o s , bens o u serviços à socie- m e n t o processamento. P o r t a n t o , p o d e m o s fundir
d a d e , d e n t r o d o e n f o q u e sistémico ela deve ser v i s t a essas representações e m somente u m a , a d i c i o n a n d o ao
n o elemento processamento. A eficiência é d e f i n i d a elemento sistémico P R O C E S S A M E N T O a eficiência,
t a m b é m c o m o u m a relação entre recursos e saídas. f i c a n d o assim:

Entradas Saídas

Figura 2.4 O processamento do sistema e eficiência

' ACKOFF, Russel L. Creating the corporate future. John Wiley & Sons, hic. 1981, p. 32.
* HORNGREN, FOSTER e DATAR. Cost accounting: a managerial emphasis. 8' ed., Englewood Cliffs, N e w Jersey: Prentice-Hall,
1994, p. 237.
o Sistema Empreso com o Objetivo da Eficácia 15

" . . .eficiência diz respeito a método, a modo certo


2.1 Eficiência e Eficácia
de fazer as coisas. É definida pela relação entre
N ã o p o d e m o s a q u i deixar de r e t o m a r a questão da e f i - volumes produzidos/recursos consxmiidos."
cácia versus eficiência. U m a das premissas de nosso
trabalho é que o l u c r o é a m e l h o r m e d i d a d a eficácia L o g o , a empresa, p a r a ser eficaz j u n t o à sociedade,
empresarial e que a empresa, c o m o vun i n v e s t i m e n t o , o u seja, c i m i p r i r sua m i s s ã o , metas e objetivos, deve ser
deve apresentar vim l u c r o para seus proprietários e para eficiente n o uso dos recursos, p o r serem eles d o a m b i e n -
a própria c o m i m i d a d e . A i n d a c o n f o r m e H o m g r e n , te e, p o r t a n t o , da sociedade.
Foster e Datar (p. 237), a A sociedade n ã o aceitará uma organização que, para
ser eficaz e a t i n g i r suas metas, seja ineficiente n o uso
" . . .eficácia é o grau de que um predeterminado
dos recursos. Para exemplificar, G i b s o n , I v a n c e v i c h e
objetivo o u meta é a t i n g i d o . "
D o n n e l l y (p. 77) d i z e m que
Sobre o assvmto, assim se expressam G i b s o n , I v a n -
cevich e D o n n e l l y : "...o monopólio é m u i t o eficaz na consecução
dos objetivos de lucro máximo, mas, do ponto
" O fato de as sociedades criarem organiza- de vista da sociedade, ineficaz no uso dos
ções que fornecem bens e serviços implica que recxirsos."
seu bem-estar será determinado, e m larga
escala, pela maneira como elas levam a cabo E m resxmio, uma empresa p a r a ser eficaz deve ser
suas tarefas. Isto é, as sociedades esperam de eficiente; eficácia é q u a n d o os objetivos preestabeleci-
suas orgariizações u m desempenho eficaz."* dos são a t i n g i d o s c o m o resultado da a t i v i d a d e o u d o
(grifo nosso)
esforço; eficiência é a relação existente entre o resultado
o b t i d o e os recursos c o i i s t m i i d o s p a r a conseguir aquele
A i n d a segtmdo esses autores
resultado.
" . . . d o ponto de vista da sociedade, a eficácia é N a visão sistémica que apresentamos, p o d e m o s dizer
o grau segtmdo o qual as organizações atin- que, para ser eficaz, é imprescindível que a empresa
gem suas missões, metas e objetivos - dentro tenha eficiência na utilização de seus recursos. E m o u -
das restrições de recursos limitados (...) nesse tias palavras, seria difícil para ela a t i n g i r seus objetivos,
sentido, devemos i n t r o d u z i r o conceito de efi- e m relação à sociedade, de f o r m a totalmente ineficiente.
ciência; ele se refere ao processo pelo qual a Saliente-se que, de i m i m o d o geral, a eficiência está liga-
organização maximiza seus fins com um uso da a todos os consimios específicos de rectirsos, o u seja,
míriimo de recursos."
o processo da ação eficiente permeia todas as atividades
da empresa e todas as tiansações. Busca-se eficiência e m
A empresa c o m o um sistema aberto t i r a recursos d o
ambiente, processa-os e devolve-os transformados ao cada transação urutária das inúmeras transações que
ambiente o n d e se insere. D e n t r o deste enfoque sistémi- u m a empresa necessita para a t i n g i r seus resultados,
co, os conceitos de eficiência e eficácia entrelaçam-se, quais sejam: p r o d u z i r hens, p r o d u t o s o u serviços.
mas são diferentes. Já a eficácia reveste-se de rnn caráter mais abrangen-
N o entender de O l i v e i r a , os elementos de u m sistema te, g l o b a l , de atuação e m m a i o r a m p l i t u d e . A eficácia é
são: os objetivos, as entradas, o processo de t r a n s f o r m a - o b t i d a atiavés de u m a gestão d o t o d o , o r g a n i z a n d o as
ção, as saídas, os controles e as avaliações e a sua retroa- partes d o sistema empresa. Podemos d i z e r que u m
limentação.' A eficácia está relacionada c o m o elemento m a i o r g r a u de eficácia ocorrerá q u a n t o m a i o r a a d m i -
objetivo d o sistema empresa. C o l i f o r m e Riccio, rusteação das inúmeras possibilidades de ocorrências
de eficiência, e que estas ocorrências sejam as mais p r o -
"...os objetivos são representados por t u d o
d u t i v a s possíveis.
aquilo que queremos que u m sistema faça, nos
Dessa f o r m a , os d o i s conceitos - eficácia e eficiência
dê o u nos permita alcançar."'
- p o d e m até se j u n t a r na visão sistémica d a empresa,
A eficiência está relacionada c o m a otimização d o c o m o a representante d o elemento processamento do
uso dos recursos. D e acordo c o m Bio (p. 21), sistema.

