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ISSN: 14148846
Resumo
Abstract
This article is originated from my final paper in the Especialization course in English Language,
entitled “Ethics, Identity and Survival on “The Walking Dead”: a critical discourse analysis.”
The problem was born from the popularity of zombies in the media and the use of these
creatures, beings without conscience, to explore human relationships. The objective of this
research is to analyze, through Critical Discourse Analysis, how postmodern ethics is
approached in the series and how this concept helps to (re)construct the identity of the main
character, Rick Grimes.
Keywords: ethics, identity, postmodernity, critical discourse analysis, the walking dead.
1
Mestranda em Estudos de Linguagem na UFF. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira pela UCAM. Concluindo especialização em Língua Inglesa na Universidade Veiga de Almeida.
Graduada em Letras pela UniMSB. Técnica em Assuntos Educacionais na UFF - paulagfs@hotmail.com.
Introdução
Depois de bruxos, lobisomens e vampiros, os zumbis têm sido figuras de destaque
em filmes, séries, histórias em quadrinhos e videogames. Atualmente, uma das
principais produções com o tema é a série de televisão estadunidense “The Walking
Dead”. A personagem principal, Rick Grimes, acorda só, em um hospital, e começa sua
jornada em busca da esposa e do filho. O mundo que ele conhece não existe mais e os
mortos não estão tão mortos. Durante as temporadas escolhidas (primeira e segunda), o
foco de Rick é a dedicação que tem pela família e pelas pessoas que ele se sente no
dever de proteger.
dos meios de comunicação, além da mudança nos papéis sociais, entre muitos outros
(BARTH, 2007). No tempo pós-moderno, a ruptura dos antigos padrões torna-se uma
tradição:
A ética está em construção, já que “tudo é projeto, não existe nada acabado”
(BARTH, 2007, p. 99). Bauman (2003) explica que os homens e mulheres pós-
modernos são lançados na posição de indivíduos, “dotados de identidades ainda-não-
dadas, ou dadas mas esquematicamente confrontando-se, dessa maneira, com a
necessidade de ‘construí-las’, e fazendo escolhas no processo”. E a responsabilidade
moral é um ato de autoconstituição.
colocadas pelo próprio sujeito, são papéis e características que atribuímos a nós
mesmos. As identidades pessoais e sociais estão em constante interação.
Em uma ADC, a relação entre discurso e estrutura social deve ser vista de maneira
dialética, equilibrando o determinismo social com a construção social do discurso. Se o
foco estiver apenas na determinação social do discurso, pode haver uma diminuição do
papel do mesmo e, no caso de um enfoque na construção social, o discurso acaba sendo
idealizado.
PRÁTICA SOCIAL
PRÁTICA DISCURSIVA
TEXTO
Van Djik (2010) argumenta que, para compreender o poder do discurso da mídia,
é necessário relacionar as estruturas da mídia atual, a utilização dessa mídia e como essa
utilização pode influenciar as pessoas. Mesmo que os espectadores se tenham tornado
mais críticos e independentes com as mídias alternativas, as análises críticas são
essenciais para investigar se as tecnologias e mídias estão informando o cidadão e
tornando-o capaz de resistir à manipulação ou se, na realidade, elas estão ajudando a
propagar as ideologias dominantes.
Estudos que enfocam séries de TV observam o uso das palavras e frases nas
situações roteirizadas, assim como nas relações de identidades e como elas são
representadas. O interesse não é apenas a gramática ou os textos, mas o que esses textos
nos mostram e que modelos de sociedade eles representam. Várias pessoas acham-se
envolvidas em tais programas, atores e espectadores, sendo que os espectadores
constroem e reconstroem suas identidades e práticas sociais pela apropriação dos textos,
por isso a importância da análise dos conteúdos das séries (MORA, 2006).
Fragmento 1
12 Rick
>Você deveria ser educado com um homem armado.< É senso comum. (3.0)
13 Merle
°Você não faria isso. Você é um policial.° (2.0)
14 Rick
ºTudo o que sou agora é um homem procurando pela esposa e pelo filho. (.)
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Qualquer um que ficar no meu caminho vai perder.
Fragmento 2
27 Rick
Por que você não leva?
28 Andrea
Tem um policial me encarando. (3.0) Isso seria considerado roubo? (2.0)
29 Rick
Eu não acho que essas regras se aplicam mais. E você?