s GIBSON, James L., IVANCEVICH, John M . e DONNELLY, James H . Organizações: comportamento, estrutura, processos. São Paulo:
Atias, 1988, p. 77.
* OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Sistemas, organização & métodos. 3" ed.. São Paulo: Atlas, 1992, pp. 31-32.
' RICaO, Edson Luiz. Uma contribuição ao estudo da contabilidade como sistema de informação. Tese de Doutoramento, São Paulo:
FEA/USP, 1989, p. 15.
16 CONTROIADORIA ESTRATÉGICA E OPERACIONAL

^'" Objetivo
do Sistema
Eficácia

Entrados , Processamento Saídas

Empresa

' Eficiência
•_

Retroalimentação

Figura 2.5 A empresa como u m sistema aberto e com a missão da eficácia

Critérios de Eficácia Empresarial a visão d e nosso t r a b a l h o , razão p o r que o estamos


a d o t a n d o . Estes autores d e s e n v o l v e m os critérios
Gibson, I v a n c e v i c h e D o n n e l l y ( p p . 81-84) desenvolve- gerais para a eficácia d o sistema empresa, relacionan-
r a m u m m o d e l o d e eficácia o r g a n i z a c i o n a l que, e m d o - o c o m o aspecto t e m p o r a l , c o n f o r m e apresentado
nosso e n t e n d i m e n t o , além de atual, está e m l i n h a c o m na F i g u r a 2.6.