Fragmento 3
4 Merle
>Quem diabos é você?< = ((Merle xingou e bateu em uma personagem negra))
5 Rick
= O policial camarada. (2.0) Olha aqui, Merle. As coisas estão diferentes
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agora. Não há mais negros. >Nem nenhuma merda de lixo branco que se acha
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superior.< Só carne preta (.) e carne branca. Só nós (.) e os mortos. Nós sobrevivemos a
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isso ficando juntos, <não separados>
A mensagem “somos todos iguais” é revelada pela negação da divisão por cor de
pele e pela afirmação de que agora eles são apenas “comida”. A pressuposição de que
todo ser humano, de forma genérica, é igual em direitos e deveres é fundamental para o
exercício da ética: negar isso seria negar a pluralidade, uma característica da pós-
modernidade.
Fragmento 4
309 Rick
>Você é um homem de Deus. Tenha fé.<
310 Hershel
Eu não posso dizer que entendo o plano de Deus, (1.0) mas Cristo prometeu
311
312 a ressurreição dos mortos. (2.0) Eu só achei que ele tinha alguma coisa (0.5) um
pouco diferente em mente.
Fragmento 5
323 Rick
A última coisa que precisamos é de todo mundo correndo no escuro. (0.5)
324
Nós não temos carros. Ninguém vai sair por aí a pé.
325 Hershel
°Sem pânico.° (1.0)
326 Meg
Eu não- >Eu não vou ficar sentada aqui, esperando outra horda atacar.< Nós
327
temos quer ir, agora. =
328 Rick
= Ninguém vai a lugar nenhum. (3.0)
329 Carol
Faça alguma coisa.
330 Rick
Eu estou fazendo alguma coisa! (.) >Eu estou mantendo esse grupo unido,<
331
332 vivo. Eu estive fazendo isso o tempo todo, a qualquer custo. Eu não pedi por isso.
333
(0.5) Eu matei meu melhor amigo >por vocês, pelo amor de Deus!< hhh (8.0) <Vocês
334
335 viram como ele era, (.) como ele me provocava, (0.5) como ele nos comprometia,
336
(1.0) como ele nos ameaçava.> (3.0) Ele armou a fuga do Randall para atirar pelas
337
338 minhas costas. Ele não me deu escolha. (1.0) Ele era meu amigo, mas veio atrás de
339
mim. (6.0) ((Carl começa a chorar)) Minhas mãos estão limpas. (11.0) Talvez vocês
340
341 fiquem melhor sem mim. (1.0) Vão em frente. (2.0) Eu acho que há um lugar pra
342
gente, mas talvez - °talvez seja só um sonho. Talvez° - talvez eu esteja me enganando
343
344 de novo. Por que vocês – Por que vocês não saem e descobrem por vocês mesmos?
Me mandem um cartão postal. (2.0) Vão lá, a porta é logo ali. (1.0) Vocês podem fazer
melhor? Vamos ver até onde vocês chegam. (5.0) Ninguém? Ótimo. Mas vamos
esclarecer uma coisa... (3.0) vocês estão ficando. (1.0) Isso não é mais uma
democracia. ((Hershel sorri discretamente))
entre momentos de ilusão ética e autocrítica: “talvez seja só um sonho. Talvez – talvez
eu esteja me enganando de novo” (338 e 339).
Rick desabafa (330-331): “Eu estou estou fazendo alguma coisa! Eu estou
mantendo esse grupo unido, vivo. Eu estive fazendo isso o tempo todo, a qualquer
custo.” Ele desafia o grupo com uma ironia (340-341) e se aproveita da força de uma
ameaça, recursos que eram utilizados por Shane: “Por que vocês não saem e descobrem
por vocês mesmos? Me mandem um cartão postal.” E conclui: “Isso não é mais uma
democracia.” De certa maneira, ele culpa o grupo e a responsabilidade que recaiu sobre
ele pelas suas tragédias pessoais. Uma solução seria que apenas a opinião dele fosse
válida, evitando os conflitos. As identidades social e coletiva confundem-se, trazendo
contradição à personagem:
Rick tem a coragem para realizar seu dever com a coletividade, só que o seu papel
pessoal e social com a família são prejudicados em alguns momentos pelo dever com o
coletivo. A partir do momento em que Rick diz que não estão mais em uma democracia,
ele se comporta como Shane, impondo sua vontade. Apesar de Shane estar morto, agora
ele faz parte de Rick. Nesse momento, nascem semelhanças entre Rick e Shane.
Considerações Finais
Ao mesmo tempo em que Rick não é real, ou seja, a sua identidade é fabricada
pela mídia e consumida, muitos de seus conflitos têm origem no real. O consumo
constrói e desconstrói identidades reais e fabricadas.
Referências
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Alegre, v. 37, n. 155, p. 89-108, mar. 2007.
BAUMAN, Z. Ética Pós-Moderna. São Paulo: Paulus, 2003.
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MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo:
Parábola Editorial, 2006.
. descida de entonação
? subida de entonação
, entonação contínua
( ) transcrição impossível
th estalar de língua