Curto p r a z o Médio prazo Longo prazo

Produção
(Critérios) Adaptabilidade
Eficiência
Satisfação Desenvolvimento

Figura 2.6 Critérios de eficácia organizacional

Para esses autores, m o voltado para adicionar valor aos recursos


que utiliza, e seu sucesso é mensurado pelo
" . . . o teste último da eficácia organizacional é valor das vendas ou serviços menos os custos
sua capacidade de manter-se no meio ambiente. dos recursos utilizados (consumidos) no esfor-
A sobrevivência, portanto, é a medida última e ço de produzir a receita."'
de longo prazo da eficácia organizacional."
O u t r o s critérios da eficácia são:
A sobrevivência das organizações, relacionada ao
• Produção: Capacidade de a organização p r o d u z i r a
aspecto t e m p o r a l de l o n g o p r a z o , e a preocupação
q u a n t i d a d e e q u a l i d a d e de bens e serviços exigidos
m a i o r das empresas estão ligadas ao p o s t u l a d o contábil
pelos clientes consumidores da organização.
da 'continuidade. C o n f o r m e ludícibus,
• Eficiência: A d e q u a d a relação de utilização entre os
"...as entidades, para efeito de contabilidade, recursos consumidos e os p r o d u t o s e bens e servi-
são consideradas como empreendimentos e m ços p r o d u z i d o s .
andamento (going concern) (...) basicamente, • Satisfação: G r a u de aceitação social dos e n v o l v i -
portanto, a entidade é vista como u m mecarús- dos n o processo sistémico, seja dos participantes

»lUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 1" ed.. São Paulo: Atlas, 1980, p. 50.
o Sistema Empresa com o Objetivo do Eficácia 17

da organização, seja das entidades externas que se empresa depende de sua responsabilidade social. Quan-
relacionam com a empresa (fornecedores, clientes, do a sociedade age, através de congresso ou outros cor-
governo etc). pos representativos da comimidade, estabelecendo as
• Adaptabilidade: Mecanismo pelo qual a empresa regras governamentais que fazem a ligação entie os
responde adequadamente às mudanças que lhe objetivos sociais e de eficiência económica, a tarefa da
afetam, seja de origem interna ou externa. corporação fica mais clara com relação à sua responsabi-
• Desenvolvimento: Ligado ao critério da sobrevi- lidade social. Assim, a empresa pode ser vista como
vência. São os investimentos que a empresa faz em imia produtora de bens ou serviços tanto no enfoque
si mesma para aim:ientar sua capacidade de sobre- privado como no social, e a maximização da riqueza do
vivência no longo prazo. acionista, via lucro, permanece um objetivo corporativo
viável.
Então, fica evidente que a eficiência é um dos crité-
rios para que uma empresa seja eficaz. De acordo com
os autores citados, a eficiência liga-se aos aspectos de
curto prazo, ou seja, ela deve estar presente em cada 2.2 Os Subsistemas do Sistema Empresa
processo de tiansformação existente dentro da empresa.
Podemos dizer que todo sistema é composto de partes,
A eficácia está relacionada com propósitos maiores, ou
quais sejam, seus subsistemas. O sistema empresa é um
seja, os objetivos do sistema empresa.
dos mais complexos e a sua divisão em subsistemas
pode ser enfocada de várias maneiras. Adotaremos em
Responsabilidade Social nosso tiabalho o enfoque de Catelli e Guerreiro,' que
dividem o sistema empresa em seis subsistemas, quais
Não se pode dizer que a administração ignora a respon- sejam:
sabilidade social da empresa, tais como: proteção aos
consimiidores, pagamento de salários, manutenção de • Subsistema Iristitucional.
práticas dentro da ética, condições seguras de tiabalho, • Subsistema de Gestão.
suporte à educação e envolvimento com assuntos am- • Subsistema Formal.
bientais. Todos os interessados na empresa nunca
• Subsistema de Informação.
podem ser ignorados; eles incluem os credores, empre-
• Subsistema Social.
gados, clientes, fornecedores, comxmidades nas quais a
companhia opera e outros. • Subsistema Físico-Operacional.
O impacto das decisões sobre estes interessados deve A seguir, uma representação esquemática da empre-
ser reconhecido. A riqueza dos acionistas e da própria sa e seus subsistemas extraída de Guerreiro:

AMBIENÍTE EXTERNO
- Político
- Social
- Económico
- Ecológico
-Efe
i
1

Missão*
Sistema de Sistema Formal
Informação
Sistema de Gestão

Sistema Social Sistema hísico

Crenças e Valores*

Rgura 2.7 Subsistemas empresariais


•Componentes do subsistema institucional.

' GUERREIRO, Reinaldo. Modelo conceituai de sistema de informação de gestão económica: uma contribuição à teoria da comunicação da
contabilidade. Tese de Doutoramento. São Paulo: FEA/USP, 1989, p. 165.

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